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MACAPÁ/AP
2021
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THAÍS FERNANDES DA CUNHA
Orientador:
Coorientador: COORDENAÇÃO DO CURSO
MACAPÁ/AP
2021
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
EXAMINADOR:
_____________________________________
MACAPÁ/AP
2021
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RESUMO
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ABSTRACT
This study aimed to visualize the perspectives of lawyers and judges on the hearings
reconstituted within the virtual environments in the context of the covid-19 pandemic in the
State of Amapá, located in the Amazon region, far north of Brazil. Thus, it is asked what are
the main positive and negative points in relation to presencials hearings, as it is essential to
visit the main guidelines of the National Council of Justice (CNJ) on the virtualization of
hearings and the provisions enacted within the Code of Civil Procedure on the theme.
Therefore, a qualitative research was carried out, with a bibliographical, descriptive,
documental character, with field research and case study and with interviews and
questionnaires carried out with lawyers and judges of the State. In this sense, through the
insertion of perspectives from members of the Justice, it was sought, in the production of
empirical research on Civil Procedural Law, to measure the quality of access to Justice in
the digital age.
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SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
O ano de 2020 trouxe uma nova forma de se relacionar com o mundo devido a
pandemia de Covid-19, principalmente com a implementação do isolamento social e
medidas sanitárias para evitar a contaminação e alastramento do vírus, portanto, a Justiça
que é a materialização do Direito também teve que mudar.
Para que o Poder Judiciário não parasse foi necessária uma mudança radical de
paradigmas em relação ao uso das novas tecnologias, não só quanto aos autos físicos do
processo, que paulatinamente estão sendo substituídos pelos digitais, mas em como seriam
realizadas as audiências, pois é princípio do Direito que a Justiça não pode se eximir de
sua função, já que a função daquele é a pacificação social.
No entanto, a utilização de novas tecnologias não vem com facilidade, o Poder
Judiciário é conhecido pela sua resistência, no sentido de novos instrumentos materiais, às
novidades, sendo dito por alguns de seus membros, que ainda se encontra em tempos
analógicos. Não bastava somente levar essas tecnologias ao Judiciário, era preciso
implementá-las de forma que universalizassem o acesso à Justiça para todos,
principalmente aos excluídos digitais.
O Conselho Nacional de Justiça expediu várias resoluções para regular as
audiências virtuais, entre elas a resolução que trouxe a diferença entre sessão
telepresencial e sessão por videoconferência, além de outras regras para a regulamentação
da tecnologia complementando outras resoluções e atos normativos já existentes desde a
publicação do Novo Código de Processo Civil que trouxe novas colocações sobre
tecnologias dentro das audiências e processos.
A implementação de audiências virtuais ao mesmo tempo que democratizou e
possibilitou condições positivas também segregou. Não apenas os excluídos digitais do
mesmo modo os que por condições regionais têm baixa conectividade com a internet e uma
distribuição deficiente de energia como a do Estado do Amapá que em novembro de 2020
sofreu 22 dias de apagão geral em 13 dos seus 16 municípios.
Todavia, antes de tudo, é preciso saber as perspectivas daqueles que atuam no
Estado do Amapá para o funcionamento regular da Justiça nos moldes da audiência virtual
dentro do contexto da pandemia atual de Covid-19, tanto os advogados quanto os juízes
para entender a multitude complexa deste cenário que sem dúvidas mudará para sempre
o modo como se vê e se concretiza a aplicação do Direito Processual Civil.
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1. A PREVISÃO NORMATIVA E A IMPORTÂNCIA DA AUDIÊNCIA DE
INSTRUÇÃO NO PROCESSO CIVIL
O processo se apresenta como instrumento da atividade intelectiva do juiz segundo
Humberto Theodoro Júnior1, porém, não basta apenas a atividade intelectiva do juiz. O
processo, não confundir com o procedimento que é a forma material que o processo se
realiza em cada caso concreto2, geralmente são: postulatória, instrutória, decisória, recursal
e executória de acordo com o Código de Processo Civil.
Após o saneamento, onde o juiz verifica se há questões processuais que necessitem
ser resolvidas e nenhuma delas incorrendo nas hipóteses do artigo 357 do CPC, é chegada
a hora da audiência de instrução e julgamento conforme artigo 358 ao 368 do diploma
supracitado.
Essa fase tem o objetivo de resolver questões controvertidas entre as partes para
formar o livre convencimento do juiz. Lembrando, que a audiência de instrução é ato
processual solene onde o principal objetivo é a produção de provas orais com o auxílio das
partes, testemunhas, peritos e etc3. Contudo, a audiência também visa conciliar as partes
de acordo com o artigo 359, é a primeira etapa após instalada. Não sendo frutífera o
próximo passo é a produção de provas orais.
A audiência é una e contínua conforme o artigo 365, podendo ser cindida somente
em casos excepcionais, também é pública4 e deve ser realizada em sala de portas abertas.
Porém, apesar de sua cristalina importância, ela não se trata de instrumento indispensável,
pois nem sempre o processo precisará passar pela produção de provas.
A primeira hipótese se trata da não necessidade de produzir mais provas do que
aquelas já apresentadas na fase postulatória, então o juiz julgará antecipadamente o pedido
proferindo sentença com resolução de mérito conforme art. 355, I; e a segunda é caso o
réu incorra em revelia.
É pela complexidade em matéria de fato ou de direito que será designada audiência
para integrar ou esclarecer suas alegações assim como tenha sido determinada prova
testemunhal as partes devem levar para a audiência prevista o respectivo rol de
1 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 58ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2017,
p. 130.
2 Ibidem, p. 132, 133.
3 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). Disponível em <
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testemunhas que não pode ser superior a 10 (dez) sendo 3 (três), no máximo, para a prova
de cada fato segundo art. 357, §3º, 4º e 6º.
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“A modernização do Poder Judiciário assegura ampliação do acesso à justiça pela
introdução de métodos tecnológicos no auxílio da resolução de conflitos e garante
rapidez e eficiência na resposta jurisdicional às demandas.” 6
O dispositivo veio como complemento para a resolução nº185 de 2013, que institui
o Sistema Processo Judicial Eletrônico (PJe) que vem sendo implementado aos poucos
desde sua criação. Em meados de 2015, o PJe estava implantado em mais de 1300
unidades judiciárias e com mais de 4 milhões de processos judiciários em suas bases 8,
porém ainda nem todos os tribunais aderiram a esse recurso. Muitos chegando a ter o
próprio sistema de processo eletrônico.
No entanto, a pandemia acelerou o processo de modernização da audiência, pois o
contágio pela Covid 19 se faz principalmente em lugares fechados, ou seja, realizá-las em
fóruns e tribunais tornou-se insalubre para os membros do Judiciário. Porém, pelos
princípios da eficiência, celeridade e inafastabilidade, também conhecido como princípio do
acesso à Justiça, não há como a Jurisdição entrar em suspensão como todos os outros
serviços, pois fere a Constituição em seu artigo 5º, inciso XXXV.
Para que não haja exclusão da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de
direito, o Conselho Nacional de Justiça, no que lhe compete, começou a publicar resoluções
para resolver a equação “isolamento social versus funcionamento do Judiciário”.
A resolução nº 337/20 que trata sobre a utilização de sistemas de videoconferência
no Poder Judiciário e deixou livre para os tribunais decidirem qual sistema utilizar para as
audiências e atos oficiais leva em suas considerações o aumento dessa demanda a partir
do contexto de pandemia da Covid-19. Vê-se uma flexibilização sobre qual a melhor opção
6 MELO, Jeferson. CNJ detalha regras para realização de sessões e audiências em meio digital. Agência CNJ
de Notícias, Rio de Janeiro, 13 jan. 2021. Disponível em < https://www.cnj.jus.br/cnj-detalha-regras-para-
realizacao-de-sessoes-e-audiencias-em-meio-digital/> Acesso em 11/07/2021.
7 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 354, de 19 de Novembro de 2020. Disponível em
Acesso em 11/07/2021.
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para a melhor opção, podendo também optar pelo desenvolvimento de sistema próprio ou
adoção, de forma onerosa ou gratuita, de solução tecnológica disponível no mercado,
devendo priorizar a solução que, na medida de sua avaliação própria, seja a mais eficiente
e de menor custo9 de acordo com o princípio da economicidade.
O CNJ, durante o período de enfrentamento da pandemia causada pelo COVID-19,
trouxe mais uma opção aos tribunais e magistrados brasileiros: a Plataforma Emergencial
de Videoconferência para Atos Processuais, especialmente para casos que exijam rápida
resposta do Judiciário. Essa plataforma surgiu de uma parceria entre o Conselho Nacional
de Justiça e Cisco Webex, sendo a primeira solução desse tipo utilizada por todo o Sistema
Judiciário Brasileiro10.
O projeto não implicou qualquer custo ou compromisso financeiro por parte do CNJ11,
além do que foi de grande utilidade para os tribunais que não possuem sistema próprio. A
plataforma foi usada, que teve vigência de 9 meses, entre abril e novembro de 2020, para
mais de 1,2 milhões de reuniões12, com 20.441 de usuários13 e tendo a maior porcentagem
nas Justiças Estudais (69,5%)14, Trabalhistas (21%)15 e Federais (6,8%)16 respectivamente.
A plataforma Cisco Webex de videoconferência foi usada por 83 tribunais17.
Houve uma quebra imediata de paradigmas e grande avanço contra as resistências
do uso da tecnologia no momento da pandemia para que o Judiciário continuasse
funcionando como afirmou o juiz auxiliar da Presidência do CNJ Alexandre Libonati, um dos
coordenadores da área de tecnologia da informação:
“Se uma lição pode ser aprendida com essa realidade, é que temos que investir em
inovação. Nós avançamos, em matéria de tecnologia, em poucos meses o que,
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provavelmente, levaríamos anos. E isso só ocorreu pela necessidade de assegurar
a prestação jurisdicional.”18
Tantos foram os avanços, que no dia 15 de abril de 2020 o Supremo Tribunal Federal
realizou a primeira sessão plenária virtual de sua história através da plataforma que a Cisco
e Conselho Nacional de Justiça construíram juntos19. Fato inédito na história do STF, ao
longo dos seus 129 anos. O que só foi possível graças à resolução nº 672, de 26 de março
de 2020 aprovada em sessão administrativa da Corte.
Ademais, vale lembrar que, o uso da Plataforma Emergencial de Videoconferência
para Atos Processuais não é obrigatório20, trata-se de mais uma opção tecnológica entre
tantas outras disponíveis no mercado e desenvolvidas pelos próprios tribunais. Além do
que, inovações não acompanham somente benefícios, também, novas dificuldades. Por
isso, para sabermos mais sobre o caso concreto torna-se imprescindível conhecer as
perspectivas dos membros essenciais à Justiça.
18 MELO, Jeferson. CNJ detalha regras para realização de sessões e audiências em meio digital. Agência
CNJ de Notícias, Rio de Janeiro, 22 dez. 2020. Disponível em < https://www.cnj.jus.br/videoconferencia-
parceria-entre-cnj-e-cisco-segue-ate-final-de-janeiro/>. Acesso em 10/08/2020.
19 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Plataforma Emergencial de Videoconferência para Atos
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aplicativo diferente. Uma coisa é esperar na antessala no fórum, que é possível
confirmar a realização da audiência, outra coisa é aguardar em casa/escritório
alguém nos aceitar na sala, e principalmente se irá aceitar.”
Sobre os pontos negativos das audiências telepresenciais o ponto que ficou patente
na resposta dos advogados foi a dificuldade de acesso pelos clientes e testemunhas, pois
quando o problema não está na conexão (que deve ser feita preferencialmente por rede
WiFi), está na falta de domínio do aplicativo por aquelas, então a qualidade da audiência
fica comprometida. Logo, percebe-se que a baixa conectividade do Estado do Amapá, o
problema de abastecimento de energia elétrica e a falta de familiaridade com certas
tecnologias não são empecilhos somente para o Poder Judiciário.
No entanto, é necessário destacar uma das respostas que trouxe uma nova
perspectiva interessante e complexa sobre o tema:
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parte do Advogado, além de poder colocar vídeos e fotos no momento da audiência” além
de “De todos até o momento vejo como mais acessível o Google Meet, justamente pela
facilidade de acesso e de manipulação, ainda que ele tenha menos recursos/fardamentas
que outros.”
Sobre os atendimentos remotos no contexto da pandemia, apenas um dos
entrevistados respondeu ser bastante eficiente, enquanto outros negaram a melhora
afirmando que apesar da facilidade atual, antes era possível sair do atendimento com uma
decisão, enquanto, agora, os atendimentos em regra se resumem a pedir conclusão do
processo depois de peticionar, então, em termos, está pior.
Quanto a superação da geral resistência que o Poder Judiciário tem em relação às
novas tecnologias devido a pandemia, responderam positivamente, pois se não houvesse
a aceitação desses recursos a Justiça estaria com todos os seus processos parados até
hoje. Um dos entrevistados afirmou que certa vez foi a única alternativa de dar continuidade
à prestação jurisdicional.
Em relação ao andamento dos processos, a maioria dos entrevistados afirmou estar
mais lenta de um modo geral, porém, sobre a Justiça do Trabalho um afirmou que:
Tal afirmação foi um contraponto à opinião de outro entrevistado que respondeu que
“na Justiça do Trabalho, conhecida pela velocidade, tem varas com andamento lento e
outras quase estacionadas. O que nos leva aos dados do STF sobre celeridade e eficiência
na utilização das plataformas digitais e se eles se aplicam ao Estado do Amapá, três dos
quatro entrevistados responderam que não, sendo que um deles declarou: “Celeridade não
se confunde com “pressa” processual, com atropelo do devido processo legal. Na verdade,
o que se busca no Amapá é finalizar o processo independentemente de se fazer justiça”.
Um caso que se reporta relevante para este trabalho é sobre a quase paralização
da realização de audiências na Justiça Federal durante a pandemia no Amapá,
principalmente aquelas que dependiam de testemunhas, tudo porque os procuradores da
AGU não aceitavam a oitiva de testemunhas por aplicativo. Considerando que as demais
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justiças estavam permitindo a escuta de testemunhas por aplicativo, os entrevistados foram
questionados sobre caso e se a escuta de testemunhas por aplicativo poderia macular a
produção de prova no processo judicial. As opiniões foram bem divergentes, dois
advogados responderam que há mácula pois, segundo um deles:
“Minha opinião é que sim. Como disse acima a dinâmica da instrução realizada de
forma virtual jamais será como a física, existe sim prejuízo na oitiva de testemunha
feita virtualmente, além do fato de que o cometimento de fraudes também fica mais
fácil de ocorrer e difícil de controlar”.
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de Justiça, pois como o Juizado atende majoritariamente pessoas mais pobres que vivem
com até no máximo um salário mínimo observando as peculiaridades do Estado do Amapá:
“No nosso caso concreto as partes são muito sem condição financeira, e no Estado
do Amapá diferentemente da região centro-sul é mais fácil, mas no Estado do
Amapá no qual eu exerço jurisdição sobre todo o Estado do Amapá e nas ilhas do
Pará, nós não temos internet, não temos 4G e nem sempre as pessoas têm
conhecimento. Nós temos os excluídos digitais, pessoas que não têm acesso a
tecnologia, então muitas vezes a gente viu resultado do auxílio emergencial que
falam que foi uma política de sucesso, mas foi uma política de exclusão. […] a gente
viu essa mesma realidade vindo para a Justiça Federal e na nossa situação o que
foi?”
“A parte optou por se deslocar, várias partes optaram por se deslocar, claro que
sempre respeitando as regras sanitárias, então muitas vezes a gente cancelava
quando tinha restrições às audiências, a gente respeitava as autoridades sanitárias.
E o que aconteceu que foi muito interessante, as partes optavam por ir
presencialmente porque, senão, elas não conseguiriam realizar a audiência.
Perceba o ônus, quando se fala de audiência virtual em que você tem uma relativa
escolaridade, uma média escolaridade, uma relativa condição financeira é positivo,
mas num Juizado Especial Federal em que a maioria das pessoas ganham um
salário mínimo e os benefícios são: previdenciários de rurais e benefícios
assistenciais, as pessoas não têm condição financeira para ter essa estrutura.”
“Não tem tanto boom da informatização no interior, não adianta pensar em uma
escola particular, numa escola da área central de Macapá, mesmo da rede pública,
estamos falando de pessoas de escolas rurais, de pessoas que não estudaram,
então ela não tem nem conhecimento parco de informática, nem celular, a maioria
dos celulares que elas têm são celulares para receber mensagem, ou no mais tardar
para mexer no What’s APP, então você exclui e alija porque torna mais difícil. E
“não, não deu certo, não vou lá não. Só vou falar com a televisão, o juiz nem vai lá
falar comigo”, quantas vezes? “Que bom que o senhor ouviu, que bom que o senhor
me parou” e está distante não, a pessoa distraí, conversa. Ela fica toda
“acabronhada” na audiência. ”
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Então cria-se uma distância entre juiz e partes, o que apenas piora com a baixa
conectividade do Estado do Amapá, pois as comunicações são fracas e o apagão geral em
13 dos 16 municípios dentro da pandemia apenas agravou a situação. Além do que o
Estado fica no extremo norte do Brasil, acessível somente por vias hídricas ou aéreas. Há
o fator de desigualdade de acesso à energia e às comunicações.
Questionado se a pandemia realmente acelerou a superação da resistência que
o Poder Judiciário tem em relação às novas tecnologias respondeu que se trata de uma
reflexão bem difícil de fazer, mas acredita que o Poder se encontra na Idade da Pedra,
afirmando que há várias gerações atuando nele e não houve o acompanhamento de
nenhuma. Completando que:
“Então o Judiciário, eu digo que não é que ele não evoluiu, ele passou a olhar um
pouquinho mais para a tecnologia da informação, mas perceba, as câmeras não
são preparadas, as câmeras ali não são 360°, não existe microfone unidirecional,
então não se preocupou com o tratamento da imagem, não se preocupou com o
atendimento virtual, não se preocupou para fazer contato com as operadoras de
telefonia para não debitar, então assim, não se preocupou. E não se preocupou em
um diretriz específica internacional. Cada um foi por si. Não tinha uma diretriz
nacional, o CNJ não estabeleceu balizas de ações afirmativas, políticas, não se
investiu em ação midiática, nem mesmo nas mídias sociais dos próprios órgãos do
Judiciário, mas só no marketing.”
“No caso do Amapá, não foi adotado a que foi autorizada pelo Conselho Nacional
de Justiça porque as pessoas são excluídas digitais, então, na verdade, não foi
eficiente como pensado pelo Conselho Nacional de Justiça porque não foi pensada
essa solução ofertada para o atendimento aos ribeirinhos amazônicos. Não pensou-
se a situação dos ribeirinhos amazônicos. Não eficiente porque não pensou, ela foi
uma ferramenta utilizada, usada, adaptada. Não foi pensada para um ribeirinho,
mas foi usada no ribeirinho. Qual que foi a razão? O ribeirinho não utilizou os órgãos
públicos ou os advogados, com maior escolaridade, mas o ribeirinho em si, não
utilizou. E aí que acabou que, não foi tão eficiente aqui, diferentemente se fosse da
região centro-sul do país que existe uma questão econômica muito maior.”
“Bem, a minha opinião como bem ressaltei em todos os casos é que eu sou
favorável a oitiva de testemunhas e partes por aplicativo. Não tenho objeção
nenhuma. A grande questão que foi falada é porque tinha que se garantir a
incomunicabilidade. É o que a AGU falou, posicionou, as pessoas queriam ouvir
todos geralmente no escritório de advocacia e assim o que eu tentei fazer nessa
pandemia foi o negócio processual entre as instituições para não anular. Então, eu
tentei conciliar onde era possível, tá? Então eu não tenho restrição a fazer,
sinceramente a pessoa no Juizado Especial Federal, ela não vai inventar moda
nessa questão de mentir, não mente, isso aí não tem. As faltas de verdade é mais
quando a pessoa quer ajudar e tal, mas não tem essa, eu não percebo esse nível
de maldade, de insanidade como a gente vê em outras áreas, não.”
“Mas a AGU bateu o pé que não aceitava e por outro lado a Defensoria Geral da
União também ficou um pouco preocupada de prejudicar o seu cliente pela ausência
de acesso digital e ofertar estrutura. Acredito que, o que poderia ter sido um meio-
termo. É que o CNJ poderia ter sido estimulado é a criação de pontos de acesso à
jurisdição em cada município, é ter estimulado, para que as pessoas pudessem se
deslocar dentro da sua localidade de domicílio ou por exemplo, em Macapá, criado
pontos de acesso em Macapá, por exemplo, em nossa região, não só centralizado,
por exemplo, na Zona Norte que é uma zona totalmente isolada.”
Quanto à distribuição de processos afirmou que caiu em torno de 30% a 40%, pois
a atermação física fechou durante a pandemia restando apenas a virtual, o que demonstra
a ineficiência dos atendimentos virtuais no contexto do Estado do Amapá. As pessoas
voltaram a pleitear seus direitos sem advogado no Juizado pois há o atendimento presencial
na Justiça Federal, e dentro desse total, segundo o entrevistado, apenas 20% a 10%
dessas ações são virtuais o que é paupérrimo por conta das dificuldades tecnológicas do
Estado.
CONCLUSÃO
Ao analisar todos os dados coletados, vê-se a discrepância entre as diretrizes
dadas pelo Conselho Nacional de Justiça, leis e Código de Processo Civil com a realidade
geográfica e político-social de um país de dimensões continentais e que ainda está em
desenvolvimento como é o caso do Brasil.
O Poder Judiciário durante a pandemia fez grandes avanços no seu modo de lidar
com a incorporação de novas tecnologias, porém, tal avanço está longe de ser suficiente e
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a legislação e atos normativos continuam sendo uma moldura de um “dever-se-ia ser” ao
invés da realidade fática.
Em relação a baixa conectividade do Estado, Dr. Leonardo trouxe vários pontos
que ampliaram a visão sobre o tema e ajudaram a torná-lo mais complexo. O Amapá é um
Estado com extensão territorial de 142.470,762 km²21 com 877.613 pessoas22, sendo que
a capital Macapá tem a maior concentração da população com 512.902 habitantes 23
seguida do município de Santana com 123.096 habitantes24, em relação aos outros Estados
é muito pouco populoso e conta com grandes áreas desabitadas. A sua densidade
demográfica no último senso foi de 4,69 hab/km².
O Amapá assim como outros estados amazônicos carrega peculiaridades
territoriais e sociais que devem ser levadas em consideração para que seja possível o
alcance da Justiça a todos que nele vivem: os povos ribeirinhos que vivem nas margens de
rios e igarapés, os povos quilombolas e os povos de comunidades indígenas. O boom da
informática anda em passos de formiga para atingir com plenitude essas pessoas que
habitam lugares remotos.
Porém, quando se fala na era da informatização das audiências devido ao contexto
da pandemia, no Amapá o cenário torna-se diferente e por vezes o que deveria vir para
conjugar acaba por segregar, e não apenas no cenário rural de pessoas que vem do interior
do Estado e ilhas adjacentes.
A baixa conectividade, instabilidade de comunicações e energia elétrica são
problemas que também atingem a região urbana e central do Amapá, causando inúmeras
dificuldades na realização de audiências virtuais, assim como a falta de conhecimento no
manuseio dos aplicativos que apesar de não serem de tão difícil manuseio ainda são
distantes do que as partes estão acostumadas segundo relatos dos advogados.
Antes de discutir-se a realização de audiências virtuais é necessário discutir a
inclusão digital em todas as regiões do país e suas ações afirmativas, o aplicativo de
mensagens What’s APP alcançou muitos lugares que outros aplicativos não conseguiram
permitir seu funcionamento em aparelhos de baixo custo. A sua democratização é inegável.
É vital o Poder Judiciário pensar as audiências virtuais com a mesma ideia para
que não gere segregação e possa garantir o princípio do acesso à Justiça para todos.
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REFERÊNCIAS
MELO, Jeferson. CNJ detalha regras para realização de sessões e audiências em meio
digital. Agência CNJ de Notícias, Rio de Janeiro, 13 jan. 2021. Disponível em <
https://www.cnj.jus.br/cnj-detalha-regras-para-realizacao-de-sessoes-e-audiencias-em-
meio-digital/> Acesso em 11/07/2021.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 58ª ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 130.
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