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07 de julho de 2023
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1. INTRODUÇÃO
As federações têm natureza permanente — são formadas por partidos que têm afinidade
programática e duram pelo menos os quatro anos do mandato. Se algum partido deixar a
federação antes desse prazo, sofre punições, tais como a proibição de utilização dos
recursos do Fundo Partidário pelo período remanescente. Federações devem ter
abrangência nacional, o que também as diferenciam do regime de coligações, que têm
alcance estadual e podem variar de um estado para outro. Federações são equiparadas a
partidos políticos — elas podem, inclusive, celebrar coligações majoritárias com outros
partidos políticos, mas não os partidos integrantes de forma isolada. A lei prevê que todas
as questões de fidelidade partidária que se aplicam a um partido se aplicam também à
federação — o que significa que, se um parlamentar deixar um partido que integra uma
federação, ele estará sujeito às regras de fidelidade partidária que se aplicam a um partido
político qualquer. Elas deverão ter um estatuto, assim como um partido político, que
deverá disciplinar questões como fidelidade partidária ou à federação. Esse documento
deverá prever eventuais punições a parlamentares que não seguirem a orientação da
federação numa votação, por exemplo, lembrando que a expulsão de um parlamentar do
partido não implica qualquer prejuízo para o mandato (mas apenas o desligamento
voluntário e sem justa causa).
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2. AS FEDERAÇÕES E SUAS PARTICULARIDADES
Segundo a Agência da Câmara dos Deputados, como são equiparadas a partidos políticos,
as federações funcionarão dentro das Casas legislativas por intermédio de uma bancada
que, por sua vez, constitui suas lideranças de acordo com o estatuto do partido e com o
regimento interno de cada Casa legislativa. Cada federação deve ser entendida como se
fosse um partido. Nesse sentido, para todos os efeitos de proporcionalidade partidária,
como a distribuição das comissões, cada federação deverá ser tratada como uma bancada.
Em 2023, no ato de elaboração desse estudo, existe no país três federações, que são a
Federação Brasil da Esperança (Fé Brasil), composta por PT, PV, e PCdoB, a Federação
PSDB Cidadania e a Federação PSOL Rede. Todas seguem a Resolução Nº 23.670/21 do
Tribunal Superior Eleitoral.
O art. 7 da legislação que instituiu as federações diz que o partido que se desligar da
federação antes do tempo mínimo previsto no caput do art. 6º desta resolução ficará
sujeito à vedação de ingressar em federação, de celebrar coligação nas 2 (duas) eleições
seguintes e, até completar o prazo mínimo remanescente, de utilizar o fundo
partidário (Lei nº 9.096/1995, art. 11-A, § 4º). Além disso, traz esses destaques:
§ 2º O partido político que se desligar da federação até 6 (seis) meses antes da eleição
poderá dela participar isoladamente, sem prejuízo da aplicação das sanções previstas no
caput deste artigo.
§ 3º As sanções previstas no caput deste artigo não serão aplicadas a(os) partido(s)
político(s) em caso de a extinção da federação ser motivada pela fusão ou incorporação
entre eles.
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Para o advogado João Araújo Filho, os principais argumentos utilizados para a criação
das federações partidárias foram a redução da fragmentação partidária, visto que no Brasil
existem muitos partidos e os eleitores possuem dificuldade de identificar quais as ideias
de cada organização partidária; e permitir a continuidade institucional dos pequenos
partidos que poderiam não atingir a clausula de barreira, norma que impede ou restringe
o funcionamento parlamentar ao partido que não alcançar determinado percentual de
votos, para as eleições de 2022.
Além disso, os partidos políticos enfrentam uma corrida contra o tempo em busca de
garantir uma fatia do fundo partidário, agora com foco no pleito eleitoral de 2024. As
negociações para formação de novas federações são pautas constantes nos principais
veículos de comunicação nacional, ou até mesmo as discussões de fusões, como foi o
caso do PSL e o DEM. Mas, vale destacar que nem tudo é só flores, pois o União Brasil,
fruto da fusão citada, vive uma rebelião generalizada, pois mesmo existindo uma
afinidade ideológica a linha democrata liberal, os dois partidos viviam um modelo de
gestão totalmente diferente, onde o PSL era comandado por Luciano Bivar, atual
deputado federal por Pernambuco, de perfil mais autocrático, e o DEM por Antônio
Carlos Magalhães Neto (ACM), ex-prefeito de Salvador, onde tinha no partido diversos
participantes nas tomadas de decisões, como o Governador Ronaldo Caiado, o Dep.
Mendonça Filho, o Ex-Governador José Agripino Maia, entre outros nomes.
Para Isaac Kofi Medeiros, numa coligação, partidos se reúnem para a eleição e a aliança
praticamente se encerra com a proclamação do resultado, ao menos do ponto de vista
jurídico. Não fosse o funcionamento parlamentar unificado, seriam a mesma coisa.
Federação sem funcionamento parlamentar unificado nada mais é do que uma coligação,
modelo que, para eleições proporcionais, é inconstitucional conforme § 1º do artigo 17
da Constituição. Apesar disso, as três federações brasileiras ainda não definiram com
clareza de que maneira exercerão a função parlamentar unificada. Além de exemplos
atuais, há hipóteses futuras mais problemáticas. Se a eficácia jurídica das federações não
está clara hoje, imagine depois das eleições municipais de 2024.
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Porém, levantaram a hipótese das federações serem o retorno das coligações
proporcionais, foi ajuizada Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 7021 pelo Partido
Trabalhista Brasileiro, questionando a constitucionalidade da Lei nº 14.208 de 2021
levantando que houve afronta formal pela possibilidade de criação de federações em
eleições proporcionais e afronta material diante da sua verticalização partidária em
detrimento da previsão constitucional. Argumenta-se que a extinção das coligações
proporcionais se deu através de emenda constitucional, logo, não poderia uma lei
ordinária posterior promover a criação de um instituto que notadamente afronte esse novo
parâmetro constitucional, no caso, as federações em eleições proporcionais, já que nada
mais seriam do que uma coligação proporcional com nome alterado. Nesse ponto, o
Supremo Tribunal Federal, em sede de medida cautelar proferida na ADI 7021,
manifestou-se monocraticamente pela inexistência de inconstitucionalidade formal
(PEREIRA, 2023).
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4. CONCLUSÃO
Deste modo, deverão haver inúmeros conflitos entre as federações partidárias nas
montagens das chapas para as eleições municipais de 2024, buscando superar as
divergências locais na escolha do nome consensual e a busca pelo comando do fundo
eleitoral. Pois, em um modelo pluripartidário, que passou por um cenário polarizado, as
eleições de 2024 com suas micro situações, incluindo prefeitos e vereadores no centro da
disputa, poderão enfrentar diversos problemas.
Por fim, o que podemos garantir é que para haver um melhor funcionamento das
federações é necessário um estatuto robusto, contemplando as divergências e com
possibilidade de melhoria continua, havendo espaço democrático para a tomada de
decisão. A linguagem deve ser feita de forma objetiva, não abrindo brechas para
interpretações que possam ocasionar problemas internos.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA CÂMARA DOS DEPUTADOS. Entenda as diferenças entre coligações e
federações e veja como funcionarão. Brasília, 2021. Disponível em
<https://www.camara.leg.br/noticias/811671-entenda-as-diferencas-entre-coligacoes-e-
federacoes-e-veja-como-funcionarao/>. Acessado em 07 de julho de 2023.
ANJOS FILHO, João Araújo. O impacto das federações partidárias no pleito eleitoral de
2022.
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TURTELLI, Camila. ABEL, Victória. Divididas, federações partidárias já tem disputas
locais para montar chapas de 2024. O GLOBO, 2023. Disponível em <
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/05/divididas-federacoes-partidarias-ja-
tem-disputas-locais-para-montar-chapas-de-2024.ghtml>. Acessado em 07 de julho de
2023.