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21/07/2022
Número: 0600113-65.2021.6.24.0009
Classe: RECURSO ELEITORAL
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Regional Eleitoral
Órgão julgador: Relatoria Vice-Presidência
Última distribuição : 21/02/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0600113-65.2021.6.24.0009
Assuntos: Doação de Recursos Acima do Limite Legal - Pessoa Física
Objeto do processo: RECURSO ELEITORAL - REPRESENTAÇÃO ESPECIAL - DOAÇÃO DE
RECURSOS ACIMA DO LIMITE LEGAL - PESSOA FÍSICA - 9ª ZONA ELEITORAL - CONCÓRDIA
(PRESIDENTE CASTELLO BRANCO).
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
EDENILSON DOMINGOS ZENI (RECORRENTE) FILIPE STECHINSKI (ADVOGADO)
MATHEUS CAMARGO MATTIELLO (ADVOGADO)
RUAN WAGNER FERRARI (ADVOGADO)
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (RECORRIDO)
PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL - SC (FISCAL DA
LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
18763 25/05/2022 18:23 Voto Relator Voto Relator
609
VOTO
1. Sr. Presidente, o recurso deve ser conhecido por ser tempestivo e preencher os demais pressupostos de
admissibilidade.
2. No que se refere ao mérito, a legislação dispõe que o valor das doações e das contribuições de
campanha realizadas por pessoas físicas ficam limitadas, no máximo, a 10% (dez por cento) dos
rendimentos brutos auferidos pelo doador no ano anterior à eleição (Lei n. 9.504/1997, art. 23, § 1º).
Ao interpretar o alcance dessa restrição legal, o Tribunal Superior Eleitoral firmou a posição de que “o
conceito de rendimento bruto para fins de adoção de pessoas físicas para campanhas (atual art. 23, § 1º, da
Lei 9.504/97) compreende toda e qualquer renda obtida no ano-calendário anterior ao da eleição,
tributável ou não, desde que constitua produto do capital e/ou do trabalho e que resulte em real
disponibilidade econômica, informada na declaração de imposto de renda” (TSE, REspe n. 17365, Min.
Luis Felipe Salomão, DJE de 17/11/2020 – grifei).
Ou, ainda, “a imposição da penalidade, em processos referentes à doação acima do limite legal, decorre
da simples inobservância ao limite expresso na lei. Em outras palavras, a verificação do excesso é feita de
forma objetiva, bastando o simples extrapolamento da quantia doada, sendo irrelevante perquirir qualquer
elemento subjetivo advindo da conduta do doador, como a boa-fé” (TSE, AI n. 49475, Min. Og
Fernandes, DJE de 18/03/2020 – grifei).
3. Com efeito, de acordo com a declaração de imposto de renda trazida aos autos, o recorrente auferiu, no
exercício de 2019, rendimentos brutos que somaram a quantia de R$ 44.579,90, resultado da soma de suas
receitas tributáveis (R$ 40.615,21) com as isentas e não tributáveis (R$ 3.964,69) (ID 18749468).
Logo, o valor máximo da doação que poderia realizar nas eleições de 2020 seria de R$ 4.457,99,
equivalente a 10% da referida receita pessoal.
Como o recorrente destinou para a campanha de Tarcílio Secco e Ademir Pedro Toniello – candidatos
eleitos aos cargos de prefeito e vice-prefeito de Presidente Castello Branco – a quantia de R$ 16.700,00, o
desrespeito ao limite fixado em lei é indiscutível.
A propósito, sem consistência a tese de defesa de que, nos autos da representação ajuizada pelo Ministério
Público Eleitoral contra os candidatos beneficiados pela doação por suposta infração ao art. 30-A da Lei
n. 9.504/1997, o recorrente comprovou possuir disponibilidade econômica para a realizar a doação de
campanha.
Isso porque, “o parâmetro para o cálculo do limite das doações eleitorais para as pessoas físicas é o
rendimento bruto do doador auferido no ano anterior às eleições, e não a sua capacidade financeira ou o
valor de seu patrimônio (bens e direitos)” (TSE, AI n. 6193, Min. Og Fernandes, DJE de 17/03/2020 –
grifei).
E, mais, “o limite legal de doação não pode ser aferido por meio de exame de extratos bancários, mas
‘deve ser calculado sobre os rendimentos brutos auferidos no ano anterior à eleição, comprovados por
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meio da declaração de imposto de renda. Precedente’ (AgR-AI nº 4177-46/MT, Rel. Min. Gilmar
Ferrreira Mendes, DJe de 22.12.2014)” (TSE, REspe n. 13807, Min. Herman Benjamin, Relator(a)
designado(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, DJE de 02/05/2018).
Esse é o parâmetro fático que importa para fins de tipificação do ilícito eleitoral em análise. A capacidade
econômica do recorrente ou, mesmo, a sua boa fé constituem aspectos irrelevantes para fins de determinar
a imposição ou não da reprimenda.
Contudo, embora seja juridicamente correta, a condenação imposta ao recorrente exige adequações no que
se refere às reprimendas aplicadas pelo Juiz Eleitoral.
Como visto anteriormente, a amplitude do conceito de rendimento bruto de pessoa física estabelecida em
julgados do Tribunal Superior Eleitoral, para fins de determinar o limite da doação de campanha da
pessoa física, compreende toda renda recebida e informada ao fisco pelo doador, independentemente de
ser tributável ou não.
Desse modo, diversamente do consignado na sentença, a soma dos rendimentos do recorrente a ser
considerado para determinar o valor extrapolado não é R$ 40.615,21, mas, sim, R$ 44.579,90,
correspondente ao somatório de todos os rendimentos do recorrente registrados na sua declaração de
imposto de renda referente ao exercício de 2019 (ID 18749468).
Por conseguinte, o limite para doação seria de R$ 4.457,99, enquanto que a extrapolação praticada,
considerando a diferença com o valor doado pelo recorrente (R$ 16.700,00), é equivalente a R$
12.242,01, e não R$ 12.638,50, como calculado pela sentença.
Outrossim, a norma prevê que o responsável pela doação de campanha acima do limite legal deve ser
penalizado com “o pagamento de multa no valor de até 100% (cem por cento) da quantia em excesso”
(Lei n. 9.504/1997, art. 23, § 3º).
No caso o Magistrado, fixou a pena em seu patamar máximo, ao argumento de que “o representado doou
mais de 400% acima do limite legal, logo, a multa é de 100% da quantia doada em excesso (porque a
lei infelizmente limita em 100% a multa por esta prática ilícita, o que acaba por estimular este tipo de
conduta). Se tivesse doado 50% acima do limite legal, a multa seria de 50% da quantia doada em excesso.
Em suma, proporcionalidade” (ID 18749492).
O critério adotado na sentença, no meu entender, é juridicamente razoável, pois estabelece direta
correlação entre o percentual previsto na norma e a dimensão do extrapolamento do valor da doação
irregular.
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O óbice ao direito de se candidatar não constitui efeito automático da decisão condenatória por doação
acima do limite legal, constituindo circunstância a ser sopesada apenas no momento do julgamento de
eventual pedido de registro de candidatura, consoante se extrai do teor dos excertos das seguintes
ementas:
[...]
Agravo regimental conhecido e não provido (TSE, REspe n. 171735, Min. Rosa Weber,
DJE de 09/05/2017 – grifei).
[...]
Agravo regimental a que se nega provimento (TSE, AI n. 3663, Min. Admar Gonzaga, DJE
de 18/08/2017).
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Sobre essa questão, há julgado enfatizando que “é possível, nas representações por doação acima do
limite legal, determinar a anotação, no Cadastro Nacional de Eleitores, do nome do doador que não
observou o limite legal, para fins da ocorrência da inelegibilidade prevista no art. 1º, I, p, da LC nº
64/1990, possuindo tal registro caráter meramente informativo (não implica declaração de inelegibilidade,
tampouco ausência de quitação eleitoral)” (TSE, AI n. 50082, Min. Og Fernandes, DJE de 24/08/2020 –
grifei).
Sendo assim, a discussão a respeito da gravidade da ilicitude praticada pelo recorrente para fins de atração
da referida inelegibilidade mostra-se totalmente despiciendo.
A anotação no cadastro eleitoral deve estar restrita à natureza da reprimenda imposta e não implica a
imediata decretação da inelegibilidade do recorrente, servindo apenas como instrumento para subsidiar o
exame judicial a ser realizado pela Justiça Eleitoral, em cada eleição, sobre a regularidade do pedido de
registro de candidatura dos postulantes a cargos eletivos.
4. Pelo exposto, dou parcial provimento ao recurso, para manter a condenação pela prática de doação
acima do limite legal, mas diminuir o valor da penalidade imposta para R$ 12.242,01 e afastar a anotação
de inelegibilidade determinada na sentença, devendo constar do cadastro eleitoral apenas o registro da
reprimenda aplicada.
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