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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

MARIA LUIZA DE CARVALHO ROCHA

AUTOCOMPOSIÇÃO DE CONFLITOS E ONLINE DISPUTE RESOLUTION:


NOVO ESPAÇO PARA RESOLUÇÃO DE DISPUTAS NO BRASIL

NATAL/RN
2022
MARIA LUIZA DE CARVALHO ROCHA

AUTOCOMPOSIÇÃO DE CONFLITOS E ONLINE DISPUTE RESOLUTION: NOVO


ESPAÇO PARA RESOLUÇÃO DE DISPUTAS NO BRASIL

Monografia apresentada ao curso de Direito da


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Diogo Pignataro de Oliveira.

NATAL/RN
2022
MARIA LUIZA DE CARVALHO ROCHA

AUTOCOMPOSIÇÃO DE CONFLITOS E ONLINE DISPUTE RESOLUTION: NOVO


ESPAÇO PARA RESOLUÇÃO DE DISPUTAS NO BRASIL

Monografia apresentada ao curso de Direito da


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Dr. Diogo Pignataro de Oliveira.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Diogo Pignataro de Oliveira


Orientador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profa. Dra. Michele Nóbrega Elali


Membro Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Prof. Dr. João Paulo dos Santos Melo


Membro Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Dedico essa pesquisa ao meu filho Benício, Sol
da minha vida, luz dos meus dias.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer ao Prof. Diogo Pignataro de Oliveira,


meu orientador, por toda atenção e cuidado com a minha pesquisa. Todos os
materiais indicados e orientações oferecidas foram fundamentais para a elaboração
deste estudo.

Agradeço também a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, lugar em


que me sinto em casa e completamente acolhida. O lugar que me desperta o desejo
de ser uma pessoa melhor, uma cidadã melhor, para mim mesma, minha família,
amigos e sociedade de uma forma geral. Foi aqui onde eu descobri qual o meu
papel, minha missão de vida. Sou grata por esse time maravilhoso de professores
que temos aqui, bem como pela estrutura oferecida, não me deixando a desejar em
nada. Não tenho palavras para expressar o quanto eu evoluí como ser humano
desde que comecei essa graduação, ao acumular conhecimento e conhecer
pessoas maravilhosas dentro desta instituição.
A tecnologia torna grandes populações possíveis,
grandes populações tornam a tecnologia indispensável.
(Joseph Wood Krutch)
RESUMO

A tecnologia tem sido utilizada por diversos segmentos da sociedade humana com o
propósito de otimização dos serviços. A automação é uma tendência mundial que o
Judiciário de diversos países ao redor do mundo têm adotado. A pandemia da
Covid-19 veio para acelerar a implementação de tecnologias aos atos processuais.
Nunca foi tão necessário intimar e citar partes por meio de aplicativos de
mensagens ou realizar audiências por videoconferência, por exemplo. O objetivo
deste estudo é analisar qual a viabilidade, as vantagens e ganhos que os cidadãos
brasileiros teriam ao utilizar a Online Dispute Resolution como forma de solucionar
controvérsias. A partir de estatísticas obtidas através de estudo sobre o
funcionamento de toda a máquina judiciária brasileira, demonstra-se a necessidade
de modificar o paradigma do litígio judicial para que o acesso à Justiça seja
efetivado de forma satisfatória na sociedade brasileira. Discorre-se sobre a
digitalização da Justiça (viabilizada pelo Conselho Nacional de Justiça por meio do
que conhecemos como Justiça 4.0) os Meios Adequados de Solução de Conflitos,
bem como sobre a tecnologia ODR; seu surgimento, o local de origem, como está
sendo utilizado em outros países e como está sendo aplicada no Brasil. Girando em
torno dessa temática, é salutar que se faça o seguinte questionamento: quais os
avanços (em termos de eficiência) obteríamos na resolução de disputas ao aplicar a
referida tecnologia? A pesquisa em comento, utilizou-se do método indutivo e, para
alcançar os objetivos propostos, análise descritiva e exploratória. Sobre o
procedimento, utilizou-se de pesquisa bibliográfica, baseada na legislação, artigos
científicos, bem como em notícias veiculadas em sites de alguns órgãos da Justiça.
Após o estudo realizado, concluiu-se que a tecnologia de Online Dispute Resolution
(ODR), é, de fato, uma ferramenta legítima e efetiva para a materialização do
acesso à Justiça (no sentido lato da palavra) no Brasil.

Palavras-chave: Acesso à Justiça. Tecnologia. Métodos Adequados de Solução de


Conflitos. Resolução de Disputas Online.
ABSTRACT

Technology has been used by various segments of human society with the purpose
of optimizing services. Automation is a global trend that the Judiciary of several
countries around the world have adopted. The Covid-19 pandemic came to
accelerate the implementation of technologies to procedural acts. It has never been
so necessary to subpoena and cite parties through messaging apps or hold hearings
by videoconference, for example. The objective of this study is to analyze the
advantages and the gains that the Brazilian Judiciary would have when applying the
Online Dispute Resolution as a way of resolving disputes. Based on statistics
obtained through a study on the functioning of the entire Brazilian judicial system, it
is demonstrated the need to change the paradigm of litigation so that the right to
judicial assistance is effected in a satisfactory way for Brazilian citizens. It discusses
the digitalization of Justice (enable by the National Council of Justice through what
we know as Justice 4.0), the Adequate Means of Conflict Resolution, as well as the
ODR technology; its emergence, the place of origin, how it is being used in other
countries and how it is being applied in Brazil. Revolving around this theme, it is
healthy to ask the following questions: what advances (in terms of efficiency) would
the judicial activity obtain when applying this technology? The research in question
used the inductive method and, to achieve the proposed objectives, the descriptive
and exploratory research. About the procedure, bibliographic research was used,
based on legislation, scientific articles, as well as on news published on websites of
somes organs of Justice. After the analysis carried out, it was concluded that the
Online Dispute Resolution (ODR) technology is, in fact, a legitimate and effective tool
for the materialization of access to justice (in the broadest sense of the word) in
Brazil.

Keywords: Access to Justice. Technology. Appropriate Conflict Resolution Methods.


Online Dispute Resolution.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10
2 PROBLEMAS GERAIS ENFRENTADOS PELO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO: o
mundo digital como parte das soluções? 14
2.1 Papel do Justiça em Números no diagnóstico desses problemas 16
2.2 Digitalização da Justiça Brasileira 19
2.3 Utilização da Inteligência Artificial pelo Poder Judiciário 23
2.4 Robô Victor 23
2.5 Robô Sócrates 24
2.6 Robô Elis 24
3 OS MÉTODOS AUTOCOMPOSITIVOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS: acesso à
Justiça para além da solução judicial 26
3.1 Conciliação 29
3.2 Mediação 30
3.3 Negociação 33
4 PANORAMA GERAL SOBRE A TECNOLOGIA ODR: sinergia (futura ou atual?) entre
o mundo digital e o formato autocompositivo de solução de disputas 35
4.1 Experiências e resultados obtidos em outros países 38
4.2 Experiências e resultados obtidos no Brasil 40
4.3 A plataforma consumidor.gov.br 42
4.4 A plataforma RA leegol 44
5 CONCLUSÃO 46

REFERÊNCIAS
10

1 INTRODUÇÃO

Percebendo através de números constatados em pesquisas, assim como na


notória insatisfação popular, que o sistema de Justiça brasileiro da maneira como
vem acontecendo está longe de realizar muitas das promessas constitucionais -
dentre elas, acesso à justiça e prestação jurisdicional célere (princípio da razoável
duração do processo) - os integrantes do Poder Judiciário vem ano a ano tentando
implementar e assentar novas formas de resolução de controvérsias, enfraquecendo
aos poucos o paradigma do litígio sobre o qual estão alicerçadas grande parte das
75,4 milhões de ações (dados do Justiça em Números, ano base 2020) que
tramitam em nosso país atualmente. É nesse contexto de virada cultural que temos
a Autocomposição de Conflitos e a tecnologia como protagonistas, consoante se
verá ao longo do trabalho, uma interligação indispensável para uma adequada
resolução dos conflitos.
Característica do formalismo brasileiro, o Poder Judiciário é a primeira porta
que nos vem à cabeça quando precisamos resolver situações conflituosas que
surgem corriqueiramente em nossas vidas. Mesmo com todos os esforços
existentes em sentido contrário, os cidadãos brasileiros prioritariamente ainda
resolvem suas controvérsias perante o Poder Judiciário e de forma litigiosa. A
justiça e o litígio são símbolos, carregados de significado e fincados na mente dos
cidadãos. Esclarecido isso, não podemos esperar uma mudança de mentalidade
rápida e brusca. É necessário ainda muita luta, através de políticas públicas, por
exemplo, para mudar o pensamento dos brasileiros.
O despertar sobre a necessidade de mudança veio com total força legislativa a
partir da publicação da Resolução 125/2010 do CNJ, vindo logo em seguida a Lei
13.140/2015 (também conhecida como Lei da Mediação) e também o Código de
Processo Civil de 2015, o qual já em seus primeiros artigos demonstra a
preocupação de se levar em consideração em todas as lides a possibilidade de
resolver os conflitos através da Autocomposição, ainda que na esfera judicial,
usando qualquer um de seus métodos mais conhecidos e utilizados, quais sejam:
conciliação, mediação ou negociação.
Para ajudar nessa missão, temos pesquisas como o Justiça em Números
(anuário estatístico de responsabilidade do CNJ, consolidado desde 2009), e maior
11

base de dados acerca da Justiça Brasileira, cujo objetivo é fazer um raio-x de todos
os tribunais de nosso país, com exceção do STF e do próprio CNJ, os quais
possuem relatórios próprios. Publicado anualmente desde 2003, o relatório Justiça
em Números foi consolidado após a Lei 11.364/2006, que cria o Departamento de
Pesquisas Judiciárias dentro da estrutura do Conselho Nacional de Justiça e tem
sido fundamental no diagnóstico das dificuldades enfrentadas pela atividade judicial
brasileira, assim como na criação das políticas judiciárias voltadas para superar
esses problemas.
Os números referentes ao ano de 2020 indicam um crescimento vertiginoso da
digitalização da nossa Justiça. Em 65 dos 90 tribunais existentes em nosso país,
100% das ações iniciadas foram no formato online. O acontecimento extraordinário
da década, uma doença que paralisou todo o globo terrestre, trouxe a necessidade
de acelerar ainda mais essa onda de digitalização. O isolamento social imposto pela
pandemia da Covid-19, catalisou e massificou, por exemplo, uma coisa que ocorria
de maneira ainda tímida nos fóruns e tribunais brasileiros - as audiências por
videoconferência. Outro exemplo que vale ser mencionado aqui são as citações e
intimações feitas por aplicativos de mensagens, bem como a realização de sessões
de julgamento pelo modo telepresencial. Palavras e conceitos que anteriormente
estavam distantes da comunidade jurídica, hoje se transformaram em corriqueiras.
Algoritmos, Inteligência Artificial (IA), Aprendizado de Máquina (Machine Learning),
Aprendizado Profundo (Deep Learning) e Internet das Coisas (Internet of Things),
entre outros. A mais comumente falada e ouvida ultimamente é a Inteligência
Artificial.
Diante desse cenário de digitalização que vem ocorrendo no Poder
Judiciário, não poderia ficar de fora a Online Dispute Resolution (ODR), uma
maneira totalmente moderna de se realizar a Autocomposição. Com as suas
diversas vantagens, essa forma inovadora de resolver controvérsias surgiu nos
Estados Unidos ainda na década de 90, avançando para a Europa, chegando
finalmente ao Brasil. Conceituando esse inovador mecanismo, temos que a
tecnologia ODR nada mais é do que a utilização dos meios alternativos de
resolução de controvérsias no meio virtual, trazendo consigo várias possibilidades
não vislumbradas pela ADR (Alternative Dispute Resolution). Nesse sentido, para
resolver o conflito, as partes não precisam se reunir presencialmente e sim em salas
virtuais fazendo-se utilizar de ferramentas próprias que conectam os envolvidos por
12

meio da troca de textos escritos, por exemplo. Algumas de suas vantagens são a
rapidez, economia e eficiência com que a solução é alcançada, tendo em vista
também o fato de ser determinada pelos diretamente envolvidos na questão, ou
seja, os principais interessados na sua criação.
O caso mais famoso de ODR que temos no Brasil é a plataforma
Consumidor.gov.br (institucionalizada em novembro de 2015), cujo serviço é de
caráter público, tendo sido criada pelo Governo Federal (através da Secretaria
Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça) com o intuito de permitir a
comunicação direta entre consumidores e empresas para a resolução de litígios
pertinentes ao consumo na internet (e-commerce). A plataforma é monitorada
também pelos Procons, Defensorias, Ministérios Públicos, assim como por toda a
sociedade. Um dos principais objetivos dessa ferramenta é a desburocratização na
busca pela solução da demanda. Consta nas estatísticas do site que 80% dos
conflitos que surgem são resolvidos com sucesso.
É diante desse cenário de ineficiência do Poder Judiciário em
solucionar os casos de forma célere e satisfatória que se faz a seguinte indagação:
seria viável utilizar plataformas extrajudiciais de resolução de conflitos para auxiliar
no descongestionamento da atividade judicial brasileira? Quais os benefícios que o
acesso à Justiça neste país teria com a utilização de tais ferramentas?
A partir dos questionamentos feitos acima, temos que o objetivo geral desta
pesquisa é analisar a viabilidade de se utilizar no Brasil plataformas virtuais
extrajudiciais de resolução de disputas e quais os avanços que isso traria para o
acesso à Justiça no Brasil. Já os objetivos específicos consistem em analisar os
principais problemas enfrentados pela atividade judicial brasileira, bem como definir
a Autocomposição de Conflitos, juntamente com os seus métodos adequados;
estudando também a Online Dispute Resolution, como surgiu e a maneira como
está sendo utilizada atualmente, em outros países e no Brasil.
Parte-se da hipótese de que é totalmente viável a utilização dessas
plataformas.
Para tornar possível o teste da hipótese, será realizada uma pesquisa de
finalidade básica pura, com objetivo descritivo e exploratório. O método a ser
utilizado é o hipotético-dedutivo, através de uma abordagem qualitativa, por meio de
análise bibliográfica e documental.
13

No primeiro capítulo são trazidos alguns dos impasses encontrados


atualmente pela atividade judicial, os quais têm impedido que em muitos casos
sejam entregues soluções justas e adequadas aos cidadãos.
Mais a frente, no segundo capítulo, são fornecidos conceitos, definições e
dados a respeito da Autocomposição de Conflitos, assim como a especificação dos
seus principais métodos.
Já no terceiro capítulo, o assunto abordado são as plataformas de Online
Dispute Resolution; sua origem, como está sendo aplicada por alguns países,
inclusive pelo Brasil.
A escolha das plataformas para análise (consumidor.gov.br e leegol) se deve
ao fato de serem bastante conhecidas no cenário nacional. São sites
independentes, autônomos, desvinculados do Poder Judiciário e que têm
conseguido entregar soluções satisfatórias aos cidadãos que fazem o seu uso,
atingindo altas taxas de resolutividade.
14

2 PROBLEMAS GERAIS ENFRENTADOS PELO JUDICIÁRIO BRASILEIRO: o


mundo digital como parte das soluções?

Temos em nosso país a cultura do litígio. É bastante comum a parte Autora


nem ao menos entrar em contato com o réu para uma possível negociação acerca
do problema existente entre eles. No entanto, cada vez mais se torna notória a
inviabilidade de se manter o Judiciário como a única porta para a resolução de
conflitos, pois além de toda a despesa para manutenção de pessoal e estrutura, o
sistema de justiça brasileiro é deveras (e comprovadamente) lento e ineficiente,
tendo em vista que o magistrado não esgota a lide quando da prolação da sentença.
Em grande parte dos casos, após a decisão terminativa, a animosidade entre
as partes chega a níveis maiores ainda do que quando no início do processo, uma
vez que a heterocomposição materializa a visão “perde-ganha”, na qual uma das
partes (quando não ambas) certamente sairá insatisfeita, não dando conta do
conflito sociológico. Nesse sistema, o Estado-juiz muitas vezes não cumpre a sua
missão constitucional de entregar justiça ao cidadão, bem como o jurisdicionado
não tem o seu problema resolvido de forma satisfatória. O saldo é negativo para
ambos os lados.
No livro “O custo da Justiça no Brasil: uma análise comparativa exploratória”,
o pesquisador Luciano da Ros reafirma aquilo que já era o esperado: os altos
índices processuais, assim como a morosidade judicial são consequências do
gigante número de processos que tramitam em nosso país (75,4 milhões
atualmente, segundo a última contagem realizada pelo CNJ). O estudo também
comprovou que o orçamento do Poder Judiciário brasileiro “é o mais alto por
habitante dentre todos os países federais do hemisfério ocidental, em valores
proporcionais ou absolutos” (2015, p.4).
No que tange aos gastos com a máquina judiciária, o Brasil sai na frente
inclusive dos Estados Unidos, país com território, população e nível de
desenvolvimento bem diferentes do nosso. A título de exemplo, segundo dados do
CNJ, no ano de 2020, o gasto com o Judiciário chegou a mais de 100 bilhões de
reais, o equivalente a 1,3% do PIB brasileiro.
Após analisar esses números, é quase impossível o cidadão não pensar
que caso a justiça fosse mais eficiente e, consequentemente, mais econômica, esse
15

dinheiro poderia ser destinado a áreas há muito defasadas em nosso país, tais
como saúde, educação e segurança. É nesse diapasão de otimização do serviço
prestado pelo Judiciário para o remanejamento de recursos que mora o cerne desta
pesquisa. Buscar outras formas de solucionar controvérsias que não sejam
necessariamente protocolando ações, inflando ainda mais o acervo processual
brasileiro.
Comparativamente ao Brasil, no que diz respeito à solução de conflitos, os
Estados Unidos é um país que resolve uma parcela ínfima de suas demandas
perante o Judiciário. Lá, os advogados trabalham muito mais no extrajudicial, do que
no judicial, colocando em prática de maneira maciça a habilidade da negociação. O
porquê dessa situação mora no fato de que o custo financeiro para movimentar um
processo no Poder Judiciário americano é muito alto, não compensando na maioria
das vezes para nenhuma das partes. Isso obriga os envolvidos a solucionarem as
suas querelas de maneira amigável, dentro dos próprios escritórios de advocacia,
utilizando métodos autocompositivos.
Devido a gigantesca quantidade de ações, temos em nosso país um
problema muito grave relacionado ao acesso à Justiça, qual seja: a demora na
prestação jurisdicional, dando o status de inutilidade ao princípio constitucional da
razoável duração do processo (propositalmente colocado no rol de direitos e
garantias fundamentais da nossa Lei Maior).
Trazendo referências estatísticas acerca da temática, de acordo com dados
de 2020 disponibilizados pelo CNJ, a média de tramitação de um processo no
Judiciário brasileiro é de 05 anos e 02 meses, sendo a fase de execução mais
demorada ainda. Na Justiça Estadual, se estendem por cerca de 06 anos e 09
meses e na Federal por 07 anos e 08 meses. Segundo dados da mesma avaliação,
houve um aumento no tempo médio de tramitação de um processo até mesmo na
Justiça do Trabalho, que pela primeira vez ultrapassou os 03 anos.
Pois não basta apenas julgar e arquivar a ação, o cerne da questão é o
esgotamento do conflito em si, a resolução da lide sociológica, a retomada de
relacionamentos que podem ter sido destruídos/rompidos no transcorrer do litígio.
Há muito que processo arquivado não significa problema resolvido.
Não conseguir atender as demandas em tempo adequado é um dos
principais problemas enfrentados pela nossa Justiça. E esta é uma questão que
afeta desde o mais simples cidadão aos mais bem sucedidos empresários. São
16

milhões de processos por ano para serem analisados por uma média de 18 mil
juízes (numa média de 8 para cada grupo de 100 mil habitantes) e 400 mil outros
profissionais (servidores e auxiliares). O número de servidores não acompanha
proporcionalmente o número de ações que são protocoladas a cada ano. Mesmo
que a partir de hoje não houvesse o protocolo de ações novas, todos esses
funcionários públicos reunidos levariam uma média de três anos para encerrar todos
os processos. Há uma nítida sobrecarga dos magistrados (e aqui inclui-se juízes,
desembargadores e ministros) mesmo que os seus índices de produtividade
superem os padrões internacionais, como vem demonstrando os relatórios do
Justiça em Números, ao comparar a quantidade de processos que são julgados por
juízes brasileiros, italianos e espanhóis, por exemplo.
É fato que a duração de um processo que tramita em nossos órgãos de
justiça depende de alguns fatores, são eles: prazos para prática de atos processuais
- a exemplo dos recursos - ; tempo despendido na coleta de provas e depoimentos
de testemunhas; a própria complexidade do caso, assim como o tipo de
procedimento adotado. Outros dois quesitos que também contam é a maneira como
os profissionais envolvidos tratam o caso. Uma das principais causas de tudo é a
demasiada atribuição de atividades ao Poder Judiciário. Questões como pedido de
guarda e tutela, bem como adoção de menores, por exemplo, poderiam ser
resolvidos em outras vias, que não a judicial.
Há também o que entendemos por "tempo de gaveta", aquele período no
qual a ação não está nem com o magistrado, nem com o advogado e sim
aguardando a realização de alguma pequena ou grande burocracia. Exemplificando,
o tempo que a parte ré demora para ser localizada e citada. É na junção desses
pequenos ritos burocráticos que também estão os grandes períodos de paralisação
da ação.

2.1 Papel do Relatório Justiça em Números no diagnóstico desses problemas

Ao falar nas dificuldades encontradas pelo Poder Judiciário na materialização


do direito fundamental de acesso à Justiça, não podemos nos furtar de discorrer
sobre a importância, assim como de fazer uma análise de alguns dados do Justiça
em Números: portal de estatísticas oficiais do Poder Judiciário Brasileiro, com
publicação de relatório anual desde 2003 (ano em que foi criado). Atualmente, o
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referido anuário é organizado e viabilizado pelo Departamento de Pesquisas


Judiciárias, atividade de apoio do Conselho Nacional de Justiça, criado em 2006,
por meio da Lei nº 11.364. Através dele, ano a ano magistrados e demais servidores
dos tribunais, bem como promotores, defensores, advogados (e todos os demais
que fazem a Justiça acontecer em nosso país), tem acesso a uma espécie de raio-x
do que está acontecendo nos 90 órgãos judiciais (com exceção do STF e do próprio
CNJ que possuem relatórios próprios) previstos constitucionalmente.
Ao comparar as pesquisas realizadas e os dados já divulgados é visível o
quanto cada novo relatório tem crescido em tamanho e complexidade. As
informações fornecidas pelo Justiça em Números são minuciosas e fruto do desejo
de tornar mais transparente a governança do Poder Judiciário brasileiro, conforme
consta em suas diretrizes. O objetivo prático desse estudo periódico é: “analisar e
diagnosticar problemas estruturais e conjunturais dos diversos segmentos da nossa
Justiça (CNJ, 2021, p. 9).”
E é aí que reside a importância do referido anuário, pois a partir dos dados
fornecidos por ele é que podem ser desenvolvidas políticas públicas com o fito de
solucionar os problemas que dificultam a oferta de uma prestação jurisdicional
célere e eficiente ao cidadão. É importante dizer também que além de ser algo
voltado para os servidores e auxiliares da Justiça, há conjuntamente a
disponibilização de um painel de dados, o qual demonstra de forma mais fácil e
direta a sociedade, as informações obtidas na pesquisa, colocando em prática o
princípio da transparência, algo extremamente importante em um Estado
Democrático de Direito. Trocando em miúdos, é uma espécie de “satisfação” que o
povo recebe por parte de um dos três Poderes que compõem a organização do
país. Quantos processos novos? Quantos foram julgados? Quantos estão
pendentes de julgamento? Como estão os gastos com servidores? Onde se
encontram os maiores “gargalos” do nosso Judiciário? Tudo isso e muitos outros
dados anualmente atualizados, o cidadão brasileiro consegue descobrir em alguns
poucos cliques!
O relatório Justiça em Números de 2021, referente ao ano de 2020 fez toda
análise do desempenho judicial durante a pandemia da Covid-19, período no qual
novas formas de trabalho tiveram de ser implementadas. O anuário também aponta
o uso da tecnologia de maneira maciça como forma de driblar as dificuldades
impostas pelo isolamento social decorrente da pandemia. As inovações aplicadas
18

neste período foram oportunas tanto para possibilitar a continuação da prestação


jurisdicional quanto para já preparar as instituições de justiça brasileiras para o que
se chama de Justiça 4.0.

Segundo dados trazidos ainda pelo anuário, em estudo feito pela


International Association for Court Administration, o Brasil alcançou posição de
destaque, ocupando o top 10 dos países que conseguiram se adaptar à nova
realidade imposta pelo coronavírus no que tange ao funcionamento dos órgãos de
justiça. Nesta pesquisa ficou demonstrado que o Judiciário de vários países
interromperam o seu funcionamento durante a pandemia. A título de exemplo,
temos: Austrália, Espanha, Holanda, Noruega e Nova Zelândia.
Na contramão de toda essa paralisação, está o Brasil com as suas 25
milhões de decisões terminativas proferidas em pleno período de crise sanitária.
Inclusive, foi constatado que em 2020 - ano de ascensão da pandemia - houve a
maior diminuição de número de processos pendentes de julgamento, confirmando a
tendência de baixa que se iniciou em 2017. Em relação ao ano anterior, verificou-se
uma diminuição de 12,3% no número de processos por mil habitantes.
Além de dados referentes à produtividade de cada órgão de justiça brasileiro,
a pesquisa anual traz ainda informações concernentes aos gastos despendidos para
a movimentação da máquina judiciária, detalhando, por exemplo, os valores
destinados ao pagamento de pessoal. Há um capítulo exclusivo que trata desta
temática.
Trazendo um pouco alguns dados referentes ao dispêndio de recursos…
Surpreendendo os cidadãos e contrariando a tendência dos anos anteriores, houve
uma redução de 4,5% nos gastos do Poder Judiciário no ano de 2020, que ostentou
o menor índice dos últimos quatro anos (sem aplicação da inflação). Todavia, ainda
ultrapassando o incrível valor de 100 bilhões de reais.
O segmento da Justiça responsável pela maior fatia destinada ao Poder
Judiciário é a Justiça Estadual, a qual abarca 58% da despesa total, mas que em
compensação abrange 77% do acervo processual brasileiro. Em segundo lugar,
vem a Justiça Federal com 14% dos processos em tramitação, utilizando 12% dos
recursos destinados, logo em seguida a Justiça do Trabalho com 6%, tendo
abarcado 20% dos recursos disponibilizados. A que guarda maior diferença entre a
quantidade de processos e a de recursos utilizados é a Justiça Militar, sendo o
19

segmento mais custoso para o cofre público brasileiro, alcançando os mais de 163
milhões de reais de despesa. O orçamento do Poder Judiciário corresponde a 1,3%
do Produto Interno Bruto Nacional. As despesas com pessoal correspondem a 93%
deste valor.
No ano em que os tribunais funcionaram prioritariamente de maneira remota,
houve uma redução de 38,8% com despesas de capital. Assim são chamados
aqueles gastos referentes à compra de equipamentos, veículos e programas de
informática, por exemplo. Seguindo essa linha de raciocínio, podemos chegar à
conclusão de que houve também redução dos gastos para a manutenção dos
prédios físicos, como fóruns e tribunais, já que durante o período em que foi
determinado o isolamento social, os magistrados e demais servidores trabalhavam
de casa. Esse dado só corrobora a necessidade de se utilizar espaços virtuais para
resolução de disputas, sendo também a Online Dispute Resolution um vetor de
redução de despesas.
Mais uma informação interessantíssima apurada pelo Justiça em Números e
que muito tem a ver com esta pesquisa, é a que versa sobre as demandas mais
recorrentes nos órgãos de Justiça do Brasil. A pesquisa constatou que o maior
número de processos que tramitam no primeiro grau das cortes estaduais
(responsáveis por 66% de todo acervo de ações que tramitam em nosso país)
contempla primeiramente temáticas do Direito Civil (obrigações e espécies de
contratos) e, em segundo lugar, Direito do Consumidor (responsabilidade do
fornecedor e indenização por dano moral).
Referências precisas e detalhadas como as citadas acima só foram possíveis
de se obter graças a seriedade e compromisso deste estudo realizado anualmente
pelos gestores da Justiça Brasileira. Através dele podemos entender e transformar a
realidade da atividade judicial do nosso país, assim como saber como estão sendo
gastos os recursos públicos destinados a essa seara de poder.

2.2 Digitalização da Justiça Brasileira

A pandemia da Covid-19 foi um duro golpe em todos os setores da


sociedade, atingindo sobremaneira o Poder Judiciário, pois com tantas questões,
problemas, dilemas em suas mãos, referentes a tantos cidadãos, como poderia
simplesmente parar? Seria totalmente inviável e inconcebível a ideia de interromper
20

a prestação jurisdicional, em um país com mais de 70 milhões de ações em


tramitação - podemos imaginar o caos que isso iria causar. Para tanto, foi
necessário implementar novas formas de fazer a justiça acontecer, e a grande
protagonista e viabilizadora de tudo isto foi, sem dúvidas, a tecnologia.
O momento exigiu reflexões, aprendizados, adaptações e mudanças. Foi
nesta toada de transformação, que mesmo com todas as determinações de
isolamento social, os atos processuais continuaram acontecendo. A crise sanitária
acabou por catalisar algo positivo e que veio para ficar: a digitalização da Justiça,
colocando em prática de maneira antecipadamente forçada algumas diretrizes do
projeto Justiça 4.0. Com isso, buscou-se o suporte da informática e da tecnologia
para que fosse possível dar seguimento aos processos, minimizando, dessa forma,
os impactos da pandemia.
O “Programa Justiça 4.0 – Inovação e efetividade na realização da Justiça
para todos” possui como meta promover o acesso à Justiça, através de iniciativas e
projetos desenvolvidos para a utilização de maneira colaborativa de sistemas que
façam uso de tecnologias inovadoras, bem como de inteligência artificial. É um
projeto que visa modificar o Poder Judiciário em seu aspecto funcional,
transformando-o em um serviço, avançando no sentido de aplicar o conceito de
“Justice as a service”; aproximando as instituições judiciais das necessidades dos
cidadãos e ampliando o acesso à Justiça. Os dois propósitos fundamentais da
aplicação de tecnologias ao sistema de justiça consiste basicamente em acelerar a
prestação jurisdicional bem como diminuir as despesas orçamentárias resultantes
desse serviço estatal.
O referido projeto viabilizou a ocorrência de uma lista de serviços judiciais de
incentivo à transformação digital, ações que foram implementadas pelo Poder
Judiciário em um ritmo efervescente durante a pandemia do novo coronavírus. A
Justiça Digital possibilita a interação entre o real e o digital para a otimização da
governança e da transparência forense, com a real comunicação com o cidadão,
bem como diminuição de despesas.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (2021), o referido projeto contempla
as seguintes medidas:
Implantação do Juízo 100% Digital; implantação do Balcão Virtual; projeto
da Plataforma Digital do Poder Judiciário (PDPJ), com possibilidade de
ampliar o grau de automação do processo judicial eletrônico e o uso de
Inteligência Artificial (IA); auxílio aos Tribunais no processo de
21

aprimoramento dos registros processuais primários, consolidação,


implantação, tutoria, treinamento, higienização e publicização da Base de
Dados Processuais do Poder Judiciário (DataJud), visando contribuir com o
cumprimento da Resolução CNJ n. 331/2020; colaboração para a
implantação do sistema Codex, que tem duas funções principais: alimentar
o DataJud de forma automatizada e transformar em texto puro as decisões
e petições, a fim de ser utilizado como insumo de modelo de inteligência
artificial. A utilização dessas medidas de inovação se deu ao curso do
período de excepcionalidade da pandemia, acentuando a agilidade e
eficiência com a qual o Poder Judiciário reagiu às restrições de
funcionamento e aos protocolos sanitários para garantir a efetividade da
jurisdição e o acesso à Justiça a todos os cidadãos.

É importantíssimo destacar que o uso da tecnologia como forma de


promoção do acesso à Justiça faz parte da Agenda 2030 da ONU (compromisso
assumido por líderes de 193 países), a qual possui como objetivos centrais efetivar
Direitos Humanos e fomentar o desenvolvimento sustentável em todo o mundo no
período compreendido entre 2016 e 2030. Entre as 17 diretrizes da iniciativa de
caráter internacional está o estabelecimento de sistemas de justiça acessíveis a
todos (ODS 16). O objetivo de desenvolvimento sustentável 16 tem como tema Paz,
Justiça e Instituições Eficazes.
Buscando fundamento legal para a ocorrência da virtualização dos atos
processuais, temos como exemplo o genérico art. 193, o qual preceitua que “os atos
processuais podem ser total ou parcialmente digitais, de forma a permitir que sejam
produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio eletrônico, na forma
da lei.” (BRASIL, 2015).
De forma mais específica, o CPC 2015 possui dispositivo que permite a
realização de audiência de conciliação ou mediação por videoconferência:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o


caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de
conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias,
devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
(BRASIL, 2015).

§ 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio


eletrônico, nos termos da lei. (BRASIL, 2015).

No art. 46 da Lei de Mediação, consta a previsão de transação a distância,


desde que seja por escolha das partes. Além dos dispositivos legais já citados,
temos outros no mesmo sentido, quais sejam: a Resolução 314 do CNJ que trata
das audiências não presenciais; a Resolução 317, que versa sobre a realização de
perícia por meio eletrônico e a Emenda Regimental nº 53 do STF, a qual dilata as
22

hipóteses de julgamento eletrônico, vale salientar todas estas publicadas durante a


pandemia da Covid-19.

Otimizar a prática dos atos processuais, assim como assegurar uma


prestação jurisdicional de qualidade são responsabilidades que o Conselho Nacional
de Justiça consubstanciou também quando autorizou o manejo de meios
tecnológicos com o fito de obter uma maior fluidez no curso das ações. A utilização
dos meios supracitados para o acesso à mediação, por exemplo, tem como
consequência o aumento das chances da construção de um consenso entre as
partes. Existe aqui a incrementação de possibilidades no processo de busca pela
solução.
É importante dizer que a pedra angular na viabilização da continuidade dos
atos processuais nesse período de isolamento social foi a existência do processo
judicial eletrônico, cuja utilização se iniciou em 2014 e veio gradativamente
substituindo o processo físico nos diversos tribunais do país, em todos os
segmentos de justiça e seus respectivos graus de jurisdição.
A possibilidade de consultar, peticionar, despachar, sentenciar a qualquer
hora e de qualquer lugar do planeta (desde que haja internet), indubitavelmente, deu
maior fluidez e celeridade aos atos processuais, bem como reduziu gastos estatais,
das partes e de seus advogados. A existência de um processo que qualquer pessoa
pudesse carregar na palma da mão através de um smartphone foi o que evitou a
queda na produtividade nos meses em que enfrentamos a pandemia. E, por mais
incrível que pareça, em alguns estados, como se pode depreender ao analisar o
anuário do CNJ, houve aumento da produtividade. É importante dizer que desde
março do corrente ano que os tribunais brasileiros não podem mais distribuir
processos por meio físico, tendo que obrigatoriamente trabalhar com ações
eletrônicas, medida implementada pelo Conselho Nacional de Justiça.
Sobre a virtualização de processos, no ano de 2020, teve papel de destaque
a Justiça do Trabalho, área com maior índice de digitalização de ações, atingindo a
incrível marca de 100% nos processos de competência do Tribunal Superior do
Trabalho, e 99,9% nos TRT’s, o que demonstra um trabalho uniformemente
direcionado no sentido de se adequar à nova realidade mundial, qual seja: a
digitalização.
23

Ainda sobre a adesão ao Processo Judicial Eletrônico, na Justiça Eleitoral, o


PJe passou a ser adotado em alto percentual, de 99,5%, superando a Justiça
Estadual. Em 2020, a Justiça Estadual possui o menor percentual de casos novos
eletrônicos, tendo apenas um tribunal abaixo de 80 %, o TJES. A Justiça Militar
Estadual começou a implantação do PJe ao final de 2014 e abarca 71,5% dos casos
novos. Na Justiça Federal, 99,5%, e na Justiça Estadual, 95,5%.
Seguindo a onda tecnológica da Justiça, em tempos de pandemia, um dos
tribunais brasileiros que mais se destacou na realização de audiências
telepresenciais foi o de Pernambuco. De acordo com dados disponibilizados pelo
CNJ, o referido Tribunal realizou nos períodos de abril a maio de 2020, cerca de
2.153 audiências, com a realização de 787 acordos, revelando aqui também outra
questão importante: o fomento à autocomposição.

2.3 Utilização de Inteligência Artificial pelo Poder Judiciário

Para ajudar a amenizar a taxa de congestionamento e melhorar a qualidade


da prestação jurisdicional ofertada, cada vez mais a Justiça Brasileira tem utilizado a
inteligência artificial (IA). Segundo estudo realizado pelo Centro de Inovação,
Administração, e Pesquisa do Judiciário da Fundação Getúlio Vargas (CIAPJ/FGV),
coordenada pelo Ministro do STJ Luis Felipe Salomão, aproximadamente metade
dos tribunais brasileiros já tem ou está desenvolvendo projetos que envolvem
inteligência artificial (IA), a maioria deles sendo feitos por equipes ligadas a cada
tribunal em específico ou em parcerias estabelecidas com o CNJ.
O STF, a título de ilustração, recebe em média 70 mil processos por ano,
sendo 350 por dia. Basta dividirmos esse número pela quantidade de ministros que
temos disponível na corte, que estaremos diante de um número humanamente
absurdo e totalmente inviável: 6.363 processos por ministro/ano. E aqui reside um
grande problema: mesmo que os ministros sejam auxiliados por seus assessores e
todo o contingente de servidores à disposição, será que eles conseguem examinar
os processos com acuidade e entregam uma prestação jurisdicional de qualidade e
efetiva aos cidadãos e instituições postulantes?
24

2.4 Robô Victor

Diante desse cenário, na tentativa de amenizar o congestionamento


presente em nossa Corte de Justiça (principalmente queimando etapas na fase de
admissibilidade das ações), em 2018, o STF em conjunto com a UNB (Universidade
de Brasília) deu início ao Projeto Victor, um software de tomada de decisão, cujo
método utilizado é o da Aprendizagem de Máquina (Machine Learning). A tecnologia
em comento faz com que o robô aprenda com a sua própria atuação, se
retroalimentando com os dados armazenados e criados por si, propiciando a
lapidação contínua do sistema. No método em análise, pelo número de informações
fornecidas e processadas, o nível de precisão é altíssimo.
O nome escolhido para o robô faz homenagem ao então ex-ministro da
casa, Victor Nunes Leal, que entre os seus anos de trabalho e colaboração no
Tribunal (1960-1969), foi um dos principais responsáveis por sistematizar a
jurisprudência do Supremo em súmulas. A tarefa mais conhecida destinada ao robô
consiste em identificar os temas de repercussão geral de maior incidência que
chegam até a corte. Mas ele também tem como missão converter imagens em texto
no processo digital, separar peças processuais em começo e fim; além de separar e
classificar as peças processuais mais utilizadas pelo órgão colegiado. O Victor
classifica os temas de repercussão geral e as peças jurídicas, duas ações de
grande valia que acabam por economizar tempo e mão-de-obra, recursos finitos e
valiosos quando se fala em prestação jurisdicional.

2.5 Robô Sócrates

No Superior Tribunal de Justiça (STJ) temos o sistema Sócrates, robô que


também se utiliza de inteligência artificial para funcionar. O referido sistema
começou a ser utilizado em maio de 2019, mas em 2020 (no auge da pandemia) já
contemplava 21 gabinetes. Sua função consiste em analisar peças processuais na
parte semântica, com o propósito de auxiliar na triagem processual ligando a
matéria a julgamentos já realizados pelo tribunal e que se adeque aquele caso
concreto. Ou seja, ao detectar o tema da ação, o robô faz o link com o precedente
correspondente (caso haja, é claro). Deu tão certo, que a corte lançou o Sócrates
25

2.0, uma versão com mais funções, aumentando a gama de ações realizadas sem a
necessidade do uso de mão-de-obra humana.

2.6 Robô Elis

Mas as inovações tecnológicas aplicadas ao Poder Judiciário não são


exclusividade dos tribunais da capital federal. Aqui no Nordeste temos um caso de
sucesso: o sistema ELIS, robô criado pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco com
o intuito de agilizar o julgamento de ações de execução fiscal que tramitam em
Recife, as quais são responsáveis por 53% do acervo pendente de julgamento do
referido órgão colegiado.
Algumas das atividades executadas pelo sistema incluem a inserção de
minutas, assinatura de despachos e análise de prescrição. O Setor de Tecnologia da
Informação e Comunicação do Tribunal realizou uma simulação para verificar a
eficiência do sistema. Foram colocadas 5.247 ações para serem avaliadas, e o robô
ELIS mostrou a que veio: em apenas 03 dias conseguiu executar a triagem de mais
de 5 mil processos e com muita precisão. Dentre as atividades executadas,
estavam a classificação da competência das ações e a averiguação de
incompatibilidades cadastrais. Aumentando essa escala para termos uma melhor
dimensão, na realização da triagem de 80 mil processos, os servidores designados
levariam cerca de 1 ano e meio, o robô ELIS gasta uma média de 15 dias ou até
menos, segundo esclareceu em entrevista o juiz José Faustino Macêdo de Souza
Ferreira, coordenador do Instituto de Desenvolvimento de Inovações Aplicadas
(IDEIA TJPE).
Os exemplos práticos citados acima demonstram a efetiva otimização de
tempo e recursos ocasionada pela utilização da tecnologia pelo Poder Judiciário, a
ponto de se falar atualmente em devido processo legal tecnológico. É notoriamente
salutar o incentivo à prática de automatizar atos que, caso realizados por seres
humanos, resultariam em uma grande perda de tempo, cuja consequência
desastrosa em alguns casos, pode ser o perecimento do direito em questão.
Dessa forma, o estudo reforça a ideia de que o uso de tecnologias como a
Inteligência Artificial pode ter um impacto bastante positivo na eficiência da justiça,
sobretudo pelo fato de ser necessário constantes monitoramentos, reavaliações e
modernizações.
26

3 OS MÉTODOS AUTOCOMPOSITIVOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS: acesso


à justiça para além da solução judicial

Os mecanismos consensuais de solução de litígios, não são novidade em


nosso ordenamento jurídico. Mesmo que de forma bastante tímida, já eram
praticados em nosso país na década de 70, por meio de iniciativas de ampliação do
acesso à justiça. Nessa época, havia a aplicação do instituto da mediação em casos
que envolviam direitos trabalhistas, sob forte influência norte-americana. Na década
de 90, os referidos meios passaram a ser incentivados até mesmo pelo Banco
Mundial, que considerou salutar a prática pelos países latino-americanos, na
tentativa de desafogar os seus sistemas de justiça.
Na autocomposição (também conhecida e tratada como equivalente
jurisdicional por alguns doutrinadores), a solução para a demanda é encontrada
pelos próprios envolvidos, sem coerção ou intervenção forçada de outros agentes. É
segmentada em três tipos, quais sejam: renúncia, quando uma das partes se priva
unilateralmente de um direito ou vantagem em favor do outro; aceitação, quando
uma das partes interessadas reconhece e aceita o direito do outro; transação,
quando as partes chegam a solução ao fazerem concessões recíprocas. Quando
ocorre dentro do processo é chamada de intraprocessual, quando realizada fora,
extraprocessual.

Os valores, princípios e comportamentos adotados na autocomposição são


diametralmente opostos aos aplicados na heterocomposição estatal (visto que na
arbitragem, um tipo de heterocomposição privada, os princípios adotados são bem
diferentes do que ocorre na seara pública). Enquanto na segunda há a imposição da
vontade de um terceiro, na primeira o que ocorre é o ajuste de vontade entre as
partes. Oralidade, informalidade e independência são alguns dos pilares que regem
tanto a conciliação, quanto a mediação, por exemplo. Ao passo que escrita,
formalidade e burocracia são características da judicialização.

A utilização e aprovação desses métodos tem sido tanto que até a


nomenclatura foi modificada, antes eram chamados de solução alternativa, hoje são
também conhecidos por métodos adequados de resolução de conflitos. Colaboram
para uma virada cultural, e implementam o costume de “desjudicializar” ao mesmo
27

tempo em que pacificam a sociedade e viabilizam o princípio constitucional da


razoável duração do processo. Ao se utilizar desses mecanismos, a consequência
direta e imediata é a permanência no Judiciário apenas dos problemas que
realmente necessitam da atenção estatal na forma do Estado-juiz.
Os MASC’s estão diretamente ligados ao movimento global de acesso à
Justiça, o qual influenciou sobremaneira a atual Constituição Federal de nosso país.
A promoção dos métodos adequados vincula-se ao objetivo estatal de pacificar a
sociedade, na mesma medida em que diminui os índices de judicialização, na busca
por um Judiciário mais informal, desburocratizado, participativo e com grande viés
negocial, pois as ferramentas alternativas suplantam e muito o Judiciário em
algumas de suas vicissitudes, especialmente a famigerada morosidade.
Temos ainda o conceito do sistema multiportas e os meios integrados de
solução de conflitos, os quais fazem uma espécie de triagem e encaminha aquele
litígio para a via de resolução mais adequada ao caso, obedecendo ao perfil da
demanda, o que tem por consequência a maximização das chances de acordo no
conflito. Todo o exposto acima, vai de encontro ao que foi definido pelo Conselho
Nacional de Justiça, através da Resolução 125/2010, a qual cuida essencialmente
da política judiciária nacional do tratamento dos conflitos e interesses.
Em declaração feita ainda no ano de 2007, a então Ministra do Supremo
Tribunal Federal Ellen Gracie, disse que a resolução dos conflitos realizada pelas
próprias partes é fundamental para o prevalecimento da justiça, pois os magistrados
figuram apenas como meros coadjuvantes da lide, uma vez que apenas recebem
através de terceiros a realidade dos fatos e os julgamentos que realizam são
resultantes apenas da vontade de se aproximar do que se entende por decisão
justa.
No sistema legal brasileiro, o dispositivo que inaugurou de forma
significativa e também regulamentou a aplicação da autocomposição foi, sem
dúvidas, a Resolução nº 125/2010, do CNJ. Após isso, o Código de Processo Civil
de 2015, cuja influência da axiologia constitucional é nítida, veio para reafirmar a
necessidade da mudança de paradigma no que tange aos conflitos com o propósito
de tornar real um processo civil de viés constitucional. Ficaram claras a primazia e
preferência pela utilização dos meios consensuais em detrimento da litigiosidade,
conforme é possível depreender através da leitura de seus artigos inaugurais. Aliás,
o referido diploma legal vai além de definir como primazia, pois coloca como dever
28

do poder público promover a autocomposição por meio não só dos juízes, mas
também dos membros do ministério público e dos defensores públicos.
Fazendo parte da Justiça do Futuro, a autocomposição mais do que uma
prática, hoje representa um valor paradigmático, contrapondo-se ao paradigma da
judicialização, retirando do Estado a exclusividade na resolução dos problemas dos
cidadãos. A utilização desse meio enaltece a necessidade do diálogo, que pode
haver dentro ou fora do processo jurisdicional.
Os métodos adequados são considerados por alguns uma prática primitiva,
mas que oferecem aos interessados a reapropriação dos seus problemas, assim
como a capacidade de resolvê-los. Acaba por envolver também o setor privado, e
não só o Estado (representado pelo Poder Judiciário) na busca por melhores formas
de satisfazer o cidadão quando ele necessita resolver suas demandas, uma vez que
tem crescido a cada ano a quantidade de empresas que trabalham com plataformas
virtuais voltadas para a resolução de conflitos usando métodos autocompositivos.
Além de todo o exposto acima, vemos nesse equivalente jurisdicional uma
outra excelente e útil característica: a personalização da solução, pois enquanto a
mera aplicação da lei resulta muitas vezes em uma saída genérica como fruto da
subsunção do fato à norma, os acordos realizados por via autocompositiva são
específicos, práticos e concretos. A partir desta ideia, temos que nos últimos anos o
conceito de "fazer justiça" se dilatou, comportando várias outras formas de
resolução, transcendendo a aplicação automática e despersonalizada de
dispositivos legais.
Autocomposição de Conflitos (ou Métodos Adequados de Resolução de
Conflitos) constitui o gênero. A partir dele, existem técnicas diferentes a serem
aplicadas ao caso a depender da característica do conflito e do tipo de
relacionamento existente entre as partes envolvidas. Faz parte do rol de técnicas a
conciliação, mediação e negociação (a qual acaba sendo utilizada nas demais).
Sobre a divisão dos métodos, vale falar aqui sobre a ideia do Tribunal
Multiportas, a qual foi concebida em 1976 pelo estudioso norte-americano Frank
Sander, professor de Harvard, durante a Pound Conference, evento convocado pelo
então presidente da Suprema Corte Americana (Warren Burger) para discutir os
problemas enfrentados pela atividade judicial daquele país. Neste modelo,
funcionários especializados receberiam os cidadãos e juntamente a eles fariam a
análise do seu conflito e após essa fase a detecção do método mais adequado a ser
29

aplicado àquele caso. Uma ideia que otimizaria e muito a busca pela solução, uma
vez que seriam aplicadas as técnicas necessárias e adequadas para se colocar um
fim no conflito, ou seja, algo totalmente direcionado e personalizado.

3.1 Conciliação
Na conciliação, o próprio juiz togado, um juiz leigo ou um conciliador treinado
(também chamado de facilitador) participam do processo desempenhando uma
postura mais ativa no que se refere a construção da solução para aquela demanda,
é necessária a propositura de soluções para aquela controvérsia.
Aqui no Brasil, conforme estabelecido em legislação específica, os
conciliadores, bem como os juízes leigos são considerados auxiliares da justiça. Os
primeiros são selecionados entre bacharéis em direito, já os segundos entre
advogados com mais de cinco anos de experiência.
O diferencial da conciliação em relação aos demais mecanismos
autocompositivos é que esses facilitadores podem sugerir ou até mesmo formular as
propostas de acordo, o que é perfeitamente acobertado pela legislação através do
art. 165, § 2º do Código de Processo Civil. Mas vale ressaltar aqui que o
ordenamento jurídico também estabelece limites, proibindo o constrangimento ou a
intimidação das partes para que se realize conciliação de maneira forçada, pois
para viabilizar a utilização do método de forma legítima, é de fundamental
importância respeitar a autonomia das partes envolvidas. As vantagens do
mecanismo em comento consiste na rapidez, baixo custo, eficiência e a própria
pacificação.
É a pedra angular dos Juizados Especiais, como é possível depreender
através da inteligência do art. 2º da Lei 9.099/95, o qual estabelece a primazia da
conciliação no momento da resolução de toda e qualquer lide que chegue para
apreciação neste órgão de Justiça. Ao final da audiência - que poderá ser presencial
ou por videoconferência (art. 21, § 2º da Lei 9.099/95) - , tudo o que tiver sido
definido, será reduzido a termo e homologado pelo juiz togado e transformado em
uma sentença, que passará a ter eficácia de título executivo.
Geralmente, a conciliação é utilizada em conflitos mais superficiais, em que
não há uma relação duradoura. Alguns exemplos são os casos que envolvem
questões consumeristas, empresariais, condominiais consubstanciadas em
30

acidentes de trânsito, dívidas em bancos, danos morais, questões relacionadas a


concessionárias de água, luz e telefone, demissão do trabalho etc.
A conciliação, por exemplo, é bastante utilizada na área trabalhista, sendo
expressivo o número de demandas que são resolvidas por essa via. Realizada
anualmente desde 2015, a Semana Nacional da Conciliação Trabalhista, organizada
e promovida pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho, tem como escopo
viabilizar a resolução de demandas trabalhistas se utilizando da autocomposição,
mais especificamente a conciliação, ocasionando o fechamento de milhares de
acordos entre patrões e empregados, amenizando assim a taxa de
congestionamento da justiça especializada mais popular do país ao mesmo tempo
em que dissemina a cultura de uma justiça com viés de pacificação.

3.2 Mediação
Antes de começar a dissertar sobre o método mais complexo e meu objeto
de estudo, é importante localizar o leitor no ordenamento jurídico pátrio a respeito
do mecanismo alternativo em questão. A base normativa da Mediação está presente
primeiramente no Código de Processo Civil de 2015; na Lei 13.140, também
chamada de Lei da Mediação, assim como na Resolução 125/2010 do Conselho
Nacional de Justiça, a qual criou os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e
Cidadania (CEJUSC). Segundo o art. 3º da sua lei específica, esse método
alternativo de solução de conflitos é admitido em lides que versem sobre direitos
disponíveis ou ainda sobre os indisponíveis que admitam transação, desde que o
termo de acordo seja homologado em juízo e com o adendo da oitiva ministerial.
Na mediação, o papel do terceiro é ajudar na comunicação entre as partes,
muitas vezes tendo que restabelecer o diálogo, para que juntos, ambos possam
construir a solução do litígio. Esse método é mais complexo pois provoca um
auto-exame nas partes, elas olham para dentro de si, identificam as causas do
problema, tentam restabelecer a interlocução, para que enfim, juntas possam
chegar ao desenlace da questão, de forma que os dois lados sejam beneficiados
pela solução encontrada. Pois, na solução em que há a vontade combinada das
partes há maiores chances de aceitação e cumprimento, o que por vezes não
acontece quando da prolação da sentença estatal.
Ela pode ocorrer de forma judicial, ou seja, no decorrer do processo,
escolhida pelas partes ou designada pelo juiz togado, com a participação de um
31

mediador determinado pelo mesmo ou, ainda extrajudicialmente, por iniciativa das
próprias partes, quando de pronto decidem resolver os seus problemas longe de um
fórum ou tribunal, sendo isso muitas vezes estabelecido por cláusulas contratuais.
Vale ressaltar aqui que nesse caso o mediador é escolhido pelas partes e que a ele
são aplicadas as mesmas regras de suspeição e impedimento que recaem sobre os
magistrados, cuja previsão está no art. 145 do Código de Processo Civil. Há ainda a
possibilidade de escolher a realização da mediação mesmo que haja processo
judicial em curso. Outra vantagem da mediação diz respeito à possibilidade de ela
ser utilizada apenas em uma parte do conflito ou nele todo.
Quando há sucesso na ocorrência na aplicação do referido mecanismo
consensual, seja ela judicial ou extrajudicial, há inúmeras vantagens para as partes,
dentre elas podemos citar a redução do desgaste psíquico e emocional,
manutenção das relações, restabelecimento da comunicação e do vínculo outrora
destruído pelo conflito, resolução do conflito e prevenção de um novo; celeridade,
redução dos custos; eficiência e eficácia, dentre outros.
Na mediação, há a exposição de situações pessoais e íntimas que ocorreram
ou ainda ocorrem entre as partes, tendo em vista que esse método envolve vínculos
anteriores e continuados. Por isso, o grande estímulo à mediação por parte do
próprio CPC nos casos que envolvem o Direito das Famílias, consoante o art. 694
Por esse motivo, é papel do mediador impulsionar, acionar a empatia entre os
envolvidos. É imprescindível também que haja o estímulo à geração de múltiplas
opções de resolução, não devendo o mediador e nem as partes ficarem presas a
ideação de uma única solução possível.
Alguns princípios são de suma importância até mesmo para a compreensão
do mecanismo resolutivo, quais sejam: a confidencialidade ou sigilosidade; a
informalidade e voluntariedade. O primeiro é fundamental, pois proporciona às
partes segurança para que estas possam se despojar durante as sessões, se
sentindo à vontade para falar sobre questões íntimas e fundamentais para o
deslinde da querela, o segundo tem como pilar a oralidade, pois embora a mediação
tenha certa estrutura na sequência e realização dos atos durante a sessão, não
existe hierarquia, muito menos rigidez e esse é outro quesito que desarma e causa
o relaxamento das partes, que consequentemente acabam se tornando muito mais
suscetíveis ao estabelecimento de uma solução dialogada, construída e não
imposta; a terceira também é base para o sucesso do método, uma vez que de fato
32

os interessados precisam estar ali por vontade própria. Mesmo com a mudança do
presencial para o virtual é de suma importância que a essência, os princípios e
normas que regem a mediação sejam respeitados.
É importante que haja a adoção de alguns comportamentos por parte do
mediador que vão fazer toda a diferença no desenrolar da mediação. A escuta
atenta é importantíssima, assim como a utilização de linguagem acessível, de fácil
compreensão, a formulação de perguntas pertinentes ao conflito, a promoção de
mútua compreensão entre as partes, bem como o respeito ao que for decidido por
elas.
Existe também o que é conhecido por co-mediação, nesse caso há a
participação de mais de um mediador ali na sessão. Os benefícios da co-mediação
são a troca de opiniões, o auxílio na aplicação de técnicas, assim como o
aprendizado mútuo entre esses facilitadores. Em relação a remuneração destes,
deve ser igual, algo que deve ser estabelecido de pronto e aceito pelas partes.
É um mecanismo que pode ser aplicado em situações complexas, que
envolvem mais de duas partes interessadas, como é o caso das demandas
estruturais e litígios de alta complexidade, reflexo do estabelecimento do estado de
bem-estar social em nosso país e também do aumento da dificuldade das relações
sociais e conflitos advindos destas. São questões delicadas que necessitam de
soluções pensadas, dialogadas, refletidas e construídas em conjunto, tendo em
vista que envolvem valores sociais atinentes não somente as partes do litígio, mas a
um conjunto de cidadãos que se encontram em situações idênticas ou semelhantes.
Neste sentido, faz-se necessário citar o projeto JF Media, iniciativa da Justiça
Federal do Rio Grande do Norte, pioneira no Brasil no estabelecimento de um
projeto específico com o fito de resolver questões públicas judicializadas através de
soluções colaborativas utilizando o método da mediação. Sob a coordenação do
Juiz Federal Carlos Wagner Dias Ferreira, casos complexos envolvendo áreas do
Direito Público - por exemplo aqueles pertinentes ao Direito à saúde e Direito
Ambiental, são debatidos em sessões com a presença de profissionais ligados à
área e também de advogados mediadores, além dos diretamente interessados na
questão.
A realização da mediação em ambiente virtual não é novidade (uma vez que
já ocorria no Brasil e no mundo), mas sim a rápida adesão e grande proporção que
tomou principalmente após a crise sanitária ocasionada pelo coronavírus Com isso,
33

há a possibilidade de se realizar entre pessoas que estejam em cidades, estados,


ou até continentes diferentes; inexistindo limitação geográfica ocasionando ou até
mesmo gerando custo com deslocamento. Mas para que a mediação no formato
on-line funcione é fundamental que o mediador, partes, advogados e demais
envolvidos compreendam os princípios basilares do conceito de mediação, a
axiologia do método. A partir desse entendimento é que podemos ter reuniões com
resultados satisfatórios.

3.3 Negociação
A negociação é considerada a mãe da Autocomposição, já que os demais
métodos bebem dela. Muito mais do que um método específico utilizado em
sessões de Autocomposição de Conflitos, a negociação é uma prática que já
realizamos diariamente nas situações mais corriqueiras do nosso dia a dia. Não há
mistério algum em seu conceito, pois é algo de ocorrência costumeira.
Consiste basicamente em uma conversa direta entre os interessados, na qual
não há intervenção de terceiros (ativos ou neutros) como ajudantes ou facilitadores.
É o que as pessoas já fazem diariamente em suas vidas nos mais diversos tipos de
situação.
Serve especialmente para os conflitos em que não há afetividade ou relação
anterior entre as partes. Geralmente, são litígios que envolvem patrimônio, sendo de
ordem material. Pode haver a participação das respectivas partes como seus
representantes, mas não há a imposição de soluções por parte destes. Neste
método consensual há algumas práticas norteadoras para que o resultado seja
satisfatório, são elas: a separação das pessoas do problema, a concentração nos
interesses e não nas posições, a necessidade de invenção das opções de ganhos
mútuos e também a insistência em critérios objetivos. A presença de alguns
princípios é extremamente necessária: igualdade e diferença; confiança; equilíbrio;
não resistência e; vinculação ao atendimento do interesse.
Quando a negociação é bem realizada, há a maximização dos ganhos
para as partes envolvidas. É necessária a escuta de todos os argumentos possíveis,
para que a solução encontrada seja a melhor para ambos. Não faz parte de seus
objetivos o desejo de derrotar ou excluir o outro, mas sim a construção de um
acordo que beneficie ambas as partes, o que é comumente chamado de ganhos
mútuos.
34

Um dos programas de negociação mais famosos do mundo é o desenvolvido


em Harvard. Nele estão previstos alguns elementos e requisitos fundamentais ao
sucesso da negociação, quais sejam: a comunicação, o relacionamento, os
interesses, as opções, a legitimidade, as alternativas e o compromisso. Deve haver
o entendimento das partes que o processo negocial se dá de forma bastante
diferente do processo judicial. Para que o método flua bem e se chegue a um
resultado satisfatório, é mister que os negociadores estejam desarmados e de fato
dispostos a resolver aquela demanda de forma amigável, não adversarial. É
primordial estar atento à linguagem não verbal, pois tudo fala e também manter o
controle emocional e ser empático com a parte com quem se está negociando.
Também é traço e requisito de sucesso da negociação o foco no problema e
não na outra parte, diferentemente do que ocorre na heterocomposição judicial, na
qual uma das consequências é a rivalização, o que desencadeia uma postura nada
colaborativa durante o transcorrer da ação e com isso apenas trazendo perdas para
ambas as partes envolvidas.
35

4 PANORAMA GERAL SOBRE A TECNOLOGIA ODR: sinergia (futura ou atual?)


entre o mundo digital e o formato autocompositivo de solução de disputas

Para compreender o conceito, como e onde surgiram as plataformas de


Online Dispute Resolution (em tradução livre, Resolução Online de Disputas), é
importante citar o contexto histórico que levou a criação desse novo modelo de
resolução de conflitos. Com a expansão do uso da internet na década de 90, surgiu
uma nova modalidade de comércio, o que hoje chamamos de e-commerce, que
nada mais é do que a realização da compra e venda em espaço digital, através de
lojas virtuais. Junto ao crescimento vertiginoso do comércio virtual também
cresceram os conflitos resultantes destes. Segundo Ethan Katsh, professor
norte-americano e pioneiro no estudo e desenvolvimento da tecnologia ODR,
existem mais de 700 milhões de disputas digitais por ano e esse número tende a
crescer.
Nesse contexto, é válido trazer o conceito dado por estudioso brasileiro a
respeito do tema:

Os modos de Resolução Online de Litígios (ODR), consistem, portanto, na


utilização dos recursos da tecnologia para a Resolução Alternativa de
Litígios - ADR, quer sejam estes decorrentes exclusivamente das relações
jurídicas firmadas no ciberespaço, quer sejam originárias de relações
jurídicas constituídas no mundo dito “físico”. Nesse sentido, ODR pode ser
considerado espécie do gênero ADR. Mas seria demasiado simplista
imaginar que os meios de Resolução Online de Litígios sejam reduzidos a
uma simples expressão dos meios de Resolução Alternativa de
Controvérsias. As possibilidades de utilização da tecnologia para a
resolução de litígios são imensas e envolvem questões complexas, tanto do
ponto de vista teórico quanto sob o prisma tecnológico, como exemplo, a
utilização de inteligência artificial para fornecer uma solução para o conflito.
[...] Sob uma perspectiva mais pragmática, os sistemas informatizados e as
plataformas de transmissão e recepção de dados constituem um terceiro
interveniente no processo de conciliação, ou até mesmo podem constituir
um quarto sujeito, nos casos de mediação e arbitragem online. (AMORIM,
2017, p.515).

No mesmo sentido, temos também o seguinte conceito:

A Resolução de Conflitos Online são os sistemas ou ferramentas focadas


em solução (e prevenção) de conflitos por meio de tecnologia informática,
softwares e utilização da internet, utilizando-se inclusive de inteligência
artificial. (MAIA; FERRARI, 2018, p.01)

Comprar um item e ele não corresponder ao que parecia pela tela do


computador, erros na hora da entrega, problemas referentes a pagamento; todas
36

essas questões ensejavam conflitos entre empresário e consumidor. A partir dessa


situação, entendeu-se ser necessária a elaboração de um mecanismo de solução
de conflito tão ágil que pudesse acompanhar o nível de velocidade com que as
coisas aconteciam no mundo digital. A combinação entre tecnologia e
autocomposição foi a saída encontrada pelos responsáveis das plataformas de
vendas online para resolver esse dilema. Combinação que até os dias de hoje tem
se mostrado célere e eficiente no solucionamento de demandas.
Foi nesse cenário que em 1999, nos Estados Unidos, nasceu a plataforma de
resolução de conflitos online da empresa e-Bay, primeiro sistema de Online Dispute
Resolution. A função dessa gigante do comércio virtual era (e continua sendo)
apenas a de conectar vendedores e compradores, mas começou a ver o seu nome
integrando vários processos judiciais por conflitos consumeristas.
Inicialmente, tudo ocorria através da troca de e-mails. Nos primeiros quinze
dias após a criação, 225 pessoas utilizaram o serviço, alcançando uma taxa de
sucesso de 50%. Hoje, após mais de 20 anos de sua invenção, a plataforma se
utiliza de um software de negociação entre comprador e vendedor, resolvendo o
incrível número de 60 milhões de conflitos por ano, chegando ao fechamento de 8
acordos a cada 10 disputas.
O sistema permite uma fase de negociação entre as partes, assim como uma
fase de julgamento que é realizada junto a um funcionário do e-commerce e
marketplace e-Bay. Na primeira fase, as partes têm total liberdade para conversar
sobre o conflito, como também para estabelecer os termos que acharem justo. Caso
essa primeira tentativa reste infrutífera, os envolvidos são “levados” (no mesmo
ambiente virtual) para outro ambiente, no qual cada um diz suas razões e anexa o
que for preciso para efeitos de comprovação. Nesta fase, há uma espécie de
julgamento realizado por um funcionário especializado da própria e-Bay
(transformando o processo em arbitral), o qual para decidir quem está com a razão
se pauta em regras que fazem parte das políticas internas do próprio site.
O impacto dessa plataforma é tamanho que estudos chegaram à seguinte
conclusão: caso o site e-Bay fosse uma corte de justiça, ele seria o maior Juízo de
solução de pequenas causas do mundo e o maior tribunal dos Estados Unidos.
Atualmente, o e-Bay resolve mais problemas do que toda a Justiça Federal
Americana.
37

Depois de toda a prévia explanação, trazemos o conceito de ODR. Após ler


a conceituação dada por diversos estudiosos, que em pouca coisa diferem uma da
outra, defino aqui com as minhas palavras essa nova ferramenta. A Online Dispute
Resolution nada mais é do que: a utilização da tecnologia da informação com o fito
de prevenir, gerir e resolver situações conflituosas.
É trazer para o mundo virtual todas as vantagens e benefícios já
comprovados em meio real. Vale ressaltar que o quesito primordial e que diferencia
a ODR da ADR é justamente a utilização de tecnologias como da inteligência
artificial na realização da Autocomposição. Os dados coletados influenciam e geram
insights no momento das reuniões fazendo com que as sessões se tornem algo
extremamente personalizado, posto que o comportamento dos envolvidos é
analisado previamente. Inclusive, percebendo a importância da temática e com o
objetivo de propagar, bem como de sedimentar o uso da ODR, a Comissão das
Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional estipulou algumas diretrizes
em dezembro de 2016 através do documento “Technical Notes os Online Dispute
Resolution” para o uso dessas plataformas.
Algumas das vantagens encontradas são: a eliminação de barreiras
geográficas, eliminação de gastos com deslocamento, a possibilidade de haver
discussão nos momentos em que as partes estiverem ociosas (no caso do processo
de resolução eletrônico ser assíncrono) ou através de agendamento prévio (em
casos de soluções síncronas), gerando maior flexibilidade de horários para a
realização dos encontros ocasionando o uso proveitoso e conveniente do tempo
para ambas as partes. Nos encontros síncronos, o contato é imediato, por
conseguinte a comunicação é mais ágil. A pessoa envolvida no conflito não precisa
pedir folga no trabalho, os pais não precisam se desesperar na tentativa de achar
alguém que cuide das crianças enquanto estiverem em audiência, por exemplo.
Também não precisa gastar combustível, enfrentar engarrafamento ou pagar
estacionamento nas cidades maiores. Os envolvidos interagem através de chats ou
reuniões por videoconferência. Já no segundo caso, não há encontro em tempo
real, fazendo com que as partes se comuniquem através de e-mail ou até mesmo
por mensagens assíncronas trocadas no próprio sistema. Outro lado positivo é que
a ausência de contato físico faz com que as partes não exaltem tanto os ânimos
quanto fariam se estivessem próximas presencialmente.
38

De modo geral, essas plataformas têm sido mais utilizadas em âmbito


privado. No entanto, diante das vantagens já auferidas, podemos vislumbrar os
ganhos que o setor público teria ao adotá-las. O sucesso do sistema e-Bay inspirou
outros países a aplicar essa experiência na resolução de suas demandas. Na busca
pela maximização do acesso à Justiça, bem como pelo fácil acesso a uma
prestação jurisdicional célere e eficiente, os órgãos de justiça de diversos países do
mundo tem investido maciçamente em tecnologia, chegando a se falar atualmente
em tribunais digitais, os quais têm obtido excelentes resultados.
A diminuição de gastos seria também uma consequência positiva e imediata
caso a utilização dessas plataformas se expandissem pelo país, uma vez que
seriam resolvidos extrajudicialmente boa parte dos conflitos que ainda estão indo
parar nas mãos do Judiciários, inflando ainda mais o seu acervo.

4.1 Experiências e resultados obtidos em outros países

A Online Dispute Resolution nasceu nos Estados Unidos, mas hoje em dia
empresas que trabalham com essa tecnologia se encontram espalhadas por todos
os continentes, principalmente após a pandemia da covid-19, uma vez que serviu de
ferramenta pela seara pública e privada para driblar as consequências do
isolamento social. De acordo com mapeamento realizado por órgãos competentes,
tal como a Angel List e o Crunch Base, existem mais de 1.500 empresas no mundo
especializadas em viabilizar a resolução de conflitos online utilizando a conciliação,
mediação, negociação ou arbitragem. Aqui no Brasil, são mais de 15 empresas que
oferecem esse serviço.
Sobre a utilização do sistema ODR na seara pública, temos o exemplo do
que ocorre no bloco europeu. Em atividade desde o dia 15 de fevereiro de 2016, a
Plataforma Europeia para a Resolução de Conflitos Online, foi criada pela Comissão
Europeia com a finalidade de fornecer aos consumidores e empresários do
conglomerado de países um canal célere para resolução de impasses relacionados
ao e-commerce. São características do site o fácil acesso e a gratuidade. Outra
questão que facilita bastante o uso por parte dos cidadãos é o fato de que a
plataforma em comento funciona em todas as línguas oficiais do bloco.
Os Estados Unidos, país onde nasceu a Online Dispute Resolution e onde,
ao contrário do Brasil, tem uma forte cultura autocompositiva, teve o uso desse tipo
39

de plataforma alavancado durante e após a pandemia da Covid-19. Já na época da


crise sanitária, o Centro Nacional de Tribunais Estaduais (uma espécie de CNJ
americano), vem incentivando a prática de serviços online, principalmente através
do uso de ODR. Em entrevista concedida a Melissa Gava, advogada e fundadora da
plataforma MOL, o vice-presidente da plataforma de ODR da Tyler Technologies
Colin Rule destacou que aproximadamente 50 tribunais norte-americanos possuem
serviços de resolução de disputas online, já em funcionamento ou nos preparativos.
O Tribunal do Condado de Franklin, em Ohio, e também o condado de Clark,
instalaram plataformas de ODR para a resolução de controvérsias familiares. Nesse
caso, quando a querela é submetida a resolução tradicional realizada pelo tribunal,
leva em média dois meses, se for resolvida por ODR, leva um mês ou até menos.
Vale salientar também a existência do The Pew Charitable Trust, fundação dos
Estados Unidos que está investindo milhões de dólares em pesquisas acadêmicas
referentes ao uso de sites de resolução digitais por tribunais (para que se prove
quais sãos os benefícios em curto prazo). Na seara privada, atualmente, os sites de
ODR norte-americanos mais populares são o Modria e o Matterhorn.
No Canadá, há um Tribunal que, comparativamente ao Judiciário Brasileiro
corresponderia ao nosso Juizado Especial. Lá, tramitam casos relacionados a
pequenas causas de até 5 mil dólares, questões condominiais, de associações ou
cooperativas e ainda acidentes de trânsito cujo valor da causa não ultrapasse os 50
mil dólares. Neste órgão de justiça, quase todos os conflitos têm sido resolvidos
virtualmente.
Há a divisão em fases para a resolução do litígio. A primeira fase consiste em
uma espécie de conscientização das partes, chamada de case explorer. Nesse
momento, os envolvidos no conflito compreendem quais são os direitos pertinentes
ao caso e tem de pronto a exposição das possibilidades de resolução. Após isso, os
interessados fazem um processo de negociação que tem como um dos objetivos
dirimir barreiras que possam obstaculizar a solução da querela. Havendo sucesso
apenas com essa primeira fase, o processo se encerra. Caso contrário, as partes
são direcionadas a uma câmara de mediação, que pode ser realizada virtualmente
ou por telefone. O Judiciário entra apenas depois que essas duas primeiras fases se
mostram insuficientes para resolver o problema. Mas, a última porta de resolução
tem sido utilizada em apenas 6% dos casos inferiores a 5 mil dólares. Os outros
94% restantes logram êxito na resolução antes mesmo de chegar na terceira fase.
40

Na Austrália, existe o Australian Dispute Centre (ADC), o qual possui o ADC


virtual, um sistema que admite a realização de audiências virtuais — em sessões
separadas ou abertas, nas diversas salas de reunião virtual — e que os documentos
sejam assinados e trocados. Além disso, a plataforma Zoom tem sido utilizada,
dando acesso à diversas salas de reunião, possuindo resultados bastante
satisfatórios com a presença do mediador.
A pandemia da Covid-19 colocou em cheque a necessidade de um espaço
físico para a resolução de disputas. Todas essas experiências postas acima, nos
fazem refletir sobre o seguinte questionamento: o Tribunal é um lugar ou um
serviço? O acesso à Justiça é algo de responsabilidade apenas do Estado juiz ou o
cidadão pode buscar isso de forma autônoma fazendo uso de ferramentas
extrajudiciais?

4.2 Experiências e resultados obtidos no Brasil

Seguindo uma tendência mundial, no ano de 2012 começaram a surgir no


Brasil as primeiras empresas de ODR. Em junho de 2017, foi criada a Associação
Brasileira de Lawtech e Legal Techs, também conhecida como AB2L, órgão
responsável por tomar conta das startups voltadas para o desenvolvimento de
saídas tecnológicas contra problemas jurídicos.
Em estudo desenvolvido por Daniel do Amaral Arbix (afinco pesquisador
deste tema), através de formulário respondido por algumas empresas de ODR
atuantes no Brasil, chegou-se a seguinte conclusão: essas empresas são bastante
novas, geralmente nascidas a partir de 2012, sendo todas de origem nacional,
concentradas na região Sudeste, mais especificamente no Estado de São Paulo.
Ficou evidente a utilização das Autocomposição por essas plataformas. Negociação
direta e mediação são os mecanismos mais utilizados. Dependendo da necessidade
e da complexidade do caso, é feito o uso simultâneo dos métodos. As áreas do
direito que mais têm conflitos solucionados por esse tipo de empresa são a
consumerista, trabalhista, comercial, cível e família.
Sobre a temática, vale ainda destacar que já há a possibilidade de se realizar
parcerias entre Câmaras Privadas que se utilizam da Online Dispute Resolution e
Tribunais, com a finalidade de homologar judicialmente os acordos realizados
nessas plataformas. Em outras palavras, essa parceria permite que tudo o que foi
41

acertado por via autocompositiva ganhe eficácia de título executivo judicial. Para
que isso se viabilize, é necessário que as empresas se adequem ao que está posto
na regulamentação de cada tribunal. Como exemplo, temos o Tribunal de Justiça de
São Paulo, o qual possui o cadastro de ao menos duas empresas, quais sejam: a
ITKOS e a Juspro leegol.
Como plataforma de destaque e reconhecimento nacional, aqui no Brasil
temos a MOL (mediacaoonline.com), criada em 2015 e vencedora do prêmio
Conciliar é legal”, do CNJ, no ano de 2018. Consiste em um sistema de mediação
online pioneiro no Brasil, o qual desde maio de 2020 concede o uso do seu site a
todas as cortes de Justiça brasileiras de forma gratuita. Em dados obtidos pela
própria plataforma, consta que a mediação consegue ser trinta vezes mais rápida e
cinquenta por cento mais econômica que a judicialização. O referido sistema
trabalha de forma completa, fazendo desde a triagem dos casos até a assinatura
dos termos de acordo fechados.
Segundo consta em seu próprio site, a MOL atualmente é utilizada por sete
tribunais estaduais (entre eles, TJES, TJMG, TJGO e TJAM), um tribunal federal
(TRF5) e uma defensoria pública (DPMS), mas também pode ser perfeitamente
usada por sindicatos, cartórios, conselhos de classe e outras instituições. O seu
funcionamento é feito em basicamente 5 etapas totalmente automatizadas. A
primeira delas consiste na triagem do caso, na segunda há o agendamento da
sessão do método a ser utilizado (encontrando a melhor data com as informações
previamente inseridas no sistema), na terceira há o envio do convite para as partes,
na quarta a própria ocorrência da sessão que poderá ocorrer por telefone, chat ou
videoconferência; encerrando com a assinatura eletrônica do termo de acordo ou
ainda emissão do termo de tentativa infrutífera.
Outro caso de destaque que temos por aqui é o da famosa empresa de
vendas online Mercado Livre. Só para termos uma ideia da dimensão dessa gigante
nacional, a cada segundo dez compras são realizadas através deste site, que em
2018 teve uma taxa de 98, 9% de acordos realizados, dentre 337 milhões de itens
vendidos. Segundo Ricardo Marques, gerente jurídico sênior do Mercado Livre, por
meio da utilização da ODR, evitou-se que 98,9% dos conflitos virassem ações
judiciais. Caso a solução não seja realizada dentro do próprio site, a empresa
sugere que seja solucionada através da plataforma pública de ODR
consumidor.gov.br.
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Além disso, criou o projeto Embora, cuja finalidade é fomentar a


autocomposição de conflitos, retirando da seara pública a exclusividade por
solucionar problemas. Foi criado com o intuito de fornecer maior independência e
poder aos clientes do site, os quais fazendo uso de dispositivos gratuitos e simples
a fim de resolver seus dilemas de forma eficiente, assertiva, rápida e econômica.

4.3 A plataforma consumidor.gov.br


Aqui no Brasil, temos um grande exemplo de plataforma que faz uso do
ambiente virtual para a resolução de disputas (através de negociação direta), qual
seja: o consumidor.gov.br. Lançada em 2015, consiste em um serviço público e
gratuito criado pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão
responsável por planejar, elaborar, coordenar e executar a Política Nacional das
Relações de Consumo. Possui como propósito estabelecer uma comunicação direta
entre o consumidor e a empresa visando a resolução de conflitos resultantes do
e-commerce. Também faz parte do seu conjunto de diretrizes a prevenção de
condutas que violem os direitos do consumidor, de forma que atua em duas frentes:
prevenindo e tratando conflitos.
O consumidor.gov.br foi inventado como uma espécie de fomento à
Autocomposição de conflitos, visando diminuir o número de causas consumeristas
que tramitam em nosso Judiciário, pois segundo dados do relatório Justiça em
Números referente ao ano de 2020, ações que envolvem o direito do consumidor
ocupam o segundo lugar no que diz respeito à quantidade; questões como
responsabilidade do fornecedor e indenização por dano moral, são as que figuram
como maioria. A utilização deste site tem como consequência imediata a prevenção
da abertura de processos administrativos e judiciais.
O consumidor consegue resolver o seu problema de consumo
independentemente do lugar onde esteja, precisando apenas de conexão à rede
mundial de computadores. Consegue solucionar de maneira célere e direta, com
economia de tempo e dinheiro. Não há a necessidade de deslocamento, sendo todo
o procedimento realizado através da internet.
O serviço funciona da seguinte forma: primeiro o cliente precisa averiguar se
a empresa contra a qual tem uma reclamação a fazer está cadastrada no site; a
partir daí, caso a resposta seja positiva, o consumidor faz a sua reclamação e a
empresa tem até dez dias para analisar e responder. Após isso, é dado um prazo de
43

vinte dias para o consumidor dar um feedback a respeito do que foi falado pela
empresa, neste momento ele precisa deixar claro se a sua reclamação foi resolvida
ou não, assim como pontuar sua satisfação com o atendimento recebido.
A adesão das empresas a essa plataforma é algo totalmente voluntário, a
qual ocorre mediante assinatura de termo de compromisso, cabendo a elas se
adequarem ao serviço, se comprometendo a empreender todos os esforços
disponíveis na busca por solucionar os problemas que lhe são apresentados.
Ainda sobre como funciona o site, é importante frisar que não é possível fazer
a reclamação de forma anônima. O consumidor precisa se identificar, mas a
plataforma garante que os dados dos usuários ficam protegidos, sendo conhecidos
apenas pela empresa alvo da reclamação e pelos órgãos que administram o site. O
que se torna público é apenas o teor da reclamação, a resposta da empresa e o
feedback dado pelo consumidor. Tudo isso está de acordo com os Termos das
Políticas de Uso de Dados Pessoais adotados pelo sistema.
É importante deixar claro aqui que essa plataforma não substitui os Órgãos
de Defesa do Consumidor, os quais continuam figurando como opção na resolução
dos problemas de consumo. Havendo insucesso no uso do ambiente virtual, o
lesado poderá ainda se utilizar dos Procons, Defensorias Públicas, Juizados
Especiais Cíveis, entre outros órgãos do Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor.
Mais uma consequência positiva da plataforma em questão é o incentivo na
busca por constante melhoria por parte das empresas, ocasionando uma
competitividade no sentido de aperfeiçoar a qualidade dos produtos, serviços e
atendimento oferecidos ao consumidor. Vale salientar que o serviço é totalmente
fiscalizado pelos órgãos competentes, quais sejam: a Secretaria Nacional do
Consumidor, Procons, Defensorias Públicas, Ministérios Públicos, Agências
Reguladoras, dentre outros, assim como por toda a sociedade. As reclamações dos
consumidores e respostas das empresas são todas monitoradas, indo para uma
base de dados que é publicizada e fica visível no site.
Na Sociedade da Informação, em que as pessoas estão conectadas através
da internet em boa parte do tempo para as mais diversas finalidades, nada mais
lógico do que criar uma ferramenta que se utilizasse dessa característica.
Atualmente conta com 1.223 empresas cadastradas e mais de 5 milhões de
reclamações finalizadas, com 77,39% delas solucionadas. As regiões do Brasil que
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mais se utilizam da plataforma são: Sudeste, Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte


(em ordem decrescente). Analisando a faixa etária dos consumidores que acionam
o referido serviço, temos que o maior grupo de usuários possui entre 21 e 40 anos,
ou seja, aqueles que estão em constante conexão à internet, utilizando-se dela para
os mais diversos fins, inclusive solucionar problemas.
Um fato recente e curioso a respeito desse sistema é que nos últimos meses
ele tem passado a receber reclamações pertinentes inclusive às redes sociais, as
quais possuem aproximadamente 150 milhões de usuários em todo Brasil, número
que representa 70% da população. A utilização da plataforma para esse fim foi
regulamentada pela portaria nº 12, de 05 de abril de 2021 da Senacon (Secretaria
Nacional do Consumidor). As queixas formuladas são a respeito de golpes,
vazamentos de dados, instabilidades e conteúdos excluídos sem justificativa, bem
como a cobrança por serviços e produtos não solicitados, por exemplo. A portaria
em comento determina também o cadastro de algumas empresas na plataforma,
contemplando além das redes sociais, empresas como Uber e Ifood.
O site consumidor.gov.br tem os seus dados admiravelmente sistematizados
e organizados por vários tipos de classificações, informando e esclarecendo ao
cidadão sua forma de funcionamento, bem como os índices obtidos. É um serviço
que só tem a auxiliar no acesso à Justiça (no sentido lato da palavra, aquele que
transcende a possibilidade e capacidade postulatória), que graças a avanços
conseguiu diversificar os seus tentáculos, “tirando das costas do Poder Judiciário” a
exclusividade em solucionar disputas. Atualmente, os benefícios do uso dessa
plataforma alcança consumidores, empresas, a sociedade brasileira como um todo
e o próprio Poder Judiciário ao ter o número de demandas consumeristas reduzidas.

4.4 A plataforma RA leegol

A plataforma de mediação digital leegol foi criada pelo famoso site Reclame
Aqui em parceria com a Câmara de Mediação e Arbitragem Especializada (CAMES)
com o intuito de solucionar demandas existentes entre consumidores e empresas
que não conseguiram ser resolvidas pelo próprio site. Para que seja possível a
utilização desse sistema é fundamental que as partes envolvidas no conflito queiram
resolver o seu problema longe do judiciário.
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Como se trata de mediação e não negociação direta como é o caso da


plataforma consumidor.gov.br, no sistema Leegol há sim a participação de um
terceiro imparcial e especializado, a figura do mediador. As soluções encontradas
nessa plataforma de Online Dispute Resolution possuem validade jurídica, o que
aumenta as chances do acordo firmado ser efetivamente cumprido. Segundo dados
fornecidos pelo próprio site, em 2021 cerca de duzentas empresas foram alvo de
5.003.610 reclamações.
Na plataforma em comento é a empresa quem toma a iniciativa de chamar o
consumidor para a sessão de mediação. Por isso, o custo para o consumidor é zero.
Os dois acessam a plataforma e são atendidos por um mediador especializado, cuja
finalidade é possibilitar o diálogo entre as partes, que ocorre através de um chat.
Sendo encontrada uma solução e o acordo fechado, tudo o que fora estabelecido
pelas partes possui validade jurídica.
Algumas das vantagens apresentadas são a economia, agilidade, segurança,
organização e sigilo, já que as conversas são protegidas.
46

5 CONCLUSÃO
Cada vez mais tem se mostrado necessário falar e estudar a respeito do uso
da tecnologia nos mais variados segmentos da sociedade. Com o Poder Judiciário
não poderia ser diferente, tendo em vista a maneira como os atos processuais vêm
sendo conduzidos nos últimos tempos (principalmente após a pandemia da
Covid-19). Através da leitura de artigos científicos, bem como de capítulos de livro e
notícias divulgadas em sites dos órgãos de justiça, foi possível verificar a ascensão
e importância que se tem dado a tecnologia atrelada ao Poder Judiciário para a
maximização de resultados em menores intervalos de tempo, com o escopo de
aperfeiçoar a prestação jurisdicional ofertada.
Diante do explanado acima, através de argumentos e dados constatados em
pesquisas recentes relacionadas a máquina judiciária do nosso país, vemos o quão
importante é a implementação de esforços na tentativa de modificar a maneira como
os procedimentos são realizados nos tribunais brasileiros. A complexidade da
sociedade atual colocou em xeque a atual definição do Poder Judiciário
extremamente burocrático e caro.
É nesse cenário de mudanças e modernizações relacionadas a forma de
resolver conflitos, bem como de aplicação da tecnologia da informação na prestação
dos mais variados serviços que entra a Online Dispute Resolution, como uma das
formas de ajudar a diminuir o número de ações, reduzindo consequentemente a
taxa de congestionamento do Judiciário.
Sistema de resolução de disputas que surgiu no fim da década de 90 nos
Estados Unidos com o intuito de resolver impasses resultantes do e-commerce, mas
que devido a sua praticidade e eficiência, vem sendo utilizadas também no setor
público de vários países espalhados pelo mundo, mostrando resultados altamente
satisfatórios.
Como o pesquisador acaba trazendo traços da sua personalidade para a
pesquisa realizada, o meu olhar pragmático para a vida e seus acontecimentos
despertou em mim o desejo de estudar sobre um tema que toca em um ponto
primordial e sensível do acesso à Justiça em nosso país: sua efetividade.
O tema em questão vem sendo alvo de muita pesquisa pelos que se propõe
a estudar a ciência do Direito e como consequência disso muitas têm sido as
produções científicas realizadas e publicadas com o intuito de ajudar a descobrir
formas mais eficientes de entregar justiça célere e satisfatória aos cidadãos.
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O estudo realizado é de relevante importância para a toda a sociedade


brasileira, contemplando e sendo útil a todos os seus cidadãos, os quais gozam do
direito fundamental de acesso à Justiça em sua forma mais plena, não se limitando
a capacidade e possibilidade postulatória. É promessa constitucional
consubstanciada no art. 5º da Carta Magna o direito à prestação jurisdicional em
tempo hábil, entendimento que se transmutou no que concebemos como o princípio
da razoável duração do processo (contido também nos artigos iniciais do Código de
Processo Civil de 2015), pois não basta que o direito seja protegido, mas que
juntamente a isso venha a possibilidade de ser desfrutado, sem riscos de
perecimento por morosidade estatal.
O tema abordado perpassa por todos aqueles que estão precisando ou
ainda vão precisar resolver algum conflito e não espera que entraves estatais
dificultem algo que deveria ser encarado de forma mais simples, direta e menos
onerosa. O que se busca aqui é encontrar diversificadas formas de resolução de
disputas, maximizando assim o acesso pleno à Justiça.
Como foi possível concluir através dos dados fornecidos sobre a utilização
das plataformas de ODR em países estrangeiros e também no Brasil, a utilização do
espaço virtual para a resolução de controvérsias tem se mostrado algo com retorno
satisfatório, gerando como uma das principais consequências a desburocratização
dos atos, bem como economia de tempo e recursos financeiros. Seguindo essa
linha de pensamento, podemos começar a considerar esse novo espaço de
resolução de disputas como algo factível, podendo ser difundida por todo o país,
claro que respeitando as especificidades de cada lugar, pois a inclusão digital
também ainda é algo que deixa a desejar em nosso país.
O objetivo do estudo era analisar a origem, as características e quais os
benefícios da ODR demonstrando como esses fatores poderão, de fato contribuir
para a otimização e o aperfeiçoamento do acesso a resolução de conflitos no
Brasil. Tomando como exemplo países com tamanhos, características e realidades
bem diferentes da nossa e também o que já vem ocorrendo em nosso país, restou
demonstrado através das altas taxas de resolutividade alcançadas por essas
plataformas (tendo como exemplos práticos o consumidor.gov.br, bem como a RA
leegol) que o uso da Online Dispute Resolution é algo viável que auxiliaria e muito a
solucionar conflitos em nosso país de forma rápida, eficiente e mais econômica.
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49

REFERÊNCIAS

Brasil. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de


outubro de 1988. Diário Oficial da União, Brasília-DF, 5 out. 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso
em: 04 maio. 2022.

Brasil. Código de Processo Civil (2015). Código de Processo Civil, de 16 de março


de 2015. Diário Oficial da União, Brasília-DF, 16 mar. 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em:
04 maio. 2022.

Brasil. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre


particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de
conflitos no âmbito da administração pública. Diário Oficial da União, Brasília-DF.
Disponívelem:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.ht
m. Acesso em: 15 maio. 2022.

Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 125/2010, de 29 de novembro de


2010. Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos
conflitos de interesse no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências.
Disponívelem:https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2014/04/resolucao_125
_29112010_23042014190818.pdf. Acesso em: 07 maio. 2022.

Conselho Nacional de Justiça - CNJ. Justiça em Números 2021. Disponível em:


https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/09/relatorio-justica-em-numeros2021
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https://www.consumidor.gov.br/pages/conteudo/publico/1Conheça o
Consumidor.gov.br. Acesso em: 18 maio 2022.

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45. ed. 889. ano 31. Ribeirão Preto: São Paulo. Ed. RT, 10. nov. 2017. Disponível
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