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ODYR, Odyr e PORTO, Roberto. Apontamentos à Lei Eleitoral: Lei n.9.

504, de 30 de
setembro de 1997. São Paulo: Malheiros, 1998.

A simultaneidade de todas essas disputas política,s exceto das municipais pela


incoincidência dos mandatos, provavelmente preferida por economia e pelo temos do
desinteresse popular por eleições proporcionais isoladas, pode confundir a escolha dos
eleitores menos esclarecidos. – pág. 16.

Além disso, é razoável supor que uma tal eleição conjunta os eleitores priorizem a
campanha e a escolha dos candidatos aos cargos executivos, notadamente a Presidente
da República e a governador do Estado, relegando a segundo plano a competição
política para os posto legislativos e, com isso, comprometendo e enfraquecendo a
legitimidade dos eleitos nessa disputa proporcional – pág. 16.

Ao contrário do que alguns supõem a filiação partidária não é da essência do regime


democrático que adota o sistema representativo. Em Portugal, por exemplo, podem ser
candidatos “cidadãos não inscritos nos respectivos partidos” que os indicarem (art. 154º,
1, da Constituição Portuguesa). O relevante, nesse particular, é a fidelidade, no
exercício do mandato, ao programa partidário, ao partido que patrocinou a indicação. –
pág. 19.

O que o texto legal objetiva é, na verdade, excluir os votos em branco na definição do


quociente eleitoral das eleições proporcionais (art. 106, caput, repercutindo no
quociente partidário, art. 107, e na indicação dos eleitos de cada partido, art. 108, todos
do CE), como determinava o CE (parágrafo único do art. 106), nessa matéria agora
expressamente revogado (art. 107 desta lei). Deixam, portanto, os votos em branco de
serem votos válidos para esse efeito. A constitucionalidade do aproveitamento dos votos
em branco para a determinação do quociente eleitoral já vinha, alias, sendo contestado
[...] – pág. 21.

As coligações que aparece em várias países, notadamente nos que adotam o sistema
parlamentarista, como estratégia de governo ou de oposição nos parlamentos, entre nós
se definem como instrumento de sobrevivência das minorias nas eleições. – pág. 23

Não obstante as objeções a elas opostas, máxime no tocante às eleições proporcionais,


porque desfiguram ideologicamente os partidos (nota anterior), e ainda porque, na
prática, frequentemente se apresentariam desvirtuadas, favorecendo as chamadas
“legendas de aluguel”, continuam admitidas em nosso ordenamento jurídico. – pág. 23.

Pondera-se que não se poderia, num mesmo Estado, celebrar coligação para
Governador, eleição majoritária, mantendo-se os partidos então coligados com
candidatos distintos a Senador, que também é eleito majoritariamente, porque se estaria
cindindo,numa mesma circunscrição eleitoral, as eleições majoritárias, hipótese
inadmitida pela vigente Lei [....]. A questão provavelmente vai ser levantada. Para
facilitar as coligações – a atual tendência política parece ser nesse sentido – essa cisão
poderá ser tolerada se inexistir vedação estatutária invocável. Mas o texto estará sendo
molestado na sua literalidade. – pág. 25 e 26.
Interessante questão poderá ser suscitada. Numa coligação, o Suplente poderá ser de
partido diverso do candidato a Senador? Se esses partidos integrarem a coligação, a
resposta terá de ser afirmativa, diante da regra do inciso I do §3º do art. 6º. É, aliás,
frequente, com esse mesmo fundamento legal, que os Vices dos candidatos aos cargos
majoritários surjam dessas composições. – pág. 29.

Possíveis omissões a esse respeito deverão, aliás, ser sempre supridas pelo representante
que a coligação terá, com atribuições equivalentes a de presidente de partido político,
representando-a na Justiça Eleitoral juntamente com os delegados da entidade coligada
[...] – pág. 30

Seria prudente para arredar o questionamento da validade dessa candidatura nata diante
do princípio constitucional da autonomia dos partidos, que a Lei consignasse a ressalva
de a direção partidária poder deliberar em contrário, o que não aconteceu. Mas a
restrição pode ser tida como decorrente da autonomia constitucional dos partidos, e,
assim, ainda invocável. – pág. 31.

Ficou, outrossim, assentado que a idade mínima constitucional, condição de


elegibilidade (art. 14, §3º, inciso VI e alíneas, “a” e “d”), é a da data da posse,
afastando, assim, as dúvidas a respeito. A regra é correta, porque se cuida, na verdade,
de requisito para o exercício das funções inerentes ao cargo (§2º do art. 11), que reclama
alguma suposta maturidade. – pág. 44

Situação curiosa escapou à disciplina da lei, O Estado de São Paulo, por exemplo, tem
70 Deputados Federais. Podendo cada partido indicar 150% dessas vagas (art. 10), e, em
coligação, até o dobro desses lugares (§1º do art. 10), os dois algarismos à direita do
número da legenda, com os quais esses candidatos iriam concorrer, excederiam a
dezena, invadindo os três números de acréscimo dos candidatos a Deputado Estadual. –
pág. 50

Quanto ao financiamento permanente de partidos, seria razoável entregar esse encargo


ao Fundo Partidário, com recursos apenas oficiais( a questão mais acesa que a esse
respeito se coloca é sobre a distribuição desses recursos, se na proporção do número de
representantes no Congresso Nacional ou com outro critério). – pág. 56.

Os partidos e coligações fixarão, a seu critério, os valores máximos das despesas de


cada campanha (art. 18 e parágrafos), comunicando essa deliberação quando do pedido
de registro de seus candidatos, ao Tribunal Superior Eleitoral no tocante à eleição
presidencial e, quanto aos demais candidatos aos Tribunais Regionais Eleitorais (art. 2º
da Instrucao – TSE 26/98). O relator do projeto pretendia estabelecer teto para esses
gastos (15 milhoes para a campanha de candidato a Governador de Estado e 300 mil
reais para s candidatos a Deputado), proposta rejeitada. Semelhante sugestão foi
oferecida, sem sucesso, por Ives Gandra da Silva Martins [...] – pág. 57.

Indaga-se se o candidato é obrigado a se submeter a pesquisa. Perguntado do


procedimento do IBOPE a essa respeito, seu Diretor Executivo respondeu que aquele
Instituto não pesquisaria contra a vontade do pesquisado antes da escolha de seu nome
na convenção partidária como candidato, mas que essa recusa não seria considerada
depois de oficializada a candidatura (Comissão Especial – Eleicoes/98, Câmara dos
Deputados, audiência pública de 11.6.97, depomento do Diretor Executivo do IBOPE,
Carlos Augusto Montenegro). A solução nos parece juridicamente razoável nos parece
juridicamente razoável. A exposição a que se sujeita o candidato a cargo público eletivo
importa a perda parcial dessa sua privacidade. – pág. 68.

Alias, aqueles programas dos partidos vêm sendo usados como propaganda eleitoral
antecipada de pretensos candidatos, como também acontece, sem maiores resistência,
com a publicidade oficial (§1º do art. 37 da CF), esta última, ainda, às vezes condenada
pela Justiça eleitoral. – pág. 75

Discute-se a respeito da extensão desse tempo de propaganda. Não obstante tendência


democrática se incline por período maior, é, no entanto, evidente um inevitável desgaste
das campanhas prolongadas. Além disso, os custos de financeiros se elevam
insuportavelmente nessas hipóteses. E é previsível que em alguns casos a administração
pública possa ser prejudicada em campanhas demoradas, em face das muitas restrições
agora impostas aos agentes pública durante esse período, como, por exemplo, a vedação
da simples transferência de servidores (inciso V do art. 73). – pág. 75

Quanto às carreatas, como até agora concebidas, sua realização tornou-se legalmente
questionável, diante do disposto no art. 230 e seu inciso II do Código de Trânsito
Brasileiro – CTB (lei 9.503, de 23.9.97), que proíbe conduzir veículo “transportando
passageiros em compartimento de carga”, assente que a ressalva do “motivo de força
maior”, ainda desse dispositivo, de manifesto, não tem pertinência. Sequer com as
pessoas em pé nos veículos de passageiros esse tipo de propaganda seria admitido, dado
que nessa posição não se estaria usando o necessário cinto de segurança (art. 65 e 167
do CTB). Seria, no entanto, cogitável a propaganda com pessoas sentadas nos bancos
traseiros desses veículos de passageiros, propositadamente elevados, usando cintos de
segurança e atendidas as exigências do art. 106 do mesmo Código, se for o caso? – pág.
79

É a chamada “boca de urna”, que não obstante ilegal tem se mostrado impossível de ser
coibida nos maiores centros urbanos. – pág. 79

É a obtenção do voto por esse meio escuso, até por promessa de favores, verdadeira
compra dissimulada. Mas, se a promessa não é de favorecimento pessoal mas de
benefício a uma categoria, grupo ou comunidade, ou seja, do exercício de uma
representação popular legítima, ainda que corporativista, não haverá ilegalidade. – pág.
79

Mas o texto legal, como redigido, leva a incertezas. O que se busca é, evidentemente,
impedir, no rádio e na televisão, a propaganda política dissimulada, fora do horário
gratuito. Essa preocupação tem que conviver coma liberdade de comunicação (art. 5º,
inciso IX, e art. 220 e seu §1º, da CF). Contudo, adiante se examinará a hipótese, o
inciso V deste mesmo dispositivo cria exceção para os “programas jornalísticos”, que
podem fazer alusões e críticas a candidatos, com o mesmo fundamental constitucional. –
pág. 89

Assegura-se a participação nesses debates de candidatos dos partidos com representação


na Câmara dos Deputados. Quando aos demais candidatos, a participação apenas é
facultada. A constitucionalidade da discriminação, priorizando os candidatos de partidos
com representação na Câmara dos Deputados, em face do princípio da igualdade, já foi
reconhecida em memorável julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, considerando
dispositivo de sua Resolução (art. 72 da Resolução 15.443) que regulamentava esses
debates, inclusive permitindo sua realização em conjunto ou divididos os candidatos em
grupos compostos por sorteio (TSE, MS coletivo 6-DF, Cl. 13ª, rel. designado Min.
Vilas Boas, 14.9.89, Cads 9/150-172). Na erudita fundamentação dos votos vencedores,
que prevaleceram por ampla maioria, restou convincentemente examinada a
incompatibilidade constitucional dessa regulamentação, agora repetida na Lei
comentada. – pág. 92

Não se prevê debates entre candidatos a cargos eletivos diferentes e nem mesmo entre
candidatos e terceiros. O Confronto de idéias é entre pretendentes ao mesma cargos,
facilitando a escolha do eleitor. – pág. 94.

E a ninguém se permite invocar, sequer, o dogma da liberdade constitucional para


reiterar a prática de ato criminoso, impondo à autoridade judiciária uma condenável
passividade, em detrimento não apenas de uma pessoa diretamente atingida, nessas
condições indefesa, mas ao próprio convívio social. Não há liberdade assim irrestrita,
geralmente irremediável, à honra alheia. – pág. 107

Há porem, pessoas que pela sua profissão ou notoriedade colocam-se, inevitavelmente,


numa situação de exposição pública tal que sua imagem não pode receber a mesma
proteção da do homem comum. A doutrina se detém no exame dessa questão. É
incontornável que a veiculação da imagem dessas pessoas, surpreendidas em locais
públicos, é legítima. – pág. 115.

A agilidade da apuração também recomenda o sistema. E, finalmente, o sigilo e a


inviolabilidade desse sistema moderno tornam quase impossível a cogitação de fraude,
tanto que nos último pleito político praticamente não houve recursos contra os
resultados apurados. As desvantagens conhecidas, pouco relevantes em confronto com
as referidas vantagens, relacionam-se aos custos financeiros e à demora na votação, que
agora será um pouco maior nas eleições proporcionais, porque também nelas vai
aparecer a fotografias do candidato a deputado, após a digitação do seu número pelo
eleitor. Em 1996 o tempo médio de votação foi de 50 segundos. Já nas projeções do
Tribunal Superior Eleitoral para as eleições de 1998 chegaram inicialmente a 1 minuto e
40 segundos (comissão Especial – Câmara dos Deputados, reunião 2.7.97, depoimento
do representante do TSE, Luiz Antônio Raeder). – pág. 121.

Exemplos expressivos da quase impossibilidade de fraude no sistema eletrônico refere-


se ao conhecido “mapismo”, onde a transposição manual de resultados facultava a sua
adulteração, prática incompatível com o novo sistema de voto, e ao menos lamentado
“voto corrente”, ainda materialmente incogitável no sistema moderno. Nessa fraude
“um primeiro eleitor, participante do conluio, recebendo a cédula oficial autenticada,
não a utilizava, introduzindo na urna um simulacro de cédula ou uma cédula oficial não
autenticada. Com isso, entregava ao eleitor seguinte ou organizador do golpe a cédula
autenticada, possibilitando, assim, que o cabo eleitoral, o comitê, o candidato, ou seja lá
quem for, entregue ao eleitor seguinte a cédula previamente assinada. Esse segundo
eleitor, de sua vez, depositará na urna a cédula que recebeu preenchida, entregando, na
volta, a outra cédula, que a mesa lhe confinou autenticada, ao organizador da corrente.
E, assim, sucessivamente” (TSE, Rec. 10.978, Cl. 4ª – MT, rel. Min. Sepúlveda
Pertence, 17.11.92, JTSE 5-2/290-297). – pág. 121.
São inerentes à possibilidade de reeleição e à faculdade de o agente público
protagonizar o processo político, certos fatos, como o de crédito popular ou o descrédito
da ação governamental ser sempre atribuído ao candidato dito oficial, ainda que tal
atuação seja legítima e não tenha, sequer remotamente, essa consciente finalidade. O
que, no entanto, desafia o político e o jurista não é impedir essa inevitável em por este
motivo, legítima consequencia do sistemas, mas prevenir e punir, o quanto possível, os
desvirtuamentos dessa conduta, até por obséquio ao princípio constitucional da
isonomia (art. 5º da CF), que em sede eleitoral tende a igualar as oportunidades dos
aspirantes aos cargos eletivos. – pág. 137

Nos Estados Unidos da América, por exemplo, existe uma lista interminável de atos,
minuciosamente relacionados, vedados aos agentes públicos, o que, como divulgado,
não tem sido suficiente para evitar esses desafios. – pág. 38.

Se, outrossim, o servidor público fica à disposição da campanha fora de seu expediente
de trabalho, ou durante a licença, estará simplesmente exercendo a cidadania, pelo quê
se justifica a ressalva do dispositivo. Mas o próprio Ministro de Estado e o Secretário de
Estado, nesse período de trabalho, e não licenciados, sofrem a restrição, podendo,
porém, no normal exercício da cidadania, participar das campanhas fora desse
expediente, mesmo não afastados, não fazendo uso do cargo. A mesma objeção não
prevalece para servidores do Legislativo e do Judiciário. Um Oficial de Justiça, podendo
tê-la, não obstante, como certamente terá, em virtude de outro preceito legal. – pág. 142

Nem sempre a irregularidade eleitoral configurará improbidade. Há, como temos


reiteradamente anotado, necessidade, para tal, da incorreção afetar, concretamente, não
apenas o princípio isonômico, que tende a igualar as oportunidades dos candidatos, mas
que efetivamente tenha afetado a normalidade e a legitimidade das eleições, o que, em
cada caso, será apurado. Ou, pelo menos, que tenha essa aptidão, essa potencialidade,
que seja, em tese, capaz de causar esse dano. – pág. 147.

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