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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Órgão Conselho Especial

Processo
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 0733487-45.2023.8.07.0000
N.

AUTOR(S) PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL e PRESIDENTE DA CÂMARA


REU(S)
LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
Relator Desembargador JAIR SOARES

Acórdão
1797123

EMENTA

Transposição de cargos públicos de níveis de escolaridade distintos: técnicos e auxiliares de saúde investidos
como analistas, assistentes e técnicos em gestão e assistência pública à saúde. Lei Distrital 6.903/21, art. 2º,
parágrafo único, I e II. Inconstitucionalidade material.

1 - A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas
ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado, em lei, de livre nomeação e exoneração
(LODF, art. 19, II).

2 - A ascensão do servidor a outro cargo público, por meio de transposição, constitui forma de provimento
derivado vertical, vedada pela CF/88 e pela LODF que estabelecem só ser possível assumir cargo público
após aprovação em concurso público (art. 37, II da CF/88 e art. 19, II da LODF), salvo as hipóteses
excepcionais previstas no texto constitucional.

3 – Os incisos I e II do parágrafo único do art. 2º da L. Distrital 6.903/21, por meio de transposição de cargos,
ao promoveram o enquadramento de servidores ocupantes dos cargos de técnico em saúde e auxiliar de saúde
da carreira Assistência Pública à Saúde - dos quais se exigiam a conclusão de curso de nível médio e
fundamental respectivamente - em cargos de analista, assistente e técnico em gestão e assistência pública à s
aúde da carreira de Gestão e Assistência Pública à Saúde, recém-criada, cujos requisitos são cursos de nível
superior e médio, é inconstitucional.

4 – A transposição de cargos para cargos distintos, com diferentes requisitos de ingresso e atribuições -- há
burla ao postulado do concurso público, em ofensa ao princípio da isonomia, como procedido pelos incisos I
e II do parágrafo único do art. 2º da L. Distrital 6.903/21.

Número do documento: 23121318001575200000052675947


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5 - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios, JAIR SOARES - Relator, ANGELO PASSARELI - 1º Vogal, FERNANDO HABIBE - 2º
Vogal, SÉRGIO ROCHA - 3º Vogal, ARQUIBALDO CARNEIRO - 4º Vogal, MARIA DE LOURDES
ABREU - 5º Vogal, JAMES EDUARDO OLIVEIRA - 6º Vogal, SANDOVAL OLIVEIRA - 7º Vogal,
ESDRAS NEVES - 8º Vogal, GISLENE PINHEIRO - 9º Vogal, ANA CANTARINO - 10º Vogal,
DIAULAS COSTA RIBEIRO - 11º Vogal, RÔMULO DE ARAÚJO MENDES - 12º Vogal, J. J. COSTA
CARVALHO - 13º Vogal e CRUZ MACEDO - 14º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador
CRUZ MACEDO, em proferir a seguinte decisão: Julgou-se procedente o pedido nos termos do voto do
Relator para declarar a inconstitucionalidade dos incisos I e II do parágrafo único do art. 2º da Lei 6.903/21,
com efeitos ex tunc e eficácia erga omnes. Unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas.

Brasília (DF), 12 de Dezembro de 2023

Desembargador JAIR SOARES


Relator

RELATÓRIO

O Procurador-Geral de Justiça do DF ajuizou ação direta de inconstitucionalidade, impugnando a Lei


Distrital n. 6.903/21, que dispõe sobre o desmembramento e a reorganização da carreira de Assistência
Pública à Saúde, do quadro de pessoal do Distrito Federal, e criação da carreira de Gestão e Assistência
Pública à Saúde, no quadro de pessoal do Distrito Federal.

Sustenta que a reorganização da carreira de Assistência Pública à Saúde do Distrito Federal trazida pela
referida lei, ao dispor sobre a transposição funcional de servidores para cargos da nova carreira, o fez com
manifesta inconstitucionalidade material -- promoveu inequívoca transposição funcional de servidores
ocupantes de cargos de nível fundamental (auxiliar de saúde) para cargos de nível médio (técnico em gestão e
assistência pública à saúde), e de servidores ocupantes de cargos de nível médio (técnico em saúde) para
cargos de nível superior (assistente e analista em gestão e assistência pública à saúde), sem a prévia
aprovação em concurso público.

Afirma que o aproveitamento ou transposição de servidor que ingressa no serviço público em determinada
carreira e, por lei, passa a ocupar outro cargo público ofende o art. 19, II, da Lei Orgânica do Distrito Federal
- LODFbem como preceitos constitucionais, em especial os princípios da isonomia, do concurso público, da
impessoalidade, da moralidade, da razoabilidade e da supremacia do interesse público, configurando
provimento derivado de cargo público por ascensão funcional.

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E a súmula vinculante n. 43 do STF dispõe que é inconstitucional toda modalidade de provimento que
propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em
cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.

Pede, em liminar, sejam suspensos os efeitos do parágrafo único, incisos I e II, do art. 2º da Lei Distrital n.
6.903/21. E, no mérito, seja julgada procedente a ação.

O Governador do DF manifestou-se pela concessão da liminar (ID 50504203).

A Mesa Diretora da Câmara Legislativa do Distrito Federal pede seja indeferida a liminar, ao argumento de
que imprescindível a demonstração do perigo da demora para concessão dessa. A lei encontra-se vigente há
dois anos, o que afasta a urgência alegada (ID 50505698).

A Procuradoria-Geral do Distrito Federal e a Procuradora-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios


manifestaram-se para que se conceda a liminar (IDs 51069936 e 51548773).

Admitido o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília/DF –


SindiSaúde/DF como “amicus curiae”, esse, embora regularmente intimado, não se manifestou sobre o
pedido liminar (IDs 51650566 e 51800878).

O julgamento será definitivo, e não só o pedido de liminar.

VOTOS

O Senhor Desembargador JAIR SOARES - Relator

Se houver pedido de liminar, o relator, em face da relevância da matéria e de seu especial significado para a
ordem social e para a segurança jurídica, poderá, após prestadas informações no prazo de 10 (dez) dias e a
manifestação do Procurador-Geral do Distrito Federal e do Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e
Territórios, sucessivamente, no prazo de 5 (cinco) dias, submeter o processo diretamente ao Conselho
Especial, que terá a faculdade de julgar definitivamente a ação (RITJDFT, art. 146).

Prestadas as informações pelo Governador do DF, Mesa Diretora da Câmara Legislativa do Distrito Federal
e tendo se manifestado a Procuradoria-Geral do DF e a Procuradora-Geral de Justiça, submete-se a ação ao
Conselho Especial para julgamento definitivo.

A lei impugnada – Lei Distrital n. 6.903/21 - de iniciativa do governador, reorganizou a carreira da


Assistência Pública à Saúde do Distrito Federal e a desmembrou nas carreiras Especialista em Saúde Pública
do Distrito Federal e Gestão e Assistência Pública à Saúde, no quadro de pessoal do Distrito Federal.

Aduz o requerente que inconstitucional o parágrafo único, incisos I e II do art. 2º da referida lei, que afronta
o art. 19, caput e inc. II, da Lei Orgânica do DF.

A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos poderes do Distrito Federal obedece aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, motivação, participação
popular, transparência, eficiência e interesse público (LODF, art. 19).

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A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou
de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em
lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado, em lei, de livre nomeação e exoneração
(inc. II).

A L. Distrital 6.903/21, art. 2º, parágrafo único, I e II, ora impugnada, assim dispõe:

“Art. 2º A carreira Gestão e Assistência Pública à Saúde é constituída dos cargos originários do
desmembramento da carreira Assistência Pública à Saúde, na seguinte forma:

I – cargo de Analista em Gestão e Assistência Pública à Saúde;

II – cargo de Assistente em Gestão e Assistência Pública à Saúde;

III – cargo de Técnico em Gestão e Assistência Pública à Saúde.

Parágrafo único. Os servidores ocupantes dos cargos Técnico em Saúde e Auxiliar de Saúde, da carreira
Assistência Pública à Saúde, passam a integrar a carreira Gestão e Assistência Pública à Saúde, na forma
que segue:

I – os integrantes do cargo Técnico em Saúde das especialidades dispostas no Anexo único desta Lei ficam
enquadrados no cargo Assistente em Gestão e Assistência Pública à Saúde, e os demais, enquadrados no
cargo de Analista em Gestão e Assistência Pública à Saúde.

II – os integrantes do cargo de Auxiliar de Saúde ficam enquadrados no cargo de Técnico em Gestão e


Assistência Pública à Saúde” (grifou-se).

Antes do advento da lei, a carreira de Assistência Pública à Saúde, reestruturada pela L. Distrital n. 3.320
/2004, era composta pelos cargos de especialista em saúde, técnico em saúde e auxiliar de saúde (art. 2º).

Estipulava a lei, no art. 4º, II e III, os seguintes requisitos para os cargos de técnico em saúde e auxiliar em s
aúde:

“(...) II – para o cargo de técnico em saúde: certificado de conclusão de Ensino Médio ou habilitação legal
equivalente, com formação específica na área em que ocorrer o ingresso;

III – para o cargo de auxiliar de saúde: comprovante de escolaridade até a 8ª série do Ensino Fundamental,
observada a especialidade em que ocorrer o ingresso e o constante do anexo VI.”

Com a reorganização feita pela L. Distrital 6.903/21, o art. 5º trouxe os seguintes requisitos para investidura
na nova carreira:

“Art. 5º O ingresso nos cargos da carreira Gestão e Assistência Pública à Saúde do Distrito Federal dá-se no
Padrão I da classe inicial do cargo, mediante concurso público de provas ou provas e títulos, obedecendo, a
partir da vigência desta Lei, aos seguintes requisitos de investidura:

I – para o cargo de Analista em Gestão e Assistência Pública à Saúde: diploma de curso superior ou
habilitação legal equivalente, fornecido por instituição de ensino devidamente reconhecida pelo Ministério
da Educação;

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II – para o cargo de Assistente em Gestão e Assistência Pública à Saúde: certificado de conclusão de curso
de ensino médio expedido por instituição educacional reconhecida pelo órgão próprio do sistema de ensino
ou curso de formação profissional na área e, nos casos especificados no edital normativo do concurso,
registro no conselho de classe;

III – para o cargo de Técnico em Gestão e Assistência Pública à Saúde: certificado de conclusão de ensino
médio expedido por instituição educacional reconhecida pelo órgão próprio do sistema de ensino ou
equivalente.”

Observa-se dos incisos I e II do parágrafo único do art. 2º da L. Distrital 6.903/21 que os servidores que
antes ocupavam os cargos técnico em saúde e auxiliar de saúde, da carreira Assistência Pública à Saúde,
passaram a integrar a carreira Gestão e Assistência Pública à Saúde nos cargos de analista e assistente – os
primeiros - e técnico.

Confira-se:

“I - Os integrantes do cargo Técnico em Saúde das especialidades dispostas a seguir ficam enquadrados no
cargo Assistente em Gestão e Assistência Pública à Saúde: Técnico de Laboratório – Anatomia Patológica;
Técnico de Laboratório – Hematologia e Hemoterapia; Técnico de Laboratório – Histocompatibilidade;
Técnico de Laboratório – Patologia Clínica; Técnico de Nutrição; Técnico em Higiene Dental; Técnico em
Radiologia.

II - Os demais, enquadrados no cargo de Analista em Gestão e Assistência Pública à Saúde.

III - Os integrantes do cargo de Auxiliar de Saúde ficam enquadrados no cargo de Técnico em Gestão e
Assistência Pública à Saúde.”

Para os servidores que antes ocupavam os cargos de técnico em saúde e auxiliar de saúde, exigia-se a
conclusão de curso de nível médio e fundamental, respectivamente. E os cargos de analista, assistente e t
écnico em gestão e assistência pública à saúde têm como requisito a conclusão de ensino superior e médio.

A título exemplificativo, o cargo de auxiliar de saúde, especialidade serviços gerais, para o qual se exigia
nível fundamental, tem como atribuições: “realizar trabalhos de limpeza e conservação em geral; executar
tarefas relacionadas com o serviço; transportar material de expediente e documentos oficiais; realizar
serviços de carregamento, descarregamento e armazenamento de material; transportar e arrumar móveis,
máquinas e materiais; auxiliar no recebimento e na distribuição de expedientes e correspondências; coletar,
selecionar, classificar, dobrar, armazenar, lavar, passar e entregar roupas quando necessário; auxiliar nos
trabalhos relacionados com a manutenção e reparos de material e obras; receber material para análises
clínicas; efetuar limpeza de instrumental de laboratório e da sala de necropsia; identificar, reparar e revelar
filmes radiográficos nas câmaras escura e clara; limpar e conservar máquinas processadoras; preparar
revelador e fixador para revelação de filmes radiográficos; zelar pela guarda e conservação de materiais;
observar medidas de segurança contra acidentes do trabalho; executar outras atividades de natureza braçal;
executar atividades auxiliares, sob supervisão e orientação; executar outras atividades de mesma natureza e
nível de complexidade e responsabilidade. COMPETÊNCIAS PESSOAIS: demonstrar responsabilidade;
demonstrar capacidade de organização; demonstrar boa vontade e iniciativa; trabalhar em equipe; FORMA
DE PROVIMENTO: Concurso Público. REQUISITOS: Certificado, devidamente registrado, de conclusão
de curso de ensino fundamental, expedido por instituição educacional reconhecida pelo órgão próprio dos
sistemas de ensino” (Portaria Conjunta SGA/SES n. 8/2006).

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Já o cargo de técnico em gestão e assistência pública à saúde,para o qual o respectivo auxiliar em Saúde
migrou, tem como atribuições executar atividades de natureza operacional e outras assemelhadas em nível
de complexidade determinadas em legislação específica, sob orientação e supervisão, para as quais exige-se
conclusão do ensino médio (arts. 5º, III c/c 13 da L. 6.903/21).

Em outra situação, o cargo de técnico em saúde, especialidade alfaiataria e costuraria (não disposta no anexo
único da nova lei), do qual se exige nível médio, tem como atribuições: “efetuar serviços de corte e costura,
fazer pacotes de peças cortadas especificando o tipo e quantidade para confecção. Controlar a produção de
roupas confeccionadas e outros serviços na área de alfaiataria e costuraria; ATRIBUIÇÕES GERAIS PARA
TODAS AS ÁREAS: zelar pela guarda, conservação e manutenção de materiais e equipamentos; zelar pelos
bens patrimoniais da Instituição; observar medidas de segurança contra acidente de trabalho; participar de
programas de treinamento; executar outras atividades de interesse da área. COMPETÊNCIAS PESSOAIS
demonstrar capacidade de organização; demonstrar habilidade manual; demonstrar criatividade e iniciativa;
demonstrar objetividade e flexibilidade; agir com ética profissional; saber ouvir; trabalhar em equipe.
FORMA DE PROVIMENTO: Concurso Público. REQUISITOS: Certificado, devidamente registrado, de
conclusão de curso de nível médio, expedido por instituição educacional reconhecida pelo órgão próprio do
sistema de ensino e curso de qualificação profissional na área de atuação” (Portaria Conjunta SGA/SES n.
8/2006).

Ao passo que o cargo de analista em gestão e assistência pública à saúde,para o qual o respectivo técnico de
saúde migrou, tem como atribuições executar atividades técnico-administrativas correlacionadas à
especialidade do cargo, planejar e executar atividades específicas que demandem conhecimentos próprios do
cargo/especialidade ou atividades da mesma natureza e nível de complexidade que envolvam conteúdos
relativos ou de interesse da área de atuação, inerentes ao órgão, observadas as peculiaridades da
especialidade do cargo, determinadas em legislação, para as quais exige-se conclusão de ensino superior (a
rts. 5º, I c/c 11 da L. 6.903/21).

A lei impugnada, a pretexto de reestruturar carreira já existente, promoveu verdadeira ascensão funcional de
servidores sem concurso público, que passaram a ocupar cargos em carreira diversa, recém-criada, o que não
se admite.

Alguns que ingressaram no serviço público para cargo de nível médio foram promovidos a cargo de nível
superior na nova carreira, outros, que ocupavam cargos de nível fundamental, ascenderam e passaram a
ocupar cargo de nível médio.

A promoção do servidor por ascensão funcional constitui forma de provimento derivado vertical vedada pela
CF/88 e pela LODF que estabelecem só ser possível assumir cargo público após aprovação em concurso
público (art. 37, II da CF/OO e art. 19, II da LODF), salvo as hipóteses excepcionais previstas no texto
constitucional.

A ascensão funcional – que, no caso, se fez por transposição de cargo -- viola a regra do concurso público.

O c. STF há muito consolidou o entendimento a da inconstitucionalidade de ato normativo que permita o


provimento vertical derivado por ascensão funcional do servidor público -- quando o servidor assume outro
cargo (provimento) em virtude de já ocupar cargo anterior (derivado do primeiro), subindo no nível
funcional para cargo melhor (vertical).

Confira-se:

“O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no sentido de banir o acesso ou ascensão, que constitui
forma de provimento de cargoem carreira diversa daquela para a qual o servidor ingressou no serviço
público. (...)” (STF. 2ª Turma. RE 602795 AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 16/03/2010);

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“É inconstitucional a interpretação de disposições legais que viabilizem a promoção a cargo de nível
superior a servidores que ingressaram por concurso público para cargo de nível médio.” (STF. Plenário. ADI
6355/PE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 28/5/2021 - Info 1019);

“A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui forma de provimento derivado
vedada pelo art. 37, II, da CF/88.
É inconstitucional — por força da regra do concurso público (CF/1988, art. 37, II) — lei estadual que, ao
reestruturar determinada carreira, permite a transposição de servidores para cargos com atribuições e
requisitos de ingresso distintos daqueles exigidos na ocasião do provimento originário.” (STF. Plenário. ADI
5.510/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 6/6/2023 - Info
1097).

E editou a súmula vinculante n. 43 - “É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao


servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que
não integra a carreira na qual anteriormente investido.”E não se pode argumentar seja mera alteração de
nomenclatura de cargo. As exigências são distintas.

Maria Sylvia Zanella di Pietro, refletindo sobre o tema, concluiu que: “Ainda que a legislação utilize
terminologia variada, existe o objetivo de permitir que o servidor que prestou concurso para determinado
cargo passe a ocupar outro, de nível de escolaridade mais elevado. Tal procedimento contraria o artigo 37,
II, da Constituição.” (in, Direito Administrativo. 30 ed. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2017, p. 823).

A Ministra Rosa Weber, no julgamento da ADI 6853/SP, em 19.9.22, ressaltou que:

“(...) Não há falar em transformação, enquadramento, transposição, equiparação ou qualquer ulterior termo
que denote a mobilidade de cargos com habilitações díspares, atribuições que não se equivalem e naturezas
distintas. O caso revela a inexistência de mera reestruturação administrativa. A Lei impugnada efetivou
transferência de servidores de um cargo para outro, em violação do princípio da isonomia que determina a
aferição de capacidade técnica mediante concurso público. O argumento de que as novas tecnologias
decorrentes do processo eletrônico teriam deixado um dos cargos obsoleto não é idôneo a justificar a
transposição de cargos, em nítida realização de provimento derivado. 7. A jurisprudência pacífica desta Casa
é firme ao afastar situações que caracterizem a burla ao postulado do concurso público. Isso porque a
questão sobre a inconstitucionalidade de normas que desrespeitaram a exigência de concurso público para o
acesso a quaisquer cargos ligados aos Poderes da República surgiu há muito no Supremo Tribunal Federal,
culminando na edição da Súmula Vinculante nº 43.” (ADI 6853/SP, Rel. Ministra Rosa Weber).

O Conselho Especial deste Tribunal tem decidido que:

”(...) 1. A ascensão ou transposição funcional constituem formas de provimento derivado inconstitucionais


por violarem o princípio do concurso público.
2. O Supremo Tribunal Federal passou a reconhecer, excepcionalmente, a higidez do aproveitamento de
servidores de cargos extintos em outro cargo, afastando, no caso, a tese de violação à exigência de prévia
aprovação em concurso público, quando esse aproveitamento dá-se em cargo recém-criado ou em cargo
inserido em carreira diversa com atribuições, inequivocamente, similares àquelas do cargo extinto
(reestruturação convergente de carreiras análogas).
3. Com a criação da carreira de "Conservação e Limpeza Pública", cuja denominação atual é "Gestão
Sustentável de Resíduos Sólidos", houve a inequívoca especificação das atribuições, as quais passaram a se
voltar ao âmbito de atuação do SLU, motivo pelo qual inexiste similitude em relação às atribuições
concernentes a outras áreas da Administração Pública (âmbito de atuação da carreira "Políticas Públicas e

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Gestão Governamental").
4. Não é possível o aproveitamento de ocupante de determinado cargo extinto em carreira já existente, para a
qual é exigido requisito diverso (nível de escolaridade mais avançado).
5. A Lei Distrital nº 5.276/2013 incorreu em vício material de inconstitucionalidade (ofensa manifesta ao art.
19, caput, e incisos II e VIII da Lei Orgânica do DF) diante da configuração de "provimento derivado", ante
a inobservância: i) da afinidade de atribuições; ii) da compatibilidade remuneratória; e iii) da equivalência
dos requisitos exigidos em lei.
6. Pedido julgado procedente. Declaração da inconstitucionalidade da Lei Distrital nº 5.276/2013. Eficácia
erga omnes e efeitos ex tunc.” (Acórdão 829986, 20140020042304ADI, Relator: José Divino, Relator
Designado:Simone Lucindo, Conselho Especial, data de julgamento: 28/10/2014, publicado no DJE:
10/11/2014. Pág.: 25).

Sobre a L. Distrital 6.903/21, a Procuradoria Especial de Defesa da Constitucionalidade da PGDF emitiu


Nota Técnica n. 1.735/2021, em que, examinando o projeto de lei que deu origem à referida lei distrital,
opinou pelo veto jurídico do art. 2º, parágrafo único, I e II. Confira-se:

“O projeto não menciona a extinção de cargos, mas sim o seu desmembramento, o que, juridicamente,
assimila-se à chamada transformação de cargos públicos, ou seja, às alterações promovidas no regime norma
tivo que define os contornos de um certo cargo (atribuições, denominação, requisito de ingresso e
remuneração).

O problema em questão envolve invariavelmente as balizas que a regra constitucional do concurso público
impõe ao aproveitamento de servidores ocupantes em cargos transformados. O aproveitamento de servidores
em cargos com atribuições que apresentam nível de complexidade substancialmente diverso daquele ligado
aos cargos extintos, para os quais eles prestaram concurso público, a exigir nível de escolaridade
diferenciado e remuneração mais elevada, ofende a regra constitucional do concurso público.Caso contrário,
se o novo cargo guardar relação de continuidade com o cargo originário, do qual representa, na verdade,
aprimoramento administrativo em prol do interesse público, exigido pelo próprio evolver dos fatos, sem
alteração substancial de remuneração ou de exigência de escolaridade, a ofensa à regra do concurso não
seria vislumbrada.

(...) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no que se refere ao aproveitamento de servidores


públicos ocupantes de cargos transformados em cargos novos, vem, no entanto, impondo severas barreiras
ao aproveitamento de servidores quando está em questão a alteração da escolaridade exigida para o acesso
aos cargos transformados. A posição é questionável, já que o incremento da escolaridade exigida para o
acesso a certo cargo pode ser fruto da mera transformação dos tempos, a revelar que determinada função,
antes buscada por pessoas com cerificação de conclusão de ensino médio, por exemplo, passou a ser
almejada por cidadãos com nível de escolaridade superior. De toda sorte, em que pese esta observação, o
fato é que a jurisprudência é pacífica neste sentido, recomendando-se, portanto, que seja observada.

(...) No caso em exame, como já afirmado, restou declarado nos autos que o projeto não acarretará aumento
de despesas. Ou seja, os servidores aproveitados não estão tendo acréscimos remuneratórios. As atribuições
dos cargos agora criados, outrossim, representam mera evolução administrativa dos cargos transformados,
com a sua adaptação às necessidades da Secretaria de Estado de Saúde – ou seja, ao interesse público.
Todavia, houve a previsão, no art. 2º, parágrafo único, I e II, do Projeto de Lei n. 1.735/2021, de
aproveitamento de servidores originalmente providos em cargos de nível básico e médio, respectivamente,
em cargos, que se busca criar, de nível médio (Técnico em Gestão e Assistência Pública à Saúde) e superior
(Analista em Gestão e Assistência Pública à Saúde). O disposto em todo o parágrafo único do art. 2º do
projeto examinado, por esbarrar na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, merece, portanto, veto
jurídico, concessa maxima venia.” (Nota Técnica n. 1.735/2021 – PGDF/GAB/PRODEC – ID 51069936).

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Os incisos I e II, do parágrafo único do art. 2º da L. 6.903/21 nada mais fizeram do que ascensão funcional,
transposição ou reenquadramento de cargos sem concurso público -- os cargos são distintos, com diferentes
requisitos de ingresso de escolaridade, além de atribuições.

Houve verdadeira burla ao postulado do concurso público, em ofensa ao princípio da isonomia.

Julga-se procedente a ação e declara-se a inconstitucionalidade dos incisos I e II do parágrafo único do art.
2º da L. 6.903/21, com efeitos ex tunc e erga omnes.

O Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador FERNANDO HABIBE - 2º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA - 3º Vogal

Acompanho o voto do e. Relator e julgo procedente o pedido para declarar a inconstitucionalidade do


parágrafo único e seus incisos I e II do art. 2º da Lei Distrital nº 6.903/2021, com efeitos ex tunc e eficácia
erga omnes.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE IMPETRADA PELA


PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade impetrada pelo Exmo. Senhor Procurador-Geral de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios, objetivando o reconhecimento da inconstitucionalidade do parágrafo
único e seus incisos I e II do art. 2º da Lei Distrital nº 6.903/2021, que tem a seguinte redação:

“LEI Nº 6.903, DE 16 DE JULHO DE 2021

(Autoria do Projeto: Poder Executivo)

Dispõe sobre o desmembramento e a reorganização da carreira Assistência Pública à Saúde, do quadro de


pessoal do Distrito Federal, e cria a carreira Gestão e Assistência Pública à Saúde, no quadro de pessoal
do Distrito Federal.

(...)

CAPÍTULO I

DO DESMEMBRAMENTO E DA REORGANIZAÇÃO DA CARREIRA

Art. 1º A carreira Assistência Pública à Saúde, criada pela Lei nº 87, de 29 de dezembro de 1989, passa a
denominar-se carreira Especialista em Saúde Pública do Distrito Federal.

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Parágrafo único. A carreira de que trata o caput fica desmembrada em carreira Especialista em Saúde
Pública do Distrito Federal e carreira Gestão e Assistência Pública à Saúde.

Art. 2º A carreira Gestão e Assistência Pública à Saúde é constituída dos cargos originários do
desmembramento da carreira Assistência Pública à Saúde, na seguinte forma:

I – cargo de Analista em Gestão e Assistência Pública à Saúde;

II – cargo de Assistente em Gestão e Assistência Pública à Saúde;

III – cargo de Técnico em Gestão e Assistência Pública à Saúde.

Parágrafo único. Os servidores ocupantes dos cargos Técnico em Saúde e Auxiliar de Saúde, da carreira
Assistência Pública à Saúde, passam a integrar a carreira Gestão e Assistência Pública à Saúde, na
forma que segue:

I – os integrantes do cargo Técnico em Saúde das especialidades dispostas no Anexo único desta Lei
ficam enquadrados no cargo Assistente em Gestão e Assistência Pública à Saúde, e os demais,
enquadrados no cargo de Analista em Gestão e Assistência Pública à Saúde.

II – os integrantes do cargo de Auxiliar de Saúde ficam enquadrados no cargo de Técnico em Gestão e


Assistência Pública à Saúde.” (grifei)

O Exmo. Governador do Distrito Federal manifestou-se pela concessão da liminar (ID 50504203).

A Mesa Diretora da Câmara Legislativa do Distrito Federal pugnou pelo indeferimento da liminar (ID
50505698).

É o breve relatório.

DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 2º E SEUS


INCISOS I E II DA LEI DISTRITAL Nº 6.903/21

A Procuradoria-Geral de Justiça alega, em síntese, que 1) os dispositivos impugnados promoveram


inequívoca transposição funcional de servidores ocupantes de cargos de nível fundamental (Auxiliar de
Saúde) para cargos de nível médio (Técnico em Gestão e Assistência Pública à Saúde), e de servidores
ocupantes de cargos de nível médio (Técnico em Saúde) para cargos de nível superior (Assistente e Analista
em Gestão), com a consequente transferência de servidores de um cargo público para outro sem a prévia
aprovação em concurso público.

Com razão.

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Está evidenciada a inconstitucionalidade material do parágrafo único e seus incisos I e II do art. 2º da Lei
Distrital nº 6.903/2021 na medida em que promovem indevida transposição funcional, isto é, o provimento
derivado de cargo público, sem observância da prévia aprovação em concurso público.

Nesse sentido o enunciado de Súmula Vinculante nº 43 do Supremo Tribunal Federal, in verbis:

“É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia
aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido.”

Como reforço de argumentação, transcreve-se o seguinte trecho da manifestação da Procuradoria-Geral de


Justiça, que, diante de sua clareza e correção, peço vênia e adoto como razões de decidir:

“É sabido que constitui forma inconstitucional de provimento o chamado aproveitamento ou transposição


de servidor que ingressara no funcionalismo público em determinada carreira e, por lei, passou a ocupar
outro cargo público: cuida-se, também nesta hipótese, de ingresso em cargo diverso daquele no qual o
servidor foi legitimamente admitido. Logo, tem-se por certo o desrespeito ao preceito constitucional, por
manifesta vulneração do princípio da isonomia (...)

Inegável, no caso presente, a configuração de hipótese de provimento derivado de cargos públicos,


atentatório ao paradigma de confronto da LODF (art. 19, caput e inciso II), que estabelece (grifos
acrescentados):

Art. 19. A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos poderes do Distrito Federal obedece aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, motivação, participação
popular, transparência, eficiência e interesse público, e também ao seguinte:

(...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado, em lei, de livre nomeação e
exoneração;

(...) Assim, conclui-se que os dispositivos legais impugnados propiciam o provimento irregular de cargos
públicos, em afronta aos princípios do concurso público como forma de investidura em cargo ou emprego
público, da isonomia – consubstanciado na igualdade de acesso aos cargos públicos a todos os brasileiros
–, da impessoalidade, da moralidade, da razoabilidade e do interesse público, todos expressos na Lei
Orgânica do Distrito Federal.”

DISPOSITIVO

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Ante o exposto, julgo procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade do parágrafo único e
seus incisos I e II do art. 2º da Lei Distrital nº 6.903/2021, com efeitos ex tunc e eficácia erga omnes,
acompanhando integralmente o voto do e. Relator.

O Senhor Desembargador ARQUIBALDO CARNEIRO - 4º Vogal


Com o relator
A Senhora Desembargadora MARIA DE LOURDES ABREU - 5º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador JAMES EDUARDO OLIVEIRA - 6º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador SANDOVAL OLIVEIRA - 7º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - 8º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 9º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora ANA CANTARINO - 10º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador DIAULAS COSTA RIBEIRO - 11º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador RÔMULO DE ARAÚJO MENDES - 12º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador J. J. COSTA CARVALHO - 13º Vogal

Cuida-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido liminar, promovida pelo Exmo. Senhor
Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, com a finalidade de que seja declarada a
inconstitucionalidade do parágrafo único, incisos I e II do art. 2º da Lei Distrital nº 6.903/2021, com eficácia
erga omnes e efeitos ex tunc, em face do artigo 19, caput e inciso II, da Lei Orgânica do Distrito Federal.

Alega a parte Autora que “os dispositivos legais impugnados propiciam o provimento irregular de cargos
públicos, em afronta aos princípios do concurso público como forma de investidura em cargo ou emprego
público, da isonomia – consubstanciado na igualdade de acesso aos cargos públicos a todos os brasileiros
–, da impessoalidade, da moralidade, da razoabilidade e do interesse público, todos expressos na Lei
Orgânica do Distrito Federal”.

Pleiteia, em sede de liminar, a suspensão do dispositivo legal objurgado até o julgamento final da presente
ação (Id. 50113778).

Considerando o cumprimento dos requisitos exigidos pelo art. 146 do Regimento Interno deste egrégio
Tribunal de Justiça entendo, com efeito, que os autos se encontram aptos ao julgamento final e definitivo.

A Lei nº 6.903/2021 foi promulgada com o objetivo de promover o desmembramento e reorganização da


carreira da Assistência Pública à Saúde do Distrito Federal. No entanto, conforme destacado pelo Exmo.
Senhor Procurador-Geral do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios, a mencionada
legislação importou de forma inequívoca na transposição funcional de servidores.

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Os dispositivos impugnados demonstram a alteração do nível de escolaridade dos cargos, resultando na
modificação das responsabilidades originalmente designadas aos servidores, os quais passaram a
desempenhar funções superiores às estabelecidas no cargo original.

Observa-se que o cargo de Auxiliar de Saúde passou a ser designado como Técnico em Gestão e Assistência
Pública à Saúde, sendo certo que o Técnico de Saúde passou a integrar a carreira de Assistente e Analista
em Gestão. Essas mudanças implicaram em movimentação dos cargos de nível fundamental para o nível
médio e do nível médio para o nível superior, respectivamente.

A ascensão funcional para cargos que demandam níveis de escolaridade superior e atribuições funcionais
distintas daquelas originalmente previstas no momento da prestação do concurso, representa uma clara
distorção do processo seletivo, comprometendo a isonomia e a meritocracia inerentes ao sistema de acesso
aos cargos públicos.

Nesse ponto, ressalta-se que o tema já fora há muito decidido pelo e. Supremo Tribunal Federal, resultando
na impossibilidade de provimento de cargo público mediante ascensão funcional, modalidade de provimento
derivado vertical.

Assim, inviável a investidura de servidores públicos em cargos diversos daqueles para os quais foram
aprovados em concurso público. Nesse sentido é que tem sido decidido pelo e. STF, consoante entendimento
consolidado na Súmula vinculante nº 43, que diz assim: “é inconstitucional toda modalidade de provimento
que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido”.

Sendo assim e em obséquio ao que ditado pelo artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, no artigo 19,
inciso II, da LODF e no entendimento consolidado na jurisprudência oriunda do e. STF, torna-se imperativa
a declaração da inconstitucionalidade dos incisos I e II do parágrafo único do artigo 2º da Lei 6.903/2021, e
isso se deve à sua redação que promove uma reconfiguração inadequada, prejudicial ao princípio do
concurso público, comprometendo a lisura e a igualdade no acesso aos cargos públicos.

Ante o exposto, sem mais delongas, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado na petição inicial e assim
o faço para declarar a inconstitucionalidade dos incisos I e II, do Parágrafo único, do art. 2º da Lei
6.903/2021, com efeitos ex tunc e eficácia erga omnes, acompanhando integralmente, portanto, o eminente
Relator.

É como voto.

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - 14º Vogal


Com o relator

DECISÃO

Julgou-se procedente o pedido nos termos do voto do Relator para declarar a inconstitucionalidade dos
incisos I e II do parágrafo único do art. 2º da Lei 6.903/21, com efeitos ex tunc e eficácia erga omnes.
Unânime

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