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O impacto das federações partidárias

no pleito eleitoral de 2022


João Araujo dos Anjos Filho

As federações partidárias podem alterar significativamente o cenário das eleições de 2022, e estão
agitando os bastidores da politica nacional.
As eleições de 2022 serão marcadas por um novo componente que pode interferir decisivamente na
corrida eleitoral: as candidaturas apoiadas por federações partidárias.
As federações foram instituídas pela lei 14.208/21, que alterou a Lei dos Partidos Políticos, lei 9.096/95, e a
Lei das Eleições, lei 9.504/97.
A referida mudança traz impactos relevantes para a corrida eleitoral, visto que será possível a junção de
partidos políticos formando as federações partidárias, que serão compostas por dois ou mais partidos, que
vão atuar como se fossem uma única agremiação partidária.
Contudo, as supramencionadas federações deverão cumprir todas as obrigações às quais os partidos
políticos estão sujeitos.
As federações partidárias possuem abrangência nacional e o seu registro será encaminhado ao TSE.
Um dos pontos principais dessas Federações partidárias é a obrigação de permanência enquanto
federação até o fim do mandato obtido nessa condição.
O eventual descumprimento da regra supramencionada acarretará ao partido dissidente a vedação de
ingressar em federação, de celebrar coligação nas duas eleições seguintes e, até completar o prazo mínimo
remanescente, de utilizar o fundo partidário.
É importante salientar que a saída de um partido da federação não acarretará o fim da federação, desde
que permaneçam ao menos dois outros partidos.
Destaca-se que as federações partidárias não podem ser confundidas com as coligações partidárias, visto
que as federações possuem caráter permanente e abrangência nacional, enquanto as coligações
partidárias valem só até o momento das eleições, sendo desfeitas após o fim do pleito eleitoral e podem
ser regionalizadas.
Desde as eleições de 2020 já não existem coligações para os pleitos proporcionais em face da EC 97/2017,
permanecendo a possibilidade de coligações apenas para os pleitos majoritários.
Nas federações devem ser preservados a identidade e a autonomia dos partidos integrantes, devendo
conservar seu nome, sigla e número próprios, inexistindo atribuição de número à federação; seu quadro de
filiados; o direito ao recebimento direto dos repasses do fundo partidário e do fundo especial de
financiamento de campanhas e o direito de acesso gratuito ao rádio e à televisão para a veiculação de
propaganda partidária, o dever de prestar contas; e a responsabilidade pelos recolhimentos e sanções que
lhes sejam imputados por decisão judicial.
Os principais argumentos utilizados para a criação das federações partidárias foram a redução da
fragmentação partidária, visto que no Brasil existem muitos partidos e os eleitores possuem dificuldade de
identificar quais as ideias de cada organização partidária; e permitir a continuidade institucional dos
pequenos partidos que poderiam não atingir a clausula de barreira, norma que impede ou restringe o
funcionamento parlamentar ao partido que não alcançar determinado percentual de votos, para as
eleições de 2022.
O PTB - Partido Trabalhista Brasileiro - entrou com uma ADIn - Ação Direta de Inconstitucionalidade 7.021
no STF contra dispositivos da lei 14.208/21 que tratam da criação das federações partidárias, os
argumentos principais do PTB foram de que os dispositivos violam frontalmente o §1º1, art. 17 da
Constituição Federal, que veda a criação de coligações nas eleições proporcionais, e que o fato das
federações partidárias serem celebrados em escala descendente, a partir da aliança ou coligação realizada
pelo órgão nacional, a norma ofenderia a autonomia dos órgãos partidários estaduais, distritais e
municipais.
Os argumentos supramencionados foram rechaçados e o STF entendeu pela validade das federações
partidárias e fixou como data limite 31/5/22 para constituição enquanto pessoa jurídica e registro do
estatuto da federação partidária perante o TSE.
Atualmente ainda não existem federações partidárias registradas no TSE, mas tudo leva a crer que serão
uma realidade nas eleições de 2022 e assim sendo, se faz importante que a sociedade acompanhe essas
mudanças que podem impactar nas próximas eleições.
Nos bastidores da política já existem diversas negociações para a formação de federações partidárias,
tanto entre partidos considerados de espectro de esquerda, quanto em partidos com espectros políticos
de direita e também os partidos de centro.
Nos resta aguardar os próximos capítulos para entender se o registro da primeira federação trará uma
avalanche de federações partidárias na busca de equilibrar as forças no jogo político e se a disputa de
poder entre os partidos fará natimorto um instituto inovador e que deve ser amplamente debatido no
cenário político brasileiro.
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1 § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha,
formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os
critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais,
sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

Atualizado em: 25/3/2022 10:43

Especialista em Direito Civil pela PUC/MG e Sócio do escritório JAF Advocacia e Consultoria.
https://www.migalhas.com.br/depeso/362365/o-impacto-das-federacoes-partidarias-no-pleito-eleitoral-de-2022

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