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OPINIÃO
Por Marcelo Buhatem
In Medio Stat Virtus. Com esta frase, Aristóteles propunha que a virtude está no meio, na
média ponderada dos fatos. Tal aforismo, sublinhe-se, representa um aspecto importante da
virtude moral. É saber caminhar pelos extremos, sem se deixar seduzir para nenhum dos
abismos laterais. É a busca pela solução razoável, proporcional "em meio" à infinidade de
possíveis respostas.
Entretanto, ponderamos, passada a fase mais aguda de tão infausto período, é preciso ter
muito cuidado quando se considera a perspectiva de se consolidar o trabalho remoto como
via exclusiva mesmo após o fim da pandemia.
Com efeito, ninguém estava preparado para lidar com a crise provocada pela nova peste, o
que, de fato, exigiu de todos nós adaptações para que o mundo não interrompesse sua
evolução natural. Uma situação de exceção, não negamos, demandava novas soluções.
Porém, segundo propomos, há que tratar-se aquilo que é excepcional, com o perdão da
tautologia, como excepcional que é, razão pela qual nem todas as medidas adotadas no
período extremo, conquanto alguns reconhecidos benefícios, precisam ser
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permanentemente adotadas ou adotadas em sua íntegra. "Nem tanto ao mar, nem tanto à
terra", diria Aristóteles…
Porém, o que foi idealizado como solução em curto prazo, de forma duradoura pode
prejudicar esse mesmo direito à Justiça.
É preciso entender, ainda, que o Judiciário apresenta uma ritualística própria, que é
fundamental para preservar direitos e garantias processuais. Um dos principais exemplos é
o contato direto da defesa com o réu, que fica impossibilitado em julgamentos virtuais e
afeta a própria dinâmica da audiência.
Nessa discussão, é preciso considerar que vivemos em um país que ainda registra grande
desigualdade, que se reflete na falta de acesso em diversas regiões do país a uma conexão
de internet de qualidade, que é um item básico para a realização de audiências virtuais. Não
ter à disposição uma tecnologia eficiente ou uma conexão confiável implica diretamente em
prejuízo para as partes de um julgamento, colocando em xeque a paridade de armas.
Aliás, atento a tais reclamos, e descortinando uma nova realidade pós pandêmica, o CNJ,
pela Resolução Nº 481, de 22/11/2022, regulamentou a dinâmica dos atos telepresenciais,
sublinhando a presencialidade das audiências, ao dispor que
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Ainda em boa hora, o CNJ, na mesma resolução, estabeleceu standards que delimitam
quando a realização das audiências se dará na forma telepresencial, por designação de
ofício pelo magistrado:
1º …:
I – urgência;
II – substituição ou designação de magistrado com sede funcional diversa;
III – mutirão ou projeto específico;
IV – conciliação ou mediação no âmbito dos Centros Judiciários de Solução de
Conflito e Cidadania (Cejusc);
V – indisponibilidade temporária do foro, calamidade pública ou força maior.
Por certo, seria inadmissível saber que nas pequenas e médias comarcas estariam presentes,
prefeito, presidente da Câmara de Vereadores, promotor de Justiça, defensor, delegado de
polícia, Polícia Militar, médico, bombeiros, padre, pastor etc., e o magistrado… em home
office.
Neste passo, como que antecipando o espírito de tal resolução, tenho procurado em minha
prática diária como magistrado, atuante perante o 2º grau de jurisdição, prestigiar a
presencialidade nas sessões de julgamento, como consectário do princípio da ampla defesa,
corolário da cláusula geral de tutela da pessoa humana, que impõe aos órgãos judiciais a
fiel oportunização de todos os mecanismos necessários para que o patrono do litigante
possa, efetivamente, cumprir o seu mister, que não se esgota, à toda evidência, na
sustentação oral, mas espraia-se, do mesmo modo, no amplo acesso aos atos do processo, o
que inclui o direito de presença nas sessões de julgamento.
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Penso, neste contexto, que assegurar aos causídicos o acesso ao julgamento presencial é
consectário lógico da ampla defesa, inscrita no artigo 5º, inciso 55, da Constituição e revela
conquista civilizatória que não pode receber interpretação restritiva.
Sob hipótese nenhuma, ressaltamos, se quer repelir os benefícios que a tecnologia pode
trazer para a Justiça. Pelo contrário, o Judiciário está atento à forma como a modernidade
traz mais celeridade aos tribunais. Mas, insistimos, passada a fase aguda da pandemia,
concitamos à comunidade jurídica para que reflita acerca desse “novo normal” que está por
vir, sendo preciso ponderar com responsabilidade as mudanças que afetarão o nosso dia a
dia.
No livro Nem Home Nem Office, o CEO de um dos maiores grupos de co-working do
mundo, Tiago Alves, defende que o futuro do trabalho é híbrido. Não há dúvida, porém nos
cabe separar o joio do trigo, e inserir no antigo normal os atos judiciais, processos, temas e
assuntos de maior relevância.
Enquanto não se tem essa verdadeira medida, faz bem o CNJ e a Corregedoria Nacional em
decidir pelo retorno dos trabalhos presenciais, criando, inclusive, um painel onde todos
poderão acompanhar esse retorno. Disse o ministro Salomão:
"Temos notícia que, em muitos estados o que estava acontecendo era uma situação de
quase abandono, principalmente no interior." De acordo com Salomão, além do Painel, que
registrará o retorno ao trabalho e mostrará a retomada das audiências e de todos os atos
processuais, também foi criado um grupo de trabalho (GT) para acompanhar a volta às
atividades no Poder Judiciário.
Chegando ao fim, lembro das virulentas críticas assacadas contra a magistratura, quanto ao
comparecimento nas comarcas somente às terças, quartas e quintas-feiras, no que os
maledicentes se referiam a tal "semana TQQ de trabalho". Pois bem, agora que há uma
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Assegurar que essas garantias se mantenham intactas significa, como alhures proposto, "…
saber caminhar pelos extremos, sem se deixar seduzir para nenhum dos abismos
laterais…" ponderando-se os avanços tecnológicos implementados ao longo da pandemia
com a garantia da presencialidade nos atos processuais, numa atividade contínua,
democrática e dialética. É o desafio e a prioridade na retomada pós-pandemia.
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