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Recife
2017
1
Celso Vinícius da Silva
Recife
2017
2
RESUMO
3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................5
1. FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL.............................................7
1.1 Financiamento exclusivamente público de campanha eleitoral.......................7
1.2 Financiamento exclusivamente privado de campanha eleitoral.......................9
1.3 Financiamento plural de campanha eleitoral.................................................11
2. A PERSPECTIVA HISTÓRICA DAS ELEIÇÕES NO BRASIL........................12
2.1 Histórico das eleições no Brasil.....................................................................12
2.1.1 Brasil Colonial (1532-1821).........................................................................12
2.1.2 Disputas no Império (1821 – 1882).............................................................14
2.1.3 O Voto de Cumpadre (1882 – 1932)...........................................................15
2.1.4 Surgimento da Justiça Eleitoral e o Hiato Eleitoral (1932-1945).................16
2.1.5 Partidos Nacionais e das Campanhas Eleitorais (1945 – 1964).................18
2.1.6 A Ditadura (1964-1985)...............................................................................19
2.1.7 O Retorno democrático e o voto eletrônico (1986 – dias atuais)................20
2.2 Financiamento de campanha eleitoral em direito comparativo: os modelos
norte-americano e francês...................................................................................23
3. O MODELO BRASILEIRO DE FINANCIAMENTO ELEITORAL......................27
3.1. Financiamento privado de campanha eleitoral no Brasil: redução da
corrupção ou falácia política?..............................................................................34
3.2. Minirreforma Eleitoral de 2017 e o financiamento de campanha..................40
3.3. O custo social do financiamento eleitoral público no modelo brasileiro e o
novo Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC)..........................46
CONCLUSÃO......................................................................................................49
REFERÊNCIAS....................................................................................................52
4
INTRODUÇÃO
5
com a nação, para a escolha de seus representantes. O ponto chave do trajeto
histórico está em compreender a participação social no processo eleitoral, bem
como os critérios permissivos ao voto, além da influência que o dinheiro exercia
sobre a capacidade política do cidadão.
6
1. FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
7
capaz de desvirtuar o certame eleitoral e, principalmente, o aspecto democrático e
representativo das eleições, uma vez que candidato eleito represente seu
financiador, em detrimento do eleitorado.
1
GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 413.
2
DELCASTILLO,P.;ZOVATTO,D. La financiación de la política em Iberoamérica. San José: IIDH, 1998. p.64-77.
8
grandes aportes públicos, cual es la estatalización, burocratización y
osificación de los partidos (es decir la dependencia económica
crónica de parte de estos de los recursos estatales y la consiguiente
pérdida de contacto con la sociedad), lo cual repercute en una
merma de su libertad, en su acomodación al status quo, y en su
alejamiento de la cambiante realidad social.
Em sua obra, Alice Kannan3 ressalta que não há relatos de experiências bem-
sucedidas em nenhum país, quanto a manutenção de um modelo de financiamento
exclusivamente público de campanha eleitoral. Tal percepção decorre da fragilidade
de um modelo que encontra, no limitado orçamento público, uma barreira ao
sustento das despesas partidas e da campanha eleitoral.
3
KANAAN, Alice. Financiamento público, privado e misto frente à reforma política eleitoral que propõe
o financiamento público exclusivo. In: RAMOS, André de Carvalho (coord.). Temas de direito eleitoral
no século XXI. Brasília: Escola Superior do Ministério Público, 2012, p. 271-313.
9
Em contrapartida, Zavatto4 aponta que, no sistema baseado exclusivamente no
financiamento privado, a ausência de um financiamento público pode levar a uma
influência (legal ou ilegal) desmesurada de certos sujeitos ou empresas sobre os
partidos que financiam, diante do desespero dos partidos e dos candidatos em
conseguir recursos financeiros, esta tendência se fortificaria porque as cotas
compostas por filados aos partidos não desempenha, hoje em dia, nenhum papel
significativo no financiamento dos partidos latino-americanos.
4
ZAVATTO, D. Financiamento dos partidos e campanhas eleitorais na América Latina: uma análise comparada.
OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, no 2, Outubro, 2005, p. 287-336.
5
GOMES, J. J. 2016. p. 413
10
Nesse caminho, fica evidente a deturpação das disputas eleitorais, as quais
servem para ludibriar os eleitores, que serão privados de benefícios políticos e
investimentos públicos sérios e de qualidade. O bem estar social entra em segundo
plano, diante das ilícitas contratações que não contribuem para a melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos, nem estimulam uma concorrência empresarial
salutar.
11
2. A PERSPECTIVA HISTÓRICA DAS ELEIÇÕES NO BRASIL
Foi um período em que o Rei não era detentor exclusivo do poder, dividindo-o
com diversos grupos, a fim de garantir um equilibro de poder e interesses. Em um
contexto como esse, a eleições existentes eram não universais, de sorte que não
era permitido a todos o direito de voto.
12
que bem e verdadeiramente escolhessem aos cargos do Conselho as pessoas que
mais pertencentes lhes parecessem” (Ordenações Filipinas, Livro I, Título LXVII). A
partir dai, começam os trabalhos na construção da lista dos candidatos escolhidos.
O trabalho era bastante manual e rudimentar. Os eleitores trabalhavam em
dupla, de modo que cada dupla deveria elaborar três listas, uma para vereadores,
outra para procuradores e a última para juízes, com os nomes daqueles que
deveriam ocupar os cargos, resultando, ao final, em nove listas. O objetivo final era
transformar as nove listas em apenas três, uma para cada cargo. Após formadas as
três listas, iniciava-se a fase do pelouro.
6
Interpretação formulada a partir da leitura da obra de Michel Foucault, A Verdade e as Formas Jurídicas.
13
2.1.2 Disputas no Império (1821 – 1882)
O último grau era o dos senadores, compostos por aqueles que dispusessem
de oitocentos mil réis. Era preciso que ser brasileiro, com mais de quarenta anos, e
de saber, capacidade e virtude, não havendo o requisito religioso existente para o
14
cargo de deputado. Importante frisar que algumas pessoas já estavam destinadas
ao cargo de senador, a exemplo dos Príncipes das Casa Imperial, os quais eram
investidos no cargo de senador a partir dos vinte e cinco anos completos.
15
direito político não era um direito natural e sua existência dependia de outorga pela
sociedade àqueles merecedores dele.
7
GOMES, Angela de Castro e ABREU, Martha. A nova “Velha” República: um pouco de história e historiografia.
Revista Tempo, n. 26, janeiro de 2009. Disponível em:
http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/v13n26a01.pdf. Acessado em: 25 de abril de 2012
16
O recém-nascido Código apresentava, portanto, a necessidade de moralizar o
processo eleitoral, combatendo as fraudes e caos que lhes eram inerentes durante o
período da República Velha. Um exemplo disso foi o voto, que servia como
instrumento mantenedor das elites oligárquicas no poder, e agora passaria por uma
reforma, devendo ser feito em segredo. Para assegurar o individualismo do voto,
instituiu-se o uso de envelope uniforme oficial, sem nenhum tipo de marcas
identificadoras, bem como o “gabinete indevassável”, o qual criava um espaço
isolado para o eleitor, no momento de preencher sua cédula.
8
CANÊDO, Letícia Bicalho apud KARAWEJCZYK, Mônica. Mulheres lutando por sua cidadania política - um
estudo de caso: Diva Nolf Nazário e sua tentativa de alistamento em 1922. X ENCONTRO ESTADUAL DE
HISTÓRIA. O Brasil no Sul: cruzando fronteiras entre o regional e o nacional. 26 a30 de julho de 2010. Santa
Maria – RS. Universidade Federal de Santa Maria. Disponível em: http://www.eeh2010.anpuh-
rs.org.br/resources/anais/9/1279290254_ARQUIVO_MK- Mulhereslutandoporsuacidadaniapolitica.pdf. Acessado
em 30 de abril de 2012.
17
Além do voto feminino, o Código Eleitoral de 1932 trouxe importantes
inovações capazes de romper com a estrutura anterior. Foi a criada Justiça Eleitoral,
como órgão judicial especializado, responsável por todo o processo eleitoral, desde
o alistamento até a proclamação dos eleitos. Houve a organização dos órgãos
constituintes da Justiça Eleitoral (Tribunal Superior, Tribunais Regionais e Juízes
Eleitorais), bem como a regulamentação sancionatória para as fraudes eleitorais.
Estabeleceu-se, ainda, o sufrágio universal direto e o sistema de representação
proporcional misto.
18
Em termos inovadores, Código Eleitoral de 1945 trouxe a obrigatoriedade de
filiação partidária por parte dos candidatos, além de ampliar novamente o espectro
eleitoral, ao reduzir a idade mínima de 21 para 18 anos. A promulgação da
Constituição de 1946 veio ratificar a Justiça Eleitoral como órgão do Poder Judiciário
e vedou que um mesmo candidato concorresse por mais de um Estado. Em 1950,
foi elaborado um novo Código Eleitoral, que durou até 1964. Entre os pontos de
destaque, estabeleceu o alistamento obrigatório para todos cidadão maior de 18
anos.
19
Os Atos Institucionais, instrumentos usados para garantir certo aspecto
legítimo-legal aos atos praticados pelo governo, tiveram influencia direta no sistema
eleitoral, uma vez que eles determinavam se haveriam ou não eleições no país.
Assim, o Poder Executivo ganhou poder de sobremaneira a suplantar os demais,
podendo inclusive decretar o recesso parlamentar, como aconteceu
corriqueiramente.
20
maneira de expressar as ideias e projetos que cada candidato possui, além de criar
um ambiente capaz de confrontá-los com os anseios da sociedade.
9
AGRA, Walber de Moura. Financiamento eleitoral no Brasil. Disponível em:
<https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/150/edicao-1/financiamento-eleitoral-no-brasil> Acesso em:
02.08.2017
21
responsável pela emissão, constituindo-se como um dos
partidos mais importantes.
22
2.2 Financiamento de campanha eleitoral em direito comparativo: os modelos
norte-americano e francês
10
Carta Capital. Disponível em : <https://www.cartacapital.com.br/politica/o-financiamento-publico-de-
campanhas-pelo-mundo>. Acesso em 10.09.2017
23
Existem três caminhos mais comuns para a doação nos EUA. O primeiro deles
envolve as Contribuições. As Contribuições são classificadas como tudo aquilo que
tenha valor e tenha o propósito de influenciar as eleições. Desse modo, consideram-
se Contribuições as doações de dinheiro, bens e/ou serviços, incluindo descontos
que fujam da rota normal dos negócios. As contribuições estão sujeitas aos limites
estabelecidos pelo FEC, quanto à fonte e ao volume doado, sendo indispensável a
transparência pública dos mesmos.
Recipient
Party Additional
Party
Candidate PAC† (SSF and committee: national party
committee:
committee nonconnected) state/district/lo committee
national
cal accounts‡
$10,000 per
$2,700* per $33,900* $101,700* per
Individual $5,000 per year year
election per year account, per year
(combined)
$2,000 per Unlimited Unlimited
Candidate committee $5,000 per year
election transfers transfers
$5,000 per $5,000 per year $15,000 per $45,000 per
PAC: multicandidate $5,000 per year
election (combined) year account, per year
Donor
$10,000 per
$2,700* per $33,900* $101,700* per
PAC: nonmulticandidate $5,000 per year year
election per year account, per year
(combined)
$5,000 per Unlimited Unlimited
Party committee: state/district/local $5,000 per year
election transfers transfers
$5,000 per Unlimited Unlimited
Party committee: national $5,000 per year
election** transfers transfers
* Indexed for inflation in odd-numbered years.
Fonte: Federal Election Comission. < https://www.fec.gov/help-candidates-and-committees/candidate-taking-
receipts/contribution-limits-candidates/ > Acesso em 11/08/2017
Se um particular doar mais de U$200 por ano, o FEC irá tornar seus dados
(nome, endereço, ocupação e empregador) públicos. A legislação proíbe a
contribuição de algumas figuras, como as corporações e organizações de trabalhos,
empresas contratantes com o Governo Federal dos EUA, além de Nações
Estrangeiras.
24
externa, quanto à soberania dos EUA. Por fim, é proibida a realização de
contribuição em nome de terceiros, como também o reembolso de contribuições.
Por fim, o terceiro está relacionado às Atividades Voluntárias, sobre as quais a lei
permite que agentes individuais realizem serviços voluntários a candidatos e
partidos políticos, nas campanhas federais, sem que isso represente uma
Contribuição. Nesse aspecto, encontram-se as atividades de serviço pessoal, desde
que não haja nenhum tipo de contraprestação pelo serviço; de recepção de evento
em casa, desde que estes respeitem o limite de gasto de U$1.000 em comidas,
bebidas e convites; e de uso de instalações corporativas e sindicais, desde que não
haja interferência no trabalho do agente individual ou da Organização e não
superem a duração de uma hora semanal, ou de quatro horas mensais.
25
apresenta uma adaptação peculiar de financiamento. O perfil público adota é
basicamente realizado por meio de reembolso de valores, após o termino da
campanha.
11
Art. L-52-11, do Capítulo V do Código Eleitoral:
(Loi nº 90-55 du 15 janvier 1990 art. 1 Journal Officiel du 16 janvier 1990 en vigueur le 1er septembre 1990)
(Loi nº 91-428 du 13 mai 1991 art. 9 Journal Officiel du 14 mai 1991)
(Loi nº 93-122 du 29 janvier 1993 art. 9 Journal Officiel du 30 janvier 1993)
(Loi nº 95-65 du 19 janvier 1995 art. 5 Journal Officiel du 21 janvier 1995)
(Ordonnance nº 2000-916 du 19 septembre 2000 annexe Journal Officiel du 22 septembre 2000 en vigueur le 1er
janvier 2002)
Pour les élections auxquelles l'article L. 52-4 est applicable, il est institué un plafond des dépenses électorales,
autres que les dépenses de propagande directement prises en charge par l'Etat, exposées par chaque candidat
ou chaque liste de candidats, ou pour leur compte, au cours de la période mentionnée au même article.
(···)
Le plafond des dépenses pour l'élection des députés est de 38 000 euros par candidat. Il est majoré de 0,15 euro
par habitant de la circonscription.[6]
(···)
Ces plafonds sont actualisés tous les trois ans par décret, en fonction de l'indice du coût de la vie de l'Institut
national de la statistique et des études économiques.
26
econômico sobre o resultado dos certames eleitorais, a fim de assegurar a fiel
representatividade democrática do resultado eleitoral.
12
Segundo o art. L-52-8 do Capítulo V do Código Eleitoral:
(Loi nº 90-55 du 15 janvier 1990 art. 1 Journal Officiel du 16 janvier 1990 en vigueur le 1er septembre 1990)
(Loi nº 93-122 du 29 janvier 1993 art. 9 I Journal Officiel du 30 janvier 1993)
(Loi nº 95-65 du 19 janvier 1995 art. 4 I II III Journal Officiel du 21 janvier 1995)
(Ordonnance nº 2000-916 du 19 septembre 2000 annexe II Journal Officiel du 22 septembre 2000 en vigueur le
1er janvier 2002)
(Loi nº 2005-1719 du 30 décembre 2005 art. 5 II finances pour 2006 Journal Officiel du 31 décembre 2005)
Les dons consentis par une personne physique dûment identifiée pour le financement de la campagne d'un ou
plusieurs candidats lors des mêmes élections ne peuvent excéder 4 600 euros.
Les personnes morales, à l'exception des partis ou groupements politiques, ne peuvent participer au financement
de la campagne électorale d'un candidat, ni en lui consentant des dons sous quelque forme que ce soit, ni en lui
fournissant des biens, services ou autres avantages directs ou indirects à des prix inférieurs à ceux qui sont
habituellement pratiqués.
Tout don de plus de 150 euros consenti à un candidat en vue de sa campagne doit être versé par chèque,
virement, prélèvement automatique ou carte bancaire.
Le montant global des dons en espèces faits au candidat ne peut excéder 20 % du montant des dépenses
autorisées lorsque ce montant est égal ou supérieur à 15 000 euros en application de l'article L. 52-11.
Aucun candidat ne peut recevoir, directement ou indirectement, pour quelque dépense que ce soit, des
contributions ou aides matérielles d'un Etat étranger ou d'une personne morale de droit étranger.
Par dérogation au premier alinéa de l'article L. 52-1, les candidats ou les listes de candidats peuvent recourir à la
publicité par voie de presse pour solliciter les dons autorisés par le présent article. La publicité ne peut contenir
d'autres mentions que celles propres à permettre le versement du don.
27
ao dispor que os partidos políticos possuíam direito aos recursos do fundo partidário,
no entanto tal recursos não era suficiente sequer para manutenção estrutural básica
das agremiações. Em contrapartida, conforme apontado na primeira parte deste
trabalho, o financiamento privado torna sobressalente o poderio econômico,
fomentando a desigualdade nos disputas eleitorais.
13
ÚLTIMO SEGUNDO. <http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2017-10-08/eleicoes-reforma-
politica.html> Acesso em 26/10/2017.
28
48% entre partidos na proporção do número de deputados na Câmara em
28 de agosto de 2017;
15% entre os partidos na proporção do número de senadores em 28 de
agosto de 2017.
29
V - entidade de utilidade pública;
IX - entidades esportivas;
XII - (VETADO).
§ 2o (VETADO).
§ 3o (VETADO).
30
no entanto a regra não se aplica às hipóteses de doação estimável em dinheiro
relativas à utilização de bens móveis e imóveis do doador, desde que não
ultrapassem o montante de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).
I - (revogado);
II - (revogado).
31
III - mecanismo disponível em sítio do candidato, partido ou coligação
na internet, permitindo inclusive o uso de cartão de crédito, e que
deverá atender aos seguintes requisitos:
a) identificação do doador;
32
g) observância do calendário eleitoral, especialmente no que diz
respeito ao início do período de arrecadação financeira, nos termos
dispostos no § 2o do art. 22-A desta Lei; (Incluído pela
Lei nº 13.488, de 2017)
33
(quarenta mil reais) por doador. (Redação dada pela
Lei nº 13.488, de 2017)
A disputa presidencial de 2014 entrou para a história brasileira, como uma das
Candidatos
Cargo Receitas
Todos Eleitos Distribuição de receitas por cargo
Vices e suplentes de
0 0 R$ 0,00
senador
Presidente 11 1 R$ 880.309.718,12
De acordo com David Samuels16, existem três fatores que tornam caras as
eleições no Brasil. Em primeiro lugar, destaca-se o sistema eleitoral proporcional de
lista aberta, que estimula os candidatos a traçarem estratégias individualistas, já que
estão competindo com todos os demais candidatos, inclusive os da mesma legenda.
14
FALCÃO, Joaquim (Org.). Reforma eleitoral no Brasil: legislação, democracia e internet em debate.
1. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015, p.101.
15
LETERME, Yves. Funding of political parties and election campaigns: a handbook on political
finance. International Institute for Democracy and Electoral Assistance, 2014, p. V. Disponível em:
<https://www.idea.int/sites/default/files/publications/funding-of-political-parties-and-election-
campaigns.pdf> Acesso em 20/10/2017.
16
SAMUELS, David. Financiamento de campanha e eleições no Brasil. In: BENEVIDES, Maria
Victoria; VANNUCHI, Paulo; KERCHE, Fábio (Orgs.). Reforma política e cidadania. São Paulo:
Instituto da Cidadania, 2003, p.370.
35
à legenda no sistema proporcional, bem como fortalecer a base na disputa do
Executivo.
36
Doadores (pessoas físicas e empresas) a comitês e diretórios -2014
Nome CGC Doações
Jbs S/A 02.916.265/0001-60 R$ 374.015.418,53
Construtora Andrade Gutierrez SA 17.262.213/0001-94 R$ 111.048.100,00
Construtora OAS S.A. 14.310.577/0001-04 R$ 91.819.244,00
Construtora Queiroz Galvao S A 33.412.792/0001-60 R$ 91.310.193,60
Construtora Norberto Odebrecht S A 15.102.288/0001-82 R$ 59.279.000,00
U T C Engenharia S/A 44.023.661/0001-08 R$ 48.141.671,00
Arcelormittal Brasil S.A. 17.469.701/0001-77 R$ 41.919.847,85
Crbs S/A 56.228.356/0001-31 R$ 39.846.841,96
Cervejaria Petropolis S/A 73.410.326/0001-60 R$ 36.661.484,12
Amil Assistencia Medica Internacional S.A. 29.309.127/0001-79 R$ 35.768.851,96
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Projeto Às Claras. Disponível em <
http://www.asclaras.org.br/@index.php?ano=2014 >. Acesso em 07/08/2017
(...)
17
LETERME, Yves. Funding of political parties and election campaigns: a handbook on political
finance. International Institute for Democracy and Electoral Assistance, 2014, p. III-IV. Disponível em:
<https://www.idea.int/sites/default/files/publications/funding-of-political-parties-and-election-
campaigns.pdf> Acesso em 20/10/2017.
37
observar a correspondência entre a atuação politica e as expectativas dos eleitores.
Isso porque a capacidade econômica tem uma relação direta com o sucesso na
campanha eleitoral, fato constatado em todos os estados e em relação a todos os
cargos:
Receita arrecada por Partido Político -2014
Candidatos Votos Receitas* Receitas/Votos
Partidos
Todos Eleitos Todos Eleitos Todos Eleitos Todos Eleitos
* No caso de cargos majoritários são incluídas receitas de comitês e diretórios de coligações, descontadas de doações que tenham
realizado. Não se incluem R$ -2.277.908,16 referentes a doações feitas a comitês de cargos proporcionais e a comitês de
majoritários não associados a coligações.
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Projeto Às Claras. Disponível em <
http://www.asclaras.org.br/@index.php?ano=2014 >. Acesso em 07/08/2017
38
Nesse sentido, a pesquisa produzida pelo Kellogg Institute for International
Studies18 indicou uma relação de lucro exacerbado entre as empresas doadoras em
campanhas eleitorais, que chegava a um retorno de 850% do valor doado. Tal
retorno efetiva-se por meio de contrato celebrados com o Poder Público, sugerindo
que existam, em alguns casos, arranjos ilegais para contratações. Seria, portanto,
esse o ciclo de conveniência da relação entre doadores e candidatos.
A proibição das doações por pessoas jurídicas foi pleito da Ação Direta de
Inconstitucionalidade 4.650, proposta pela OAB e julgada em 2015. Em seu voto, o
ministro Marco Aurélio de Mello afirmou que19:
18
BOAS, Taylor C.; HIDALGO, Daniel F.; RICHARDSON, Neal P. Spoils of victory: campaign
donations and government contracts in Brazil. The Helen Kellog Institute for International Studies.
Working paper # 329. Ago., 2011
19
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=308746530&tipoApp=.pdf> Acessado
em: 21/10/2017
39
monopólio financeiro das empresas e grandes corporações sobre as
eleições e alcançar-se a equidade do processo eleitoral exigida pela
Constituição de 1988.
20
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=300015> Acessado em
21/10/2017.
21
FALCÃO, Joaquim (Org.). Reforma eleitoral no Brasil: legislação, democracia e internet em debate.
1. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015, p.111.
40
Art. 16-C. O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC)
é constituído por dotações orçamentárias da União em ano eleitoral,
em valor ao menos equivalente: (Incluído pela Lei nº
13.487, de 2017)
41
§ 11. Os recursos provenientes do Fundo Especial de
Financiamento de Campanha que não forem utilizados nas
campanhas eleitorais deverão ser devolvidos ao Tesouro Nacional,
integralmente, no momento da apresentação da respectiva prestação
de contas. (Incluído pela Lei nº 13.487, de 2017)
42
§ 1o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.488, de 2017)
Outro ponto importante diz respeito aos limites de gastos com campanhas
eleitorais. Os limites que anteriormente eram definidos pelo TSE, com base em
parâmetros legais, agora serão definidos por Lei, cabendo ao TSE apenas a
divulgação dos mesmos.
III - nas unidades da Federação com mais de dois milhões de eleitores e de até
quatro milhões de eleitores: R$ 5,6 milhões;
43
IV - nas unidades da Federação com mais de quatro milhões de eleitores e de
até dez milhões de eleitores: R$ 9,1 milhões;
Por fim, para as disputas dos cargos de Deputados, o limite em 2018 será de
R$ 2,5 milhões, para as campanhas dos candidatos à Deputado Federal; e de R$ 1
milhão para as campanhas à Deputado Estadual e Distrital.
44
Outra forma de arrecadar recursos para as campanhas é a chamada
Crowdfunding, como possibilidade de candidatos e partidos políticos angariarem
recursos por meio “vaquinhas virtuais”, através de páginas na internet. Tem-se,
portanto, uma forma de financiamento coletivo para as campanhas eleitorais, que
antes não era permitido.
45
3.3. O custo social do financiamento eleitoral público no modelo brasileiro e o
novo Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC).
22
BOAS, Taylor C.; HIDALGO, Daniel F.; RICHARDSON, Neal P. Spoils of victory: campaign
donations and government contracts in Brazil. The Helen Kellog Institute for International Studies.
Working paper # 329. Ago., 2011
23
BBC. Entenda o novo fundo público para campanhas eleitorais aprovado na câmara. Disponível em: <
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41507850 > Acesso em 21/10/2017.
46
emissoras de rádio e televisão, serão extintos e direcionados ao novo Fundo. Nesse
sentido, estima-se que o valor do FEFC para 2018 fique em torno de R$ 1,7 bilhão.
Além do FEFC, o governo reservou quase R$ 900 milhões25 para o atual fundo
partidário, aquele previsto na Constituição Federal. O aumento do fundo partidário
foi de 8,5%, em um período que a inflação não chegou a 3%. Esse aumento
representa um montante de R$ 45 milhões, acima do teto de gasto, o que aponta
para uma necessidade de redirecionar o dinheiro de outras áreas, para suprir o
fundo.
24
ESTADÃO. Rosa Weber será relatora de Ação do PSL contra fundo eleitoral bilionário. Disponível em: <
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,psl-entra-com-acao-no-stf-contra-fundo-eleitoral-
bilionario,70002050005 > Acesso em 21/10/2017
25
JORNAL NACIONAL. Governo reserva quase R$ 900 milhões para fundo partidário. Disponível em:
<http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/09/governo-reserva-quase-r-900-milhoes-para-fundo-
partidario.html> Acesso em: 21/10/2017
47
Outro setor fortemente afetado foi o de estradas e rodagem, já que o DNIT
sofreu um corte de 50% no orçamento, deixando uma previsão de R$ 9,7 bilhões
para R$ 4,8 bilhões.
48
CONCLUSÃO
49
função de dever social. Nesse sentido, deveria ser exercido pelos membros que a
sociedade julgava capaz, excluindo os pobres, as mulheres, os menores de 21 anos
e os representantes do clero.
50
de 2017, ficou nítida a relação simbiótica que existia entre as doações empresariais
e os candidatos. Após a proibição das doações de empresas, os setor político traçou
manobras para recuperar as lacunas deixadas pela falta de “investimento” privado.
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REFERÊNCIAS
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campaign donations and government contracts in Brazil. The Helen Kellog
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