Você está na página 1de 59

CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA

FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA

ISABELLA DE OLIVEIRA GONÇALVES

A CONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA DA CONFISSÃO NO ACORDO DE


NÃO PERSECUÇÃO PENAL

CURITIBA
2021
ISABELLA DE OLIVEIRA GONÇALVES

A CONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA DA CONFISSÃO NO ACORDO DE


NÃO PERSECUÇÃO PENAL

Monografia apresentada como requisito parcial à


obtenção do grau de Bacharel em Direito, do
Centro Universitário Curitiba.

Orientador: Alexandre Knopfholz

CURITIBA
2021
ISABELLA DE OLIVEIRA GONÇALVES

A CONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA DA CONFISSÃO NO ACORDO DE


NÃO PERSECUÇÃO PENAL

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em


Direito do Centro Universitário Curitiba, pela Banca Examinadora formada pelos
professores:

Orientador: Alexandre Knopfholz

________________________________

Prof. Membro da Banca

Curitiba, de de 2021
A justiça existe, é preciso que exista, quero que
exista. Vocês, juízes, têm de me ouvir. Deixemos os
astros em seu céu, ajudemo-nos entre nós, aqui na
terra, a mitigar de perto, com um pouco de justiça
humana, a injustiça distante e impassível das
estrelas.

(Piero Calamandrei)
RESUMO

Em um período que busca métodos de resolução de conflitos alternativos ao


processo judicial, a Lei nº 13.964/19 expandiu os espaços de consenso no
ordenamento jurídico brasileiro com a criação do instituto do Acordo de Não
Persecução Penal. No entanto, a exigência da confissão como requisito deste
dispositivo é controversa. O presente trabalho objetiva analisar o dispositivo e a
exigência para a celebração do acordo. Para tal fim, foi realizada uma análise do
contexto histórico do dispositivo, novo instituto da justiça criminal negocial. Ainda, foi
feita a caracterização do instituto em sua totalidade, para então averiguar a
exigência da confissão. Com a conclusão do trabalho, constatou-se que exigir do
investigado a confissão sem o devido processo legal é inconstitucional, e o instituto,
que possui como base essa imposição, está marcado por vícios. Para efetivamente
lidar com a deslegitimação do processo penal, será necessário observar a fonte de
insatisfação da sociedade ao invés de oferecer um instrumento equivocado.
Palavras chave: Acordo de Não Persecução Penal. Justiça Criminal Negocial.
Confissão.
ABSTRACT

In a time where alternative methods to the judicial process are sought after, the
creation of the Non-Criminal Prosecution Agreement with Law 13.964/19 expanded
the consensual space in the Brazilian legal system. However, the requirement of the
guilty plea is controversial. The goal of this work is to analyze the guilty plea and its
requirement to the signing of the deal. To this end, an analysis of the historical
context of the provision, newest doctrine of criminal bargaining, was made. The
characterization of the provision in its entirety was also studied so that the
requirement of the confession could be verified. With the work’s conclusion, it was
reasoned that to impose upon the defendant a guilty plea without due process is
unconstitutional, and the agreement, which has the guilty plea as its basis, is
defective. To effectively deal with the delegitimisation of the criminal procedure it will
be necessary to observe the society’s dissatisfaction source, instead of offering a
fallacious instrument.
Keywords: Non-Criminal Prosecution Agreement. Criminal Bargaining. Guilty Plea.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8
2 A MUDANÇA DE PARADIGMA NA APLICAÇÃO DO PROCESSO PENAL ...... 10
2.1 PREMISSAS DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ........................................ 10
2.2 A CRISE DO PROCESSO PENAL TRADICIONAL ............................................ 11
2.3 PRÁTICAS RESTAURATIVAS ........................................................................... 13
2.3.1 A justiça restaurativa ....................................................................................... 13
2.3.2 A resolução alternativa de conflitos penais no Brasil....................................... 15
2.4 A JUSTIÇA CRIMINAL NEGOCIAL.................................................................... 16
2.4.1 Institutos advindos da Lei nº 9.099/95 ............................................................. 16
2.4.2 A colaboração premiada.................................................................................. 21
3 O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL .................................................... 23
3.1 LEGISLAÇÕES RELEVANTES FORMULADAS SOBRE O ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL............................................................................................ 23
3.1.1 A Resolução nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público .......... 23
3.1.2 A Lei nº 13.964/19 ........................................................................................... 23
3.2 A APLICAÇÃO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL ....................... 25
3.2.1 A retroatividade do instituto ............................................................................. 25
3.2.2 Requisitos e hipóteses de vedação legal ........................................................ 26
3.2.3 Condições a serem negociadas ...................................................................... 30
3.2.4 Procedimento a ser seguido ............................................................................ 31
3.2.5 Cumprimento e violação do acordo ................................................................. 31
3.2.6 Aplicação em ações penais de iniciativa privada ............................................ 32
3.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL
E OUTROS INSTITUTOS ........................................................................................ 33
3.3.1 O Acordo de Não Persecução Penal e o Plea bargain .................................... 33
3.3.2 O Acordo de Não Persecução Penal, a transação penal e a suspensão
condicional do processo ........................................................................................... 35
4 A EXIGÊNCIA DA CONFISSÃO ........................................................................... 37
4.1 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS E CONSTITUCIONAIS ........................ 37
4.1.1 O devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa ............................. 37
4.1.2 A presunção de inocência ............................................................................... 40
4.1.3 O princípio da proporcionalidade ..................................................................... 41
4.2 O PAPEL DA CONFISSÃO NO PROCESSO PENAL ........................................ 41
4.3 A CONFISSÃO NO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL ...................... 44
4.3.1 A voluntariedade da confissão ........................................................................ 44
4.3.2 A proporcionalidade da confissão.................................................................... 45
4.3.3 A culpabilidade do indivíduo diante da confissão ............................................ 45
4.3.4 Possíveis reflexos em caso de revogação do acordo...................................... 46
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 51
8

1 INTRODUÇÃO

Não há dúvidas de que o direito penal e o direito processual penal estão


passando por um processo de deslegitimação. Inúmeras esferas do direito penal
estão em crise: a falta de amparo no sistema carcerário é evidente, mas a questão
também é aparente na esfera processual, com a falta de credibilidade e a demora
excessiva do processo, o que gerou uma “superlotação” de processos penais,
conforme explicou Pacelli1. A questão não é atual – este momento histórico apenas
expôs como inquestionável a crescente insatisfação da sociedade com as
instituições estatais.
Nessa conjuntura, a justiça criminal negocial surge como solução alternativa
para o processo ao propor uma aceleração procedimental. Essa solução tem
inspiração nas práticas restaurativas, que possuem como tese precípua tornar as
partes as protagonistas do acordo, deixando de lado a visão impessoal e abstrata do
Estado2.
A expansão dos espaços de consenso não é algo recente no ordenamento
jurídico brasileiro, já estando presente com a Lei nº 9.099/95, a qual dispõe sobre os
Juizados Especiais, além de dispositivos da justiça criminal negocial, como a
transação penal e a suspensão condicional do processo. Parte do conjunto da
justiça criminal negocial, é diante desta transformação na área processual que o
Acordo de Não Persecução Penal foi inserido de fato no ordenamento jurídico pelo
art. 28-A da Lei nº 13.964/19. O instituto é uma medida despenalizadora, com o seu
cumprimento acarretando a extinção da punibilidade.
O Acordo de Não Persecução Penal é proposto pelo Ministério Público e
requer a confissão do investigado (caput do art. 28-A do Código de Processo Penal).
O presente trabalho, observando essa exigência para a realização do acordo,
estudará essas mudanças procedimentais, bem como as peculiaridades do acordo,
de modo a averiguar se é justificável essa imposição.
Apenas pela análise do Acordo de Não Persecução Penal em relação ao
contexto em que o acordo está inserido é que será possível fazer a cognição deste:

1
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2021, p. 123.
2
Howard Zehr, um dos pioneiros da justiça restaurativa, se propôs a ver fora da visão retributiva ao
questionar o conceito de justiça: “Se o crime é um dano, uma lesão, o que é a justiça?”. Nesta visão
restaurativa, para o crime, a resposta seria um ato de restauração para reparar a lesão e a vítima, ao
contrário da visão retributiva, que define o crime de maneira abstrata. (ZEHR, Howard. Trocando as
lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo: Palas Athena, 2020, p. 175-
176.)
9

o trabalho será realizado por meio do método dedutivo, partindo do estudo do


paradigma processual vigente até chegar ao ponto questionado. Para tal propósito,
serão utilizados os métodos de pesquisa bibliográfica (análise feita a fim de alcançar
suficiente conhecimento sobre o “estado da arte” dos assuntos abordados no
trabalho), pesquisa documental (análise feita com o objetivo de esclarecer e pontuar
a posição dos poderes do Estado na aplicação do instituto) e pesquisa comparativa
(análise feita por meio do estudo dos institutos do direito processual penal que
integram a chamada “justiça negociada” através de suas semelhanças e diferenças,
bem como também servirá para observar o modo como é utilizado o dispositivo do
plea bargain, inspiração norte-americana).
O primeiro capítulo será destinado à pesquisa sobre a justiça criminal
negocial e as práticas restaurativas, contexto relevante para a criação do acordo
estudado. Aqui, será estudada a finalidade instrumental do processo penal, bem
como a atual crise do processo penal tradicional e as alternativas decorrentes desta
mudança de paradigma.
O segundo capítulo será referente ao acordo em si, caracterizando-o em sua
totalidade – será estudada a sua origem e os dispositivos deste. Neste capítulo
serão analisados os requerimentos, as condições, os benefícios e contraprestações
que o acordo pode incutir. Apesar de o tema ser recente e ainda existir muito a ser
discutido, já é possível observar as posições doutrinárias e jurisprudenciais
nascentes sobre o Acordo de Não Persecução Penal.
O terceiro e último capítulo será destinado singularmente ao estudo da
confissão. Dentro deste capítulo serão analisados os princípios constitucionais
relevantes ao processo penal e a este meio de prova, o espaço da confissão no
ordenamento jurídico brasileiro, a aplicação da confissão no Acordo de Não
Persecução Penal e as posições doutrinárias sobre o seu papel em caso de uma
possível revogação do acordo.
10

2 A MUDANÇA DE PARADIGMA NA APLICAÇÃO DO PROCESSO PENAL

Preliminarmente, faz-se necessário delinear a conjuntura que resultou na


inserção do Acordo de Não Persecução Penal no ordenamento jurídico. O processo
penal brasileiro passou por inúmeras mudanças desde sua concepção, de tal modo
que a justiça penal negocial entrou em relevância.
Busca-se com esse capítulo fazer um breve esboço da evolução histórica de
onde decorreu tal transformação, bem como realizar uma análise didática da justiça
restaurativa, inspiração da justiça negocial e alternativa ao direito penal tradicional
que surgiu em decorrência da insatisfação de sua aplicação. Ademais, serão
enumerados os dispositivos já existentes da justiça penal negocial no ordenamento
jurídico brasileiro, expondo o panorama dessa justiça consensual no Brasil.

2.1 PREMISSAS DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

O Código de Processo Penal de 1941, vigente, foi criado observando a


legislação processual penal italiana de 1930, a qual era notadamente autoritária.
Partindo do sistema inquisitório, o processo penal brasileiro tinha como princípio
fundamental a presunção da culpabilidade, tornando legítimas práticas abusivas em
prol de uma verdade “real”3.
Ao longo dos anos, no entanto, o Código foi editado com o viés do sistema
acusatório, decorrente da Constituição Federal de 1988. O processo penal passou
então a ter como um de seus princípios a presunção de inocência, uma vez que
interpretado através da Constituição Federal de 1988. Ferrajoli, sobre o tema,
elaborou:

As garantias constitucionais são as garantias da rigidez dos princípios e dos


direitos constitucionalmente estabelecidos que incidem sobre os poderes
supremos do Estado. A rigidez consiste na colocação da Constituição no
vértice da hierarquia das fontes e, portanto, no grau superior de suas
normas com relação a todas as outras normas do ordenamento.4

E conforme ensinou Nucci:

Acrescente-se, ainda, a indispensável mudança de mentalidade de parte


dos operadores do Direito, que somente vêem, no direito penal e no
processo penal, meios puramente coercitivos de fazer valer a força estatal,
quando, em verdade, representam fronteiras para o referido poder, que não

3
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 21.
4
FERRAJOLI, Luigi. Poderes selvagens: a crise da democracia italiana. Tradução de Alexander
Araujo de Souza. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 27.
11

é ilimitado, mas jungido aos mandamentos constitucionais básicos da


dignidade da pessoa humana. O processo penal democrático é um conjunto
de instrumentos, que se desenvolve em direções variadas, tendo por fundo
o cenário de respeito aos direitos e garantias humanas fundamentais.5

É nítida a preocupação contemporânea de garantir os direitos fundamentais,


em contraponto à pretensão inicial do Código de Processo Penal em reprimir o crime
e impor o poder estatal. Aury Lopes Júnior pontuou de maneira objetiva que “o
processo penal contemporâneo somente se legitima à medida que se democratizar e
for devidamente constituído a partir da Constituição”6. Assim, além da justificativa
exposta pelo jurista do “princípio da necessidade”, que vê o processo penal como o
meio para se ter a pena, tem-se como função do processo penal a garantia dos
direitos fundamentais7.

2.2 A CRISE DO PROCESSO PENAL TRADICIONAL

O sistema penal brasileiro está passando por um processo de deslegitimação,


sendo antiquado para a realidade concreta – fato evidenciado pela dificuldade de
aplicação do mesmo em todos os níveis do processo, sendo um discurso apenas
simbólico. Zaffaroni, sobre o tema, articulou que “hoje, temos consciência de que a
realidade operacional de nossos sistemas penais jamais poderá adequar-se à
planificação do discurso jurídico-penal”8.
Em um sistema penal em que é desconhecido o número verdadeiro de crimes
cometidos – a chamada cifra oculta da criminalidade – e os que são colocados
diante do judiciário não chegam a ser processados e condenados, tem-se uma
crescente descrença da população pelo poder judiciário9. Nesse cenário, essa cifra
passa a representar mais uma das razões das quais o sistema penal é “estranho à
vida das pessoas”10, como alegou Hulsman.

5
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021, p. 21.
6
LOPES JUNIOR, Aury. Fundamentos do Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2021, p. 12.
7
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
12.
8
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema
penal. Tradução de Vânia Romano Pedrosa, Amir Lopez da Conceição. 5. ed. Rio de Janeiro: Revan,
2001, p. 15.
9
ADORNO, Sérgio. Crise no sistema de justiça criminal. Ciência e cultura, v. 54, n. 1, p. 50-51,
2002.
10
HULSMAN, Louk; CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas perdidas: o sistema penal em questão.
Tradução de Maria Lúcia Karan. Niterói: Luam, 1993, p. 66.
12

O Direito Penal, com o princípio da intervenção mínima, limita o poder punitivo


estatal ao conferir a este ramo do Direito um viés subsidiário, tutelando apenas a
proteção de bens jurídicos considerados mais importantes. Como explicou
Bitencourt, o Direito Penal “deve atuar somente quando os demais ramos do Direito
revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do
indivíduo e da própria sociedade”11. Todavia, apesar de ser a ultima ratio legis, o
Direito Penal acabou sendo aplicado em demasia, gerando um acúmulo de
processos nas varas e tribunais12. Como consequência, há uma justiça criminal lenta
que estabelece uma convicção de impunidade no imaginário coletivo13.
É necessário, ainda, também comentar sobre a crise do sistema carcerário,
visto que o Brasil é o país em terceiro lugar de população carcerária no mundo, atrás
apenas dos Estudos Unidos da América e da China14. Ainda, teve em 2017 um
déficit de 303.112 vagas para um total de 726.354 pessoas privadas de liberdade15.
O sistema se encontra superlotado e suscetível ao domínio do crime
organizado, em um cenário que retrata a prisão privativa de liberdade, nas palavras
de Bitencourt16, como um “castigo desumano”. Além disso, é comprovada a
incapacidade do Estado de ressocializar o condenado, um de seus objetivos
precípuos, uma vez que um em cada quatro condenados reincide no crime, como

11
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal volume 1 - parte geral. 26. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 61.
12
“A Justiça Estadual é o segmento com maior representatividade de litígios no Poder Judiciário, com
68,4% da demanda. Na área criminal essa representatividade aumenta para 91,4%. [...] Os
resultados dos tempos médios dos processos baixados no ano de 2019, por tribunal, indicam
cenários distintos no 2º grau e nos tribunais superiores. A Justiça Eleitoral é a única em que o
processo criminal demora mais que o não criminal. Nos Tribunais Regionais Federais, o processo
baixado não criminal durou, em média, o dobro do tempo do criminal em 2019. Na Justiça Estadual,
os casos criminais duraram uma média de 4 meses a menos que os não criminais. Na fase de
conhecimento de 1º grau ocorre o inverso do observado no 2º grau: o tempo do processo criminal é
maior que o do não criminal. Os processos criminais duraram, em média, 1 ano e 3 meses a mais do
que os não criminais, sendo essa realidade verificada em todos os segmentos de justiça. [...] A taxa
de congestionamento criminal (70%) supera a não criminal (56,5%), para essa fase/instância.”
(BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2020. Brasília: CNJ, 2020, p.
192-194. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/>. Acesso
em: 08 abr. 2021).
13
LOPES JÚNIOR, Aury. A tridimensionalidade da crise do processo penal brasileiro: crise
existencial, identitária da jurisdição e de (in) eficácia do regime de liberdade individual. Revista
Brasileira de Ciências Criminais, v. 143, p. 117-153, 2018.
14
WALMSLEY, Roy et al. World prison population list. London: Home Office, 2018, p. 02.
15
BRASIL. INFOPEN. Levantamento nacional de informações penitenciárias. Atualização –
junho de 2017. Marcos Vinícius Moura (Org.). Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública,
Departamento Penitenciário Nacional, 2019, p. 07. Disponível em:
<http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorios-sinteticos/infopen-jun-2017-rev-
12072019-0721.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2021.
16
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2011, p. 230.
13

apontou pesquisa a pedido do Conselho Nacional de Justiça 17. O sistema penal,


então, passou a ser um sistema que viola os direitos fundamentais ao invés de
garanti-los.

2.3 PRÁTICAS RESTAURATIVAS

A justiça retributiva tem o delito como ofensa à comunidade, o qual enseja


uma punição pelo Estado – este detentor do ius puniendi –, garantindo os direitos
protegidos pelo Estado por meio de seu exercício. Este modelo, conforme explica
Juarez Cirino dos Santos18, tem como seu discurso oficial a retribuição de
culpabilidade ao contemplar a pena como uma compensação, não sendo, portanto,
um conceito democrático: o poder emana do povo, bem como o objetivo do Direito
Penal é a proteção dos bens jurídicos. Foi em resposta a essa perspectiva que
surgiram alternativas ao modelo de justiça tradicional, o qual é empregado pelo
poder público atualmente.

2.3.1 A justiça restaurativa

Dentre as alternativas ao processo penal tradicional, a justiça restaurativa se


destacou ao colocar a vítima como protagonista no crime. Nas palavras de Zehr:

Em seu cerne o crime é, portanto, uma violação cometida contra outra


pessoa por um indivíduo que, por sua vez, também pode ter sido vítima de
violações. Trata-se de uma violação do justo relacionamento que deveria
existir entre indivíduos. O crime tem ainda uma dimensão social maior. De
fato, os efeitos do crime reverberam, como ondas, afetando muitos outros
indivíduos. A sociedade é uma parte interessada no resultado, e portanto
tem um papel a desempenhar. Não obstante, essa dimensão social não
deveria ser o ponto inicial do processo. O crime não é primeiramente uma
ofensa contra a sociedade, muito menos contra o Estado. Ele é em primeiro
lugar uma ofensa contra as pessoas, e é delas que se deve partir.19

Existe uma indagação quanto ao “roubo” do conflito pelo Estado da dimensão


individual, e vice-versa, suscitado pela emergência da visão apresentada pela justiça

17
“Entre os 817 processos válidos para o cálculo da taxa de reincidência, foram constatadas 199
reincidências criminais. De tal modo, a taxa de reincidência, calculada pela média ponderada, é de
24,4%.” (BRASIL. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Reincidência criminal no
Brasil: relatório de pesquisa. Rio de Janeiro: IPEA, 2015, p. 22-23. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&amp;id=25590/>. Acesso em: 08 abr.
2021).
18
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 6. ed. Curitiba: ICPC Cursos e Edições,
2014, p. 425-427.
19
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2020, p. 187.
14

restaurativa. Conforme expôs Santos20, não se há um roubo – o conflito continua


sendo da competência do Estado, de modo a efetivar o garantismo penal –, apenas
a perpetuação de uma visão limitada por parte do Estado, caso este continue a
ignorar a dimensão interpessoal do crime, bem como a culpa deste ao não oferecer
à vítima mecanismos de reparação.
A justiça retributiva busca um equilíbrio – a violação cometida pelo ofensor
gera uma necessidade de resposta: “a um mal injusto, aplica-se um mal justo” 21,
como comentou Granjeiro. No entanto, em muitos desses delitos, o retorno ao status
quo é impossível. A justiça aplicada pelo judiciário, equivocada ao não observar a
complexidade das relações, seria sucedida por uma justiça que se tem o objetivo de
restaurar, isto é, reparar a lesão. Afastou-se do abstracionismo do Estado; o dano
agora é real, observando-se o contexto social e as relações interpessoais, inclusive
entre o ofensor e a vítima.
É uma justiça pautada no consenso e em uma discussão que empodera as
partes, na qual a vítima, o ofensor e a comunidade atuam como partes com direitos
e obrigações iguais, ao invés do Estado impor uma pena. Como educou Zehr, “não é
suficiente que haja justiça, é preciso vivenciar a justiça”22: há uma troca de
informação no diálogo, bem como os sentimentos dos envolvidos seriam expostos.
Nesse diálogo, conforme explicou Zehr23, é necessário reconhecer a injustiça, a
responsabilidade pelo ofensor sobre ela e o contexto dos atos, bem como ter uma
solução aceita pelas partes para uma tentativa de restaurar o status quo, e por fim,
saber quais seriam planos para o futuro, como seria feito o monitoramento do acordo
e se ambas as partes estão satisfeitas de modo a que o delito não ocorra
novamente.
É muito discutido como a punição se relacionaria com a justiça restaurativa,
como expuseram Daly e Proietti-Scifoni:

We can observe, for example, that in the last century and a half, criminal
justice has wavered between desires to treat some and punish others; and
there are multiple, often contrary, aims, purposes, and practices of criminal
justice. For some writers, it was clear early on that apparently contrary

20
SANTOS, Cláudia. Um crime, dois conflitos (e a questão revisitada, do "roubo do conflito" pelo
Estado). Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 71, p. 31-49, 2008.
21
GRANJEIRO, Ivonete Araújo Carvalho Lima. Justiça restaurativa: uma janela aberta para os caos
de violência conjugal mútua. Revista dos Tribunais, v. 940, p. 155-181, 2014.
22
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2020, p. 207.
23
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2020, p. 209.
15

principles of retribution and reparation (or restoration) were not antithetical,


but complementary or dependent upon one another (see, e.g., Duff 1992,
1996, 2001; Hampton 1992, 1998; Zedner 1994; Bottoms 1998; Daly 2000).
More recently, Zehr (2002), Walgrave (2004), and van Ness and Strong
(2006) have conceded that the better comparison is between conventional
criminal justice and restorative justice, and that retribution does have a place
in restorative processes.24

Para alguns autores, embora a justiça restaurativa seja considerada uma


alternativa à justiça retributiva, ainda há, no entanto, um espaço para a restituição e
punição nessa justiça, embora de maneira mais limitada do que é atualmente
empregada. Segundo Zehr25, diante de um paradigma em que se vê qualquer
resposta tida por parte do Estado como punição, embora não sendo a tradicional, a
intenção de punir torna-se relevante, sendo necessária ser justa e legítima; a
punição precisaria ser também aplicada de maneira subsidiária à restaurativa.
Braithwaite26 afirmou que a punição deve ser aplicada apenas com o
empoderamento do cidadão – de modo que a decisão aplicada seria correta à
situação, uma vez que a decisão foi escolhida levando em conta outros métodos,
com os indivíduos envolvidos tendo pleno conhecimento da decisão.

2.3.2 A resolução alternativa de conflitos penais no Brasil

Gomes Pinto, sobre o questionamento da compatibilidade jurídica da justiça


restaurativa com o ordenamento jurídico pátrio, constatou que “o modelo restaurativo
é perfeitamente compatível com o ordenamento jurídico brasileiro, em que pese
ainda vigorar, em nosso direito processual penal, o princípio da indisponibilidade e
da obrigatoriedade da ação penal pública”27.

24
DALY, Kathleen; PROIETTI-SCIFONI, Gitana. Reparation and Restoration. In: TONRY, Michael
(Ed.). The Oxford handbook of crime and criminal justice. Oxford University Press, 2011, p. 09.
25
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2020, p. 213-214.
26
“Compared with restorative dialogue, even non-restorative dialogue, punishment is less respectful.
That is not to say we should never resort to it. But when we do it should be on consequentialist
grounds – because there is no alternative way of resisting injustice. We should then do so as
respectfully as we can, but without deluding ourselves that hitting or confining can be inherently
respectful. [...] Citizen empowerment, I wish to argue, should be a higher-order value of restorative
justice than, for example, non-punitiveness. Genuine empowerment means that the punitiveness of
punitive people is not ruled out of order. Restorative justice allows punitive outcomes so long as they
do not exceed upper constraints imposed by the law nor abuse fundamental human rights.”
(BRAITHWAITE, John. Principles of Restorative Justice. In: VON HIRSCH, Andrew et al. (Ed.).
Restorative Justice and Criminal Justice: Competing or Reconcilable Paradigms. Portland: Hart
Publishing, 2003, p. 02-05.)
27
PINTO, Renato Sócrates Gomes. Justiça restaurativa é possível no Brasil. In: ______; SLAKMON,
Catherine; DE VITO, Renato Sócrates Gomes (Org.). Justiça restaurativa. Brasília: Ministério da
Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2005, p. 29.
16

O uso de uma justiça consensual é mais comum em países de common law,


uma vez que esse sistema jurídico tem um foco maior na aplicação do Direito na
realidade concreta. Embora o Brasil seja um país com o sistema de civil law, as
mudanças trazidas pela Constituição Federal de 1988, bem como a proposição de
leis discutidas no tópico a seguir, expõem a aplicabilidade de tais práticas. Além
disso, existem programas e projetos empregados pelo Poder Judiciário com ênfase
nesse modelo de justiça – estes implantados de acordo com as Resoluções nº 225
de 31/05/2016 e nº 300 de 29/11/2019, do Conselho Nacional de Justiça.

2.4 A JUSTIÇA CRIMINAL NEGOCIAL

2.4.1 Institutos advindos da Lei nº 9.099/95

A busca por uma expansão nos espaços de consenso não é recente. A Lei nº
9.099/95 é considerada um dos primeiros passos do legislativo na área de justiça
criminal negocial ao instituir os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da
Justiça Estadual – estes com sua criação prevista no art. 98, inciso I, da Constituição
Federal de 1988. Quanto aos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal, foi
necessária uma lei federal: a Lei nº 10.259/2001. Grinover et al. descreveu que a Lei
nº 9.099/95 foi “uma verdadeira revolução no sistema processual-penal brasileiro.
[...] A lei não sei contentou em importar soluções de outros ordenamentos, mas –
conquanto por eles inspirado – cunhou um sistema próprio de Justiça penal
consensual”28.
Os Juizados Especiais Criminais, no art. 62 da Lei nº 9.099/95, colocam como
princípios de seu processo a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia
processual e a celeridade. Quando no âmbito federal e aplicável também no âmbito
estadual, essas diretrizes vieram do interesse de “equacionar o acesso à jurisdição
federal com a instrumentalidade e a efetivação do processo (acesso à ordem jurídica
justa), mediante a redução da litigiosidade contida, diminuindo-se de maneira reflexa
a carga de demandas”29, como expuseram Figueira Júnior e Tourinho Neto.

28
GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães, FERNANDES, Antonio Scarance;
GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.95. 5. ed.
São Paulo: RT, 2005, p. 41.
29
TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados especiais
federais cíveis e criminais: comentários à Lei n. 10.259, de 12-7-2001. 4. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018, p. 63-64.
17

Têm-se como objetivos do processo, de acordo com Mougenot 30, “a


reparação dos danos sofridos pela vítima” e a “aplicação de pena não privativa de
liberdade”, distinguindo-se do modelo tradicional ao se colocar disposto a resolver
questões de cunho cível, bem como a promoção da “despenalização” e da
“descarcerização” ao tentar solucionar o crime sem ensejar o cárcere.
São julgados e executados nesses Juizados os crimes de “menor potencial
ofensivo”, isto é, crimes com pena máxima de até dois anos e as contravenções
penais. Há também a competência para a conciliação, como estabelecido no art. 60
da Lei nº 9.099/95. Já para a competência federal, devem-se observar ainda as
hipóteses do art. 109 da Constituição Federal.
A Lei nº 9.099/95, com seu art. 89, também criou o instituto da suspensão
condicional do processo:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).31

O art. 89, embora esteja na Lei nº 9.099/95, não é pertinente somente aos
Juizados Especiais Criminais, podendo ser aplicado a outros ritos – com a exceção
da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), visto que os crimes abrangidos pela lei
não são considerados crimes de pequeno potencial ofensivo, sendo mais rigorosa a
legislação para tais hipóteses.
A suspensão condicional do processo não se confunde com a suspensão
condicional da pena, haja vista que na segunda há sentença condenatória. O
instituto é oferecido de maneira obrigatória pelo Ministério Público – observando a
Súmula 696 do Supremo Tribunal Federal 32 em situações do não oferecimento – em
um momento posterior à denúncia, de modo a evitar a sentença condenatória. Nele,

30
MOUGENOT, Edilson. Curso de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p.
804.
31
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
32
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula 696. Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a
propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o
art. 28 do Código de Processo Penal. DJ de 09/10/2003, DJ de 10.10.2003, DJ de 13.10.2003.
Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula696/false>. Acesso em: 24
mai. 2021.
18

o processo fica suspenso por um período sujeitando a pessoa a cumprir


determinadas obrigações estabelecidas pelo Juiz:

§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz,


este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o
acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a
suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a
ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a
reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado,
no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra
condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a
punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. 33

Esse dispositivo é pautado pelo consenso, sendo um ato bilateral, como


descreveu Lopes Júnior: “não se pode esquecer que a medida insere-se na lógica
do consenso, não apenas no sentido de que o réu não é obrigado a aceitar a
proposta, mas também na perspectiva de que poderá negociar a duração e demais
condições”34. Com a negativa do réu, o processo segue o caminho do rito, conforme
o parágrafo sétimo do artigo supracitado: “se o acusado não aceitar a proposta
prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos” 35.
A transação penal foi elaborada no art. 76 da Lei nº 9.099/95:

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal


pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério
Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta.36

33
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
34
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
338.
35
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
36
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
19

O instituto é caracterizado por ser ato bilateral, personalíssimo do réu e


também por requerer a presença de juiz. Ele é aplicado, a princípio, nas ações
penais de iniciativa pública, embora seja aceita em ação penal de iniciativa privada
pela jurisprudência, devendo ser proposta pelo querelante, e na falta deste, pelo
Ministério Público, conforme explicou Lopes Júnior37.
A proposta acontece antes de o juiz receber a queixa, havendo ônus – as
condições que a pessoa deverá cumprir – e um bônus – o fato de que o acordo não
equivale a uma condenação. Ela é oferecida em casos de não arquivamento, sendo
uma proposição de pena restritiva de direitos ou multas pelo Ministério Publico e
fazendo parte do processo penal conciliatório:

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá


reduzi-la até a metade.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena
privativa de liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos,
pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e
suficiente a adoção da medida.
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será
submetida à apreciação do Juiz.
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da
infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não
importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir
novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.38

Há divergência quanto ao princípio da discricionariedade regrada, uma vez


que o Ministério Público deverá oferecer a transação penal em contraponto ao do
princípio da obrigatoriedade da ação penal de iniciativa pública, questionamento
esse também feito na suspensão condicional do processo. Parte da doutrina que
entende o instituto como um direito subjetivo do réu. Sobre essa posição, Pacelli
afirmou que “a discricionariedade que se reserva ao Ministério Público é unicamente
quanto à pena a ser proposta na transação”39. Assim, não é de competência do
Ministério Público verificar se é proposta ou não a transação penal; segundo Lopes
Júnior, o que ocorre “é uma pequena relativização do dogma da obrigatoriedade, de

37
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
337.
38
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
39
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 612.
20

modo que, preenchidos os requisitos legais, deverá o Ministério Público ofertar a


transação penal”40.
Por outro lado, partindo da visão de Mello, o qual declarou que “procurar-se-á
demonstrar que quando a lei regula discricionariedade uma dada situaç ão, ela o faz
deste modo exatamente porque não aceita do administrador outra conduta que não
seja aquela capaz de satisfazer excelentemente a finalidade legal” 41, Demercian e
Maluly seguiram a posição:

Em outras palavras, o que pretendeu o legislador, ao estabelecer requisitos


para a transação e, também, para a suspensão do processo, não foi criar
mais um direito subjetivo para o acusado ou obrigar a membro do Parquet a
não agir. As regras limitantes existem, a nosso ver, para que o promotor não
extrapole o poder discricionário, concedendo a benesse nas hipóteses de
infrações que não possam ser consideradas de menor potencial ofensivo.42

Muito analisada pelos doutrinadores, a justiça negocial criminal tem seus


críticos. Ferrajoli43, ao analisar as origens de tal método – o qual é tido pela doutrina
como resultante do processo acusatório, uma vez que tem o intuito de trazer
celeridade ao processo entre as partes –, diz que tal visão é “totalmente ideológica e
mistificadora” e que “o contraditório, de fato, consiste no confronto público e
antagonista entre as partes em condições de paridade”. No mesmo viés, Lopes
Júnior alertou:

O pacto no processo penal é um perverso intercâmbio, que transforma a


acusação em um instrumento de pressão, capaz de gerar autoacusações
falsas, testemunhos caluniosos por conveniência, obstrucionismo ou
prevaricações sobre a defesa, desigualdade de tratamento e insegurança.
[...] Quando as pautas estão cheias e o sistema passa a valorar mais o juiz
pela sua produção quantitativa do que pela qualidade de suas decisões, o
processo assume sua face mais nefasta e cruel. É a lógica do tempo curto
atropelando as garantias fundamentais em nome de uma maior eficiência.
Em síntese, a justiça negociada não faz parte do modelo acusatório e
tampouco pode ser considerada como uma exigência do processo penal de
partes. Se não atentarmos para essas questões, ela pode se transformar
em uma perigosa medida alternativa ao processo, sepultando as diversas
garantias obtidas ao longo de séculos de injustiças.44

40
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
334.
41
MELLO, Celso Antonio Bandeira. O Poder Discricionário e o Controle Jurisdicional. São Paulo:
Malheiros Editores, 1992, p. 32.
42
DEMERCIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge Assaf. Teoria e prática dos juizados especiais
criminais. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 76.
43
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer et
al. São Paulo: RT, 2002, p. 600.
44
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
346.
21

Independentemente do posicionamento dos doutrinadores, é inegável que os


espaços de consenso foram expandidos no ordenamento jurídico brasileiro. Grinover
et al., sobre as consequências jurídicas da Lei nº 9.099/95, concluiu de maneira
esclarecedora:

Em síntese, estão lançadas as bases de um novo paradigma de Justiça


criminal: os operadores do direito (juízes, promotores, advogados,
autoridades policiais etc.) estão desempenhando um novo papel: o de
propulsores da conciliação no âmbito penal, sob a inspiração dos princípios
da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade (arts. 2º e
62).45

A vítima passou a ser uma parte importante no processo, além de ter sido
aberto um espaço para a conciliação e a verdade decorrente dela. A Lei nº 9.099/95,
em suma, introduziu um novo viés de justiça onde a conciliação tem um papel de
relevância. Assim, passou-se a ser procurada uma solução mais restaurativa ao
conflito.

2.4.2 A colaboração premiada

Um dos mais relevantes dispositivos de negociação empregados atualmente


é a colaboração premiada. Inspirado pelo mecanismo do plea bargain norte-
americano, o acordo de colaboração premiada foi acrescido ao ordenamento jurídico
inicialmente pelas Leis nº 8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos) e 7.492/86
(Crimes contra o Sistema Financeiro).
O instituto está também previsto na Lei nº 12.850/201346, em seu art. 3º e
seguintes, caracterizando o acordo como um meio de prova, bem como uma
possível causa extintiva de punibilidade – nos termos do art. 4º da Lei nº 12.850/13,
a qual confere ao juiz a possibilidade de conceder o perdão judicial, dentre outras
vantagens –, tendo, portanto, natureza híbrida: processual e material, conforme
explicou Hartmann47.

45
GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães, FERNANDES, Antonio Scarance;
GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.95. 5. ed.
São Paulo: RT, 2005, p. 50.
46
BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento
criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº
9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
47
HARTMANN, Stefan Espírito Santo. O papel do juiz nos acordos de colaboração premiada. In:
PACELLI, Eugênio; CORDEIRO, Nefi; REIS JÚNIOR, Sebastião dos (Org.). Direito penal e
processual penal contemporâneos. São Paulo: Atlas, 2019, p. 159.
22

O dispositivo constitui-se como a negociação feita na fase de investigação, na


qual o acusado confessaria o crime e auxiliaria os órgãos de investigação contra
outros réus ou crimes, de modo a receber um benefício em troca. Ele não é um
direito subjetivo do investigado, como dispõe o art. 3º-A, da Lei nº 12.850/13, este
inserido pela mesma Lei que rege o Acordo de Não Persecução Penal: “o acordo de
colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção de prova,
que pressupõe utilidade e interesse públicos”48.
Essa colaboração limita-se aos crimes cometidos em uma específica
associação criminosa. Nesse sentido, Canotilho e Brandão inferiram:

Além de balizada pelos limites postos pelo objecto estabelecido pela Lei
12.850/2013 – no sentido ora adiantado de que só poderá abranger a
organização criminosa integrada pelo colaborador e os crimes de tal
organização –, a colaboração premiada conhece ainda uma limitação
processual. Concretamente, e como transparece dos §§ 2º e 5º do art. 4º da
Lei 12.850/2013, só pode ter eficácia no específico âmbito de um dado
processo em que tenha sido pactuada. Funcionando
a colaboração premiada como um meio de obtenção de prova, terá ela
necessariamente de emergir num certo contexto processual pré-existente, a
fim de favorecer a recolha de provas úteis ao esclarecimento dos factos
objecto do processo. Um processo, aliás, em que, tratando-se de uma
colaboração pré-sentencial, o colaborador deve ser co-réu, já que só deste
modo é que terá sentido acenar-lhe com determinados benefícios como
contrapartida de uma sua colaboração. De mais a mais, só existindo um
processo, e no contexto de um processo, será viável o acto de
homologação judicial.49

Ademais, como expôs Nucci50, esse acordo é tido como mitigador do princípio
da obrigatoriedade da ação penal, característica da justiça negocial penal.
De acordo com Pacelli, o juiz nesse negócio penal “não é e não pode ser
considerado protagonista das ‘operações’ tendentes ao estabelecimento de acordos
de colaboração premiada”51.
Além do Ministério Público, o Delegado de Polícia tem legitimidade para
propor o acordo, uma vez que configura agente público; é necessária, no entanto, a
supervisão do Ministério Público, conforme explicaram Wedy e Klein52.

48
BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento
criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº
9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
49
CANOTILHO, J. J.; BRANDÃO, Nuno. Colaboração premiada: reflexões críticas sobre os acordos
fundantes da Operação Lava Jato. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 133, p. 133-171,
2017.
50
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 91.
51
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 672.
23

3 O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

3.1 LEGISLAÇÕES RELEVANTES FORMULADAS SOBRE O ACORDO DE NÃO


PERSECUÇÃO PENAL

3.1.1 A Resolução nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público

O Acordo de Não Persecução Penal foi inicialmente disciplinado pela


Resolução nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público antes de sua
implementação com a Lei nº 13.965/19. A redação do art. 18 da Resolução, que
dispõe sobre a negociação, foi modificada pela Resolução nº 183/2018, do mesmo
órgão.
Esse dispositivo antes da promulgação do “Projeto Anticrime” foi outrora
considerado inconstitucional, com ressalvas baseadas no princípio da legalidade,
uma vez que a Constituição determinou com o art. 22, inciso I, que é competência
específica da União de legislar sobre direito penal e direito processual penal – essa
Resolução estaria extrapolando a competência do Congresso Nacional, explicou
Vasconcellos53. Além disso, de acordo com Santoro e Filpo54, essa disposição
colocou o Ministério Público como protagonista ao conferir a vitima apenas uma das
cinco condições de acordo.

3.1.2 A Lei nº 13.964/19

Embora o respeito aos direitos e garantias humanas fundamentais constitua o


alicerce do sistema processual penal brasileiro, uma vez que este é um sistema
denominado garantista, a posição tomada ao longo dos anos com relação à política
criminal parte de um discurso punitivista. Essa perspectiva maniqueísta ao lidar com
a criminalidade incorre na insegurança social, onde o crime é um espetáculo dos
meios de comunicação e o medo permeia a população.
A promulgação da Lei nº 13.964/19, conhecida como “Pacote Anticrime”, se
deu em um histórico marcado por debates. Buscando uma maior eficiência na

52
WEDY, Miguel Tedesco; KLEIN, Maria Eduarda Vier. O futuro do direito penal negocial e o Estado
Democrático de Direito. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 156, p. 279-306, 2019.
53
DE VASCONCELLOS, Vinicius Gomes. Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal consentida pelo réu no processo penal. Revista
brasileira de ciências criminais, v. 166, p. 241-274, 2020.
54
SANTORO, Antonio Eduardo Ramires; FILPO, Klever Paulo Leal. Abrir espaço para as soluções
consensuais no processo penal brasileiro? Reflexões a partir do modelo empregado na Cidade
Autônoma de Buenos Aires. Revista brasileira de ciências criminais, v. 150, p. 121-144, 2018.
24

política criminal ao impor um tratamento mais severo para crimes violentos ao passo
que procurou uma solução mais rápida aos crimes não violentos, a Lei resultou da
tramitação conjunta dos Projetos de Lei nº 10.372 e 10.373, de 2018 – estes
apresentados por uma comissão de juristas coordenados pelo atual Ministro do
Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes –, bem como do Projeto de Lei nº
882/2019 – este articulado por Sérgio Moro, Ex-Ministro da Justiça e Segurança
Pública do Brasil. Ela entrou em vigor em 23 de janeiro de 2020, após o período de
vacatio legis de 30 dias.
A Lei, que em seu primeiro artigo dispõe que “aperfeiçoa a legislação penal e
processual penal”55, alterou as mais diversas legislações do ordenamento jurídico
brasileiro. Além do Código Penal e do Código de Processo Penal, alterou a Lei nº
7.210/1984 (Lei de Execução Penal), a Lei nº 8.072/1990 (Lei de Crimes
Hediondos), a Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa), a Lei nº
9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica), a Lei nº 9.613/1998 (Lei de Lavagem
de Dinheiro), Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), a Lei nº 11.343/2006
(Lei de Drogas), a Lei nº 11.671/2008 (Lei dos Presídios Federais), a Lei nº
12.037/2009 (Lei de Identificação Criminal), a Lei nº 12.694/2012 (Lei do Julgamento
Colegiado de Primeiro Grau), a Lei nº 12.850/2013 (Lei de Organizações
Criminosas), a Lei nº 13.608/2018 (Lei do “Disque-denúncia”), a Lei nº 8.038/1990
(Lei das Ações Penais Originárias), a Lei nº 13.756/2018 (Lei do Fundo Nacional do
Sistema Penitenciário) e o Código de Processo Penal Militar.
Dentre as mudanças promovidas pela Lei, no âmbito material houve o
aumento do limite máximo do tempo de cumprimento das penas privativas de
liberdade, passando de 30 anos para 40 (art. 75 do Código Penal). Além do Acordo
de Não Persecução Penal, negociação prevista no art. 28-A, outra das alterações
processuais mais relevantes é a advinda da inclusão do Juiz das Garantias. De
modo a garantir os direitos do acusado e firmar o sistema processual brasileiro como
um modelo acusatório dos países democráticos, faz-se uso do “duplo juiz”,
separando o juiz que fiscaliza a fase pré-processual do juiz que irá julgar o processo,
elucidou Pacelli56. Esta figura, nas palavras de Lopes Júnior, “atua como juiz e não

55
BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação penal e processual
penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm>.
Acesso em: 12 mai. 2021.
56
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 172.
25

como instrutor-inquisidor”57. A vigência deste instituto, no entanto, está atualmente


suspensa devido à concessão de medida liminar na Ação Direta de
Inconstitucionalidade de nº 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305.
Se as medidas introduzidas com a Lei nº 13.964/19 serão efetivas, só o tempo
esclarecerá. De acordo com Mendes e Martínez58, é possível observar, entretanto,
que a lei trouxe alguns avanços ao processo penal brasileiro, embora seja possível
observar um retrocesso em certas normas que não estão de acordo com a
Constituição.

3.2 A APLICAÇÃO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

3.2.1 A retroatividade do instituto

Com sua correta inserção no ordenamento jurídico brasileiro pelo art. 28-A da
Lei nº 13.964/19, o Acordo de Não Persecução Penal é um instituto que ampliou o
espaço de negociação penal, sendo uma medida despenalizadora. O mecanismo
possui natureza mista, ou seja, processual e material, uma vez que criou um instituto
que impede o oferecimento da denúncia e que se cumprido, resulta na extinção da
punibilidade59.
Quanto à retroatividade do instituto, está sendo observada a tese do Supremo
Tribunal Federal pela Primeira Turma, a qual teve como relator o Ministro Roberto
Barroso:

Argumenta-se, com base na retroatividade penal benéfica, que o acordo


deve ser viabilizado mesmo depois de recebida a denúncia, proferida
sentença, em fase recursal e até mesmo depois do trânsito em julgado.
Entretanto, penso que o procedimento em torno do ANPP o situa em uma
fase específica da persecução penal e, diante da sua natureza também
processual, deve ser prestigiada a marcha progressiva do processo.
A leitura do art. 28-A do CPP evidencia que a composição se esgota na fase
anterior ao recebimento da denúncia. Não apenas porque o dispositivo
refere investigado (e não réu) ou porque aciona o juiz das garantias (que
não atua na instrução processual), mas sobretudo porque a consequência
do descumprimento ou da não homologação é especificamente inaugurar a
fase de oferta e de recebimento da denúncia (art. 28-A, §§ 8º e 10).
Dessa forma, o ANPP não se conforma com a instauração da ação penal,
devendo ser estabelecido o ato de recebimento da denúncia como marco
limitador da sua viabilidade. Com efeito, a finalidade do acordo é evitar que

57
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
51.
58
MENDES, Soraia da Rosa; MARTÍNEZ, Ana Maria. Pacote anticrime: comentários críticos à Lei
13.964/2019. São Paulo: Atlas, 2020, p. 11.
59
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 67.
26

se inicie processo, razão pela qual, por consequência lógica, não se justifica
discutir a composição depois de recebida a denúncia.60

Também afirmou Pacelli:

É isto: depois da entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019, não cabe cogitar a


aplicação do ANPP aos casos com denúncia já recebida, pois não mais
condiz com a natureza do instituto mais benéfico e, portanto, com a sua
finalidade (não haver “processo”)61.

Como fora argumentado, o ANPP é uma ferramenta utilizada antes do


recebimento da denúncia, a fim de evitá-la. O dispositivo, portanto, deve ser aplicado
retroativamente de modo a beneficiar o investigado, com a ressalva de que a
denúncia não tenha sido recebida.

3.2.2 Requisitos e hipóteses de vedação legal

O acordo é celebrado entre o investigado e o Ministério Público, constituindo


um negócio jurídico pré-processual. Ele é aplicável antes de ser oferecida denúncia
pelo Ministério Público, sendo proposto pelo mesmo e podendo ser aceito ou não
pelo investigado.
De acordo com o caput do art. 28-A do Código de Processo Penal, in verbis:

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado


confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem
violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o
Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde
que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime,
mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:62

O instituto tem como primeiro requisito não ser caso de arquivamento. O


acordo exige a existência de justa causa para a proposição de ação penal, em
virtude de o dispositivo configurar uma alternativa ao processo judicial.
O segundo requisito para a proposição do acordo e objeto de análise deste
trabalho é a exigência de confissão formal e circunstanciada da prática de infração

60
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 191.464 AgR. Rel. Min. Roberto Barroso. Primeira
Turma. Julgado em 11.11.2020. DJe 280 de 26.11.2020. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur437121/false>. Acesso em: 25 mai. 2021.
61
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli; FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e
sua Jurisprudência. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 136.
62
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 25 mai.
2021.
27

penal. A necessidade de confissão, tema desta monografia, será discutida no


próximo capítulo.
O terceiro requisito impõe que a proposição apenas incidirá em situações
onde a infração penal é cometida sem violência ou grave ameaça à pessoa. Dutra
Santos63 afirmou que o instituto abrange os crimes culposos. Caso haja a violência
intencional dos crimes dolosos não será proposto o acordo, uma vez que o requisito
é impeditivo, conforme explicou Junqueira et al64. Ainda, o Enunciado 23 emitido
pelo Conselho Nacional de Procuradores Gerais dos Ministérios Públicos dos
Estados e da União e pelo Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio
Criminal, esclareceu que:

É cabível o acordo de não persecução penal nos crimes culposos com


resultado violento, uma vez que nos delitos desta natureza a conduta
consiste na violação de um dever de cuidado objetivo por negligência,
imperícia ou imprudência, cujo resultado é involuntário, não desejado e nem
aceito pela agente, apesar de previsível.65

Com o quarto requisito objetivo tem-se a necessidade de que a pena mínima


da infração penal seja menor que quatro anos. Observa-se nesse cálculo o primeiro
parágrafo do art. 28-A: “para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se
refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição
aplicáveis ao caso concreto”66. A fim de encontrar a quantidade da pena mínima com
a incidência de causas que modificam o limite legal da pena, Nucci afirmou que
“havendo causa de diminuição variável, deve-se diminuir o máximo; havendo causa
de aumento, em cima da pena mínima cominada em abstrato, lança-se o mínimo” 67.
Nesse sentido, o Conselho Nacional de Procuradores Gerais dos Ministérios

63
SANTOS, Marcos Paulo Dutra. Comentários ao pacote anticrime. Rio de Janeiro: Forense, 2020,
p. 219.
64
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 60.
65
GNCCRIM. GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE CENTRO DE APOIO CRIMINAL
(GNCCRIM). Comissão Especial: Enunciados Interpretativos Da Lei Anticrime (Lei nº
13.964/2019). CNPG, 2020. Disponível em: <https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/GNCCRIM_-
_ANALISE_LEI_ANTICRIME_JANEIRO_2020.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2021.
66
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 25 mai.
2021.
67
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 231.
28

Públicos dos Estados e da União e o Grupo Nacional de Coordenadores de Centro


de Apoio Criminal emitiram o Enunciado 2968.
O último requisito pressupõe que a proposição do acordo seja necessária e
suficiente para a reprovação e prevenção do crime. O questionamento sobre a
caracterização do Acordo de Não Persecução Penal como direito subjetivo do réu ou
se constitui prerrogativa do Ministério Público é uma celeuma jurídica: parte da
doutrina entende que se deve interpretar como um direito oponível contra o Estado;
Morais da Rosa69, por exemplo, argumenta pela interpretação por analogia na linha
do Habeas Corpus nº 83.926-6/RJ, conforme decisão proferida pelo Supremo
Tribunal Federal com relação à suspensão condicional do processo. Lopes Júnior
também interpreta que “preenchidos os requisitos legais – se trata de direito público
subjetivo do imputado, um direito processual que não lhe pode ser negado” 70.
No entanto, decisão proferida pela Primeira Turma do Supremo Tribunal
Federal, que teve como relator o Ministro Alexandre de Moraes, não seguiu essa
visão:

[...] respeitados os requisitos legais o Ministério Público poderá optar pelo


acordo de não persecução penal, dentro de uma legítima opção da própria
Instituição. Ausentes os requisitos legais, não há opção ao Ministério
Público, que deverá oferecer a denúncia em juízo. Entretanto, se estiverem
presentes os requisitos descritos em lei, esse novo sistema acusatório de
discricionariedade mitigada não obriga o Ministério Público ao oferecimento
do acordo de não persecução penal, nem tampouco garante ao acusado
verdadeiro direito subjetivo em realizá-lo. Simplesmente, permite ao Parquet
a opção, devidamente fundamentada, entre denunciar ou realizar o acordo
de não persecução penal, a partir da estratégia de política criminal adotada
pela Instituição.71

Essa discricionariedade do Ministério Público exige a argumentação, uma vez


que a decisão não fundamentada está sujeita à aplicação do art. 28-A, §14: “no caso

68
“Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o artigo 28-A, serão
consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto, na linha do que já
dispõe os enunciados sumulados nº 243 e nº 723, respectivamente, do Superior Tribunal de Justiça e
Supremo Tribunal Federal.” (GNCCRIM. GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE CENTRO
DE APOIO CRIMINAL (GNCCRIM). Comissão Especial: Enunciados Interpretativos Da Lei
Anticrime (Lei nº 13.964/2019). CNPG, 2020. Disponível em:
<https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/GNCCRIM_-
_ANALISE_LEI_ANTICRIME_JANEIRO_2020.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2021.)
69
LOPES JÚNIOR, Aury; PINHO, Ana Claudia Bastos de; ROSA, Alexandre Morais da. Pacote
Anticrime: um ano depois. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 49.
70
LOPES JÚNIOR., Aury; JOSITA, Higyna. Questões polêmicas do acordo de não persecução penal.
Consultor Jurídico. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2020-mar-06/limite-penal-questoes-
polemicas-acordo-nao-persecucao-penal>. Acesso em: 27 mai. 2021.
71
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 191.124 AgR. Rel. Min. Alexandre de Moraes.
Primeira Turma. Julgado em 08.04.2021. DJe 069 de 13.04.2021. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur444020/false>. Acesso em: 27 mai. 2021.
29

de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução


penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na
forma do art. 28 deste Código”72. O réu tem o direito de se insurgir contra a ausência
de acordo, requerendo a reavaliação por órgão revisional do Ministério Público. No
entanto, a aplicação do art. 28, referente ao juiz das garantias está suspensa,
devendo a reavaliação ser feita pelo Procurador Geral de Justiça, explanou Pacelli73.
Ainda, conforme decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal,
com o Ministro-Relator Gilmar Mendes, o juiz não pode impor ao Ministério Público
esta obrigação, em decisão que assemelha o Acordo de Não Persecução Penal a
institutos análogos: “[...] a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que não é
dado ao Poder Judiciário impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar acordo
em âmbito penal”74.
O segundo parágrafo do art. 28-A elenca as hipóteses em que o acordo não
deve ser aplicado.
A primeira regra de exclusão está no primeiro inciso do art. 28-A: não será
aplicável o acordo “se for cabível transação penal de competência dos Juizados
Especiais Criminais, nos termos da lei”75. Seria o caso das infrações penais de
menor potencial ofensivo, nas quais a incidência da transação penal é mais
benéfica76, e que “igualmente enseja a substituição (exclusão) do processo” 77, como
expôs Junqueira et al..
A segunda causa de inaplicabilidade ocorre “se o investigado for reincidente
ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual,
reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas” 78.
Junqueira et al. afirmou que a reincidência – bem como a conduta criminal habitual,
72
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 26 mai.
2021.
73
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 119.
74
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 194.677. Rel. Min. Gilmar Mendes. Segunda
Turma. Julgado em 11.05.2021. DJe 161, de 13.08.2021. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur450789/false>. Acesso em 25 ago. 2021.
75
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 26 mai.
2021.
76
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021,
p.86.
77
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 62.
78
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 26 mai.
2021.
30

reiterada ou profissional – deve ser comprovada através de investigação criminal79.


Quanto à estimativa da insignificância da infração penal, nas palavras de Nucci, “o
termo insignificante tem sido utilizado para caracterizar o crime de bagatela, que, por
sinal, tende a ser fato atípico; nesta hipótese, seria mais uma condição de livre
avaliação do órgão proponente do acordo”80.
O terceiro requisito negativo incide na hipótese de “ter sido o agente
beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de
não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo”81.
A quarta e última regra impõe que “nos crimes praticados no âmbito de
violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da
condição de sexo feminino, em favor do agressor”82 não será proposto o acordo.
Aqui, a norma está de acordo com a Lei nº 11.340/2006, que impede benefícios ao
agressor em crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher ao
excluir a aplicação da Lei nº 9.099/95, e, portanto, a aplicação dos institutos da
suspensão condicional do processo e da transação penal.

3.2.3 Condições a serem negociadas

Preenchidos os requisitos, o art. 28-A enumera cinco condições a serem


preenchidas pelo investigado. Elas devem ser cumpridas alternativa ou
cumulativamente, nos moldes da justiça restaurativa. Nesse sentido, com a I
Jornada de Direito e Processo Penal, organizada pelo Centro de Estudos Judiciários
do Conselho da Justiça Federal (CEJ/CJF), foi aprovado o Enunciado 28:
“recomenda-se a realização de práticas restaurativas nos acordos de não
persecução penal, observada a principiologia das Resoluções n. 225 do CNJ e
118/2014 do CNMP”83.

79
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 62.
80
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 232.
81
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 26 mai.
2021.
82
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 26 mai.
2021.
83
BRASIL. CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciado nº 28. I Jornada de Direito e Processo
Penal. Brasília: CJF, 2020. Disponível em: <https://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2020/08-agosto/i-
jornada-de-direito-e-processo-penal-aprova-32-
enunciados/EnunciadosaprovadosnaPlenriaIJDPP.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2021.
31

A primeira condição refere-se à reparação do dano ou à restituição da coisa à


vítima (excluindo-se os casos onde está demonstrada a impossibilidade de fazer tal
ação). A segunda diz respeito à renúncia voluntária a bens e direitos indicados pelo
Ministério Público, sendo estes os instrumentos, produto ou proveito do crime. A
terceira condição é a prestação de serviços pelo período correspondente à pena
mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços. A quarta condição é o
pagamento de prestação pecuniária de modo a beneficiar apenas entidade pública
ou de interesse social. A quinta e última condição, formulada de maneira genérica,
aduz ao cumprimento de outra condição indicada pelo Ministério Público pelo prazo
determinado em negociação, atentando-se ao princípio da proporcionalidade e da
razoabilidade, com seu abuso sendo causa para habeas corpus, explanou Rangel84.

3.2.4 Procedimento a ser seguido

Os parágrafos terceiro e seguintes do art. 28-A descrevem como deve ser


feito o procedimento. O acordo deve ser escrito, sendo inadmissível ser feito
oralmente e devendo ser firmado pelo membro de Ministério Público, pelo
investigado e por seu defensor.
A homologação do acordo deve ser realizada em audiência onde o juiz
averiguará a voluntariedade do investigado por meio da oitiva e com a presença de
seu defensor. Caso seja constatada alguma condição inadequada, insuficiente ou
abusiva, o juiz das garantias devolverá os autos ao Ministério Público para que a
proposta seja reformulada, com anuência do investigado e de seu defensor.
Uma vez homologado, o juiz irá devolver os autos ao Ministério Público para a
sua execução. Na hipótese em que seja recusada a homologação (nos termos do
parágrafo sétimo do art. 28-A), o juiz encaminha os autos ao Ministério Público para
a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento
da denúncia; dessa decisão cabe recurso em sentido estrito. A participação da
vítima ocorre com a sua intimação quanto à homologação do acordo e de seu
descumprimento.

3.2.5 Cumprimento e violação do acordo

A celebração do acordo, bem como o seu cumprimento, não gera


antecedente criminal e nem constará de certidão, salvo em situações onde seja
84
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 198.
32

necessário verificar se o investigado já foi beneficiado anteriormente pelo Acordo de


Não Persecução Penal no prazo de cinco anos – o instituto não tem o intuito de
demonstrar a culpa do investigado, uma vez que apenas pelo processo e uma
sentença penal condenatória transitada em julgado é que se constataria tal fato,
como explicou Rangel85. Na ocasião em que o acordo for cumprido de maneira
integral, será julgada extinta a punibilidade.
Caso ocorra o descumprimento das condições negociadas no acordo, a
previsão legal requer que o Ministério Público comunicará ao juízo sobre a
inadimplência, para que seja realizada a rescisão do acordo e o posterior
oferecimento de denúncia. Diante disso, o Ministério Público poderá utilizar esse
descumprimento para argumentar pelo eventual não oferecimento de suspensão
condicional do processo.
Essa rescisão, de acordo com a jurisprudência da Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiça, exige a intimação da defesa:

[...] muito embora seja possível a rescisão do acordo de não persecução


penal, necessário, para preservação dos princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa, oportunizar à defesa a manifestação
acerca do pedido formulado pelo Ministério Público.86

Assim, deverá ser designada audiência para oitiva do investigado de modo a


justificar o descumprimento para fins de uma eventual rescisão, explicou Junqueira
et al.87. Ademais, não correrá a prescrição enquanto não cumprido ou rescindido o
acordo, como disposto no art. 116, inciso IV, do Código Penal.

3.2.6 Aplicação em ações penais de iniciativa privada

A possibilidade do Acordo de Não Persecução Penal ser proposto em ação


penal de iniciativa privada é uma questão controvertida pelos doutrinadores. Parte
entende que não é cabível; nas palavras de Rangel, “se o querelante quer fazer
acordo ele não quer propor ação penal”88.

85
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 202.
86
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HC 615.384/SP. Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, Quinta Turma. Julgado em 09.02.2021. DJe de 11.02.2021. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=202002504695&dt_publicacao
=11/02/2021>. Acesso em 15 jun. 2021.
87
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 67.
88
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 203.
33

Por outro lado, há a posição de que “se a vítima pode, simplesmente, não
ofertar a queixa-crime, com razão ainda maior pode deixar de fazê-lo mediante o
cumprimento de determinada regra de conduta e/ou pagamento de prestação
pecuniária pelo suposto auto do fato”89, como expôs Dutra Santos. É a mesma
posição de Lopes Júnior, o qual afirmou que “uma vez preenchidos os requisitos
legais anteriormente explicados, pode o querelante propor o acordo de não
persecução penal, até porque a ação penal de iniciativa privada é plenamente
disponível”90.

3.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


E OUTROS INSTITUTOS

3.3.1 O Acordo de Não Persecução Penal e o Plea bargain

Uma das inspirações do Acordo de Não Persecução Penal, bem como outros
instrumentos de barganha, foi o instituto processual penal do plea bargain – o qual
foi inicialmente parte do Pacote Anticrime, mas acabou sendo retirado. Sendo parte
das soluções consensuais e frequentemente utilizado nos Estados Unidos da
América, foi alcançado em 2019 o número de 97,6% de condenações decorridas de
acordos a nível federal91.
Alshuler92 descreveu o plea bargain como um acordo entre a acusação e a
defesa, no qual o acusado aceita confessar o crime com o intuito de receber
privilégios, indo contra os desígnios da Sexta Emenda da Constituição de 1787 do
país. Em uma análise sobre a história do mecanismo, Langbein93 constatou que um

89
SANTOS, Marcos Paulo Dutra. Comentários ao pacote anticrime. Rio de Janeiro: Forense, 2020,
p. 216.
90
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
88.
91
UNITED STATES SENTENCING COMISSION. 2019 Annual Report and Sourcebook of Federal
Sentencing Statistics, Table 11. Disponível em:
<https://www.ussc.gov/sites/default/files/pdf/research-and-publications/annual-reports-and-
sourcebooks/2019/2019-Annual-Report-and-Sourcebook.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2021.
92
“As I see it, plea bargaining consists of the exchange of official concessions for the act of self-
conviction. The concessions given a defendant may relate to sentence, the offense charged, or a
variety of other circumstances; they may be explicit or implicit; and they may proceed from any of a
number of officials. The benefit offered by the defendant, however, is always the same-entry of a plea
of guilty.” (ALSCHULER, Albert W. Plea bargaining and its history. Columbia Law Review, v. 79, n. 1,
p. 1-43, 1979.)
93
“[...] on account of its efficiency, plea bargaining has won the endorsement of the Supreme Court as
‘an essential component of the administration of justice’ (Santobello v. New York, 404 U.S. 257, 260,
1971). [...] The main historical explanation for the want of plea bargaining in former centuries is, I
believe, simple and incontrovertible. When we turn back to the period before the middle of the
eighteenth century, we find that common law trial procedure exhibited a degree of efficiency that we
34

dos principais argumentos a favor de seu uso seria o fato de que é um procedimento
mais rápido do que o julgamento, sendo o acordo mais eficiente na visão da
Suprema Corte dos Estados Unidos da América.
Embora compartilhem várias características, pois como afirmou Abrão94,
ambos os negócios partem da exigência da confissão, são instrumentos distintos.
Os acordos decorrentes do plea bargain, o qual deverá ser escrito, estão à
mercê da discricionariedade da acusação, com a participação do juiz limitando-se à
aprovação do acordo e da averiguação da voluntariedade e ciência das
consequências da confissão, explicou Vogel95. Para essa visão, Da Cruz96
esclareceu que o julgamento é um direito disponível, imbuindo-se do princípio do
pacta sunt servanda. Ainda, Gilliéron97 expôs que o acusado pode dispensar o
auxílio do advogado nas discussões.
O Acordo de Não Persecução Penal, por outro lado, tem a confissão como
instrumento de convencimento do juiz, mas não incide na culpa. Além disso, é
obrigatória a participação do advogado no acordo. A participação da vítima também
é diferente no instituto norte-americano, ao passo que no acordo brasileiro, a vítima
apenas é intimada da homologação do acordo.
Há também diferença no momento de proposição do acordo. Embora ambos
sejam entendidos como faculdades da acusação, o plea bargain é oferecido em um
momento anterior ao julgamento, já sendo conhecidas as acusações feitas e
atuando como um substituto ao trâmite processual, o qual já pode ensejar a
condenação, explicou Nardelli98. O Acordo de Não Persecução Penal, como o
próprio nome já expõe, busca evitar a denúncia e a possível condenação, sendo
proposto em um período anterior à denúncia. Nele, não há de se cogitar em

now expect only of our nontrial procedure. Jury trial was a summary proceeding.” (LANGBEIN, John
H. Understanding the short history of plea bargaining. Law & Soc'y Rev., v. 13, p. 261, 1978.)
94
ABRÃO, Guilherme Rodrigues. A expansão da justiça negociada no processo penal brasileiro: o
que se pode (não) aprender da experiência americana com o plea bargaining. Revista brasileira de
ciências criminais, v. 179, p. 177-196, 2021.
95
VOGEL, Mary. Plea Bargaining under the Common Law. In: BROWN, Darryl K.; TURNER, Jenia
Iontcheva; WEISSER, Bettina (Ed.). The Oxford Handbook of Criminal Process, 2019.
96
DA CRUZ, Flavio Antônio. Plea bargaining e delação premiada: algumas perplexidades. Revista
Jurídica da Escola Superior da Advocacia da OAB-PR. Paraná, v. 2, p. 5-6, 2016.
97
GILLIÉRON, Gwladys. Comparing Plea Bargaining and Abbreviated Trial Procedures. In: BROWN,
Darryl K.; TURNER, Jenia Iontcheva; WEISSER, Bettina (Ed.). The Oxford Handbook of Criminal
Process, 2019.
98
NARDELLI, Marcella Alves Mascarenhas. A expansão da justiça negociada e as perspectivas para
o processo justo: a plea bargaining norte-americana e suas traduções no âmbito da civil law. Revista
Eletrônica de Direito Processual, v. 14, n. 1, 2014.
35

julgamento, muito menos em discutir o abrandamento da pena ou a desclassificação


do tipo penal – o acordo não acarreta, portanto, na dosimetria da pena.

3.3.2 O Acordo de Não Persecução Penal, a transação penal e a suspensão


condicional do processo

Como expuseram Mendes e Martínez, “o acordo de não persecução não é em


si uma inovação total no sistema processual penal brasileiro” 99; a justiça consensual
não é recente, existindo institutos de relevante semelhança.
A transação penal, tal como o Acordo de Não Persecução Penal, é outro
instrumento do promotor que propõe uma alternativa ao processo. Ambos
compartilham as características de ser um negócio processual que não consta de
certidão de antecedentes criminais, bem como exigem condições a serem cumpridas
em troca do processo, argumentou Dutra Santos100. Ainda, Lopes Júnior101 explanou
que a transação penal, assim como o Acordo de Não Persecução Penal, exige a
existência de justa causa para a sua proposição e ambos são característicos por ter
disposto como outro requerimento não ser caso de arquivamento.
A primeira de suas diferenças, por outro lado, encontra-se no fato da
transação penal ser cabível apenas em infrações penais de menor potencial
ofensivo com pena máxima de 02 anos. No Acordo de Não Persecução Penal a
pena deve ser inferior a 04 anos.
Outra diferença evidente é a competência: na transação penal a competência
é do Juizado Especial Criminal, já no Acordo de Não Persecução Penal quaisquer
órgãos jurisdicionais têm competência, segundo esclareceu Rangel102. A diferença
mais relevante, no entanto, é a necessidade da confissão para a realização do
Acordo de Não Persecução Penal – na transação penal não há tal exigência,
tampouco na suspensão condicional do processo.
Na suspensão condicional do processo a denúncia já foi oferecida, embora
seja uma alternativa à condenação, com condições impostas pelo Ministério Público
a serem seguidas. Este negócio processual é cabível apenas nos crimes cuja pena

99
MENDES, Soraia da Rosa; MARTÍNEZ, Ana Maria. Pacote anticrime: comentários críticos à Lei
13.964/2019. São Paulo: Atlas, 2020, p. 66.
100
SANTOS, Marcos Paulo Dutra. Comentários ao pacote anticrime. Rio de Janeiro: Forense,
2020, p. 191.
101
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
335.
102
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 203.
36

mínima cominada for igual ou inferior a um ano, bem como se aplica a outras
jurisdições além do Juizado Especial Criminal.
37

4 A EXIGÊNCIA DA CONFISSÃO

Relevantes ao tema em questionamento são os princípios do devido processo


legal e da presunção da inocência, os quais serão apresentados, bem como alguns
princípios decorrentes destes. Com esse tópico, expõe-se também a posição
doutrinária sobre a confissão no ordenamento jurídico brasileiro, de modo a analisar
a sua exigência para a proposição do Acordo de Não Persecução Penal pelo
Ministério Público.

4.1 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS E CONSTITUCIONAIS

4.1.1 O devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa

A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LIV, definiu que “ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”103, definindo
assim a obrigatoriedade de respeito às formalidades previstas em lei para que a
liberdade do indivíduo não seja cerceada, conforme elucidou Rangel104. Esse
princípio está atrelado à dignidade da pessoa humana – o indivíduo possui um valor
intrínseco, devendo este ser respeitado em face de um processo, o qual possui a
característica de instrumento garantidor da aplicação imparcial e justa das leis, como
explicou Mendes105.
O trâmite processual tem o intuito de apurar a verdade substancial, termo
empregado pelo art. 566 do Código de Processo Penal106. Essa busca não pode
violar os direitos e garantias do acusado, sendo, portanto, vedada a prova ilícita nos
termos do art. 5º, inciso LVI, da Constituição Federal, uma vez que esta prova
impede a construção da verdade no processo ao contrariar as garantias
fundamentais – o juiz se baseará apenas nas provas produzidas em contraditório
judicial para a formação de sua convicção (art. 155, caput, do Código de Processo
Penal), salvo em situações específicas em lei.

103
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
104
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 03.
105
MENDES, Gilmar Ferreira. Comentários ao art. 5º, LIV. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; ______;
SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. 2.
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 460.
106
“Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração
da verdade substancial ou na decisão da causa.” (BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro
de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.)
38

Ainda no âmbito do devido processo legal, há o princípio do juiz natural, o


qual possui respaldo constitucional no art. 5º, inciso LIII ao impor que “ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” 107, bem como que
a proibição dos tribunais ou juízos de exceção, como dispõe o inciso XXXVII do
mesmo artigo. Essa garantia está também no art. 564, inciso I, do Código de
Processo Penal, sendo nulo o ato realizado por juiz incompetente.
Sobre o princípio, Coutinho afirmou:

Desta forma, pode-se definir o princípio do juiz natural como expressão do


princípio da isonomia e também um pressuposto de imparcialidade. [...]
Destarte, todos passam a ser julgados pelo “seu” juiz, o qual se encontra
com sua competência previamente estabelecida pela lei, ou seja, em uma
lei vigente antes da prática do crime.108

Além de ser competente, o juiz deve ser imparcial – não podendo exercer
jurisdição em casos onde tenha alguma ligação prévia com a questão ou as partes,
como dispõem o art. 252 ao art. 256 do Código de Processo Penal. Assim,
diferencia-se o processo acusatório do inquisitório; o papel do juiz no sistema
processual brasileiro deve ser analisado em face da Constituição Federal, possuindo
uma função instrumental-garantidora. Nesse sentido, Lopes Júnior argumentou:

A imparcialidade é garantida pelo modelo acusatório e sacrificada no


sistema inquisitório, de modo que somente haverá condições de
possibilidade da imparcialidade quando existir, além da separação inicial
das funções de acusar e julgar, um afastamento do juiz da atividade
investigatória/instrutória.109

No inciso LV do art. 5º é disposto que “aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”110.
Segundo Nucci111, o contraditório exprime-se no direito conferido a ambas as
partes de responder a quaisquer alegações ou atividades na constância do processo
que lhe sejam contrárias. Com relação a este princípio, observa-se nos arts. 409 e

107
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
108
COUTINHO, Jacinto. Comentários ao art. 5º, LIII. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar
Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (Coords.). Comentários à Constituição do
Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 456.
109
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021,
p.25.
110
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
111
NUCCI, Guilherme de Souza. Comentários ao art. 5º, LV. In: MORAES, Alexandre de et al.
Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 240.
39

479 do Código de Processo Penal sua incidência ao ser exigida a ciência da outra
parte após a apresentação da defesa e da apresentação de provas,
respectivamente.
Quanto à ampla defesa, Nucci explicou que “a ampla possibilidade de se
defender deve simbolizar a mais copiosa e rica oportunidade de preservar o estado
de inocência, outro atributo natural do ser humano” 112. Com esta garantia, assegura-
se um processo judicial em que o acusado tem o direito de discutir o fato que lhe foi
imputado, bem como a assistência do governo aos que não tiverem recursos de
acordo com o art. 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal.
Pacelli expôs que “enquanto o contraditório exige a garantia de participação, o
princípio da ampla defesa vai além, impondo a realização efetiva dessa participação,
sob pena de nulidade, se e quando prejudicial ao acusado” 113. Nesse quesito,
observa-se o enunciado da Súmula Vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal114.
É relevante também o direito a não autoincriminação, nos termos do art. 5º,
inciso LXIII da Constituição Federal: “o preso será informado de seus direitos, entre
os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e
de advogado”115.
O direito ao silencio importa na proibição de coação do acusado quanto ao
fornecimento de provas contra si, sendo um direito público subjetivo. O juiz também
não deve interpretar o silencio de modo a prejudicar o acusado em quaisquer das
fases do processo penal, conforme explicou Carvalho116, bem como é obrigado a
informar o acusado dessa escolha, nos termos do art. 186 do Código de Processo
Penal – o silêncio não prejudicará o acusado, mas também não lhe trará benefício
algum.
Quanto à confissão, Giacomolli afirmou:

112
NUCCI, Guilherme de Souza. Comentários ao art. 5º, LV. In: MORAES, Alexandre de et al.
Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 239.
113
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 51.
114
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito
ao exercício do direito de defesa. DJe 26 de 09.02.2009, DOU de 09.02.2009. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula762/false>. Acesso em: 26 jul. 2021.
115
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
116
CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de. Comentários ao art. 5º, LXIII. In:
CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz
(Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p.
489-490.
40

O direito ao silêncio atinge, portanto, especificamente, o direito de ficar


calado, de não se pronunciar, de responder somente aos questionamentos
que não produzam incriminação, bem como o de responder total ou
parcialmente às perguntas formuladas. Trata-se da denominada autodefesa
negativa. Portanto, em um processo penal democrático, é inadmissível a
confissão forçada, total ou parcial do imputado (nemo tenetur edere contra
se).117

4.1.2 A presunção de inocência

Ferrajoli, sobre o princípio, postulou:

Se a jurisdição é a atividade necessária para obter a prova de que um


sujeito cometeu um crime, desde que tal prova não tenha sido encontrada
mediante um juízo regular, nenhum delito pode ser considerado cometido e
nenhum sujeito pode ser reputado culpado nem submetido a pena. [...] A
culpa, e não a inocência, deve ser demonstrada, e é a prova da culpa - ao
invés da de inocência, presumida desde o início - que forma o objeto do
juízo.118

Dispõe a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LVII, que “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” 119.
Esse princípio consta na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, no artigo
8.2: “toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência
enquanto não se comprove legalmente sua culpa”120.
Giacomolli então afirmou:

Ao magistrado, especificamente, é vedado aderir antecipadamente à opinio


delicti, não podendo proferir juízo condenatório antes do prévio exaurimento
probatório da acusação, mediante o devido processo legal e constitucional,
inclusive no seu aspecto formal, com uma necessária e acentuada nota ao
pleno contraditório e à prova produzida pela acusação.121

Desse modo, há uma presunção de não culpabilidade – a qual, como expôs


Nucci, “tem por objetivo garantir que o ônus da prova cabe à acusação e não à

117
GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição
Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 230.
118
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer
et al. São Paulo: RT, 2002, p. 441.
119
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
120
BRASIL. Decreto no 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm>. Acesso em: 19 jun. 2021.
121
GIACOMOLLI, Nereu José. Comentários ao art. 5º, LVII. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES,
Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (Coords.). Comentários à
Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 477.
41

defesa”122, uma vez que as pessoas partem de um estado de inocência. Desse


princípio decorre outro: o princípio do in dubio pro reo. Apenas a certeza implicará
na condenação: “privilegia-se a garantia da liberdade em detrimento da pretensão
punitiva do Estado”123, como explicou Avena.

4.1.3 O princípio da proporcionalidade

Pertinente ao tema é o princípio da proporcionalidade, o qual é composto pelo


princípio da adequação, pelo princípio da necessidade e pelo princípio da
proporcionalidade em sentido estrito. Usualmente, este princípio no direito penal
esteve ligado à individualização das penas em relação ao delito praticado, mas
permeia todos os atos do processo.
Reale Júnior124 descreveu o princípio, em conjunto com os princípios da
razoabilidade e da ofensividade, como “verdadeiras pautas de conduta” e que
“atuam como mandados de proibição de excessos vinculativos ao legislador e ao
intérprete/aplicador da lei”.

4.2 O PAPEL DA CONFISSÃO NO PROCESSO PENAL

A confissão é um meio de prova, ou seja, um dos instrumentos de


convencimento do juiz. Ela é a declaração pelo acusado de reconhecimento dos
fatos imputados a si, podendo ser simples – total ou parcial, em que o acusado não
alega um fato que possa beneficiá-lo – ou qualificada, onde há a alegação de
circunstâncias que podem excluir a responsabilidade pelos atos cometidos ou
atenuar a pena na hipótese de uma condenação, elucidou Nucci125.
A confissão tem como requisito a voluntariedade do indivíduo acima de tudo;
de acordo com Lopes Júnior126, ela só valerá quando feita em plena liberdade e
autonomia, contendo a compreensão e discernimento do indivíduo sobre o ato e não
podendo este ser coagido a produzir tal prova, nem que haja quaisquer outros

122
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 66.
123
AVENA, Norberto. Processo Penal. 13. ed. São Paulo: Método, 2021, p. 35.
124
REALE JÚNIOR, Miguel. Fundamentos de direito penal. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p.
21.
125
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 497.
126
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
202.
42

vícios. Ainda, deve ser expressa e pessoal, contendo um alto nível de


verossimilhança com os fatos aduzidos.
Sozinha, a confissão não incute na condenação – sua valoração para o
processo depende do conjunto probatório –, mas caso esteja em harmonia com as
provas nos autos, pode ser valorada para a definição da sentença, explicou Lopes
Júnior127. Sobre a confissão, dispõe o art. 197 do Código de Processo Penal que
“[...] para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do
processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou
concordância”128. O juiz decidirá a partir das provas que constam nos autos, partindo
da visão que “se [as provas] não estão nos autos, não existem no mundo” 129, como
expôs Rangel.
De acordo com o art. 198 do Código de Processo Penal, “o silêncio do
acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a formação
do convencimento do juiz”130. Como mencionado no tópico acima, o direito ao
silêncio não pode prejudicar o acusado em quaisquer das fases do processo. Há, no
entanto, situações em que há um incentivo pelo Estado para que ocorra essa
“quebra”, como ocorre na Justiça Negocial e nos termos da explicação de
Giacomolli:

São situações admitidas pelo legislador e pelos Tribunais, mas que não
deixam de representar a publicização da própria traição do sujeito. Entretanto,
se faz mister analisar a forma como são prestadas as declarações, a
voluntariedade, a ausência de indução à declaração, bem como a existência
de prévia comunicação ao sujeito do direito de não produzir qualquer prova
incriminatória, que não está obrigado a declarar e a aceitar as alternativas
legais (para muitos “vantagens legais”). Portanto, o nemo tenetur integra o
devido processo, informando da impossibilidade de utilização do silêncio ou
da não contribuição como elemento de convicção judicial, direta ou
indiretamente (utilização como argumento de prova).131

Quer seja aquela considerada para o acordo concedido pelo Estado ou


aquela feita em interrogatório, a confissão que não contém as garantias

127
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
202.
128
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 04 ago.
2021.
129
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 469.
130
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 04 ago.
2021.
131
GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição
Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 232.
43

constitucionais será considerada ilícita e deverá ser desentranhada do processo e


retirada da composição do convencimento do juiz.
O art. 199 esclarece a hipótese de confissão feita fora da audiência de
instrução e julgamento: “a confissão, quando feita fora do interrogatório, será tomada
por termo nos autos, observado o disposto no art. 195”132. Aqui, faz-se menção ao
fato de que a confissão pode ocorrer em outro momento processual, a fase do
inquérito policial. No entanto, como expôs Freire, esta fase investigativa é um
procedimento no qual não é completamente assegurado o contraditório em razão do
próprio procedimento, tendo consequências sobre o valor da prova:

A unilateralidade das investigações desenvolvidas pela Polícia Judiciária na


fase preliminar da persecução penal (informatio delicti) e o caráter
inquisitivo que assinala a atuação da autoridade policial não autorizam, sob
pena de grave ofensa à garantia constitucional do contraditório e da
plenitude de defesa, a formulação de decisão condenatória cujo único
suporte seja a prova, não reproduzi da em juízo, consubstanciada nas
peças do inquérito.133

A confissão extrajudicial, de acordo com Nucci, “é apenas um meio de prova


indireto, isto é, um indício”134, devendo esta ser analisada com outras provas para
que seja admitida no processo; por outro lado, a confissão admitida durante o
interrogatório do réu, onde está garantido o contraditório e a ampla defesa, possui
maior força probante, apesar de ainda necessitar de outras provas para a eventual
decisão do juiz.
A confissão serve, ainda, para o juiz que a utilizar para a construção de sua
argumentação, como circunstância atenuante para a fixação pena, como disposto do
art. 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal. Para o tema, incide a Súmula 545 do
Superior Tribunal de Justiça135, a qual reconhece que em casos onde o juiz utilizar
da confissão como prova para a construção de seu convencimento, será aplicável a
atenuante.

132
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 04 ago.
2021.
133
FREIRE, Ranulfo de Mello. Valor Probatório do Inquérito Policial. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, v. 0, p. 133-138, 1992.
134
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 500.
135
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Súmula 545. Quando a confissão for utilizada para
a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do
Código Penal. DJe 19.10.2015. Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/sumstj/>. Acesso em: 05
ago. 2021.
44

Ainda, a confissão, nos termos do art. 200 do Código de Processo Penal,


“será divisível e retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no
exame das provas em conjunto”136. O juiz poderá utilizar de partes da confissão,
com base no princípio do livre convencimento. O réu, quanto à sua confissão
anterior, também tem o direito de se arrepender ou de corrigir o que foi dito
anteriormente. Nesse caso, no entanto, será comparada a nova afirmação com o
conjunto probatório, podendo chegar a não ser reconhecida pelo juízo, como
explicou Nucci137.

4.3 A CONFISSÃO NO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

A exigência da confissão formal e circunstanciada está disposta no caput do


art. 28-A. Os parágrafos terceiro e quarto também requerem, respectivamente, que o
ato seja formalizado por escrito, que seja firmado entre as partes em conjunto com o
defensor e que deverá ser realizada audiência onde o juiz irá verificar a
voluntariedade do investigado.

4.3.1 A voluntariedade da confissão

A questão da voluntariedade de tal ato é controversa. Embora alguns


doutrinadores acreditem que seja constitucional, uma vez que espontânea138,
voluntária139 e antecedente à celebração do acordo140, essa exigência está em
inequívoca oposição ao direito constitucional a não autoincriminação e, ainda, à
comunidade internacional ao contrariar o Pacto de São José da Costa Rica, que
dispõe sobre o “direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a
declarar-se culpada”141 em seu art. 8.2.“g”.
Cappellari questiona o poder do investigado durante as condições em face da
confissão:

136
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 04 ago.
2021.
137
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 508.
138
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 204.
139
AVENA, Norberto. Processo Penal. 13. ed. São Paulo: Método, 2021, p. 302.
140
NETTO, Alamiro Velludo Salvador et al. Pacote Anticrime - Comentários à Lei n. 13.964/2019.
São Paulo: Almedina Brasil, 2020, p. 81.
141
BRASIL. Decreto no 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm>. Acesso em: 17 ago. 2021.
45

Qual o poder do investigado no acordo das condições? É um acordo ou


uma adesão? Porque, se confesso um crime, tenho evidentemente a
aplicação de uma sanção penal, dentro do que o Ministério Público entende
viável e possível, abrindo mão do devido processo legal e sabendo que a
minha confissão estará ali presente e documentada.142

Ribeiro e Costa143, ao argumentarem pela falta de voluntariedade do acordo,


expõem que no momento de aceitação do acordo, há diversos fatores que
influenciam o investigado, dentre os quais a ameaça de prisão preventiva, a
existência do inquérito de do processo e os estigmas decorrentes destes, além da
falta de segurança jurídica existente no país.

4.3.2 A proporcionalidade da confissão

Nas palavras de Cappellari, “veja-se, não se enxerga acordo, convenção, mas


disparidade de armas”144, haja vista que é o órgão acusatório quem realiza o juízo
sobre a medida ser necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Dutra Santos145 arguiu que não há ligação causal entre o Acordo de Não
Persecução Penal e a confissão, uma vez que ausente a proporcionalidade de tal
exigência: tal reconhecimento derivado da confissão não é imprescindível, pois a
hipótese de revogação do acordo incidirá na Ação Penal, onde os fatos serão
apurados. Além disso, o investigado será submetido a um constrangimento que não
ocorre em outro instituto da justiça negociada, a suspensão condicional do processo
– esta já durante a fase processual. A necessidade de tal requerimento para a
proposição do acordo é evidentemente vazia.

4.3.3 A culpabilidade do indivíduo diante da confissão

142
CAPPELARI, Mariana Py Muniz. Do acordo de não persecução penal na Lei nº 13.964/2019. In:
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. CENTRO DE ESTUDOS JURÍDICOS.
COORDENAÇÃO DE DEFESA CRIMINAL (Org.). Primeiras impressões sobre a Lei 13.964/2019:
pacote "anticrime": a visão da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Defensoria Pública do Estado
do Rio de Janeiro, 2020, p.138.
143
RIBEIRO, Leo Maciel Junqueira; DA SILVA COSTA, Victor Cezar Rodrigues. Acordo de não
persecução penal: um caso de direito penal das consequências levado às últimas consequências.
Revista brasileira de ciências criminais, v. 161, p. 249-278, 2019.
144
CAPPELARI, Mariana Py Muniz. Do acordo de não persecução penal na Lei nº 13.964/2019. In:
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, CENTRO DE ESTUDOS JURÍDICOS,
COORDENAÇÃO DE DEFESA CRIMINAL (Org.). Primeiras impressões sobre a Lei 13.964/2019:
pacote "anticrime": a visão da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Defensoria Pública do Estado
do Rio de Janeiro, 2020, p.138.
145
SANTOS, Marco Paulo Dutra. Comentários ao Pacote Anticrime. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2020, p. 229.
46

Um fator relevante é a flagrante inconstitucionalidade que a exigência da


confissão possui quanto à culpabilidade do indivíduo, exposta por Mendes e
Martinez: “[...] ao exigir a confissão, a lei impõe à pessoa acusada dispor do devido
processo legal, além de, dado o peso probatório que os juízes e as juízas atribuem à
autoatribuição da culpa, ter sido muitas vezes premida a produzir prova contra si
mesma” 146.
A culpabilidade do investigado, que só poderá ser confirmada ou afastada
com o processo judicial – este estabelecido nos princípios do devido processo legal,
do contraditório e da ampla defesa, além de diversos outros garantindo a melhor
defesa ao indivíduo –, aparenta, nesta perspectiva, estar atribuída com a confissão
constatada no acordo.
Há, no entanto, pensamento contrário. Sales e Souza Santos 147
argumentaram que a confissão e, subsequentemente, o acordo, “não se presta a
produzir qualquer efeito sobre a culpabilidade do investigado, uma vez que não
temos sentença penal condenatória” e que também “as medidas e condições fixadas
para gozo do benefício premial não têm natureza jurídica de pena, razão pela qual
reforça-se a inexistência de violação ao direito ao silêncio e ao nemo tenetur”.
Sanches148 partiu de um posicionamento similar, afirmando que a confissão é uma
admissão implícita da culpa, uma vez que a culpa apenas pode ser comprovada pelo
devido processo legal.

4.3.4 Possíveis reflexos em caso de revogação do acordo

A lei é silente quanto à validade da confissão em hipótese de uma eventual


revogação do acordo. Entretanto, o Enunciado 27, emitido pelo Conselho Nacional
de Procuradores Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União e pelo
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal, o qual esclareceu
que:

Havendo descumprimento dos termos do acordo, a denúncia a ser


oferecida poderá utilizar como suporte probatório a confissão formal e

146
MENDES, Soraia da Rosa; MARTÍNEZ, Ana Maria. Pacote anticrime: comentários críticos à
Lei 13.964/2019. São Paulo: Atlas, 2020, p. 67.
147
SALES, Danni; SANTOS, Fernanda Marinela de Sousa. Acordo de Não Persecução Penal e os
limites da renúncia aos direitos e às garantias fundamentais. In: CAMBI, Eduardo; SILVA, Danni
Sales; MARINELA, Fernanda (Org.). Pacote anticrime: volume I. Curitiba: Escola Superior do
MPPR, 2020, p. 43.
148
CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrime – Lei 13.964/2019: Comentários às Alterações no
CP, CPP e LEP. Salvador: JusPodivm, 2020, p. 129.
47

circunstanciada do investigado (prestada voluntariamente na celebração do


acordo).149

Ainda, em consonância com o enunciado acima, o Ministério Público do


Estado de São Paulo apresentou o Enunciado 24: “rescindido o acordo de não
persecução penal por conduta atribuível ao investigado, sua confissão pode ser
utilizada como uns dos elementos para oferta da denúncia”150.
Por outro lado, existem posições contrárias na doutrina. Há a posição de que
a confissão seria uma prova semelhante à confissão realizada na fase de inquérito
policial, conforme expôs Oliveira151.
Mandarina e Santin afirmaram que “a confissão formalizada no ANPP
representa uma formalidade para fins de concretização do pacto, não podendo ser
empregada para eventuais fins probatórios”152. Semelhante a esta perspectiva,
Nucci argumentou pela não utilização da prova no processo após o descumprimento
do acordo:

Mas, ainda assim, há um ponto relevante: imagine-se que o investigado


celebre o acordo e depois não o cumpra. O Ministério Público pode pedir a
rescisão do pacto e propor denúncia, lembrando, então, que, a essa altura,
já terá havido confissão por parte do acusado. Sob esse aspecto, parece-
nos que a confissão não possa ser utilizada pelo órgão acusatório no
processo criminal a ser instaurado. Trata-se de prova ilegítima, visto que foi
produzida para o acordo de não persecução penal. Ora, se houver
processo-crime, a confissão perde a razão de ser e deve-se preservar o
direito do réu à não auto incriminação.153

Soares, Borri e Battini criticaram o efeito da confissão fora do acordo, com a


alegação de que “o que se verifica é que a confissão representa mera formalidade
para fins de concretização do acordo, não podendo ser empregada nas demais

149
GNCCRIM. GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE CENTRO DE APOIO CRIMINAL
(GNCCRIM). Comissão Especial: Enunciados Interpretativos Da Lei Anticrime (Lei nº
13.964/2019). CNPG, 2020. Disponível em: <https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/GNCCRIM_-
_ANALISE_LEI_ANTICRIME_JANEIRO_2020.pdf>. Acesso em: 13 set. 2021.
150
PGJ-CGMP. PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA. SUBPROCURADORIA-GERAL DE
JUSTIÇA JURÍDICA. Enunciados PGJ-CGMP – Lei 13.964/19. PGJ-CGMP, 2020. Disponível em:
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Enunciados_CAOCRIM/Enu
nciados%20PGJ-CGMP%20-%20Lei%2013.964-19%20(1)-%20alterado.pdf>. Acesso em: 13 set.
2021.
151
OLIVEIRA, Marcondes Pereira de. Acordo de Não Persecução Penal: repressão/prevenção ao
crime e confissão do investigado. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 178, p. 311-333,
2021.
152
MANDARINO, Renan Posella; SANTIN, Valter Foleto. A atuação do Ministério Público ante a
expansão da justiça penal negociada no Pacote Anticrime. In: CAMBI, Eduardo; SILVA, Danni Sales;
MARINELA, Fernanda (Org.). Pacote anticrime: volume I. Curitiba: Escola Superior do MPPR, 2020,
p. 244.
153
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 231.
48

esferas”154. Já Lopes Júnior155 reconheceu a ilicitude de utilizar tal prova contra o


réu, mas fez a ressalva de que deve ser utilizado o “duplo juiz”, pois não é possível
na prática excluir a confissão do convencimento do juiz, devendo então o juiz da
fase processual ser retirado em favor de outro que não tenha conhecimento do ato
realizado.

154
SOARES, Rafael Junior; BORRI, Luiz Antonio; BATTINI, Lucas Andrey. Breves Considerações
Sobre o Acordo de Não Persecução Penal. Revista do Instituto de Ciências Penais, v. 5, p. 213-
232, 2020.
155
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
86.
49

5 CONCLUSÃO

A legislação, ao passo que tenta diminuir a presença da confissão que outrora


foi considerada a “rainha das provas”, se contradiz ao incentivar seu uso em
momentos como o da proposição do Acordo de Não Persecução Penal. Ter a
confissão como parte fundamental para o acordo assemelha o ato à expiação dos
pecados156 – confessar no contexto do acordo é reconhecer a dívida – e afasta-se
dos preceitos basilares da Justiça.
Não há a busca pela verdade nesse negócio jurídico, apenas a busca pelo
reconhecimento do delito. Só pode ser imposta uma sanção ao indivíduo quando o
delito e a responsabilidade deste forem certos, do contrário é uma arbitrariedade,
constituindo atuação contrária ao ordenamento jurídico brasileiro. O Acordo de Não
Persecução Penal, longe de ser um instrumento em prol da sociedade, aparenta ser
um instrumento que perverte os preceitos do ordenamento jurídico vigente.
A confissão, como meio de prova, é um instrumento para o convencimento do
juiz – sozinha, ela não é suficiente para o afastamento da presunção de inocência do
investigado. Como, então, pode ela ser considerada para a proposição do acordo
sem a análise de um conjunto probatório ainda não existente? O acordo baseia-se
nessa confissão e a outra exigência, a existência de justa causa, não é elemento
suficiente para embasar o acordo e concluir o feito sem o devido processo legal,
uma vez que apenas por meio do contraditório e da ampla defesa é que a culpa do
investigado poderá ser reconhecida157.
O acordo utiliza da incerteza da pessoa quanto ao processo e é uma política
do medo quanto ao castigo – não é mero constrangimento e sim uma verdadeira
coação. O interesse do investigado está claro nesse caso, agindo em resposta ao
ultimato imposto: aceitar uma “pena” menor ao invés de seguir com o processo e as

156
Nas palavras do clássico jurista Beccaria: “Creio que a confissão do réu, que alguns tribunais
exigem, como algo essencial à condenação, tenha origem semelhante [à infâmia], pois, no misterioso
tribunal da penitência, a confissão do pecado é parte essencial do sacramento”. (BECCARIA, Cesare
Bonesana. Dos delitos e das penas. Tradução de J. Cretella Jr., Agnes Cretella. 2. ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 62.)
157
Em artigo sobre o Projeto de Lei Anticrime, foi acertada a argumentação do jurista Nucci pela
inconstitucionalidade do art. 28-A: “Dir-se-á: não há necessidade de provar nada, pois ele ‘abriu mão
do processo’ e ‘confessou tudo’. Fosse tão fácil, quando citado, sem ofertar defesa, nem apresentar
advogado, também poderia ser imediatamente sentenciado pelo juiz, fazendo valer o que vigora na
esfera cível: os efeitos da revelia. Mas não. Ninguém será processado criminalmente, no Brasil, sem
o patrocínio de um defensor e a instrução será necessariamente contraditória. Enfim, o art. 28-A do
projeto é inconstitucional.” (NUCCI, Guilherme de Souza. O Projeto de Lei Anticrime. Revista dos
Tribunais, São Paulo, v. 1010, p. 77-91, 2019.)
50

possíveis provações subsequentes, que poderão ser ou não piores do que as do


acordo.
A confissão para o acordo aparenta revestir-se de legalidade, mas está
repleta de incoerências e é evidentemente inconstitucional. O negócio jurídico que
possui em seu alicerce a confissão do indivíduo como substituto do devido processo
legal não merece espaço no sistema processual. A sua prática é uma afronta à
democracia e aos princípios elementares do Estado – a escolha da pessoa de
declarar-se culpada ou seguir com a Ação Penal e estar sujeita a uma pena
possivelmente pior não é uma escolha de fato.
Essa alternativa ao processo parece, à primeira vista, prometer a substituição
do processo ao colocar a questão em um âmbito mais pessoal – ela promove uma
fantasia de um acordo que dispõe do moroso processo em prol de facilitar um
negócio entre as partes em que todos seriam beneficiados. No entanto, a punição,
com o acordo, seria um espetáculo que convenientemente ignora a real situação em
que o investigado se encontra.
Aplicar uma contraprestação quando não se foi comprovada a autoria do fato,
fazendo uso singularmente da confissão do investigado, expõe um sintoma de uma
sociedade profundamente doente e descrente das instituições judiciárias, as quais
se encontram em crise158. Em vez de buscar soluções equivocadas, deveriam ser
analisadas as verdadeiras fontes de insatisfação, fazendo jus a um paradigma de
justiça mais restaurador159.

158
Nesse sentido, Ferrajoli expôs sobre a crise do direito penal italiano, situação análoga à brasileira:
“[As deformações do direito penal] não dependem apenas do esfacelamento que inevitavelmente
subsiste entre ‘dever ser’ e ‘ser’ em todos ordenamentos jurídicos e em quaisquer ramos do direito.
Depende também de fatores específicos [...]: as sucessivas estratificações mediante as quais é
formado o nosso ordenamento penal; a expansão crescente do papel judiciário em face das
mudanças do sistema político e o manifestar-se da criminalidade organizada que foge aos
parâmetros de estrita legalidade; a vocação congênita do Poder punitivo – Legislativo e Judiciário –
de expandir-se de forma absoluta para além dos limites estabelecidos pelas normas que o regulam.”
(FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer et
al. São Paulo: RT, 2002, p. 564.)
159
Para Zehr, esta busca de alternativas ao sistema retributivo é uma empreitada com um longo
caminho a ser seguido: “Enquanto contemplamos possibilidades mais amplas, devemos também
perseguir metas e atividades intermediárias. Há muitas coisas que podem e devem ser feitas nesse
meio tempo, aqui e agora. Devemos continuar a dialogar, ‘palavrear’ com os simpatizantes e os não
simpatizantes. [...]. Devemos oferecer novos serviços às vítimas, serviços com uma estrutura
restaurativa, incluindo rituais importantes que demonstrem que nós, enquanto comunidade, estamos
com elas no seu sofrimento, na denúncia do mal, e na busca de cura. Precisamos igualmente
oferecer novos serviços aos ofensores e suas famílias. E ao fazê-lo, também explorar alternativas à
punição que ofereçam oportunidades de responsabilização, reparação e empoderamento. (ZEHR,
Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo: Palas
Athena, 2020, p. 226-227.)
51

REFERÊNCIAS

ABRÃO, Guilherme Rodrigues. A expansão da justiça negociada no processo penal


brasileiro: o que se pode (não) aprender da experiência americana com o plea
bargaining. Revista brasileira de ciências criminais, v. 179, p. 177-196, 2021.

ADORNO, Sérgio. Crise no sistema de justiça criminal. Ciência e cultura, v. 54, n.


1, p. 50-51, 2002.

ALSCHULER, Albert W. Plea bargaining and its history. Columbia Law Review, v.
79, n. 1, p. 1-43, 1979.

AVENA, Norberto. Processo Penal. 13. ed. São Paulo: Método, 2021.

BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos delitos e das penas. Tradução de J. Cretella


Jr., Agnes Cretella. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. 4. ed. São Paulo:


Saraiva Educação, 2011.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal volume 1 - parte geral.


26. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

BRAITHWAITE, John. Principles of Restorative Justice. In: VON HIRSCH, Andrew et


al. (Ed.). Restorative Justice and Criminal Justice: Competing or Reconcilable
Paradigms. Portland: Hart Publishing, 2003.

BRASIL. CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciado nº 28. I Jornada de


Direito e Processo Penal. Brasília: CJF, 2020. Disponível em:
<https://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2020/08-agosto/i-jornada-de-direito-e-processo-
penal-aprova-32-enunciados/EnunciadosaprovadosnaPlenriaIJDPP.pdf>. Acesso
em: 15 jun. 2021.

BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2020.


Brasília: CNJ, 2020, p. 192-194. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/pesquisas-
judiciarias/justica-em-numeros/>. Acesso em: 08 abr. 2021.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em: 18 jun. 2021.

BRASIL. Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção


Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de
novembro de 1969. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm>. Acesso em: 19 jun.
2021.
52

BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo


Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 25 mai. 2021.

BRASIL. INFOPEN. Levantamento nacional de informações penitenciárias.


Atualização – junho de 2017. Marcos Vinícius Moura (Org.). Brasília: Ministério da
Justiça e Segurança Pública, Departamento Penitenciário Nacional, 2019, p. 07.
Disponível em:
<http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorios-
sinteticos/infopen-jun-2017-rev-12072019-0721.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2021.

BRASIL. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Reincidência


criminal no Brasil: relatório de pesquisa. Rio de Janeiro: IPEA, 2015, p. 22-23.
Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&amp;id=25590/>.
Acesso em: 08 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e


dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações
penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e
dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso
em: 24 mai. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação penal


e processual penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/L13964.htm>. Acesso em: 12 mai. 2021.

BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados


Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.

BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HC 615.384/SP. Rel. Min. Reynaldo


Soares da Fonseca, Quinta Turma. Julgado em 09.02.2021. DJe de 11.02.2021.
Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=20200250469
5&dt_publicacao=11/02/2021>. Acesso em 15 jun. 2021.

BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Súmula 545. Quando a confissão for


utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante
prevista no art. 65, III, d, do Código Penal. DJe 19.10.2015. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/sumstj/>. Acesso em: 05 ago. 2021.

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 191.124 AgR. Rel. Min. Alexandre


de Moraes. Primeira Turma. Julgado em 08.04.2021. DJe 069 de 13.04.2021.
53

Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur444020/false>.


Acesso em: 27 mai. 2021.

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 191.464 AgR. Rel. Min. Roberto


Barroso. Primeira Turma. Julgado em 11.11.2020. DJe 280 de 26.11.2020.
Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur437121/false>.
Acesso em: 25 mai. 2021.

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 194.677. Rel. Min. Gilmar Mendes.


Segunda Turma. Julgado em 11.05.2021. DJe 161, de 13.08.2021. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur450789/false>. Acesso em 25 ago.
2021.

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula 696. Reunidos os pressupostos


legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o
Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
DJ de 09/10/2003, DJ de 10.10.2003, DJ de 13.10.2003. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula696/false>. Acesso em: 24
mai. 2021.

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante 14. É direito do


defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
DJe 26 de 09.02.2009, DOU de 09.02.2009. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula762/false>. Acesso em: 26
jul. 2021.

CANOTILHO, J. J.; BRANDÃO, Nuno. Colaboração premiada: reflexões críticas


sobre os acordos fundantes da Operação Lava Jato. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, v. 133, p. 133-171, 2017.

CAPPELARI, Mariana Py Muniz. Do acordo de não persecução penal na Lei nº


13.964/2019. In: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
CENTRO DE ESTUDOS JURÍDICOS. COORDENAÇÃO DE DEFESA CRIMINAL
(Org.). Primeiras impressões sobre a Lei 13.964/2019: pacote "anticrime": a
visão da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Defensoria Pública do Estado do Rio
de Janeiro, 2020.

CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de. Comentários ao art. 5º, LXIII.
In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang;
STRECK, Lenio Luiz (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2018.
54

COUTINHO, Jacinto. Comentários ao art. 5º, LIII. In: CANOTILHO, J.J. Gomes;
MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (Coords.).
Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrime – Lei 13.964/2019: Comentários às


Alterações no CP, CPP e LEP. Salvador: JusPodivm, 2020.

DA CRUZ, Flavio Antônio. Plea bargaining e delação premiada: algumas


perplexidades. Revista Jurídica da Escola Superior da Advocacia da OAB-PR.
Paraná, v. 2, p. 5-6, 2016.

DALY, Kathleen; PROIETTI-SCIFONI, Gitana. Reparation and Restoration. In:


TONRY, Michael (Ed.). The Oxford handbook of crime and criminal justice.
Oxford University Press, 2011.

DE VASCONCELLOS, Vinicius Gomes. Colaboração premiada e negociação na


justiça criminal brasileira: acordos para aplicação de sanção penal consentida pelo
réu no processo penal. Revista brasileira de ciências criminais, v. 166, p. 241-
274, 2020.

DEMERCIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge Assaf. Teoria e prática dos


juizados especiais criminais. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

FERRAJOLI, Luigi. Poderes selvagens: a crise da democracia italiana. Tradução


de Alexander Araujo de Souza. São Paulo: Saraiva, 2014.

FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana


Paula Zomer et al. São Paulo: RT, 2002.

FREIRE, Ranulfo de Mello. Valor Probatório do Inquérito Policial. Revista Brasileira


de Ciências Criminais, v. 0, p. 133-138, 1992.

GIACOMOLLI, Nereu José. Comentários ao art. 5º, LVII. In: CANOTILHO, J.J.
Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz
(Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.

GILLIÉRON, Gwladys. Comparing Plea Bargaining and Abbreviated Trial


Procedures. In: BROWN, Darryl K.; TURNER, Jenia Iontcheva; WEISSER, Bettina
(Ed.). The Oxford Handbook of Criminal Process, 2019.

GNCCRIM. GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE CENTRO DE APOIO


CRIMINAL (GNCCRIM). Comissão Especial: Enunciados Interpretativos Da Lei
Anticrime (Lei nº 13.964/2019). CNPG, 2020. Disponível em:
<https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/GNCCRIM_-
_ANALISE_LEI_ANTICRIME_JANEIRO_2020.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2021.
55

GRANJEIRO, Ivonete Araújo Carvalho Lima. Justiça restaurativa: uma janela aberta
para os caos de violência conjugal mútua. Revista dos Tribunais, v. 940, p. 155-
181, 2014.

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães, FERNANDES,


Antonio Scarance; GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais criminais:
comentários à Lei 9.099, de 26.09.95. 5. ed. São Paulo: RT, 2005.

HARTMANN, Stefan Espírito Santo. O papel do juiz nos acordos de colaboração


premiada. In: PACELLI, Eugênio; CORDEIRO, Nefi; REIS JÚNIOR, Sebastião dos
(Org.). Direito penal e processual penal contemporâneos. São Paulo: Atlas,
2019.

HULSMAN, Louk; CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas perdidas: o sistema penal
em questão. Tradução de Maria Lúcia Karan. Niterói: Luam, 1993.

JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2021.

LANGBEIN, John H. Understanding the short history of plea bargaining. Law &
Soc'y Rev., v. 13, p. 261, 1978.

LOPES JÚNIOR, Aury. A tridimensionalidade da crise do processo penal brasileiro:


crise existencial, identitária da jurisdição e de (in) eficácia do regime de liberdade
individual. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 143, p. 117-153, 2018.

LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2021.

LOPES JUNIOR, Aury. Fundamentos do Processo Penal. 7. ed. São Paulo:


Saraiva Educação, 2021.

LOPES JÚNIOR, Aury; PINHO, Ana Claudia Bastos de; ROSA, Alexandre Morais da.
Pacote Anticrime: um ano depois. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

LOPES JÚNIOR, Aury; JOSITA, Higyna. Questões polêmicas do acordo de não


persecução penal. Consultor Jurídico. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2020-mar-06/limite-penal-questoes-polemicas-acordo-
nao-persecucao-penal>. Acesso em: 27 mai. 2021.

MANDARINO, Renan Posella; SANTIN, Valter Foleto. A atuação do Ministério


Público ante a expansão da justiça penal negociada no Pacote Anticrime. In: CAMBI,
Eduardo; SILVA, Danni Sales; MARINELA, Fernanda (Org.). Pacote anticrime:
volume I. Curitiba: Escola Superior do MPPR, 2020.

MELLO, Celso Antonio Bandeira. O Poder Discricionário e o Controle


Jurisdicional. São Paulo: Malheiros Editores, 1992.
56

MENDES, Gilmar Ferreira. Comentários ao art. 5º, LIV. In: CANOTILHO, J.J.
Gomes; ______; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (Coords.).
Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

MENDES, Soraia da Rosa; MARTÍNEZ, Ana Maria. Pacote anticrime: comentários


críticos à Lei 13.964/2019. São Paulo: Atlas, 2020.

MOUGENOT, Edilson. Curso de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.

NARDELLI, Marcella Alves Mascarenhas. A expansão da justiça negociada e as


perspectivas para o processo justo: a plea bargaining norte-americana e suas
traduções no âmbito da civil law. Revista Eletrônica de Direito Processual, v. 14,
n. 1, 2014.

NETTO, Alamiro Velludo Salvador et al. Pacote Anticrime - Comentários à Lei n.


13.964/2019. São Paulo: Almedina Brasil, 2020.

NUCCI, Guilherme de Souza. Comentários ao art. 5º, LV. In: MORAES, Alexandre
de et al. Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2021.

NUCCI, Guilherme de Souza. O Projeto de Lei Anticrime. Revista dos Tribunais,


São Paulo, v. 1010, p. 77-91, 2019.

OLIVEIRA, Marcondes Pereira de. Acordo de Não Persecução Penal:


repressão/prevenção ao crime e confissão do investigado. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, v. 178, p. 311-333, 2021.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas,
2021.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli; FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de


Processo Penal e sua Jurisprudência. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021.

PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021.

PGJ-CGMP. PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA. SUBPROCURADORIA-


GERAL DE JUSTIÇA JURÍDICA. Enunciados PGJ-CGMP – Lei 13.964/19. PGJ-
CGMP, 2020. Disponível em:
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Enunciado
s_CAOCRIM/Enunciados%20PGJ-CGMP%20-%20Lei%2013.964-19%20(1)-
%20alterado.pdf>. Acesso em: 13 set. 2021.

PINTO, Renato Sócrates Gomes. Justiça restaurativa é possível no Brasil. In:


______; SLAKMON, Catherine; DE VITO, Renato Sócrates Gomes (Org.).
57

Justiça restaurativa. Brasília: Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas


para o Desenvolvimento, 2005.

RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020.

REALE JÚNIOR, Miguel. Fundamentos de direito penal. 5. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2020.

RIBEIRO, Leo Maciel Junqueira; DA SILVA COSTA, Victor Cezar Rodrigues. Acordo
de não persecução penal: um caso de direito penal das consequências levado às
últimas consequências. Revista brasileira de ciências criminais, v. 161, p. 249-
278, 2019.

SALES, Danni; SANTOS, Fernanda Marinela de Sousa. Acordo de Não Persecução


Penal e os limites da renúncia aos direitos e às garantias fundamentais. In: CAMBI,
Eduardo; SILVA, Danni Sales; MARINELA, Fernanda (Org.). Pacote anticrime:
volume I. Curitiba: Escola Superior do MPPR, 2020.

SANTORO, Antonio Eduardo Ramires; FILPO, Klever Paulo Leal. Abrir espaço para
as soluções consensuais no processo penal brasileiro? Reflexões a partir do modelo
empregado na Cidade Autônoma de Buenos Aires. Revista brasileira de ciências
criminais, v. 150, p. 121-144, 2018.

SANTOS, Cláudia. Um crime, dois conflitos (e a questão revisitada, do "roubo do


conflito" pelo Estado). Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 71, p. 31-49,
2008.

SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 6. ed. Curitiba: ICPC
Cursos e Edições, 2014.

SANTOS, Marco Paulo Dutra. Comentários ao Pacote Anticrime. Rio de Janeiro:


Forense; São Paulo: Método, 2020.

SOARES, Rafael Junior; BORRI, Luiz Antonio; BATTINI, Lucas Andrey. Breves
Considerações Sobre o Acordo de Não Persecução Penal. Revista do Instituto de
Ciências Penais, v. 5, p. 213-232, 2020.

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados


especiais federais cíveis e criminais: comentários à Lei n. 10.259, de 12-7-2001.
4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

UNITED STATES SENTENCING COMISSION. 2019 Annual Report and


Sourcebook of Federal Sentencing Statistics, Table 11. Disponível em:
<https://www.ussc.gov/sites/default/files/pdf/research-and-publications/annual-
reports-and-sourcebooks/2019/2019-Annual-Report-and-Sourcebook.pdf>. Acesso
em: 17 jun. 2021.
58

VOGEL, Mary. Plea Bargaining under the Common Law. In: BROWN, Darryl K.;
TURNER, Jenia Iontcheva; WEISSER, Bettina (Ed.). The Oxford Handbook of
Criminal Process, 2019.

WALMSLEY, Roy et al. World prison population list. London: Home Office, 2018.

WEDY, Miguel Tedesco; KLEIN, Maria Eduarda Vier. O futuro do direito penal
negocial e o Estado Democrático de Direito. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, v. 156, p. 279-306, 2019.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda da


legitimidade do sistema penal. Tradução de Vânia Romano Pedrosa, Amir Lopez
da Conceição. 5. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001.

ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4.


ed. São Paulo: Palas Athena, 2020.

Você também pode gostar