DANIEL CASTRO GOMES DA COSTA

REYNALDO SOARES DA FONSECA

SÉRGIO SILVEIRA BANHOS
TARCISIO VIEIRA DE CARVALHO NETO
Coordenadores

Prefácio
Rosa Weber

DEMOCRACIA, JUSTIÇA E CIDADANIA

Desafios e Perspectivas

Homenagem ao Ministro Luís Roberto Barroso

TOMOl

DIREITO ELEITORAL, POLÍTICA E DEMOCRACIA

Belo Horizonte

l='ORUM
CONHECIMENTO JURÍDICO
2020
30 1
DANlf.L CASTRO GOMES DA COSTA; REYNALDO SOARE.5 DA FONSECA; SÉRGIO SILVEIRA BANHOS;TARCISIO VIEIRA DE CARVALHO NETO (COORD.)
DEMOCRACIA, JUSTIÇA E CIDADANIA� DESAFIOS E PERSPE.CflVAS I TOMO 1- DIREITO ELEITORAL, POLÍTICA E DEMOCRACIA
Desse modo, sopesadas as problemáticas hodiernas dos partidos políticos
brasileiros concebidas pela crise de credibilidade em face do desrespeito às regras
eleitorais e, por conseguinte, a carência de confiabilidade da população, objetiva-se neste
ensaio identificar as consecuções necessárias para gerar mais estabilidade no cenário
político e harmonizar o sistema eleitoral e a atividade partidária com os princípios e
postulados empregados no ideal do Estado Democrático de Direito.
2 Análise do sistema político-eleitoral brasileiro: partidos políticos
e candidaturas
A importância dos partidos reside fundamentalmente na formação da vontade
política em tomo de atividade formal e organizada, isto é, no processo de intermediação
entre povo e Estado em prol da ordenação da ação política.
No âmbito do Estado Democrático de Direito, faz-se extremamente relevante a
organização político-partidária para a realização do princípio da representação, dada
sua capacidade de mediar a convivência entre interesses heterogêneos da sociedade. Em
meio às demandas sociais pulverizadas, a necessária distribuição e operacionalização
do poder é realizada por meio de sua segregação em partidos políticos, cujo objetivo
central é a conquista da parcela decisória do poder no âmbito governamental para
conferir efetividade aos interesses de determinada fração da coletividade.
Se o ato de votar pode ser definido como a realização formal de um ato político 1 e
cada indivíduo pode ser observado como titular de urna parcela igualmente distribuída
desse poder, a função dos partidos políticos, portanto, se traduz essencialmente na
criação de um ambiente de escolha para os cidadãos, capaz de gerar autenticidade para
o sistema representativo2 e promover a institucionalização das formas de pensamento.
Nesse sentido, a ordem jurídica brasileira ainda confere aos partidos políticos
a atribuição de resguardar a soberania nacional, o regime democrático, o pluri­
partidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana, visando a assegurar a
autenticidade do sistema representativo quando da institucionalização do poder. 3
Estabelecidas as principais premissas relativamente ao regime jurídico ao
qual os partidos políticos estão submetidos, bem como os fundamentos teóricos
adotados pelo ordenamento pátrio quanto ao seu funcionamento, há de se constatar
que as atividades exercidas pelas agremiações sofreram profundas mudanças com o
' SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 10. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1995. p. 138.
2
AGRA, Walber de Moura. Financiamento eleitoral no Brasil. ln: CAMPILONGO, Celso Fernandes ; GONZAGA,
AIvaro de Azevedo; FREIRE, André Luiz (coord.). Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Tomo Direito Administrativo
e Constitucional. 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017.
3
"Art. 2º. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos cujos programas respeitem a
soberaia nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana".
n
BRASIL. Lei n• 9.096, de 19 de setembro de 1995. (Lei dos Partidos Politicos). Dispõe sobre partidos políticos,
regulamenta os arts. 17 e 14, §3°, inciso V, da Constituição Federal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, OF, 20 sei. 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivi1_03/leis/l9096.htrn. Acesso em 19.
jun. 2019.
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DANIEL CASTRO GOMES DA COSTA
PARTIDOS roLtncos E COMl'LIA.NCE
1
passar dos anos, especialmente pelas alterações erigidas no contexto socioeconômico
vivenciado no Brasil.
Nesse sentido, analisada a prévia construção acerca da realidade abstrata
dos partidos políticos, é cogente enumerar algumas de suas problemáticas atuais,
especialmente no que tange aos fundamentos constitutivos, às limitações da autonomia
partidária e ao financiamento das agremiações e campanhas eleitorais, esferas cuja
conformação se alterou profundamente nos últimos anos, seja pela atuação legislativa,
seja pela construção jurisprudencial.
2.1 O novo financiamento Eleitoral Brasileiro. Contratação de
parentes e empresas de parentes com recursos do Fundo
Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de
Campanha
O Tribunal Superior Eleitoral tem proferido decisões4 que coíbem práticas
de favorecimento pessoal no âmbito da J�stiça Eleitoral, em consonância com as
premissas já expostas.
Nesta conjuntura, nota-se que o atual modelo de financiamento político-par­
tidário congloba doações públicas (Fundo Eleitoral e Fundo Partidário) e privadas
(pessoas físicas), em uma tentativa de equilibrar (i) a liberdade de manifestação dos
cidadãos, permitindo-lhes contribuir democraticamente com o suporte financeiro
dos partidos a que mais se alinham, e (ii) a justa competitividade entre os partidos, a
partir da concessão de recursos públicos distribuídos por critérios objetivos.
Se, por um lado, o financiamento das agremiações, aliado à regulamentação
estatal, consiste em circunstância necessária ao exercício da função democrática dos
partidos políticos, por outro, abre espaço para abusos de poder econômico, permitindo
uma influência indevida do dinheiro na política e afetando o caráter democrático
do instituto. Nessa linha, critica-se o uso de recursos financeiros para a distorção do
cenário político-eleitoral e a mera manutenção de controle de poder.
Além de ameaçar valores democráticos fundamentais, o encarecimento
exacerbado das campanhas eleitorais altera as prioridades dos agentes políticos, que
passam a dar mais importância à obtenção de recursos, em detrimento do compromisso
e da responsabilidade com os eleitores. Isso porque, quando o acesso a valores
pecuniários se torna fator determinante, a ocultação de gastos e recursos recebidos,
muitas vezes ilícitos, passa a ser fenômeno frequente, reduzindo significativamente
a transparência do processo político.5
4
"DIREITO ELEITORAL. PRESTAÇÃO OE CONTAS. EXERCÍCIO FINANCEIRO OE 2013. DIRETÓRlO
NACIONAL. PARTIDO PROGRESSISTA (PP). DESAPROVAÇÃO. (BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral.
Prestação de Contas n• 29021. Acórdão, Relator(a) Min. Luís Roberto Barroso, Publicação: DJE- Diário de justiça
eletrônico, Tomo 117, Data 21.06.2019, Página 83-85 ). Disponível em: http://www.tse.jus.br/jurisprudencia/
decisoes/jurisprudencia. Acesso em 25 out. 2019.
FALGUERA, Elin; JONES, Samuel; OHMAN, Magnus. Financiamento de partidos políticos e campanhas eleitorais:
um manual sobre financiamento político. Rio de Janeiro: FGV, 2015. p. 24.