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DOUTRINA

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA
PRODUÇÃO DE PROVAS: VALIDADE
DAS PROVAS DIGITAIS ATRAVÉS
DA VALORAÇÃO SUBJETIVA DO JUIZ
NA JUSTIÇA DO TRABALHO

JULIANO GIANECHINI FERNANDES

Advogado Trabalhista. Mestre em Direito pela PUCRS. Pós-Graduado em Direito e Processo do


Trabalho. Professor na Graduação e Pós-Graduação. Membro da Academia Sul-Rio-Grandense
de Direito do Trabalho – ASRDT, titular da 16ª Cadeira. Pesquisador Acadêmico.

VITÓRIA NASCIMENTO CARDOSO

Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Ritter dos Reis – UNIRITTER.

Resumo: O presente trabalho visa abordar a utilização das provas digitais dentro do processo
trabalhista. Tem por objetivo analisar e conhecer a forma pela qual as provas digitais têm sido
valoradas e validadas pelos magistrados. O tema é de grande relevância para estudo, uma vez
que cada vez mais se torna notória a evolução da sociedade para uma sociedade mais digital.
O trabalho demonstra como estas questões virtuais aparecem no ordenamento jurídico, pois
através da Internet, milhares de pessoas se relacionam e se comunicam, interagindo e gerando
questões de direito, podendo ser utilizadas dentro do processo judicial. Por fim, demonstra,
através de decisões judiciais, que as provas digitais vêm sendo bem aceitas nos processos
trabalhistas, sendo valoradas de forma positiva pelos juízes, pois previstas na legislação e
atingindo seu fim que é a demonstração de direitos através das mídias digitais.
Palavras-chave: Provas digitais. Valoração. Validação. Autenticidade. Princípio do livre
convencimento motivado.

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Sumário: 1 Introdução – 2 Noções gerais e conceito da dilação probatória – 3 Inovações


tecnológicas na produção de provas na justiça do trabalho – 4 A validade e a valoração da
prova digital – 5 Conclusão – Referências

1 Introdução
Com o passar do tempo, a sociedade e as formas de exercer os di‑
reitos já existentes se modificaram com as transformações tecnológicas e
eletrônicas. Dentro do direito probatório não poderia ser diferente, uma vez
que com estas inovações tecnológicas se tornou possível utilizar mídias
digitais para demonstrar certo fato jurídico através da rede. A importância
de fazer uma análise acerca do tema proposto é que cada vez mais a era
digital se faz presente no dia a dia da sociedade como um todo – algo que
não se difere dentro da ciência do Direito – já que, por exemplo, o próprio
ordenamento jurídico brasileiro se utiliza de meios digitais para tramitação
de processos eletrônicos.
A utilização de provas digitais como meio de se conseguir um resultado
positivo em determinado processo, se submete à forma como o magistrado
irá valorar e validar tais provas, podendo ser aceitas ou consideradas ile‑
gítimas. O objetivo desta pesquisa é analisar e conhecer a forma como as
provas digitais têm sido valoradas e validadas pelos magistrados, em seu
poder de jurisdição, dentro do ordenamento jurídico no processo do trabalho,
bem como definir uma conclusão primária ao estabelecer um parâmetro de
julgamento através de análise de julgados recentes.
Como hipótese, pode-se perceber que o tratamento da prova digital não
tem um padrão a ser utilizado por cada juiz, pois há omissão da legislação
em criar uma normativa específica que valide e valore cada tipo de prova ele‑
trônica a ser produzida, trazendo insegurança jurídica pela discricionariedade
do juiz em admitir ou não tais provas.
Este trabalho foi feito mediante pesquisa com finalidade básica estraté‑
gica, tendo como objetivo o modo descritivo e feito pela abordagem qualita‑
tiva, através do método hipotético-dedutivo, pelo procedimento bibliográfico.
Inicialmente, a pesquisa discorre sobre dilação probatória no processo
do trabalho, apresentando noções gerais e conceito, objeto de prova, ônus
da prova e sua inversão, a produção antecipada das provas e, ainda, aponta
todos os tipos de provas que podem ser utilizados no processo trabalhista,
definindo cada espécie, incluindo seus conceitos, requisitos e legislação
atinente. Após, a pesquisa trata sobre as inovações tecnológicas na pro‑
dução de provas, discorrendo como houve a transição da sociedade para

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uma sociedade mais digital, através das mudanças globalizadas, desde a


criação do computador até as atuais tecnologias que nos disponibilizou a
Internet. Também discorre sobre a prova digital, definindo seu conceito e
demonstrando quais as legislações pertinentes ao assunto, apontando que
não há legislação específica sobre o tema. Por fim, apresenta quais os re‑
quisitos que existem no ordenamento jurídico para validar a prova digital,
sendo estes através da assinatura digital e certificação eletrônica, que são
ferramentas criadas digitalmente, através de códigos binários que verificam
e atestam a autenticidade destes documentos. Além disso, é apresentado
o cerne do tema proposto que é a valoração subjetiva do Juiz do trabalho,
demonstrando recentes julgados sobre o tema e, ainda, definindo a impor‑
tância do princípio do livre convencimento motivado e o que implica na sua
decisão ao valorar cada prova digital.

2 Noções gerais e conceito da dilação probatória


O Poder Judiciário é acionado a fim de que sejam garantidos os di‑
reitos individuais, coletivos e sociais, resolvendo conflitos entre cidadãos,
entidades e Estados1 através de procedimentos judiciais previstos em lei.
Esses acontecimentos são o cerne para ocorrerem ações que movimentem
a justiça, para que sejam garantidas tais prerrogativas que são de direito
daquele que as pleiteia. Todavia, para que o Juiz possa arbitrar e determinar
o cumprimento de determinada obrigação ou para garantir tal direito tutelado,
deve-se comprovar que este foi extirpado ou que aconteceu, de certa forma,
alguma situação que impediu tal direito de ser exercido. É através, então,
de alegações de fatos que o processo vai se conduzindo, contanto que tais
alegações sejam provadas dentro da demanda.
A prova, nada mais é – de acordo com algumas doutrinas – do que a
“alma do processo de conhecimento”.2 É a alma pois, diferente do processo
de execução, a prova se torna essencial para que seja reconhecido o direito
postulado em qualquer demanda. Tendo o magistrado conhecido o direito
através da prova, o processo de conhecimento converte-se para a fase de

1
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 125 de 2010. Brasília, DF: 2010. Disponível
em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156. Acesso em: 25 abr. 2022.
2
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015. p. 222.

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cumprimento de sentença, disposta no art. 513 e seguintes do Código de


Processo Civil.3
Ocorre que a execução ou cumprimento de determinado direito reconhe‑
cido em sentença deverá ser precedida pela fase de instrução processual que
é, tão somente a fase de dilação probatória, a qual determina a veracidade
dos fatos alegados. Apesar de haver uma fase específica para a produção
de provas, durante todo o processo de conhecimento e até mesmo na fase
de execução, poderão as partes continuar instruindo o processo – conforme
permissão prevista na legislação – uma vez que todos deverão colaborar
com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade real,4 inteligência
do art. 278 do CPC.5
Ademais, não há como olvidar que tal prova poderá ser obtida por
qualquer meio que não seja ilícito e ilegal, devendo a parte que a pretende
produzir respeitar tal disposição prevista na Carta Magna brasileira, em seu
artigo 5º, inciso LVI (1988).6 A prova ilícita ou ilegal será aquela que for ob‑
tida de forma contrária ao direito, não importando que a violação seja feita
no direito material ou processual.7
Para Carlos Henrique Bezerra Leite, a prova seria o meio lícito para de‑
monstrar veracidade de determinada alegação de fato, tendo como finalidade
o convencimento do juiz quanto à sua existência ou inexistência. Ou seja,
prova é todo elemento trazido à demanda que evidencia, mostra e confirma
um fato que correu no mundo real, trazendo sua veracidade para dentro do
processo judicial.8

3
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência
da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
4
CARNEIRO, Paulo Cezar P. O Novo Processo Civil Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2021. p.
70. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559640867/.
Acesso em: 27 mar. 2022.
5
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência
da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
6
“Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LVI – são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos; (...)” (BRASIL. [Constituição (1988). Constituição
da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 21 fev. 2022).
7
SARLET, Ingo W.; MARINONI, Luiz G.; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São
Paulo: Saraiva, 2022. p. 726. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9786553620490/. Acesso em: 10 maio 2022.
8
LEITE, Carlos Henrique B. CPC – Repercussões no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 51. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788547213435/. Acesso em: 10 maio 2022.

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Diante disto, torna-se claro o tamanho da autoridade que a prova tem


em si, pois esta, sendo a alma do processo – e de extrema importância para
compelir a futura decisão do juiz – poderá determinar, nas demandas, quais
serão as partes vencidas e vencedoras.

3 Inovações tecnológicas na produção de provas na


justiça do trabalho
A evolução das sociedades está inteiramente ligada à evolução tecnoló‑
gica da qual estas sociedades são resultado. A informática, que é a ciência
que estuda o tratamento automático e racional da informação,9 é uma das
maiores mudanças no quesito de tecnologia que transformou significati‑
vamente a sociedade e a transforma ainda hoje. Ela é dotada de diversas
funções, dentro delas o desenvolvimento de novas máquinas, criação de
metodologias de trabalho inovadoras e mais eficazes e até mesmo a melho‑
ria das que já existem ou, ainda, a automatização das atividades, através
do computador, que é o elemento material essencial para o tratamento e
transmissão de dados.10
As primeiras máquinas que surgiram foram criadas por matemáticos,
engenheiros mecânicos, filósofos para elaborar cálculos simples, até a evo‑
lução de cálculos mais complexos.11 Porém, somente em 1830 esse tipo
de tecnologia foi industrializado e começaram a ser fabricadas máquinas de
calcular mecânicas na Europa. Já em 1951, foi lançado o primeiro computador
a ser vendido comercialmente, chamado de UNIVAC I. A partir dos anos 1970,
vários fatos contribuíram para uma profunda mudança na realidade social. 12
O grande marco deste tipo de tecnologia se deu com a criação da In‑
ternet, a qual se deu no contexto da Guerra Fria, após a Segunda Guerra
Mundial, tendo sido utilizada para acesso de empresas ligadas à defesa
militar e a universidades que faziam pesquisas de acordo com os interesses

9
KANAAN, João Carlos. Informática global. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1998. p. 23-31.
10
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 20. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
11
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 20. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
12
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 20. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.

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do governo, à época denominava-se ARPANET.13 Em 1987 ocorreu, de for‑


ma convencionada, a possibilidade de sua utilização para fins comerciais.14
Em algumas universidades americanas este sistema passou a ser
utilizado para fins civis, sendo a maior parte do tempo uma ferramenta de
comunicação, propagação, divulgação e troca de conhecimentos acadêmi‑
co-científicos.15 Neste sentido, Patrícia Peck Pinheiro:

(...) Nas últimas décadas vários fatos contribuíram para uma


profunda mudança na realidade social. Em 1964, Gordon Moo‑
re cria a Lei de Moore e revoluciona a produção dos chips. O
primeiro computador com mouse e interface gráfica é lançado
pela Xerox, em 1981; já no ano seguinte, a Intel produz o pri‑
meiro computador pessoal 286. Tim Bernes Lee, físico inglês,
inventa a linguagem HTML (Hypertext Mark-up Language ou,
em português, Linguagem de Marcação de Hipertexto), criando
seu pequeno projeto de World Wide Web (WWW), em 1989;
Marc Andreessen cria o browser Mosaic, que permite fácil na‑
vegação na Internet, em 1993. Em 1996, Steve Jobs lança o
iMac. No mesmo ano, dois estudantes americanos, Larry Page
e Sergey Brin, em um projeto de doutorado da Universidade
Stanford, criam o maior site de buscas da internet, o ‘Google’.
Em 1999, um ataque de hackers tira do ar websites como
Yahoo e Amazon, entre outros. Em 15 de janeiro de 2001 é
criada a ‘Wikipedia’, a primeira enciclopédia online multilíngue
livre colaborativa do mundo, que pode ser escrita por qualquer
pessoa, de qualquer parte do globo, de forma voluntária. Em 23
de outubro de 2001, cerca de um mês depois dos atentados
de 11 de setembro, é lançada pela Apple a primeira versão do
iPod, de 5GB e tela monocromática, aparelho que revoluciona
o mercado de música mundial ao permitir, segundo o seu, já
falecido, criador Steve Jobs, o ‘armazenamento de até 1.000
músicas em seu bolso’.16

13
SILVA, Louise S. H. Thomaz da; SOUTO, Fernanda R.; OLIVEIRA, Karoline F. et al. Direito Digital.
Porto Alegre: Grupo A, 2021. p. 16. E-book. Disponível em:https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9786556902814/. Acesso em: 16 abr. 2022.
14
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 21. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
15
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 21. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
16
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 20. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.

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Com a Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0, como é conhecida


comumente, a automação do trabalho se tornou de alto nível. Essa auto‑
mação pode ser definida como a realização de tarefas laborais sem a inter‑
venção da mão de obra humana, sendo possível através de equipamentos
que possuem capacidade de se autogerir, a partir de condições tecnológicas
preestabelecidas.17
Além disso, influenciou diversas áreas como a nanotecnologia, a com‑
putação quântica, sequenciamento de DNA, Internet das Coisas e demais
eventos que modificaram áreas de conhecimento humano e possibilitando,
também, a interconexão com outras tecnologias, trazendo mudanças na ma‑
neira como vivemos, como nos relacionamos e como trabalhamos.18
A automação do trabalho é um fenômeno que produz natural temor nos
trabalhadores, pois nada mais é do que a substituição do trabalho humano
por dispositivos mecânicos ou eletrônicos.19 Há alguns pesquisadores e
especialistas que declaram que a automação acabará substituindo grande
parte da força de trabalho humana, porém há outros que alegam que não
será possível substituir este trabalho de forma massiva pela automação,
porque novos empregos e novas ocupações surgirão e com configurações
híbridas, formadas por meio da integração do homem com a máquina.20
Neste mesmo sentido:

(...) não se pode deixar de reconhecer que a automação consti‑


tui um elemento importante tanto para aumentar a produtivida‑
de como também para reduzir a exposição de trabalhadores a
situações de risco e mesmo a atividades repetitivas, inclusive
potencialmente nocivas. Entretanto, é paradoxal que essa
proteção à saúde do trabalhador corresponda à eliminação do
seu próprio trabalho: para ser protegido como ser humano, ele
deixa de ser trabalhador e de auferir renda. Como reação, não
surpreende que muitos trabalhadores insistam em sujeitar­-se a

17
SACOMANO, José B.; GONÇALVES, Rodrigo F.; BONILLA, Sílvia H. Indústria 4.0: conceitos e
fundamentos. São Paulo: Blucher, 2018. p. 36. E-book. Disponível em: https://integrada.
minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521213710/. Acesso em: 06 maio 2022.
18
QUINTINO, Luís F.; SILVEIRA, Aline Morais; AGUIAR, Fernanda Rocha D. et al. Indústria 4.0. São
Paulo: Blucher, 2018. p. 14. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788595028531/. Acesso em: 04 maio 2022.
19
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2020. p. 1237. E-book. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530989552/. Acesso em: 03 maio
2022.
20
MORAES, Rodrigo Bombonati de S. Indústria 4.0: impactos sociais e profissionais. São Paulo:
Blucher, 2020. p. 12. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786555060508/. Acesso em: 06 maio 2022.

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essas condições (mercantilizando sua saúde e seus riscos com


‘adicionais’ de insalubridade ou periculosidade, por exemplo),
para não se verem substituídos por máquinas.21

Desta forma, o constituinte, na elaboração da Constituição Federal de


1988, incluiu como garantia constitucional o Princípio da Proteção contra a
Automação do Trabalho para orientar o legislador infraconstitucional a elaborar
normas que compensem ou minimizem os prejuízos causados pela substi‑
tuição do trabalho humano pelas máquinas.22 Exemplo de norma criada para
garantir tal princípio é a Lei nº 9.956 de 2000, a qual proíbe o funcionamento
de bombas de autosserviço nos postos de abastecimento de combustíveis.
Essas situações se tornaram a trilha para o desenvolvimento da socie‑
dade convergente ou sociedade digital, que vem se desenvolvendo cada vez
mais, desde a criação do telefone, considerado este o grande símbolo da
comunicação simultânea, o qual revolucionou os comportamentos sociais.23
Além disso, a própria internet possibilitou não apenas o encurtamento das
distâncias, de forma eficaz e mais barata, mas também a multicomunica‑
ção, sendo esta a transmissão de imagem, voz e textos, a qual permite a
capacidade de respostas cada vez mais ágeis, tornando a internet o principal
veículo de comunicação transformador de relações.24 E esta multicomunica‑
ção se torna o pilar do estudo desta pesquisa, pois mediante essas inova‑
ções tecnológicas, a dilação probatória na Justiça do Trabalho modificou-se,
trazendo novas possibilidades de meios probatórios, através produção de
provas pelos meios digitais, as denominadas provas digitais.

3.1 A prova digital


Com a convergência da sociedade para uma sociedade mais digital,
o Direito também teve que se adaptar a esta nova realidade, dando conti‑
nuidade à sua vocação histórica de seguir transformando-se conforme as

21
SARLET, Ingo Wolfgang; MELLO FILHO, Luiz Philippe Vieira de; FRAZÃO, Ana Oliveira. Diálogos
entre o direito do trabalho e o direito constitucional. Série IDP São Paulo: Saraiva, 2013. p. 262.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502212275/.
Acesso em: 06 maio 2022.
22
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2020. p. 1237. E-book. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530989552/. Acesso em: 03 maio
2022.
23
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 21. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
24
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 21. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

mudanças que ocorrem na estrutura da sociedade.25 Assim, o ordenamento


jurídico se modificou através de inovações tecnológicas, adaptando-se e per‑
mitindo integrar novos conceitos e institutos que antes não faziam parte. A
prova digital que, de forma recorrente, abrange temas que envolvem postu‑
ras e comportamentos em mídias sociais,26 por exemplo, passou a constar
na grande maioria das lides, sendo crucial para demonstrar e fundamentar
direitos e obrigações.
A prova digital nada mais é do que ferramentas eletrônicas que são
utilizadas como meio de prova.27 Entretanto, tais ferramentas podem ser
documentos eletrônicos ou digitais, produzidos pela internet ou não; podem
ser documentos de papel que serão transmitidos eletronicamente, sendo
fotos, vídeos ou áudios.
O documento tradicional, já conceituado na presente pesquisa, tem
como fator principal sua ligação a algo material e fisicamente concreto, em
contrapartida, o documento eletrônico não se mantém por meio físico, poden‑
do ser definido como uma sequência de bits, armazenados em forma digital,
podendo ser perceptível somente através de um programa de computador, o
qual lerá as informações em bits e as traduzirá para a compreensão do leitor.28
Outra questão que é algumas vezes interpelada é a questão da diferença
entre digital e eletrônico. Para isto, o CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos),
instituição vinculada ao Arquivo Nacional do Ministério da Justiça, diz que:

Na literatura arquivística internacional, ainda é corrente o uso


do termo ‘documento eletrônico’ como sinônimo de ‘documento
digital’. Entretanto, do ponto de vista tecnológico, existe uma
diferença entre os termos ‘eletrônico’ e ‘digital’. Um docu‑
mento eletrônico é acessível e interpretável por meio de um
equipamento eletrônico (aparelho de videocassete, filmadora,
computador), podendo ser registrado e codificado em forma
analógica ou em dígitos binários. Já um documento digital é um

25
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 25. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
26
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 25. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
27
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 93. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
28
FERREIRA NETO, Arthur Leopoldino; JOÃO, Paulo Sérgio. A prova documental eletrônica no processo
do trabalho: validade e valoração. Revista de direito do trabalho, São Paulo, v. 45, n. 206, p. 205-
231, out. 2019. Disponível em: bhttps://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/165470.
Acesso em: 20 maio 2022.

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documento eletrônico caracterizado pela codificação em dígitos


binários e acessado por meio de sistema computacional.29

Em suma, todo documento digital é eletrônico, mas nem todo docu‑


mento eletrônico é digital.
Com a modernização, a vida pessoal e individual incorporou-se às mídias
digitais. Através destas mídias sociais entre outros meios de comunicação
– que são utilizados de forma coletiva – os usuários da internet puderam
manifestar-se e realizar diversos tipos de ações digitais (postagens, comen‑
tários) que podem ser utilizadas como meio de prova.
Os tipos de provas digitais que podem ser empregados no processo
trabalhista como meio de prova decorrem, como já referido anteriormente,
justamente desta utilização de ferramentas disponíveis na rede. Pode-se
citar, como exemplo, alguns tipos de formatos de provas digitais, tal qual
documentos/arquivos eletrônicos como documentos de texto, planilhas ou
banco de dados; arquivos de áudio, como música e gravações; arquivos de
vídeos; imagens em qualquer formato; postagens (posts) e comentários
em redes sociais (Facebook, Instagram e similares), blogs, sites ou pági‑
nas pessoais; troca de mensagens via correio eletrônico (e-mail) – tanto o
corporativo ou o de uso pessoal –, ferramentas de mensagem instantânea,
como chats, WhatsApp, Telegram, entre outros; torpedos de celular (SMS);
ou qualquer outro documento/material divulgado ou disponível na internet.30
Acontece que, para a utilização de tais documentos produzidos eletroni‑
camente como meio de prova, deverá se ter certo cuidado com a proteção da
intimidade e da vida privada, sendo estes direitos fundamentais previstos na
Constituição da República Federativa do Brasil. Patrícia Peck revela o seguinte:

A intimidade é um ‘estágio’ pré-jurídico, pois esta, em razão


de seu caráter originário, antecede o Direito, e o fundamento
da pessoa está calcado na intimidade, ou seja, sem a intimi‑
dade não haveria de se falar em sujeito de direito. A pessoa,

29
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Perguntas mais frequentes. Brasília, DF, 2020.
Disponível em: http://conarq.arquivonacional.gov.br/conarq/perguntas-mais-frequentes.html.
Acesso em: 19 abr. 2022.
30
BERNARDO, Daniel Carvalho. Da admissibilidade das provas digitais em juízo, perante o ordenamento
pátrio. 2013. 65f. Monografia (Graduação em Direito) – Universidade Federal Fluminense, Niterói/
RJ, 2003. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/15511/Tcc%20DANIEL%20
CARVALHO%20BERNARDO%20matricula%2010807159.pdf?sequence=1. Acesso em: 22 abr.
2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

portanto, tem seu mundo íntimo protegido pelo Direito, da


mesma forma que resguarda o nascituro antes de nascer.31

A lei brasileira, através do Marco Regulatório da internet,32 traz esse


limite, baseando-se na exigência de transparência e aviso prévio do usuário
no tocante a que dados são coletados sobre ele e o que é feito com tais
informações33 no âmbito da relação entre usurário e empresa.
Para Emanuel Castells,34 aquele que decide se conectar, aceita, mesmo
que tacitamente, o resultado da “socialização dos seus dados”, ou melhor,
a perda do controle das suas próprias informações.35 Entretanto, também
na veiculação de dados entre pessoas privadas, deverá ser levado em conta
que estas provas poderão ser utilizadas, contanto que respeitem as garan‑
tias constitucionais de proteção à intimidade, à privacidade, à imagem e à
honra36 daquele que está sendo veiculado, para que não ocorra nenhuma
forma de constrangimento e não ofenda os princípios já mencionados.
Como se pode verificar, há diversas possibilidades de produzir prova
através da internet e outros meios eletrônicos e digitais. Porém, no ordena‑
mento jurídico brasileiro não há legislação específica que contenha, num rol
taxativo ou exemplificativo, cada espécie de prova digital, que a torne legal
ou válida. Entretanto, há algumas legislações esparsas sobre o assunto que
conseguem se complementar.

3.1.1 A legalidade da prova digital no direito brasileiro


Não há o que se falar na proibição da possibilidade de utilização de
prova digital, uma vez que no ordenamento jurídico brasileiro há previsão

31
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 93. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
32
BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres
para o uso da Internet no Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 2014. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 15
maio 2022.
33
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 34. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
34
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 190. E-book.
Disponível em: https://www.academia.edu/41717035/A_Galaxia_da_Internet_Manuel_Castells.
Acesso em: 14 abr. 2022.
35
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 35. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
36
BRASIL. Constituição Federal – “Art. 5º (...) X. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação; (...)” (Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm. Acesso em: 21 fev. 2022.

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legal para tanto.37 O uso desse tipo de prova é aceito completamente, desde
que atendidos alguns padrões técnicos de coleta e guarda, para evitar que
tenha sua integridade questionada ou que tenha sido obtida por meio ilícito.38
No mesmo sentido, o Código de Processo Civil, em seu art. 369 assegura
que “as partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz”.
Em 2001 foi publicada a Medida Provisória nº 2.200-2/2001,39 a qual
criou um regramento jurídico através da Infraestrutura de Chaves Públicas
Brasileira (ICP-BRASIL) para os documentos eletrônicos.40 Com o intuito de
garantir autenticidade, integralidade e validade jurídica para tais documentos,
o ICP-BRASIL tem como uma de suas atribuições a manutenção de registros
dos usuários e a ligação entre as chaves privadas utilizadas nas assinaturas
dos documentos e as pessoas que são emitentes das mensagens, garan‑
tindo que o seu conteúdo não seja alterado.41
Outra legislação pertinente que foi criada para se adaptar a estas novas
mudanças no cenário da sociedade digital, é a Lei nº 11.149 de 200642 que
dispõe sobre a informatização do processo judicial, comumente conhecido
como processo eletrônico. Dentro desta legislação, somente o art. 11 refe‑
re-se aos documentos produzidos eletronicamente.43 Este artigo dá validade

37
“Art. 441. Serão admitidos documentos eletrônicos produzidos e conservados com a observância
da legislação específica” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo
Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
38
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 90. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
39
BRASIL. Medida Provisória nº 2.200-2/2001, de 24 de agosto de 2021. Institui a Infraestrutura de
Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil, transforma o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação
em autarquia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/antigas_2001/2200-2.htm. Acesso em: 25 abr. 2022.
40
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 93. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
41
SILVA, Louise S. H. Thomaz da; SOUTO, Fernanda R.; OLIVEIRA, Karoline F. et al. Direito Digital.
Porto Alegre: Grupo A, 2021. p. 135. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9786556902814/. Acesso em: 19 abr. 2022.
42
BRASIL. Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização do processo
judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil; e dá outras
providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/
l11419.htm. Acesso em: 24 abr. 2022.
43
“Art. 11. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com
garantia da origem e de seu signatário, na forma estabelecida nesta Lei, serão considerados
originais para todos os efeitos legais” (BRASIL. Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

e presume originais os documentos produzidos de forma eletrônica, porém


contendo origem e signatário como pré-requisito.
Já no Código de Processo Civil mais recente, os documentos eletrônicos
foram disciplinados no artigo 439 ao artigo 441, com observância em legis‑
lação específica, se houver. Entretanto, estes dispositivos mencionam os
documentos digitais apenas para integralizá-los no processo físico, através
de sua transformação em papel, tendo sido verificada sua autenticidade.44
Outra importante legislação recentemente publicada é a Lei nº 13.709
de 2018, chamada de Lei Geral de Proteção de Dados. Em seu art. 1º, a
referida legislação expressa que:

Dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos


meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de
direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos
fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvol‑
vimento da personalidade da pessoa natural.45

É de grande importância a positivação desta lei, pois limita e disciplina


os dados por meio de princípios que se fundam no respeito à privacidade,
na autodeterminação informativa, na liberdade de expressão, na informação,
na comunicação e opinião, na inviolabilidade da honra, da intimidade e da
imagem, no desenvolvimento econômico e tecnológico, na livre iniciativa e
na livre concorrência e a partir da defesa do consumidor e, de acordo com
os direitos humanos, do livre desenvolvimento da personalidade e pela igual‑
dade e exercício da cidadania pelas pessoas naturais, conforme exposto no
artigo 2º, incisos I a VII, da LGPD.46
Em síntese, é possível observar que não há de fato uma legislação
específica que regre a validação das provas digitais, mas sim legislações
esparsas que se complementam, trazendo de certa forma, insegurança

Dispõe sobre a informatização do processo judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de


1973 – Código de Processo Civil; e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11419.htm. Acesso em: 24 abr. 2022.
44
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência
da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
45
BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em: https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 25 mar. 2022.
46
SILVA, Louise S. H. Thomaz; SOUTO, Fernanda R.; OLIVEIRA, Karoline F. et al. Direito Digital. Porto
Alegre: Grupo A, 2021. p. 98. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786556902814/. Acesso em: 19 abr. 2022.

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jurídica, porque a validade e a valoração destas provas ficarão submetidas


à apreciação do magistrado e sua aceitação dependerá do seu livre conven‑
cimento motivado.

4 A validade e a valoração da prova digital


Após conceituar a prova digital, deve-se compreender quais as formas
de validação disponíveis no sistema jurídico brasileiro. A princípio, há dois
métodos de tornar válido um documento produzido eletronicamente, que são
mediante a assinatura digital e a certificação eletrônica.
A ferramenta de codificação utilizada para envio de mensagens seguras
em redes eletrônicas é a criptografia, que é um método matemático que cifra
uma mensagem em código, transformando-a em caracteres indecifráveis.47
A tecnologia da criptografia é operada no formato assimétrico, o qual codifi‑
ca as informações utilizando dois códigos, chamado de chaves, sendo uma
pública e outra privada. Nesta direção, Tarcísio Teixeira:

Em razão da segurança, a que mais se utiliza é a criptografia


assimétrica. Ela cria um código e uma senha para decifrá-lo, isto
é, concebem-se duas chaves: uma chave privada, que codifica a
mensagem, e outra chave pública, que decodifica a mensagem.
Entretanto, o inverso também pode ocorrer, ou seja, a pública
serve para codificar e a privada para decodificar. O emissor
da mensagem fica com a chave privada, e os destinatários de
suas mensagens ficam com a chave pública. Esse sistema
dá segurança aos negócios efetuados na internet, devendo
ser controlado por uma terceira entidade, que é a autoridade
certificadora, conhecida, de igual modo, como tabelião virtual,
que irá conferir a autenticação digital das assinaturas e dos
documentos. Por sua vez, a criptografia simétrica cria uma
mesma chave para criptografar e decriptografar.48

47
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
48
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.

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Neste mesmo sentido, Patrícia Peck49 diz que, para o Direito Digital,
a chave criptográfica significa que o conteúdo transmitido só pode ser lido
pelo receptor que possua a mesma chave e será reconhecido com a mesma
validade de uma assinatura tradicional.
Cabe salientar que este procedimento de certificação digital necessita
de três elementos para cumprir seu fim, os quais são: a) certificado digital,
b) assinatura digital, e c) norma técnica positivada, a qual regulamenta o
sistema de chaves digitais e os órgãos estatais fiscalizadores.50
A assinatura digital pode ser definida conceitualmente como um código
anexado ou logicamente associado a um arquivo eletrônico que comprova a
autenticidade e a fidedignidade quanto à integralidade do conjunto de dados
do referido documento, de acordo com o original.51 Ou seja, a assinatura
eletrônica, através de sua criptografia, confere a autenticidade aos dados
que estão incluídos no documento eletrônico, pois é fato que terá um usuá‑
rio identificado (emitente), o qual assinou eletronicamente, surgindo daí sua
autenticidade.
Em relação à aplicação diária, Tarcísio Teixeira exprime que:

Na prática, para possibilitar a assinatura digital, a certificadora


fornece ao usuário, em regra, mediante pagamento, um kit que
contempla: um smart card, uma leitora a ser acoplada a um
computador e o cadastramento de uma senha (o smart card e
a leitora podem ser substituídos por um token, semelhante a
um pen drive que é utilizado pelo acoplamento no computador
e senha previamente cadastrada).

Após a criação da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasil, esta insti‑


tuiu o Comitê Gestor e diversas autoridades certificadoras que mantêm os
registros dos usuários e atestam a ligação entre as chaves privadas utili‑
zadas nas assinaturas dos documentos e as pessoas que nelas apontam
como emitentes das mensagens, garantindo a inalterabilidade dos seus

49
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
50
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
51
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.

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conteúdos.52 Isto é, através da criação deste mecanismo de segurança, é


possível que as pessoas possam realizar transações no meio eletrônico e
digital, com segurança de que as informações transmitidas são confiáveis.
Cabe destacar que a tendência é de que a tecnologia deverá ser apri‑
morada com o fim de aumentar o nível de segurança na rede, que, em tese
é superior à que se tem no mundo real, pois a possibilidade de ter uma
assinatura falsa é relativamente maior. A assinatura digital é mais segura
que a assinatura física, pois esta é autenticada por um sistema de duas
chaves, em tempo real, o que não ocorre com as assinaturas tradicionais
que muitas vezes sequer são verificadas, como acontece no caso de che‑
ques e cartões de crédito.53
Deve-se lembrar, portanto, que não há como ter 100% de garantia de
segurança, tanto no mundo real quanto no virtual, mas também é preciso
saber que é através da tecnologia que poderemos ampliar os níveis de se‑
gurança, adequando-se às necessidades e condições que vêm surgindo na
sociedade digital.

4.1 A valoração subjetiva do juiz do trabalho


É cognoscível que a validade dos documentos digitais e eletrônicos
como meio de prova decorrem de lei, ou seja, sua admissibilidade provém
de previsão no ordenamento jurídico, tendo como condição a utilização de
processos de certificação ou cadastro perante os órgãos do Poder Judiciário,
conforme já apresentado nesta pesquisa.
Além da validade dada pela legislação às provas digitais, o julgador
poderá valorar a prova de acordo com seu livre convencimento motivado.
Princípio este previsto nos artigos 370 e 371 do Código de Processo Civil
de 2015.54 Ou seja, a valoração dependerá tanto da validade legal de tais
provas quanto da livre convicção do juiz.

52
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
53
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
54
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a
tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento; Art. 372. O
juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que
considerar adequado, observado o contraditório” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015.
Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

4.1.1 O livre convencimento motivado


Após a inserção das provas apresentadas no processo, o destinatário
principal – que é o juiz – irá avaliar e analisar a prova produzida, indicando
as razões da formação do seu convencimento, através do princípio do livre
convencimento motivado.
De acordo com este princípio, o magistrado goza de liberdade para fazer
a análise e exame crítico das provas exibidas nos processos, com o intuito
de formação de sua convicção acerca dos fatos trazidos à lide, devendo,
portanto, expor, de forma fundamentada, as razões que o levaram a decidir
de tal forma.55
Entretanto, a liberdade que o magistrado tem na formação do livre con‑
vencimento é limitada de acordo com a legislação. Ele não poderá julgar a
lide de forma contrária à lei, estando proibido de julgar além, aquém ou fora
dos limites do pedido, ou, ainda de forma contrária ao contexto probatório,
estando adstrito a estas condições.56 No mesmo sentido, Carlos Henrique
Bezerra Leite:

A persuasão racional ou o convencimento motivado alicerçam


as decisões contemporâneas. É um método complexo que
impõe ao julgador apreciar os fatos articulados, consoante as
provas legalmente reconhecidas e produzidas no processo em
questão, subministrando as máximas de experiência, a fim de
motivar sua decisão com argumentação racional, isto é, las‑
trada em argumentos técnicos e processualmente aceitos.57

Ou seja, o juiz – observando os limites legais do ordenamento jurídico


– pode dar a sua própria valoração à prova, tendo como condição o dever da
justificação e da fundamentação de como foi feita sua convicção. Tal princí‑
pio é tão intenso que o magistrado também não é vinculado às conclusões
periciais, por exemplo. O juiz terá a liberalidade de avaliar os resultados

55
SOUSA, André Pagani de; CARACIOLA, Andrea Boari; ASSIS, Carlos Augusto de; FERNANDES,
Luís Eduardo Simardi; DELLORE, Luiz. Teoria Geral do Processo Contemporâneo. São Paulo:
Atlas/Grupo GEN, 2021. p. 129. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786559770052/. Acesso em: 10 maio 2022.
56
SOUSA, André Pagani de; CARACIOLA, Andrea Boari; ASSIS, Carlos Augusto de; FERNANDES,
Luís Eduardo Simardi; DELLORE, Luiz. Teoria Geral do Processo Contemporâneo. São Paulo:
Atlas/Grupo GEN, 2021. p. 130. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786559770052/. Acesso em: 10 maio 2022.
57
LEITE, Carlos Henrique B. CPC – Repercussões no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 51. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788547213435/. Acesso em: 10 maio 2022.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

apresentados por seu assistente, podendo até discordar de suas conclusões


reveladas pela prova técnica.58 Neste caso, cabe destacar que será possível
a realização de uma nova perícia, no caso de a primeira extrair elementos
insuficientes de convencimento.59
Afora isso, o magistrado poderá se utilizar de institutos que permitem
a realização de novas diligências para esclarecer questões técnicas ou até
verificar a autenticidade de algum documento através da inspeção judicial,
por exemplo.
Além da legislação civil, na própria Consolidação das Leis Trabalhistas
de 1973, o legislador previu, em seu artigo 765 que “os Juízos e Tribunais
do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo
andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência
necessária ao esclarecimento delas” e no artigo 832, do mesmo diploma
legal, diz que “da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do
pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e
a respectiva conclusão”.60 No mesmo sentido, explica Ingo Sarlet:

Valoração e convencimento são conceitos que não se confun‑


dem. Enquanto o juiz é livre para valorar a prova, tendo em
conta que não está preso a pré-valorações empreendidas pelo
legislador, o seu convencimento está coarctado às exigências
do direito material posto em juízo, obedecendo a níveis variáveis
de certeza para decisão da causa.61

Ou seja, entende-se que a valoração dada pelo juiz é livre no que con‑
cerne a pré-valorações dadas pelo legislador às provas, porém esta liberda‑
de está atrelada a condições legais, quais sejam a fundamentação racional
e analítica de sua decisão. Não sendo tolerada a construção do processo
através de discricionariedade, devendo respeitar o princípio da legalidade.

58
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso de Direito Processual do Trabalho.
São Paulo: Saraiva, 2020. p. 668. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788553616213/. Acesso em: 10 maio 2022.
59
SANDES, Fagner. Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 385.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591682/.
Acesso em: 08 abr. 2022.
60
LEITE, Carlos Henrique B. Curso de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 326.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596663/.
Acesso em: 10 abr. 2022.
61
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz G.; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional.
São Paulo: Saraiva, 2022. p. 399. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9786553620490/. Acesso em: 10 maio 2022.

74 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

Entretanto, o que ocorre na valoração da prova digital é a questão da


garantia de que esta prova possa ter sua autenticidade e integridade confe‑
rida, sendo-lhe atribuída fidedignidade suficiente para ser utilizada na forma‑
ção do livre convencimento do juiz que a analisa.62 Esta situação demonstra
que as prova digitais apresentadas nas lides não serão valoradas da mesma
forma, pois, por mais que sejam admissíveis, estas terão que demonstrar
credibilidade e fiabilidade para o convencimento do magistrado.
Outro problema que concerne às provas digitais é que o documento
digital pode ser facilmente adulterado após a sua criação. Num documento
tradicional, físico, as alterações realizadas podem ser detectadas, às vezes,
à primeira vista ou através de exames periciais, pois tais alterações deixam
indícios. Já os documentos eletrônicos podem ser fraudados sem que sinais
sejam encontrados, sendo muito difícil até mesmo para um especialista em
TI identificar tais adulterações, mesmo que ainda se utilizando da melhor
tecnologia que existe.63
Sendo assim, torna-se indispensável a premissa da necessidade de
validação da prova digital através de métodos eficazes que trarão seguran‑
ça de integridade e autenticidade de certos documentos eletrônicos e/ou
digitais, feito isto através da certificação eletrônica e da assinatura digital,
como já demonstrado em tópico próprio.

4.1.2 Julgados
Teoricamente, constata-se as modalidades de validação e valoração
da prova, mas como este processo se dá na prática? Para isto, há de se
analisar as decisões que acontecem no mundo jurídico real.
A ementa trazida abaixo se trata de recurso de empresa reclamada,
pleiteando que seja revogada decisão que concedeu indenização por dano
moral à reclamante, a qual foi contratada para laborar na empresa, tendo
passado por processo seletivo, nutrindo expectativa de emprego por mais
de 60 dias, tendo sua CTPS retida durante todo este tempo.

62
FERREIRA NETO, Arthur Leopoldino; JOÃO, Paulo Sérgio. A prova documental eletrônica no processo
do trabalho: validade e valoração. Revista de direito do trabalho, São Paulo, v. 45, n. 206, p. 205-
231, out. 2019. Disponível em: bhttps://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/165470.
Acesso em: 11 maio 2022.
63
FERREIRA NETO, Arthur Leopoldino; JOÃO, Paulo Sérgio. A prova documental eletrônica no processo
do trabalho: validade e valoração. Revista de direito do trabalho, São Paulo, v. 45, n. 206, p. 205-
231, out. 2019. Disponível em: bhttps://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/165470.
Acesso em: 11 maio 2022.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

EMENTA. RECURSO DA RECLAMADA. EXIBIÇÃO DE DOCU-


MENTOS. TUTELA ANTECIPADA CONFIRMADA. HONORÁRIOS
DE SUCUMBÊNCIA. Diante da ausência de apresentação vo‑
luntária dos documentos solicitados extrajudicialmente, sem
qualquer justificativa, resta caracterizado o interesse de agir
do requerente e a pretensão resistida da ré, o que enseja a
condenação ao pagamento de honorários de sucumbência.
Recurso desprovido.64 (grifo do autor)

Alega que a Turma deixou de valorar corretamente as provas carrea‑


das aos autos durante a instrução processual, salientando que não busca
reexame de provas, mas sim, a justa valoração das provas já produzidas
nos autos, e a correta atribuição do ônus probatório. No acórdão do referido
processo, a relatora Angela Rosi Almeida determina:

Tal conduta da ré impossibilitou a reclamante de procurar ou‑


tro emprego, seja porque a empresa a manteve durante esse
período empenhada na promessa de contratação (conversas
WhatsApp - Id. 9b85de8 a Id. f2311c1), seja porque estava
retida a sua CTPS desde 28/05/2021.65 (grifo nosso)

A promessa de contratação restou comprovada pela prova digital trazida


pela Reclamante no processo em questão, através de prints de WhatsApp,
para que seja reconhecido seu direito.
A autenticidade do documento trazido está elencada na Lei nº 11.419
de 2006, que dispõe sobre a informatização do processo eletrônico, a qual
determina no art. 11 que os documentos produzidos eletronicamente e jun‑
tados aos processos eletrônicos com garantia da origem e de seu signatário,
na forma estabelecida nesta Lei, serão considerados originais para todos
os efeitos legais. Sendo assim, pode-se ver que não há dúvidas diante da
autenticidade de tais documentos apresentados, servindo de base para a
fundamentação da decisão, conforme o princípio do livre convencimento
motivado.

64
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. RO nº 0020363-56.2020.5.04.0006. Relatora:
Angela Rosi Almeida, 09 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.br/
pesquisas/rest/cache/acordao/pje/OfKkjP8FOJIk8DcFPh4Qaw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3o+d
e+prova+digital. Acesso em: 22 maio 2022.
65
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. RO nº 0020363-56.2020.5.04.0006. Relatora:
Angela Rosi Almeida, 09 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.br/
pesquisas/rest/cache/acordao/pje/OfKkjP8FOJIk8DcFPh4Qaw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3o+d
e+prova+digital. Acesso em: 22 maio 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

Em julgado pedindo reversão de justa causa e férias, decidiu o Tribunal


Regional:

EMENTA. RECURSO ORDINÁRIO DA PARTE RECLAMANTE.


HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. O recente posicionamento
assentado pela Corte Suprema na Ação Direta de Inconsti‑
tucionalidade nº 5766, proferida em 20-10-2021, tem como
efeito o reconhecimento, à parte que litiga ao abrigo da justiça
gratuita, da total isenção das despesas decorrentes da sua
sucumbência na ação, e não apenas da suspensão da respec‑
tiva exigibilidade de acordo com a dicção legal. Sendo a parte
reclamante beneficiária da justiça gratuita, não obstante sua
sucumbência parcial na ação, deve ser absolvida da condena‑
ção ao pagamento de honorários advocatícios à parte adversa.
Recurso parcialmente provido.66 (grifo do autor)

No conjunto probatório, foram juntadas provas digitais pela reclamada


aduzindo:

São anexados prints de tela demonstrando a liberação de


acesso à academia para alunos supostamente inadimplentes
(Id. 5ff7ef1), conversas pelo aplicativo WhatsApp, prints das
redes sociais da reclamante, denotando a utilização das mí‑
dias em diversos horários, inclusive nos horários pactuados
de trabalho e, por fim, uma carta de advertência à reclamante
(Id. f0e29c5).67

Na sentença de 1º grau, utilizada como fundamentação no acórdão, o


magistrado aduz: “Como a autora é confessa quanto à matéria de fato (fl. 560)
e não produziu qualquer prova que infirme a prova documental apresentada
pela ré nas fls. 56 e 287-537, é mantida a justa causa aplicada (fl. 54)”.
Percebe-se, então, que a prova produzida pela reclamada, através
de prints das redes sociais foi devidamente aceita e considerada prova

66
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0021047-28.2018.5.04.0013. Relatora:
Ana Luiza Heineck Kruse, 15 de março de 2022. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/_Dax2hYL6lHYyFAPAgvUOA?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
67
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0021047-28.2018.5.04.0013. Relatora:
Ana Luiza Heineck Kruse, 15 de março de 2022. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/_Dax2hYL6lHYyFAPAgvUOA?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

documental, ensejando no convencimento do julgador para a procedência do


pedido de justa causa e sendo mantida pela relatora de segundo grau, tendo
como base de autenticidade, também o art. 11 da Lei nº 11.419 de 2016.68
Em agravo de petição com pedido de revisão de penhora de valores,
houve a seguinte decisão:

EMENTA. AGRAVO DE PETIÇÃO. PENHORA DE SALÁRIO/AUXÍLIO


EMERGENCIAL. Situação em que além de o executado Luciano
alterar os fundamentos trazidos nos embargos à execução, não
comprova que o valor bloqueado decorre de auxílio emergencial
supostamente recebido.69

O executado sustenta que o valor bloqueado trata de verba impenhorá‑


vel decorrente do auxílio emergencial. Para isto, anexa à peça prints de sua
suposta conta corrente. O julgador do segundo grau assim decidiu:

Ademais, além dos documentos anexados ao agravo de petição


serem extemporâneos, não atendendo ao disposto na Súmula
nº 08 do TST, não demonstram que o extrato corresponde a
uma conta social digital vinculada ao executado Luciano, ônus
que lhe incumbia, tratando-se de meros prints da tela de um
celular, sem qualquer identificação a quem pertence a conta
social digital. Por todo o exposto, não merece reparo a sen‑
tença.70 (grifo nosso)

Nesta decisão, ficou claro que os prints de tela juntados ao recurso


interposto foram insuficientes para que fossem valorados de acordo com
o já abordado neste tópico. O relator entendeu que tais prints de tela não
demonstram a quem pertence a conta social digital e, por sua vez, falta-lhe
autenticidade, pois foram simplesmente juntados como meros prints, sem

68
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 93. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso
em: 13 maio 2022.
69
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020355-41.2014.5.04.0022. Relator: Joao
Alfredo Borges Antunes de Miranda, 23 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/X03ROgFQZCwd5Fl0v-f9yQ?&qp=valora%C3%A7%
C3%A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
70
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020355-41.2014.5.04.0022. Relator: Joao
Alfredo Borges Antunes de Miranda, 23 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/X03ROgFQZCwd5Fl0v-f9yQ?&qp=valora%C3%A7%
C3%A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

certificação digital ou algum tipo de codificação. Neste mesmo sentido,


Miguel Pulpo:

A eficácia jurídica dos documentos em geral e dos documentos


eletrônicos em especial está, como já dissemos, fortemente
dependente da confiança, credibilidade ou fiabilidade que
possam merecer como reproduções – melhor se diria revela‑
ções – factos ou objetos, o que depende essencialmente de
dois fatores: genuinidade e segurança. É genuíno o documento
quando não sofreu alterações. É seguro tanto mais quanto mais
difícil for alterá-lo e mais fácil de descobrir as alterações que
tenha sofrido e reconstituir o texto original.71

Sendo assim, restou não configurado o objetivo do executado, uma


vez que os documentos eletrônicos juntados careceram de autenticidade e
fiabilidade.
O recurso ordinário trazido abaixo, trata-se de pedido de desconsidera‑
ção dos documentos trazidos como meio de prova, sendo estes, prints de
conversas pelo aplicativo WhatsApp, alegando que são de falsas conversas
pelo aplicativo e, ainda, ressalta que o Juízo se utilizou de provas falsas para
fundamentar sua decisão. No seu voto, o relator utiliza a fundamentação do
juízo de primeiro grau:

O Juízo consignou (ID. b34e9eb – Pág. 5) que ‘As mensagens


através do aplicativo WhatsApp comprovam que quando não
havia prestação de serviços não permanecia ninguém na obra,
e que os vizinhos comunicavam a reclamada quando verificavam
situações anormais no local’, o que efetivamente se coaduna
com aquela prova, apresentada com a contestação. Cabia ao
reclamante a impugnação de tais documentos ao longo da
instrução e a prova da sua falsidade, ônus do qual não se
desincumbiu. Trata-se, portanto, de provas válidas.72

A prova trazida aos autos nesta situação foi considerada válida, porque,
neste caso, o recorrente não impugnou tal prova no momento oportuno de

71
CORREIA, Miguel Pupo. Sociedade de informação e o direito: a assinatura digital. Disponível em:
http://www.advogado.com/internet/zip/assinatu.htm. Acesso em: 13 maio 2022.
72
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROR.Sum. 0020714-07.2019.5.04.0251. Relatora:
Maria Silvana Rotta Tedesco, 22 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/9wOJnjtObhODrg3GzAf9VA?&qp=valora%C3%A7%C3%
A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

instrução e não se desincumbiu do ônus probatório que era seu. Sendo as‑
sim, restou mantida a sentença proferida. Neste sentido, o Código Civil, em
seu art. 225, afirma que “as reproduções fotográficas, cinematográficas, os
registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas
ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte,
contra quem forem exibidos, lhes impugnar a exatidão”.73
Também o Novo Código de Processo Civil assegura, em seu art. 369:
“as partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz”.74 Sendo assim, percebe-se que ambos
os diplomas legais aceitam o documento eletrônico como prova e, caso a
parte entenda que seja inverossímil, deverá impugnar para retirar-lhe a força
probatória.75
Já o acordão do ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025, fala sobre pe‑
dido para reforma de decisão de primeiro grau quanto ao reconhecimento
de vínculo de emprego: “Reconhecido o vínculo de emprego por presentes
os pressupostos previstos nos artigos 2º e 3º da CLT”.76 Confessa indire‑
tamente, a parte recorrente, que “não lhe prestou serviços, mas sim para
Seletro, com endereço na Rua Riachuelo, empresa para a qual a deman‑
dada também presta serviços de consertos de equipamentos de salão de
beleza (v. ata de audiência, ID. 190e82c – Pág. 1)”. Desta forma, o Juízo
de primeiro grau decidiu:

(...) Diante do cartão do CNPJ da empresa-ré (fl. 22, Id.e5823e3),


verifico que consta como seu título de estabelecimento e nome
de fantasia ‘SELETRO’, assim como no registro da firma indivi‑
dual da demandada na Junta Comercial do Rio Grande do Sul

73
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 95. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
74
“Art. 369” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
75
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 91. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
76
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025. Relatora:
Vania Maria Cunha Mattos, 24 de novembro de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/-uh0VbMfZeMzwfA81PzpgA?&qp=valora%C3%A7
%C3%A3o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook
%3B+e-mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.

80 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

(fl. 71, Id. 2fa3d34), em que consta como nome comercial RW


da Rocha ME e como título do estabelecimento ‘SELETRO’.
Além disso, na qualificação civil constante na contestação e na
procuração apresentadas pela ré, consta como seu endereço
à Rua Riachuelo, nº 1608, o que confirma o mesmo endereço
registrado nas redes sociais Instagram e Facebook da Seletro
Assistência Técnica, confirmando tratar-se do nome fantasia
da empresa demandada (...).77 (grifo nosso)

Nesta decisão, há de se perceber que a fundamentação utilizada pelo


magistrado é feita através de mídias sociais, as quais confirmam que a
empresa demandada é uma só, tratando-se apenas do nome fantasia. Ade‑
mais, a própria reclamante também utilizou as mídias como prova, como
demonstrado na fundamentação do relator do segundo grau:
Afora isso, há prova documental – publicação da fotografia da autora na
rede social Instagram, na conta da Seletro Assistência Técnica (ID. 63cf52c
– Pág. 1), que, ainda que tenha sido deletada, ratifica a conclusão da exis‑
tência da relação de emprego entre as partes. (grifo nosso)
Sendo assim, não há que se falar de invalidade das provas juntadas,
uma vez que provada sua autenticidade, mesmo com a exclusão posterior
da foto, sendo utilizada como fundamentação para formar sua convicção
através do princípio do livre convencimento motivado.78
Já a próxima decisão analisada trata de agravo de petição que busca
reforma de decisão que determinou a exclusão de empresa do polo passivo
da execução, querendo a sucessão de empregadores para satisfação do
seu crédito, senão vejamos: “Hipótese em que demonstrada nos autos a
existência de liame suficiente para a caracterização de grupo econômico.
Sentença reformada”.79 A decisão foi reformada pelo relator de segundo grau

77
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025. Relatora:
Vania Maria Cunha Mattos, 24 de novembro de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/-uh0VbMfZeMzwfA81PzpgA?&qp=valora%C3%A7
%C3%A3o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook
%3B+e-mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
78
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independen­te­mente do sujeito que a
tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento” (BRASIL.
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da
República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
79
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.

R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 81

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

porque o próprio utilizou de buscas na internet para verificar que a primeira


reclamada, apesar de estar fechada, redirecionou os clientes para a segun‑
da reclamada (excluída em primeiro grau do polo passivo). Neste sentido,
fundamentou o relator:

A PRIMA PHARMA também alegou que atuou no mercado de


forma simultânea e em concorrência com a SOLIS FARMÁCIA
S/A, sendo que jamais tiveram o mesmo ponto comercial.
Sobre o número de telefone, disse que a SOLIS do Shopping
Iguatemi divulgava o telefone 0800-555.1010, razão pela
qual afirmou não possuir qualquer liame com a SOLIS, sendo
parte ilegítima para figurar no polo passivo da execução. Nada
obstante, observo que tanto a PRIMA PHARMA quanto a SOLIS
FARMÁCIA utilizavam o mesmo número de telefone: (51) 3378-
8888. Inexistindo qualquer explicação razoável para ambas
as empresas terem divulgado o mesmo número de contato,
entendo estar superada qualquer dúvida quanto ao liame que
a Prima Pharma insiste em negar.80

Pode-se verificar que a fundamentação utilizada provém de informações


divulgadas na rede (internet), argumentando que as empresas utilizavam o
mesmo número de telefone, não restando dúvida quanto ao liame empresa‑
rial. Ainda, no mesmo dispositivo, o relator noticia:

Além disso, em 29.10.2020 este Relator realizou busca junto


ao Facebook da empresa SOLIS FARMÁCIA, onde pode verificar
que embora conste que a empresa se encontra permanente‑
mente fechada, há indicação do mesmo número de telefone
da recorrida: 3378-8888.81 (grifo nosso)

Neste caso, o próprio relator utilizou pesquisas nas redes sociais


para formar sua convicção acerca do julgado, demonstrando mais uma vez

80
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.
81
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.

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que tais instrumentos digitais detêm autenticidade uma vez que pode ser
identificado quem o concebeu. Além do mais, o magistrado pode se utilizar
destes instrumentos, pois o art. 378 do Código de Processo Civil determina
que ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o
descobrimento da verdade.82
Em mandado de segurança impetrado para reforma de decisão liminar,
a qual indeferiu pedido para que a empresa demandada se abstenha de
utilizar mão de obra empregada em dias de feriados, pois sem autorização
na convenção coletiva de trabalho.

EMENTA. MANDADO DE SEGURANÇA. TRABALHO EM FERIA-


DOS NO COMÉRCIO EM GERAL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO EM
NORMA COLETIVA. O trabalho em feriados nas atividades do
comércio em geral encontra-se disciplinado no art. 6º-A da Lei
nº 10.101/2000, que exige autorização em norma coletiva e
que seja observada a legislação municipal. Segurança confir‑
mada.83 (grifo do autor)

Neste caso, foi sustentado pelo impetrante que a referida empresa


abriria suas portas no feriado do dia 1º de maio de 2021, trazendo como
prova, postagem do Facebook que demonstrava o alegado. O juízo de primeira
instância rejeitou o pedido:

A notícia de uma venda realizada no último dia 21-04-2021,


também feriado, não se presta a tanto. Primeiro que não de‑
monstra que também nesse próximo feriado o requerido abrirá
suas portas. Segundo que não comprova ter sido utilizada mão
de obra assalariada naquele anterior feriado. Demais disso,
o print de postagem no Facebook divulgando a abertura do
comércio igualmente na data de 01-05-2021, não se presta
a comprovar que o demandado pretenda fazê-lo com o uso

82
“Art. 378”. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
83
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.

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de mão de obra assalariada. Dessa forma, indefiro a liminar


postulada.84 (grifo nosso)

Já o Juízo de segundo grau, utilizando-se da argumentação empregada


pela desembargadora em Juízo de plantão, porém, concebeu o seguinte:

No caso dos autos, nada obstante o r. entendimento da Magis‑


trada, entendo que a cópia da postagem do requerido na rede
social Facebook, colacionada no ID d46df81 – Pág. 2, evidencia
a verossimilhança das alegações da inicial no sentido de que
a empresa pretende funcionar no feriado do dia 1º/05/2021,
havendo demonstração, assim, da probabilidade do direito.85

Nesta senda, pode-se perceber que apesar de o primeiro grau não ter
reconhecido a prova trazida aos autos, a r. Desembargadora em Juízo de
plantão entendeu que o print da postagem na referida rede social, da abertura
da empresa em dia de feriado, evidencia a verossimilhança das alegações
trazidas à inicial, restando, então, comprovado o direito pleiteado no man‑
dado de segurança, uma vez que era autêntica a prova trazida ao processo.
Diante da análise dos julgados acima, pode-se verificar que não há
controvérsia no que tange à utilização da prova digital, pois conforme já de‑
monstrado através de legislação pertinente, é possível se utilizar de qualquer
meio de prova moralmente legítimo.86
Com o uso massivo de computadores e demais aparelhos eletrônicos,
as evidências digitais podem e devem ser utilizadas, mesmo quando não

84
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
85
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
86
“Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente
legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se
funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz” (BRASIL. Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm.
Acesso em: 28 abr. 2022).

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assinada digitalmente, pois há níveis de evidência de autenticidade,87 sendo


elas, como visto acima, apreciadas e valoradas conforme o contexto fático
probatório e de acordo com a persuasão racional do magistrado. Porém, é
possível concluir, também, que nunca será alcançada a certeza inequívoca
de confiabilidade no sistema eletrônico como no tradicional, mas sendo
possível, de certa forma imprimir confiabilidade necessária para efetivar
determinados direitos.

5 Conclusão
A presente pesquisa abordou o tema de inovações tecnológicas na Jus‑
tiça do Trabalho, mais precisamente sobre as provas digitais, sua validade
e valoração dada pelo receptor da prova (juiz).
Junto das inovações tecnológicas, as possibilidades de dilação proba‑
tória também se modificaram dentro do processo do trabalho. Os atos jurí‑
dicos que eram antes, praticados e registrados em papel, hoje em dia são
feitos por meio de documentos eletrônicos. Há variadas formas de provar,
por meio digital, diversos fatos jurídicos que se realizam no mundo real. Po‑
rém, ainda discute-se a validade de tais documentos eletrônicos, uma vez
que há possibilidades de intervenção de terceiros durante a movimentação
e processamento dos dados.
A importância de se fazer uma análise acerca do tema proposto é por‑
que cada vez mais a era digital se faz presente no dia a dia da sociedade
como um todo – algo que não se difere dentro da ciência do Direito – já que
o próprio ordenamento jurídico brasileiro se utiliza de meios digitais para
tramitação de processos eletrônicos, sendo até mesmo um objetivo final
findar com o andamento de processos físicos, o que já ocorre em alguns
Tribunais e Foros espalhados pelo Brasil.
A sociedade vem convergindo para uma modalidade mais digital, pois
vêm sendo muito utilizadas as redes sociais e demais mídias eletrônicas.
Com esses avanços tecnológicos, o Direito tem que se adaptar às mudanças
e regulamentar os acontecimentos cibernéticos, tal como fez através da Lei
nº 12.965 de 2014, que estabeleceu o Marco Civil da Internet no Brasil.
Entretanto, as provas digitais, que são documentos produzidos de for‑
ma eletrônica, ainda carecem de uma legislação específica. Os legisladores

87
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.

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manifestaram sua preocupação com tal questão quando foi criada a In‑
fraestrutura de Chaves Públicas Brasileira através da Medida Provisória nº
2.200-2 de 2001.
A assinatura digital nada mais é que um código anexado ou logicamente
associado a um arquivo eletrônico que comprova a autenticidade e a fidedig‑
nidade quanto à integralidade do conjunto de dados do referido documento,
de acordo com o original. Ou seja, a assinatura confere autenticidade através
do conhecimento do emitente do documento, tendo sido assinado por ele.
A partir do conhecimento de quem produziu determinado arquivo eletrônico,
haverá confiabilidade a tais documentos, porque a responsabilidade é da‑
quele que o emitiu.
Já a certificação eletrônica é uma ferramenta de codificação usada para
transformar mensagens em códigos, convertendo-a em caracteres indecifrá‑
veis.88 A chave mais utilizada é a criptografia assimétrica que concebe duas
chaves: uma chave privada, que codifica a mensagem, e outra chave pública,
que decodifica a mensagem, porém podendo ocorrer o inverso.
Com a Informatização do Processo, através da Lei nº 11.419 de 2006,
tais ferramentas também foram positivadas na referida Lei, bem como a de‑
finição de documento eletrônico. Estas foram um marco na utilização desses
documentos, pois puderam conferir autenticidade, integridade e validade
jurídica aos documentos produzidos eletronicamente.
Ocorre que, como mencionado anteriormente, não há uma legislação
específica que contenha um rol taxativo e permissivo de quais documentos
eletrônicos poderão ser utilizados como prova eletrônica. Tal situação im‑
plica na valoração dada às provas digitais, por parte do convencimento do
magistrado.
Através do princípio do livre convencimento motivado, o juiz poderá
escolher qual prova terá força para convencê-lo a decidir por determinado
direito, devendo, porém, fundamentar sua decisão. Dessa forma, aí entra o
problema subjetivo da valoração do juiz. Para isto, o magistrado deverá se
valer dos requisitos já previstos na legislação como, por exemplo, a possi‑
bilidade das partes empregarem qualquer meio legal, moralmente legítimo
e não ilícito, para influir de forma eficaz na convicção do juiz.
Nesta senda, pode-se perceber, através desta pesquisa, que o juiz tem
validado de forma positiva as provas digitais, pois estas estão de acordo

88
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso
em: 18 abr. 2022.

86 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022

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com os princípios do processo trabalhista, com o princípio constitucional


de ampla defesa e com os demais dispositivos da legislação processual –
já amplamente mostrados – que conferem ao processo a possibilidade de
utilização da prova digital, mesmo que esteja inserida de forma concisa no
ordenamento jurídico.
Há um longo caminho a ser percorrido pelo Direito Digital e pelos le‑
gisladores, pois é factível que se houver um rol taxativo de provas digitais,
este deverá sempre estar sendo atualizado e emendado uma vez que o ci‑
berespaço está todo dia se inovando e se transformando.

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Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2018 da


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

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Revista Fórum Justiça do Trabalho, Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p.
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