FUX, Luiz; MARTINS, Humberto. SHUENQUENER, Valter. O judiciário do futuro justiça 4.0 e o processo contemporâneo. São Paulo Revista dos Tribunais, 2022
pandemia da Covid-19, que constitui magistrados, servidores e colaboradores,
ótima oportunidade para reunir, com buscando soluções de forma colaborativa responsabilidade, todas as soluções com os demais órgãos do Sistema de disponíveis para prevenir e evitar o Justiça para realização de todos os atos colapso dos poderes e das instituições, e processuais, inclusive com a disponibili- proteger a vida, a saúde e as expectativas zação, pelo CNJ, de uma plataforma para legítimas dos cidadãos. realização de atos virtuais por meio de É o momento de o Judiciário videoconferência, nos termos da Portaria O JUDICIÁRIO DO FUTURO: enfrentar os conflitos advindos dessa CNJ n° 61/2020. JUSTIÇA 4.0 E O PROCESSO calamidade sanitária, valendo-se da As modernas plataformas de video- CONTEMPORÂNEO tecnologia para fazer mais, utilizando conferência permitem não só a realização FUX, Luiz; MARTINS, Humberto; menos recursos. de audiências, mas também a interação SHUENQUENER, Valter (coord.); CHINI, A introdução de tecnologias no entre magistrados e demais atores do Alexandre; GABRIEL, Anderson de Paiva; Poder Judiciário, embora muitas vezes Sistema de Justiça, possibilitando, por PORTO, Fábio (org.). São Paulo: Revista criticada, é um caminho sem volta, já exemplo, que advogados despachem dos Tribunais, 2022. que foi amplamente adotada pelos seus processos com o juiz sem a neces- * Por Humberto Martins diversos tribunais do País e é hoje sidade de deslocamento até o fórum. É com muita alegria que apresento uma realidade pacificada, que viabi- Não se pode ignorar que o trabalho esta obra doutrinária contendo artigos lizou a atividade jurisdicional durante o remoto e por teleconferência, ao longo escritos por notáveis juristas que se dedi- período de isolamento social provocado de 2020 e 2021, resultou no aumento de caram ao estudo dos temas relacionados pela pandemia da Covid-19. produtividade quando comparado aos ao “Programa Justiça 4.0 e ao processo O Ministro Luiz Fux, ao assumir a anos anteriores. Outra ferramenta que contemporâneo”, que impactam direta- Presidência do Supremo Tribunal Federal colabora com o avanço tecnológico do 94 mente na eficiência e efetividade da pres- e do Conselho Nacional de Justiça, já Poder Judiciário é a inteligência artificial, tação jurisdicional e, por consequência, havia apontado que um dos eixos de que tem sido desenvolvida e aplicada no exercício da cidadania. sua gestão seria o desenvolvimento do para agilizar a solução dos conflitos. O livro, organizado pelos magis- Programa Justiça 4.0 e a promoção do O Conselho Nacional de Justiça, por trados Alexandre Chini, Anderson de acesso à justiça digital como forma de sua vez, definiu critérios para a aplicação Paiva Gabriel e Fábio Ribeiro Porto e incrementar a governança, a transpa- da inteligência artificial quando da edição coordenado por mim, pelo Ministro rência e a eficiência do Poder Judiciário. da Resolução n° 332/2020. Luiz Fux, Presidente do STF e do CNJ, Assim sendo, já em 9/10/2020, o Hoje, podemos afirmar que o Poder e pelo juiz Federal Valter Shuenquener, Conselho Nacional de Justiça editou a Judiciário brasileiro possui um verdadeiro Secretário-Geral do CNJ, destaca-se pela Resolução CNJ n° 345/2020, que trata microssistema de justiça digital, as novas relevância dos assuntos tratados, que do “Juízo 100% Digital”, em que todos políticas públicas para o Processo Judicial perpassam pela análise de questões os atos processuais serão praticados Eletrônico, que possibilitou o trabalho relacionadas à inovação tecnológica na exclusivamente por meio eletrônico e remoto, colaborativo, comunitário e em gestão do Sistema de Justiça, ao gabinete remoto, por intermédio da rede mundial rede da Justiça brasileira. Dentro desse virtual do juiz, à inteligência artificial e de computadores. microssistema, inclui-se a revolucionária à plataforma digital do Poder Judiciário Por sua vez, as Resoluções CNJ criação do “Juízo 100% Digital”, que brasileiro; ao microssistema de justiça n° 313/2020,314/2020 e 329/2020, deu uma nova roupagem ao Sistema digital instituído pelas Resoluções CNJ editadas em razão da crise de saúde de Justiça, que passou a ser concebido nos 335/2020, 345/2020, 354/2020, pública, já haviam reconhecido que como um serviço e não mais como asso- 372/2021, 385/2021 e 398/2021, à trans- a atividade jurisdicional tem natureza ciado a um prédio físico do fórum. formação tecnológica no Poder Judiciário essencial e deve ser prestada de forma Não causa mais estranheza o cumpri- e ao CPC/2015; também pelo exame de ininterrupta. Buscaram também asse- mento digital de ato processual e de temas afetos à inteligência artificial no gurar condições mínimas para a conti- ordem judicial, que revolucionou a forma Poder Judiciário e sua recente normati- nuidade dos serviços judiciários durante de cumprimento dos atos judiciais e prati- zação pelo CNJ e à inteligência artificial a pandemia, ao mesmo tempo em que camente extinguiu as cartas precatórias. e à proteção de dados no âmbito do STJ. estabeleceram critérios para a preser- Da mesma forma, o chamado O ordenamento jurídico nacional vação da saúde de magistrados, agentes Balcão Digital possibilita o atendimento enfrenta a necessidade premente de públicos, advogados e usuários em geral. imediato de partes e advogados pelos reger as novas situações advindas da Os Tribunais de Justiça de todo o País servidores do juízo, durante o horário vêm fomentando o trabalho remoto de de atendimento ao público, através do
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uso de ferramenta de videoconferência, em moldes similares ao do atendimento presencial. A promoção do acesso à Justiça Digital torna possível não só reduzir custos temporais, financeiros e sociais para o cidadão, mas, também, alcançar um elevado número de pessoas, facili- tando ainda mais o acesso ao Sistema de Justiça. Assim, não só o Poder Judiciário deverá se preparar para essa transfor- mação que, em breve, afetará toda a sociedade brasileira, mas todos os opera- dores do Direito, ou seja, o Ministério Público e a Advocacia Pública e Privada. A sociedade brasileira identifica no Poder Judiciário a capacidade de mediação e pacificação dos grandes conflitos que afligem seus cidadãos e o vê como o Poder equilibrado que, ao longo da história, tem contribuído para a construção de um País mais justo. A tecnologia 5G certamente ampliará 95 fortemente o alcance das funções juris- dicionais, tornando-as mais acessíveis ao cidadão. Um Poder Judiciário moderno pres- supõe a utilização das mais modernas tecnologias em prol do cidadão, mas também deve ser seguro, confiável e, sobretudo, humano. Discutir temas tão complexos, de forma tão aprofundada, clara e quali- ficada, torna-se mais fácil e eficiente quando há autores do nível desta cole- tânea. Por isso, acredito nesta imprescin- dível produção científica. Parabéns aos autores por mais esta obra, na certeza de que já nasce com a propensão de se tornar uma grande contribuição ao Sistema de Justiça e ao exercício da cidadania! Boa leitura a todos!
* Humberto Martins é Ministro do Supe-
rior Tribunal de Justiça.
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