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André Borges
Robert Vidigal
*
Esta é uma versão não revisada (maio 2023) da introdução de coletânea a ser publicada no 2º semestre
de 2023. Referência: Borges, André e Vidigal, Robert (eds). Para Entender a Nova Direita Brasileira:
Polarização, populismo e antipetismo. Porto Alegre: Editora Zouk (no prelo).
1
disso, os governos do PT conseguiram entregar crescimento econômico e inflação baixa,
em adição a uma queda sem precedente na desigualdade de renda, pelo menos até o
primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014). Graças a essas realizações, o PT foi
capaz de mobilizar os estratos mais baixos da sociedade, obtendo sucessivas vitórias nas
eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014 (SAMUELS; ZUCCO JR, 2016; ZUCCO,
2008).
Não obstante o sucesso das políticas redistributivas dos governos petistas, a direita
brasileira não apenas manteve níveis elevados de apoio eleitoral durante a virada à
esquerda, mas conseguiu ainda ampliar a sua parcela do voto nacional nas eleições para
a Câmara dos Deputados a partir de 2010. Ademais, desde 2018, o sistema partidário vem
se movendo claramente em direção à direita. Apesar da vitória do PT, por estreita
margem, na eleição presidencial de 2022, o bloco de direita obteve resultados
excepcionais nas disputas para o Congresso e para os governos estaduais, elegendo os
governadores dos três maiores estados (RJ, SP e MG) e conquistando a maioria das
cadeiras e dos votos na Câmara dos Deputados. Paradoxalmente, no entanto, embora os
políticos conservadores tenham conseguido obter sucesso extraordinário nas eleições para
todos os cargos, os partidos de direita continuaram fracos, falhando nos objetivos de
desenvolver marcas partidárias sólidas e cultivar fontes estáveis de apoio eleitoral.
2
marcas partidárias já existentes (caso do PSL, Podemos e PSC), seja pela criação de novos
partidos (caso do Novo e PRB). A renovação da direita partidária é reflexo direto do
crescimento da direita religiosa – como no caso do PRB, partido ligado à Igreja Universal
do Reino de Deus – e da entrada das lideranças dos novos movimentos de direita na
política eleitoral. Por fim, cabe mencionar a ascensão da direita populista radical,
organizada inicialmente no PSL, partido que serviu de veículo eleitoral para a candidatura
de Jair Bolsonaro (ALMEIDA, 2019).
Este livro tem por objetivo explorar questões relativas às mudanças no sistema
partidário e no comportamento dos eleitores em função da reorganização da direita e da
ascensão de atores políticos e movimentos extremistas e/ou antissistema. São quatro as
questões que motivam esse volume e que são exploradas ao longo dos capítulos:
3
● Quais as principais estratégias de mobilização utilizadas pelas novas forças de
direita para obter o apoio dos cidadãos nas ruas, nas redes e nas urnas? Qual a
importância dos apelos populistas e da chamada “pauta de costumes” para
explicar o comportamento dos eleitores e ativistas de direita?
● Por fim, até que ponto a ascensão da nova direita reflete um deslocamento do eixo
da competição política, passando das questões econômicas para valores religiosos
e tradicionais? É possível falar em uma reação cultural de segmentos
conservadores do eleitorado insatisfeitos com mudanças progressistas na
legislação e nos costumes, a exemplo da legalização do casamento gay?
Com o intuito de fornecer um quadro teórico e conceitual para dar conta das
questões propostas, revisamos ao longo desta introdução a literatura comparada sobre as
estratégias de sobrevivência eleitoral da direita política em sociedades desiguais como a
brasileira. Em seguida, discutimos a reorganização da direita brasileira tanto do ponto de
vista da oferta quanto da demanda, cobrindo conceitos importantes para entender as
conexões entre eleitores, ativistas e políticos de direita. Apresentamos ainda uma
tipologia de partidos e movimentos de direita
4
na politização de identidades religiosas e dos valores tradicionais. Esses processos estão
diretamente relacionados à expansão das igrejas evangélicas e, particularmente, do
Neopentecostalismo em vários países da região, como Brasil, Colômbia e Costa Rica.
Tendências como a secularização das sociedades e mudanças de valores e da legislação
em torno de questões como direitos LGBT, aborto e identidade de gênero em muitos
países da região criaram incentivos para a organização e mobilização de grupos religiosos
conservadores que enxergavam nas mudanças culturais e políticas progressistas uma
ameaça aos valores e modos de vida tradicionais (BOAS, 2020; ORTEGA, 2018;
VILLAZÓN, 2014).
5
haviam estado) no poder. Assim, a “elite corrupta” comum aos discursos de populistas de
diferentes roupagens, passou a ser associada à esquerda. O novo populismo de direita
procura contrapor os valores morais tradicionais do “povo” às agendas progressistas das
elites culturais e intelectuais. Políticos e partidos de esquerda são caracterizados como
amorais e inimigos da família tradicional, por conta da sua defesa da “ideologia de
gênero”, da descriminalização do aborto e dos direitos LGBT (ALMEIDA, 2019;
CAMPOS CAMPOS, 2021). De modo mais geral, a nova onda populista de direita se
beneficiou do desgaste dos governos de esquerda da região em meio à estagnação
econômica, crescimento da violência e da criminalidade e escândalos de corrupção
(LUNA; ROVIRA KALTWASSER, 2021).
Por fim, a segunda onda populista está associada, em muitos casos, à emergência
de partidos e lideranças de extrema direita. Na Europa Ocidental a ascensão de forças
extremistas foi impulsionada pelo nacionalismo econômico e cultural, centrado na defesa
do fechamento das fronteiras e na adoção de barreiras à imigração (GIDRON; HALL,
2017; MUDDE, 2015). Na América Latina, onde a imigração não é uma questão tão
saliente, os partidos e lideranças de extrema direita têm se concentrado na defesa de
políticas punitivistas de combate à criminalidade, além de se alinhar à defesa dos valores
tradicionais encampada por grupos religiosos conservadores (ver Tanscheit e Zanotti,
neste volume).
A Direita Tradicional
1
Em 2007, o PFL sofreu um processo de reorganização, adotando um novo nome: “Democratas”. Já o PDS
experimentou uma série de fusões com outras legendas de direita, até adotar o nome atual em 2003: Partido
Progressista (PP). Ao longo do texto, utilizo a nomenclatura original dos partidos seguida pela
denominação atual (ex., PFL/DEM).
6
(ARENA), e herdaram a estrutura organizacional e as redes clientelistas criadas pelos
governadores nomeados pela ditadura. Após a transição à democracia, surgiram diversos
pequenos partidos de direita que absorveram parte dos antigos quadros da ARENA, muito
embora o PDS/PP e, especialmente, o PFL/DEM mantivessem o seu status como as
maiores legendas do campo conservador. De modo geral, esse grupo de partidos, que
denominamos aqui de “direita tradicional” ou “velha direita”, se caracterizavam
basicamente por serem organizações seculares, quase sempre com raízes no regime
autoritário e cuja força eleitoral dependia significativamente do acesso privilegiado a
recursos de patronagem nas três esferas de governo.
7
Fontes: BLS (vários anos), PREPPS (2006, 2011, 2015, 2019) e V-Party 2020.
O crescimento eleitoral da direita entre 2006 e 2018 nas eleições para a Câmara
dos Deputados coincide com a decadência eleitoral dos principais partidos de direita
organizados durante a transição à democracia. De fato, em 1998 os quatro maiores
partidos de direita – PFL/DEM, PDS/PP, PTB e PR/PL – representavam 85% do total da
votação do bloco de direita nas eleições para a Câmara dos Deputados; em 2018, a
votação percentual desses quatro partidos havia caído para 24.8%.3 Estes dados já são um
primeiro indicativo do amplo processo de renovação experimentado pela direita
brasileira, com o crescimento eleitoral de pequenos partidos e surgimento de novas forças.
Figura 1: Votação agregada dos partidos de direita, Eleições para a Câmara dos
Deputados, 1990-2022
2
Os procedimentos utilizados para classificar os partidos brasileiros como direita, esquerda ou centro são
detalhados no anexo A.
3
Dados obtidos do Repositório de Dados Eleitorais do TSE (www.repositorio.tse.gov.br). Cálculos dos
autores.
8
70
60
50
40
30
20
10
0
1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 2018 2022
Fontes: Repositório de dados eleitorais TSE; BLS (vários anos), PREPPS 2006 ,2011,
2015, 2019 e V-Party 2020.
A direita evangélica
4
O PEN alterou o nome pouco antes das eleições de 2018, passando a se chamar Patriota. Assim, em todas
as referências posteriores ao partido utilizamos a denominação “Patriota” ou “PATRI”
10
Damares Alves, nomeada ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos - e adoção de
agendas caras ao segmento religioso (CAMURÇA, 2020).
A direita antipolítica
Mais tarde, conversas vazadas entre juízes e promotores de justiça revelariam que
a operação Lava Jato tinha se baseado em estratégias extraconstitucionais para
desacreditar deliberadamente os partidos e obter apoio popular a favor da "limpeza" do
sistema político.5 O escândalo "Vaza-Jato" deixou claro que juízes e promotores de
5
https://theintercept.com/series/mensagens-lava-jato/
11
justiça haviam deliberadamente manipulado o devido processo legal para condenar
políticos acusados de corrupção, incluindo o ex-presidente Lula.6 O juiz federal Sérgio
Moro, que ganhou destaque nacional por este papel de liderança na operação Lava Jato,
seria mais tarde nomeado ministro da Justiça de Bolsonaro, o que é mais uma evidência
de que os juízes e promotores da Lava Jato tinham um projeto político próprio.
6
Depois de ser preso em Abril de 2018, Lula perdeu seus direitos políticos e não pôde concorrer à
presidência, embora estivesse à frente nas pesquisas de intenção de voto. Assim, é muito provável que sua
condenação controversa tenha contribuído para a vitória do extremista de direita Jair Bolsonaro. O STF
acabaria por anular as condenações do ex-presidente em Abril de 2021.
7
Carla Zambelli, fundadora do movimentos Nas Ruas foi eleita deputada federal pelo PSL (Partido Social
Liberal). Bia Kicis do Revoltados Online foi eleita para a Câmara dos Deputados pelo PRP. Em 2019, ela
migrou para o PSL.
8
Esta seção se baseia no programa do partido disponível em www.novo.org.br. (Consulta realizada em
2/03/2022).
12
2020). Após a eleição, a delegação do Podemos no Senado atuou na criação da bancada
Muda Senado, organizada em favor de reformas políticas anticorrupção.9
9
https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/muda-senado-quem-e-o-grupo-que-quer-
mudar-o-senado-e-o-judiciario/
13
militares. Ainda assim, o bolsonarismo partilha com esses movimentos e partidos de
direita um mesmo discurso populista que divide o mundo político entre uma classe
política corrupta e desconectada das aspirações do cidadão comum (geralmente
identificada com o PT e a esquerda), e os verdadeiros representantes do povo (os políticos
e ativistas da nova direita) (GREGORIO; CONTRERA, 2020; TAMAKI; FUKS, 2020;
TATAGIBA, 2018).10 Como Borges demonstra no capítulo 12 deste livro, os partidos da
direita antipolítica partilham de uma mesma estratégia de mobilização eleitoral que
envolve o ataque aos partidos e à política tradicional (antipartidarismo), a demonização
do PT (antipetismo) e alinhamento à operação Lava Jato .
10
Cabe notar, ademais, que ativistas e políticos identificados com o presidente Bolsonaro estão espalhados
por diferentes partidos e movimentos de direita, de modo que as fronteiras entre os diferentes ramos da
direita antipolítica não são tão claras.
11
Os dados das trajetórias de carreira dos deputados federais da direita brasileira foram obtidos a partir de
pesquisa no site da Câmara dos Deputados, sites pessoais dos candidatos e páginas de movimentos como
MBL, Vem para Rua e Revoltados Online.
12
Entre 2018 e 2022, a votação do PL para a Câmara dos Deputados triplicou, passando de 5% para 16%.
14
extremistas em torno de uma agenda e de uma marca partidária bem definida, o
bolsonarismo não se resume a um movimento puramente personalista ou a um fenômeno
passageiro de ativação de eleitores previamente indiferentes ou voláteis. Como argumenta
Rennó no capítulo 3, o bolsonarismo é um alinhamento ideológico de direita, que une
posições conservadoras em temas como segurança pública, direitos LGBT e reprodutivos,
a posturas de rejeição e desconfiança com respeito ao establishment político e ao próprio
processo democrático. Utilizando dados das pesquisas de survey do ICNT Instituto da
Democracia entre 2019 e 2022, Rennó demonstra que o bolsonarismo conta com uma
base apoio bastante sólida, em torno de 20% do eleitorado.
A direita antipolítica, por sua vez, é mais ampla que o bolsonarismo e inclui
movimentos e partidos de direita que buscam mobilizar sentimentos antipartido e
antissistema dos eleitores, porém não partilham necessariamente das mesmas agendas
antidemocráticas da direita radical, nem possuem vínculos orgânicos com as Forças
Armadas e polícias. Não obstante essas diferenças, a consolidação do bolsonarismo junto
ao eleitorado sugere que o espaço para alternativas populistas de direita fora do campo
bolsonarista é bastante reduzido.13
15
contribuíram para a insatisfação generalizada com respeito aos partidos e às instituições
representativas brasileiras. Para além desses fatores, há que se considerar que, muito
provavelmente, a paulatina convergência ideológica entre os principais partidos
brasileiros entre 1994 e 2014 reforçou a dificuldade dos eleitores de perceber diferenças
entre as legendas em um sistema partidário hiper fragmentado (BORGES, 2021; ZUCCO
JR; POWER, 2021). A literatura comparada sobre sistemas partidários sugere,
precisamente, que a diluição das identidades programáticas dos partidos e a perda da
capacidade de representar adequadamente os interesses dos cidadãos são fatores que
contribuem para a ascensão de alternativas populistas e antissistema (CARRERAS, 2012;
MORGAN, 2011; SEAWRIGHT, 2012).
16
SAMUELS; ZUCCO, 2018). Neste cenário, os eleitores partidários desenvolvem um
forte apego a um partido que se baseia tanto na identificação com o partido partidário
prototípico quanto na rejeição dos grupos sociais que se identificam com outro partido
concorrente. Cabe notar, porém, que o partidarismo negativo pode existir sem que os
eleitores desenvolvam uma identificação positiva com outro partido. Na realidade,
pesquisas recentes já demonstraram que as identidades negativas e positivas são ativadas
separadamente (MELÉNDEZ; ROVIRA KALTWASSER, 2019). No caso brasileiro, o
crescimento do antipetismo não levou a um aumento da identificação com o PSDB,
principal adversário do PT em todas as eleições presidenciais disputadas entre 1994 e
2014 (BORGES; VIDIGAL, 2018). As pesquisas sobre antipetismo parecem indicar, de
fato, que a rejeição ao PT é uma identidade puramente negativa, que não envolve uma
identificação com um grupo social específico (PAIVA; KRAUSE; LAMEIRÃO, 2016;
RIBEIRO; CARREIRÃO; BORBA, 2011).
Como demonstram Borba, Okada e Ribeiro em seu capítulo neste livro, há uma
associação bastante forte entre o antipetismo e o ressentimento com respeito às políticas
de ampliação de direitos das minorias (ex. negros e comunidade LGBTQIA+) durante os
governos do PT. Isso sugere que a rejeição ao PT envolve o alinhamento a uma agenda
conservadora, não resultando apenas de uma avaliação negativa sobre os governos
petistas. Em sua análise dos condicionantes do voto na direita nas eleições para senador
em 2018, Borges demonstra que o antipetismo e o antipartidarismo estão entre os fatores
que mais contribuem para o voto em partidos da direita antipolítica. Por outro lado, a
rejeição generalizada dos partidos tradicionais, bem como o antipetismo, não tem
qualquer efeito sobre o voto na direita tradicional. Assim, o partidarismo negativo e
antipartidarismo negativo são elementos que diferenciam entre a direita antipolítica e o
restante da direita.
17
se tornando consistentemente mais conservadores e progressistas se tornando
consistentemente mais progressistas em matérias de cunho político.
Os defensores do argumento 2, não discordam que o eleitor se polarizou sobre
temas políticos, entretanto, argumentam que somente os eleitores altamente informados
e investidos na arena política – como indivíduos militantes, ativistas e engajados
politicamente – seriam polarizados politicamente. Assim o cidadão mediano ou típico
continuaria a ser mais um centrista do que um extremista na maioria dos temas políticos
por falta de habilidade, oportunidade ou motivação. Apenas entre os eleitores mais
engajados se verificaria, de fato, uma polarização ideológica: maiores diferenças nas suas
posições, crenças e percepções sobre o mundo político. Por exemplo, André Bello
examina o papel da ideologia na polarização política ao longo do tempo no país. No
capítulo deste livro, o autor estuda a polarização ideológica em relação o questões
políticas de dimensões econômicas e morais, como o casamento entre pessoas do mesmo
sexo, o aborto e o papel do Estado. Ao cruzar respostas ideológicas de auto-identificação
com as respostas de posicionamento ideológico em 17 questões políticas diferentes entre
1989 e 2019, as análises descritivas revelam que os brasileiros não possuem uma crença
ideológica extremista. Pelo contrário, a moderação parece ser o comportamento padrão
dos brasileiros e o número de votantes moderados aumentou recentemente.
18
à reorganização da direita brasileira no período recente, tanto na arena eleitoral e
partidária, quanto no que diz respeito à polarização, no comportamento eleitoral, bem
como o surgimento de novos movimentos sociais de direita e suas articulações com a
arena político-partidária, ruas e redes sociais. Devemos destacar que os autores e autoras
dos capítulos usam diferentes metodologias, medidas e níveis de conceptualização
teórica, portanto, pedimos a todos autores e autoras que escrevessem de forma simples e
concisa, relegando a apresentação e explicação detalhada dos resultados de modelos
estatísticos aos apêndices técnicos. O objetivo deste livro é atingir não apenas o público
acadêmico, incluindo estudantes de graduação e pós-graduação, professores e
pesquisadores das ciências sociais e humanas, mas também o público não-especializado
com interesse no tema. A seguir apresentamos uma síntese do livro, antecipando ao leitor
o que ele vai encontrar em cada uma das seções e capítulos de livro.
RESUMO DO LIVRO
19
Percepções de Risco Durante a Pandemia de COVID-19” apresentam resultados de um
experimento embutido em um survey realizado durante os primeiros meses da pandemia
de COVID-19 no Brasil. Os resultados mostram que indivíduos partidários alinhados ao
governo e os da oposição relatam expectativas de risco à saúde e ao trabalho bastante
distintas. Por fim, o artigo apresenta um experimento de enquadramento que modela os
principais mecanismos cognitivos que geram diferenças partidárias nas percepções sobre
riscos à saúde durante a crise da COVID-19.
20
antiestalibhsment e da direita tradicional, a partir da análise dos determinantes do voto
para senador em 2018. O capítulo argumenta que o sucesso eleitoral da nova direita se
deve à capacidade de mobilizar a frustração do eleitorado frente ao sistema político
recorrendo a uma estratégia de mobilização eleitoral populista que combina três
elementos centrais: i) a demonização do PT (antipetismo); ii) alinhamento à operação
Lava Jato e à narrativa de corrupção sistêmica construída pelos líderes da operação; iii)
rejeição aos partidos e à política partidária (antipartidarismo). Com base em análises
descritivas e multivariadas, o autor demonstra que o antipetismo, o antipartidarismo e o
apoio à Lava Jato são determinantes chave do voto na direita antipolítica. Esses três
elementos também diferenciam claramente o eleitorado da nova direita antipolítica do
eleitorado da direita tradicional.
Esperamos que ao terminar de ler este livro, o leitor tenha um maior conhecimento
de metodologias, medidas e abordagens teóricas da ciência política, políticas públicas,
psicologia política, comportamento político, e comunicação política; que encontre uma
abordagem mais atrativa e convincente que uma outra; ou ainda, que desenvolva e
formule novas proposições para se entender e estudar a nova direita brasileira.
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