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Larissa Ferreira de Souza, Nárrila Thalissa Dias Borges, Gabriella Braga Melo,

João Antônio Paniago Vilela Rocha Cicci, Alexandre Ernesto de Almeida Pereira, Liliane Vieira
Martins Leal
___________________________________________________________________________________

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS PELO MÉTODO


AUTOCOMPOSITIVO DA CONCILIAÇÃO: ANÁLISE DA BANCA
PERMANENTE DE CONCILIAÇÃO, NO PERÍODO DE JULHO DE
2018 A JULHO DE 2019

CONFLICT RESOLUTION BY THE SELF-COMPOSITIVE


METHOD OF CONCILIATION: ANALYSIS OF THE PERMANENT
CONCILIATION PANEL, IN THE PERIOD FROM JULY 2018 TO
JULY 2019

RESOLUCIÓN DE CONFLICTOS POR EL MÉTODO


AUTOCOMPOSITIVO DE CONCILIACIÓN: ANÁLISIS DE LA
MESA PERMANENTE DE CONCILIACIÓN EN EL PERIODO
COMPRENDIDO ENTRE JULIO DE 2018 Y JULIO DE 2019

Larissa Ferreira de Souza1


Nárrila Thalissa Dias Borges2
Gabriella Braga Melo3
João Antônio Paniago Vilela Rocha Cicci4
Alexandre Ernesto de Almeida Pereira5
Liliane Vieira Martins Leal6

DOI: 10.54751/revistafoco.v16n3-007
Recebido em: 01 de Fevereiro de 2023
Aceito em: 02 de Março de 2023

RESUMO
Nas últimas décadas, visualiza-se uma premente crise do Poder Judiciário, decorrente,
sobretudo, do crescente número de processos ajuizados no país, especialmente, quanto
ao direito de família. Diante dessa conjuntura, emergem as reflexões sobre os meios

1
Graduada em Direito. Universidade Federal de Jataí. BR 364, km 195, Setor Parque Industrial, Jataí - GO,
CEP: 75801-615. E-mail: larissa_ferreiradesouza@hotmail.com
2
Bacharel em Direito. Universidade Federal de Jataí. BR 364, km 195, Setor Parque Industrial, Jataí - GO,
CEP: 75801-615. E-mail: narrila006@hotmail.com
3
Pós-Graduação (Lato Sensu) Licitações e Contratações Públicas pela Complexo de Ensino Renato Saraiva Ltda
(CERS). Pós-Graduação (Lato Sensu) Direito Público Aplicado pela Escola Brasileira de Direito (EBRADI). Universidade
Federal de Jataí. BR 364, km 195, Setor Parque Industrial, Jataí - GO, CEP: 75801-615.
E-mail: gabriella.braga@ufj.edu.br
4
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Universidade Federal de Jataí. BR 364, km 195, Setor
Parque Industrial, Jataí - GO, CEP: 75801-615. E-mail: jacicci@gmail.com
5
Mestre em Direito com área de concentração em Constituição e Processo pela Universidade de Ribeirão Preto.
Universidade Federal de Jataí. BR 364, km 195, Setor Parque Industrial, Jataí - GO, CEP: 75801-615.
E-mail: alexandreernesto@ufj.edu.br
6
Doutor em Engenharia de Produção. Doutorado em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Universidade Federal de Jataí. Câmpus Jatobá. Cidade Universitária, BR 364, km 195, Setor Parque Industrial,
Jataí - GO, CEP: 75801-615. E-mail: lilianeleal@ufj.edu.br

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RESOLUÇÃO DE CONFLITOS PELO MÉTODO AUTOCOMPOSITIVO DA
CONCILIAÇÃO: ANÁLISE DA BANCA PERMANENTE DE CONCILIAÇÃO, NO PERÍODO DE
JULHO DE 2018 A JULHO DE 2019
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adequados de conflitos, como instrumentos capazes de propiciar uma autocomposição


para as demandas e, consequentemente, reduzir o número de processos judiciais.
Dentre esses instrumentos, destacam-se a conciliação e a mediação, que possuem
metodologias específicas, visando a solução dos conflitos. Nesse contexto, surge o
projeto de extensão da Banca de Conciliação, desenvolvido no Núcleo de Prática
Jurídica, do Curso de Direito da UFG/Regional Jataí, com vistas à solução dos litígios
sociais e processuais, de forma célere, desburocratizada, sem custos aos interessados,
propiciando o acesso à justiça aos jurisdicionados. Primordialmente, a pesquisa objetiva
compilar e analisar os dados primários coletados no âmbito do projeto, para identificar
a efetividade das ações em relação aos seus propósitos, compreendendo um recorte
temporal do mês de julho de 2018 a julho de 2019. A abordagem metodológica prioriza
a pesquisa qualitativa e quantitativa, com análise de dados, principalmente, descritiva.
As técnicas de pesquisa utilizadas pautaram-se na bibliográfica e na documental, por
meio da utilização de livros, doutrinas, artigos, legislações, entre outros materiais
impressos e eletrônicos. Constata-se que os meios alternativos de resolução de conflitos
são instrumentos eficazes na composição pacífica dos conflitos. O projeto de extensão,
em análise, cumpriu com o seu propósito principal, qual seja, promover a conciliação,
de forma célere, informal e sem custos aos interessados, reduzindo o número de
litigiosidades no Judiciário. Porém, os resultados revelaram um número pequeno de
casos submetidos à Banca de Conciliação, em função, primordialmente, de fatores
estruturais, o que inviabilizou um quantitativo maior de resolução dos conflitos.

Palavras-chave: Composição dos conflitos; conciliação; banca permanente.

ABSTRACT
In the last decades, a pressing crisis of the Judiciary has been observed, mainly due to
the increasing number of lawsuits filed in the country, especially regarding family law. In
view of this situation, reflections are emerging on the appropriate means of conflict, as
instruments capable of providing a self-composition for the demands and, consequently,
reduce the number of lawsuits. Among these instruments are conciliation and mediation,
which have specific methodologies aimed at conflict resolution. In this context, there
arises the project of the Conciliation Panel, developed in the Nucleus of Legal Practice,
of the Law Course of the UFG/Regional Jataí, aiming at the solution of social and
procedural litigations, in a fast, unbureaucratic way, without costs to the interested
parties, providing the access to justice to the citizens. Primordially, the research aims to
compile and analyze the primary data collected under the project, to identify the
effectiveness of the actions in relation to its purposes, comprising a time frame from July
2018 to July 2019. The methodological approach prioritizes qualitative and quantitative
research, with data analysis mainly descriptive. The research techniques used were
bibliographic and documental, through the use of books, doctrines, articles, legislation,
among other printed and electronic materials. It was found that alternative means of
conflict resolution are effective instruments in the peaceful resolution of conflicts. The
extension project under analysis fulfilled its main purpose, which is to promote
conciliation, in a quick, informal and costless way to the interested parties, reducing the
number of litigations in the Judiciary. However, the results revealed a small number of
cases submitted to the Conciliation Panel, due, primarily, to structural factors, which
prevented a larger number of conflicts from being resolved.

Keywords: Composition of conflicts; conciliation; permanent bench.

RESUMEN
En las últimas décadas, se visualiza una acuciante crisis del Poder Judicial, resultante,

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sobre todo, del creciente número de demandas presentadas en el país, especialmente,


en lo que se refiere al derecho de familia. Ante esta situación, surgen reflexiones sobre
los medios de conflicto adecuados, como instrumentos capaces de proporcionar una
autocomposición de las demandas y, consecuentemente, reducir el número de pleitos.
Entre estos instrumentos, se destacan la conciliación y la mediación, que poseen
metodologías específicas dirigidas a la resolución de conflictos. En este contexto, surge
el proyecto de ampliación del Panel de Conciliación, desarrollado en el Centro de
Práctica Jurídica, del Curso de Derecho de la UFG/Regional Jataí, con el objetivo de
solucionar disputas sociales y procesales, de forma rápida, desburocratizada, sin costos
para las partes interesadas, proporcionando acceso a la justicia a los ciudadanos.
Primordialmente, la investigación tiene como objetivo recopilar y analizar los datos
primarios recogidos en el marco del proyecto, para identificar la eficacia de las acciones
en relación con sus propósitos, comprendiendo un corte temporal de julio de 2018 a julio
de 2019. El enfoque metodológico prioriza la investigación cualitativa y cuantitativa, con
análisis de datos principalmente descriptivos. Las técnicas de investigación utilizadas
se basaron en bibliográficas y documentales, a través del uso de libros, doctrinas,
artículos, legislación, entre otros materiales impresos y electrónicos. Se constató que
los medios alternativos de resolución de conflictos son instrumentos eficaces en la
composición pacífica de los conflictos. El proyecto de extensión, en análisis, cumplió su
objetivo principal, que es promover la conciliación, de forma rápida, informal y sin costo
para las partes interesadas, reduciendo el número de litigios en el Poder Judicial. Sin
embargo, los resultados revelaron un número reducido de casos sometidos al Panel de
Conciliación, debido, principalmente, a factores estructurales, lo que impidió que se
resolviera un mayor número de conflictos.

Palabras clave: Composición de conflictos; conciliación; bancada permanente.

1. Introdução
Os meios adequados de resolução de conflitos, especialmente, a
mediação e a conciliação, surgem perante a ineficiência do Estado em solucionar
os litígios de forma célere e eficaz. Esses meios não jurisdicionais de solução de
demandas priorizam a autonomia da vontade das partes para se obter uma
solução amigável, estimulando a convivência cordial e, sobretudo, o diálogo
entre os conflitantes. A finalidade desses métodos consiste em resolver os litígios
sem sacrificar ou conceder os interesses iniciais dos conflitantes.
A conciliação propicia a autocomposição dos conflitos, assentando-se na
informalidade, flexibilidade e descentralização (WOLKMER, 2001). “Conciliar é
aproximar, colaborar, contribuir, fomentar, sugerir, estimular, trata-se de postura
ativa, dinâmica, elaborada, atenta e comprometida com as pessoas e seus
problemas” (TARTUCE, 2012, p. 175). Configura-se em um método construtivo,
em que as partes buscam resolver os conflitos, sem acessar o Judiciário, com a

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presença de um terceiro imparcial com poder de decisão vinculativa.


Nessa perspectiva, nasce o projeto de extensão da Banca Permanente de
Conciliação, desenvolvido no âmbito do NPJ, do Curso de Direito, da
UFG/Regional Jataí. O foco do projeto é oferecer novas perspectivas à
comunidade acadêmica, apresentando outros métodos de resolução dos
conflitos e, a partir daí, modelar as técnicas autocompositivas de controvérsias
em contraposição às vias adjudicatórias, que estimulam a litigiosidade entre os
jurisdicionados. Para tanto, faz-se necessária a difusão da cultura da
consensualidade em detrimento da processualística exacerbada que prioriza o
formalismo e técnicas exclusivamente jurídicas.
O projeto de extensão em análise contribui para o acesso à justiça dos
hipossuficientes, aqueles que não possuem condições financeiras de arcar com
as despesas processuais e honorários advocatícios, promovendo a inclusão de
grupos sociais vulneráveis.

2. Base Teórica
2.1 Cultura da Judicialização
Primeiramente, é preciso conceituar o que é jurisdição. Para tanto, é
imprescindível compreender que a judicialização do conflito é o meio mais
comum na procura para a resolução da lide. Neves (2017, p. 59) argumenta que:
“[...] A jurisdição pode ser entendida como a atuação estatal visando à aplicação
do direito objetivo ao caso concreto, resolvendo-se com definitividade uma
situação de crise jurídica e gerando com tal solução a pacificação social”.
Nesse contexto, é perceptível que a jurisdição se presta a resolver a lide
existente entre os polos passivo e ativo, de maneira que a lei é levada a primeiro
plano na dissolução do conflito e não a vontade das partes. Houve um verdadeiro
mito de que, conforme Silva (2012, p. 3): “A jurisdição e o processo judicial
representam, da perspectiva do Estado moderno, a solução mais formal e,
supostamente, mais democrática e mais justa”. O que resultou, atualmente, no
país, como afirma Teixeira (2017), na cultura do processismo, que se refere a
um sintoma de crise nas instituições: “[...] quando as instituições falham, tudo
fica judicializado”.

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A realidade brasileira demonstra um sistema sobrecarregado de


demandas protocoladas no Judiciário em significativas proporções, resultando
em um colapso nos meios jurisdicionais. Nessa senda, Teixeira (2017), a partir
de dados do Conselho Nacional de Justiça referente ao ano de 2015, argumenta
que: “O Brasil tem hoje 206 milhões de habitantes e nossa Justiça, 102 milhões
de processos. É quase 01 processo para cada 02 habitantes”.
O Conselho Nacional de Justiça (2017, p. 182) demonstra o aumento
percentual crescente a cada ano do quantitativo de demandas judicializadas no
país:

O número de processos em tramitação não parou de crescer, e,


novamente, houve aumento no estoque de processos que aguardam
por alguma solução definitiva. Ao final do ano de 2009 tramitavam no
judiciário 60,7 milhões de processos. Em sete anos o quantitativo
cresceu para quase 80 milhões de casos pendentes, variação
acumulada no período de 31,2%, ou crescimento médio de 4,5% a
cada ano. A demanda pelos serviços de justiça também cresceu esse
ano, numa proporção de 5,6%, não se verificando a tendência de
redução esperada pela retração de 4,2% observada em 2015,
comparativamente a 2014. Em 2016, ingressaram na justiça 29,4
milhões de processos - o que representa uma média de 14,3 processos
a cada 100 habitantes.

Isso significa que os níveis de judicialização de processos não para de


crescer, o que ocasiona uma paralisação ainda maior ao sistema judiciário, o
qual já se encontra deficitário. No mesmo sentido, o CNJ (2017, p. 182)
complementa informando que:

A taxa de congestionamento permanece em altos patamares e quase


sem variação em relação ao ano de 2015, tendo atingido o percentual
de 73,0% em 2016. Isso significa que apenas 27% de todos os
processos que tramitaram foram solucionados. Mesmo se fossem
desconsiderados os casos que estão suspensos, sobrestados ou em
arquivo provisório aguardando alguma situação jurídica futura, a taxa
de congestionamento liquida e de 69,3% (3,7 pontos percentuais a
menos que a taxa bruta).

Indubitavelmente, o Poder Judiciário enfrenta um grande problema. Com


os números elevados de processos judicializados, o Judiciário não consegue
atender satisfatoriamente os interesses dos cidadãos que que buscam a
prestação da tutela jurisdicional.

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Com efeito, compete ressaltar a percepção de disputa quando uma parte


ingressa em juízo. O espírito de litigiosidade encontra-se culturalmente arraigado
nos jurisdicionados, o que inviabiliza, muitas vezes, uma solução pacífica do
conflito. Soma-se a isso, o fato de que as decisões judiciais nem sempre são
construtivas, ou seja, excluem outros aspectos que envolvem o conflito que, por
vezes, são mais relevantes do que aqueles propriamente jurídicos (AZEVEDO,
2004). Esse fato contribui para o acirramento das disputas para além de uma
decisão judicial, ou seja, extingue-se o processo, no entanto, perpetua-se a
demanda.

2.2 Morosidade da Justiça Brasileira


A morosidade na condução do imenso volume de causas, os altos custos
processuais e a cultura do formalismo jurídico-processual desencadearam uma
crise no Poder Judiciário, pois o tratamento dos litígios tornou-se uma constante
em que os indivíduos optam pelo Estado-Juiz, ajuizando a demanda, o que nem
sempre configura o real interesse das partes, qual seja, a pacificação. Desse
modo, os meios alternativos de resolução dos conflitos, especialmente, a
conciliação e a mediação, apresentam-se como meios eficazes para uma
solução de litígios - que versam sobre direitos disponíveis -, mais célere, justa,
equitativa e sem custos aos jurisdicionados, pois: “Os cidadãos têm direito a uma
célere entrega da prestação jurisdicional, e isso acarreta uma valorização da
cidadania e da democracia [...]”, porque “[...] a justiça que não cumpre suas
funções dentro de um prazo razoável é, para muitas pessoas, uma justiça
inacessível” (BATISTA, 2010, p. 45).
Wolkmer (2001, p. 309) argumenta que, diante da inabilidade do Estado
em proporcionar a devida prestação da tutela jurisdicional, instrumentos surgem
como formas de viabilizar o acesso à justiça, caracterizados pela
autocomposição7:

Na medida em que o órgão de jurisdição do modelo de legalidade


estatal convencional torna-se funcionalmente incapaz de acolher as

7 Trata-se de uma forma de solução de conflitos, em que os próprios litigantes resolvem a lide
por meio de um acordo. A vontade das partes prevalece (NEVES, 2017, p. 63-64).

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demandas e de resolver os conflitos inerentes às necessidades


engendradas por novos atores sociais, nada mais natural do que o
poder societário instituir instâncias extrajudiciais assentadas na
informalidade, autenticidade, flexibilidade e descentralização.

O autor ainda pondera que os procedimentos não-estatais de resolução


consensual de conflitos, articulados informalmente por vontades individuais e
coletivas “[...] assumem características específicas de uma validade distinta,
legítima e diferenciada, não menos verdadeira, podendo ser, por vezes, até mais
justa e autêntica” (WOLKMER, 2001, p. 286).
Mesmo com grande ineficiência de efetividade, a lentidão do Judiciário
não se dá pela improdutividade de seus servidores, pelo contrário, o Conselho
Nacional de Justiça (2017, p.182) demonstra que o índice de produtividade dos
magistrados são consideráveis:

Isso não significa que os juízes brasileiros produzem pouco. Pelo


contrário, o Índice de Produtividade dos Magistrados (IPM) foi de 1.749
processos. Considerando apenas os dias uteis do ano de 2016,
excetuadas as férias, tal valor implica a solução de mais de sete
processos ao dia. O Índice de Produtividade dos Servidores da Área
Judiciaria cresceu 2%, o que significa uma média de dois casos a mais
baixados por servidor em relação a 2015. A alta taxa de produtividade
da justiça brasileira fica evidenciada também a partir do índice de
atendimento a demanda, que foi de 100,3% em 2016 - ou seja, o
Judiciário concluiu quantidade de processos ligeiramente superior a
quantidade de casos novos ingressados.

Dessa forma, percebe-se que os altos índices de processos na espera


jurisdicional não ocorrem em função da ineficiência dos profissionais que ali
atuam, sejam magistrados ou servidores, mas sim de uma demanda crescente
e incompatível, proporcionalmente, entre o número de servidores efetivos do
Judiciário e ações protocoladas (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2017,
p. 182).
Com os altos índices de demandas judicializadas e consequente
morosidade processual, “[...] o Judiciário e a sociedade civil brasileira têm
buscado distintos métodos e formas que auxiliam na prestação jurisdicional,
dando aos que dela se beneficiem a segurança jurídica e a certeza do direito
com mais celeridade.” (BATISTA, 2010, p. 23). Dentre os meios existentes,
destacam-se a conciliação e a mediação.

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2.3 Conciliação e Mediação


Na última década, verifica-se a crescente litigiosidade e o significativo
número de demandas instauradas no Judiciário brasileiro. O Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) divulgou em relatório do ano-base de 2018 que o Poder
Judiciário finalizou o ano com 78,7 milhões de processos em tramitação,
aguardando alguma decisão definitiva. Desse total, 17,9% estavam suspensos,
sobrestados ou em arquivo provisório, aguardando alguma solução jurídica
futura. Desconsiderando esses processos, o Judiciário ainda permaneceu ao
final de 2018 com 64,6 milhões de demandas judiciais. O acervo de processo
crescia exponencialmente desde o ano de 2009, contudo, no ano de 2018, houve
uma redução de fato no número de demandas pendentes, com queda de quase
um milhão de processos judiciais (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2019).
Diante desses dados, é inexorável a importância dos meios adequados de
resolução dos conflitos.
Klunk (2012) relata as inúmeras vantagens que a conciliação oferece,
dentre elas a celeridade, confidencialidade, redução de custos, além da grande
possibilidade de sucesso e uma maior qualidade na decisão acordada. O atual
Código de Processo Civil inovou ao estabelecer a exigência das audiências de
conciliação e mediação antes da instrução e julgamento de mérito, nos termos
do art. 334 (BRASIL, 2015).
A conciliação como uma prática judicial, instaurada a partir do processo,
ou extrajudicial, como forma de prevenir a judicialização do conflito. Trata-se de
procedimento informal, institucionalizada ou não, que visa mediar controvérsias,
interesses antagônicos e litigiosidades provenientes das relações sociais
(WOLKMER, 2001, p. 297-298).
Considerando a sua natureza judicial ou extrajudicial, a conciliação “[...]
revela-se não só como variante à solução dos litígios, mas, igualmente, como
direção mais diferenciada e espontânea aos rituais canonizados da
processualística estatal” (WOLKMER, 2001, p. 298).
A conciliação, no âmbito de um processo construtivo de resolução de
disputas, estimula as partes à construção de soluções, compatibilizando os
interesses que aparentemente são contrapostos. A técnica é conduzida por um

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terceiro imparcial, o conciliador, capaz de motivar todos os envolvidos a


resolverem prospectivamente as questões jurídicas tuteladas e, sobretudo,
aquelas que eventualmente possam influenciar as relações sociais das partes
(AZEVEDO, 2004).
Compete ao conciliador aproximar as partes, gerenciar e conduzir as
negociações, apresentar propostas, estimulando as partes a comporem seus
conflitos. A técnica pode ser utilizada tanto nos processos judiciais como nas
hipóteses de conflitos de interesses não jurisdicionalizados. Desse modo, a
conciliação contribui não somente para colocar fim às demandas judiciais, mas
também, previne a instalação de novos conflitos.
Por outra via, a mediação trata-se de uma técnica autocompositiva, em
que um terceiro imparcial intermedia um acordo entre pessoas que necessitam
de auxílio na resolução da questão.
Apesar das semelhantes entre a conciliação e a mediação, os métodos
são diferentes. Tartuce (2012, p. 150-151) ilustra muito bem a diferença entre
elas:

Tanto o mediador quanto o conciliador podem colaborar para que os


indivíduos identifiquem a importância dos interesses e cogitem sobre
alternativas para o impasse. No que tange a proposta é que sua
atuação difere: enquanto o conciliador pode propor saídas, o mediador
deve colaborar para que as próprias partes formulem alternativas de
forma a preservar sua autoria na construção da resposta.

Assim, percebe-se que, enquanto o conciliador pode sugerir uma solução


viável para que as partes avaliem e apreciem o caminho mais adequado para a
solução do conflito, o mediador colabora na construção das propostas
elaboradas pelas próprias partes. Dessa forma, a mediação apresenta-se
conforme o seguinte sentido: “A ideia é que ela restabeleça o diálogo entre os
envolvidos, de modo que eles enxerguem, por si mesmos, outros aspectos do
impasse, de modo a chegar a uma solução” (LORENCINI, 2012, p. 61-62). O
autor ainda complementa argumentando que: “[...] o mediador pode ser
contratado pelas partes ou indicado por um órgão, sendo remunerado ou
voluntário. No entanto, não pode ter qualquer interesse direto ou indireto nos
fatos discutidos” (LORENCINI, 2012, p. 62).

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Ademais, ressalta-se: “A mediação se faz mediante um procedimento


voluntário e confidencial, estabelecido em método próprio, informal, porém
coordenado” (CALMON, 2015, p. 111). Portanto, ocorre por meio de
mecanismos estruturais, a partir do emprego de técnicas, todavia, permanece
como uma atividade não jurídica.
Braga Neto (2012, p. 103) elucida um outro conceito sobre o assunto:

A mediação de conflitos pode ser definida como um processo em que


um terceiro imparcial e independente coordena reuniões separadas ou
conjuntas com as pessoas envolvidas, sejam elas físicas ou jurídicas,
com o objetivo de promover uma reflexão sobre a inter-relação
existente, a fim de alcançar uma solução, que atenda a todos os
envolvidos.

Assim, o mediador deve “[...] incentivar os mediandos a exercitar o ouvir,


o falar e o refletir, para que não haja discussões estéreis e agressividade”,
porém, não lhe compete dar conselhos (LORENCINI, 2012, p. 62, grifo do autor).
No caso de tensões existentes, competirá, de forma imparcial e independente,
intervir pelo diálogo cooperativo entre os interessados, além de definir as regras
que serão aplicadas nesse processo.
Repisa-se que as decisões judiciais não solucionam os conflitos sociais
aparentes, apenas colocam fim ao processo, podendo perdurar o conflito
originário. Desse modo, não previne que outras demandas possam emergir com
novas particularidades ou permanecer a mesma relação conflituosa social.
Muitas vezes, a jurisdição regulariza o conflito social, porém não é suficiente para
regularizar a própria vida.
É nesse contexto que o projeto da Banca Permanente de Conciliação
sugere ações transformadoras de problemas sociais, capazes de ampliar o
acesso à justiça. Caracteriza-se em um instrumento que visa proporcionar a
resolução de disputas, por meio de métodos simplificados, informais e sem
custos, em que os interessados são sujeitos ativos, que participam do processo
construtivo de consensualidade, promovendo a satisfação mútua dos seus
interesses.

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3. Objetivos
Promover a composição e prevenção dos conflitos sociais e judiciais, por
meio de métodos adequados de solução de conflitos, a partir da realização das
Bancas de Conciliação.
Para a consecução desse propósito geral, delinearam-se os seguintes
objetivos específicos:
a) solucionar os conflitos sociais de forma célere, participativa,
informal e menos onerosa para os interessados;
b) promover o acesso à justiça à parcela da população desprovida de
recursos financeiros;
c) reduzir o número de processos judicializados tanto no NPJ quanto
no Poder Judiciário;
d) promover a cultura da pacificação entre os acadêmicos e na
comunidade em geral; e
e) proporcionar aos acadêmicos um novo campo de atuação
direcionado aos meios voluntários e alternativos de resolução de conflitos,
articulando os aspectos teóricos com a práxis jurídica.

4. Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida a partir da coleta de dados primários e
secundários do projeto de extensão da Banca Permanente de Conciliação,
desenvolvido no âmbito do Núcleo de Prática Jurídica do curso de Direito da
UFJ.
O período analisado compreende ao período de julho de 2018 a julho de
2019, segunda edição do projeto. Realizaram-se dinâmicas preliminares de
seleção e capacitação da equipe de extensionistas e monitores pela professora
orientadora do projeto para atuarem como conciliadores e colaboradores. As
ações foram direcionadas para as técnicas autocompositivas.
Posteriormente, iniciaram-se a seleção e análise das fichas de
atendimento dos assistidos, para identificar a possibilidade de submissão do
conflito à composição pela Banca de Conciliação. As fichas são preenchidas pela
secretária do NPJ que, mediante agendamento, realiza o primeiro atendimento

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ao interessado. Nessa oportunidade, os fatos relatados são registrados em um


formulário próprio, que contém, além da natureza da demanda, os dados de
contato do interessado.
No período de agosto a dezembro de 2018, selecionaram-se 53 fichas de
atendimento e no período de janeiro a julho de 2019, selecionaram-se 54 fichas,
todas foram distribuídas entre grupos de extensionistas para análise dos casos.
O primeiro diagnóstico foi realizado a partir dos dados constantes na ficha
de atendimento, para verificar o cumprimento dos seguintes critérios: a) a Lei nº
1.060/1950, que estabelece as diretrizes para a assistência judiciária; b) a
Resolução nº 03/2011, do curso de Direito da UFJ; c) natureza do conflito.
Após, iniciaram-se os agendamentos e entrevistas em data e horários
previamente designados com os interessados para confirmar a possibilidade de
acordo e, logo, submissão à Banca de Conciliação.
Em síntese, foram definidas as seguintes etapas: a) seleção e
capacitação dos extensionistas para aturarem como conciliadores na Banca de
Conciliação; b) seleção, análise e distribuição das fichas de atendimentos entre
os extensionistas; c) agendamento e entrevistas com os interessados; d)
diagnóstico das demandas passíveis de conciliação pela Banca; e) elaboração
do pré-processo; e) instalação da Banca de Conciliação; e f) protocolo judicial
dos termos de acordo.
Pontuam-se, ainda, ações direcionadas à implementação da cultura da
pacificação na comunidade acadêmica e em geral: a criação de páginas nas
redes sociais, Instagram e Facebook, que contêm textos e imagens referentes à
conciliação e temas correlatos; a realização de um evento intitulado “Conciliação
e mediação dos conflitos sociais e judiciais”, com a exposição e o debate
apresentados por um juiz de direito e uma promotora de justiça, cujas expertises
consistem na consensualidade dos litígios.

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Figura 1 - Páginas nas redes sociais - Facebook e Instagram

Figura 2 - Panfleto para divulgação do projeto

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5. Resultados e Discussão
No período de execução do projeto, verificou-se um número expressivo
de demandas que não puderam ser objeto de resolução consensual,
especialmente, pelos fatores apresentados na Figura 3:

Figura 3 - Dados referentes às ações da Banca de Conciliação - 2018-2019

9 Casos submetidos à Banca de Conciliação

1 Judicialização do conflito

6 Casos solucionados pelos próprios interessados

2 Atendimento por outra instituição de ensino superior

3 Demandas solucionadas pelo Cejusc

1 Acordo que já havia sido realizado no NPJ

2 Interessados que não compareceram no agendamendo marcado

3 Fichas que aguardavam documentação (em andamento)

9 Impossibilidade de contato com a parte adversa

17 Desistência do interessado

10 Pessoas que não atenderam os requisitos da Lei nº 1.060/1950


Impossibilidade de contato com o interessado
44
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Fonte: Relatório do projeto de extensão (2019)

A impossibilidade de contato com os interessados ocorreu,


principalmente, pelos números de telefones inexistentes, números que
pertenciam a outras pessoas, ligações não atendidas e pessoa que atendeu a
chamada informou que não tinha o contato do interessado. As desistências
ocorreram pelo desinteresse na resolução do conflito de forma pacífica, pois o
interessado que procurou o NPJ manifestou expressamente a litigiosidade do
conflito, em que revelava a impossibilidade de qualquer contato com a parte
adversa.
Do total das fichas distribuídas para análise (107), realizaram-se 63
atendimentos, o que correspondeu a um percentual de 58,87% dos casos. Além
disso, foram instaladas 9 (nove) Bancas de Conciliação, em que as demandas

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foram solucionadas pacificamente, sem a necessidade da judicialização do


conflito. Apesar de um reduzido número de casos submetidos à Banca, os
extensionistas juntamente com a professora orientadora realizaram os
atendimentos, prestando a devida orientação jurídica ou encaminhando o caso
para órgãos de defesa dos direitos individuais e coletivos, o que denota a
efetividade do projeto em questão.
No que se refere à natureza das demandas que foram submetidas à
Banca de Conciliação, apresentam-se os dados na Figura 4.

Figura 4 - Natureza das demandas submetidas à Banca de Conciliação - 2018-2019

1; 11% Divórcio

4; 45% Pensão alimentícia, guarda e direito


de convivência
4; 44% Dissolução de união estável

Fonte: Relatório do projeto de extensão (2019).

Logo, foram protocolizados 9 (nove) casos para a homologação do Poder


Judiciário.
A partir da análise das fichas de atendimento, observa-se uma grande
quantidade de demandas na área do direito de família, principalmente, questões
relacionadas à divórcio, pensão alimentícia e regulamentação de guarda/visita.
Portanto, sob a ótica da contemporaneidade, é possível perceber grandes
desarranjos vivenciais nas estruturas familiares. O divórcio, a possibilidade de
se instituir novas formas de convívio, assim como a existência de outras
entidades familiares e a faculdade do reconhecimento de filhos havidos fora do
casamento contribuíram para uma verdadeira transformação na própria família
(DIAS, 2015, p. 12).
Compete destacar que essa realidade não se mostra diferente no âmbito
nacional. O Conselho Nacional de Justiça (2017, p. 166-167) informou que, no

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ano de 2017, o tema Direito Civil destacou-se entre os cinco assuntos com
maiores quantitativos de processos em todas as instâncias da Justiça Estadual.
Nessa área do conhecimento, o direito de família totalizou 853.049 de novos
processos protocolizados, o que correspondeu a 1,68% de todas as demandas
judicializadas no país.

6. Considerações Finais
Diante das considerações apresentadas, concluiu-se pela efetividade do
projeto de extensão, notadamente, no que se refere aos atendimentos aos
interessados e à composição dos conflitos, pois todos os casos submetidos à
Banca foram pacificamente solucionados. Esse fato contribuiu para reduzir as
demandas judiciais, colocar fim ao conflito, maior satisfação dos interesses dos
envolvidos, celeridade, informalidade e, sobretudo, proporcionou o acesso à
justiça aos hipossuficientes, sem nenhum custo.
O projeto propiciou aos extensionistas oportunidades diversas daquelas
habitualmente instituídas nos cursos de Direito, fomentando a cultura da
pacificação social.
Os estudos sobre os meios consensuais despertaram nos estudantes a
sensibilidade para a autocomposição dos conflitos, como importantes
ferramentas de transformação e superação dos impasses sociais e jurídicos. A
disseminação da cultura da pacificação, indubitavelmente, reduz os entraves que
dificultam a solução dos conflitos, a partir de uma satisfação recíproca dos
interesses, em que todos ganham.
Outro ponto que merece destaque, é a oportunidade aos interessados de
verem suas questões sendo dirimidas com maior celeridade, presteza, menos
entraves burocráticos e sem custos. Por fim, conclui-se que a ampla divulgação
do projeto nas mídias sociais é preponderante para resultados satisfatórios em
relação à difusão da pacificação social entre a comunidade acadêmica e externa.
Acredita-se que um dos enfrentamentos para a execução do projeto,
consubstanciou nos aspectos estruturais, tendo em vista a ausência de um
profissional qualificado que pudesse efetivamente realizar uma triagem que
contemplasse todos os elementos necessários à execução das fases do projeto.

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Dessa forma, vislumbra-se que os objetivos foram alcançados pelo


projeto, na medida em que atuou na composição e prevenção dos conflitos,
proporcionando um auxílio jurídico para um público vulnerável e hipossuficiente,
que buscou a solução dos seus conflitos no NPJ.
Em última análise, infere-se que os meios alternativos de resolução de
controvérsias são necessidades substanciais diante do atual contexto do Poder
Judiciário no país. Por isso, é visível as ações dos órgãos da justiça no sentido
de implementar uma cultura da pacificação social em detrimento da
jurisdicionalização. Tal fato pode ser ilustrado pela instituição dos Cejusc’s, por
recomendação do Conselho Nacional de Justiça. No entanto, faz-se necessário,
sobretudo, que os meios empregados priorizem uma conciliação voltada ao
término do conflito e não simplesmente do processo.

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