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CURITIBA
2021
ISABELLA DE OLIVEIRA GONÇALVES
CURITIBA
2021
ISABELLA DE OLIVEIRA GONÇALVES
________________________________
Curitiba, de de 2021
A justiça existe, é preciso que exista, quero que
exista. Vocês, juízes, têm de me ouvir. Deixemos os
astros em seu céu, ajudemo-nos entre nós, aqui na
terra, a mitigar de perto, com um pouco de justiça
humana, a injustiça distante e impassível das
estrelas.
(Piero Calamandrei)
RESUMO
In a time where alternative methods to the judicial process are sought after, the
creation of the Non-Criminal Prosecution Agreement with Law 13.964/19 expanded
the consensual space in the Brazilian legal system. However, the requirement of the
guilty plea is controversial. The goal of this work is to analyze the guilty plea and its
requirement to the signing of the deal. To this end, an analysis of the historical
context of the provision, newest doctrine of criminal bargaining, was made. The
characterization of the provision in its entirety was also studied so that the
requirement of the confession could be verified. With the work’s conclusion, it was
reasoned that to impose upon the defendant a guilty plea without due process is
unconstitutional, and the agreement, which has the guilty plea as its basis, is
defective. To effectively deal with the delegitimisation of the criminal procedure it will
be necessary to observe the society’s dissatisfaction source, instead of offering a
fallacious instrument.
Keywords: Non-Criminal Prosecution Agreement. Criminal Bargaining. Guilty Plea.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8
2 A MUDANÇA DE PARADIGMA NA APLICAÇÃO DO PROCESSO PENAL ...... 10
2.1 PREMISSAS DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ........................................ 10
2.2 A CRISE DO PROCESSO PENAL TRADICIONAL ............................................ 11
2.3 PRÁTICAS RESTAURATIVAS ........................................................................... 13
2.3.1 A justiça restaurativa ....................................................................................... 13
2.3.2 A resolução alternativa de conflitos penais no Brasil....................................... 15
2.4 A JUSTIÇA CRIMINAL NEGOCIAL.................................................................... 16
2.4.1 Institutos advindos da Lei nº 9.099/95 ............................................................. 16
2.4.2 A colaboração premiada.................................................................................. 21
3 O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL .................................................... 23
3.1 LEGISLAÇÕES RELEVANTES FORMULADAS SOBRE O ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL............................................................................................ 23
3.1.1 A Resolução nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público .......... 23
3.1.2 A Lei nº 13.964/19 ........................................................................................... 23
3.2 A APLICAÇÃO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL ....................... 25
3.2.1 A retroatividade do instituto ............................................................................. 25
3.2.2 Requisitos e hipóteses de vedação legal ........................................................ 26
3.2.3 Condições a serem negociadas ...................................................................... 30
3.2.4 Procedimento a ser seguido ............................................................................ 31
3.2.5 Cumprimento e violação do acordo ................................................................. 31
3.2.6 Aplicação em ações penais de iniciativa privada ............................................ 32
3.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL
E OUTROS INSTITUTOS ........................................................................................ 33
3.3.1 O Acordo de Não Persecução Penal e o Plea bargain .................................... 33
3.3.2 O Acordo de Não Persecução Penal, a transação penal e a suspensão
condicional do processo ........................................................................................... 35
4 A EXIGÊNCIA DA CONFISSÃO ........................................................................... 37
4.1 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS E CONSTITUCIONAIS ........................ 37
4.1.1 O devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa ............................. 37
4.1.2 A presunção de inocência ............................................................................... 40
4.1.3 O princípio da proporcionalidade ..................................................................... 41
4.2 O PAPEL DA CONFISSÃO NO PROCESSO PENAL ........................................ 41
4.3 A CONFISSÃO NO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL ...................... 44
4.3.1 A voluntariedade da confissão ........................................................................ 44
4.3.2 A proporcionalidade da confissão.................................................................... 45
4.3.3 A culpabilidade do indivíduo diante da confissão ............................................ 45
4.3.4 Possíveis reflexos em caso de revogação do acordo...................................... 46
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 51
8
1 INTRODUÇÃO
1
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2021, p. 123.
2
Howard Zehr, um dos pioneiros da justiça restaurativa, se propôs a ver fora da visão retributiva ao
questionar o conceito de justiça: “Se o crime é um dano, uma lesão, o que é a justiça?”. Nesta visão
restaurativa, para o crime, a resposta seria um ato de restauração para reparar a lesão e a vítima, ao
contrário da visão retributiva, que define o crime de maneira abstrata. (ZEHR, Howard. Trocando as
lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo: Palas Athena, 2020, p. 175-
176.)
9
3
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 21.
4
FERRAJOLI, Luigi. Poderes selvagens: a crise da democracia italiana. Tradução de Alexander
Araujo de Souza. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 27.
11
5
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021, p. 21.
6
LOPES JUNIOR, Aury. Fundamentos do Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2021, p. 12.
7
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
12.
8
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema
penal. Tradução de Vânia Romano Pedrosa, Amir Lopez da Conceição. 5. ed. Rio de Janeiro: Revan,
2001, p. 15.
9
ADORNO, Sérgio. Crise no sistema de justiça criminal. Ciência e cultura, v. 54, n. 1, p. 50-51,
2002.
10
HULSMAN, Louk; CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas perdidas: o sistema penal em questão.
Tradução de Maria Lúcia Karan. Niterói: Luam, 1993, p. 66.
12
11
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal volume 1 - parte geral. 26. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 61.
12
“A Justiça Estadual é o segmento com maior representatividade de litígios no Poder Judiciário, com
68,4% da demanda. Na área criminal essa representatividade aumenta para 91,4%. [...] Os
resultados dos tempos médios dos processos baixados no ano de 2019, por tribunal, indicam
cenários distintos no 2º grau e nos tribunais superiores. A Justiça Eleitoral é a única em que o
processo criminal demora mais que o não criminal. Nos Tribunais Regionais Federais, o processo
baixado não criminal durou, em média, o dobro do tempo do criminal em 2019. Na Justiça Estadual,
os casos criminais duraram uma média de 4 meses a menos que os não criminais. Na fase de
conhecimento de 1º grau ocorre o inverso do observado no 2º grau: o tempo do processo criminal é
maior que o do não criminal. Os processos criminais duraram, em média, 1 ano e 3 meses a mais do
que os não criminais, sendo essa realidade verificada em todos os segmentos de justiça. [...] A taxa
de congestionamento criminal (70%) supera a não criminal (56,5%), para essa fase/instância.”
(BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2020. Brasília: CNJ, 2020, p.
192-194. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/>. Acesso
em: 08 abr. 2021).
13
LOPES JÚNIOR, Aury. A tridimensionalidade da crise do processo penal brasileiro: crise
existencial, identitária da jurisdição e de (in) eficácia do regime de liberdade individual. Revista
Brasileira de Ciências Criminais, v. 143, p. 117-153, 2018.
14
WALMSLEY, Roy et al. World prison population list. London: Home Office, 2018, p. 02.
15
BRASIL. INFOPEN. Levantamento nacional de informações penitenciárias. Atualização –
junho de 2017. Marcos Vinícius Moura (Org.). Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública,
Departamento Penitenciário Nacional, 2019, p. 07. Disponível em:
<http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorios-sinteticos/infopen-jun-2017-rev-
12072019-0721.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2021.
16
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2011, p. 230.
13
17
“Entre os 817 processos válidos para o cálculo da taxa de reincidência, foram constatadas 199
reincidências criminais. De tal modo, a taxa de reincidência, calculada pela média ponderada, é de
24,4%.” (BRASIL. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Reincidência criminal no
Brasil: relatório de pesquisa. Rio de Janeiro: IPEA, 2015, p. 22-23. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&id=25590/>. Acesso em: 08 abr.
2021).
18
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 6. ed. Curitiba: ICPC Cursos e Edições,
2014, p. 425-427.
19
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2020, p. 187.
14
We can observe, for example, that in the last century and a half, criminal
justice has wavered between desires to treat some and punish others; and
there are multiple, often contrary, aims, purposes, and practices of criminal
justice. For some writers, it was clear early on that apparently contrary
20
SANTOS, Cláudia. Um crime, dois conflitos (e a questão revisitada, do "roubo do conflito" pelo
Estado). Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 71, p. 31-49, 2008.
21
GRANJEIRO, Ivonete Araújo Carvalho Lima. Justiça restaurativa: uma janela aberta para os caos
de violência conjugal mútua. Revista dos Tribunais, v. 940, p. 155-181, 2014.
22
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2020, p. 207.
23
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2020, p. 209.
15
24
DALY, Kathleen; PROIETTI-SCIFONI, Gitana. Reparation and Restoration. In: TONRY, Michael
(Ed.). The Oxford handbook of crime and criminal justice. Oxford University Press, 2011, p. 09.
25
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2020, p. 213-214.
26
“Compared with restorative dialogue, even non-restorative dialogue, punishment is less respectful.
That is not to say we should never resort to it. But when we do it should be on consequentialist
grounds – because there is no alternative way of resisting injustice. We should then do so as
respectfully as we can, but without deluding ourselves that hitting or confining can be inherently
respectful. [...] Citizen empowerment, I wish to argue, should be a higher-order value of restorative
justice than, for example, non-punitiveness. Genuine empowerment means that the punitiveness of
punitive people is not ruled out of order. Restorative justice allows punitive outcomes so long as they
do not exceed upper constraints imposed by the law nor abuse fundamental human rights.”
(BRAITHWAITE, John. Principles of Restorative Justice. In: VON HIRSCH, Andrew et al. (Ed.).
Restorative Justice and Criminal Justice: Competing or Reconcilable Paradigms. Portland: Hart
Publishing, 2003, p. 02-05.)
27
PINTO, Renato Sócrates Gomes. Justiça restaurativa é possível no Brasil. In: ______; SLAKMON,
Catherine; DE VITO, Renato Sócrates Gomes (Org.). Justiça restaurativa. Brasília: Ministério da
Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2005, p. 29.
16
A busca por uma expansão nos espaços de consenso não é recente. A Lei nº
9.099/95 é considerada um dos primeiros passos do legislativo na área de justiça
criminal negocial ao instituir os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da
Justiça Estadual – estes com sua criação prevista no art. 98, inciso I, da Constituição
Federal de 1988. Quanto aos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal, foi
necessária uma lei federal: a Lei nº 10.259/2001. Grinover et al. descreveu que a Lei
nº 9.099/95 foi “uma verdadeira revolução no sistema processual-penal brasileiro.
[...] A lei não sei contentou em importar soluções de outros ordenamentos, mas –
conquanto por eles inspirado – cunhou um sistema próprio de Justiça penal
consensual”28.
Os Juizados Especiais Criminais, no art. 62 da Lei nº 9.099/95, colocam como
princípios de seu processo a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia
processual e a celeridade. Quando no âmbito federal e aplicável também no âmbito
estadual, essas diretrizes vieram do interesse de “equacionar o acesso à jurisdição
federal com a instrumentalidade e a efetivação do processo (acesso à ordem jurídica
justa), mediante a redução da litigiosidade contida, diminuindo-se de maneira reflexa
a carga de demandas”29, como expuseram Figueira Júnior e Tourinho Neto.
28
GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães, FERNANDES, Antonio Scarance;
GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.95. 5. ed.
São Paulo: RT, 2005, p. 41.
29
TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados especiais
federais cíveis e criminais: comentários à Lei n. 10.259, de 12-7-2001. 4. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018, p. 63-64.
17
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).31
O art. 89, embora esteja na Lei nº 9.099/95, não é pertinente somente aos
Juizados Especiais Criminais, podendo ser aplicado a outros ritos – com a exceção
da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), visto que os crimes abrangidos pela lei
não são considerados crimes de pequeno potencial ofensivo, sendo mais rigorosa a
legislação para tais hipóteses.
A suspensão condicional do processo não se confunde com a suspensão
condicional da pena, haja vista que na segunda há sentença condenatória. O
instituto é oferecido de maneira obrigatória pelo Ministério Público – observando a
Súmula 696 do Supremo Tribunal Federal 32 em situações do não oferecimento – em
um momento posterior à denúncia, de modo a evitar a sentença condenatória. Nele,
30
MOUGENOT, Edilson. Curso de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p.
804.
31
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
32
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula 696. Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a
propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o
art. 28 do Código de Processo Penal. DJ de 09/10/2003, DJ de 10.10.2003, DJ de 13.10.2003.
Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula696/false>. Acesso em: 24
mai. 2021.
18
33
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
34
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
338.
35
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
36
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
19
37
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
337.
38
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
39
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 612.
20
40
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
334.
41
MELLO, Celso Antonio Bandeira. O Poder Discricionário e o Controle Jurisdicional. São Paulo:
Malheiros Editores, 1992, p. 32.
42
DEMERCIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge Assaf. Teoria e prática dos juizados especiais
criminais. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 76.
43
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer et
al. São Paulo: RT, 2002, p. 600.
44
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
346.
21
A vítima passou a ser uma parte importante no processo, além de ter sido
aberto um espaço para a conciliação e a verdade decorrente dela. A Lei nº 9.099/95,
em suma, introduziu um novo viés de justiça onde a conciliação tem um papel de
relevância. Assim, passou-se a ser procurada uma solução mais restaurativa ao
conflito.
45
GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães, FERNANDES, Antonio Scarance;
GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.95. 5. ed.
São Paulo: RT, 2005, p. 50.
46
BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento
criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº
9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
47
HARTMANN, Stefan Espírito Santo. O papel do juiz nos acordos de colaboração premiada. In:
PACELLI, Eugênio; CORDEIRO, Nefi; REIS JÚNIOR, Sebastião dos (Org.). Direito penal e
processual penal contemporâneos. São Paulo: Atlas, 2019, p. 159.
22
Além de balizada pelos limites postos pelo objecto estabelecido pela Lei
12.850/2013 – no sentido ora adiantado de que só poderá abranger a
organização criminosa integrada pelo colaborador e os crimes de tal
organização –, a colaboração premiada conhece ainda uma limitação
processual. Concretamente, e como transparece dos §§ 2º e 5º do art. 4º da
Lei 12.850/2013, só pode ter eficácia no específico âmbito de um dado
processo em que tenha sido pactuada. Funcionando
a colaboração premiada como um meio de obtenção de prova, terá ela
necessariamente de emergir num certo contexto processual pré-existente, a
fim de favorecer a recolha de provas úteis ao esclarecimento dos factos
objecto do processo. Um processo, aliás, em que, tratando-se de uma
colaboração pré-sentencial, o colaborador deve ser co-réu, já que só deste
modo é que terá sentido acenar-lhe com determinados benefícios como
contrapartida de uma sua colaboração. De mais a mais, só existindo um
processo, e no contexto de um processo, será viável o acto de
homologação judicial.49
Ademais, como expôs Nucci50, esse acordo é tido como mitigador do princípio
da obrigatoriedade da ação penal, característica da justiça negocial penal.
De acordo com Pacelli, o juiz nesse negócio penal “não é e não pode ser
considerado protagonista das ‘operações’ tendentes ao estabelecimento de acordos
de colaboração premiada”51.
Além do Ministério Público, o Delegado de Polícia tem legitimidade para
propor o acordo, uma vez que configura agente público; é necessária, no entanto, a
supervisão do Ministério Público, conforme explicaram Wedy e Klein52.
48
BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento
criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº
9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 24 mai. 2021.
49
CANOTILHO, J. J.; BRANDÃO, Nuno. Colaboração premiada: reflexões críticas sobre os acordos
fundantes da Operação Lava Jato. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 133, p. 133-171,
2017.
50
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 91.
51
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 672.
23
52
WEDY, Miguel Tedesco; KLEIN, Maria Eduarda Vier. O futuro do direito penal negocial e o Estado
Democrático de Direito. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 156, p. 279-306, 2019.
53
DE VASCONCELLOS, Vinicius Gomes. Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal consentida pelo réu no processo penal. Revista
brasileira de ciências criminais, v. 166, p. 241-274, 2020.
54
SANTORO, Antonio Eduardo Ramires; FILPO, Klever Paulo Leal. Abrir espaço para as soluções
consensuais no processo penal brasileiro? Reflexões a partir do modelo empregado na Cidade
Autônoma de Buenos Aires. Revista brasileira de ciências criminais, v. 150, p. 121-144, 2018.
24
política criminal ao impor um tratamento mais severo para crimes violentos ao passo
que procurou uma solução mais rápida aos crimes não violentos, a Lei resultou da
tramitação conjunta dos Projetos de Lei nº 10.372 e 10.373, de 2018 – estes
apresentados por uma comissão de juristas coordenados pelo atual Ministro do
Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes –, bem como do Projeto de Lei nº
882/2019 – este articulado por Sérgio Moro, Ex-Ministro da Justiça e Segurança
Pública do Brasil. Ela entrou em vigor em 23 de janeiro de 2020, após o período de
vacatio legis de 30 dias.
A Lei, que em seu primeiro artigo dispõe que “aperfeiçoa a legislação penal e
processual penal”55, alterou as mais diversas legislações do ordenamento jurídico
brasileiro. Além do Código Penal e do Código de Processo Penal, alterou a Lei nº
7.210/1984 (Lei de Execução Penal), a Lei nº 8.072/1990 (Lei de Crimes
Hediondos), a Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa), a Lei nº
9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica), a Lei nº 9.613/1998 (Lei de Lavagem
de Dinheiro), Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), a Lei nº 11.343/2006
(Lei de Drogas), a Lei nº 11.671/2008 (Lei dos Presídios Federais), a Lei nº
12.037/2009 (Lei de Identificação Criminal), a Lei nº 12.694/2012 (Lei do Julgamento
Colegiado de Primeiro Grau), a Lei nº 12.850/2013 (Lei de Organizações
Criminosas), a Lei nº 13.608/2018 (Lei do “Disque-denúncia”), a Lei nº 8.038/1990
(Lei das Ações Penais Originárias), a Lei nº 13.756/2018 (Lei do Fundo Nacional do
Sistema Penitenciário) e o Código de Processo Penal Militar.
Dentre as mudanças promovidas pela Lei, no âmbito material houve o
aumento do limite máximo do tempo de cumprimento das penas privativas de
liberdade, passando de 30 anos para 40 (art. 75 do Código Penal). Além do Acordo
de Não Persecução Penal, negociação prevista no art. 28-A, outra das alterações
processuais mais relevantes é a advinda da inclusão do Juiz das Garantias. De
modo a garantir os direitos do acusado e firmar o sistema processual brasileiro como
um modelo acusatório dos países democráticos, faz-se uso do “duplo juiz”,
separando o juiz que fiscaliza a fase pré-processual do juiz que irá julgar o processo,
elucidou Pacelli56. Esta figura, nas palavras de Lopes Júnior, “atua como juiz e não
55
BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação penal e processual
penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm>.
Acesso em: 12 mai. 2021.
56
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 172.
25
Com sua correta inserção no ordenamento jurídico brasileiro pelo art. 28-A da
Lei nº 13.964/19, o Acordo de Não Persecução Penal é um instituto que ampliou o
espaço de negociação penal, sendo uma medida despenalizadora. O mecanismo
possui natureza mista, ou seja, processual e material, uma vez que criou um instituto
que impede o oferecimento da denúncia e que se cumprido, resulta na extinção da
punibilidade59.
Quanto à retroatividade do instituto, está sendo observada a tese do Supremo
Tribunal Federal pela Primeira Turma, a qual teve como relator o Ministro Roberto
Barroso:
57
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
51.
58
MENDES, Soraia da Rosa; MARTÍNEZ, Ana Maria. Pacote anticrime: comentários críticos à Lei
13.964/2019. São Paulo: Atlas, 2020, p. 11.
59
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 67.
26
se inicie processo, razão pela qual, por consequência lógica, não se justifica
discutir a composição depois de recebida a denúncia.60
60
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 191.464 AgR. Rel. Min. Roberto Barroso. Primeira
Turma. Julgado em 11.11.2020. DJe 280 de 26.11.2020. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur437121/false>. Acesso em: 25 mai. 2021.
61
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli; FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e
sua Jurisprudência. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 136.
62
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 25 mai.
2021.
27
63
SANTOS, Marcos Paulo Dutra. Comentários ao pacote anticrime. Rio de Janeiro: Forense, 2020,
p. 219.
64
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 60.
65
GNCCRIM. GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE CENTRO DE APOIO CRIMINAL
(GNCCRIM). Comissão Especial: Enunciados Interpretativos Da Lei Anticrime (Lei nº
13.964/2019). CNPG, 2020. Disponível em: <https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/GNCCRIM_-
_ANALISE_LEI_ANTICRIME_JANEIRO_2020.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2021.
66
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 25 mai.
2021.
67
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 231.
28
68
“Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o artigo 28-A, serão
consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto, na linha do que já
dispõe os enunciados sumulados nº 243 e nº 723, respectivamente, do Superior Tribunal de Justiça e
Supremo Tribunal Federal.” (GNCCRIM. GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE CENTRO
DE APOIO CRIMINAL (GNCCRIM). Comissão Especial: Enunciados Interpretativos Da Lei
Anticrime (Lei nº 13.964/2019). CNPG, 2020. Disponível em:
<https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/GNCCRIM_-
_ANALISE_LEI_ANTICRIME_JANEIRO_2020.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2021.)
69
LOPES JÚNIOR, Aury; PINHO, Ana Claudia Bastos de; ROSA, Alexandre Morais da. Pacote
Anticrime: um ano depois. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 49.
70
LOPES JÚNIOR., Aury; JOSITA, Higyna. Questões polêmicas do acordo de não persecução penal.
Consultor Jurídico. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2020-mar-06/limite-penal-questoes-
polemicas-acordo-nao-persecucao-penal>. Acesso em: 27 mai. 2021.
71
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 191.124 AgR. Rel. Min. Alexandre de Moraes.
Primeira Turma. Julgado em 08.04.2021. DJe 069 de 13.04.2021. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur444020/false>. Acesso em: 27 mai. 2021.
29
79
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 62.
80
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 232.
81
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 26 mai.
2021.
82
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 26 mai.
2021.
83
BRASIL. CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciado nº 28. I Jornada de Direito e Processo
Penal. Brasília: CJF, 2020. Disponível em: <https://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2020/08-agosto/i-
jornada-de-direito-e-processo-penal-aprova-32-
enunciados/EnunciadosaprovadosnaPlenriaIJDPP.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2021.
31
85
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 202.
86
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HC 615.384/SP. Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, Quinta Turma. Julgado em 09.02.2021. DJe de 11.02.2021. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=202002504695&dt_publicacao
=11/02/2021>. Acesso em 15 jun. 2021.
87
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada – artigo por artigo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021, p. 67.
88
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 203.
33
Por outro lado, há a posição de que “se a vítima pode, simplesmente, não
ofertar a queixa-crime, com razão ainda maior pode deixar de fazê-lo mediante o
cumprimento de determinada regra de conduta e/ou pagamento de prestação
pecuniária pelo suposto auto do fato”89, como expôs Dutra Santos. É a mesma
posição de Lopes Júnior, o qual afirmou que “uma vez preenchidos os requisitos
legais anteriormente explicados, pode o querelante propor o acordo de não
persecução penal, até porque a ação penal de iniciativa privada é plenamente
disponível”90.
Uma das inspirações do Acordo de Não Persecução Penal, bem como outros
instrumentos de barganha, foi o instituto processual penal do plea bargain – o qual
foi inicialmente parte do Pacote Anticrime, mas acabou sendo retirado. Sendo parte
das soluções consensuais e frequentemente utilizado nos Estados Unidos da
América, foi alcançado em 2019 o número de 97,6% de condenações decorridas de
acordos a nível federal91.
Alshuler92 descreveu o plea bargain como um acordo entre a acusação e a
defesa, no qual o acusado aceita confessar o crime com o intuito de receber
privilégios, indo contra os desígnios da Sexta Emenda da Constituição de 1787 do
país. Em uma análise sobre a história do mecanismo, Langbein93 constatou que um
89
SANTOS, Marcos Paulo Dutra. Comentários ao pacote anticrime. Rio de Janeiro: Forense, 2020,
p. 216.
90
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
88.
91
UNITED STATES SENTENCING COMISSION. 2019 Annual Report and Sourcebook of Federal
Sentencing Statistics, Table 11. Disponível em:
<https://www.ussc.gov/sites/default/files/pdf/research-and-publications/annual-reports-and-
sourcebooks/2019/2019-Annual-Report-and-Sourcebook.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2021.
92
“As I see it, plea bargaining consists of the exchange of official concessions for the act of self-
conviction. The concessions given a defendant may relate to sentence, the offense charged, or a
variety of other circumstances; they may be explicit or implicit; and they may proceed from any of a
number of officials. The benefit offered by the defendant, however, is always the same-entry of a plea
of guilty.” (ALSCHULER, Albert W. Plea bargaining and its history. Columbia Law Review, v. 79, n. 1,
p. 1-43, 1979.)
93
“[...] on account of its efficiency, plea bargaining has won the endorsement of the Supreme Court as
‘an essential component of the administration of justice’ (Santobello v. New York, 404 U.S. 257, 260,
1971). [...] The main historical explanation for the want of plea bargaining in former centuries is, I
believe, simple and incontrovertible. When we turn back to the period before the middle of the
eighteenth century, we find that common law trial procedure exhibited a degree of efficiency that we
34
dos principais argumentos a favor de seu uso seria o fato de que é um procedimento
mais rápido do que o julgamento, sendo o acordo mais eficiente na visão da
Suprema Corte dos Estados Unidos da América.
Embora compartilhem várias características, pois como afirmou Abrão94,
ambos os negócios partem da exigência da confissão, são instrumentos distintos.
Os acordos decorrentes do plea bargain, o qual deverá ser escrito, estão à
mercê da discricionariedade da acusação, com a participação do juiz limitando-se à
aprovação do acordo e da averiguação da voluntariedade e ciência das
consequências da confissão, explicou Vogel95. Para essa visão, Da Cruz96
esclareceu que o julgamento é um direito disponível, imbuindo-se do princípio do
pacta sunt servanda. Ainda, Gilliéron97 expôs que o acusado pode dispensar o
auxílio do advogado nas discussões.
O Acordo de Não Persecução Penal, por outro lado, tem a confissão como
instrumento de convencimento do juiz, mas não incide na culpa. Além disso, é
obrigatória a participação do advogado no acordo. A participação da vítima também
é diferente no instituto norte-americano, ao passo que no acordo brasileiro, a vítima
apenas é intimada da homologação do acordo.
Há também diferença no momento de proposição do acordo. Embora ambos
sejam entendidos como faculdades da acusação, o plea bargain é oferecido em um
momento anterior ao julgamento, já sendo conhecidas as acusações feitas e
atuando como um substituto ao trâmite processual, o qual já pode ensejar a
condenação, explicou Nardelli98. O Acordo de Não Persecução Penal, como o
próprio nome já expõe, busca evitar a denúncia e a possível condenação, sendo
proposto em um período anterior à denúncia. Nele, não há de se cogitar em
now expect only of our nontrial procedure. Jury trial was a summary proceeding.” (LANGBEIN, John
H. Understanding the short history of plea bargaining. Law & Soc'y Rev., v. 13, p. 261, 1978.)
94
ABRÃO, Guilherme Rodrigues. A expansão da justiça negociada no processo penal brasileiro: o
que se pode (não) aprender da experiência americana com o plea bargaining. Revista brasileira de
ciências criminais, v. 179, p. 177-196, 2021.
95
VOGEL, Mary. Plea Bargaining under the Common Law. In: BROWN, Darryl K.; TURNER, Jenia
Iontcheva; WEISSER, Bettina (Ed.). The Oxford Handbook of Criminal Process, 2019.
96
DA CRUZ, Flavio Antônio. Plea bargaining e delação premiada: algumas perplexidades. Revista
Jurídica da Escola Superior da Advocacia da OAB-PR. Paraná, v. 2, p. 5-6, 2016.
97
GILLIÉRON, Gwladys. Comparing Plea Bargaining and Abbreviated Trial Procedures. In: BROWN,
Darryl K.; TURNER, Jenia Iontcheva; WEISSER, Bettina (Ed.). The Oxford Handbook of Criminal
Process, 2019.
98
NARDELLI, Marcella Alves Mascarenhas. A expansão da justiça negociada e as perspectivas para
o processo justo: a plea bargaining norte-americana e suas traduções no âmbito da civil law. Revista
Eletrônica de Direito Processual, v. 14, n. 1, 2014.
35
99
MENDES, Soraia da Rosa; MARTÍNEZ, Ana Maria. Pacote anticrime: comentários críticos à Lei
13.964/2019. São Paulo: Atlas, 2020, p. 66.
100
SANTOS, Marcos Paulo Dutra. Comentários ao pacote anticrime. Rio de Janeiro: Forense,
2020, p. 191.
101
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
335.
102
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 203.
36
mínima cominada for igual ou inferior a um ano, bem como se aplica a outras
jurisdições além do Juizado Especial Criminal.
37
4 A EXIGÊNCIA DA CONFISSÃO
A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LIV, definiu que “ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”103, definindo
assim a obrigatoriedade de respeito às formalidades previstas em lei para que a
liberdade do indivíduo não seja cerceada, conforme elucidou Rangel104. Esse
princípio está atrelado à dignidade da pessoa humana – o indivíduo possui um valor
intrínseco, devendo este ser respeitado em face de um processo, o qual possui a
característica de instrumento garantidor da aplicação imparcial e justa das leis, como
explicou Mendes105.
O trâmite processual tem o intuito de apurar a verdade substancial, termo
empregado pelo art. 566 do Código de Processo Penal106. Essa busca não pode
violar os direitos e garantias do acusado, sendo, portanto, vedada a prova ilícita nos
termos do art. 5º, inciso LVI, da Constituição Federal, uma vez que esta prova
impede a construção da verdade no processo ao contrariar as garantias
fundamentais – o juiz se baseará apenas nas provas produzidas em contraditório
judicial para a formação de sua convicção (art. 155, caput, do Código de Processo
Penal), salvo em situações específicas em lei.
103
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
104
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 03.
105
MENDES, Gilmar Ferreira. Comentários ao art. 5º, LIV. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; ______;
SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. 2.
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 460.
106
“Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração
da verdade substancial ou na decisão da causa.” (BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro
de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.)
38
Além de ser competente, o juiz deve ser imparcial – não podendo exercer
jurisdição em casos onde tenha alguma ligação prévia com a questão ou as partes,
como dispõem o art. 252 ao art. 256 do Código de Processo Penal. Assim,
diferencia-se o processo acusatório do inquisitório; o papel do juiz no sistema
processual brasileiro deve ser analisado em face da Constituição Federal, possuindo
uma função instrumental-garantidora. Nesse sentido, Lopes Júnior argumentou:
107
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
108
COUTINHO, Jacinto. Comentários ao art. 5º, LIII. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar
Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (Coords.). Comentários à Constituição do
Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 456.
109
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021,
p.25.
110
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
111
NUCCI, Guilherme de Souza. Comentários ao art. 5º, LV. In: MORAES, Alexandre de et al.
Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 240.
39
479 do Código de Processo Penal sua incidência ao ser exigida a ciência da outra
parte após a apresentação da defesa e da apresentação de provas,
respectivamente.
Quanto à ampla defesa, Nucci explicou que “a ampla possibilidade de se
defender deve simbolizar a mais copiosa e rica oportunidade de preservar o estado
de inocência, outro atributo natural do ser humano” 112. Com esta garantia, assegura-
se um processo judicial em que o acusado tem o direito de discutir o fato que lhe foi
imputado, bem como a assistência do governo aos que não tiverem recursos de
acordo com o art. 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal.
Pacelli expôs que “enquanto o contraditório exige a garantia de participação, o
princípio da ampla defesa vai além, impondo a realização efetiva dessa participação,
sob pena de nulidade, se e quando prejudicial ao acusado” 113. Nesse quesito,
observa-se o enunciado da Súmula Vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal114.
É relevante também o direito a não autoincriminação, nos termos do art. 5º,
inciso LXIII da Constituição Federal: “o preso será informado de seus direitos, entre
os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e
de advogado”115.
O direito ao silencio importa na proibição de coação do acusado quanto ao
fornecimento de provas contra si, sendo um direito público subjetivo. O juiz também
não deve interpretar o silencio de modo a prejudicar o acusado em quaisquer das
fases do processo penal, conforme explicou Carvalho116, bem como é obrigado a
informar o acusado dessa escolha, nos termos do art. 186 do Código de Processo
Penal – o silêncio não prejudicará o acusado, mas também não lhe trará benefício
algum.
Quanto à confissão, Giacomolli afirmou:
112
NUCCI, Guilherme de Souza. Comentários ao art. 5º, LV. In: MORAES, Alexandre de et al.
Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 239.
113
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 51.
114
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito
ao exercício do direito de defesa. DJe 26 de 09.02.2009, DOU de 09.02.2009. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula762/false>. Acesso em: 26 jul. 2021.
115
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
116
CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de. Comentários ao art. 5º, LXIII. In:
CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz
(Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p.
489-490.
40
Dispõe a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LVII, que “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” 119.
Esse princípio consta na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, no artigo
8.2: “toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência
enquanto não se comprove legalmente sua culpa”120.
Giacomolli então afirmou:
117
GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição
Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 230.
118
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer
et al. São Paulo: RT, 2002, p. 441.
119
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2021.
120
BRASIL. Decreto no 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm>. Acesso em: 19 jun. 2021.
121
GIACOMOLLI, Nereu José. Comentários ao art. 5º, LVII. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES,
Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (Coords.). Comentários à
Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 477.
41
122
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 66.
123
AVENA, Norberto. Processo Penal. 13. ed. São Paulo: Método, 2021, p. 35.
124
REALE JÚNIOR, Miguel. Fundamentos de direito penal. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p.
21.
125
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 497.
126
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
202.
42
São situações admitidas pelo legislador e pelos Tribunais, mas que não
deixam de representar a publicização da própria traição do sujeito. Entretanto,
se faz mister analisar a forma como são prestadas as declarações, a
voluntariedade, a ausência de indução à declaração, bem como a existência
de prévia comunicação ao sujeito do direito de não produzir qualquer prova
incriminatória, que não está obrigado a declarar e a aceitar as alternativas
legais (para muitos “vantagens legais”). Portanto, o nemo tenetur integra o
devido processo, informando da impossibilidade de utilização do silêncio ou
da não contribuição como elemento de convicção judicial, direta ou
indiretamente (utilização como argumento de prova).131
127
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
202.
128
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 04 ago.
2021.
129
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 469.
130
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 04 ago.
2021.
131
GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição
Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 232.
43
132
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 04 ago.
2021.
133
FREIRE, Ranulfo de Mello. Valor Probatório do Inquérito Policial. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, v. 0, p. 133-138, 1992.
134
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 500.
135
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Súmula 545. Quando a confissão for utilizada para
a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do
Código Penal. DJe 19.10.2015. Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/sumstj/>. Acesso em: 05
ago. 2021.
44
136
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 04 ago.
2021.
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153
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 231.
48
154
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Sobre o Acordo de Não Persecução Penal. Revista do Instituto de Ciências Penais, v. 5, p. 213-
232, 2020.
155
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p.
86.
49
5 CONCLUSÃO
156
Nas palavras do clássico jurista Beccaria: “Creio que a confissão do réu, que alguns tribunais
exigem, como algo essencial à condenação, tenha origem semelhante [à infâmia], pois, no misterioso
tribunal da penitência, a confissão do pecado é parte essencial do sacramento”. (BECCARIA, Cesare
Bonesana. Dos delitos e das penas. Tradução de J. Cretella Jr., Agnes Cretella. 2. ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 62.)
157
Em artigo sobre o Projeto de Lei Anticrime, foi acertada a argumentação do jurista Nucci pela
inconstitucionalidade do art. 28-A: “Dir-se-á: não há necessidade de provar nada, pois ele ‘abriu mão
do processo’ e ‘confessou tudo’. Fosse tão fácil, quando citado, sem ofertar defesa, nem apresentar
advogado, também poderia ser imediatamente sentenciado pelo juiz, fazendo valer o que vigora na
esfera cível: os efeitos da revelia. Mas não. Ninguém será processado criminalmente, no Brasil, sem
o patrocínio de um defensor e a instrução será necessariamente contraditória. Enfim, o art. 28-A do
projeto é inconstitucional.” (NUCCI, Guilherme de Souza. O Projeto de Lei Anticrime. Revista dos
Tribunais, São Paulo, v. 1010, p. 77-91, 2019.)
50
158
Nesse sentido, Ferrajoli expôs sobre a crise do direito penal italiano, situação análoga à brasileira:
“[As deformações do direito penal] não dependem apenas do esfacelamento que inevitavelmente
subsiste entre ‘dever ser’ e ‘ser’ em todos ordenamentos jurídicos e em quaisquer ramos do direito.
Depende também de fatores específicos [...]: as sucessivas estratificações mediante as quais é
formado o nosso ordenamento penal; a expansão crescente do papel judiciário em face das
mudanças do sistema político e o manifestar-se da criminalidade organizada que foge aos
parâmetros de estrita legalidade; a vocação congênita do Poder punitivo – Legislativo e Judiciário –
de expandir-se de forma absoluta para além dos limites estabelecidos pelas normas que o regulam.”
(FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer et
al. São Paulo: RT, 2002, p. 564.)
159
Para Zehr, esta busca de alternativas ao sistema retributivo é uma empreitada com um longo
caminho a ser seguido: “Enquanto contemplamos possibilidades mais amplas, devemos também
perseguir metas e atividades intermediárias. Há muitas coisas que podem e devem ser feitas nesse
meio tempo, aqui e agora. Devemos continuar a dialogar, ‘palavrear’ com os simpatizantes e os não
simpatizantes. [...]. Devemos oferecer novos serviços às vítimas, serviços com uma estrutura
restaurativa, incluindo rituais importantes que demonstrem que nós, enquanto comunidade, estamos
com elas no seu sofrimento, na denúncia do mal, e na busca de cura. Precisamos igualmente
oferecer novos serviços aos ofensores e suas famílias. E ao fazê-lo, também explorar alternativas à
punição que ofereçam oportunidades de responsabilização, reparação e empoderamento. (ZEHR,
Howard. Trocando as lentes: justiça restaurativa para o nosso tempo. 4. ed. São Paulo: Palas
Athena, 2020, p. 226-227.)
51
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