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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO

MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL Nº 0600664-07.2022.6.00.0000 – FORTALEZA – CEARÁ

Relator: Ministro Ricardo Lewandowski


Impetrantes: Progressista (PP) – Estadual e outro
Advogado: George Emanuel Oliveira Silva – OAB: 23115/CE
Impetrado: Cláudio Cajado Sampaio

ELEIÇÕES 2022. MANDADO DE SEGURANÇA. ATO COATOR DO PRESIDENTE DA


COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL DO PARTIDO PROGRESSISTA – PP. ANULAÇÃO
PARCIAL DA CONVENÇÃO REALIZADA PELO DIRETÓRIO ESTADUAL DO PP NO
ESTADO DO CEARÁ, QUANTO À DECISÃO QUE FIRMOU COLIGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE
PREVISÃO, NO ESTATUTO PARTIDÁRIO, QUANTO À QUESTÃO. PLAUSIBILIDADE DO
DIREITO INVOCADO. FIM DO PRAZO PARA A ESCOLHA DOS CANDIDATOS EM
CONVENÇÃO PARTIDÁRIA. CARÁTER DE URGÊNCIA. DEFERIMENTO DA LIMINAR.

1. A Justiça Eleitoral possui competência para apreciar as controvérsias internas de partido


político, sempre que delas advierem reflexos no processo eleitoral, circunstância que mitiga o
postulado fundamental da autonomia partidária, ex vi do art. 17, § 1º, da Constituição da
República. Precedentes.

2. O ato tido por ilegal foi proferido em 2/8/2022 por Claudio Cajado, Presidente em exercício
da Comissão Executiva Nacional do Partido Progressistas – PP, consubstanciado na anulação
da convenção realizada em 30/7/2022 pelo diretório estadual do partido, na parte em que se
formalizou coligação em apoio à candidatura majoritária, Federação Brasil da Esperança – Fé
Brasil, integrada pelo Partido dos Trabalhadores – PT, Partido Comunista do Brasil – PCdoB e
Partido Verde – PV.

3. Não se identifica, no estatuto partidário, nenhum dispositivo restringindo o órgão de direção


estadual a coligar-se, dentro da respectiva circunscrição, com outro partido, o que demonstra a
plausibilidade do direito invocado pelos impetrantes.

4. Caráter de urgência da medida, tendo em vista o prazo final para que as agremiações
realizem as convenções partidárias para a escolha dos candidatos.

5. Medida liminar referendada, para suspender os efeitos da decisão proferida no Processo

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Administrativo de Anulação de Convenção nº 1/2022.

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, em referendar a medida liminar
anteriormente concedida, a fim de suspender os efeitos da decisão proferida no Processo Administrativo de
Anulação de Convenção nº 1/2022, nos termos do voto do relator.

Brasília, 10 de agosto de 2022.

MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI – RELATOR

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI: Senhor Presidente, trata-se de mandado


de segurança, com pedido de liminar, impetrado pelo diretório estadual do Partido Progressistas – PP e por
Antônio José Aguiar Albuquerque contra ato praticado por Cláudio Cajado Sampaio, Presidente da Comissão
Executiva Nacional da mesma agremiação partidária.
Os impetrantes sustentam que a autoridade apontada como coatora anulou parcialmente a
convenção realizada pelo Diretório Estadual do Progressistas no Estado do Ceará “[...] exclusivamente quanto
à decisão que firmou coligação, mantida a decisão que escolheu os candidatos, devendo o Progressistas – PP
do Estado do Ceará concorrer isoladamente no pleito de 2022 (doc 01)” (pág. 3 do ID 157866119).
Aduzem que a ilegalidade do ato encontra-se na contrariedade (i) ao art. 7º, § 1º, da Lei
9.504/1997; (ii) à Res.-TSE 23.609/2019 e (iii) aos arts. 130 e 131 do Estatuto do PP, “em razão da ausência de
edição de resolução com antecedência mínima de 180 dias e publicada em Diário Oficial da União, que viesse
a fixar os critérios/ [as] diretrizes de escolha de seus candidatos e o regime das coligações a serem
observadas” (pág. 4 do ID 157866119).
Ressaltam que o ato abusivo possui reflexos diretos no processo eleitoral, e, por isso, suplanta o
aspecto meramente interno, razão pela qual não há que se falar em indevida interferência na autonomia
partidária.
Afirmam que a convenção realizada em 30/7/2022 pelo órgão partidário observou todas as
regras estatutárias para a realização da Convenção Estadual, inexistindo justificativa para que a decisão dos
convencionais fosse, ainda que parcialmente, anulada.
Assinalam que, com o advento da EC 52/2006, os partidos políticos foram autorizados a formar
coligações nas diversas circunscrições sem a necessidade de verticalização.
Inferem, desse modo que,

“o fato de o Progressistas Nacional estar coligado com o Partido Liberal e apoiando a reeleição do presidente
Jair Messias Bolsonaro não é fundamento legal válido para anular parcialmente a convenção estadual do PP,
que firmou coligação com a FEDERAÇÃO BRASIL DA ESPERANÇA - FÉ BRASIL e MDB, sobretudo
considerando que não houve, conforme se verificará, qualquer diretriz prévia vedando tal possibilidade[...]” (pág.
13 do ID 157866119).

Argumentam que a omissão da Comissão Executiva Nacional em estabelecer critério prévio de


escolha dos candidatos e [d]o regime das coligações “possibilitou aos convencionais do Progressista no estado
do Ceará dispor, na forma do[s] art[s]. 28 e 17, §1º, da CRFB/88, livremente sobre os critérios de escolha de
seus candidatos e com quais partidos o Progressistas poderia coligar” (pág. 14 do ID 157866119) naquela

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unidade federativa.
Apontam que o argumento de que o candidato da Federação Brasil da Esperança-Fé poderia
causar eventual confusão nos filiados ao Partido e no eleitor médio não merece prosperar, uma vez que o PP
participa de projeto político em diversas áreas de atuação no estado, “composto por um amplo arco de aliança
partidária, dentre os quais estão o PT, PSB, PV, PCdoB, PDT, e muitos outros” (pág. 14 do ID 157866119).
Informam que, nas eleições de 2014, 2016, 2018 e 2020, várias coligações foram firmadas pelo
PP com diversas outras agremiações, inclusive nas eleições com o Partido dos Trabalhadores – PT, o que, a
seu ver, demonstra que “o ato do Presidente da Comissão Nacional do Progressistas padece, a um só tempo,
de fundamentação jurídica e política” (pág. 14 do ID 157866119).
Acrescentam que o art. 130 do Estatuto partidário “permite a formação de coligações para as
eleições majoritárias, ficando omisso no que compete ao veto a determinado partido ou federação” (pág. 17 do
ID 157866119).
Asseveram que o diretório estadual, após ter sido intimado da decisão que anulou parcialmente
a convenção, solicitou informações sobre a fixação de critérios e diretrizes para a formação de coligações nos
estados, ficando inequívoco, diante das informações prestadas, “que a grei não editou Resolução fixando
diretrizes/critério para a formação de coligação nos Estados, muito menos com o exigido prazo legal de 180
(cento e oitenta) dias” (pág. 18 do ID 157866119).
Destacam que a ata de convenção nacional do PP “também é omissa acerca da fixação de
quaisquer diretrizes/critérios para a formação de coligações nos Estados, tornando, ao fim e ao cabo, a decisão
absurdamente ilegal e autoritária” (pág. 19 do ID 157866119).
Registram que, a partir da análise das atas de convenções de diretórios estaduais do PP,
percebe-se que o partido:

“se encontra coligado com diversos partidos políticos, dos mais amplos espectros políticos, inclusive com
partidos que também possuem candidatos a Presidência da República, como é o caso da FEDERAÇÃO BRASIL
DA ESPERANÇA - FÉ BRASIL que terá como candidato a Presidência da República o Sr. Luis Inácio Lula da
Silva; Movimento Democrático Brasileiro – MDB que terá como candidata senadora Simone Tebet; Partido
Democrático Trabalhista – PDT que terá como candidato o Ciro Ferreira Gomes, sem que tenha ocorrido, ao que
se sabe, quaisquer intervenções ou anulações, ainda que parcial, das Convenções realizadas por estes
Diretórios Estaduais” (pág. 19 do ID 157866119).

Concluem ser evidente a ausência de “qualquer orientação da Comissão Executiva Nacional do


Progressistas para que não fossem firmadas coligações com quaisquer outros partidos e/ou partidos que
tenham lançado candidatos ao cargo de Presidente da República” (pág. 21 do ID 157866119).
Pugnam pela concessão da liminar, a fim de que sejam suspensos os efeitos da decisão da
executiva nacional do Progressistas, “restabelecendo a validade da decisão tomada na Convenção Estadual,
que decidiu pela formação de coligação a nível estadual com a Federação Brasil da Esperança-Fé Brasil e
MDB” (pág. 31 do ID 157866119).
Para tanto, apontam que o perigo da demora “está patente, uma vez que o prazo final para as
convenções partidárias se encerra no dia 05 de agosto e se avizinha o período de registro de candidatura e
propaganda eleitoral, faltando poucos dias para sua ocorrência” (pág. 28 do ID 157866119).
Afirmam que o perigo de dano irreparável reside também na evidente gravidade do caso, em
que o impetrante e os demais membros do diretório estadual foram impossibilitados de formar coligação nas
eleições majoritárias naquele estado, implicando “diversas consequências eleitorais práticas, seja em relação
ao apoio popular das candidaturas, seja também na composição das forças políticas regionais e respectiva
propaganda eleitoral” (pág. 28 do ID 157866119).
Asseveram que a probabilidade de êxito desta ação reside na constatação inequívoca de que:

“a decisão proferida pelo presidente da Comissão Executiva Nacional do Progressistas viola, a um só tempo, o
que dispõe artigo 17, §1ª da Constituição Federal, artigo 7º, §1º Lei 9.504/97, art. 319º, da Resolução TSE nº
23.609/2019 e artigos 130 e 131 do Estatuto do Progressistas, restando evidenciado o ato abusivo e arbitrário

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merecedor de imediata suspensão” (pág. 30 do ID 157866119).

Salientam, ainda, a existência de risco ao resultado útil do processo, tendo em vista que a
anulação parcial da convenção “impossibilitará o Diretório Estadual do Progressistas de aderir formalmente à
coligação, em razão do prazo convencional eleitoral expirar em 05 de agosto de 2022” (pág. 30 do ID
157866119).
Ao final, esperam a confirmação da tutela e a concessão da segurança, para invalidar “a decisão
que anulou parcialmente a Convenção Estadual do Diretório Estadual do Progressistas no Ceará – PP/CE”
(pág. 32 do ID 157866119).
No último dia 5 de agosto, deferi a liminar requerida, ad referendum, para suspender os efeitos
da decisão proferida no Processo Administrativo de Anulação de Convenção nº 1/2022.
Nesta oportunidade, trago a medida liminar parcialmente concedida ao referendo do Plenário.
É o relatório.

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (relator): Senhor Presidente, submeto à


apreciação deste Plenário, para referendo, a medida liminar por mim deferida no dia 5 de agosto, nos seguintes
termos:

“O mandado de segurança é tempestivo, porquanto impetrado dentro do prazo de 120 dias previsto no art. 23 da
Lei 12.016/2009. A petição está subscrita por advogado constituído nos autos (ID 157866091), bem como estão
presentes o interesse e a legitimidade.
O ato tido por ilegal foi proferido em 2/8/2022 por Claudio Cajado, Presidente em exercício da Comissão
Executiva Nacional do Partido Progressistas – PP, consubstanciado na anulação da convenção realizada em
30/7/2022 pelo diretório estadual do partido, na parte em que se formalizou coligação em apoio à candidatura
majoritária, Federação Brasil da Esperança – Fé Brasil, integrada pelo Partido dos Trabalhadores – PT, Partido
Comunista do Brasil – PCdoB e Partido Verde – PV.
Preliminarmente, cumpre reconhecer a competência deste Tribunal para a análise desta ação mandamental.
Embora não se desconheça que o art. 17, § 1º, da Constituição Federal assegure aos partidos políticos ampla
autonomia para definir as normas regulamentares para a deliberação da escolha de candidatos e formação de
coligações, esta não é ilimitada.
O TSE tem admitido a competência da Justiça Eleitoral para apreciar controvérsias decorrentes de divergências
internas de partidos políticos quando constatar-se que essas ultrapassam o aspecto meramente interno e
possam provocar impactos nas eleições. Neste sentido, confira-se:

“ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ANULATÓRIA.


ATO DE DESTITUIÇÃO. COMISSÃO MUNICIPAL PROVISÓRIA. REFLEXO. PROCESSO ELEITORAL.
JUÍZO ELEITORAL. COMPETÊNCIA. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.
INOBSERVÂNCIA.
1. O Tribunal de origem decidiu bem ao rejeitar a preliminar de incompetência na espécie, pois cabe ao Juízo
da 18ª Zona Eleitoral de Jaguariaíva/PR processar e julgar a ação anulatória do ato de destituição da
Comissão Provisória Municipal do PSDB do referido município, tendo em vista que, conforme consignado no
aresto regional, a controvérsia estabelecida entre os órgãos partidários tem reflexo direto no processo
eleitoral atinente ao pleito municipal daquela circunscrição, assim como porque é do juízo eleitoral de
primeira instância a competência para a apreciação dos feitos relacionados à campanha eleitoral em âmbito
municipal, com base no art. 2º da LC 64/90.

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2. É irrelevante o fato de o precedente indicado na fundamentação da decisão agravada contar mais de dez
anos, mormente porque o entendimento nele consignado foi recentemente reafirmado por este Tribunal
Superior no julgamento do REspe 103-80, rel. Min. Luiz Fux, DJe de 30.11.2017, no qual se assentou que ‘a
Justiça Eleitoral possui competência para apreciar as controvérsias internas de partido político,
sempre que delas advierem reflexos no processo eleitoral, circunstância que mitiga o postulado
fundamental da autonomia partidária, ex vi do art. 17, § 1º, da Constituição da República - cânone
normativo invocado para censurar intervenções externas nas deliberações da entidade -, o qual cede
terreno para maior controle jurisdicional’.
3. No caso, a Corte Regional Eleitoral manteve a procedência da ação anulatória, por entender que a
destituição procedida pela direção estadual do partido violou os princípios constitucionais do contraditório e
da ampla defesa, pois não se concedeu à comissão provisória municipal oportunidade para que se
defendesse, com observância de procedimento previsto no estatuto partidário.
4. O acórdão regional está em consonância com a orientação deste Tribunal Superior, segundo a qual ‘a
destituição de Comissões Provisórias somente se afigura legítima se e somente se atender às diretrizes e
aos imperativos normativos, constitucionais e legais, notadamente a observância das garantias fundamentais
do contraditório e da ampla defesa’ (REspe 123-71, rel. Min. Luiz Fux, DJe de 30.11.2017).
Agravo regimental a que se nega provimento.”
(AgR-AI 21862/PR, Rel. Min. Admar Gonzaga; grifei).

Verifica-se que os impetrantes alegam, em síntese, que a Executiva Nacional do PP teria, em contrariedade à
norma, obstado a efetivação da coligação da legenda com o PT, PCdoB e PV ao anular parcialmente a
convenção estadual.
Dessa forma, a competência do TSE para apreciar o mandamus é manifesta.
Passo à análise dos requisitos específicos para a concessão da medida de urgência, a saber: (i) a probabilidade
do direito e (ii) a existência de perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (art. 7º, § 5º, da Lei
12.016/2009 combinado com o art. 300 da Lei 13.105/2015).
Reconheço, desde logo, estar presente à urgência alegada pelos impetrantes. Isso porque, hoje é o último dia
para que os partidos decidam, em convenção, sobre suas candidaturas e quanto à realização ou não de
coligação, nos termos do art. 8º da Lei 9.504/1997 (art. 6º da Res.-TSE 23.609/2019).
No tocante à probabilidade do direito, na cognição típica das medidas liminares, verifico que, no estatuto
partidário, não se identifica nenhum dispositivo restringindo o órgão de direção estadual a coligar-se, dentro da
respectiva circunscrição, com outro partido. A princípio, o referido normativo apenas reproduz o conteúdo do art.
7º, § 1º, da Lei das Eleições, ao dispor no art. 131 o seguinte:

“Art. 131. Os critérios de escolha e o regime das coligações serão definidos pela Comissão Executiva
Nacional, mediante Resolução, publicando-os no Diário Oficial da União até 180 (cento e oitenta) dias antes
das eleições, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital
ou municipal, nos termos do § 1º do art. 17 da Constituição Federal, e art. 7º, § 1º da Lei nº 9.504/97.
§ 1º Se a convenção partidária de nível inferior se opuser, na deliberação sobre coligações, às diretrizes
legitimamente estabelecidas pela Comissão Executiva Nacional, poderá a Comissão Executiva Nacional
Estatuto PP 41 anular a deliberação e os atos decorrentes da convenção partidária de nível inferior.
§ 2º As anulações de deliberações dos atos decorrentes de convenção partidária, na condição acima
estabelecida, deverão ser comunicadas à Justiça Eleitoral no prazo de 30 (trinta) dias após a data limite para
o registro de candidatos.
§ 3º Se, da anulação, decorrer a necessidade de escolha de novos candidatos, o pedido de registro deverá
ser apresentado à Justiça Eleitoral nos 10 (dez) dias seguintes à deliberação, observado o disposto no art.
13 da Lei nº 9.504/97”.

Por outro lado, depreende-se que o único fundamento mobilizado pela Executiva Nacional para
amparar a anulação parcial da convenção residiria no texto do art. 92, VIII, do estatuto partidário, inserido no

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capítulo “Da Disciplina e da Fidelidade partidária”, o qual, entretanto, não parece dizer respeito à formação das
coligações, in verbis:

“Art. 92. Os filiados, especialmente os membros de órgãos partidários, mediante a apuração em processo
regular em que lhes sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, ficarão sujeitos às sanções
disciplinares quando restar provado que são responsáveis por:
[...]
VIII - fazer campanha eleitoral para candidatos ou partido adversários”.
Assim, transparece dos autos que inexiste deliberação prévia do órgão nacional do PP que tenha
regulamentado a formalização de coligações pelos diretórios estaduais.

Corrobora com essa assertiva o documento de ID 157866097, no qual o impetrado, ao ser questionado sobre a
existência de fixação de diretrizes estabelecidas pela Executiva Nacional ou convenção sobre a deliberação de
coligações nos estados, apenas reiterou os fundamentos da decisão anulatória, afirmando que eles
“demonstram de forma clara e inequívoca as diretrizes estabelecidas pela Convenção Nacional do Progressistas
– PP sobre a deliberação de coligações nos Estados” (pág. 4 do ID 157866097).
Desse modo, em juízo prefacial, extrai-se a plausibilidade do direito invocado pelos impetrantes, porquanto, em
que pese a competência do órgão nacional para anular os atos oriundos de convenções realizadas em
instâncias partidárias de nível inferior, não haveria, no caso, diretrizes regulamentadas que justifiquem a
anulação parcial da convenção estadual, de modo que o ato da executiva nacional que desfez a coligação
firmada entre o diretório estadual do PP no Ceará e os demais partidos revelar-se-ia ilegal e arbitrário, a indicar
contrariedade ao art. 7º, § 1º e § 2º, da Lei 9.504/1997 e art. 8º da Res.-TSE 23.609/2019.
Ante o exposto, defiro a liminar para suspender os efeitos da decisão proferida no Processo Administrativo de
Anulação de Convenção nº 1/2022, em que se determinou:

“a anulação parcial da Convenção Estadual do Progressistas – PP do Ceará realizada em 30 de julho de


2022, que firmou coligação e escolheu candidatos para o pleito que se avizinha, exclusivamente quanto à
decisão que firmou coligação, mantida a decisão que escolheu os candidatos, devendo o Progressistas – PP
do estado do Ceará concorrer isoladamente no pleito de 2022” (pág. 5 do ID 157866096)”

Comunique-se com urgência, transmitindo-se cópia desta decisão ao Tribunal Regional Eleitoral do Ceará.
Na sequência, à Secretaria Judiciária para que observe o disposto no art. 3º da Res.-TSE 23.598/2019.
Publique-se."

Nada havendo a acrescentar aos fundamentos da decisão que deferiu o pedido liminar, voto por
confirmá-la em todos os seus termos.
É como voto.

VOTO

O SENHOR MINISTRO SERGIO BANHOS: Senhor Presidente, trata-se de mandado de segurança,


com pedido de liminar, impetrado pelo Diretório Estadual do Partido Progressistas – PP – e por Antônio José
Aguiar Albuquerque contra ato praticado por Cláudio Cajado Sampaio, Presidente da Comissão Executiva
Nacional da mesma agremiação partidária.
O eminente relator, em decisão de ID 157885041, deferiu o pedido de liminar para suspender os
efeitos da decisão proferida no Processo Administrativo de Anulação de Convenção 1/2022, em que se
determinou:

“a anulação parcial da Convenção Estadual do Progressistas – PP do Ceará realizada em 30 de julho de 2022,


que firmou coligação e escolheu candidatos para o pleito que se avizinha, exclusivamente quanto à decisão que

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firmou coligação, mantida a decisão que escolheu os candidatos, devendo o Progressistas – PP do estado do
Ceará concorrer isoladamente no pleito de 2022” (pág. 5 do ID 157866096).

Na presente sessão virtual, Sua Excelência votou no sentido da homologação da liminar.


A despeito da profundidade dos fundamentos da decisão cuja homologação se pretende,
verifico que, em última análise, a pretensão manifestada no writ está jungida à própria validade da
convenção partidária, tema que deve ser apreciado a tempo em modo, em processo de DRAP, sob pena
de pronunciamento per saltum desta Corte Superior acerca de matéria de competência de outros órgãos da
Justiça Eleitoral.
Nesse sentido: “A matéria atinente à validade de convenção partidária deve ser discutida nos
autos do Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP), e não no registro de candidatura
individual” (AgR-REspe 178-55, rel. Min. Henrique Neves da Silva, DJE de 10.3.2017). Na mesma linha: REspe
207-65, rel. Min. Luciana Lóssio, PSESS em 30.9.2016; AgR-REspe 134-65, rel. Min. Luiz Fux, DJE de
13.9.2017.
Cito, igualmente, julgado de minha lavra:

AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. DIRETÓRIO MUNICIPAL. INTERVENÇÃO.


PRESIDENTE NACIONAL DO PARTIDO. CONVENÇÃO MUNICIPAL. DRAP. VALIDADE. CONTROVÉRSIA.
TSE. INCOMPETÊNCIA.

1. Por meio da impetração, as agravantes buscam a desconstituição do ato do Presidente Nacional do


Democratas, pelo qual foram substituídas no órgão municipal do partido, o que teria como efeito prático a
validação da convenção partidária que convocaram para a escolha dos candidatos a vereador da legenda,
controvérsia pendente de exame perante o TRE/BA, nos autos de DRAP.

2. A admissão do presente mandado de segurança deflagraria indevido pronunciamento deste Tribunal per
saltum àquele a ser exarado, nos autos do DRAP, pela Corte Regional, faltando–lhe, assim, competência
funcional para o exame da controvérsia.

Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgR-MSCiv 0601516-02, rel. Min. Sérgio Banhos, PSESS em 27.11.2020.)

Entendo, com a devida vênia, que a circunstância de o ato coator ter sido praticado pelo
presidente do diretório nacional não autoriza que o Tribunal Superior Eleitoral, em verdadeira substituição ao
juízo competente para a apreciação do registro de candidatura, antecipe o resultado de eventual DRAP,
processo adequado para discussões desse jaez.
Por essas razões, rogando as mais respeitosas vênias ao relator e àqueles que eventualmente o
acompanhem, voto no sentido de não homologar a decisão de ID 157885041 e de julgar extinto o
mandado de segurança, sem resolução do mérito, ante a inadequação da via eleita (art. 485, VI, do
Código de Processo Civil).

VOTO
O SENHOR MINISTRO CARLOS HORBACH: Senhor Presidente, trata-se de mandado de
segurança, com pedido liminar, impetrado pelo Diretório Estadual do Partido Progressistas (PP) no Ceará e por
Antônio José Aguiar Albuquerque em face de ato praticado por Cláudio Cajado Sampaio, presidente da
Comissão Executiva Nacional da agremiação.
Os impetrantes noticiam que o impetrado anulou parcialmente a convenção realizada pelo
Diretório Estadual do PP no Ceará tão somente quanto à coligação firmada, determinando que houvesse a
disputa isolada no pleito de 2022. Entendem que há ilegalidade na ausência de edital com antecedência

Assinado eletronicamente por: RICARDO LEWANDOWSKI 16/08/2022 14:33:07


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mínima de 180 (cento e oitenta) dias que fixasse os critérios de escolha de seus candidatos e o regime das
coligações a serem observadas.
Ao final, pleiteiam a concessão da liminar para suspender de imediato os efeitos da decisão da
Comissão Executiva Nacional do PP que anulou parcialmente a convenção do diretório estadual,
restabelecendo a validade da coligação formada com a Federação Brasil da Esperança – Fé Brasil e MDB.
O relator, em 5.8.2022, deferiu a tutela de urgência, suspendendo os efeitos da decisão
proferida no Processo Administrativo de Anulação de Convenção nº 1/2022, com a apresentação do feito para
referendo pelo Plenário.
É certo que as controvérsias internas partidárias não são insindicáveis pela Justiça Eleitoral, que
tem competência para apreciar o tema “sempre que delas advierem reflexos no processo eleitoral, circunstância
que mitiga o postulado fundamental da autonomia partidária” (MS nº 0601453-16/PB, Rel. Min. Luiz Fux, DJe
de 27.10.2017).
Não obstante, é preciso franquear o acesso a este Tribunal Superior com cautela, sem que se
permita, via impetração, um salto de instância supressor da competência igualmente relevante dos tribunais
regionais eleitorais.
Por essa razão, na mesma linha do que afirmei no MS nº 0600657-15/BA, independentemente
da discussão posta sob o ângulo da obediência ao devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa
quanto ao ato que anulou parcialmente a convenção realizada pelo Diretório Estadual do PP no Ceará, a via do
mandado de segurança não se revela adequada à espécie, uma vez que o órgão partidário interessado, ao
eventualmente formalizar o correspondente Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP) para o
pleito de 2022, poderá arguir, conforme entender de direito, a higidez da sua convenção, submetendo-a ao juiz
natural da causa.
Nesse sentido, “a matéria atinente à validade de convenção partidária deve ser discutida nos
autos do Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP)” (REspe nº 178-55/BA, Rel. Min. Henrique
Neves da Silva, DJe de 10.3.2017). Em igual norte, cabe citar as decisões monocráticas proferidas pelo
Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto nos Mandados de Segurança nº 0601444-15.2020.6.00.0000, de
28.9.2020, e nº 0600850-60.2020.6.05.0000, de 17.11.2020, ambos relativos às eleições de 2020.
Por fim, destaco recente posicionamento unânime deste Plenário em feito semelhante de
relatoria do Ministro Sergio Banhos no qual a impetração visava tornar sem efeito a substituição das
impetrantes no Diretório Municipal de Casa Nova/BA, materializada por meio de resolução do presidente
nacional do Democratas, que decretou medida de intervenção no referido órgão partidário, nomeando
Comissão Provisória Interventora:

AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. DIRETÓRIO MUNICIPAL. INTERVENÇÃO.


PRESIDENTE NACIONAL DO PARTIDO. CONVENÇÃO MUNICIPAL. DRAP. VALIDADE. CONTROVÉRSIA.
TSE. INCOMPETÊNCIA.

1. Por meio da impetração, as agravantes buscam a desconstituição do ato do Presidente Nacional do


Democratas, pelo qual foram substituídas no órgão municipal do partido, o que teria como efeito prático a
validação da convenção partidária que convocaram para a escolha dos candidatos a vereador da legenda,
controvérsia pendente de exame perante o TRE/BA, nos autos de DRAP.

2. A admissão do presente mandado de segurança deflagraria indevido pronunciamento deste Tribunal per
saltum àquele a ser exarado, nos autos do DRAP, pela Corte Regional, faltando–lhe, assim, competência
funcional para o exame da controvérsia. Agravo regimental a que se nega provimento.

(MS nº 0601516-02/BA, Rel. Min. Sergio Silveira Banhos, PSESS em 27.11.2020)

Com efeito, não afasto a competência eleitoral para a análise do tema, mas, em observância ao
devido processo legal, entendo que o acesso a esta instância não pode ocorrer mediante supressão da análise
do tema pelo órgão competente no momento adequado, que, no caso, é o TRE/CE nos autos do DRAP. Por
isso, em análise própria das liminares, compreendo inexistir, na espécie, probabilidade do direito para o

Assinado eletronicamente por: RICARDO LEWANDOWSKI 16/08/2022 14:33:07


https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 0600664-07.2022.6.00.0000
deferimento da tutela de urgência formulada.
Ante o exposto, divirjo do relator para não referendar a liminar.
É como voto.

EXTRATO DA ATA

MSCiv nº 0600664-07.2022.6.00.0000/CE. Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Impetrantes:


Progressista (PP) – Estadual e outro (Advogado: George Emanuel Oliveira Silva – OAB: 23115/CE). Impetrado:
Cláudio Cajado Sampaio.
Decisão: O Tribunal, por maioria, referendou a medida liminar anteriormente concedida, a fim de
suspender os efeitos da decisão proferida no Processo Administrativo de Anulação de Convenção nº 1/2022,
nos termos do voto do relator. Vencidos os Ministros Sérgio Banhos e Carlos Horbach.
Composição: Ministros Edson Fachin (presidente), Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski,
Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Sérgio Banhos e Carlos Horbach.
Vice-Procurador-Geral Eleitoral: Paulo Gustavo Gonet Branco.
SESSÃO DE 10.8.2022.

Assinado eletronicamente por: RICARDO LEWANDOWSKI 16/08/2022 14:33:07


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