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O ATUAL MODELO DE FINANCIAMENTO DAS CAMPANHAS E DAS

PRESTAÇÕES DE CONTAS ELEITORAIS NO BRASIL

THE CURRENT MODEL OF FINANCING OF THE CAMPAIGNS AND THE


PROVISIONS OF ELECTORAL ACCOUNTS IN BRAZIL

Elmana Viana Lucena Esmeraldo

Sumário
1 Introdução
2 Atual modelo de financimento das Campanhas Eleitorais
3 Principais regras relativas à Movimentação de Recursos na Campanha
3.1 Arrecadação de Recursos para a Campanha
3.2 Gastos Eleitorais
4. Atual Modelo de Prestação de Contas Eleitorais
5. Reforma Eleitoral de 2017
6. Conclusão

RESUMO

Adota-se, no Brasil, o sistema misto de financiamento das campanhas eleitorais, com


recursos provenientes de fundos públicos e de fontes privadas. Dispomos de uma legislação
que regulamenta amiúde a movimentação dos recursos por candidatos e partidos políticos e
um regime de sanções aplicáveis no caso de descumprimento. No que tange às prestações de
contas eleitorais, o sistema privilegia a publicidade e a transparência, objetivando permitir o
acompanhamento e controle por parte da Justiça Eleitoral e dos eleitores e um extenso
regramento que impõe a obrigação de prestar informações detalhadas da movimentação de
recursos e a apresentação dos documentos correlatos. Apesar da legislação avançada sobre o
tema, vivencia-se uma instabilidade do sistema, ante a ausência de políticas institucionais que
promovam o efetivo controle das contas e da deficiente estrutura organizacional dos órgãos de
controle, a exigir uma reforma do sistema partidário-eleitoral com a reestruturação e
fortalecimento das instituições de fiscalização.

1
Palavras-chave: Financiamento de Campanha. Prestação de Contas Eleitorais.
Movimentação de recursos na campanha. Eleições. Reforma eleitoral.

ABSTRACT

In Brazil, the mixed system of financing electoral campaigns is used, with funds from
public funds and from private sources. We have legislation that often regulates the movement
of resources by candidates and political parties and a system of penalties applicable in case of
non-compliance. With regard to the provision of electoral accounts, the system favors
publicity and transparency, aiming to allow monitoring and control by the Electoral Court and
voters, and an extensive regulation imposing the obligation to provide detailed information on
the movement of resources and related documents. In spite of the advanced legislation on the
subject, there is an instability of the system, in the absence of institutional policies that
promote the effective control of the accounts and the deficient organizational structure of the
control organs to demand a reform of the party-electoral system and in the restructuring and
strengthening of supervisory institutions.

Keywords: Campaign Funding. Provision of Electoral Accounts. Movement of resources in


the campaign. Elections. Electoral reform.

1 Introdução
Diante da histórica e forte correlação entre o dinheiro e o sucesso eleitoral, o
financiamento das campanhas e as correlatas prestações de contas têm sido tema de destaque
nos últimos anos e um dos principais alvos das discussões legislativas dentro da tão almejada
reforma política.
Afere-se que uma das razões mais importantes para regulamentar as contas eleitorais,
mormente no tocante às regras de autonomia e transparência, funda-se no empoderamento dos
eleitores, na necessidade de se colocar à disposição dos cidadãos as informações necessárias
sobre a movimentação financeira dos concorrentes ao prélio para que tenham subsídios
necessários a tomar uma decisão fundamentada no dia das eleições. Assim, a divulgação de
informações e a prestação de contas tornam-se, por consectário, dois dos recursos mais
eficazes para controlar os movimentos financeiros dos partidos e candidatos e para amainar os
excessos no financiamento das campanhas e a influência do dinheiro no exercício da
democracia.

2
Como observa Ferreira (2004, p. 77-106), o desafio nessa questão é criar os meios
para que a relação entre dinheiro e política seja cada vez mais transparente e possibilite ao
cidadão o exercício do voto informado, ao mesmo tempo em que estimule os partidos a
exercer um controle recíproco para ajustar sua conduta às normas existentes e às expectativas
da cidadania.
O tema ganha maior relevo ante as importantes alterações promovidas pela reforma
eleitoral de 2015, implementada pela Lei nº 13.165/2015, dentre as quais destacamos a
fixação dos limites de gastos em lei, o fim do financiamento das campanhas por pessoas
jurídicas e a redução do período de propaganda eleitoral.
Somam-se a essas mudanças, as novas exigências relacionadas à prestação de
informações relativas à arrecadação de recursos financeiros no prazo de 72 horas da sua
efetivação, acrescida à obrigação de apresentar prestação de contas parcial no curso da
campanha, medidas que permitem um acompanhamento pari passo pela Justiça Eleitoral e
pelos eleitores em geral, durante o processo.
Nessa toada também merecem destaque as alterações promovidas pela atual reforma
política implementada pelas Leis nº 13.487/17 e nº 13.488/17, onde se destacam a
implementação de recursos públicos para o financiamento das campanhas, a fixação de limites
de gastos e a implementação do financiamento coletivo.
Dentro desse contexto, o presente artigo explana, de forma suscinta e objetiva, o atual
modelo de financiamento eleitoral adotado no Brasil, as principais regras relativas à
arrecadação e à realização de gastos na campanha e todo o procedimento de elaboração,
análise e julgamento das prestações de contas eleitorais, pontuando as principais e recentes
inovações legislativas dentro do tema.

2 O Atual Modelo de Financiamento das Campanhas Eleitorais


Conceitualmente, tem-se por financiamento de campanha eleitoral, os recursos
financeiros em dinheiro ou estimáveis em dinheiro arrecadados por partidos políticos e
candidatos com o objetivo de aplicar nas campanhas eleitorais.
No Brasil, adota-se o sistema misto de financiamento das campanhas 1, com recursos
provenienetes de fontes públicas, em especial do fundo partidário e do novel Fundo Especial
1
Tradicionalmente, o financiamento das campanhas eleitorais no Brasil era predominantemente privado, pois
permitido que os partidos políticos e candidatos, dentro de certos limites, recebessem contribuições de
particulares (de pessoas físicas e de pessoas jurídicas). Existiam limitações de duas ordens: a) objetiva: as
pessoas físicas e jurídicas somente poderiam contribuir até um determinado limite (teto financeiro de doação, de
acordo com a renda auferida no anterior à eleição); b) subjetiva: as pessoas jurídicas de direito público, bem
como certas pessoas jurídicas de direito privado, não poderiam financiar campanhas eleitorais.

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de Financiamento de Campanhas (FEFC), e de fontes privadas, oriundos de doações de
pessoas físicas e de outros candidatos e partidos politicos, além da utilização de recursos
próprios dos candidatos e os obtidos por meio da comercialização de bens ou da realização de
eventos com o fim próprio de aplicação nas campanhas.
Após ampla discussão doutrinária e jurisprudencial, afastou-se, nas eleições
municipais de 2016, por decisão do STF proferida nos autos da ADI nº 4650/DF em
17/09/2015, ratificada pela Lei nº 13.165/2015, o financiamento por pessoas jurídicas.
A análise dessa medida dividiu os juristas, encontrando apoio em alguns e
discordância de outros. De um lado defende-se, em suma, que a permissão de doações a
campanhas eleitorais por pessoas jurídicas protege de forma insuficiente os princípios da
isonomia, democrático e republicano. Do lado oposto, alega-se que as doações por pessoas
jurídicas não consubstanciam fator de desequilíbrio na disputa eleitoral, quando respeitados os
limites máximos previstos na anterior legislação.
Certo é que essa medida jungida às outras novidades implementadas pela reforma
eleitoral de 2015 tiveram o potencial de reduzir os gastos das campanhas eleitorais quando
comparados a pleitos anteriores. Segundo o TSE, nas eleições de 2016, os candidatos
gastaram cerca de 3 bilhões de reais, o que importa uma redução de cerca de 50% em relação
aos gastos verificados quatro anos antes, que foram da ordem de 6 bilhões de reais, corrigidos
pela inflação.
Com a proibição das doações por pessoas jurídicas que eram as principais
financiadoras das campanhas pretéritas e visando garantir a existência de recursos suficientes
para o custeio das campanhas vindouras, a Lei nº 13.487/17 criou o Fundo Especial de
Financiamento de Campanhas, fundo constituído de recursos públicos a serem destinados às
campanhas dos candidatos que será mais bem analisado ao comentarmos as novas regras
implementadas pela reforma eleitoral de 2017.

3 Principais regras relativas à Movimentação de Recursos na Campanha


Dentro do tema do financiamento das campanhas e das correlatas prestações de contas
eleitorais, destacam-se as exigências legais impostas aos candidatos e partidos politicos na
arrecadação de recursos e realização de gastos.

3.1 Arrecadação de Recursos para a Campanha


Preliminarmente, cabe registrar que qualquer arrecadação de recursos, financeiros ou
estimáveis em dinheiro, somente pode ocorrer após o requerimento do registro de candidatura,

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emissão do CNPJ, abertura de conta bancária específica de campanha e a emissão de recibos
eleitorais.
Os recursos utilizados podem ser provenientes do próprio candidato ou ainda de
doações de pessoas físicas e de outros candidatos e partidos politicos, além dos recursos
públicos.
Estão proibidos de realizar doações diretas ou indiretas, seja de recursos financeiros ou
de bens estimados em dinheiro, as pessoas jurídicas, as pessoas físicas que exerçam atividade
comercial decorrente de concessão ou permissão pública e as entidades estrangeiras. O
recurso oriundo dessas fontes vedadas não pode ser utilizado ou aplicado na campanha,
devendo ser devolvido ao doador imediatamente, se possível a sua identificação, com o
cancelamento do recibo eleitoral emitido. Vale mencionar, ainda, que a transferência desse
recurso para outros candidatos ou diretórios partidários não isenta os donatários dessa
obrigação. Assim, ainda que o candidato ou partido que recebe o recurso de fonte vedada
transfira o valor para outro candidato ou partido politico, mantém sua responsabilidade pela
devolução. Não obstante, o beneficiário da transferência responderá solidariamente pela
irregularidade, sendo as consequências aferidas por ocasião do julgamento das respectivas
contas.
Nos termos da legislação eleitoral, é também vedada a utilização de recursos de
origem não identificada (RONI), pelo CPF (doações feitas por pessoas físicas) ou CNPJ
(doações feitas por outros candidatos ou partidos politicos) do respectivo doador. Esses
recursos também devem ser devolvidos ao doador, se possível for sua identificação, ou
transferidos ao Tesouro Nacional por meio de Guia de Recolhimento da União (GRU). Se
esse recolhimento for efetuado de forma espontânea e imediata pelo candidato ou partido
beneficiário não incidirão juros e atualização monetária. Lado outro, se recolhido somente
após determinação judicial na prestação de contas ou mediante cobrança promovida pela
AGU, incidirão atualização monetária e juros moratórios calculados com base na taxa
aplicável aos créditos da Fazenda Pública, desde a data em que o valor foi creditado na conta,
até a data do efetivo recolhimento, salvo disposição diversa na decisão judicial. Devolvido o
recurso ao doador ou recolhido ao tesouro nacional, deve-se cancelar o recibo já emitido,
especificando a operação em nota explicativa no momento da apresentação da prestação de
contas.
As doações de recursos para a campanha podem ser feitas em recursos financeiros ou
ainda, em bens ou serviços estimáveis em dinheiro.

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As doações em dinheiro de valor inferior a R$ 1.064,10 (um mil e sesseta e quarto
reais e dez centavos) podem ser efetivadas por meio de cheques cruzados e nominais,
transferências bancárias, depósitos em espécie devidamente identificados com o CPF ou
CNPJ do doador, boleto de cobrança com registro (doação pela internet) ou por cartão de
crédito ou de débito; já as doações de valor superior somente podem ser realizadas por meio
de transferência eletrônica entre as contas bancárias do doador e do beneficiário da doação.
Qualquer doação de recursos financeiros somente poderá ser efetuada na conta
bancária aberta especificamente para a campanha eleitoral, com exceção dos recursos do
fundo partidário aplicados nas campanhas, cuja movimentação deve ser feita na conta
específica para a movimentação de recursos oriundos do fundo partidário, estabelecida no art.
43 da Lei nº 9.096/95.
O candidato também poderá utilizar os próprios bens na sua campanha, desde que
integrem o seu patrimônio antes do pedido de registro de candidatura. Pode, ainda, doar
recursos financeiros para a sua campanha, respeitando o limite de gastos estabelecido por lei
para o cargo em disputa. Deve observar, entretanto, que esses recursos somente poderão ser
utilizados após o requerimento do registro de candidatura, emissão do CNPJ, abertura de
conta bancária específica de campanha e emissão dos recibos eleitorais. Ademais, o candidato
também deve se valer dos meios legais citados algures, ou seja, cheque, transferência bancária
ou depósito identificado com seu CPF e emitir o recibo eleitoral correspondente para fazer o
dinheiro ingressar na sua campanha.
O candidato ou partido politico pode, ainda, aplicar na campanha recursos obtidos
mediante empréstimos pessoais, desde que contratados em instituições financeiras ou
equiparadas, autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil2. Tratando-se de candidato,

2
Recentemente, em decisão publicada no DJE de 24.2.2017, o TSE considerou lícito a empréstimo obtido junto
a terceiro, desde que observadas as prescrições legais: Recurso Ordinário no 2622-47/TO
Relatora: Ministra Luciana LóssioEmenta: ELEIÇÕES 2010. RECURSO ORDINÁRIO. REPRESENTAÇÃO.
ART. 30-A DA LEI No 9.504/97. CAPTAÇÃO OU GASTO ILÍCITO DE RECURSOS FINANCEIROS DE
CAMPANHA. DEPUTADO ESTADUAL. CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO JUNTO A PESSOA
FÍSICA. LICITUDE. AUSÊNCIA DE NORMA PROIBITIVA EXPRESSA. IMPROCEDÊNCIA NO TRE.
DESPROVIMENTO.
1. A Res.-TSE no 23.217/2011, que dispõe sobre a arrecadação e gastos de recursos de campanha, bem como
sobre a respectiva prestação de contas, não veda a possibilidade de a pessoa física do candidato contrair
empréstimo junto a terceiro, objetivando, a título de recursos próprios, promover aporte ao seu caixa de
campanha, desde que observados os demais ditames legais incidentes.
2. A representação do art. 30-A da Lei no 9.504/97 exige, para a sua procedência, além do juízo de
proporcionalidade na xação da pena, que os recursos ou gastos de campanha sejam ilícitos. 3. Recurso ordinário
ao qual se nega provimento.”

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exige-se que o empréstimo esteja caucionado por bem que integre o seu patrinônio no
momento do registro de candidatura, ou que ultrapasse a capacidade de pagamento decorrente
dos rendimentos de sua atividade econômica. Aplicado o recurso obtido por meio de
empréstimos, o candidato ou partido deve comprovar à Justiça Eleitoral a sua formalização
por meio de documentação legal e idônea, assim como os pagamentos que se realizarem até o
momento da entrega da sua prestação de contas. Além disso, o Juiz Eleitoral ou o Relator nos
Tribunais podem determinar que o candidato ou partido comprove o pagamento do
empréstimo contraído e identifique a origem dos recursos utilizados para quitação.
Os recursos de campanha podem também ter origem em repasses efetuados por
partidos politicos a candidatos ou outros partidos. Esses valores não entram na campanha dos
donatários como doação, mas sob a rubrica “transferência dos partidos”. Não obstante, devem
ser sempre identificadas pelo CPF/CNPJ do doador originário. No ato do repasse, o partido
vai ter que informar quem doou aquele valor para a agremiação. Com essa informação será
possível verificar se a doação ao partido, repassada para a campanha, infringiu alguma regra
legal, a exemplo de doações feitas ao partido por pessoas jurídicas em anos anteriores, antes
da vedação, ou se a doação feita ao partido extrapolou o limite legal imposto às doações
efetuadas por pessoas físicas de 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos auferidos no ano
anterior ao pleito.
Ainda na busca de colmatar a influência do poder econômico nas campanhas são
impostos limites aos valores de doações realizadas por pessoas físicas. Tratando-se de
recursos financeiros, esse limite é de 10% (dez por cento) dos recursos brutos auferidos no
ano anterior ao pleito, sob pena de imposição de multa ao doador infrator e de consequências
ao donatário. O cruzamento de dados ocorre com a Receita Federal que confronta a
declaração de imposto de renda com o valor da doação realizada. Nos termos da
jurisprudência, no caso de pessoa isenta do recolhimento desse imposto, o limite de 10% (dez
por cento) será calculado com base no valor teto para a isenção.
Inobstante esse limite seja inaplicável à utilização de recursos próprios dos candidatos,
faz-se imprescindível atentar para possíveis manobras aos regramentos legais, mormente ao
recebimento de recursos de pessoas qualificadas como “laranjas”, que ingressam nas
campanhas como se fossem recursos próprios.
Tratando-se de doações estimáveis em dinheiro relativas à utilização de bens móveis
ou imóveis de propriedade do doador e à prestação de serviços próprios, aplica-se o limite de

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R$ 40.000 (quarenta mil reais), apurados conforme o valor de mercado3. Nesses casos, o
doador deve demonstrar que é proprietário do bem ou que é o responsável direto pela
prestação de serviços. Essa regra não é aplicável aos partidos e outros candidatos que podem
doar entre si bens próprios ou serviços estimáveis em dinheiro, ou ceder seu uso, ainda que
não constituam produto de seus próprios serviços ou de suas atividades. Cabe ressalvar, ainda,
que, tratando-se de serviços prestados de forma voluntária em favor de algum candidato, não
há regramento legal que limite o seu valor estimado, por tartar-se de engajamento político e
não de doação.
Instituída pela Lei nº 12.034/2009 e regulamentada pela Resolução do TSE nº
23.216/2010, admite-se também as doações de recursos financeiros pela internet. Essa
modalidade de doação pode ser utilizada tanto pelas pessoas físicas como pelos candidatos e
partidos políticos e está sujeita ao mesmo limite estabelecido para as doações em dinheiro.
Ficam proibidas as doações por meio de cartão de crédito emitido no exterior, corporativo ou
empresarial, inclusive os cartões de pagamento utilizados por empresas privadas e por órgãos
da administração pública direta e indireta de todas as esferas de governo.
Como termo final do período de arrecadação, tem-se que os candidatos e partidos
políticos somente poderão arrecadar recursos e contrair obrigações até o dia da eleição.
Excepcionalmente, permite-se a arrecadação de recursos após o pleito, exclusivamente para a
quitação de despesas já contraídas e não pagas até o dia do pleito, as quais deverão estar
integralmente quitadas até a data da entrega da prestação de contas à Justiça Eleitoral.
Ademais, essa arrecadação somente é permitida no valor necessário para pagar a dívida.
Admite-se, ainda, a assunção de dívida de campanha pelo órgáo do partido politico por
decisão do seu órgão nacional. Nesse caso, o órgão partidário da respectiva circunscrição
eleitoral passará a responder por todas as dívidas solidariamente com o candidato, hipótese
em que a existência do débito não poderá ser considerada como causa para a rejeição de
contas.
Já a existência de débitos de campanha não assumidos pelo partido será aferida na
oportunidade do julgamento da prestação de contas do candidato e poderá ser considerada
motivo para a sua rejeição, uma vez que não é dado ao candidato gastar mais do que
arrecadado.

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Art. 23, § 7º da Lei n. 9.504/97 com a redação dada pela Lei n.13.488/2017 -  O limite previsto no § 1o deste
artigo não se aplica a doações estimáveis em dinheiro relativas à utilização de bens móveis ou imóveis de
propriedade do doador ou à prestação de serviços próprios, desde que o valor estimado não ultrapasse R$
40.000,00 (quarenta mil reais) por doador. 

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3.2 Gastos Eleitorais
Em regra, todas as despesas relativas à campanha são consideradas gastos eleitorais e
poderão ser pagas com os recursos licitamente arrecadados para esse fim e declarados na
prestação de contas, a fim de cumprir o princípio da transparência e permitir o seu efetivo
controle.
O art. 26 da Lei nº 9.504/97 relaciona, de forma exemplificativa, os gastos de
campanha que podem ser feitos com os recursos arrecadados. Assim, outras despesas poderão
ser realiazadas fora do rol, desde que lícitas e, igualmente, devem atender às normas e às
limitações legais.
Recentemente, a Lei nº 13.487/2017 excluiu, taxativamente, algumas despesas do rol
de gastos eleitorais: a) as relacionadas com combustível e manutenção de veículo automotor
usado pelo próprio candidato na campanha, bem como a remuneração, a alimentação e a
hospedagem do condutor do veículo; b) a alimentação e hospedagem do próprio candidato e
c) o uso de linhas telefônicas registradas em seu nome como pessoa física, até o limite de três.
Assim como a arrecadação de recursos, os gastos destinados à campanha eleitoral só
podem ser realizados depois do requerimento do registro de candidatura, inscrição no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, comprovação de abertura de conta bancária
específica destinada a registrar a movimentação financeira da campanha e emissão dos
recibos eleitorais. A realização de gastos antes de qualquer dessas etapas impede ou prejudica
a fiscalização por parte da Justiça Eleitoral e impõe a desaprovação das contas de campanha.
Como exceção a essa regra, permite-se a contratação de serviços (e não o seu pagamento)
antes de praticados os atos mencionados em relação aos gastos destinados à preparação da
campanha; aos gastos destinados à instalação física de comitês de campanha de candidatos e
partidos políticos e àqueles destinados à instalação de página de internet de candidatos e
partidos politicos. Nesses casos, os serviços poderão ser contratados a partir do dia 20 de
julho do ano eleitoral, após a efetiva realização da respectiva convenção partidária, desde que
a contratação seja devidamente formalizada e que o desembolso financeiro ocorra somente
depois da obtenção do número de inscrição no CNPJ, da abertura de conta bancária específica
de campanha e da emissão dos recibos eleitorais.
Os limites de gastos nas campanhas passaram a ser definidos em lei. Além do limite
geral estabelecido nos arts. 5º a 7º da Lei nº 13.488/20174, a lei impõe limites específicos
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Art. 5º Nas eleições para Presidente da República em 2018, o limite de gastos de campanha de cada candidato
será de R$ 70.000.000,00 (setenta milhões de reais).
     Parágrafo único. Na campanha para o segundo turno, se houver, o limite de gastos de cada candidato será de

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relativos a determinados tipos de despesas, de forma que os gastos com a alimentação de
pessoal que presta serviços às candidaturas ou aos comitês de campanha não podem
ultrapassar 10% (dez por cento) do total de gastos contratados da campanha; já as despesas
com aluguel de veículos automotores não pode ultrapassar 20% (vinte por cento) do total
desses gastos.
O art. 100-A da Lei nº 9.504/97, incluído pela Lei nº 12.891/135 estabelece, ainda,
limites para a contratação de pessoal em cada eleição, referentes a atividades de militância e

50% (cinquenta por cento) do valor estabelecido no caput deste artigo.

Art. 6º O limite de gastos nas campanhas dos candidatos às eleições de Governador e Senador em 2018 será
definido de acordo com o número de eleitores de cada unidade da Federação apurado no dia 31 de maio de 2018,
nos termos previstos neste artigo. 
     § 1º Nas eleições para Governador, serão os seguintes os limites de gastos de campanha de cada candidato:
     I - nas unidades da Federação com até um milhão de eleitores: R$ 2.800.000,00 (dois milhões e oitocentos
mil reais);
     II - nas unidades da Federação com mais de um milhão de eleitores e de até dois milhões de eleitores: R$
4.900.000,00 (quatro milhões e novecentos mil reais);
     III - nas unidades da Federação com mais de dois milhões de eleitores e de até quatro milhões de eleitores: R$
5.600.000,00 (cinco milhões e seiscentos mil reais);
     IV - nas unidades da Federação com mais de quatro milhões de eleitores e de até dez milhões de eleitores: R$
9.100.000,00 (nove milhões e cem mil reais);
     V - nas unidades da Federação com mais de dez milhões de eleitores e de até vinte milhões de eleitores: R$
14.000.000,00 (catorze milhões de reais);
     VI - nas unidades da Federação com mais de vinte milhões de eleitores: R$ 21.000.000,00 (vinte e um
milhões de reais).
     § 2º Nas eleições para Senador, serão os seguintes os limites de gastos de campanha de cada candidato:
    I - nas unidades da Federação com até dois milhões de eleitores: R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos
mil reais);
     II - nas unidades da Federação com mais de dois milhões de eleitores e de até quatro milhões de eleitores: R$
3.000.000,00 (três milhões de reais);
     III - nas unidades da Federação com mais de quatro milhões de eleitores e de até dez milhões de eleitores: R$
3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais);
     IV - nas unidades da Federação com mais de dez milhões de eleitores e de até vinte milhões de eleitores: R$
4.200.000,00 (quatro milhões e duzentos mil reais);
     V - nas unidades da Federação com mais de vinte milhões de eleitores: R$ 5.600.000,00 (cinco milhões e
seiscentos mil reais).
     § 3º Nas campanhas para o segundo turno de governador, onde houver, o limite de gastos de cada candidato
será de 50% (cinquenta por cento) dos limites fixados no § 1º deste artigo.
     Art. 7º Em 2018, o limite de gastos será de:
     I - R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais) para as campanhas dos candidatos às eleições de
Deputado Federal;
     II - R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para as campanhas dos candidatos às eleições de Deputado
Estadual e Deputado Distrital.

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Art. 100-A.  A contratação direta ou terceirizada de pessoal para prestação de serviços referentes a atividades
de militância e mobilização de rua nas campanhas eleitorais observará os seguintes limites, impostos a cada
candidato:                        
I - em Municípios com até 30.000 (trinta mil) eleitores, não excederá a 1% (um por cento) do
eleitorado;  
II - nos demais Municípios e no Distrito Federal, corresponderá ao número máximo apurado no inciso I,
acrescido de 1 (uma) contratação para cada 1.000 (mil) eleitores que exceder o número de 30.000 (trinta mil). 
§ 1o  As contratações observarão ainda os seguintes limites nas candidaturas aos cargos a:  
I - Presidente da República e Senador: em cada Estado, o número estabelecido para o Município com o
maior número de eleitores;  

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mobilização de rua, mediante a contratação direta ou terceirizada, pautados no princípio da
proporcionalidade, considerando-se o cargo em disputa e o número de eleitores na
circunscrição eleitoral.
Quanto à forma de pagamento das despesas, a legislação impõe que estas sejam pagas
por meio de cheque nominal ou de transferência bancária que identifique o CPF ou o CNPJ do
beneficiário. Já as despesas de pequeno valor (até R$ 300,00), podem ser pagas com os
recursos do “fundo de caixa”6 em dinheiro diretamente ao beneficiário, devendo os recursos
necessariamente transitar na conta bancária específica de campanha.
Ainda dentro das despesas eleitorais, o art. 27 da lei das eleições permite que qualquer
eleitor realize, pessoalmente, gastos no valor de até R$ 1.064,10 (um mil e sessenta e quarto
reais e dez centavos) com a finalidade de apoiar candidato de sua preferência. Esse valor não
fica sujeito à contabilização, desde que não seja reembolsado. Nesse caso, o bem ou serviço
deve ser adquirido pelo eleitor e por ele usufruído, ainda que proporcione benefícios ao
candidato. Se o bem ou serviço for utilizado ou usufruído pelo próprio candidato ou por sua
equipe, o gasto deixa de ser albergado pelo art. 27 e configura uma doação. Como a realização
da despesa é feita diretamente pelo próprio eleitor, o documento fiscal deverá ser emitido em
seu nome. Trata-se de gasto não eleitoral e que, portanto, não deve constar na prestação de
contas.
A responsabilidade pelo pagamento dos gastos eleitorais contraídos pelos candidatos é
deles, juntamente com seu vice e suplentes, quando for o caso, além da pessoa por ele
indicada para a administração financeira de sua campanha eleitoral, se houver. Os partidos
politicos responderão apenas pelos gastos que realizarem, salvo no caso de assunção de dívida
após o dia da eleição, na forma já explanada acima.

II - Governador de Estado e do Distrito Federal: no Estado, o dobro do limite estabelecido para o


Município com o maior número de eleitores, e, no Distrito Federal, o dobro do número alcançado no inciso II do
caput;  
III - Deputado Federal: na circunscrição, 70% (setenta por cento) do limite estabelecido para o
Município com o maior número de eleitores, e, no Distrito Federal, esse mesmo percentual aplicado sobre o
limite calculado na forma do inciso II do caput, considerado o eleitorado da maior região administrativa;  
IV - Deputado Estadual ou Distrital: na circunscrição, 50% (cinquenta por cento) do limite estabelecido
para Deputados Federais;  
V - Prefeito: nos limites previstos nos incisos I e II do caput;  
VI - Vereador: 50% (cinquenta por cento) dos limites previstos nos incisos I e II do caput, até o máximo
de 80% (oitenta por cento) do limite estabelecido para Deputados Estaduais. 

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Para efetuar pagamento de gastos de pequeno vulto, o órgão partidário pode constituir reserva em dinheiro
(fundo de caixa) que observe o saldo máximo de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), desde que não ultrapassem 2%
(dois por cento) dos gastos contratados pela agremiação.
Já a reserva em dinheiro (fundo de caixa) do candidato deve observar o saldo máximo de R$ 2.000,00 (dois mil
reais), desde que não ultrapassem 2% (dois por cento) do limite de gastos estabelecidos para sua candidatura.

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Por fim, registra-se que ainda que o candidato ou partido político não arrecade
recursos e realize qualquer despesa com a campanha, deverá prestar contas, informando a
ausência de movimentação e comprovando o alegado por meio da apresentação dos extratos
bancários da conta de campanha ou de declaração firmada pelo gerente da instituição
financeira, atestando a ausência de movimentação.

4 O atual modelo de Prestação de Contas Eleitorais


O atual modelo de prestação de contas eleitorais privilegia a regulamentação
abundante, a transparência e um regime de sanções amplo e fulcra-se na busca de um
processo político-eleitoral mais límpido e igualitário, com menor interferência do poder
econômico e uma fiscalização mais ampla e efetiva.
Por muito tempo, a análise da prestação de contas foi feita de forma ficta, sem critérios
para aferir a real movimentação de recursos. Muitos candidatos, mormente nos municípios
menores, não declaravam qualquer arrecadação ou gasto, mesmo realizando campanhas
vultuosas e, ainda assim, tinham suas contas aprovadas.
Esse cenário mudou! A cada eleição, a legislação aperfeiçoa as exigências e os
instrumentos de fiscalização, permitindo a análise substancial das contas de campanha, a fim
de que espelhem a realidade, com o fito de reduzir, em potencial, a influência do poder
econômico no processo eleitoral e combater o nefasto “caixa 2”, em busca da higidez e da
moralidade das campanhas eleitorais.
É certo que ainda não atingimos o estado ideal. O simples aperfeiçoamento da
legislação mostra-se insuficiente aos fins propostos, ante a ausência de políticas institucionais
que possibilitem o efetivo controle dos recursos arrecadados e dos gastos realizados durante a
campanha; do exíguo prazo para análise e julgamento das contas e do reduzido quadro de
servidores da Justiça Eleitoral para analisá-las.
Preliminarmente, cabe registrar que a obrigação de prestar contas de campanha
decorre da necessidade de resguardar princípios insculpidos na Constituição Federal e nas leis
eleitorais, como o da moralidade das eleições, da igualdade de disputa entre os candidatos, da
probidade e da impessoalidade no exercício dos mandatos públicos e na administração da
coisa pública.
Todo candidato e partido politico deve prestar contas de campanha, esclarecendo à
Justiça Eleitoral e aos eleitores em geral, quem foram os seus doadores, a quantidade de
recursos arrecadados e os gastos efetuados durante a campanha e demais dados exigidos pela
legislação eleitoral.

12
A prestação de contas está regulamentada na Lei nº 9.504/97, nos arts. 28 a 32 e a cada
eleição, o TSE edita uma resolução com todas as regras a serem observadas. Além disso, pode
emitir orientações técnicas referentes a esse processo propostas pela assessoria de exame de
contas eleitorais e partidárias e aprovadas, por portaria, pelo presidente do Tribunal.
A legislação sobre o tema é extensa, com regramentos específicos e bem definidos a
serem observados na arrecadação e na realização de gastos. Essas limitações quantitativas e
qualitativas impostas visam permitir uma disputa igualitária entre os candidatos aos cargos
públicos, tendo em vista que as condições financeiras entre aqueles que disputam são
díspares, de forma que muitos deles não têm condições de arcar com os custos da campanha,
tampouco dispõem de financiadores.
No atual modelo de prestação de contas, o candidato pode nomear uma pessoa para
fazer a administração financeira de sua campanha, delegando-lhe o poder de cuidar da
movimentação de recursos, organizar os documentos, fazer os registros no sistema e preparar
a prestação de contas. Não obstante a relevância da pessoa indicada, o administrador
financeiro não será o único responsável pelos atos praticados, já que o candidato será
solidariamente responsável por todas as informações financeiras e contábeis de sua campanha.
Já a responsabilidade pela elaboração e envio da prestação de contas à Justiça Eleitoral
é dos próprios candidatos, quer disputem cargos majoritários ou proporcionais na forma da
atual redação do art. 28, §§ 1º e 2º da Lei nº 9.504/97, alterado pela Lei nº 13.165/15.
Tratando-se de prestação de contas do partido politico, a responsabilidade pela elaboração e
encaminhamento, bem como pela veracidade das informações prestadas é do presidente e do
tesoureiro do órgão partidário respectivo.
Visando atribuir maior confiabilidade às contas, a legislação impõe a obrigatoriedade
de contratação de um profissional de contabilidade que pode ser tanto um contador,
profissional de nível superior, quanto o técnico em contabilidade, para acompanhar a
arrecadação de recursos e a realização de gastos, fazer os registros contábeis pertinentes e
auxiliar o candidato e o partido na elaboração da prestação de contas com observância das
normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Contabilidade e das regras constantes na
legislação eleitoral.
A partir da Lei nº 12.034/2009 que acrescentou os §§ 5º 6º e 7º ao art. 30 da Lei nº
9.504/97, o processo de prestação de contas deixou de ter caráter eminentemente
administrativo e passou a ter natureza judicial, tornando imprescindível a representação da
parte por profissional de advocacia nesses autos. Busca-se com essa exigência, conferir maior
confiabilidade e seriedade às prestações de contas, permitir o efetivo contraditório e a ampla

13
defesa, além de facilitar a comunicação entre os partidos políticos e candidatos e a Justiça
Eleitoral.
Faz-se importante registrar que o processo de prestação de contas não pode se
desenvolver e ser analisado e julgado sem a presença de advogado. Assim, a não constituição
do causídico pode resultar no julgamento das contas como não prestadas, o que implica graves
sanções ao candidato (impossibilidade de obtenção de quitação eleitoral no curso do mandato
ou até que sejam efetivamente prestadas) ou partido politico omisso (suspensão com perda de
cotas do fundo partidário).
Deve-se observar que mesmo na hipótese de ausência de movimentação de recursos na
campanha, a contratação do profissional de contabilidade e de advogado permanece
obrigatória.
Materialmente, a prestação de contas é elaborada eletronicamente por meio do Sistema
de Prestação de Contas Eleitoral – SPCE, programa desenvolvido pela Justiça Eleitoral e de
uso obrigatório utilizado para a elaboração e envio eletrônico das peças. Concluído o envio, o
sistema emite um extrato que deve ser assinado e protocolado no órgão da justiça eleitoral
competente juntamente com os demais documentos obrigatórios dentro do prazo legal.
Além da prestação de contas final, há obrigatoriedade de entregar a Prestação de
contas Parcial e os Relatórios Financeiros, a fim de permitir um controle mais efetivo pela
Justiça Eleitoral de toda a movimentação dos recursos de campanha, bem como pelos
eleitores em geral.
Nos termos do art. 28, § 4º da Lei das Eleições, incluído pela Lei nº 13.165/15, os
partidos políticos e os candidatos são obrigados, durante as campanhas eleitorais, a entregar à
Justiça Eleitoral, para divulgação em página criada na internet, os dados relativos aos recursos
em dinheiro recebidos para financiamento de sua campanha por meio do SPCE em até setenta
e duas horas contadas a partir da data do crédito da doação financeira na conta bancária. Em
seguida, esses dados serão disponibilizados pelo TSE, na sua página na internet, em até 48
horas, ocasião em que também poderão ser divulgados os gastos eleitorais declarados. A
ausência dessas informações no prazo estabelecido deve ser examinada de acordo com a
quantidade e os valores envolvidos na oportunidade do julgamento da prestação de contas,
podendo, conforme o caso, levar a sua rejeição.
A divulgação dos dados relativos ao financiamento das campanhas é de crucial
importância tanto para o eleitor a fim de que possa exercer de forma consciente o seu direito
de sufrágio, uma vez que lhe permite aferir quem são os financiadores e qual o montante de

14
gastos por eles realizados. Também permite uma maior fiscalização seja por parte dos órgãos
de fiscalização de justiça, seja por eleitores e demais candidatos ao prélio.
A Prestação de Contas Parcial, por sua vez, deve ser encaminhada também pelo SPCE,
via internet, no mês de setembro do ano eleitoral, fazendo constar o registro da movimentação
financeira de campanha ocorrida desde o seu início até a data estabelecida pelo TSE em
resolução. Em seguida, o TSE divulga, na sua página, na internet, todas as prestações de
contas parciais de candidatos e partidos políticos com a indicação dos nomes, do CPF ou
CNPJ dos doadores e os respectivos valores doados. Nela, deve-se discriminar os recursos em
dinheiro ou estimáveis em dinheiro para o financiamento da campanha eleitoral com
indicação dos nomes e do CPF das pessoas físicas doadoras ou o CNPJ dos partidos ou dos
candidatos doadores e os respectivos valores doados, bem como a identificação dos gastos
realizados, com detalhamento dos fornecedores. Embora a lei não tipifique uma sanção
específica para o descumprimento dessa obrigação, a não apresentação tempestiva ou a sua
entrega de forma que não corresponda à efetiva movimentação de recursos pode caracterizar
infração grave, a ser apurada na oportunidade do julgamento da prestação de contas final.
No sistema atual, o juiz ou tribunal eleitoral competente pode, desde logo, determinar
a autuação e distribuição da prestação de contas parcial e dar início a análise das contas com
base nos dados nela constantes e naqueles que estiverem disponíveis, a exemplo dos extratos
bancários eletrônicos, notas fiscais encaminhadas pela Receita Federal e pelas Secretarias
Financeiras Municipais, informações prestadas por doadores e fornecedores e informações
relativas a repasses dos recursos do fundo partidário.
Autuada a prestação de contas parcial, serão juntados ao processo os recibos eleitorais
emitidos e os que forem sendo emitidos, os extratos eletrônicos recebidos e os que vierem a
ser recebidos e, posteriormente, a prestação de contas final.
Por fim, todos os candidatos e partidos politicos devem, até 30 (trinta) dias após o
pleito, apresentar a Prestação de Contas Final. Se houver segundo turno, o prazo será de 20
(vinte) dias a contar da sua realização. Esse prazo se refere tanto ao envio eletrônico, via
sistema, como ao protocolo físico do extrato da prestação de contas com os documentos
obrigatórios no órgão competente.
No modelo atual vigente implementado pela Reforma Eleitoral de 2015, existem dois
tipos de prestação de contas final: o completo e o simplificado.
O sistema simplificado se caracteriza pela análise informatizada e simplificada das
contas que será elaborada exclusivamente pelo SPCE e pela menor quantidade de documentos

15
a serem apresentados7, bem como pelo rito mais célere que, em regra, dispensa a realização de
diligências. Podem apresentá-la qualquer candidato cuja movimentação financeira na
campanha não ultrapasse R$ 20.000,00 (vinte mil reais), atualizados monetariamente a cada
eleição pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC/IBGE) ou por índice que o
substituir, e todos os candidatos a prefeito e vereador nos municípios com menos de 50.000
(cinquenta mil) eleitores, independentemente do valor gasto.
Os requisitos acima não são cumulativos. Assim, em qualquer município com menos
de cinquenta mil eleitores, independentemente do montante movimentado, a prestação de
contas será apresentada no formato simplificado. Lado outro, nos municípios com mais de
cinquenta mil eleitores, também será apresentada a prestação de contas simplificada por
aqueles candidatos cuja movimentação financeira for até o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais).
A prestação de contas final completa, a ser apresentada por todos os prestadores que
não se enquadrem nos requisitos retromencionados relativos à prestação de contas
simplificada, deve conter os dados de qualificação do candidato, do aministrador financeiro e
do profissional de contabilidade; uma demonstração dos recibos eleitorais emitidos e dos
utilizados; a descrição de todas as receitas em dinheiro e estimáveis em dinheiro recebidas;
demonstrativo da comercialização de bens e/ou serviços e/ou da promoção de eventos;
demonstrativo das doações efetuadas a outros candidatos e partidos politicos; um
demonstrativo de todos os gastos individuais realizados pelo candidato e pelo partido, assim
como dos gastos realizados pelo partido político em favor do seu candidato; demonstrativo
das despesas pagas após a eleição; conciliação bancária e informações sobre eventuais sobras
ou dívidas de campanha.
Deve ser obrigatoriamente acompanhada do extrato completo da conta bancária
específica de campanha, inclusive da conta aberta para a movimentação de recursos do fundo
partidário, se houver, e do instrumento de mandato para constituição de advogado. Se for o
caso, devem ainda ser juntados: a) o comprovante de recolhimento ou entrega ao órgão
partidário das sobras de campanha; b) os documentos fiscais que comprovem a regularidade
dos gastos eleitorais realizados com recursos do fundo partidário; c) comprovantes bancários
7
Art 28 (...)
§ 10.  O sistema simplificado referido no § 9o deverá conter, pelo menos:  
I - identificação das doações recebidas, com os nomes, o CPF ou CNPJ dos doadores e os respectivos valores
recebidos;  
II - identificação das despesas realizadas, com os nomes e o CPF ou CNPJ dos fornecedores de material e dos
prestadores dos serviços realizados; 
III - registro das eventuais sobras ou dívidas de campanha.  

16
de devolução dos recursos recebidos de fonte vedada ou provenientes de origem não
identificada; d) autorização do órgão nacional de direção partidária, na hipótese de assunção
de dívida pelo partido político e f) de notas explicativas com as justificativas pertinentes.
Inobstante a exigência legal para a apresentação dos documentos retromencionados,
todos os demais relacionados à campanha devem ser guardados e estarem disponíveis, uma
vez que poderão ser solicitados a qualquer momento para esclarecer fatos e prová-los, sempre
que necessário.
Protocolada a prestação de contas final, a Justiça Eleitoral disponibilizará todas as
informações constantes bem como os extratos eletrônicos encaminhados, na página do TSE,
na internet, dando amplo conhecimento a todos.
Em seguida, será imediatamente publicado edital com a relação das contas
apresentadas. No dia seguinte à publicação, tem início o prazo de 03 (três) dias para que
qualquer partido político, candidato ou coligação, o Ministério Público, bem como qualquer
outro interessado, possa impugnar as prestações de contas entregues.
Tratando-se de processo de natureza judicial, o processo de prestação de contas deve
seguir o devido processo legal, garantindo aos interessados o efetivo contraditório e a ampla
defesa e ser julgada pelo órgão judicial competente por decisão devidamente fundamentada.
A primeira análise é feita de forma eletrônica pelo SPCEWEB (sistema interno da
Justiça Eleitoral) que realiza batimentos, cotejando as informações constantes na prestação de
contas com aquelas que compõem o banco de dados, externo e interno, provenientes do
Sistema de Recibos Eleitorais (SRE); do Sistema de Nota Fiscal Eletrônica; de outras
prestações de contas; do resultado da fiscalização de eventos; dos extratos eletrônicos
encaminhados pelas instituições bancárias; dos recursos recebidos de fontes vedadas e de
dados constantes no banco de dados da Receita Federal, bem como de informações
voluntárias de doadores e fornecedores ou resultantes de circularizações inseridas no sistema
diponível para esse fim.
Feitos os batimentos, são gerados relatórios, dentre eles, um destinado ao exame
técnico denominado “Procedimento Técnico de Exame” (PTE), no qual constará todos os
aspectos a serem examinados, já com o resultado das críticas informatizadas automáticas e
com orientações quanto à aplicação de procedimentos manuais de exame que poderão ser
acessados pelos servidores da Justiça Eleitoral.
Em seguida, passa-se ao exame manual, com análise das informações e documentos
apresentados e identificação das falhas e irregularidades que possam, desde logo, ser

17
esclarecidas ou sanadas, e apresentação, ao final, do Relatório Preliminar de Diligências, no
qual serão relacionadas.
Havendo indícios de irregularidades, a Justiça Eleitoral deverá requisitar informações
adicionais do prestador de contas e determinar diligências específicas para a complementação
dos dados ou para o saneamento das falhas no prazo de 72h, com a perfeita identificação dos
documentos ou elementos que devem ser apresentados, adotando uma postura educativa e
preventiva, sempre em prol da regularização das contas.
Em resposta às diligências, o interessado deverá apresentar justificativa, por
intermédio do advogado constituído nos autos, juntando documentos hábeis à correção das
falhas apontadas e, se necessário, apresentará prestação de contas retificadora.
Sempre que o cumprimento de diligências implicar a alteração das peças, será
obrigatória a apresentação da prestação de contas retificadora, acompanhada dos documentos
que comprovem a alteração realizada.
Cumpridas as diligências, procede-se à análise técnica completa com apresentação, ao
final, do Parecer Meritório.
Nessa nova análise, verificada a existência de falha, impropriedade ou irregularidade
em relação à qual não se tenha dado ao prestador de contas prévia oportunidade de
manifestação ou complementação na fase inicial, a unidade ou responsável pela análise deve
notificar o prestador de contas, por intermédio do seu procurador, para manifestar-se ou
complementá-las no prazo de 72h a contar da notificação. Ressalte-se que, nessas diligências,
a Justiça Eleitoral deverá privilegiar a oportunidade de o interessado sanar, tempestivamente e
quando possível, as irregularidades e impropriedades verificadas, identificando, de forma
específica e individualizada, as providências a serem adotadas, bem como o seu escopo.
Ademais, essa nova oportunidade deve estar relacionada apenas às questões não apontadas no
Relatório Inicial de Diligências, sobre as quais a parte ainda não teve oportunidade de se
manifestar, não podendo servir como mais uma “chance” para cumprir diligências já
determinadas e não atendidas no prazo legal.
Em resposta a essas diligências, o interessado adotará providências, apresentando
justificativas, juntando documentos hábeis à correção das falhas e irregularidades apontadas e,
se necessário, apresentará prestação de contas retificadora.
Após análise da prestação de contas e da eventual realização de diligências, o analista
irá elaborar um parecer para subsidiar a decisão do juiz eleitoral.
O descumprimento de qualquer norma concernente à arrecadação e aplicação de
recursos e à prestação de contas deverá ser relatado pelo analista como falha verificada no

18
exame, quando da emissão do respectivo relatório.Ademais, o exame deverá pautar-se pelo
conjunto de todas as ocorrências técnicas verificadas e pelo valor envolvido em cada uma das
falhas eventualmente constatadas, atentando-se para a natureza das incosistências,
classificadas, segundo os critérios abaixo adotado pelo TSE na Portaria nº 488/2014:
- Falha de natureza formal – revelam o descumprimento de normas técnicas que
não afetam, no mérito, o exame das contas.
- Impropriedade – demonstram o descumprimento de obrigações de natureza
eleitoral, mas que não comprometem, isoladamente, a regularidade das contas,
gerando ressalvas.
- Irregularidade – demonstram o descumprimento de obrigações de natureza
eleitoral, contudo, de maior gravidade e repercussão sobre as contas, as quais
podem vir a comprometer a regularidade, a consistência e a confiabilidade das
contas prestadas, podendo gerar a desaprovação das contas ou o julgamento pela
sua não prestação.

A emissão do Parecer Técnico Conclusivo deve considerar, de acordo com o prudente


critério do analista de contas: a) o exame individualizado e minucioso do caso concreto; b) o
exame, em conjunto, de todas as eventuais falhas detectadas; c) o montante envolvido na falha
detectada e sua representatividade nas contas. Na utilização desses parâmetros, deve-se
excepcionar os casos em que, apesar de pequena monta, as irregularidades culminam por
afetar de forma irreparável a confiabilidade das contas ou aquelas circunstâncias em que a
norma, por si só, já determina a desaprovação, a exemplo do uso de recursos financeiros para
pagamento de gastos eleitorais que não provenham da conta “doações para campanha” ou da
conta específica para movimentação dos recursos do fundo partidário. Ao final, o parecer
deve concluir pela aprovação, aprovação com ressalvas, desaprovação ou não prestação das
contas.
Se o parecer técnico concluir pela existência de irregularidades e/ou impropriedades
sobre as quais não se tenha dado oportunidade específica de manifestação ao prestador de
contas, a Justiça Eleitoral o notificará para, querendo, manifestar-se no prazo de 72h a contar
da notificação, vedada a juntada de documentos que não se refiram especificamente à
irregularidade e/ou à impropriedade apontada.
Apresentado o parecer conclusivo e decorrido o prazo para manifestação do prestador,
se for o caso, o Ministério Público Eleitoral terá vista dos autos, devendo emitir parecer no
prazo de quarenta e oito horas.

19
Embora a manifestação do órgão ministerial ocorra neste momento, deve-se observer
que, como fiscal do ordenamento jurídico, deverá acompanhar as prestações de contas,
inclusive as parciais durante todo o seu processamento, podendo, inclusive, impugná-las e
requerer a quebra do sigilo bancário e fiscal, dos candidatos, dos partidos politicos, dos
doadores, dos fornecedores e de terceiros envolvidos.
Caso o Ministério Público apresente parecer pela rejeição das contas por motivo que
não tenha sido anteriormente identificado ou considerado pelo órgão técnico, a Justiça
Eleitoral notificará o prestador de contas, por seu advogado, para, querendo, manifestar-se no
prazo de 72h, vedada a juntada de documentos que não se refiram especificamente às
irregularidades e/ou impropriedades apontadas.
Afere-se, portanto, que a análise do MPE poderá ir além do parecer técnico e apontar
falhas não apuradas até aquela oportunidade. Seria o caso, por exemplo, de ter conhecimento
de um gasto realizado pelo candidato não lançado na prestação de contas. Nesses casos, em
obediência ao princípio do contraditório, não se pode passar ao julgamento antes de dar
oportunidade para o prestador de contas complementar dados e sanar as falhas apuradas.
Decorrido o prazo para parecer do MPE, ou se for o caso, para nova manifestação do
prestador de contas, com ou sem esta, os autos devem ser imediatamente conclusos ao Juiz
Eleitoral ou relator para decisão.
O juiz Eleitoral ou relator, por sua vez, verificará as contas, decidindo: a) pela
aprovação, quando estiverem regulares; b) pela aprovação com ressalvas, quando verificadas
falhas que não lhes comprometam a regularidade; c) pela desaprovação, quando constatadas
falhas que comprometem sua regularidade ou, ainda, pela d) não prestação quando: d.1) não
forem apresentados os documentos e as informações que devem constar na prestação de
contas, ou d.2) o responsável deixar de atender às diligências determinadas para suprir a
ausência que impeça a análise da movimentação dos recursos financeiros.
Anote-se que nem sempre a ausência parcial de informações e documentos que devem
constar na prestação de contas ou o não atendimento às diligências determinadas ensejará o
julgamento das contas como não prestadas. Somente nos casos em que não houver nos autos
elementos mínimos necessários que permitam a análise das contas é que estas devem ser
julgadas como não prestadas. A autoridade judiciária deve, sempre que possível, examinar se
a ausência constatada é relevante e compromete a regularidade das contas para efeito de sua
aprovação com ressalvas ou desaprovação.

20
Por fim, cabe registrar que o julgamento da prestação de contas pela Justiça Eleitoral
não afasta a possibilidade de apuração por outros órgãos quanto à prática de eventuais ilícitos
antecedentes e/ou vinculados, verificados no curso de investigações em andamento ou futuras.
Eventuais crimes verificados, também deverão ser apurados pelos órgãos competentes,
cabendo à autoridade judicial responsável pela análise das contas remeter as respectivas
informações e documentos necessários àqueles, sempre que verificar a presença de indícios de
irrgularidades que possam configurar ilícitos.
A decisão que julgar as contas dos candidatos eleitos deve ser publicada até 03 (três)
dias antes da diplomação.
Uma grande falha ainda existente no sistema sancionatório das prestações de contas,
relaciona-se a ausência de efeitos diretos provocados pela desaprovação das contas, já que
esta não importa em impedimento à obtenção de quitação eleitoral ou na imposição de
qualquer penalidade ao candidato. Nesse sentido, o teor da súmula nº 57 do TSE: “A
apresentação das contas de campanha é suficiente para a obtenção da quitação eleitoral, nos
termos da nova redação conferida ao art. 11, § 7º, da Lei nº 9.504/97, pela Lei nº
12.034/2009”.
Não obstante esse vácuo legislativo, deve-se observar que na forma do § 4º do art. 22
da Lei das Eleições, desaprovaas as contas, a Justiça Eleitoral remeterá cópia de todo o
processo ao Ministério Público Eleitoral, para fins de apuração de eventual abuso de poder
econômico ou de outras irregularidades que possam fundamentar a propositura das ações
eleitorais cabíveis.
Já o partido político que tem suas contas desaprovadas total ou parcialmente, poderá
perder o direito ao recebimento da cota do Fundo Partidário do ano seguinte ao trânsito em
julgado da decisão, de forma proporcional e razoável, pelo período de 1 (um) a 12 (doze)
meses, ou por meio do desconto no valor a ser repassado, da importância apontada como
irregular.
Por fim, dentro do atual sistema processual relacionado à prestação de contas, têm
crucial relevância as ações eleitorais autônomas que podem veicular ilicitudes apuradas
durante a movimentação de recursos e que estejam a ela relacionadas, como a Representação
por Doação acima do Limite legal e a Representação por Arrecadação e Gastos Ilícitos em
Campanha.
A Representação por doação acima do limite legal poderá ser proposta apenas contra o
doador, com fulcro no art. 23 da Lei nº 9.504/97 com o objetivo de apurar e punir doações

21
realizadas por pessoas físicas a partidos e candidatos em campanha, acima dos limites legais 8,
objetivando impedir o abuso do poder econômico e proteger a igualdade entre os candidatos e
a higidez das campanhas eleitorais, aplicando, ao final, multa ao infrator condenado9.
Já a Representação por Arrecadação e Gastos Ilícitos em Campanha encontra alicerce
legal no art. 30-A da Lei nº 9.504/97 e visa punir condutas graves em desacordo com as regras
de arrecadação e gastos de campanha estabelecidas na lei das eleições, com fins eleitorais, a
fim de garantir a igualdade de condições dos candidatos, no aspecto financeiro da disputa
eleitoral, bem como garantir a higidez e a regularidade das campanhas eleitorais, preservando
a moralidade. O julgamento procedente pode implicar na negação de outorga do diploma ou
cassação, se já outorgado, multa no valor equivalente a 100% (cem por cento) da quantia que
ultrapassar o limite nos casos de candidato que efetua gastos acima do limite legal, além de
implicar na inelegibilidade do art. 1º, I, j, da LC nº 64/90 pelo prazo de 8 (oito) anos a contar
da eleição em que o ilícito foi praticado.
Além dessas ações, os abusos graves de poder econômico apurados durante a
campanha e hábeis a ferir a legitimidade e a normalidade do processo eleitoral, podem ainda
fundamentar a propositura da Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), na forma dos
arts. 19 e 22 da LC nº 64/90, a ser proposta até a data da diplomação dos eleitos, ou da Ação
de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME), nos termos do art. 14, § 10 da Constituição
Federal, cujo termo final se dá 15 (quinze) dias após a diplomação.

5 Reforma Eleitoral de 2017


Dentro do tema proposto, cabe destacar as alterações promovidas, recentemente, pelas
Leis nº 13.487 e nº 13.488 de 2017, que, dentre outras inovações, instituiu o Fundo Especial
de Financiamento de Campanha (FEFC), regulamentou os limites de gastos nas campanhas
eleitorais por cargo e autorizou o financiamento coletivo.
Temendo a ausência de recursos suficientes para custear as campanhas eleitorais
vindouras, ante a proibição de doações por pessoas jurídicas, a reforma eleitoral de 2017 criou
o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), fundo de recursos públicos
destinados às campanhas eleitorais que será constituído por dotações orçamentárias da União
em ano eleitoral, em valor ao menos equivalente:

8
10% dos rendimentos brutos auferidos no ano anterior ao pleito.
9
Nos termos da atual redação do § 3º do art. 23 da Lei nº 9.504/97, dada pela Lei nº 13.488/2017, essa multa é
de até 100% do valor em excesso, e não mais de 5 a 10 vezes a quantia doada em excesso.

22
I – à somatória da compensação fiscal que as emissoras comerciais de rádio e televisão
receberam pela divulgação da propaganda partidária efetuada em 2016 e em 2017 10,
atualizada monetariamente, a cada eleição, pelo Índice Nacional de Preços ao Cosumidor
(INPC), da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou por índice que
o substituir.
II – a 30% dos recursos de emendas de bancada estadual de execução obrigatória e de
despesas necessárias ao custeio de campanhas eleitorais. Esse percentual poderá ser reduzido
mediante compensação decorrente do remanejamento, se existirem, de dotações em excesso
destinadas ao Poder Legislativo.
Os recursos do FEFC serão depositados pelo Tesouro Nacional no Banco do Brasil,
em conta especial que ficará à disposição do TSE até o primeiro dia útil de junho do ano do
pleito. Nos 15 (quinze) dias subsequentes ao depósito, o TSE divulgará o montante dos
recursos depositados.
Em seguida, o TSE fará a distribuição aos partidos politicos da seguinte forma: 2%
(dois por cento) divididos igualmente entre todos os partidos com registro no TSE; 35%
(trinta e cinco por cento) divididos entre as legendas com pelo menos um integrante na
câmara dos Deputados, na proporção dos votos conquistados por eles na última eleição geral
para a Câmara; 48% (quarenta e oito por cento) divididos entre os partidos proporcionalmente
ao número de deputados na Câmara, consideradas as legendas dos titulares e 15% (quinze por
cento) divididos entre os partidos proporcionalmente ao número de senadores consideradas as
legendas dos titulares. Para esse fim, deve-se considerer o número de representantes titulares
na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, apurado em 28 de Agosto de 2017 nas
eleições de 2018. Nas eleições subsequentes, considerer-se-á o número apurado no último dia
da sessão legislativa imediatamente anterior ao ano eleitoral.
Nos termos da lei, esses recursos ficarão à disposição do partido político somente após
a definição de critérios para a sua distribuição, os quais, aprovados pela maioria absoluta dos
membros do órgão de direção executiva nacional do partido, serão divulgados publicamente.
Para que o candidato tenha acesso a esses recursos, deverá fazer um requerimento por
escrito ao órgão partidário respectivo. Os recursos que não forem utilizados nas campanhas
eleitorais deverão ser devolvidos ao Tesouro Nacional, integralmente, no momento da
apresentação da respectiva prestação de contas.
A reforma estabeleceu, ainda, os seguintes limites de gastos de campanha para os
cargos em disputa: para o cargo de Presidente da República fixou o teto de 70 milhões em
10
A propaganda partidária foi extinta a partir de 2018.
23
despesas de campanha. Em caso de segundo turno, o limite será de 35 milhões. Para
Governador, o limite de gastos é variável entre 2,8 e 21 milhões, de acordo com o número de
eleitores de cada estado, apurado no dia 31 de maio do ano do pleito. Para o cargo de Senador,
o limite é variável entre 2,5 e 5,6 milhões e será fixado conforme o eleitorado de cada estado,
também apurado na mesma data. Para deputados federais, o teto é de 2,5 milhões e para os
deputados estaduais e distritais, 1 milhão.

 Nas eleições de 2018, se as doações de pessoas físicas a candidatos, somadas aos


recursos públicos, excederem o limite de gastos permitido para a respectiva campanha, o valor

excedente poderá ser transferido para o partido do candidato.

Visando estimular as doações por pessoas físicas, a nova lei autorizou a arrecadação
de recursos por meio de sites, aplicativos eletrônicos e outros recursos similares de
financiamento coletivo (crowdfunding11). As instituições que trabalham com esse tipo de
financiamento poderão arrecadar previamente, a partir de 15 de maio do ano eleitoral,
recursos para os pré-candidatos que as contratar. Para tanto, é necessário fazer um cadastro
prévio na Justiça Eleitoral. A liberação dos recursos doados pelas entidades, fica condicionada
à apresentação do registro de candidatura; caso não sejam apresentado, os recurso arrecadado
deverá ser devolvido ao respectivo doador.
Embora seja permitida a arrecadação de recursos prévia por essas entidades, a
realização de despesas, ainda que valendo-se desses valores, deverá observar o calendário
eleitoral.
À semelhança das demais formas de arrecadação, é obrigatória a identificação de cada
um dos doadores pelo nome completo e pelo número de inscrição no cadastro de pessoas
físicas (CPF), bem como das quantias doadas. É também obrigatória a emissão do recibo para
o doador, sob a responsabilidade da entidade arrecadadora, com envio imediato para a Justiça
Eleitoral e para o candidato das informações relativas à doação.
Vale frisar que as doações realizadas nesse formato devem também observar todas as
regras aplicáveis às doações por pessoas físicas, inclusive as vedações constantes no art. 24 da
lei das eleições e o limite legal de doação, bem como os dispositivos relacionados à doação
pela internet.
Fraudes ou erros cometidos pelo doador sem conhecimento dos candidatos, partidos
ou coligações não ensejarão a responsabilidade destes nem a rejeição de suas contas.
11
O alvo principal do crowfunding são as pequenas doações, que juntas forma um valor compatível para arcar
com um projeto que se apoia. Tratando-se de campanhas eleitorais, a tendência é que os principais beneficiários
sejam candidatos que não dispõem de apoio partidário.

24
Em homenagem aos princípios da publicidade e da transparência que norteiam a
movimentação de recursos em campanha, exige-se, que durante a fase de arrecadação, as
instituições arrecadadoras divulguem a lista de doadores e quantias doadas e encaminhem
estas informações à Justiça Eleitoral, atualizando-as instantaneamente a cada nova doação.
Uma outra alteração promovida pela reforma diz respeito a multa por excesso de
doação por pessoas físicas a candidatos e partidos politicos em campanha aplicável ao doador
que antes era de cinco a dez vezes o valor excedido e agora foi reduzida para uma vez o
excesso (100%).
O limite de doações estimáveis em dinheiro relativas à utilização de bens móveis ou
imóveis de propriedade do doador também foi reduzido de R$ 80.000,00 para R$ 40.000,00 e
passou a abranger a doação de serviços próprios.
Algumas despesas pessoais dos candidatos foram, taxativamente, excluídas do rol de
gastos eleitorais pela nova lei, dispensando-se a sua comunicação à Justiça Eleitoral. São elas,
em suma, as relacionadas com combustível e manutenção de veículo automotor usado pelo
próprio candidato na campanha, bem como a remuneração, a alimentação e a hospedagem do
condutor do veículo; a alimentação e hospedagem do próprio candidato e o uso de linhas
telefônicas registradas em seu nome como pessoa física, até o limite de três.
Restaram dispensadas de comprovação na prestação de contas, as despesas
relacionadas às cessões de automóveis de propriedade do candidato, do cônjuge e de seus
parentes até o terceiro grau para seu uso pessoal durante a campanha. Nesses casos, o valor
deve constar na prestação de contas, mas não é necessário apresentar documentos específicos
correlatos.
Manteve-se a regra que permite ao candidato custear 100% (cem por cento) dos gastos
da sua campanha e o limite de doações realizadas por pessoas físicas de até 10% (dez por
cento) dos rendimentos brutos auferidos no ano anterior ao do pleito.
Ainda no que pertine ao financiamento, a reforma definiu de forma mais clara a
proibição constante na Lei dos Partidos Políticos relativa às doações às agremiações
partidárias provenientes de autoridades. Esse dispositivo legal sempre gerou controvérsias em
torno da definição do termo “autoridade”. Nos termos da nova lei, a limitação passou a atingir
apenas as pessoas físicas que exercem função ou cargo público de livre nomeação e
exoneração, ou cargo ou emprego público temporário. Com essa nova redação, resta claro que
um funcionário público concursado ou um parlamentar, por exemplo, podem realizar uma
doação para o partido de sua preferência.

25
Por fim, a inclusão do art. 354-A no Código Eleitoral tipificou como crime o ato de
apropriar-se o candidato, o administrador financeiro da campanha, ou quem de fato exerça
essa função, de bens, recursos ou valores destinados ao financiamento eleitoral, em proveito
próprio ou alheio.

6 Conclusão
Inobstante as recentes reformas políticas tenham adotado medidas cruciais para o
aperfeiçoamento do atual sistema de financiamento das campanhas e das prestações de contas
eleitorais, tem-se que, ainda há uma forte influência do poder econômico no resultado das
eleições e a prática de ilícitos na movimentação de recursos em campanha que viciam a
vontade popular e maculam o processo eleitoral.
Embora a legislação disponha de forma analítica sobre o tema e adote um regime de
sanções, vivenciamos ainda uma instabilidade do sistema que se mostra inadequado e
insuficiente para garantir uma disputa igualitária e o efetivo e legítimo exercício da
democracia.
Destacam-se como principais problemas para a manutenção desse cenário, a ausência
de políticas institucionais que possibilitem o efetivo controle dos recuros arrecadados e dos
gastos durante as campanhas; o prazo exíguo para o exame e julgamento das contas e a
reduzida estrutura de servidores para analisá-la, forçando a realização de uma análise
superficial.
É necessário gerar uma cultura participativa, onde os meios de comunicação e a
sociedade civil, que já vem desempenhando um papel importante, tenha um espaço ainda
maior por meio da vigilância e denúncia. Deve-se promover a conscientização de que o
controle no campo do financiamento político deve ser entendido “não como uma caça às
bruxas ou uma atividade persecutória, mas como um mecanismo para legitimar e
democratizar o processo político (FERREIRA RUBIO, 2004, op. cit.).
Uma efetiva reforma eleitoral deve, necessariamente, promover mudanças no sistema
eleitoral, no sistema partidário, na legislação eleitoral e, principalmente, na reestruturação e
fortalecimento das instituições de fiscalização (Justiça Eleitoral e Ministério Público
Eleitoral). Não há efeito prático em se exigir um alto volume de informações e não dispor de
instrumentos e recursos para processá-la adequada e oportunamente. É preciso aproximar a
retórica da prática e desvincular o poder econômico da obtenção de votos para atingir
resultados que promovam o aperfeiçamento da democracia com a realização de um processo
eleitoral legítimo.

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