Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O cenário político brasileiro vem mudando o contexto das eleições, especialmente
quando tratamos de candidatos e candidatas de primeiro mandato e candidatos e candidatas
reeleitas. As eleições de 2018 trouxeram o maior índice de renovação de cargos na Câmara dos
Deputados, mas não a ponto de ultrapassar o percentual de reeleição. Além disso, a recente
Reforma Política também teve como um dos escopos de discussão e atuação a condição sócio-
econômica de candidatos influenciar na ocupação de cargos. Assim, a partir de análises das
declarações de bens dos candidatos, sob a ótica da regressão logística, aferimos se a variável em
questão é isoladamente determinante para o índice de reeleição em 2018, haja vista os
mecanismos recém instituídos para coibir a desigualdade econômica no campo das eleições.
Abstract: The Brazilian political scenario has been changing the elections context, especially
when it comes to first term and re-elected candidates. The 2018 elections brought the highest
renewal rate in the House of Representatives. However, it did not exceed the percentage of
reelection. The recent Political Reform discussed the possibility of candidates' socioeconomic
condition to influence the occupation of positions. Based on declarations analyses of candidates
assets and on logistic regression principle, we observe whether the variable in question is alone
decisive for the rate of reelection in 2018, given the mechanisms recently instituted to curb
economic inequality in the field of elections.
1. Introdução
As eleições de 2018 mostraram um alto índice de renovação dos cargos do Poder
Legislativo. Contudo, esta taxa não ultrapassou o percentual de candidatos reeleitos, o que
mostra que a reeleição continua tendo um papel importante para entender a dinâmica de
funcionamento do cenário político.
Neste sentido, como apontam pesquisadores e especialistas da área, a reeleição pode
ocorrer a partir de alguns fatores gerais que podem levar à sucessivas vitórias das urnas do
candidato, sendo eles desde condicionantes físicas até questões materiais. Dentre as variáveis
possíveis, este trabalho será centrado na análise do patrimônio dos candidatos das eleições de
2014 e 2018 na Câmara dos Deputados.
Para tal, usaremos a regressão logística, com base nos dados apresentados pelos
candidatos ao TSE, a fim de saber se existe alguma relação entre o total de bens declarados dos
candidatos com a sua capacidade de reeleição, ou mesmo se a variação patrimonial dos
candidatos entre 2014 e 2018 é uma variável significativa neste processo.
3. Método
A partir de dados apresentados pelo Tribunal Superior Eleitoral, especialmente aqueles
que elencam o quantitativo de patrimônios declarados pelos candidatos, utilizamos a Regressão
Logística como método estatístico para explicar: primeiramente, se o total de bens, logo, se a
situação financeira da pessoa em questão influencia ou é uma variável importante para explicar
sua reeleição; ou se a variação de patrimônio entre os mandatos, no caso, o quantitativo
declarado nas eleições de 2014 e nas eleições de 2018 podem incitar algum tipo de vantagem
que auxilie no processo de reeleição.
Desse modo, analisamos duas eleições para Deputado/a Federal no Brasil (2014 e 2018)
em que concorreram mais de 29 mil candidatos, dentre esses, 444 para reeleição, no intuito de
entender se, de alguma forma, o patrimônio do parlamentar influencia na probabilidade de
conquistar novamente a cadeira legislativa.
4. Resultados e Discussão
Desde o princípio, a pesquisa apresentou números interessantes.
Inicialmente, talvez influenciado pelo imaginário popular, surpreendeu a informação
que, num universo de 398 parlamentares eleitos em 2014 e que tentaram a reeleição em 2018,
136 declararam patrimônio menor ao TSE em 2018, enquanto 259 deputados declararam
patrimônio maior (3 declararam exatamente o mesmo patrimônio em 2014 e 2018).
Até mesmo pela percepção social de que os/as deputados/as recebem remunerações
muito elevadas em relação à média da sociedade, foi uma surpresa saber que cerca de um terço
dos candidatos à reeleição perderam riqueza ao longo do seu mandato.
Em um segundo momento, também chamou atenção a baixíssima correlação entre as
variáveis, tanto a variação patrimonial (variável variacao) e o patrimônio absoluto (variável
VR_BEM_CANDIDATO.x), quando associadas à reeleição do parlamentar (variável
REELEITO). Ao buscar a correlação com a variação patrimonial, encontrou-se uma correlação
de 0,05, e ao correlacionar com o patrimônio absoluto declarado ao TSE em 2018, uma
correlação de -0,09. Num espectro que oscila entre -1 e 1, no qual os extremos indicam forte
correlação inversa ou direta, números muito próximos de zero sugerem que as variáveis não
estão relacionadas.
Fonte: Autores.
Já em estado de atenção, em virtude da correlação apontada de início, a regressão
logística foi realizada, inicialmente, para observar a influência da variação patrimonial na
capacidade de reeleição parlamentar.
Foi encontrado um intercepto de 0.34 e a variação com valor 0.0000005291, indicando
que a cada aumento de 1 real na variação patrimonial o logaritmo da chance de reeleição
incrementa no valor de variacao. Ainda, Pr (> |z|) apresentou valor de 0.31, indicando que a
variável variacao não é significativa para explicar a capacidade de reeleição do parlamentar.
Fonte: Autores.
Quando plotada em um gráfico, a esperada curva sigmóide não aparece, dando lugar a
uma linha reta a olhos vistos e que não se sobrepõe aos dados. Tal aspecto é mais um indicativo
que o modelo encontrado não é adequado, e a variação patrimonial ao longo do mandado de
2014 a 2018 não explica a capacidade de reeleição do parlamentar.
Fonte: Autores.
A mesma análise foi repetida, desta vez, com o valor absoluto do patrimônio do
parlamentar declarado ao TSE no ano de 2018, no intuito de apurar se a riqueza do/a
Deputado/a Federal, em valores absolutos, poderia influenciar a sua capacidade de reeleição.
Neste turno, foi encontrado um intercepto de 0.49 e a VR_BEM_CANDIDATO.x com
valor -0.0000006788, indicando que a cada aumento de 1 real no patrimônio absoluto o
logaritmo da chance de reeleição decrementa no valor supracitado. Por fim, Pr (> |z|) apresentou
valor de 0.08, indicando que a variável VR_BEM_CANDIDATO.x também não é significativa
para explicar a capacidade de reeleição do parlamentar.
Fonte: Autores.
E, conforme esperado, também não foi possível encontrar uma sigmóide ao representar
o modelo graficamente, com destaque para os outliers, que ressaltam o fato de que quatro dos
cinco candidatos mais ricos concorrentes à reeleição não lograram êxito.
Fonte: Autores.
5. Conclusão
Dentro do cenário de cargos proporcionais eleitos na Câmara dos Deputados nas
eleições de 2018, quando analisada, de forma isolada, a questão econômica, com foco na
declaração de bens e patrimônios do TSE, não foi possível observar a variação patrimonial ao
longo do mandato e o patrimônio total declarado pelo parlamento junto ao TSE em 2018
influenciar, de forma significativa, a capacidade do parlamentar de se reeleger.
Uma possível explicação desse fenômeno seria a atipicidade das eleições de 2018, com
caráter mais polarizado que as anteriores e que trouxe números inusitados, tanto para renovação
política como para reeleição. Muito embora a margem de reeleitos tenha sido mais do que a
metade da totalidade de candidatos eleitos, a renovação política - e aqui não estamos tratando de
renovação partidária ou de perfis caricatos e ‘elegíveis’ - foi muito superior em relação às
eleições anteriores, como mostra a própria pesquisa da Câmara dos Deputados e de estudiosos
da área.
É importante pensar também que, embora a legislação tenha imposto limites de doação
e gastos de campanha, deve-se considerar o uso estratégico destes, bem como de seu patrimônio
pessoal, especialmente em uma era cada vez mais digitalizada como a que vivemos. Nos dias
atuais, as redes sociais, além de diminuírem os custos com campanhas, trazem
impulsionamentos e alavancagens muito maiores que táticas e estratégias ultrapassadas, no
sentido tecnológico da questão.
Sendo assim, é possível concluir que, ao menos nas eleições de 2018 para a Câmara dos
Deputados, o patrimônio pessoal da/do candidato não se apresenta enquanto um precursor
central para angariar novamente o cargo. Tal fenômeno pode ser explicado a partir de vários
olhares, sendo um deles o recente fim do financiamento privado de campanha, que mudou a
logística partidária de se fazer campanha, como também o crescente uso e aposta na era digital a
partir das redes sociais, trazendo uma maior democratização na formação de candidaturas.
Referências Bibliográficas
CODATO, Adriano & CARLOMAGNO, Márcio. Poder social e poder político: como
ocupação, gênero, patrimônio e dinheiro. Coletânea de Direito Eleitoral, 21 janeiro de 2018.
LEMOS, L. B., Marcelino, D., & PEDERIVA, J. H. Porque dinheiro importa: a dinâmica das
contribuições eleitorais para o Congresso Nacional em 2002 e 2006. Opinião Pública, 16(2),
2010, 366–393.