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DISCOVERY E OUTROS
INSTRUMENTOS PROCESSUAIS
DO COMMON LAW
A EFICIÊNCIA DOS MEIOS PROBATÓRIOS NA RESOLUÇÃO
DE CONFLITOS NAS FASES INICIAIS DO PROCEDIMENTO
CIVIL (PRE-SUIT E PRETRIAL)
Londrina/PR
2021
Dados Internacionais de Catalogação na
Publicação (CIP)
Boa leitura!
EDUARDO CAMBI
Professor da Universidade Estadual do Norte do
Paraná. Promotor de Justiça do MPPR.
Coordenador da Escola Superior do MPPR e
Presidente do Conselho Nacional de Diretores de Escolas do
Ministério Público brasileiro (CDEMP).
Pós-Doutor em Direito pela Università degli Studi di
Pavia (Itália), Doutor e Mestre em Direito pela Universidade
Federal do Paraná.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
INTRODUÇÃO ..............................................................................................17
CAPÍTULO 1
O DESENVOLVIMENTO DO COMMON LAW .................................29
1.1 Conhecendo o common law .....................................................................29
1.1.1 O sistema de justiça inglês antes dos normandos ........................32
1.1.2 A chegada dos normandos: confusão e perplexidade jurisdicio-
nal ..................................................................................................................37
1.1.3 Início da organização: unificação....................................................40
1.1.4 Estabelecimento definitivo ..............................................................44
1.2 O sistema jurisdicional dúplice: equity e common law ...........................48
1.2.1 Surgimento da Court of chancery .......................................................50
1.2.2 Procedimentos exclusivos da equity.................................................53
1.2.3 Equity e law nos EUA ........................................................................59
CAPÍTULO 2
INSTRUMENTOS E MEIOS PROCESSUAIS DO SISTEMA
COMMON LAW .............................................................................................67
2.1 Os meios processuais do direito anglo-americano do século xx:
surgimento, evolução e reformas................................................................67
2.1.1 O surgimento e desenvolvimento da Discovery na Inglaterra ......71
2.1.2 Discovery nos EUA .............................................................................81
2.1.3 A Discovery e as despesas...................................................................86
2.1.4 Compreendendo o sistema de Pleadings .........................................89
2.1.4.1 Os pleadings em perspectiva transnacional ................................89
2.1.4.2 O sistema de pleadings sob diferentes diplomas legais: o
funcionamento do sistema sob o Field Code..........................................92
2.1.4.3 O funcionamento do sistema de pleadings na era das Federal
Rules of Civil Procedure................................................................................95
2.1.4.4 O estabelecimento de critérios jurisprudenciais no sistema de
pleadings........................................................................................................98
2.1.4.5 O pleading em sistemas civil law....................................................99
2.1.4.6 A interferência dos precedentes da Suprema Corte no
funcionamento dos pleadings..................................................................103
2.1.4.7 Acomodação e algumas observações .....................................105
2.2 Uma visão analítica da prática de litígios cíveis na tradição anglo-
americana .....................................................................................................108
2.2.1 Considerações sobre a produção de provas no sistema civil law e
common law...................................................................................................108
2.2.2 A estrutura judicial reflexo do sistema federativo dos EUA ....114
2.2.3 Jurisdição Estadual e Federal .........................................................115
2.2.4 Civil litigation......................................................................................117
2.2.5 As mudanças da fase pretrial de maior impacto nas estatísticas dos
sistemas de justiça inglês e norte-americano ........................................120
2.2.5.1 Summary judgement........................................................................121
2.2.5.2 Pre-action protocols ........................................................................125
2.2.5.3 Case management............................................................................126
2.2.6 Análise dos dados estatísticos da justiça inglesa pós-reforma..130
2.2.6.1 O diagnóstico e as soluções de Lord Woolf..............................133
2.2.6.2 O case management como principal articulador do sistema
inglês na fase pre-suit e pre-trial...............................................................136
2.2.6.3 Os efeitos dos pre-action protocols ..............................................137
2.2.6.4 Análise de impacto imediato da introdução do Civil Procedure
Rules em 1998...........................................................................................140
CAPÍTULO 3
POSSIBILIDADES DE ADAPTAÇÃO DE INSTRUMENTOS
PROCESSUAIS E PRÉ-PROCESSUAIS DO DIREITO ANGLO-
AMERICANO NO SISTEMA PROCESSUAL BRASILEIRO ...........147
3.1 A interação do common law com o civil law .........................................150
3.2 Os desafios da reforma ante as diferenças entre os sistemas ........155
3.3 Intersecções entre os sistemas sob a persectiva do direito probató-
rio ..................................................................................................................160
3.4 Análise de dados da justiça brasileira em relação ao sistema processual
civil ................................................................................................................164
3.4.1 A Conciliação no sistema brasileiro: uma visão limitada ..........167
3.4.2 Regulamentação da conciliação pelo Código de Processo Ci-
vil .................................................................................................................169
3.4.3 Considerações sobre os índices de conciliação no Brasil..........171
3.5 As possibilidades de reforma no sistema brasileiro ........................173
3.5.1 A Necessidade de constantes refomas nos sistemas pro-
cessuais .......................................................................................................173
3.6 O pre-action protocol como alternativa de melhora da eficiência do
sistema ..........................................................................................................175
3.6.1 Funcionamento do Pre-Action Protocol ..........................................178
3.6.2 Testando a eficiência e controlando as despesas dos Pre-Action
Protocols........................................................................................................182
3.6.3 PAP´s para casos de hipoteca em imóveis residenciais ............185
3.6.4 A satisfação dos usuários com o Pre-Action Protocol da construção
civil ..............................................................................................................189
3.7 Discovery como alternativa de melhora da eficiência do sistema ....193
3.7.1 O funcionamento da Discovery no sistema common law atualmen-
te ..................................................................................................................197
3.7.2 Peculiaridades da Discovery nos estados e presuit discovery ...........206
3.7.3 Discovery e fishing expedition: a prova como direito fundamental..211
3.8 Disclosure como possibilidade de proposta de reforma ������������������216
3.9 Uma nova regulamentação da produção antecipada de provas como
proposta de reforma ...................................................................................223
3.10 Esboço de implantação de uma fase de revelação de provas na
sistemática processual brasileira: aprendendo com outras experiên-
cias .................................................................................................................238
1. O discurso, apresentado na convenção anual da American Bar Association em 1906, teve grande
repercussão sendo posteriormente publicado em formato de artigo com o título The Causes
of Popular Dissatisfaction with the Administration of Justice, podendo ser encontrado em diversas
plataformas digitais e repositórios de papers acadêmicos. Disponível em https://law.unl.edu/
RoscoePound.pdf. Acesso 15 mar 2019
2. Com a expressão “teoria esportiva de justiça” (sporting theory of justice) Pound se referia à visão
equivocada sobre o processo judicial e do próprio direito como um jogo. Décadas mais tarde
Piero Calamandrei escrevia sobre o costume de se enxergar o processo como uma disputa de
interesses individuais. Ver Il processo come gioco. Opere Giuridiche. vol. I. Napoli: Morano, 1983,
p. 536-562.
3. Sistema aqui é utilizado para se referir a um conjunto de partes interrelacionadas e interativas
com incumbências determinadas no funcionamento do sistema. Ver Richard. A. Posner, Law
and legal Theory in the UK and USA, 1996, p. 69.
18 DISCOVERY E OUTROS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DO COMMON LAW
4. Não significa que tenham a prerrogativa de produzir leis. O chamado judge made law se
desenvolveu em um contexto de confiança que a sociedade deposita no conhecimento técnico-
jurídico dos juízes para interpretar a lei e até mesmo participar do processo de positivação
das regras, enquanto um corpo de jurados representantes do povo tem a confiança para julgar
questões relacionadas aos fatos.
5. Lord Woolf, que liderou a maior reforma recente do direito inglês, tem uma estátua/busto na
High Court of Justice, Jeremy Bentham, célebre reformista, tem seus restos mortais preservados
na University College of London.
Introdução 19
6. Para uma análise crítica a repeito da adoção do sistema de precedentes no Brasil, ver Eduardo
Cambi e Rafael Gomiero Pitta, Sistema de Precedentes Brasileiro: compreensão crítica a partir
da tradição inglesa e norte-americana, Prisma Jur., São Paulo, 2018.
7. CPC/2015 artigo 489, §1º, VI, artigo 520-522 e artigo 927
8. CPC/2015, artigos 190, 191 e 373, § 3º
Introdução 21
9. O professor Barbosa Moreira faz uma alusão comparativa com o transplante de órgãos, em
que se faz necessário colher informações sobre o funcionamento do órgão transplantado e do
organismo que o receberá. Ver A importação e modelos jurídicos, in Temas de Direito Processual:
8ª série. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 265.
22 DISCOVERY E OUTROS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DO COMMON LAW
10. Importante ressaltar que existe uma terceira família ou tradição reconhecida pela doutrina,
que é a família jurídica socialista, com importantes reflexos no sistema processual. Haja
vista a decadência dos países de tradição socialista e o declínio dos estados que implantaram
sistemas jurídicos de raiz socialista, esta tradição jurídica perdeu força em relação às demais
tradições. Sobre este tema, ver Mauro Cappelletti, El proceso civil en el derecho comparado, Peru:
ARA Editores, 2006, p. 119-125.
11. Os professores Oscar G. Chase and Janet Walker organizaram um grande compilado com
artigos dos maiores especialistas representantes de diversos países que refletiam praticamente
todos os mais importantes sistemas jurídicos do mundo. Na obra, os organizadores tentam
detectar se a tradicional divisão entre sistemas common law e civil law ainda são válidas, haja vista
um notável intercâmbio entre institutos, conceitos e instrumentos tradicionais em cada um
deles. Ver Common law, civil law and the future of categories / general editors, Janet Walker,
Oscar G. Chase. Markham, Ont: LexisNexis, 2010.
Introdução 23
12. No sentido de ser uma mera medição de analogias, de diferenças entre sistemas normativos
no intuito de estabelecer proximidades e divergências entre normas e institutos. Ver Michelle
Taruffo, El proceso civil de “civil law”: Aspectos fundamentales, vol.12, Ius et Praxis no.1 Talca
2006, p. 2.
13. Por função, entenda-se o posicionamento e a dinâmica das relações desenvolvidas entre juízes,
partes, advogados e a liberdade que a lei (ordenamento) lhes confere para a condução e prática
de atos processuais em determinadas fases processuais.
24 DISCOVERY E OUTROS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DO COMMON LAW
O DESENVOLVIMENTO DO
COMMON LAW
2. Os autores citam alguns casos famosos julgados pela Suprema Corte dos EUA que fizeram
referência a julgamentos estrangeiros e foram considerados controversos ou polêmicos, tais
como Atkins v Virginia [2002] 536 US 304; Lawrence v Texas [2003] 539 US 558; Roper v Simmons
[2005] 543 US 551.
3. A expressão original é legal opportunism e foi utilizada pelo famoso juiz e respeitado jurista
Richard Posner. Ver Richard A Posner, How Judges Think (Harvard University Press 2010) ,
p. 350.
4. O juiz Antonin Scalia, da Suprema Corte, era um crítico feroz da utilização de referências
estrangeiras. Existe transcrição de um interessante diálogo entre o juiz Scalia e o juiz Breyer
ocorrido durante um julgamento, em que Scalia tenta explicar porque a utilização de referências
europeias pode ser uma oportunidade para manipulação. Este diálogo pode ser encontrado em
Transcript of Discussion between U.S. Supreme Court Justices Antonin Scalia and Stephen Breyer – AU
Washington College of Law’ (American University, 13 January 2005). Disponível em www.
freerepublic.com/focus/news/1352357/posts. Acesso em 25 maio 2019.
5. A Law common to all of England. Significa dizer, como se verá no desenvolvimento deste capítulo,
que o direito da comunidade, o direito local, dava lugar a um sistema de justiça comum para
todo o território da Inglaterra.
O desenvolvimento do common law 31
10. Mais correto seria chamar de tradição ou família romano-germânica, pois surge a partir do
direito romano, porém, se desenvolve durante o império romano-germânico que dominou
parte da Europa desde a idade média até a idade moderna.
11. Em 1066 ocorreu a ocupação dos Normandos no Reino da Inglaterra, liderado por Wilhelm
II, da Normandia.
12. Hundred é uma antiga medida territorial inglesa, utilizada para especificar um território local,
maior que um povoado e menor que um condado/província. Portanto, a court of the hundred
funcionava como uma corte local
O desenvolvimento do common law 33
comuns. A corte do condado (County Court)13, por sua vez, reunia-se duas
vezes por ano para decidir questões consideradas de maior importância
(POLLOCK, 1907, p. 89).
As reuniões eram atendidas pelos chamados suitors14 e realizadas
ao ar livre, sem a presença de advogados, já que essa figura sequer era
reconhecida profissionalmente15. A única forma de instrução era conduzida
pelos bispos, abades e eclesiásticos presentes, já que antes da conquista
Normanda na Inglaterra não havia separação entre cortes ordinárias e
eclesiásticas (POLLOCK, 1907, p. 89-90)
Os julgadores não eram pessoas investidas de poderes especiais para
dizer o direito. Quem decidia as questões de fato, na verdade, era uma
assembléia que declarava o direito de acordo com regras de costume não
escritas.
Os métodos aplicados pelas cortes da Inglaterra na idade média
pouco se assemelhavam ao formalismo clássico dos gregos e romanos,
pelo contrário, funcionava como escritórios de negócios, sem grande apelo
à oratória ou à arte da argumentação. Foi apenas após o renascimento que
surgiu a ‘má e velha’ tradição clássica da Grécia e Roma que tornou os
processos judiciais um concurso de oratória na Inglaterra (PLUCKNETT,
1956, p. 152).
As deliberações não contavam com a presença de escrivães ou
oficiais, nem eram registrados os julgamentos conduzidos pelos suitors logo
após os encontros. Os resultados ficavam registrados apenas na memória
dos julgadores e dos demais presentes (POLLOCK, 1907, p. 90).
Embora pareça um método absurdamente precário mesmo para
os padrões da idade média16, é preciso considerar o fato de que os
casos apreciados pela assembleia não tinham grande complexidade, as
regras aplicadas eram igualmente simples, em sua maioria costumes já
consolidados na comunidade.
13. Equivalente a um tribunal estadual/provincial, Sem função revisional das decisões de outras
cortes inferiores, mas com jurisdição para casos específicos, diversos dos levados às cortes
menores.
14. Diferente da figura do juiz da atualidade, suitors eram apenas homens livres discutindo os litígios
que lhes eram trazidos de forma minimamente ordenada, sem uma organização padronizada
ou mesmo um membro escolhido para presidir ou fiscalizar os atos praticados pela assembléia.
15. Mais tarde, no início do século XIII ja se consolidava a atividade profissional nas funções
de advocatus/prolocutor e attornatus/procurator. Na segunda metade do século surgem os serjeants
at law, que atuavam de forma organizada e remunerada perante as cortes. No século XIV ja
funcionavam como uma espécie de fraternidade com cerimônia de admissão realizada por
juízes e que equivalia a uma graduação. Ver J.H. Baker An introdution to English Legal History,
1997, p. 178-180.
16. Ao contrário da percepção vulgar, sempre existiram leis e direitos durante o período da
idade média. Havia, no entanto, grande dificuldade em declarar este direito, e sua aplicação
costumava ser precária ou inexistente.
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