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Introdução: Para Entender a Nova Direita Brasileira

Preprint · July 2023


DOI: 10.13140/RG.2.2.17542.55368

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André Borges Robert Vidigal


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Introdução: Para Entender a Nova Direita Brasileira*

André Borges

Robert Vidigal

As eleições de 2018 no Brasil representaram uma ruptura sem precedentes na


história política do país, tendo em vista a vitória inesperada do candidato da direita
populista radical, Jair Bolsonaro. A ascensão do populismo de direita está associada a
importantes mudanças na sociedade e na política brasileiras, que incluem o crescimento
das atitudes de desconfiança e rejeição generalizada aos partidos (antipartidarismo), a
polarização do eleitorado, e a crescente saliência de temas culturais envolvendo direitos
reprodutivos e LGBT, papéis de gênero e educação sexual entre o eleitorado. De modo
mais geral, a tendência de crescimento eleitoral das forças conservadoras em 2018 e 2022,
especialmente nas disputas para o Congresso, reflete a reorganização da direita brasileira
ao longo da década de 2010. As novas forças de direita se diferenciam dos partidos
conservadores tradicionais por adotar, em muitos casos, um discurso antissistema, além
de buscar uma identidade ideológica claramente definida, defendendo pautas
conservadoras nos costumes e/ou liberais na economia.

No Brasil como no resto da América Latina, a direita política se viu em situação


desfavorável durante a onda de governos de esquerda na virada do milênio. Conforme
Luna e Kaltwasser (2014, p. 9-10), se os eleitores em sociedades desiguais votassem de
acordo com seus interesses econômicos e os partidos competissem em um espaço
ideológico estruturado em torno do papel do Estado na economia, seria de se esperar que
partidos de esquerda com agendas redistributivas obtivessem resultados eleitorais
sistematicamente melhores do que partidos conservadores. Embora níveis elevados de
desigualdade não levem necessariamente à predominância de partidos de esquerda ou à
redistribuição de renda, a emergência de partidos e lideranças capazes de politizar a
questão social transformou radicalmente o cenário eleitoral da América Latina no início
dos anos 2000 (KALTWASSER, 2014). À medida que presidentes de esquerda em
diversos países da região se utilizaram de políticas sociais redistributivas para fortalecer
os vínculos com os eleitores – de natureza programática ou clientelista – a direita política
se viu em posição de relativa fraqueza, na medida em que os atores e partidos de direita
haviam se alinhado, historicamente, à preservação das hierarquias sociais existentes
(BOWEN, 2011; LUNA; KALTWASSER, 2014; ROBERTS, 2014).

No caso brasileiro, a vitória do Partido dos Trabalhadores (PT) em sucessivas


eleições presidenciais disputadas entre 2002 e 2014 trouxe uma série de desafios para a
forças de direita. Não obstante o fato de os presidentes petistas terem sido obrigados a
formar coalizões amplas e heterogêneas que incluíam parte das forças mais
conservadoras, houve um aumento expressivo da representação da esquerda tanto em
eleições nacionais quanto estaduais. Estas tendências se associaram a uma reconfiguração
dos padrões de competição partidária, com o enfraquecimento eleitoral dos partidos de
direita nas regiões mais pobres do país (BORGES, 2011; MONTERO, 2014). Além

*
Esta é uma versão não revisada (maio 2023) da introdução de coletânea a ser publicada no 2º semestre
de 2023. Referência: Borges, André e Vidigal, Robert (eds). Para Entender a Nova Direita Brasileira:
Polarização, populismo e antipetismo. Porto Alegre: Editora Zouk (no prelo).

1
disso, os governos do PT conseguiram entregar crescimento econômico e inflação baixa,
em adição a uma queda sem precedente na desigualdade de renda, pelo menos até o
primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014). Graças a essas realizações, o PT foi
capaz de mobilizar os estratos mais baixos da sociedade, obtendo sucessivas vitórias nas
eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014 (SAMUELS; ZUCCO JR, 2016; ZUCCO,
2008).

Não obstante o sucesso das políticas redistributivas dos governos petistas, a direita
brasileira não apenas manteve níveis elevados de apoio eleitoral durante a virada à
esquerda, mas conseguiu ainda ampliar a sua parcela do voto nacional nas eleições para
a Câmara dos Deputados a partir de 2010. Ademais, desde 2018, o sistema partidário vem
se movendo claramente em direção à direita. Apesar da vitória do PT, por estreita
margem, na eleição presidencial de 2022, o bloco de direita obteve resultados
excepcionais nas disputas para o Congresso e para os governos estaduais, elegendo os
governadores dos três maiores estados (RJ, SP e MG) e conquistando a maioria das
cadeiras e dos votos na Câmara dos Deputados. Paradoxalmente, no entanto, embora os
políticos conservadores tenham conseguido obter sucesso extraordinário nas eleições para
todos os cargos, os partidos de direita continuaram fracos, falhando nos objetivos de
desenvolver marcas partidárias sólidas e cultivar fontes estáveis de apoio eleitoral.

A reorganização da direita envolve três grandes tendências, no que diz respeito à


oferta de alternativas conservadoras. Em primeiro lugar, o crescimento da direita
religiosa, associada, sobretudo, ao avanço do protestantismo neopentecostal. Em
comparação com outros países da América Latina, as igrejas evangélicas têm sido
extraordinariamente bem-sucedidas na arena eleitoral brasileira. Até muito recentemente,
os políticos e o clero evangélicos adotaram estratégias eleitorais pragmáticas e não-
ideológicas, buscando espaço em uma grande variedade de partidos e fazendo alianças
com candidatos da direita à esquerda. Esse cenário de baixa polarização se modificou
radicalmente no período recente (FUKS; MARQUES, 2021; QUADROS; MADEIRA,
2018). Uma série de mudanças progressistas, como a aprovação do casamento entre
pessoas do mesmo sexo pelo STF nos anos 2010 motivou uma reação cultural
conservadora liderada pelo clero evangélico. Na falta de partidos de direita consolidados,
os religiosos conservadores se apoiaram em estratégias não-partidárias para promover
uma guerra cultural contra os valores progressistas (SMITH, 2019)..

Em segundo lugar, a reorganização da direita está diretamente ligada à ascensão


de movimentos sociais liberais e conservadores que surgiram na esteira dos protestos em
favor do impeachment de Dilma Rousseff entre 2015-2016 (SOLANO; DE OLIVEIRA
ROCHA, 2019; SOLANO; ORTELLADO; MORETTO, 2017; TATAGIBA, 2018).
Muitos desses movimentos foram criados por jovens ativistas de direita que sentiam que
as suas ideias não eram adequadamente representadas em razão da hegemonia cultural da
esquerda na academia e na mídia. Apesar da grande diversidade de agendas e formas de
organização, esses movimentos da nova direita, de modo geral, apoiavam agendas
econômicas liberais além de serem extremamente críticos dos governos do PT,
associando o partido ao estatismo e à corrupção (ROCHA, 2021). O novo ativismo de
direita também se caracteriza pela adoção de estratégias de comunicação populistas e pela
utilização das redes sociais para mobilizar apoiadores.

Um terceiro elemento que integra o processo de renovação da direita diz respeito


ao surgimento de novas alternativas no mercado eleitoral, seja pela reformulação de

2
marcas partidárias já existentes (caso do PSL, Podemos e PSC), seja pela criação de novos
partidos (caso do Novo e PRB). A renovação da direita partidária é reflexo direto do
crescimento da direita religiosa – como no caso do PRB, partido ligado à Igreja Universal
do Reino de Deus – e da entrada das lideranças dos novos movimentos de direita na
política eleitoral. Por fim, cabe mencionar a ascensão da direita populista radical,
organizada inicialmente no PSL, partido que serviu de veículo eleitoral para a candidatura
de Jair Bolsonaro (ALMEIDA, 2019).

No que diz respeito ao lado da demanda, essas mudanças na configuração do


sistema partidário e o surgimento de novos atores e organizações no campo da direita
parecem associadas a uma maior politização e saliência de questões não-econômicas entre
os eleitores, como a defesa de políticas linha-dura contra o crime, a rejeição à legalização
do aborto e à ampliação dos direitos da comunidade LGBT+ (RENNÓ, 2020). Há que se
mencionar ainda a crescente desilusão dos eleitores com os partidos e formas de
representação existentes e o concomitante crescimento de atitudes antissistema, quando
não autoritárias (ALONSO; MISCHE, 2017; FUKS; RIBEIRO; BORBA, 2021). Outro
elemento importante para entender as transformações da direita brasileira diz respeito ao
rápido crescimento dos sentimentos negativos com respeito ao PT, partido que ocupou (e
ocupa) lugar central no sistema partidário brasileiro, ao longo da década de 2010 e,
especialmente, após a operação Lava Jato. Ainda que as novas alternativas de direita não
tenham sido capazes de criar novas identidades (positivas), estas foram capazes de
aglutinar parcela expressiva do eleitorado em torno do antipetismo (PAIVA; KRAUSE;
LAMEIRÃO, 2016; SAMUELS; ZUCCO, 2018).

Por fim, a reorganização da direita parece estar associada a um processo de


aumento das diferenças ideológicas no eleitorado brasileiro. Embora até 2014 as
evidências apontassem ausência de divergências ideológicas claras entre petistas e
antipetistas (BORGES; VIDIGAL, 2018), trabalhos recentes têm sugerido que esse
cenário se modificou nos últimos anos (FUKS; MARQUES, 2021; RENNÓ, 2020). O
que resta saber é até que ponto estaria emergindo uma polarização de natureza ideológica,
com mais eleitores tendo posições e opiniões políticas alinhadas ideologicamente. Ou se,
alternativamente, estaríamos diante de uma polarização de natureza afetiva, refletindo
sentimentos de rejeição/identificação cada vez mais intensos com respeito aos principais
pólos da competição presidencial pós-2018 (petismo e bolsonarismo). Ou ainda, o
significado simbólico dos rótulos de esquerda e direita que estariam mudando entre os
eleitores brasileiros e concomitantemente a autodefinição ideológica dos eleitores pós-
2018.

Este livro tem por objetivo explorar questões relativas às mudanças no sistema
partidário e no comportamento dos eleitores em função da reorganização da direita e da
ascensão de atores políticos e movimentos extremistas e/ou antissistema. São quatro as
questões que motivam esse volume e que são exploradas ao longo dos capítulos:

● Em primeiro lugar, quem são os eleitores que constituem a base de apoio do


presidente Bolsonaro e das novas forças de direita emergentes? Até que ponto as
eleições de 2018 e 2022 representam um realinhamento eleitoral, indicando uma
mudança nas lealdades dos eleitores?
● Em segundo lugar, até que ponto é possível dizer que vivemos uma nova onda de
polarização, tanto ao nível das elites quanto das massas?

3
● Quais as principais estratégias de mobilização utilizadas pelas novas forças de
direita para obter o apoio dos cidadãos nas ruas, nas redes e nas urnas? Qual a
importância dos apelos populistas e da chamada “pauta de costumes” para
explicar o comportamento dos eleitores e ativistas de direita?
● Por fim, até que ponto a ascensão da nova direita reflete um deslocamento do eixo
da competição política, passando das questões econômicas para valores religiosos
e tradicionais? É possível falar em uma reação cultural de segmentos
conservadores do eleitorado insatisfeitos com mudanças progressistas na
legislação e nos costumes, a exemplo da legalização do casamento gay?

Com o intuito de fornecer um quadro teórico e conceitual para dar conta das
questões propostas, revisamos ao longo desta introdução a literatura comparada sobre as
estratégias de sobrevivência eleitoral da direita política em sociedades desiguais como a
brasileira. Em seguida, discutimos a reorganização da direita brasileira tanto do ponto de
vista da oferta quanto da demanda, cobrindo conceitos importantes para entender as
conexões entre eleitores, ativistas e políticos de direita. Apresentamos ainda uma
tipologia de partidos e movimentos de direita

ESTRATÉGIAS ELEITORAIS DA DIREITA EM SOCIEDADES DESIGUAIS:


CLIENTELISMO, POPULISMO E CLIVAGENS TRANSVERSAIS

O conceito e o ideal de igualdade são questões centrais que separam a direita da


esquerda. A partir deste pressuposto central, Luna e Kaltwasser (2014) definem a direita
como uma posição política caracterizada pela crença de que as desigualdades sociais são
naturais e não devem ser objeto de intervenção direta do Estado. Em contraste, a esquerda
é definida como uma posição política que se distingue pela crença de que as desigualdades
entre as pessoas são construídas socialmente, o que por sua vez justificaria a ação estatal
ativa no sentido de minorá-las. Em acordo à definição de Luna e Kaltwasser, os partidos
de direita na América Latina contemporânea se distinguem tanto da esquerda quanto do
centro por sua maior disposição para defender reformas neoliberais como privatizações e
desregulamentação de mercados, e um papel mais reduzido para o Estado na esfera
econômica (WIESEHOMEIER, 2010).

Dadas as diferenças cruciais entre direita e esquerda, conclui-se que partidos de


direita deveriam enfrentar maior dificuldade para mobilizar eleitores pobres em
sociedades muito desiguais. Cabe notar, entretanto, que os desafios enfrentados pela
direita política variam substancialmente no tempo e no espaço, a depender da importância
das divisões de classe e das questões econômicas para a competição partidária
(KALTWASSER, 2014). A literatura comparada indica que há três grandes estratégias à
disposição de partidos conservadores para obter apoio eleitoral de massa em democracias
desiguais. Em primeiro lugar, esses partidos podem se utilizar da distribuição de
benefícios materiais para conseguir o apoio dos eleitores de baixa renda, ao mesmo tempo
em que preservam o seu programa partidário e a capacidade de defender os interesses dos
seus apoiadores de classe alta (LUNA, 2010; THACHIL, 2014).
Uma segunda estratégia envolve a politização de temas políticos e clivagens
transversais às divisões de classe. Através da politização de identidades étnicas,
territoriais ou religiosas, os partidos de direita podem mais facilmente construir coalizões
eleitorais compostas por segmentos de diferentes estratos sociais e assim competir de
forma mais efetiva contra seus adversários à esquerda (EATON, 2011; KALTWASSER,
2014). Na América Latina nas últimas décadas, a direita política tem sido bem-sucedida

4
na politização de identidades religiosas e dos valores tradicionais. Esses processos estão
diretamente relacionados à expansão das igrejas evangélicas e, particularmente, do
Neopentecostalismo em vários países da região, como Brasil, Colômbia e Costa Rica.
Tendências como a secularização das sociedades e mudanças de valores e da legislação
em torno de questões como direitos LGBT, aborto e identidade de gênero em muitos
países da região criaram incentivos para a organização e mobilização de grupos religiosos
conservadores que enxergavam nas mudanças culturais e políticas progressistas uma
ameaça aos valores e modos de vida tradicionais (BOAS, 2020; ORTEGA, 2018;
VILLAZÓN, 2014).

Uma terceira estratégia disponível às forças de direita envolve a construção de


partidos e/ou alianças eleitorais populistas. Adotamos aqui a definição ideacional de
populismo, como uma ideologia maniqueísta que divide a sociedade em dois grupos
homogêneos e opostos: o “povo puro” e a “elite corrupta’, defendendo uma concepção de
política centrada na representação da vontade geral (i.e., volonté générale) do povo.
Ainda que o populismo esteja com frequência associado à lideranças carismáticas e à
comunicação sem intermediários entre líder e seguidores, esses aspectos apenas facilitam,
porém não definem, a política populista (MUDDE, 2004; MUDDE; KALTWASSER,
2017). Um elemento central da ideologia populista é o seu caráter moralista e não
programático. O populismo é maniqueísta por natureza e enfatiza a diferença normativa
entre “elite” e “povo”. Nessa perspectiva, os opositores são definidos como inimigos e
como expressão do mal, e não apenas em função de diferentes valores e prioridades
(Mudde, 2004, p. 544).

O que torna as estratégias populistas especialmente atrativas do ponto de vista da


direita política é a possibilidade de colocar em segundo plano e/ou matizar posições
programáticas sobre o papel do Estado na economia e na redução das desigualdades que
não contam com apoio entre os eleitores pobres, por meio da ênfase na oposição
maniqueísta entre elite e povo e no caráter antissistema da liderança. Com diferentes
variações e nuances, os populistas de direita na América Latina costumam se amparar no
descrédito dos eleitores com respeito à classe política tradicional em contextos de
criminalidade crescente, escândalos de corrupção e crise econômica para construir
coalizões eleitorais multiclassistas(LUNA; ROVIRA KALTWASSER, 2021;
WEYLAND, 2003; ZANOTTI; ROBERTS, 2021 ).

É possível identificar duas grandes ondas populistas de direita na região. A


primeira onda está associada à implementação de programas ortodoxos de estabilização
econômica por presidentes populistas como Alberto Fujimori e Fernando Collor na
década de 1990. Essa variante neoliberal do populismo buscava mobilizar as massas
depauperadas do setor informal da economia, apontando a classe política tradicional e as
elites econômicas que haviam se beneficiado do modelo de substituição de importações
como responsáveis pelos problemas econômicos do país (ROBERTS, 1995; WEYLAND,
2003).

Enquanto na primeira onda a agenda econômica era central, e se acenava aos


eleitores pobres com a possibilidade de ganhos na renda real em decorrência da
estabilização dos preços, na segunda onda populista de direita as questões não-
econômicas (ex. segurança pública) ganham importância. Outra diferença central entre as
duas ondas está no fato de que muitos dos populistas de direita no período pós-2000
construíram as suas agendas em oposição aos governos de esquerda que estavam (ou

5
haviam estado) no poder. Assim, a “elite corrupta” comum aos discursos de populistas de
diferentes roupagens, passou a ser associada à esquerda. O novo populismo de direita
procura contrapor os valores morais tradicionais do “povo” às agendas progressistas das
elites culturais e intelectuais. Políticos e partidos de esquerda são caracterizados como
amorais e inimigos da família tradicional, por conta da sua defesa da “ideologia de
gênero”, da descriminalização do aborto e dos direitos LGBT (ALMEIDA, 2019;
CAMPOS CAMPOS, 2021). De modo mais geral, a nova onda populista de direita se
beneficiou do desgaste dos governos de esquerda da região em meio à estagnação
econômica, crescimento da violência e da criminalidade e escândalos de corrupção
(LUNA; ROVIRA KALTWASSER, 2021).

Por fim, a segunda onda populista está associada, em muitos casos, à emergência
de partidos e lideranças de extrema direita. Na Europa Ocidental a ascensão de forças
extremistas foi impulsionada pelo nacionalismo econômico e cultural, centrado na defesa
do fechamento das fronteiras e na adoção de barreiras à imigração (GIDRON; HALL,
2017; MUDDE, 2015). Na América Latina, onde a imigração não é uma questão tão
saliente, os partidos e lideranças de extrema direita têm se concentrado na defesa de
políticas punitivistas de combate à criminalidade, além de se alinhar à defesa dos valores
tradicionais encampada por grupos religiosos conservadores (ver Tanscheit e Zanotti,
neste volume).

A REORGANIZAÇÃO DA DIREITA NO BRASIL: O LADO DA OFERTA

No caso brasileiro, a resposta bem-sucedida da direita frente aos desafios trazidos


pelos governos petistas dependeu em boa medida de uma reconfiguração do sistema
partidário e da estrutura da competição política. Enquanto a sobrevivência eleitoral da
direita tradicional havia dependido em boa medida do acesso aos recursos de patronagem
controlados pelos executivos das três esferas de governo, a nova direita se amparou em
duas estratégias de mobilização eleitoral. Primeiro, a nova direita evangélica seguiu uma
estratégia central no repertório dos partidos e movimentos de direita, politizando de forma
efetiva uma identidade transversal às classes sociais – a religião. Em segundo lugar, a
direita antipolítica adotou uma estratégia populista valendo-se da oposição populista entre
“elite corrupta” e “povo” e apoiando-se em um discurso virulento de demonização do PT
e das esquerdas para mobilizar os eleitores. Nesta seção, analisamos a evolução da direita
brasileira desde a redemocratização e desenvolvemos uma tipologia de partidos e
movimentos de direita com o objetivo de dar conta das transformações do campo
conservador no período recente.

A Direita Tradicional

Os principais partidos de direita no período anterior aos governos do PT haviam


sido criados pelas elites políticas que haviam apoiado a ditadura militar (1964-1985): o
PFL (Partido da Frente Liberal) e o PDS (Partido Social Democrático)1. Tanto o PFL
quanto o PDS eram sucessores do partido de sustentação dos governos militares

1
Em 2007, o PFL sofreu um processo de reorganização, adotando um novo nome: “Democratas”. Já o PDS
experimentou uma série de fusões com outras legendas de direita, até adotar o nome atual em 2003: Partido
Progressista (PP). Ao longo do texto, utilizo a nomenclatura original dos partidos seguida pela
denominação atual (ex., PFL/DEM).

6
(ARENA), e herdaram a estrutura organizacional e as redes clientelistas criadas pelos
governadores nomeados pela ditadura. Após a transição à democracia, surgiram diversos
pequenos partidos de direita que absorveram parte dos antigos quadros da ARENA, muito
embora o PDS/PP e, especialmente, o PFL/DEM mantivessem o seu status como as
maiores legendas do campo conservador. De modo geral, esse grupo de partidos, que
denominamos aqui de “direita tradicional” ou “velha direita”, se caracterizavam
basicamente por serem organizações seculares, quase sempre com raízes no regime
autoritário e cuja força eleitoral dependia significativamente do acesso privilegiado a
recursos de patronagem nas três esferas de governo.

Os governos do PT acabariam por desmantelar as bases de apoio territorial da


direita, especialmente nas regiões mais pobres do país – Norte e Nordeste – por meio da
federalização de políticas sociais e da implementação de um amplo programa de
transferência de renda que prescindia da intermediação dos governos estaduais. Além
disso, uma vez que o PT e seus aliados à esquerda ganharam acesso aos cargos e verbas
federais, abriu-se espaço para que estes pudessem competir de forma mais efetiva nas
eleições subnacionais em estados previamente dominados por máquinas políticas
conservadoras (BORGES, 2011; FENWICK, 2009).

Essas mudanças tiveram um efeito dramático sobre o principal partido de direita


do país, o PFL/DEM. Depois de enfrentar uma série de derrotas em eleições para
governador ao longo da década de 2000, além de permanecer na oposição ao governo
federal durante os 13 anos de administrações petistas (2003-2016), o partido sofreu um
contínuo processo de esvaziamento. Em 2018, o partido obteve apenas 4.6% do total
nacional de votos na eleição para a Câmara, em comparação com 17% em 1998. Os
outros partidos da direita tradicional, como o PDS/PP e o PTB, embora não enfrentando
as perdas eleitorais massivas sofridas pelo PFL/DEM, sobreviveram basicamente como
“partidos-satélite”, participando das coalizões de governo formadas pelos presidentes
petistas (Ribeiro, 2014; Power, 2018). Após a debacle do PFL/DEM, o bloco de direita
no Congresso passou por um processo acelerado de fragmentação, com o surgimento de
pequenas legendas particularistas especializadas em vender apoio aos governos de
plantão.

Quadro 1: Classificação ideológica dos partidos brasileiros


Esquerda Centro Direita

PSTU PROS PSD PFL/DEM


Rede PSDB PTB PSL
PSOL PMDB PSC NOVO
PCdoB SD PODEMOS PRTB
PT PHS PL/PR PRONA
PSB PTC PRB PEN/PATRI
PDT PPS PDC/DC PRP
PMN
PRN PTR
AVANTE
PRONA UB
PDS/PPB/PP

7
Fontes: BLS (vários anos), PREPPS (2006, 2011, 2015, 2019) e V-Party 2020.

Classificamos os partidos brasileiros por bloco ideológico utilizando os escores


estimados por Zucco e Power (2021) com base nas respostas dos deputados federais ao
longo de diversas ondas da pesquisa Brazilian Legislative Survey (BLS). Classificamos
ainda alguns partidos não cobertos na BLS, utilizando dois expert surveys (V-Party e
PREPPS).2 O quadro 1 lista os partidos brasileiros agrupados por bloco ideológico. A
partir da classificação, calculamos a evolução do voto na direita nas disputas legislativas
nacionais (Senado e Câmara Deputados). Conforme visto na figura 1 abaixo, o bloco
conservador no Congresso manteve níveis elevados de apoio eleitoral durante os
governos do PT, não obstante a sua fragilidade organizacional e crescente atomização.
Além disso, entre 2006 e 2022, as forças de direita experimentaram crescimento eleitoral
à Câmara dos Deputados chegando a 48% dos votos válidos em 2018 e 56% em 2022.

O crescimento eleitoral da direita entre 2006 e 2018 nas eleições para a Câmara
dos Deputados coincide com a decadência eleitoral dos principais partidos de direita
organizados durante a transição à democracia. De fato, em 1998 os quatro maiores
partidos de direita – PFL/DEM, PDS/PP, PTB e PR/PL – representavam 85% do total da
votação do bloco de direita nas eleições para a Câmara dos Deputados; em 2018, a
votação percentual desses quatro partidos havia caído para 24.8%.3 Estes dados já são um
primeiro indicativo do amplo processo de renovação experimentado pela direita
brasileira, com o crescimento eleitoral de pequenos partidos e surgimento de novas forças.

Figura 1: Votação agregada dos partidos de direita, Eleições para a Câmara dos
Deputados, 1990-2022

2
Os procedimentos utilizados para classificar os partidos brasileiros como direita, esquerda ou centro são
detalhados no anexo A.

3
Dados obtidos do Repositório de Dados Eleitorais do TSE (www.repositorio.tse.gov.br). Cálculos dos
autores.

8
70

60

50

40

30

20

10

0
1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 2018 2022

Fontes: Repositório de dados eleitorais TSE; BLS (vários anos), PREPPS 2006 ,2011,
2015, 2019 e V-Party 2020.

A direita evangélica

Sem dúvida, a ascensão da direita evangélica é parte central neste processo de


renovação do bloco conservador no Congresso brasileiro. Se é verdade que a presença
dos evangélicos na política eleitoral não é novidade, remontando à assembleia
constituinte, a partir da década de 2010 a direita religiosa passa por importantes mudanças
do ponto de vista organizacional e das estratégias programáticas, além de passar a
representar percentual cada vez mais expressivo do total da votação da direita nas eleições
legislativas nacionais. Nesse sentido, não há como entender o processo de renovação do
bloco conservador sem analisar a emergência e consolidação da direita evangélica.

O enorme sucesso das igrejas neopentecostais na competição por fiéis, em meio a


um decréscimo no tamanho da maioria Católica, criou tanto incentivos quanto
oportunidades para a politização das identidades religiosas. Entre 1980 e 2010, o
percentual da população auto identificada como evangélica aumentou de 6.5% para 22%
da população (SMITH, 2019). Em comparação com a maioria Católica, os evangélicos
têm maior probabilidade de frequentar a igreja regularmente, sendo portanto mais
suscetíveis à influência do clero(RODRIGUES; FUKS, 2015). Na média, os evangélicos
têm posições mais conservadoras tanto em relação aos eleitores Católicos quanto àqueles
sem religião, em temas como casamento, papeis de gênero, homossexualidade e aborto.
Em especial, a forte oposição dos evangélicos aos direitos LGBT os diferencia claramente
de outros grupos religiosos (BOHN, 2004; MCADAMS; LANCE, 2013). Na dimensão
econômica esquerda-direita, entretanto, a religião não tem nenhum efeito relevante sobre
as atitudes dos eleitores (SMITH, 2019).

A bancada evangélica na Câmara dos Deputados aumentou de 4% do total em


1990 para 16.5% em 2019 (Quadros e Madeira, 2018; Diap, 2019). Cabe mencionar,
entretanto, que até recentemente, as maiores denominações evangélicas, como a Igreja
Universal do Reino de Deus (IURD) e Assembleia de Deus (AD), não se preocupavam
9
em coordenar o esforço de representação dos evangélicos em torno de um único partido
confessional. Ao contrário, as igrejas evangélicas optaram por tirar vantagem do sistema
eleitoral de lista aberta com elevadas magnitudes distritais para espalhar candidatos
apoiados pelo clero entre vários partidos de diferentes orientações ideológicas (REICH;
DOS SANTOS, 2013). O comportamento pragmático e não ideológico da direita
evangélica se evidencia na aliança entre o PT e algumas das maiores igrejas durante as
campanhas à presidência de Lula em 2002 e 2006.

Este cenário de virtual ausência de polarização e baixa consistência entre as pautas


dos políticos evangélicos e suas estratégias eleitorais se alteraria radicalmente a partir de
uma série de mudanças de caráter progressistas na legislação e nos valores da sociedade.
Decisões do STF como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2010
motivaram uma reação conservadora encampada pelo clero evangélico. Na ausência de
partidos conservadores fortes, a guerra cultural contra as pautas progressistas foi liderada
pelo clero evangélico e seus representantes no parlamento (SMITH, 2019). Com o
aumento da polarização, a bancada evangélica passou a confrontar as agendas
progressistas do PT e da esquerda no Congresso. Por exemplo, no primeiro mandato de
Dilma Rousseff (2011-2014) houve forte reação dos parlamentares evangélicos ao projeto
“Escola sem Homofobia” apresentado pelo Ministério da Educação (MEC) (MARIANO;
GERARDI, 2019; QUADROS; MADEIRA, 2018).

A guerra cultural dos evangélicos contra a secularização e as mudanças


progressistas coincidiu com importantes mudanças na organização política das igrejas.
Enquanto no final década de 1990 os partidos da direita tradicional – PFL/DEM, PP, PTB
mais o PMDB – respondiam por 73% de todas as candidaturas evangélicas à Câmara dos
Deputados, em 2014 esse percentual havia se reduzido a menos de 15% (BORGES;
BABIRESKI, 2021). Concomitantemente, as grandes igrejas neopentecostais passaram a
controlar partidos confessionais como o PRB (Partido Republicano Brasileiro), o PSC
(Partido Social Cristão) e o PEN (Partido Ecológico Nacional)4.

É preciso notar, porém, que a presença da direita evangélica no Congresso vai


muito além dos partidos confessionais, ligados diretamente às igrejas. Dos 85
parlamentares da bancada evangélica na Câmara dos Deputados eleitos em 2018, um total
de 19 eram filiados ao PRB – legenda vinculada à Igreja Universal do Reino de Deus –,
4 ao PSC (Assembleia de Deus) 1 ao Patriota (Assembleia de Deus), e os demais 61
deputados estavam espalhados por mais de uma dezena de partidos, majoritariamente
posicionados à direita do espectro político (DIAP, 2019).

Em 2018, as principais denominações evangélicas do país se aliaram ao candidato


extremista Jair Bolsonaro. A união das igrejas em torno de uma candidatura claramente
conservadora e afeita às pautas evangélicas sacramentou a ruptura com o pragmatismo
político que havia prevalecido em pleitos anteriores. O apoio maciço das lideranças
evangélicas ao candidato da direita populista radical também evidenciou o antipetismo
prevalecente entre os clérigos e seus representantes no parlamento (MARIANO;
GERARDI, 2019). A aliança entre Bolsonaro e os evangélicos foi reforçada ao longo do
seu mandato, com a nomeação de religiosos para ministérios importantes – caso de

4
O PEN alterou o nome pouco antes das eleições de 2018, passando a se chamar Patriota. Assim, em todas
as referências posteriores ao partido utilizamos a denominação “Patriota” ou “PATRI”

10
Damares Alves, nomeada ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos - e adoção de
agendas caras ao segmento religioso (CAMURÇA, 2020).

Em resumo, no período mais recente o clero e os políticos evangélicos adotaram


uma estratégia de guerra cultural em reação a mudanças progressistas na sociedade e na
legislação, buscando politizar temas como aborto, casamento gay e identidades de gênero.
Além disso, as igrejas se tornaram menos dependentes dos partidos da direita tradicional
para eleger seus representantes, passando a se organizar em pequenos partidos
confessionais. Por fim, as igrejas evangélicas abandonaram o pragmatismo político,
alinhando-se claramente à direita antipetista e radical liderada por Bolsonaro. Todas essas
mudanças apontam para uma maior centralidade das identidades religiosas na
mobilização do voto conservador e para uma diferenciação mais clara entre a direita
tradicional – majoritariamente secular – e a direita religiosa.

A direita antipolítica

A ascensão do outro ramo da nova direita – a direita antipolítica – está relacionada


à organização de movimentos liberais e conservadores durante as crises econômica e
política que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 e ao
descrédito de todos os grandes partidos. Boa parte desses novos movimentos de direita
foram fundados por jovens ativistas que sentiam que suas ideias não eram adequadamente
representadas em razão da hegemonia cultural da esquerda na academia e na mídia
(ROCHA, 2018a).

Embora pequenos inicialmente, movimentos como o MBL (Movimento Brasil


Livre), Vem Pra Rua e Revoltados Online experimentaram rápido crescimento durante os
protestos a favor do impeachment em 2015 e 2016 (ORTELLADO; SOLANO, 2016;
ROCHA, 2018b; SOLANO; ORTELLADO; MORETTO, 2017). Os protestos de rua
contra a presidente Dilma Rousseff foram motivados por uma profunda contração
econômica em 2015-2016 e por uma série de escândalos de corrupção descobertos pela
operação Lava Jato. A operação surgiu em 2014 como uma investigação de um esquema
de suborno na petroleira estatal da Petrobrás, mas gradualmente se expandiu e revelou
inúmeros esquemas corruptos envolvendo outras empresas públicas, empresas de
construção e políticos filiados a praticamente todos os principais partidos. A Lava Jato
levou à condenação e prisão de várias figuras-chave do PT. Além do fenômeno de
estagflação durante a administração de Rousseff, escândalos de corrupção levaram a uma
onda anti-política que resultou na rejeição crescente ao Partido dos Trabalhadores. O vice-
presidente Michel Temer do PMDB, que assumiu a presidência após o impeachment não
se saiu melhor do que a sua antecessora. A equipe econômica do novo presidente entregou
crescimento econômico pífio entre 2017 e 2018. Além disso, um escândalo de corrupção
envolvendo Temer e seus assessores mais próximos contribuiu para enfraquecer
politicamente o governo e tornar o presidente um dos líderes mais impopulares da história
(SANTOS; TANSCHEIT, 2019).

Mais tarde, conversas vazadas entre juízes e promotores de justiça revelariam que
a operação Lava Jato tinha se baseado em estratégias extraconstitucionais para
desacreditar deliberadamente os partidos e obter apoio popular a favor da "limpeza" do
sistema político.5 O escândalo "Vaza-Jato" deixou claro que juízes e promotores de

5
https://theintercept.com/series/mensagens-lava-jato/

11
justiça haviam deliberadamente manipulado o devido processo legal para condenar
políticos acusados de corrupção, incluindo o ex-presidente Lula.6 O juiz federal Sérgio
Moro, que ganhou destaque nacional por este papel de liderança na operação Lava Jato,
seria mais tarde nomeado ministro da Justiça de Bolsonaro, o que é mais uma evidência
de que os juízes e promotores da Lava Jato tinham um projeto político próprio.

Apesar das variações em suas agendas, os novos movimentos de direita que


emergiram da crise econômica e política de 2014-2016 se aliaram à operação Lava Jato e
sua cruzada moralista contra a corrupção. Além disso, a nova direita nas ruas e nas redes
se apresentou como apartidária, apesar de suas conexões com a oposição de centro-direita
ao PT (TATAGIBA, 2018; TATAGIBA; TRINDADE; TEXEIRA, 2015). Ao apoiar a
operação Lava Jato, apresentando-se como "apolíticos" e associando o PT e a esquerda à
corrupção, os movimentos de direita foram capazes de mobilizar os sentimentos
antipartidários e antissistema do eleitorado (ORTELLADO; SOLANO, 2016;
TATAGIBA, 2018). Como mostram Dias, von Bulow e Gobbi no capítulo 7, os
mecanismos de enquadramento populistas jogaram papel fundamental na atuação de
diferentes movimentos de direita nas redes sociais. A narrativa construída por esses
movimentos tem como alguns dos seus elementos centrais a defesa da operação Lava
Jato, e a demonização do PT, sendo o partido culpabilizado pela corrupção e pelos
problemas econômicos do país.

Alguns dos líderes dos protestos em massa de 2015-2016 entraram na política


eleitoral como legisladores nacionais ou estaduais em 2018, por diferentes partidos
políticos.7 Provavelmente, o Novo é o partido que mais foi influenciado pelos novos
movimentos de direita. Criado pelo empresário João Amoedo em 2011 para defender
ideias econômicas ultraliberais, o partido incorporaria mais tarde membros de
movimentos de direita como o Líber, MBL (Movimento Brasil Livre) e Livres (Rocha,
2018). Além de defender a desregulamentação do mercado, a privatização e a redução
do Estado, o Novo abraçou a agenda anticorrupção da operação Lava Jato. O programa
do partido enfatiza a necessidade de implementar reformas legais para pôr um fim à
impunidade e combater efetivamente a corrupção. Por fim, em consonância com a
orientação populista e antissistema dos movimentos da juventude de direita, o Novo se
apresenta como uma força política antiestablishment, criada por cidadãos comuns sem
nenhum envolvimento prévio na política partidária.8

A combinação de agendas neoliberais tradicionais e apelos antiestablishment que


caracteriza o partido Novo também é evidente no Podemos, previamente conhecido como
PTN (Partido Trabalhista Nacional). O PTN mudou seu nome em 2017 para criar uma
nova identidade como partido anticorrupção. O candidato presidencial do partido em
2018, o senador Álvaro Dias, prometeu combater a impunidade e apoiar a operação Lava
Jato, além de endurecer a legislação penal para combater o crime (Gregorio e Contrera,

6
Depois de ser preso em Abril de 2018, Lula perdeu seus direitos políticos e não pôde concorrer à
presidência, embora estivesse à frente nas pesquisas de intenção de voto. Assim, é muito provável que sua
condenação controversa tenha contribuído para a vitória do extremista de direita Jair Bolsonaro. O STF
acabaria por anular as condenações do ex-presidente em Abril de 2021.
7
Carla Zambelli, fundadora do movimentos Nas Ruas foi eleita deputada federal pelo PSL (Partido Social
Liberal). Bia Kicis do Revoltados Online foi eleita para a Câmara dos Deputados pelo PRP. Em 2019, ela
migrou para o PSL.
8
Esta seção se baseia no programa do partido disponível em www.novo.org.br. (Consulta realizada em
2/03/2022).

12
2020). Após a eleição, a delegação do Podemos no Senado atuou na criação da bancada
Muda Senado, organizada em favor de reformas políticas anticorrupção.9

Além do Podemos e Novo, a direita antipolítica se organizou em torno do projeto


presidencial de Jair Bolsonaro. Seguindo o manual dos populistas, Bolsonaro assumiu o
controle de um pequeno partido de direita sem expressão na política nacional, o PSL
(Partido Social Liberal) e o transformou em um veículo eleitoral personalista alguns
meses antes das eleições. Além disso, como parte de seu ataque à política tradicional,
recusou alianças formais com os grandes partidos durante a campanha (RIBEIRO;
BORGES, 2020). Em vez disso, o PSL fez uma aliança com um partido nanico: o PRTB
(Partido da Renovação Trabalhista Brasileira), que indicaria o vice-presidente na chapa,
o general Hamilton Mourão. A ascensão da direita radical ao poder contou com o apoio
crucial de setores das Forças Armadas, que atuaram nos quarteis e em academias militares
para promover a candidatura do PSL, com a conivência do Alto Comando do Exército
(LEIRNER, 2020).Bolsonaro construiu sua campanha, em grande parte, sobre a
condenação da “velha política” (ALMEIDA, 2019). Ele também mobilizou os
sentimentos antipetistas dos eleitores, demonizando o partido e culpando-o pela
corrupção generalizada e pela estagnação econômica. Consistente com sua filiação à
extrema-direita militar, Bolsonaro adotou uma retórica abertamente antidemocrática
durante a campanha eleitoral de 2018: glorificou a ditadura (1964-1985) e torturadores
confessos, e falou em metralhar seus oponentes de esquerda. Ao longo do seu mandato
(2019-2022) e durante a campanha pela reeleição, Bolsonaro estimulou atos
antidemocráticos e colocou em dúvida a credibilidade das urnas eletrônicas,
demonstrando assim a sua filiação ao projeto iliberal da direita populista representado por
líderes como Viktor Órban.

A adesão à visão autoritária da sociedade se expressa não apenas no âmbito das


elites políticas, mas também entre as massas. Como mostra Robert Vidigal em seu
capítulo neste livro, os eleitores de Bolsonaro se diferenciam dos demais na medida em
que partilham orientações psicológicas autoritárias, ou seja, esposam crenças e valores de
obediência e conformidade social em detrimento da autonomia individual. Trata-se, em
realidade, do apoio à organização de uma sociedade estritamente ordenada, em que
qualquer violação do status quo deve ser penalizada de forma severa. Eleitores com este
perfil tem maior probabilidade de defender o endurecimento da legislação penal (ex. pena
de morte), além de mostrarem menor adesão à democracia. Como argumentam Tanscheitt
e Zanotti no capítulo 11 deste livro, um dos principais elementos que diferencia a direita
populista radical da direita convencional na América Latina é a adesão a valores
autoritários. Seguindo a conceituação proposta por Mudde (2007), as autoras sublinham
que o autoritarismo não diz respeito necessariamente à defesa de regimes não
democráticos. O autoritarismo pode envolver tanto a defesa de um Estado repressor, que
adota medidas punitivas para combater a criminalidade, quanto o apoio aos valores morais
tradicionais, vistos como necessários para assegurar a ordem e a coesão social.

A variante populista radical da direita antipolítica representada pelo grupo político


do presidente Bolsonaro se diferencia de movimentos da juventude de direita como MBL,
e de partidos como Novo e Podemos pela utilização de uma retórica abertamente
antidemocrática e iliberal, e pelos vínculos orgânicos com as Forças Armadas e polícias

9
https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/muda-senado-quem-e-o-grupo-que-quer-
mudar-o-senado-e-o-judiciario/

13
militares. Ainda assim, o bolsonarismo partilha com esses movimentos e partidos de
direita um mesmo discurso populista que divide o mundo político entre uma classe
política corrupta e desconectada das aspirações do cidadão comum (geralmente
identificada com o PT e a esquerda), e os verdadeiros representantes do povo (os políticos
e ativistas da nova direita) (GREGORIO; CONTRERA, 2020; TAMAKI; FUKS, 2020;
TATAGIBA, 2018).10 Como Borges demonstra no capítulo 12 deste livro, os partidos da
direita antipolítica partilham de uma mesma estratégia de mobilização eleitoral que
envolve o ataque aos partidos e à política tradicional (antipartidarismo), a demonização
do PT (antipetismo) e alinhamento à operação Lava Jato .

A direita antipolítica obteve extraordinário sucesso nas eleições de 2018. PSL,


PRTB, Novo e Podemos conquistaram cerca de 16% do total de votos nas disputas para
a Câmara e para o Senado. O PSL foi o principal responsável pelo bom desempenho desse
grupo de partidos, obtendo cerca de 11% dos votos. Quando consideramos a vinculação
a movimentos e think-tanks de direita ao invés da filiação partidária, o desempenho da
nova direita antipolítica é igualmente impressionante: nada menos que 14 candidatos que
participaram ou lideraram esses movimentos conseguiram uma cadeira na Câmara dos
Deputados em 2018.11

Ao longo do mandato do presidente Bolsonaro, a nova direita antiestablishment


experimentou uma reorganização. O PSL, partido que serviu de veículo eleitoral para o
bolsonarismo em 2018, deixou de existir em 2021. Cerca de metade dos seus deputados
migraram para o PL, atual legenda do ex-presidente, e a outra metade para o União Brasil,
partido que nasceu da fusão entre o DEM e ala não-bolsonarista do PSL.

A aliança entre o antigo PR/PL, partido pragmático do chamado “Centrão”, e a


bancada radical liderada pelo presidente Bolsonaro sugere que as fronteiras entre os
distintos ramos da direita se tornaram mais fluidas. De qualquer sorte, em 2022 a nova
direita antiestablishment teve, mais uma vez, excelente desempenho nas disputas para a
presidência e para o Congresso. O PL conquistou a maior bancada na Câmara dos
Deputados, obtendo 16.6% dos votos. Ainda que não tenhamos como saber com certeza
quanto do crescimento do antigo PL se deve à entrada da antiga base bolsonarista no
partido, é razoável supor que a associação entre a candidatura presidencial de Bolsonaro
e as campanhas para deputado federal contribuiu para a votação recorde.12 Embora
derrotado pelo PT em sua campanha pela reeleição, o presidente teve votação expressiva
no 2º turno, obtendo 49% dos votos válidos. Por sua vez, o Podemos experimentou
crescimento no pleito para a Câmara dos Deputados, conquistando cerca de 3% dos votos.
Já o partido Novo encolheu: obteve 1.2% dos votos contra 2.8% em 2018.

Os resultados das eleições de 2018 e 2022 demonstram que a direita populista


radical é a principal força dentro da direita antiestablishment e que o ex-presidente Jair
Bolsonaro é a sua principal liderança. Ainda que Bolsonaro e seus aliados não tenham
sido capazes de construir um partido capaz de unir as diferentes forças políticas

10
Cabe notar, ademais, que ativistas e políticos identificados com o presidente Bolsonaro estão espalhados
por diferentes partidos e movimentos de direita, de modo que as fronteiras entre os diferentes ramos da
direita antipolítica não são tão claras.
11
Os dados das trajetórias de carreira dos deputados federais da direita brasileira foram obtidos a partir de
pesquisa no site da Câmara dos Deputados, sites pessoais dos candidatos e páginas de movimentos como
MBL, Vem para Rua e Revoltados Online.
12
Entre 2018 e 2022, a votação do PL para a Câmara dos Deputados triplicou, passando de 5% para 16%.

14
extremistas em torno de uma agenda e de uma marca partidária bem definida, o
bolsonarismo não se resume a um movimento puramente personalista ou a um fenômeno
passageiro de ativação de eleitores previamente indiferentes ou voláteis. Como argumenta
Rennó no capítulo 3, o bolsonarismo é um alinhamento ideológico de direita, que une
posições conservadoras em temas como segurança pública, direitos LGBT e reprodutivos,
a posturas de rejeição e desconfiança com respeito ao establishment político e ao próprio
processo democrático. Utilizando dados das pesquisas de survey do ICNT Instituto da
Democracia entre 2019 e 2022, Rennó demonstra que o bolsonarismo conta com uma
base apoio bastante sólida, em torno de 20% do eleitorado.

A partir das contribuições de Rennó, Vidigal e Tanscheitt e Zanotti, podemos


definir o bolsonarismo como um movimento político que se caracteriza: i) por uma
concepção autoritária da sociedade; ii) por uma visão populista do mundo político,
assentada em narrativas e agendas antissistema e iliberais; iii) pela adoção de pautas
ultraconservadoras, que envolvem a defesa dos valores tradicionais. A esses três
elementos, agregamos um quarto ponto, comum a outros casos de emergência da direita
populista radical na América Latina, que diz respeito à forte vinculação com os militares
e forças de segurança. As raízes do bolsonarismo no aparato repressivo do Estado se
refletem no recrutamento de quadros e na incorporação das pautas e interesses de grupos
saudosistas do regime militar (1964-1985) e do protagonismo político dos fardados.

A direita antipolítica, por sua vez, é mais ampla que o bolsonarismo e inclui
movimentos e partidos de direita que buscam mobilizar sentimentos antipartido e
antissistema dos eleitores, porém não partilham necessariamente das mesmas agendas
antidemocráticas da direita radical, nem possuem vínculos orgânicos com as Forças
Armadas e polícias. Não obstante essas diferenças, a consolidação do bolsonarismo junto
ao eleitorado sugere que o espaço para alternativas populistas de direita fora do campo
bolsonarista é bastante reduzido.13

Em síntese, pode-se dizer que a direita brasileira hoje é substancialmente diferente


da direita da década de 1990. Partidos majoritariamente seculares, que se valiam da
mobilização clientelista e com raízes na ditadura, perderam espaço para partidos
confessionais e legendas antiestablishment. Ademais, as novas forças de direita, em
contraponto à direita tradicional, têm sido razoavelmente bem-sucedidas em estabelecer
vínculos com organizações da sociedade, como igrejas e movimentos da juventude. Por
fim, a ascensão do bolsonarismo também indica uma ruptura com o passado recente, na
medida em que, diferente da “velha direita”, que buscava se desvincular do passado
autoritário, traz de volta a glorificação da ditadura e o flerte com o golpismo e a
desestabilização das instituições representativas, dando voz a setores extremistas que
antes não se viam representados pelas alternativas partidárias existentes.

O LADO DA DEMANDA: ANTIPETISMO, ANTIPARTIDARISMO E


POLARIZAÇÃO

Certamente, o sucesso da nova direita brasileira não pode ser dissociado do


crescimento das atitudes anti-partidos e antissistema entre os eleitores brasileiros.
Sucessivos escândalos de corrupção e uma severa contração econômica entre 2014-2016
13
A título de exemplo, deputados campeões de voto eleitos pelo antigo PSL em 2018, como Joyce
Hasselman e Alexandre Frota, não conseguiram se reeleger em 2022, depois de romperem com o presidente
Bolsonaro.

15
contribuíram para a insatisfação generalizada com respeito aos partidos e às instituições
representativas brasileiras. Para além desses fatores, há que se considerar que, muito
provavelmente, a paulatina convergência ideológica entre os principais partidos
brasileiros entre 1994 e 2014 reforçou a dificuldade dos eleitores de perceber diferenças
entre as legendas em um sistema partidário hiper fragmentado (BORGES, 2021; ZUCCO
JR; POWER, 2021). A literatura comparada sobre sistemas partidários sugere,
precisamente, que a diluição das identidades programáticas dos partidos e a perda da
capacidade de representar adequadamente os interesses dos cidadãos são fatores que
contribuem para a ascensão de alternativas populistas e antissistema (CARRERAS, 2012;
MORGAN, 2011; SEAWRIGHT, 2012).

As demonstrações de julho de 2013 evidenciaram a insatisfação do eleitorado com


um sistema político visto como ineficiente, corrupto e distante das reais demandas da
população. Durante as manifestações, a oposição generalizada aos partidos políticos foi
tematizada através de cartazes, slogans e postagens nas mídias sociais por manifestantes
de diversas orientações ideológicas (ALONSO; MISCHE, 2017).

A insatisfação da população com os partidos e com o sistema político de forma


geral afetou seriamente o partido que ocupou a presidência durante boa parte das décadas
de 2000 e 2010: o PT (PAIVA; KRAUSE; LAMEIRÃO, 2016; SAMUELS; ZUCCO,
2018). Isto não chega a ser surpreendente, na medida em que avaliações negativas sobre
o desempenho da economia e das instituições políticas tendem a ser atribuídas ao partido
que controla o executivo em sistemas presidencialistas. Como notam Borges e Vidigal
(2018), o antipetismo parece ter um componente cíclico, crescendo em momentos de crise
econômica ou política, e reduzindo-se em períodos de bonança. No início de 2019, cerca
de 26% dos eleitores brasileiros diziam não gostar de jeito nenhum do PT segundo
pesquisa do Barômetro das Américas (LAPOP). Em fevereiro de 2023, um survey
realizado pela UFSC/IPESPE identificou um percentual ainda mais elevado: 40.3% dos
respondentes disseram não gostar do partido de jeito nenhum. Em 2010, esse percentual
era substancialmente menor, em torno de 12%, segundo o survey do LAPOP realizado
naquele ano.

Conceitualmente, a rejeição a um partido específico (partidarismo negativo) deve


ser diferenciada de atitudes negativas com respeito aos partidos de forma geral
(antipartidarismo). No segundo caso, estamos falando de sentimentos antipartidários
amplos e sistêmicos que envolvem atitudes céticas ou hostis em relação ao papel, função
ou desempenho dos partidos políticos. Em sua forma mais extrema, o antipartidarismo
envolve a rejeição do partido político como instituição (GIDENGIL; BLAIS; NEVITTE;
NADEAU, 2001; MUDDE, 1996). Em outros casos, os argumentos antipartidários são
mais moderados, pois aceitam que os partidos devem necessariamente desempenhar um
papel nas democracias contemporâneas, embora critiquem o desempenho dos partidos ou
sistemas partidários existentes (GIDENGIL; BLAIS; NEVITTE; NADEAU, 2001).
Mudde (1996) também diferencia entre o anti-partidarismo extremo e o antipartidarismo
populista. Nesta última variante dos sentimentos antipartidários, um grupo específico de
partidos – geralmente os partidos estabelecidos – é rejeitado, muitas vezes por causa de
seu mau funcionamento ou por causa dos círculos eleitorais que eles (não) representam

Já o partidarismo negativo é um subtipo de identidade partidária caracterizado


pela rejeição de um partido ou partidos em particular. Atitudes partidárias positivas e
negativas podem coexistir e reforçar-se mutuamente (ROSE; MISHLER, 1998;

16
SAMUELS; ZUCCO, 2018). Neste cenário, os eleitores partidários desenvolvem um
forte apego a um partido que se baseia tanto na identificação com o partido partidário
prototípico quanto na rejeição dos grupos sociais que se identificam com outro partido
concorrente. Cabe notar, porém, que o partidarismo negativo pode existir sem que os
eleitores desenvolvam uma identificação positiva com outro partido. Na realidade,
pesquisas recentes já demonstraram que as identidades negativas e positivas são ativadas
separadamente (MELÉNDEZ; ROVIRA KALTWASSER, 2019). No caso brasileiro, o
crescimento do antipetismo não levou a um aumento da identificação com o PSDB,
principal adversário do PT em todas as eleições presidenciais disputadas entre 1994 e
2014 (BORGES; VIDIGAL, 2018). As pesquisas sobre antipetismo parecem indicar, de
fato, que a rejeição ao PT é uma identidade puramente negativa, que não envolve uma
identificação com um grupo social específico (PAIVA; KRAUSE; LAMEIRÃO, 2016;
RIBEIRO; CARREIRÃO; BORBA, 2011).

O antipetismo jogou papel relevante nas eleições de 2018, favorecendo o voto em


Bolsonaro. Diversos estudos mostraram que eleitores antipetistas tinham uma maior
probabilidade de apoiar o candidato do PSL, tudo o mais mantido constante (AMARAL,
2020; FUKS; RIBEIRO; BORBA, 2021; RENNÓ, 2020). No nível da opinião pública,
diferentes estudos argumentaram que o sucesso de Bolsonaro em 2018 indicava não só
ressentimento em relação aos governos passados do PT, mas também novas clivagens de
temas políticos, e possivelmente uma nova ordenação ideológica no eleitorado (Amaral,
2020 #506; Layton, 2021 #768; Rennó, 2020 #542}.

Como demonstram Borba, Okada e Ribeiro em seu capítulo neste livro, há uma
associação bastante forte entre o antipetismo e o ressentimento com respeito às políticas
de ampliação de direitos das minorias (ex. negros e comunidade LGBTQIA+) durante os
governos do PT. Isso sugere que a rejeição ao PT envolve o alinhamento a uma agenda
conservadora, não resultando apenas de uma avaliação negativa sobre os governos
petistas. Em sua análise dos condicionantes do voto na direita nas eleições para senador
em 2018, Borges demonstra que o antipetismo e o antipartidarismo estão entre os fatores
que mais contribuem para o voto em partidos da direita antipolítica. Por outro lado, a
rejeição generalizada dos partidos tradicionais, bem como o antipetismo, não tem
qualquer efeito sobre o voto na direita tradicional. Assim, o partidarismo negativo e
antipartidarismo negativo são elementos que diferenciam entre a direita antipolítica e o
restante da direita.

Ainda que a polarização política continue sendo definida e analisada


principalmente em termos de opiniões políticas e posições ideológicas, nos últimos anos
surgiu um novo fenômeno na opinião pública: a polarização afetiva. Neste caso, os
eleitores adotam uma atitude do tipo “nós contra eles”, desenvolvendo fortes sentimento
de afeição em relação ao candidato ou partido da sua preferência, e de rejeição em relação
aos adversários (FUKS; MARQUES, 2020; IYENGAR; LELKES; LEVENDUSKY;
MALHOTRA et al., 2019). Sendo assim, há um grande debate sobre a natureza e a
extensão dos níveis de polarização da opinião pública. Existem basicamente três grandes
grupos de argumentos sobre polarização no nível do eleitorado: (1) polarização
ideológica, (2): polarização circunscrita, e (3) polarização afetiva. Entre os defensores do
argumento 1, estaríamos vendo maiores diferenças nas posições individuais sobre temas
políticos importantes como políticas de redistribuição; políticas de inclusão social;
participação estatal na economia; gasto público e impostos; políticas LGBT; legalização
de drogas; ou uso de armas de fogo. Em outras palavras, estaríamos vendo conservadores

17
se tornando consistentemente mais conservadores e progressistas se tornando
consistentemente mais progressistas em matérias de cunho político.
Os defensores do argumento 2, não discordam que o eleitor se polarizou sobre
temas políticos, entretanto, argumentam que somente os eleitores altamente informados
e investidos na arena política – como indivíduos militantes, ativistas e engajados
politicamente – seriam polarizados politicamente. Assim o cidadão mediano ou típico
continuaria a ser mais um centrista do que um extremista na maioria dos temas políticos
por falta de habilidade, oportunidade ou motivação. Apenas entre os eleitores mais
engajados se verificaria, de fato, uma polarização ideológica: maiores diferenças nas suas
posições, crenças e percepções sobre o mundo político. Por exemplo, André Bello
examina o papel da ideologia na polarização política ao longo do tempo no país. No
capítulo deste livro, o autor estuda a polarização ideológica em relação o questões
políticas de dimensões econômicas e morais, como o casamento entre pessoas do mesmo
sexo, o aborto e o papel do Estado. Ao cruzar respostas ideológicas de auto-identificação
com as respostas de posicionamento ideológico em 17 questões políticas diferentes entre
1989 e 2019, as análises descritivas revelam que os brasileiros não possuem uma crença
ideológica extremista. Pelo contrário, a moderação parece ser o comportamento padrão
dos brasileiros e o número de votantes moderados aumentou recentemente.

Por fim, proponentes da polarização afetiva (argumento 3) argumentam a favor da


animosidade não-ideológica entre membros da opinião pública para explicar a
polarização política generalizada. A polarização afetiva tornou-se importante
recentemente porque transcende o contexto político, trazendo divisões partidárias em
contextos aparentemente apolíticos (e.g., relacionamentos interpessoais ou vacinação). O
argumento é que as pessoas passaram a escolher um lado político por razões “não-
ideológicas”, mas sim baseados em identidades sociais e sentimentos intergrupos
(Iyengar et al. 2019). Nossas identidades sociais são construídas não apenas pela
afinidade ao nosso grupo social próprio, mas também sobre as diferenças dos grupos
opostos e na política, essas relações intergrupo (i.e., sentimentos interpartidários) são
fundamentais (Pereira e Vidigal n.d.). Por exemplo, a animosidade em relação ao PT
aumentou drasticamente ao longo dos anos, mas a afinidade com os demais partidos não
cresceu na mesma medida (Borges e Vidigal 2018; Samuels e Zucco 2018; Pereira e
Vidigal n.d.). Quando o apoio a políticos decorre da forte antipatia e rejeição do
adversário, o comportamento político passa a se ancorar somente em avaliações negativas
atribuídas ao principal adversário político e sujeitas às mudanças nas políticas
governamentais (GROENENDYK, 2012). Não surpreende que, em 2018, ocorreu o auge
dessa aversão ao petismo e a animosidade aos partidos políticos em geral com a eleição
de um político populista e autoritário. Uma das principais preocupações contemporâneas
é que o ódio e a aversão à política não só possibilitem a eleição de líderes populistas e
anti-democráticos; mas que tal antipatia política também se espalhe e afete mais
comportamentos sociais e individuais fora do âmbito político. Se as discordâncias
partidárias estão confinadas à contestação política, as consequências disso se tornam mais
circunspectas. Entretanto, se as interações cotidianas e as escolhas de vida são
comprometidas por um ambiente político inflamado e com divisões aprofundadas, as
consequências dessa polarização se tornam maiores e mais preocupantes, dificultando os
acordos e compromissos multipartidários democráticos (MCCOY; RAHMAN; SOMER,
2018).

O Brasil é um território fértil para diversas expressões de ideologia, com ou sem


construção de identidade partidária. Os capítulos deste livro analisam mudanças relativas

18
à reorganização da direita brasileira no período recente, tanto na arena eleitoral e
partidária, quanto no que diz respeito à polarização, no comportamento eleitoral, bem
como o surgimento de novos movimentos sociais de direita e suas articulações com a
arena político-partidária, ruas e redes sociais. Devemos destacar que os autores e autoras
dos capítulos usam diferentes metodologias, medidas e níveis de conceptualização
teórica, portanto, pedimos a todos autores e autoras que escrevessem de forma simples e
concisa, relegando a apresentação e explicação detalhada dos resultados de modelos
estatísticos aos apêndices técnicos. O objetivo deste livro é atingir não apenas o público
acadêmico, incluindo estudantes de graduação e pós-graduação, professores e
pesquisadores das ciências sociais e humanas, mas também o público não-especializado
com interesse no tema. A seguir apresentamos uma síntese do livro, antecipando ao leitor
o que ele vai encontrar em cada uma das seções e capítulos de livro.

RESUMO DO LIVRO

A primeira seção do livro – Bases Eleitorais da Nova Direita Brasileira – examina


as bases de apoio das novas direitas evangélica e antiestablishment. Em “Autoritarismo e
Voto de Direita no Brasil”, Robert Vidigal examina como as diferenças em orientações
sociais autoritárias entre os eleitores – caracterizadas pelas dimensões de conformidade
social, obediência e respeito à ordem social – é politicamente importante no país devido
a sua associação com atitudes em relação ao uso da força, atitudes políticas
conservadoras, e a vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Por fim, o artigo discute qual a
importância do autoritarismo na crescente divisão do eleitorado brasileiro e quais as suas
consequências para a competição partidária brasileira. Em “Voto de fé: A influência de
lideranças evangélicas sobre o voto de eleitores de baixa renda”, Victor Araújo demonstra
– usando dados de painel com informações sobre os mesmos indivíduos em sucessivos
pontos no tempo – que os fiéis evangélicos tendem a mudar sua percepção moral após a
conversão ao pentecostalismo, passando a valorizar mais a honestidade em detrimento da
competência dos candidatos e enxergando mais desonestidade nos candidatos de
esquerda. Em "Bolsonarismo e as Eleições de 2022", Lucio Rennó explora os resultados
das eleições de 2022 a partir de uma série de surveys do Instituto da Democracia (INCT),
intitulado A Cara da Democracia. O capítulo apresenta o posicionamento da população
brasileira acerca de temas políticos e posições antidemocráticas, mostrando a
predominância de preferências ideológicas conservadoras em seguida dos resultados de
análises multivariadas do apoio a Bolsonaro com base nas posições sobre temas políticos,
demonstrando que o Bolsonarismo, um fenômeno que abarca 1/5 do eleitorado brasileiro,
tem bases ideológicas no eleitorado brasileiro.

A segunda parte do livro – Polarização Política, Partidarismo e Reação


Conservadora – reúne contribuições que buscam entender como a ascensão da nova
direita se associa (ou não) a mudanças na opinião pública. André Bello examina
detalhadamente o papel da ideologia para a polarização política ao longo do tempo no
país. Mais especificamente, o autor investiga se a polarização política ideológica em
relação à temas políticos de dimensões econômica e moral, como casamento
homossexual, aborto e papel do estado. Cruzando respostas de auto-identificação
ideológica com as respostas sobre o posicionamento ideológico de 17 diferentes temas
políticos entre 1989 e 2019, as análises descritivas revelam que o brasileiro não apresenta
uma crença ideológica extremista. Ao contrário disso, a moderação parece ser o
comportamento padrão do brasileiro e o número de eleitores moderados aumentou
recentemente. Em seguida, Ernesto Calvo e Tiago Ventura em “Partidarismo e

19
Percepções de Risco Durante a Pandemia de COVID-19” apresentam resultados de um
experimento embutido em um survey realizado durante os primeiros meses da pandemia
de COVID-19 no Brasil. Os resultados mostram que indivíduos partidários alinhados ao
governo e os da oposição relatam expectativas de risco à saúde e ao trabalho bastante
distintas. Por fim, o artigo apresenta um experimento de enquadramento que modela os
principais mecanismos cognitivos que geram diferenças partidárias nas percepções sobre
riscos à saúde durante a crise da COVID-19.

Em “Homofobia e Apoio a Golpe Militar: Uma Relação Tênue”, Lucas de Abreu


Maia e Leonardo Falabella analisam a reação da opinião pública em relação à cinco
direitos LGBT implementados entre 2009 e 2013: (i) reconhecimento legal de transição
de gênero, (ii) adoção por casais do mesmo sexo, (iii) união civil para gays e lésbicas, (iv)
direito de pessoas LGBT servirem abertamente nas forças armadas e (v) casamento
igualitário. A partir dos dados do LAPOP, os autores comparam as opiniões relacionadas
à temas LGBT antes e depois de cada uma dessas mudanças no status quo com resultados
bastante contraintuitivos ao senso comum. A parte II do livro se encerra com o capítulo
“Antipetismo e Ressentimento às Minorias” de Julian Borba, Lucas Okado e Ednaldo
Ribeiro. Os autores utilizam dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) para propor um
Índice de Ressentimento à Minoriais para investigar a força do ressentimento gerado pela
implementação de uma agenda pró minorias durante os governos do PT sobre os
sentimentos partidários negativos no país.

Os capítulos da última parte do livro analisam o papel das narrativas populistas e


das redes sociais na renovação da direita brasileira (Populismo, Ativismo Digital e a
Ascensão da Direita Radical). Em “Mecanismos Populistas de Enquadramento e a
Ascensão do Ativismo de Direita”, Tayrine Dias, Marisa von Bülow e Daniel Gobbi
analisam o uso de mecanismos populistas de enquadramento por organizações da
sociedade civil à direita no espectro político-ideológico a partir de uma amostra de 4.574
posts no Facebook publicados por cinco organizações da sociedade civil – MBL,
Revoltados ON LINE, NasRuas, Vem Pra Rua e Endireita Brasil – durante a campanha
de destituição da presidente Dilma Rousseff. O capítulo seguinte de Pedro Abelin, “Em
nome do povo: a ascensão da direita (radical) na comunicação populista a partir de dois
casos brasileiros”, compara a comunicação populista do Movimento Brasil Livre e da
Mídia Ninja, buscando entender a relação entre comunicação populista e o engajamento
de audiência no Facebook, que assumiram claras posições no período de pré-campanha
eleitoral no Brasil, de janeiro a julho de 2018. Em seguida, em “Benção Ou Maldição? O
Uso Das Redes Sociais E Atitudes Democráticas Entre Bolsonaristas E Não
Bolsonaristas”, Gabriel Casalecchi e Aiane de Oliveira Vieira testam como a intensidade
do uso das redes sociais interage com o apoio a Bolsonaro e atitudes democráticas usando
os dados do LAPOP. Os resultados sugerem um efeito negativo do uso da internet e das
redes sociais sobre a tolerância política especialmente entre os apoiadores de Jair
Bolsonaro.

Em “A nova direita Latino-americana em perspectiva comparada” de Talita


Tanscheit e Lisa Zanotti, as autoras analisam a ascensão da ultradireita em sua versão
populista radical na América Latina e quais são os fatores explicativos mais relevantes
para a compreensão da decadência da direita convencional e da irrupção da ultradireita
na região. O foco é em dois países em que este tipo de liderança obteve maior sucesso na
região: no Brasil, com Jair Bolsonaro, e no Chile, com José Antonio Kast. No capítulo
final, Borges investiga as diferenças entre as bases eleitorais da nova direita

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antiestalibhsment e da direita tradicional, a partir da análise dos determinantes do voto
para senador em 2018. O capítulo argumenta que o sucesso eleitoral da nova direita se
deve à capacidade de mobilizar a frustração do eleitorado frente ao sistema político
recorrendo a uma estratégia de mobilização eleitoral populista que combina três
elementos centrais: i) a demonização do PT (antipetismo); ii) alinhamento à operação
Lava Jato e à narrativa de corrupção sistêmica construída pelos líderes da operação; iii)
rejeição aos partidos e à política partidária (antipartidarismo). Com base em análises
descritivas e multivariadas, o autor demonstra que o antipetismo, o antipartidarismo e o
apoio à Lava Jato são determinantes chave do voto na direita antipolítica. Esses três
elementos também diferenciam claramente o eleitorado da nova direita antipolítica do
eleitorado da direita tradicional.
Esperamos que ao terminar de ler este livro, o leitor tenha um maior conhecimento
de metodologias, medidas e abordagens teóricas da ciência política, políticas públicas,
psicologia política, comportamento político, e comunicação política; que encontre uma
abordagem mais atrativa e convincente que uma outra; ou ainda, que desenvolva e
formule novas proposições para se entender e estudar a nova direita brasileira.

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