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DISCENTE: João Paulo Alves Aguiar e Nycolly Muryelly Krause Graeff

Benefícios e malefícios da audiência cíveis online


Palavras-chave: Audiências virtuais, COVID-19, Princípios fundamentais, videoconferência.

Introdução
No contexto do Direito Processual Civil brasileiro, a conformidade com os princípios
e diretrizes fundamentais é crucial para garantir a justiça e o acesso ao sistema judicial.
Baseado nos direitos e garantias consagrados na Constituição Federal, esse sistema busca
harmonizar o processo com os direitos fundamentais, estabelecendo um procedimento que
assegure o devido processo legal e o contraditório. O objetivo principal é tomar decisões bem
fundamentadas em prazos razoáveis para qualquer reivindicação apresentada em juízo. Neste
texto, exploraremos os princípios que orientam o Direito Processual Civil, discutiremos a
implementação das audiências virtuais por meio de videoconferência e examinaremos a
necessidade de observar as normas que regem esse novo cenário, especialmente à luz da
pandemia de COVID-19. A partir dessa base, investigaremos as mudanças e adaptações que a
tecnologia trouxe ao sistema judicial, bem como as precauções necessárias para garantir a
eficácia e a adaptabilidade das audiências virtuais, mantendo a integridade dos princípios
fundamentais do processo civil.

Desenvolvimento
PRINCÍPIOS E DIRETRIZES FUNDAMENTAIS QUE ORIENTAM O DIREITO
PROCESSUAL CIVIL E A CONDUÇÃO DO PROCEDIMENTO COMUM

O sistema processual civil do Brasil, juntamente com suas regras de procedimento, foi
moldado com base nos direitos e garantias fundamentais consagrados na Constituição Federal.
O objetivo principal do legislador foi estabelecer um processo que assegurasse a justiça e o
acesso ao sistema judicial.
Sendo assim, para conciliar o processo com os direitos fundamentais, o procedimento deve
seguir rigorosamente o devido processo legal, garantindo o contraditório para preservar a
igualdade das partes perante um juiz imparcial. Isso visa a tomar decisões bem fundamentadas
em um prazo razoável para qualquer reivindicação apresentada em juízo.

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Em conformidade com os princípios fundamentais e os valores constitucionais, os atos
processuais devem ser organizados de maneira lógica e sequencial ao longo do tempo, a fim
de alcançar uma decisão judicial final por meio de um procedimento estruturado.
O processo comum, de acordo com a abordagem pedagógica de Bueno, é dividido em quatro
fases distintas. A primeira fase é a postulatória, em que o autor inicia a ação apresentando
uma petição inicial, e o réu responde com seus argumentos. Na segunda fase, denominada
ordinatória ou saneadora, o juiz organiza o processo para prepará-lo para a fase instrutória. A
terceira fase, a instrutória, envolve a coleta de provas para que o juiz possa formar sua livre
convicção, e, por fim, a quarta fase, a decisória, é quando a sentença é proferida.
Apesar de todo o arcabouço legal e dos princípios que orientam o andamento dos processos e
a prestação da justiça, a situação criada pela pandemia exigiu novas regulamentações para
permitir que o Poder Judiciário continuasse funcionando, garantindo a segurança de seus
servidores e partes envolvidas, sem prejudicar o progresso dos processos.

AUDIÊNCIAS VIRTUAIS POR MEIO DE VIDEOCONFERÊNCIA


Dentre as ferramentas de tecnologia da informação e comunicação disponíveis para o Direito
Processual Civil, merece destaque a videoconferência, que possibilita a transmissão e,
opcionalmente, a gravação de imagens e sons entre pessoas em locais diferentes, através da
internet. Essa tecnologia torna viável a realização das chamadas audiências virtuais.

Uma audiência virtual é um ato processual em que o juiz se encontra em um local específico,
como um tribunal ou fórum (ou até mesmo em outro local), enquanto os outros participantes,
incluindo advogados, partes e testemunhas, estão e m locais físicos diferentes.

Para conectar todas essas partes, é utilizado um programa de videoconferência, também


conhecido como aplicativo, que é acessado por todos os participantes por meio da internet.
Esse aplicativo pode ser executado em computadores de mesa, laptops, tablets ou dispositivos
móveis.

A videoconferência, como uma ferramenta tecnológica inovadora, desempenha um papel


crucial na aceleração, eficiência, racionalização e economia da administração da justiça,
proporcionando benefícios a todas as partes envolvidas no processo, sem comprometer as
garantias processuais das partes e testemunhas.

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Anteriormente, Barbosa Moreira destacou (em uma época em que as comunicações eram
exclusivamente por escrito) que a ideia de gravar em fita magnética os depoimentos de
testemunhas e partes era considerada um mero devaneio, uma tentativa de evitar a
infidelidade na reprodução das declarações escritas contidas nos autos, ou mesmo o uso da
taquigrafia e da estenotipia. No entanto, ele acreditava que apenas o videotape (uma gravação
analógica de imagem e som) poderia assegurar a fidelidade das declarações prestadas e das
provas produzidas no processo.

Inicialmente, o Código de Processo Civil de 2015 previa o uso da videoconferência apenas em


casos em que a parte ou testemunha residia em uma comarca, seção ou subseção judiciária
diferente daquela onde o processo estava tramitando (arts. 385, §3° e 453, §1°).

No entanto, devido à pandemia global da Covid-19, que exigiu medidas de isolamento social
recomendadas pela Organização Mundial da Saúde e reconhecidas pelo Decreto Legislativo
n° 6, de 20.3.2020, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) regulamentou o uso da
videoconferência em audiências e outros atos oficiais por meio de várias resoluções.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 E A AUDIÊNCIA REMOTA POR


VIDEOCONFERÊNCIA
AUDIÊNCIA PRESENCIAL X AUDIÊNCIA REMOTA
A pandemia de Covid-19 impulsionou a ampliação do uso da tecnologia pelo Poder
Judiciário, introduzindo a comunicação à distância no âmbito do Direito Processual. O
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) regulamentou o uso dessa ferramenta tecnológica em
audiências e outros atos oficiais. As inovações tecnológicas incorporadas ao Direito
Processual com o CPC/2015 foram bem recebidas pela comunidade jurídica, embora tenha
havido uma resistência considerável por parte dos profissionais do direito em relação à sua
adoção efetiva.

O CPC/2015 deixou claro a preferência pela realização de audiências presenciais como a


forma padrão de condução do ato. Essas audiências permitem o contato direto e físico do juiz
com os participantes do processo, garantindo uma interação real durante a instrução

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processual, enquanto as audiências virtuais são consideradas uma alternativa secundária e
complementar.

Isso é evidenciado na interpretação literal do CPC/2015, que restringe o uso de audiências


virtuais apenas em situações envolvendo o depoimento de partes ou testemunhas que residem
fora da comarca onde o processo está em curso (arts. 385, § 3° e 453, § 1° do CPC/2015).
Essa escolha foi feita como uma alternativa à demorada emissão, execução e devolução de
cartas (precatórias, de ordem ou rogatórias), o que poderia atrasar significativamente a
resolução da disputa.

A opção por coletar depoimentos virtualmente não depende da competência geográfica do


juiz da causa. A prioridade é dada à celeridade do processo com o uso da tecnologia. Nesse
contexto, não é necessário obter autorização do juiz da jurisdição onde as partes ou
testemunhas residem. Basta que o juiz da causa perceba que o uso da videoconferência
beneficia a duração razoável do processo para determinar a realização da audiência virtual.

Paulo Lucon observa que apenas com a pandemia de COVID-19 a comunicação à distância
atingiu seu ponto máximo, proporcionando um acesso seguro e eficiente à justiça. Isso
obrigou os profissionais do direito a se adaptarem rapidamente a um novo ambiente de
comunicação.

A pandemia de COVID-19 inverteu a lógica legal e, com o objetivo de evitar aglomerações,


tornou obrigatória a realização de todas as audiências e despachos com os magistrados por
meio de plataformas de videoconferência populares, como Microsoft Teams, Zoom ou Google
Meet. Essas ferramentas foram adotadas pelos tribunais, incluindo o TJ/SP, e são acessíveis
por meio de dispositivos simples, como smartphones, eliminando a necessidade de
equipamentos sofisticados.

NECESSIDADE DE OBSERVAÇÃO DAS NORMAS QUE REGEM A AUDIÊNCIA


VIRTUAL
Entre as diretrizes estabelecidas no CPC/2015 que devem ser respeitadas durante a realização
da audiência virtual por meio de videoconferência, destacam-se: a igualdade de tratamento em
relação ao exercício de direitos e deveres processuais (art. 7°), a proibição de acompanhar o

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depoimento pessoal por quem ainda não depôs (art. 385, § 2°), a proibição de depoimento
sobre fatos previamente preparados (art. 387) e a inacessibilidade entre as testemunhas (art.
456).

É importante enfatizar que todas as precauções rotineiras tomadas pelo juiz durante uma
audiência presencial de instrução também devem ser aplicadas durante uma audiência virtual,
garantindo sua eficácia e adaptabilidade às particularidades do ato. Nesse contexto, tanto a
parte quanto a testemunha devem sempre estar sob a supervisão do juiz, dos advogados e das
partes.

Assim, ao ouvir uma parte, seja por solicitação da parte contrária ou por ordem do juiz
(interrogatório livre, com base no art. 139, inc. VIII, do CPC/2015), ou ao tomar o
depoimento de uma testemunha, a inquirição deve ser feita de forma separada e sequencial.

No caso das testemunhas, é necessário ouvir primeiro as indicadas pelo autor e, em seguida,
as do réu; em qualquer situação, deve-se impedir que aqueles que prestaram esclarecimentos
posteriormente ouçam o relato da parte ou testemunha que os precedeu (art. 456 do
CPC/2015).

Antes da inquirição, é necessário identificar o processo, as partes e qualificar o depoente,


tomando cuidado para verificar qualquer parentesco ou interesse na causa por parte da
testemunha, evitando, assim, qualquer conflito de interesse.

Após a qualificação da testemunha, se aplicável, o advogado da parte contrária tem o direito


de contraditá-la (art. 457 e parágrafos do CPC/2015). Superada essa etapa, a testemunha deve
prestar o compromisso de dizer a verdade sobre o que lhe for perguntado (art. 458 do
CPC/2015) e, em seguida, seu depoimento é colhido.

O formato da inquirição, de forma semelhante, segue o padrão das audiências presenciais,


com as partes formulando perguntas diretamente, seguindo os procedimentos normais (art.
459 e parágrafos do CPC/2015).

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Outro ponto relevante a ser destacado é que a audiência virtual, por meio da videoconferência,
não compromete o princípio da oralidade. O formato virtual permite que o juiz natural do caso
esteja envolvido na coleta de provas durante a audiência, sem intermediários, mesmo que
esteja fisicamente distante, sem contato presencial com as partes, seus advogados,
testemunhas e outros participantes do processo.

A imediatidade do juiz com as partes e a prova oral produzida na audiência, um subprincípio


da oralidade, também é atendida pelo uso da videoconferência na audiência virtual. O juiz da
causa pode ter as mesmas impressões que teria em uma audiência presencial, avaliando se os
participantes do processo estão à vontade para se expressar de forma sincera e precisa ao
responder à s perguntas feitas.

CONCLUSÃO
As audiências por videoconferência se tornaram uma alternativa viável durante a pandemia da
COVID-19, quando o distanciamento social e as restrições de viagem foram implementados
para conter a propagação do vírus. Aqui estão algumas vantagens das audiências por
videoconferência durante esse período:

1. Acesso facilitado: Com a possibilidade de participar de audiências virtuais, as pessoas


podem comparecer a reuniões, audiências judiciais, conferências, palestras e outros eventos
sem a necessidade de deslocamento físico. Isso economiza tempo e dinheiro, além de permitir
que pessoas de diferentes partes do mundo participem de maneira mais acessível.

2. Flexibilidade de horário: As audiências virtuais oferecem a flexibilidade de agendar


reuniões em horários que sejam convenientes para todos os participantes. Isso ajuda a evitar
conflitos de agenda e permite maior participação.

3. Economia de recursos: A realização de audiências virtuais reduz a necessidade de viagens,


o que resulta em menor consumo de combustível e redução de emissões de gases de efeito
estufa. Além disso, menos espaço físico e infraestrutura são necessários, o que leva a uma
economia de recursos financeiros e ambientais.

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4. Aumento da participação: A possibilidade de comparecer a audiências virtuais elimina
algumas barreiras físicas e logísticas, o que pode aumentar a participação de pessoas que, de
outra forma, seriam incapazes de participar presencialmente.

5. Maior segurança e privacidade: Em algumas situações sensíveis, como audiências judiciais,


audiências virtuais permitem um ambiente mais seguro e controlado. Além disso, é possível
proteger a identidade dos participantes por meio das configurações de privacidade.

É importante ressaltar que nem todas as audiências podem ou devem ser realizadas
virtualmente, pois certas situações ainda demandam a presença física. No entanto, as
audiências virtuais têm proporcionado benefícios significativos em termos de acesso,
eficiência e sustentabilidade durante a pandemia da COVID-19.

REFERENCIA
BUENO, C. S. Manual de direito processual civil: volume único. São Paulo: Saraiva, 2018.
Disponível em: <https:// integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9788553609130/>. Acesso em: 31 jul. 2020.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de Direito Processual. Quarta Série. São Paulo:
Saraiva, 1999, p.
152-153.

LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Processo, Novas Tecnologias e Pandemia. In


CARVALHOSA, Modesto; KUYVEN,
Fernando (Coords.). Impactos Jurídicos e Econômicos da COVID-19. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2020, p. 324-325.

BONICIO, Marcelo José Magalhães. Princípios do processo novo Código de Processo Civil.
São Paulo: Saraiva, 2016, p. 203.vv

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