Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
OPINIÃO
Por Artur L. Carvalho
Atualmente é vedado aos partidos políticos a formação de coligações para concorrer nas
eleições proporcionais (vereador, deputado estadual e federal), por decorrência do texto
previsto no artigo 2º da EC nº 97/2017 [1]; mas o tema ganhou repercussão por se tratar de
uma relevante proposta de alteração discutida na reforma eleitoral, em trâmite no
Congresso Nacional.
https://www.conjur.com.br/2021-set-24/carvalho-retorno-coligacoes-eleicoes-proporcionais?imprimir=1 1/4
23/03/2023, 02:01 ConJur - Carvalho: Sobre o retorno das coligações às eleições proporcionais
Dessa forma, em uma dessas idas e vindas legislativas, comuns aos que vivenciam o
Direito Eleitoral, está-se a se discutir o retorno das coligações nas eleições proporcionais, o
que seria um retrocesso na visão ora proposta.
Inicialmente, é preciso esclarecer que qualquer discussão que venha a ser levantada
envolvendo sistemas eleitorais tem de ter em mente uma premissa básica, qual seja: não
existe sistema eleitoral perfeito. Todas as formas aplicadas nas democracias atuais que
visem a transformar uma "cadeira" numa representação política trazem consigo pontos
positivos e negativos.
O sistema proporcional de eleição aplicado no Brasil, por sua vez, não é diferente. Ainda
que permita uma equidade na relação entre votação e representação dos partidos políticos
— como destaca Jairo Nicolau [3] (2012, p. 47) —, além de atrair a inclusão de partidos
menores; doutro lado, contribui com a fragmentação parlamentar — colaborando com a
ideia de presidencialismo de coalizão e representa um sistema incompreensível aos olhos
do eleitorado.
Entre tantos pontos inconclusivos para afirmar qual o sistema eleitoral seria o mais correto,
tem-se um fato incontroverso: o eleitor brasileiro não entende o sistema proporcional. O
fato de determinado candidato "arrastar" outros que não possuíram votações significativas e
ainda assim serão eleitos, em detrimento de alguns candidatos que tiveram maiores
votações e ficaram de fora, foge de um sistema justo ao raciocínio de grande parte dos
eleitores brasileiros.
É notório perceber que um dos pontos negativos do sistema proporcional brasileiro está na
incompreensão do sistema pelo eleitorado, mas qual a relevância disso para o debate da
volta das coligações?
A coligação pode ser traduzida na aliança eleitoral realizada por partidos políticos, que
passarão a responder de forma una durante o período eleitoral perante essa Justiça
especializada. Ocorre que a formação de coligação que atraia diversos partidos é um
expoente para o ponto negativo da incompreensão do sistema eleitoral proporcional.
Isso porque, como explica Torquato Jardim, no sistema proporcional, "o voto, mesmo sendo
dado diretamente ao candidato, é primeiramente do partido" (apud Mayara Barreto,
2010)" [4]. Ou seja, se um eleitor votar no candidato A (filiado ao partido X), ele
contribuirá para a candidatura B (partido X). Agora, quando analisamos o tema sob a
perspectiva das coligações, o eleitor que votou no candidato A (partido X), poderá ajudar o
candidato C (partido Y), caso os partidos estejam compondo a mesma coligação.
https://www.conjur.com.br/2021-set-24/carvalho-retorno-coligacoes-eleicoes-proporcionais?imprimir=1 2/4
23/03/2023, 02:01 ConJur - Carvalho: Sobre o retorno das coligações às eleições proporcionais
Aproveitando o termo em alta e trazendo o assunto para "dentro das quatro linhas", a
coligação é responsável pela formação de um clube com pelo menos dois times. Ocorre
que, para o eleitor, o sistema fica indecifrável, já que não é incomum que partidos que
teoricamente não compartilham de semelhantes linhas ideológicas se coliguem,
principalmente nas eleições municipais e estaduais. O que vale aqui é sentar na cadeira.
Ora, um torcedor do Flamengo pode não gostar do seu atacante e do seu zagueiro, mas
continuará torcendo para o seu time; é o caso do sistema proporcional sem coligação. Mas
agora explique para esse torcedor do Flamengo que torcendo para seu time ele poderá
"eleger" o Fluminense — como no caso do sistema proporcional com coligação. Não há
dúvida de que o retorno da coligação maximiza as dúvidas dos eleitores no sistema eleitoral
brasileiro.
[2] BRASIL. Câmara Federal. Proposta de Emenda à Constituição nº 125, de 2011. Veda as
Eleições próximas a feriado e dá outras providências. Brasília, DF: Câmara Legislativa,
2021. Disponível em https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;
jsessionid=node01xee2hbto7t4w96xd44aw7abo6106457.node0?
codteor=2053866&filename=Parecer-PEC12511-09-082021. Acesso em: 09 de setembro
de 2021.
[3] NICOLAU, Jairo Marconi. Sistemas Eleitorais. Ed. 6ª — Rio de Janeiro: Editora FGV,
2012.
https://www.conjur.com.br/2021-set-24/carvalho-retorno-coligacoes-eleicoes-proporcionais?imprimir=1 3/4
23/03/2023, 02:01 ConJur - Carvalho: Sobre o retorno das coligações às eleições proporcionais
https://www.conjur.com.br/2021-set-24/carvalho-retorno-coligacoes-eleicoes-proporcionais?imprimir=1 4/4