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A judicialização excessiva do acesso aos benefícios previdenciários e as ferramentas do


ESG.1

1- INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa analisar as dificuldades de acesso aos benefícios


previdenciários por parte de todas as pessoas, sejam nacionais ou estrangeiras que são
obrigadas acionar o Poder Judiciário, ao se considerar a proteção social oferecida pela
Seguridade Social que deve englobar todos os infortúnios que as pessoas estão sujeitas como
no caso da maternidade, da velhice, da doença, do acidente, da invalidez, da reclusão e da
morte, ante a denegação dos benefícios no âmbito administrativo perante o INSS.

Considerando que ESG é a sigla, em inglês, para Environmental, Social and


Governance (Ambiental, Social e Governança), ou seja, corresponde às práticas que
minimizem os impactos ambientais, sociais e de governança de uma organização, tendo
surgido pela primeira vez em um relatório de 2004, da Organização das Nações Unidas
(ONU), chamado Who Cares Wins (Ganha quem se importa).

O ESG prima por práticas sólidas, custos mais baixos, melhor reputação e maior
resiliência em meio às incertezas e vulnerabilidades, de modo a se tornar totalmente
indispensável, a sua utilização, na atualidade, para a tomada de decisões em quaisquer
instituições, sejam públicas ou privadas, a realizar o binômio oportunidade e necessidades,
tudo para se buscar a potencialização do seu impacto positivo perante a sociedade.

Diante do crescente acionamento do Poder Judiciário nas mais variadas áreas da


sociedade brasileira, não seria diferente na temática previdenciária, especialmente, no que
tange aos benefícios previdenciários e a gestão dos respectivos processos perante a Justiça
Federal, que realiza a análise de caso a caso bem como perícias médicas judiciais com a
consequente concessão ou não dos pedidos, o que demanda cada dia mais uma parcela do
orçamento público.

1
Artigo científico apresentado como trabalho de conclusão de Curso de Especialização lato sensu em Direito e
Processo Previdenciário pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) em São Paulo, em dezembro/2023,
avaliado com nota máxima e recomendada publicação.
2

Além da análise processual que atenda ao princípio da eficiência administrativa


previsto expressamente na Constituição Federal, não se deve descuidar da possibilidade de
recursos orçamentários que comporte a demanda de pedidos formulados pelos beneficiários,
de modo a haver uma racionalização entre o Poder Público e o cidadão, de modo que
analisaremos as hipóteses de sucesso da aplicação dos pilares do ESG.

Com efeito, a gestão orçamentária ainda mais após a pandemia do coronavírus deve
ser primorosa e para tal, além de primar pela estrita legalidade, deve primar pelo serviço
público de qualidade, o que consequentemente, terá maior eficiência e fiscalização dos
recursos por parte do Poder Judiciário a fim de que sejam atendidos os ditames
constitucionais bem como o interesse público.

Inclusive o Poder Judiciário instituiu as metas nacionais, que foram traçadas pela
primeira vez em 2009, como uma forma de representar o compromisso dos seus tribunais
justamente com o aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, a fim de que o serviço público
seja de qualidade, eficiência e mais célere.

Destacamos que o Conselho Nacional de Justiça criou a chamada Rede de Governança


Colaborativa do Poder Judiciário por meio da Portaria n. 138/2013, sendo que a vigente
Portaria n. 59/20192, que regulamenta o funcionamento e estabelece procedimentos, ao dotar
de competência para propor as diretrizes nacionais, bem como impulsionar a implementação,
monitoramento e divulgação de resultados, de modo a possuir como membros os seguintes

2
(...) Art. 7º São competências do Comitê Gestor Nacional:
I – consolidar e divulgar padrões e diretrizes para a execução dos trabalhos voltados ao desenvolvimento da
revisão, monitoramento e avaliação da Estratégia Nacional;
II – fomentar os trabalhos dos Comitês Gestores dos Segmentos, com vistas à revisão, execução, monitoramento
e avaliação da Estratégia Nacional do Poder Judiciário;
III – consolidar a proposta final de revisão da Estratégia Nacional do Poder Judiciário, a ser apresentada à
Comissão Permanente de Gestão Estratégica, Estatística e Orçamento do CNJ e aos presidentes dos tribunais
para aprovação;
IV - promover reuniões, encontros e workshops para desenvolvimento dos trabalhos;
V – estabelecer diretrizes para comunicação da estratégia;
VI – monitorar e avaliar os resultados da Estratégia Nacional do Poder Judiciário;
VII – apresentar à Comissão Permanente de Gestão Estratégica, Estatística e Orçamento do CNJ os resultados
das propostas de revisão e avaliação da Estratégia Nacional e as informações sobre os trabalhos dos Comitês
Gestores dos Segmentos;
VIII – zelar pelo alinhamento estratégico de todos os segmentos de Justiça com a Estratégia Nacional do Poder
Judiciário;
IX – sugerir medidas preventivas e corretivas para o alcance dos resultados da Estratégia Nacional do Poder
Judiciário; e
X – zelar pela observância dos princípios participativos no processo de formulação da Estratégia Nacional, nos
termos da Resolução CNJ nº 221, de 10 de maio de 2016.
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órgãos: Comitê Gestor Nacional, Comitês Gestores dos Segmentos de Justiça 3 e Subcomitês
Gestores dos Segmentos de Justiça4.

Com isso, os objetivos do presente trabalho consistem em compreender e analisar as


possibilidades de melhoramento das ferramentas do ESG no âmbito judicial a fim de que o
Poder Judiciário proporcione cada dia mais um melhor serviço público a toda a sociedade que
terá ao seu dispor otimização de tempo. Faremos a utilização da pesquisa documental e
bibliográfica, por englobar fontes como livros, artigos, leis e documentos oficiais.

2- A proteção legal e constitucional assegurada aos beneficiários da Seguridade


Social

Registre-se, inicialmente, que o ESG se refere a um conjunto de diretrizes e melhores


práticas empresariais relacionadas aos critérios ambiental, social e governança que
apresentam uma relevância social cada dia maior, justamente em virtude dos efeitos da
globalização, bem como das mudanças culturais, no atual mundo que preza pelo desempenho
de sustentabilidade e por uma gestão adequada, tudo para que se promova um bem estar geral.

3
(...) Art. 12. São competências dos Comitês Gestores dos Segmentos de Justiça:
I – discutir aspectos essenciais do segmento, objetivando a revisão, execução e monitoramento da Estratégia
Nacional e do Plano Estratégico do Segmento de Justiça, quando houver;
II – zelar pela observância dos padrões e das diretrizes estabelecidas para a execução dos trabalhos voltados ao
desenvolvimento das propostas dos Planejamentos Estratégicos;
III – coordenar os trabalhos dos Subcomitês Gestores;
IV – consolidar as propostas apresentadas pelos representantes dos tribunais ou Subcomitês Gestores e
apresentar proposta consolidada ao Comitê Gestor Nacional;
V – aprovar propostas de revisões do plano estratégico para o segmento, quando houver;
VI – promover a interlocução entre o Comitê Gestor Nacional e os Subcomitês Gestores;
VII – propor diretrizes para comunicação da estratégia;
VIII – solicitar apoio técnico dos Subcomitês Gestores para auxiliar nos trabalhos do Comitê Gestor;
IX – sugerir medidas preventivas e corretivas para o alcance dos resultados do Plano Estratégico dos Segmentos
de Justiça, quando houver.
4
(...) Art. 16. São competências dos Subcomitês Gestores:
I – discutir aspectos específicos do Subcomitê, objetivando a revisão, execução e monitoramento da Estratégia
Nacional e do Plano Estratégico do Segmento de Justiça, quando houver;
II – coordenar os trabalhos dos representantes dos tribunais no Subcomitê;
III – solicitar apoio técnico dos tribunais para auxiliar nos trabalhos do Subcomitê;
IV – consolidar as propostas apresentadas pelos tribunais e submeter proposta consolidada ao Comitê Gestor do
Segmento;
V – apresentar proposta de revisão do plano estratégico do Segmento de Justiça, quando houver, ao Comitê
Gestor do Segmento;
VI – promover a interlocução entre o Comitê Gestor do Segmento e os tribunais;
VII – propor diretrizes para comunicação da estratégia;
VIII – representar os tribunais que compõem o Subcomitê. (...)
4

Os benefícios concedidos pela Previdência Social no âmbito da Justiça Federal para


que possam ser analisados com eficiência e celeridade asseguradas constitucionalmente,
demandam uma atuação judicial que atenda não apenas os requisitos legais, especialmente da
Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência
Social e dá outras providências5.

Mas que também cumpram os pilares do ESG que constituem um conjunto de práticas
fundamentais para a otimização dos recursos financeiros, preservação do meio ambiente,
responsabilidade com recursos humanos, além de que tudo tenha a transparência ínsita à
Administração Pública que possui o dever incontornável de dar a devida publicidade como
requisito de eficácia, existência e moralidade, consoante exigência expressa no texto
constitucional, como corolário do direito de informação, sob pena de sua invalidade6.

5
(...) Art. 2º A Previdência Social rege-se pelos seguintes princípios e objetivos:
I - universalidade de participação nos planos previdenciários;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios;
IV - cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição corrigidos monetariamente;
V - irredutibilidade do valor dos benefícios de forma a preservar-lhes o poder aquisitivo;
VI - valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário-de-contribuição ou do rendimento do
trabalho do segurado não inferior ao do salário mínimo;
VII - previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional;
VIII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação do governo e da
comunidade, em especial de trabalhadores em atividade, empregadores e aposentados.
Parágrafo único. A participação referida no inciso VIII deste artigo será efetivada a nível federal, estadual e
municipal. (...)
(...) Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive em
razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços:
I - quanto ao segurado:
a) aposentadoria por invalidez;
b) aposentadoria por idade;
c) aposentadoria por tempo de contribuição;
d) aposentadoria especial;
e) auxílio-doença;
f) salário-família;
g) salário-maternidade;
h) auxílio-acidente;
i) (Revogada pela Lei nº 8.870, de 1994)
II - quanto ao dependente:
a) pensão por morte;
b) auxílio-reclusão;
III - quanto ao segurado e dependente:
a) (Revogada pela Lei nº 9.032, de 1995)
b) serviço social;
c) reabilitação profissional. (...)
6
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte (...).


5

Com efeito, o Poder Judiciário necessita realizar essa análise ampla acerca de sua
atuação, haja vista o propósito de atuação primordial consistir na prestação de serviços
públicos de acesso à Justiça a todos que a acionarem como concretização do direito de ação
que é consectário da proibição da autotutela, nos termos do artigo 5º, XXXV, da Constituição
Federal, que preconiza que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”.

Inclusive, interessante destacar que é por intermédio da ação e da constante extensão


de sua admissibilidade que se obtêm os bons resultados da abertura do acesso ao processo e
à ordem jurídica justa, indispensáveis a um regime que aspire ser substancialmente
democrático (DINAMARCO, 2002b, p. 332).

Ademais, o professor Cândido Rangel Dinamarca enfatiza o direito de ação sob o


aspecto da efetividade da tutela jurisdicional, ao defender que:

Os resultados dos modernos estudos de direito processual impõem que se confira à


ação uma configuração marcadamente teleológica, não mais restrita aos
tradicionais aspectos técnico-jurídicos do instituto e agora voltada à definição dos
meios postos à disposição das pessoas para o efetivo acesso à ordem jurídica justa.
A garantia constitucional da ação (Const., art. 5 o., inc. XXXV), modernamente
explorada pelo prisma da inafastabilidade do controle jurisdicional, espelha a
tendência expansiva em direção à universalidade da jurisdição, no duplo
significado de ampla abertura da Justiça, eliminando resíduos não-jurisdicionáveis,
e de busca de soluções capazes de conduzir à efetividade da tutela jurisdicional.
Vista assim, a ação é hoje encarada como instituto intimamente ligado aos
postulados do Estado-social-de-direito e à ampla garantia do devido processo legal,
na extraordinária dimensão com que esta passou a ser considerada.
(DINAMARCO, 2002a, p. 356)7

Diante do direito de acesso à Justiça estar assegurado constitucionalmente, eis que


surge os desafios de aplicação efetiva desse direito, de modo que com a popularização de
práticas ESG, nada mais viável do que sua adoção pelos órgãos jurisdicionais. Surge assim,
inicialmente, a expectativa de se sejam adotados processos internos que transpareçam
ambientalmente saudáveis de fato, a fim de que a atividade fim que é a prestação
jurisdicional.

Registre-se que não há tão somente o enfoque do meio ambiente que se mostra mais
necessário cada dia mais, inclusive, mas também a estrutura física do trabalho jurisdicional
que já vem se modernizando diuturnamente, seja pela digitalização dos processos físicos em
processos virtuais nas recentes décadas, como o sistema processual PJe que é atualizado
constantemente contra ataques cibernéticos, especialmente, após o ocorrido durante a
pandemia que afetou todo o trabalho no âmbito do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
7
DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2002a, p. 356.
6

Como podemos observar tal fato fora amplamente divulgado na mídia, bem como a
prisão do hacker pela Polícia Federal, conforme noticiado no sítio eletrônico do Consultor
Jurídico:

O ataque cibernético ao sistema do TRF-3 ocorreu em janeiro de 2021. A PF


informou que, nesse ataque, o criminoso pretendia alterar documentos eletrônicos
de assinatura de agentes públicos para a obtenção de vantagens pessoais. Após ter
invadido o sistema de processos judiciais eletrônicos, o hacker também falsificou
pareceres do Ministério Público Federal em seis processos que tramitavam no
TRF3 e nos quais ele era réu.
A investigação teve início quando dois magistrados detectaram alterações em
documentos, com uso fraudulento de suas assinaturas digitais. Esse hacker teria
alterado documentos de ao menos oito processos, informou a PF.
O nome do criminoso não foi revelado pela Polícia Federal. Mas o órgão informou
que ele foi condenado a uma pena de 9 anos de prisão pela prática dos crimes de
invasão de dispositivo informático e falsificação de documento público. A sentença
condenatória foi expedida pela 7ª Vara Criminal Federal de São Paulo, em
dezembro de 2021. Com informações da Agência Brasil.
(https://www.conjur.com.br/2023-set-18/hacker-suspeito-invadir-sistemas-trf-preso-
pf/ acesso em 15 de dezembro de 2023)

Com efeito, houve a constatação de que os referidos ataques foram graves, consistindo
no tipo Dynamic Deny of Service (DDoS), também conhecido como negação distribuída de
serviço, de modo que se tratava de uma sobrecarga produzida por meio do excesso de
demanda, que tem como resultado a indisponibilidade de websites, de modo que se referia ao
“ransomware” que é um tipo de código malicioso (malware) que cripto-grafa arquivos no
armazenamento local e de rede, além de máquinas virtuais e banco de dados.

Assim, a área da tecnologia do aludido tribunal colocou em prática o Plano de


Continuidade de Serviços de TI, reconstruindo e restaurando toda infraestrutura e sistemas da
JF3R, de modo que também outros órgãos sofreram as “invasões” do mesmo tipo, tudo a
demonstrar a necessidade de planejamento estratégico diante do avanço tecnológico dos
tempos atuais e vulnerabilidades dos sistemas processuais que contém dados sensíveis da
população que não pode ser prejudicada com a demora na prestação jurisdicional.

Em meio a tudo isso, nota-se que a implantação de computadores modernos que além
de economizar energia elétrica, colaboram com a tramitação célere por parte dos servidores e
magistrados na análise dos processos de sua competência, de modo a tornar cada vez mais
eficiente o trato com o orçamento público e com o jurisdicional, o maior interessado no
melhor serviço público à sua disposição.
7

E, inclusive, após a pandemia do coronavírus, houve a efetivação do home office


parcial e integral que aceleraram a prestação jurisdicional, reduzindo o tempo de espera pelo
desfecho final dos processos, tudo a representar a eficiência dos serviços prestados pelo Poder
Judiciário e seus servidores a toda a população que venha em busca de pacificação de
conflitos.

Ressalta-se que, no âmbito do Poder Judiciário, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)


foi criado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, que é a instituição pública responsável
pelo controle e transparência administrativa e processual, tem uma série de normas que
estabelecem diretrizes que regulamentam o teletrabalho, tais como a Resolução n. 227/2016,
alterada pelas Resoluções n. 298/2019, 371/2021 e 375/2021, bem como a IN 74/2019,
alterada pelas INs 59/2020, 70/2021 e 73/2021.

Ademais, o critério da governança, no âmbito do Poder Judiciário remete ao


orçamento que é fundamental para o cumprimento das decisões judiciais em atendimento às
ações propostas pelos beneficiários, o que envolve contratação e treinamento dos funcionários
públicos bem como a existência de benefícios previdenciários cujos requisitos são variáveis
de acordo com o tipo de incapacidade, carência contributiva, exigência ou não de realização
de perícias, entre outros aspectos.

Eis a complexidade do tema envolve também o caráter social do direito previdenciário,


que preza pela observância dos primados da dignidade da pessoa humana que é um dos
fundamentos do estado democrático de direito8.

Nesse sentido, a professora Flávia Piovesan afirma que9:

A dignidade da pessoa humana, (...) está erigida como princípio matriz da


Constituição, imprimindo-lhe unidade de sentido, condicionando a interpretação
das suas normas e revelando-se, ao lado dos Direitos e Garantias Fundamentais,
como cânone constitucional que incorpora “as exigências de justiça e dos valores
éticos, conferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro.

Nesse sentido, ressalta o professor Marco Aurélio a relevância social dos direitos
previdenciários, ao afirmar que a: “a essência dos direitos sociais é o atendimento adequado
àquelas demandas coletivas e sociais, independentemente da realização de gastos públicos’’ 10

8
Prevista no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal.
9
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 4ed. São Paulo: Max Limonad,
2000, p. 54.
10
SERAU JÚNIOR, Marco Aurélio. Economia e seguridade social: análise econômica do direito: seguridade
social. Curitiba: Juruá, 2010, p. 49.
8

Na sequência deste trabalho, abordaremos os pontos que dificultam a melhor


implementação prática dos benefícios previdenciários e como as ferramentas do ESG podem
facilitar a sua localização, compreensão e resolução dentro da instituição do Poder Judiciário
em nosso país.

3- As dificuldades de implementação dos direitos previdenciários sem que haja


ofensa ao mínimo existencial

Diante do panorama jurídico abordado no capítulo anterior, podemos observar a


complexidade do sistema judiciário, de modo que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
prima pela promoção do desenvolvimento do Poder Judiciário em benefício da sociedade, por
meio de políticas judiciárias e do controle da atuação administrativa e financeira e como
órgão de excelência em governança e gestão, visa garantir eficiência, transparência e
responsabilidade social da Justiça brasileira.

Ao abordamos a abrangência da Previdência Social como um direito fundamental, não


podemos deixar de associá-la à dignidade da pessoa humana bem como ao denominado
“mínimo existencial”, o qual professor Silas Mendes dos Reis esclarece sobre sua origem de
forma didática:

A elaboração do conceito de mínimo existencial ocorreu na Alemanha, a partir da


ideia da garantia do mínimo indispensável para uma existência digna. Essa ideia foi
sustentada por Otto Bachof no início da década de 1950, como decorrência do
princípio da pessoa humana, o qual agregaria juntamente com a garantia da
liberdade um mínimo de segurança social, haja vista que sem recursos materiais para
propiciar uma existência digna, a própria dignidade humana restaria inviabilizada 11.

Com efeito, as ferramentas do ESG estão em implementação pela Justiça Federal e


podem ser aprimoradas constantemente, o pilar ambiental vem sofrendo desafios contínuos
vez que diante da virtualização dos processos judiciais em sistemas próprios, tais como o PJe,
observamos a agilidade na tramitação e resolução das lides, mas ao mesmo tempo, os dados
dos usuários sofrem eventualmente vulnerabilidades, o que demanda maiores investimentos
pelo Poder Público em segurança digital.

Tudo isso, às vezes contribui para que os beneficiários ficam sem uma resposta
imediata e que pode causar uma morosidade a lhes jogar em uma espécie de limbo, falta de
11
REIS, Silas Mendes dos. Direitos Humanos e Progressividade: a equivalência dos benefícios previdenciários
ao salário mínimo. São Paulo: Editora Dialética, 2022, p. 84.
9

proteção, sem a salvaguarda dos dados em processos físicos já que tudo está concentrado
virtualmente, daí que os chamados backups e outras medidas ambientais devem ser pensadas
e colocadas em prática a fim de preservarmos a segurança jurídica constitucionalmente
assegurada no estado democrático de direito.

Merece destaque, ainda, a doutrina de Marcos Mendanha, que conceitua o chamado


“limbo previdenciário”, no qual o beneficiário do sistema previdenciário se vê sem
perspectivas de atendimento de suas necessidades vitais, a fim de que o pilar social do ESG
não fique escanteado, diante do caráter universal dos benefícios previdenciários:

A situação de “limbo”, pelo próprio significado do termo, presume falta de amparo,


sustento e subsistência do trabalhador. O “limbo”, frisamos, possui como maior
característica o não recebimento simultâneo, por parte do empregado, tanto do
salário quanto do respectivo benefício previdenciário”. 12

Diante desse panorama, além da importância dos pilares ambiental e social do ESG,
faz-se necessária também manter o foco no pilar da governança, vez que a gestão dos recursos
humanos (pessoal, seja servidores ou juízes) e financeiros (verbas orçamentárias) do Poder
Público deve ser eficiente, não apenas por uma determinação constitucional mas também pelo
caráter social dos benefícios que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade (doenças
incapacitantes relativas ou absolutas, por exemplo, que geram o direito aos auxílios-doença e
ou aposentadoria por invalidez).

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do presente trabalho discorre acerca da contribuição das ferramentas do ESG


no âmbito do Sistema Previdenciário Brasileiro, especialmente, na Justiça Federal que é a
competente para o julgamento das ações previdenciárias, a concretizar os direitos sociais
previstos pela legislação e Constituição Federal vigentes.

Em seguida, observamos que a relevância para toda a sociedade da existência de um


sistema judicial que seja eficiente e otimize tempo e recursos que sustentam o sistema
previdenciário como um todo, a fim de que se evite despesas irregulares e que contrariem o
interesse público.

12
MENDANHA, Marcos, Limbo Previdenciário e Trabalhista, 1. ed, São Paulo: JH Mizuno, 2019, p.16.
10

Notamos que o custo da máquina que sustenta o Poder Judiciário está cada dia mais se
estendendo, seja pelo gasto com funcionários públicos seja com equipamentos estruturais,
preservação de dados dos sistemas processuais, investimentos em tecnologias contra ataques
cibernéticos, de modo que os gastos orçamentários devem primar por sua eficiência,
planejamento e controle para o melhor serviço público possível, preenchidos os requisitos
legais para a concessão dos benefícios previdenciários e atendidos aos planos de
gerenciamento e governança idealizados pelo Conselho Nacional de Justiça.

Desta feita, a título de sugestão de melhorias do processo judicial, poder-se-ia


implementar o aproveitamento da perícia médica que fora realizada no âmbito administrativo
perante a autarquia previdenciária para se tornar única, o que poderia agilizar a concessão do
benefício por incapacidade, além de prestigiar ainda mais a sua autonomia, fazendo com que
o INSS cumpra, de fato, todos os requisitos exigidos para a escorreita prova que não poderá
ser descartada pura e simplesmente e ter que ser repetida em Juízo.

Entendemos ter alcançado os objetivos estabelecidos neste trabalho, seja porque que
observamos a importância do ESG que veio para ficar, sendo fundamental também no âmbito
do Poder Judiciário, ao atender toda a coletividade em nome do bem comum e da importância
social do serviço público prestado ao jurisdicionado que deve primar pela qualidade,
eficiência e celeridade e não se trata apenas de um mero serviço prestado por empresas
privadas que visam lucros.

Por conseguinte, a presente pesquisa não termina por aqui, ante o caráter dinâmico das
relações sociais que demanda uma atenção contínua para a melhor prestação possível aos
jurisdicionados em atendimento a eficácia absoluta dos preceitos constitucionais que veda o
retrocesso social, a fim de preservar os direitos e garantias fundamentais conquistados ao
longo da história do estado democrático de direito que requer a atenção constante e zelo por
parte dos cidadãos, servidores, magistrados e representantes dos Poderes da República.

5- REFERÊNCIAS

https://www.conjur.com.br/2023-set-18/hacker-suspeito-invadir-sistemas-trf-preso-pf/ acesso
em 15 de dezembro de 2023.
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/10/Relatorio-Final-INSPER_2020-10-09.pdf
acesso em 01 de novembro de 2023.
AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 11ª Ed. Salvador: Ed.
Juspodivm, 2019.
11

BRAMANTE, Ivani Contini. Teletrabalho: nova forma de trabalho flexível: aspectos


contratuais. 2003. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Texto
constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <
http://www2.camara.leg.br/atividadelegislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/
constituicao1988.html >. Acesso em: 10 nov. 2023.
BRASIL. Lei 8.213 de 1991. Planalto. Dispõe sobre o plano de benefícios da previdência
social e da outras disposições. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm acesso em 31 de outubro de 2023.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2002a.
______. Fundamentos do processo civil moderno. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2002b. t. 1.
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 4ed. São
Paulo: Max Limonad, 2000.
MENDANHA, Marcos, Limbo Previdenciário e Trabalhista, 1.ed, São Paulo: JH Mizuno,
2019.
SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. São Paulo: Saraiva,
2018.
REIS, Silas Mendes dos. Direitos Humanos e Progressividade: a equivalência dos benefícios
previdenciários ao salário mínimo. São Paulo: Editora Dialética, 2022.
SERAU JUNIOR, Marco Aurélio. Economia e seguridade social: análise econômica do
direito: seguridade social. Curitiba: Juruá, 2010.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 31.ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2007.

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