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Ministério Público

Departamento
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PARECER XXXXXXXX N°
SOLICITANTE: Promotor XXXXX
PROMOTORIA DE JUSTIÇA: ª Promotoria de Justiça de XXXXXXXX
TEMA: DIREITO À SAÚDE – ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA – ATENÇÃO BÁSICA

Ref. Procedimento Administrativo nº XXXXX

Trata-se de solicitação de apoio técnico formulada pela Promotora de Justiça


XXXXXXXXXXXXX, da 2ª Promotoria de Justiça de XXXXXXXX, por meio do Edoc nº
XXXXXXXXX, Ofício nºXXXXXXX, em que requer a colaboração deste Centro de Apoio nos
autos do Procedimento Administrativo nº XXXXXXXX, que apura Ausência de Medicação
Básica/Essencial e Medicação de Uso Contínuo na Atenção Básica Farmacêutica do Município de
XXXXXXXX do XXXXXXXX.

O Centro de Apoio Operacional da Saúde – XXXXXXXX presta-se a subsidiar o


trabalho dos Promotores de Justiça na atuação da execução finalística, tendo por base a legislação
vigente e os instrumentos normativos relacionados à matéria de saúde pública, bem como banco de
dados oficiais de acesso público, além de pesquisas em diversas fontes formais, como as
informações constantes dos órgãos que compõem o sistema de justiça e outros órgãos que atuam
direta ou indiretamente com a área de pesquisa.

De acordo com o §1º, do artigo 8º, do Ato 46/2014, que regulamenta os Centros de
Apoio, as solicitações de apoio técnico deverão ser realizadas por meio dos sistemas eletrônicos, em
expediente que especifique os quesitos, dúvidas ou conflitos a serem sanados, com a indicação e
acompanhamento dos documentos respectivos, imprescindíveis à análise demandada.

Por sua vez, o §2º, prevê que os pedidos com despachos genéricos para análise serão
devolvidos ao órgão solicitante, para fins de cumprimento do parágrafo primeiro, visando assegurar
a adequação e eficiência do auxílio técnico solicitado.

202 NORTE, AV. LO 4, CONJ. 1, Lote 5 e 6 - Plano Diretor Norte - (63) 3216-7611 – Palmas-TO CEP 77006218
Endereços eletrônicos: Email caosaude@mpto.mp.br – Athenas/E-doc: caosaude
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No presente caso, verifica-se que por ocasião da instauração do procedimento


administrativo, a Promotora de Justiça determinou a realização de diligências em face da Gestão
Municipal, requerendo informações e documentos acerca da matéria e solicitou a este Centro de
Apoio inspeção in loco, com o fim exclusivo de se obter informações confiáveis para tomada de
providências.

É o sucinto relatório.

A atuação do Ministério Público em face da execução da política pública de saúde se


dá, de acordo com os artigos 127 e 129, II da Constituição Federal, quanto à defesa do direito à
saúde enquanto direito individual indisponível, e quanto à fiscalização da prestação desse serviço,
tendo em vista o bem coletivo, podendo promover as medidas necessárias para a garantia desse
direito.

De acordo com a Lei Complementar nº 51, de 2 de janeiro de 2008, a atuação do


Ministério Público deve levar em conta os objetivos e as diretrizes institucionais estabelecidos
anualmente no Plano Geral de Atuação, destinados a viabilizar a consecução de metas prioritárias
nas diversas áreas de suas atribuições legais.

Nesse sentido, o artigo 60 da referida norma, estabelece as funções institucionais do


Ministério Público, dentre as quais, destacam-se a promoção da defesa do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis e o exercício da defesa dos direitos assegurados nas
Constituições Federal e Estadual, garantindo-lhes o respeito pelos órgãos do poder público, bem
como por aqueles que atuam em seu nome no desempenho e execução de serviço de relevância
pública.

Para o exercício de suas funções, o Ministério Público pode instaurar inquéritos civis
e outras medidas, bem como procedimentos administrativos de sua competência e, para instruí-los,
expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimento; requisitar informações, exames,
perícias e documentos de autoridades do poder público; promover inspeções e diligências
investigatórias junto às autoridades, órgãos e entidades públicas.
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O artigo 70 da Lei Orgânica prevê que o inquérito civil instaurado para apurar
violação de direito assegurado nas Constituições Federal e Estadual ou irregularidade nos serviços
de relevância pública poderá ser instruído mediante depoimentos colhidos em audiência pública.

A despeito da atuação extrajudicial do Ministério Público, o Conselho Nacional do


Ministério Público – CNMP expediu, no ano de 2017, a Recomendação 54 1, que dispõe sobre a
Política Nacional de Fomento à Atuação Resolutiva do Ministério Público brasileiro, buscando
promover uma atuação institucional responsável e socialmente efetiva, a partir do fomento a uma
atuação crescentemente resolutiva, orientada para a resolução concreta das situações de
inefetividade dos direitos de cuja defesa e proteção é incumbida a Instituição, preferencialmente
sem a necessidade de processo judicial e no menor tempo e custo social possíveis, ou, quando o
recurso ao Poder Judiciário se fizer necessário, com a efetivação mais célere possível dos
provimentos judiciais alcançados no interesse da sociedade.

A Recomendação define atuação resolutiva aquela por meio da qual o membro, no


âmbito de suas atribuições, contribui decisivamente para prevenir ou solucionar, de modo efetivo, o
conflito, problema ou a controvérsia envolvendo a concretização de direitos ou interesses para cuja
defesa e proteção é legitimado o Ministério Público, bem como para prevenir, inibir ou reparar
adequadamente a lesão ou ameaça a esses direitos ou interesses e efetivar as sanções aplicadas
judicialmente em face dos correspondentes ilícitos, assegurando-lhes a máxima efetividade possível
por meio do uso regular dos instrumentos jurídicos que lhe são disponibilizados para a resolução
extrajudicial ou judicial dessas situações.

O CNMP recomenda que seja priorizada a resolução extrajudicial do conflito,


controvérsia ou situação de lesão ou ameaça, especialmente quando essa via se mostrar capaz de
viabilizar uma solução mais célere, econômica, implementável e capaz de satisfazer adequadamente
as legítimas expectativas dos titulares dos direitos envolvidos, contribuindo para diminuir a
litigiosidade.

1
Disponível em <https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Recomendacoes/Recomenda%C3%A7%C3%A3o-054.pdf>
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E, nesse sentido, este Centro de Apoio endossa a necessidade de se lançar mão das
ferramentas de atuação do Ministério Público no âmbito extrajudicial, em busca da resolução de
conflitos de maneira mais célere e efetiva, devolvendo para a sociedade os seus direitos que outrora
foram violados e produzindo resultados socialmente relevantes, capazes de transformar a realidade
social e garantir a efetividade dos direitos e garantias fundamentais assegurados na Constituição
Federal.

Pois bem.

Acerca da matéria objeto da presente demanda, impende esclarecer que o processo de


elaboração de uma política pelo Ministério da Saúde desenvolve-se mediante a adoção de
metodologia apropriada, em etapas que envolvem a coleta e sistematização de subsídios básicos,
interna e externamente ao Ministério, a partir dos quais é estruturado um documento inicial,
destinado a servir de matéria-prima para discussões em diferentes instâncias, entre as quais o
Conselho Nacional de Saúde, que representa a participação da comunidade na formulação da
política pública de saúde.

Por sua vez, a elaboração dos instrumentos de planejamento e orçamento do Sistema


Único de Saúde - SUS, ocorre de forma ascendente, ou seja, do nível local até o federal, ouvidos
seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as necessidades da política de saúde com a
disponibilidade de recursos, tendo em vista as necessidades epidemiológicas da população e a
organização dos serviços.

Dito isto, tem-se que a oferta de medicamentos no Sistema Único de Saúde é


orientada pela Portaria nº 3.916/98, do Ministério da Saúde, que instituiu a Política Nacional de
Medicamentos2; pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica (Resolução nº 338/2004, do
Conselho Nacional de Saúde)3; pela Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME 4 e
pelas políticas estaduais e municipais de medicamentos, além das disposições constantes dos
respectivos planos de saúde, tudo em conformidade com os protocolos clínicos e as diretrizes
terapêuticas elaborados pelo Ministério da Saúde.
2
Disponível em <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt3916_30_10_1998.html>
3
Disponível em <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2004/res0338_06_05_2004.html>
4
Disponível em <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_medicamentos_rename_2020.pdf>
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A Portaria MS nº 3.916/98, que instituiu a Política Nacional de Medicamentos e se


constitui um dos elementos fundamentais para a assistência à saúde da população, tem o propósito
de garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso
racional e o acesso da população àqueles medicamentos considerados básicos e indispensáveis para
atender a maioria dos problemas de saúde da população.

De acordo essa política, a assistência farmacêutica básica no Sistema Único de Saúde


se dá de forma descentralizada, ou seja, a aquisição e a distribuição desses componentes serão
realizadas pelos municípios, sob a coordenação dos estados, e o seu financiamento pelo Ministério
da Saúde se dá por meio da transferência regular e automática, Fundo-a-Fundo, de recursos federais
destinados a esse fim.

O gestor estadual deverá coordenar esse processo no âmbito do estado, com a


cooperação técnica do gestor federal, de forma a garantir que a aquisição se realize em
conformidade com a situação epidemiológica do município, e que o acesso da população aos
produtos ocorra mediante adequada prescrição e dispensação.

Além disso, de acordo com a Política Nacional, constituem responsabilidades da


esfera estadual coordenar o processo de articulação intersetorial no seu âmbito, tendo em vista a
implementação da Política Nacional; promover a formulação da política estadual de medicamentos
e prestar cooperação técnica e financeira aos municípios no desenvolvimento das suas atividades e
ações relativas à assistência farmacêutica.

Quanto às responsabilidades da Gestão Municipal, a Política Nacional elenca as


seguintes:
a. coordenar e executar a assistência farmacêutica no seu respectivo âmbito;
b. associar-se a outros municípios, por intermédio da organização de consórcios, tendo em vista a
execução da assistência farmacêutica;
c. promover o uso racional de medicamentos junto à população, aos prescritores e aos
dispensadores;
d. treinar e capacitar os recursos humanos para o cumprimento das responsabilidades do município
no que se refere a esta Política;
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e. coordenar e monitorar o componente municipal de sistemas nacionais básicos para a Política de
Medicamentos, de que são exemplos o de Vigilância Sanitária, o de Vigilância Epidemiológica e o de
Rede de Laboratórios de Saúde Pública;
f. implementar as ações de vigilância sanitária sob sua responsabilidade;
g. assegurar a dispensação adequada dos medicamentos;
h. definir a relação municipal de medicamentos essenciais, com base na RENAME, a partir das
necessidades decorrentes do perfil nosológico da população;
i. assegurar o suprimento dos medicamentos destinados à atenção básica à saúde de sua população,
integrando sua programação à do estado, visando garantir o abastecimento de forma permanente e
oportuna;
j. adquirir, além dos produtos destinados à atenção básica, outros medicamentos essenciais que
estejam definidos no Plano Municipal de Saúde como responsabilidade concorrente do município;
k. utilizar, prioritariamente, a capacidade dos laboratórios oficiais para o suprimento das
necessidades de medicamentos do município;
l. investir na infra-estrutura de centrais farmacêuticas e das farmácias dos serviços de saúde, visando
assegurar a qualidade dos medicamentos;
m. receber, armazenar e distribuir adequadamente os medicamentos sob sua guarda.

Conforme se verifica, em relação à oferta de medicamentos pelo Sistema Único de


Saúde, compete ao gestor municipal coordenar e executar a assistência farmacêutica no seu
respectivo município, cabendo-lhe o planejamento, a aquisição, armazenagem e distribuição
adequada dos medicamentos, além da elaboração da relação municipal de medicamentos essenciais,
com base na RENAME, a partir das necessidades da população, assegurando o abastecimento de
forma permanente e oportuna.

Nesse sentido, o principal instrumento norteador da assistência farmacêutica é


a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME, que compreende o elenco de
medicamentos padronizados no âmbito do SUS, e constitui-se um elemento técnico-científico que
orienta a oferta, a prescrição e a dispensação de medicamentos nos serviços do SUS.

O anexo I da RENAME elenca a Relação Nacional de Medicamentos do


Componente Básico da Assistência Farmacêutica, que se refere aos medicamentos destinados aos
principais problemas de saúde e programas da Atenção Primária, e, portanto, a aquisição e

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disponibilização dos itens desse componente fica a cargo do gestor municipal, com a colaboração
financeira da União e do Estado, por meio dos repasses Fundo a Fundo.

Na esfera estadual, o elenco de medicamentos de referência do componente básico é


definido pela Portaria nº 742/20185 que, dispõe sobre a execução e o financiamento do Elenco de
Referência do Componente Básico da Assistência Farmacêutica e dos insumos complementares
destinados aos usuários insulinodependentes no Estado do XXXXXXXX, e estabelece que a
execução do Componente Básico da Assistência Farmacêutica é descentralizada, sendo de
responsabilidade dos Municípios a organização dos serviços e a execução das atividades
farmacêuticas, entre as quais: seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e
dispensação dos medicamentos e insumos de sua competência.

Quanto à política de medicamentos estabelecida pelo Município de XXXXXXXX,


seja através da REMUME, seja através do Plano Municipal de Saúde, importante que seja obtido
junto à Secretaria Municipal de Saúde, que oportunamente, poderá, por meio de suas equipes
técnicas informar acerca dos procedimentos de aquisição e eventuais falhas no abastecimento da
rede municipal.

Em sendo assim, este Centro de Apoio, resguardada a independência funcional de


Vossa Excelência, objetivando conferir maior eficiência na atividade ministerial, tendo em vista as
disposições constantes da Recomendação CNMP nº 54/2017, sugere a realização de audiência
administrativa, ouvindo-se os gestores e responsáveis técnicos pela assistência farmacêutica
municipal, para a obtenção de informações referentes ao abastecimento da farmácia municipal,
como mecanismo de instrução do procedimento extrajudicial e de embasamento para a solução do
conflito, tendo em vista que a partir dos elementos obtidos por meio dessa diligência, é possível
formatar a resolução da demanda.

Por fim, solicita-se informar ao XXXXXXXX, acerca da solução extrajudicial ou


judicialização da matéria, para fins de aferição da atividade do Centro de Apoio.

5
Publicada no Diário Oficial do Estado nº 5252, de 06 de dezembro de 2018.
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Cidade, Data.

Assinatura

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