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O CENÁRIO POLÍTICO DAS ELEIÇÕES DE 2022, DESEMPENHO E


PERSPECTIVAS DO PSB.

I. ANÁLISE DO CENÁRIO POLÍTICO GERAL:

1. Para que se possa compreender de forma acurada o desempenho do


Partido Socialista Brasileiro – PSB nas eleições de 2022 é preciso desenhar
um pano de fundo amplo, no qual se situou a disputa eleitoral, entre um projeto
político autoritário representado pelo bolsonarismo e as forças políticas que
militam pelo pleno restabelecimento do Estado Democrático de Direito em
nosso país. Nestes termos, convém destacar os seguintes elementos que
compõem o cenário político geral enfrentado pelo PSB nestas eleições.
2. Avanço das pautas da extrema-direita em escala mundial, tendência
que tem apresentado problemas agudos mesmo para democracias antigas e
consolidadas, dentre as quais vale destacar os Estados Unidos, França, Itália,
Noruega, Suíça, Dinamarca e Suécia, isso para não falar de países que já
tinham uma tradição e inclinação autoritária, como são os casos das Filipinas,
Polônia e Hungria.
3. Tendências regressivas no modo de vida das sociedades
ocidentais, observando-se retrocessos sensíveis em princípios que pareciam
relativamente consagrados, de que são exemplos a liberdade e tolerância
religiosa, a laicidade do Estado, a proteção aos direitos reprodutivos das
mulheres, a compreensão de que cabe ao poder público promover políticas
públicas que possam diminuir as desigualdades e assegurar assistência a
populações vulneráveis, minorias etc.
4. No Brasil, o processo de radical involução civilizatória encontrou
forma e voz nítida com a emergência do bolsonarismo, que se fortaleceu
ao fazer o debate ideológico de forma direta, contrapondo-se em particular às
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grandes teses econômicas, sociais e de garantia de direitos da Constituição de


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5. As instituições e agentes políticos que melhor encarnaram a
própria polarização foram beneficiados neste contexto e não por acaso os
partidos dos principais candidatos à eleição presidencial fizeram as duas
maiores bancadas da Câmara dos Deputados ̶ PL (99); e, PT (69).
6. As instituições que se posicionam na centro-esquerda, como o
PSB, PDT, dentre outros, sofreram um revés eleitoral, por não se
adequarem bem a uma disputa em que o eleitor é levado a escolher uma entre
duas visões de mundo completamente antagônicas e irreconciliáveis.
7. É a partir deste macro cenário que se deve avaliar o desempenho
eleitoral do PSB, que infelizmente não atendeu às expectativas e projeções
mais conservadoras da direção partidária.

II. PONTOS FORTES E FRACOS NO POSICIONAMENTO DO PSB


PARA ENFRENTAR A DISPUTA ELEITORAL EM 2022:

8. Antes de adentrar a matemática eleitoral propriamente dita, é importante


esquadrinhar como o PSB se preparou do ponto de vista estratégico e tático
para as eleições de 2022, separando o que foram suas fortalezas e
fragilidades, conforme se indica a seguir.

a) PONTOS FORTES:

9. Situar o PSB claramente na disputa eleitoral de 2022 no âmbito da


tensão entre um projeto político autoritário e o restabelecimento da
plenitude democrática no Brasil, que foi severamente comprometida com o
governo Bolsonaro.
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10. Defender e participar ativamente da frente democrática ampla que


se constituiu em apoio da candidatura vitoriosa do presidente Lula, com
apoio firme a sua postulação desde o primeiro turno das eleições.
11. Promover o ingresso no partido do então ex-governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin ̶ liderança política amplamente reconhecida pela
honradez e lisura no trato da coisa pública – filiação que sucedeu às
igualmente importantes filiações dos governadores Flavio Dino do Maranhão e
João Azevedo da Paraíba. Iniciativa que permitiu ampliar o espectro político da
candidatura Lula e somar forças democráticas que não integravam a frente
político/eleitoral da centro-esquerda.

12. Contribuir de modo relevante para o desenho das teses


programáticas da candidatura Lula/Alckmin, com base nas definições
oriundas da Autorreforma do PSB.
13. Realçar a importância dos segmentos organizados do PSB no
âmbito da estrutura partidária e reconhecer a necessidade de ampliar a
sua atuação de tal modo que eles possam efetivamente se inserir nas
lutas populares dos diferentes segmentos da sociedade brasileira.

b) PONTOS FRACOS:

14. As eleições proporcionais demonstraram a enorme insuficiência de


estruturação do partido na maioria das secções estaduais, situação que
impossibilitou a formação de chapas competitivas que atendessem
minimamente a exigência de desempenho exigido pela lei eleitoral, tanto assim
que apenas 5 estados (Pernambuco, São Paulo, Paraíba, Rio de Janeiro e
Maranhão) alcançaram o quociente previsto pela norma vigente em 2022.
15. Importa registrar desde já que, diante deste cenário, a Direção Nacional
está pronta para empreender todos os esforços necessários a reestruturação
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das secções estaduais, de tal modo que o PSB se faça competitivo em todo o
país.
16. Carregar o ônus de certa fragilidade ideológica observada mais
agudamente nas duas últimas legislaturas, nas quais as bancadas do PSB
não conseguiram se unificar entorno das firmes posições partidárias,
materializadas inclusive em fechamentos de questão para resistir às reformas
trabalhista e previdenciária.
17. Concorrer isoladamente pela obtenção de votos com uma
quantidade expressiva de instituições de centro-esquerda (PT, PDT,
PSOL, PCdoB, Rede e PV), fator que conduz à divisão de votos, visto que está
em disputa a mesma fatia do eleitorado nacional, que não é muito maior do que
30%.
18. Subestimar a relevância da mudança do perfil do eleitorado
brasileiro, que se tornou mais conservador e mais conectado com temas como
a religião, costumes, etc.

III. PRAGMÁTICA ELEITORAL: POR QUE O PSB NÃO ATINGIU SUAS


EXPECTATIVAS?

19. Nas duas seções anteriores foram abordados os aspectos políticos


gerais e as condicionantes com as quais o PSB se apresentou à disputa
eleitoral em 2022.
20. Busca-se identificar, abaixo, os fatores que levaram o partido a um
desempenho insuficiente, que contemplou a eleição de apenas 14 deputados
federais e a obtenção de 4.172.383 votos válidos para a Câmara dos
Deputados (1.249.615 a menos que na eleição de 2018), tendo elegido, ainda,
53 deputados estaduais.

IV. ELEIÇÕES PROPORCIONAIS:


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21. O PSB teve dificuldades em atingir o quociente eleitoral – que só foi


alcançado em cinco estados da federação, em face da nova legislação eleitoral
e a ausência das coligações e sua substituição por uma nova sistemática
aplicada as eleições proporcionais, em especial, a distribuição das sobras que
ocasionaram dificuldades para algumas secções do PSB.
22. Além disto, o TSE extrapolou sua competência regulamentar incluindo
norma não prevista na legislação eleitoral, o que dificultou ainda mais a
distribuição das sobras das sobras, a ponto de impedir a eleição de
candidaturas partidárias com boa votação das quais são exemplo do Dep.
Denis Bezerra (118.822 votos), Dep. Cassio Andrade (85.612 votos) e do Gov.
Rodrigo Rollemberg (51.926 votos), entre outras.
23. Frustração de votos, ou seja, ocorrência de candidaturas que tiveram
performance eleitoral inferior ao bom desempenho que obtiveram na eleição
anterior. Importante destacar que alguns candidatos foram protagonistas
relevantes no exercício dos seus mandatos parlamentares, mas tiveram suas
respectivas votações impactadas pela polarização política, além de outras
estratégias clientelistas a exemplo do orçamento secreto.
24. A dureza da lei eleitoral no que se refere à distribuição das sobras é
devidamente circunstanciada quando se considera que o partido atingiu
5.421.998 votos em 2018, elegendo 32 deputados federais, ao passo que em
2022, com 4.172.383 elegeu apenas 14 deputados federais. Não fora a dureza
das normas eleitorais, com esta votação o partido teria diminuído sua bancada
para algo entorno de 26 deputados federais.
25. Orçamento secreto. É preciso destacar que a quantidade de recursos
colocada à disposição da base do Ex-presidente Bolsonaro provocou um
desequilíbrio eleitoral significativo, porque a indicação de emendas começou a
gerar efeitos para os parlamentares da base governista antes mesmo do
período eleitoral, fortalecendo uma rede de práticas clientelistas que angariou
apoios relevantes, principalmente de prefeitos e vereadores. Não resta dúvida,
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sob este aspecto, que diferenças de poder econômico entre as candidaturas


desequilibrou a disputa eleitoral, em prejuízo de partidos como o PSB, entre
outros.

V. ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS:

26. A eleição de três governadores – Renato Casagrande (ES), João


Azevêdo (PB) e Carlos Brandão (MA) – e de um senador, Flávio Dino (MA), se
constitui em fator muito relevante, que permitirá ao PSB manter uma boa
projeção no cenário político nacional, apesar da diminuição de sua bancada na
Câmara dos Deputados.
27. Soma-se a este quadro a eleição do companheiro Geraldo Alckmin como
vice-presidente da República, fato de enorme importância estratégica e que já
produz efeitos práticos visíveis, seja no âmbito da composição do governo
federal, seja no aspecto comunicacional, no qual aporta tanto visibilidade,
quanto reconhecimento político ao partido.
28. A competência com a qual o vice-presidente tem desempenhado suas
funções o posiciona como agente político de primeira importância no país, algo
que demonstrou já a partir do momento em que assumiu a Coordenação
Política da equipe de transição, missão que conduziu com grande êxito. Isto
sem falar na importância da nomeação de 3 Ministros, também ilustres e
competentes companheiros como Márcio França (Portos e Aeroportos), Flávio
Dino (Justiça) e Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio), em pastas de enorme
importância estratégica.
29. Evidentemente, o PSB poderia ter tido um desempenho melhor nas
majoritárias, particularmente com as candidaturas que disputaram o Senado
Federal bem-posicionadas nas pesquisas para se elegerem. Um aspecto a
considerar é que as eleições para o Senado na grande maioria dos casos está
associada a eleição também majoritária de Governadores de Estado. E quando
isso não é observado aumentam as chances de derrota. Lamentavelmente,
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também neste caso a polarização política foi fator adverso para as pretensões
do partido, à qual se deve somar as situações muito particulares de cada
Estado.

VI. LINHAS ESTRATÉGICAS PARA FORTALECIMENTO PARTIDÁRIO:

30. Desenhado o cenário, identificados pontos fortes e fracos, assim como


as limitações que o partido enfrentou nas eleições de 2022, cabe repertoriar
grandes linhas estratégicas que permitirão ao PSB superar as dificuldades
presentes e retomar sua trajetória, como instituição partidária de relevo em
âmbito nacional.
31. Para tanto, importa orientar a prática partidária a partir dos seguintes
eixos, que são indicados sem prejuízo de outras iniciativas que venham a se
demonstrar relevantes no futuro próximo.
32. Considerado que o eleitorado potencial das instituições partidárias que
se posicionam mais à esquerda do espectro político é limitado, legítimo deduzir
que não é viável neste segmento 7 partidos (PSB, PT, PDT, PSOL e PCdoB,
Rede e PV) atuando isoladamente no plano eleitoral, como é a situação atual
do nosso partido.
33. No âmbito da Câmara dos Deputados sugerimos a formação de bloco
parlamentar com o Partido Democrático Trabalhista (PDT), visto haver
afinidades de natureza política, ideológica e programática entre as duas
instituições partidárias.
34. Tal iniciativa já conta com o apoio da Direção Nacional e dos membros
da bancada na Câmara dos Deputados. Além da formação do bloco
parlamentar com o PDT, faz-se necessário articular uma possível Federação
entre socialistas, trabalhistas e o Solidariedade que mantêm afinidade de
propósitos com o PSB, visando as eleições municipais de 2024 e as eleições
gerais de 2026. Além disto, trata-se de Partidos de tamanho mais ou menos
equivalente onde se poderá formar uma direção com o equilíbrio necessário a
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tomada de decisões sem que nenhum deles se sobreponha ao outro,


respeitando-se a autonomia partidária de cada instituição.
35. Atrair deputados federais e senadores da República para ingressarem
no partido, ações que já produziram efeitos, permitindo inclusive a constituição
da Liderança partidária no Senado Federal.
36. Admitir as fragilidades observadas na organização das secções
estaduais em razão do resultado eleitoral de 2022, realidade que requer
avaliar suas direções caso a caso, no sentido de reorganizá-las com direções
que sejam efetivamente capazes dos pontos de vista político e organizativo.
Impõe-se considerar com serenidade a necessidade de se promover mudanças
em várias direções estaduais, de forma a melhor posicionar o PSB nas eleições
municipais de 2024 e no pleito de 2026.
37. Reconhecer que a POLÍTICA deve ter precedência sobre a dinâmica
eleitoral, e conciliá-la com a necessidade do crescimento eleitoral de forma
qualitativa e quantitativa. Máxima que deve ser traduzida para a prática, na
forma da efetiva implantação do programa partidário que se materializou
quando da realização do Congresso Constituinte da Autorreforma do PSB.
38. Para tanto será necessário demonstrar ao eleitorado que o PSB tem
uma proposta consistente e viável que permite articular um projeto nacional
de desenvolvimento, economicamente viável, socialmente justo e
ambientalmente sustentável.
39. Assumir bandeiras e agendas que nos singularizem de modo claro,
relativamente às demais instituições partidárias, de que são exemplos o
renascimento criativo da indústria, a economia criativa, o Projeto Amazônia 4.0,
os primados da economia verde, direitos humanos e demais políticas sociais de
Estado.
40. Caracterizar o PSB como agente capaz de propor e materializar políticas
públicas de interesse objetivo da população, com destaque para propostas no
campo das políticas econômicas, especialmente reformas tributária e fiscal,
políticas sociais de estado (saúde, educação, assistência e previdência social),
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segurança pública, clima e meio ambiente ̶ sempre nos termos previstos na


Autorreforma do partido.
41. Destaque-se ainda, a importância da luta pela cidadania plena das
mulheres, com respeito a diversidade, gênero, raça e o combate à todas as
formas de violência, em especial a violência política de gênero, direitos
sexuais e reprodutivos, geração de emprego e renda.
42. Aceitar fazer de forma saudável e enfática a disputa ideológica
necessária ao enfrentamento da extrema-direita, que está longe de terminar
com a eleição da chapa Lula/Alckmin. Para esta tarefa, deve-se contar com a
atuação intensa da Fundação João Mangabeira (FJM), à qual compete, em
articulação com o partido, atuar para formar militantes e lideranças socialistas
além de formular políticas públicas. Neste sentido sugere-se criar uma
Secretaria de Formação Política, no âmbito da CEN, para em articulação com a
FJM promover a formação política dos filiados. Além de debates sobre temas
importantes do cenário político, econômico e social do nosso país.
43. Importante, desde logo, constituir comissão eleitoral para as
eleições municipais visando subsidiar o partido na formação de
estratégias para o pleito municipal de 2024, incluindo representante dos
segmentos organizados do partido.
44. Entre as providencias acima mencionadas, importante o apoio do
PSB ao projeto de eleições diretas do Parlamento do Mercosul em
tramitação no âmbito do Congresso Nacional. Articulando através de
seus líderes, nas duas Casas do Congresso, as forças políticas que
apoiam esta iniciativa.
Cabe observar, já a título de conclusão, que se delineou nesta
sessão um arco mínimo de proposições que pode e devem ser
enriquecidos com contribuições de todos os membros do partido, em
especial, dos integrantes da Comissão Executiva Nacional do nosso
partido.
45. O sentido geral das iniciativas de fortalecimento partidário deve se
relacionar ao que tem constituído historicamente o fazer político do PSB, ou
seja, à prática de uma instituição partidária que se posiciona de forma radical
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pela preservação do estado de direito, pela harmonia entre os poderes, pelo


aprimoramento da democracia, e que não pode se limitar a uma visão liberal de
uma democracia apenas formal. Ou apenas ao “gesto” do voto, competindo-lhe
juntamente com outras instituições progressistas promover ampla inclusão
social de uma porção imensa de cidadãos que se encontram, ainda hoje, em
condição de vulnerabilidade econômica, social, política e cultural. Daí a
necessidade da construção de um projeto nacional de desenvolvimento para
o nosso país.
46. O PSB deve se transformar, portanto, não para ser outro, ou “fazer mais
do mesmo”, mas justamente para tornar realidade a utopia sempre posta do
socialismo com liberdade, que nos orienta desde a fundação do partido bem
como o novo conceito de Socialismo Criativo aprovado por unanimidade no
Congresso Constituinte da Autorreforma do PSB.

Brasília-DF, 09 de Março de 2023.

Carlos Siqueira
Presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro - PSB

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