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Mas Graças a DEUS que já nos deu a vitória, por Nosso Senhor e Salvador JESUS CRISTO. O
Santo, O Justo, O Querido e Eterno Senhor e REI Nosso.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
Processo n. XXXXX-46.2016.404.7000
UNIÃO
, por seu Advogado, mandato ex lege, vem, respeitosamente, perante V. Exa., nos autos
virtuais (E-PROC) em tela, ao tempo em que informa não ser possível conciliar o interesse
público sub judice, apresentar
CONTESTAÇÃO
ao pedido formulado pela parte adversa.
1. DOS FATOS
contrária.
2 - DO DIREITO
A Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 em artigo 196 dispõe que “a saúde é
direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”.
No mesmo sentido, dispôs o art. 2º da Lei 8.080/90, pelo qual a “a saúde é um direito
fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu
pleno exercício. § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução
de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros
agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às
ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação“.
Por seu turno, o art. 7º, IV, da Lei 8.080/90 que erige a igualdade da assistência à saúde, sem
preconceitos ou privilégios de qualquer espécie, a um dos dogmas dos SUS, ao passo que a
parte adversa está recebendo a benesse de um tratamento não padronizado, de forma
diferente da prevista no sistema, em detrimento dos demais pacientes em igualdade de
condições, bem como das demais prioridades do SUS.
Registre-se, ainda, que não se pode aceitar que o Poder Judiciário, apesar do claro intuito de
resolver um problema individual, simplesmente desconsidere a também grave situação da
saúde pública do país como um todo e a necessidade que se tem de estabelecimento de
pautas gerais (uma visão holística) – e não particulares – no que respeita à concretização desse
direito social. Deve-se admitir, até por imperativo de ordem constitucional, que somente as
ações planejadas e fundadas em critérios técnicos, envolvendo conhecimentos multi e
interdisciplinares (medicina, ciências sociais, estatística, direito, farmácia), poderão, em tempo
razoável, levar à efetivação do direito fundamental à saúde, ampliando progressivamente o
atendimento ao maior número de enfermos e alargando também o campo das ações
preventivas.
As situações difíceis, ou os chamados hard cases, colocam em tensão, com mais frequência, os
princípios da integralidade, da
Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere a alínea d do inciso I do art. 6º
consiste em:
Art. 19-N. Para os efeitos do disposto no art. 19-M, são adotadas as seguintes definições:
I - produtos de interesse para a saúde: órteses, próteses, bolsas coletoras e equipamentos
médicos;
Parágrafo único. Em qualquer caso, os medicamentos ou produtos de que trata o caput deste
artigo serão aqueles avaliados quanto à sua eficácia, segurança, efetividade e custo-
efetividade para as diferentes fases evolutivas da doença ou do agravo à saúde de que trata o
protocolo.”
(...)
Em realidade, como assentou o Min. Gilmar Mendes no voto proferido na STA nº 175, o
“Sistema Único de Saúde filiou-se à corrente da Medicina com base em evidências”, com a
conclusão de que a política pública deverá privilegiar o tratamento do SUS “sempre que não
for comprovada a ineficácia ou a impropriedade da política de saúde existente”.
Em suma, o que se quer ressaltar é que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT)
são resultado de consenso técnico- científico e são formulados dentro de rigorosos parâmetros
de qualidade e precisão de indicação.
Portanto, em havendo Protocolo que abrange a patologia que constitui a causa de pedir,
verifica-se ofensa às normas referidas o deferimento de medicamento ou tratamento que não
foi submetido a criteriosa análise multidisciplinar, ou – pior ainda – que já o foi e não teve
comprovada sua eficácia e segurança para a vida e saúde do paciente.
Enunciado nº 11 - Nos casos em que o pedido em ação judicial seja de medicamento, produto
ou procedimento já previsto nas listas oficiais do SUS ou em Protocolos Clínicos e Diretrizes
Terapêuticas (PDCT), recomenda-se que seja determinada pelo Poder Judiciário a inclusão do
demandante em serviço ou programa já existentes no Sistema Único de Saúde (SUS), para fins
de acompanhamento e controle clínico.
Mais do que isso, é imperioso observar que o art. 19-M da Lei nº 8.080/90 define que
atendimento integral é aquele preconizado “em conformidade com as diretrizes terapêuticas
definidas” pelo SUS, sendo que o deferimento de quaisquer outros tratamentos ou
medicamentos que estejam em contrariedade com essa política constitui ofensa literal a tal
dispositivo. Além disso, no momento em que a própria Constituição, no art. 198, II, define que
o atendimento será integral, ela o faz no contexto do Sistema Único de Saúde, cuja
regulamentação decorre de lei (art. 197 da CRFB).
Nesse prisma, vê-se que o desenho institucional da Constituição previu que o Poder Legislativo
definisse democraticamente o que seja atendimento integral, o que se positivou no referido
art. 19-M. Através do processo legislativo, detalhou-se, ainda, como se daria o processo de
incorporação de tecnologias (art. 19-Q da Lei nº 8.080/90), medida a se implementar pelo
Poder Executivo. Assim, o deferimento de outros tratamentos e medicamentos que não foram
incluídos nos protocolos, expressa ou tacitamente – e que, portanto, estão fora do tratamento
integral definido em lei – constitui igualmente ofensa à independência dos Poderes, insculpida
no art. 2º da Constituição.
Na área de Oncologia, o SUS é estruturado para atender de uma forma integral e integrada os
pacientes que necessitam de tratamento de neoplasia maligna. Atualmente, a Rede de
Atenção Oncológica está formada por estabelecimentos de saúde habilitados como Unidade
de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) ou como Centro de Assistência
de Alta Complexidade em Oncologia (CACON). Os hospitais habilitados como UNACON ou
CACON devem oferecer assistência especializada ao paciente com câncer, atuando no
diagnóstico e tratamento. Essa assistência abrange sete modalidades integradas:
diagnóstico, cirurgia oncológica, radioterapia, quimioterapia (oncologia clínica, hematologia e
oncologia pediátrica), medidas de suporte, reabilitação e cuidados paliativos. O tratamento
escolhido dependerá de fatores específicos de cada caso, tais como: localização, tipo celular,
grau de diferenciação e extensão do tumor, os tratamentos já realizados, finalidade
terapêutica e as condições clínicas do doente.
Ressalta-se ainda que sob nenhuma circunstância ou justificativa nenhum medicamento, seja
de uso oral ou parenteral, pode ser fornecido diretamente in totum a doentes ou parentes. A
guarda e aplicação de quimioterápicos são procedimentos de risco, para os doentes e
profissionais, razão por que exige pessoal qualificado e experiente, sob supervisão médica,
ambiente adequadamente construído e mobiliado para tal (a Farmácia Hospitalar e a Central
de Quimioterapia) e procedimentos especificamente estabelecidos por normas operacionais e
de segurança. A RDC Nº 220, de 21 de setembro de 2004, da ANVISA, é uma dessas
regulamentações.
– DO (S) INSUMO / MEDICAMENTO (S) POSTULADO (S)
· Em segunda linha em combinação com FOLFIRI para pacientes que receberam quimioterapia
de primeira linha à base de fluoropirimidina (excluindo irinotecano);
No que tange ao registro, informamos que de acordo com dados disponíveis na página
eletrônica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, o medicamento Vectibix®
objeto se encontra com registro vigente até 09/2018, apresenta preço registrado na CMED,
bem como, possui apresentação na concentração do princípio ativo solicitado.
Não há um direito absoluto a toda e qualquer tecnologia disponível “no mercado”, porque em
um sistema de saúde pública, fulcrado na “medicina com base nas evidências”, é poder-dever
do Estado utilizar apenas e tão-somente as tecnologias comprovadamente seguras, eficientes
e com uma relação custo-efetividade que recomende a sua incorporação ao SUS, de forma a
estar disponível em condições de igualdade para toda a população.
A guarida constante e irrestrita a esse tipo de pretensão, por tratamentos não previstos nos
protocolos do SUS, em condições de
igualdade para toda a população, consiste em um efeito potencial nefasto para a organização
do sistema.
De outro lado, observa-se nos autos que a parte autora não fez prova de ter
utilizado/esgotado as alternativas terapêuticas existentes no SUS para o tratamento de sua
doença, ou se usadas não produziram o feito esperado. Não basta mero formulário preenchido
pelo médico assistente da parte autora como prova, visto ser documento produzido
unilateralmente e por profissional que está comprometido com o seu paciente, em detrimento
do todo (Sistema Público de Saúde).
Percebe-se que, no que tange à situação específica dos autos, o medicamento postulado
somente poderia ser exigido do requerido mediante a comprovação do fracasso terapêutico
de outras drogas, fornecidas pelo SUS, ônus do qual o requerente não se desincumbiu.
Existindo, portanto, no âmbito do SUS, tratamento para a (s) doença (s) da parte autora, não
pode o Sistema ser compelido a fornecer toda e qualquer outra escolha terapêutica, sob pena
de inviabilização do Sistema.
· a eventual inércia do ente que possui a atribuição atinente (básica, especial ou estratégica,
por exemplo), no aguardo de que outro ente cumpra a decisão primeiro .
(...)
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins
idênticos.
Assim, ainda que se fixe e determine a solidariedade dos entes federativos na prestação geral
da saúde, isso não impede que - para bem orientar e tornar célere e mais seguro o
cumprimento de decisão concreta - o Juízo supere a mera aplicação da solidariedade civilista,
aplicando as regras e princípios que orientam a prestação da saúde pública, especialmente o
da subsidiariedade na repartição de competências constitucionais .
· de forma integral, abrangendo da atenção básica aos procedimentos mais complexos (art.
198, II), e
Além desses, não se pode olvidar a igual incidência de outros princípios constitucionais de
igual relevância, dentre eles a igualdade (art. 5º, caput), a eficiência (art. 37, caput) e a
proporcionalidade.
Diante dessas normas o que se propugna é que, não obstante a solidariedade e legitimidade
dos entes federativos, seja a obrigação específica de fornecimento de medicamentos
(aquisição, armazenamento, dispensação, acompanhamento do paciente, restituição em caso
de sobras) dirigida ao ente que tem maior aptidão para o seu cumprimento, com eventual
ressarcimento posterior pelos demais, na via administrativa.
Para que se possa, então, verificar qual o ente que tem a atribuição concreta de fornecer
determinada prestação, importa primeiramente saber se ela está prevista em algum protocolo
clínico do SUS, ou lista de medicamentos dispensados. Em outras palavras, se a prestação tiver
política pública já instituída, seja por meio de lei ou norma infralegal, caberá ao ente
responsável pela sua execução o cumprimento de eventual decisão judicial.
Em relação aos critérios de fixação do ente responsável, ainda que não haja política pública
instituída, é possível ter-se como balizamento as seguintes premissas:
Municípios (e DF)
Estados (e DF)
Tal sistemática vem ao encontro do disposto no art. 7º, XIII, da lei nº 8.080/90, o qual impõe
como princípio a organização dos serviços do SUS de modo a que não se tenha duplicidade de
prestações para a mesma finalidade:
2 Importa salientar que a atribuição administrativa pela dispensação do fármaco, neste caso, é
do Estado, mas poderá haver, em várias hipóteses, a responsabilidade da União pela aquisição
do medicamento ou seu financiamento, nos termos da Portaria nº 1.555, de 30 de julho de
2013, do Gabinete do Ministro da Saúde.
(...)
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins
idênticos.
Nesse sentido, confira-se o recente enunciado aprovado na I Jornada de Saúde do CNJ:
Enunciado nº 8 - Nas condenações judiciais sobre ações e serviços de saúde devem ser
observadas, quando possível, as regras administrativas de repartição de competência entre os
gestores.
Ocorre que, por um mero parâmetro geral, não é tarefa simples definir, por exemplo, se um
determinado medicamento seria, caso fosse instituída política pública, de responsabilidade da
União, do Estado ou do Município.
Veja-se que, via de regra, a seleção de determinado tratamento, bem como a sua forma de
custeio e dispensação, passa por uma análise de critérios técnicos, econômicos e sociais, o que
faz com que mesmo algumas prestações de atenção básica, que em tese ficariam a cargo do
município, sejam levadas a cabo pela União .
Diante desse quadro, o mais indicado é, além do critério da aplicação dos princípios gerais do
SUS, a utilização da analogia como meio de aferir quais as prestações públicas já instituídas, e
sua similitude com aquelas que são postuladas em Juízo.
Nesse sentido, pode-se verificar, por exemplo, se há tratamento disponível no SUS para
determinada patologia, e qual o ente que o presta. Caso seja determinado tratamento não
padronizado para a mesma doença, poderá ser eventual cumprimento da decisão direcionado
ao mesmo ente que já a trata, o qual, via de regra, disporá do aparelhamento administrativo
necessário para melhor atender o paciente.
Assim, na ausência de previsão normativa expressa para determinada prestação, poderá o juiz
intimar previamente os entes públicos demandados, para que, além de prestar informações
gerais sobre o pedido da parte, referir a existência de políticas públicas para a patologia que
constitui a causa de pedir, elucidando, igualmente qual o ente que detém a atribuição
administrativa. A propósito, é nesse caminho que aponta recente enunciado aprovado na I
Jornada de Saúde do CNJ:
Enunciado nº 13 - Nas ações de saúde, que pleiteiam do poder público o fornecimento de
medicamentos, produtos ou tratamentos, recomenda-se, sempre que possível, a prévia oitiva
do gestor do Sistema Único de Saúde (SUS), com vistas a, inclusive, identificar solicitação
prévia do requerente à Administração, competência do ente federado e alternativas
terapêuticas.
Entretanto, nada impede que, na mesma decisão que determina o fornecimento de eventual
prestação de saúde, seja determinado que o custeio de tal prestação seja realizado
posteriormente.
Caso haja política pública instituída no SUS, e se verifique tão somente um inadimplemento de
eventual obrigação que é legal e normativamente atribuída a um ente, este poderá ressarcir-se
dos demais nos mesmos moldes de custeio pactuados no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Por outro lado, quando não há política pública, deverão os custos serem repartidos pro rata,
visto não haver uma pactuação prévia no âmbito do SUS. Nesse caso, o ente ao qual foi
direcionado o cumprimento da decisão poderá exigir dos demais a sua cota, de modo a que
sejam equanimemente repartidos os ônus financeiros do deferimento de medicamentos e
procedimentos fora dos padrões do SUS.
Apenas a título de ilustração, o próprio TRF da 4ª Região tem consolidado esse modelo, como
se vê nos seguintes arestos:
É devido o ressarcimento das respectivas quotas pelos demais devedores solidários, após o
adimplemento determinado em sede de antecipação dos efeitos da tutela em relação apenas a
um.
Caso em que, postulada a prestação de tratamento de saúde em face dos três entes políticos,
em tutela de urgência apenas a um foi atribuído o ônus financeiro, determinando-se em
sentença o ressarcimento respectivo pelos demais.
(...)
5. A questão do reembolso dos custos para aquisição do fármaco é medida a ser solvida
administrativamente, sem necessidade de intervenção judicial, como bem delimitado em
sentença.
em 30/07/2014)
2. Para fazer jus ao recebimento de medicamentos fornecidos por entes políticos, deve a parte
autora comprovar a sua atual necessidade e ser aquele medicamento requerido insubstituível
por outro similar/genérico no caso concreto.
Dessa forma, poderá se determinar o ressarcimento pela via administrativa pelos critérios já
estabelecidos no SUS (se houver política
pública instituída) ou pro rata (se a prestação não for padronizada), sem prejuízo de eventual
pactuação entre os entes federativos para a repartição financeira atinente ao cumprimento da
ordem judicial.
- DAS CONTRACAUTELAS
Caso o pedido da Parte Autora seja deferido por este MM. Juízo, cautelas deverão ser
adotadas, para que não se corra o risco do insumo continue sendo fornecido sem necessidade,
seja em função da recuperação do paciente, de mudança na prescrição médica ou mesmo de
seu falecimento.
· - a determinação para que a Parte Autora informe ao Juízo ou apresente receita médica
atualizada ao ente público que ficar responsável pela entrega direta da medicação à parte
autora, periodicamente (mensalmente, a cada 3 meses, ou como bem entender este Juízo),
sob pena de suspensão do fornecimento após o descumprimento dessa obrigação;
Diante dessa norma, é imperioso que qualquer decisão judicial que refira medicamentos a
serem dispensados através do SUS façam referência exclusiva à denominação comum
brasileira, evitando-se o uso de eventual marca.
Além disso só é admissível o fornecimento de medicamento pelo SUS nos casos em que a
receita médica foi elaborada por profissional credenciado ao SUS, impondo-se que ela traga
informações essenciais e imprescindíveis ao cumprimento da obrigação. Trata-se de condição
necessária para a satisfação do comando judicial, conforme preconizado pelo Enunciado
aprovado na 1ª Jornada de Saúde do CNJ:
RESOLVE:
I. Recomendar aos Tribunais de Justiça dos Estados e aos Tribunais Regionais Federais que:
(...)
b.1) procurem instruir as ações, tanto quanto possível, com relatórios médicos, com descrição
da doença, inclusive CID, contendo prescrição de medicamentos, com denominação genérica
ou princípio ativo, produtos, órteses, próteses e insumos em geral, com posologia exata;
Assim, somente pode ser deferido o pedido da parte demandante se a receita médica contiver,
no mínimo:
- posologia;
- modo de administração;
Trata-se de requisitos essenciais para o cumprimento da obrigação, a fim de que esta se dê nos
limites específicos do efetivamente necessário ao beneficiário.
Uma ordem judicial calcada em relatório médico que não contenha tais requisitos pode
acarretar risco à saúde do paciente/autor, dificuldades e morosidade no cumprimento da
decisão, bem como riscos e prejuízos financeiros desnecessários à Administração, a partir da
compra do medicamento errado, ou em quantidade demasiada, ou por um período que
extrapola o previsto para o tratamento. Igualmente, tais situações contribuem,
significativamente, para a ineficiência das iniciativas voltadas à celeridade dos procedimentos
de compra e aquisição de medicamentos, bem como ao necessário controle dos estoques e da
distribuição.
Analisando a redação do novo CPC, a primeira alteração que salta aos olhos é que foi elidida a
possibilidade de arbitramento por apreciação equitativa do juiz tão somente pelo fato de ser
demandada a Fazenda Pública, tendo-se fixado percentuais específicos para seu cálculo (art.
85, § 3º). Além disso, a nova lei não mais refere como base de cálculo apenas “condenação”,
mas também o “proveito econômico”, conceito mais aberto e compreensivo, que abrange
muitas situações em que não há, necessariamente, uma condenação pecuniária estrita.
O primeiro ponto que se destaca é que, nos processos envolvendo o direito à saúde, não há
uma condenação pecuniária específica, mas uma determinação de fornecimento de
medicamentos, tratamentos ou outros insumos, prestações que não possuem um proveito
econômico stricto sensu.
Veja-se que o conceito de ‘proveito econômico’ está intrinsecamente relacionado àquilo que
se acresce ao patrimônio jurídico de determinado sujeito. Quando se pleiteia uma indenização,
por exemplo, ou uma determinada prestação obrigacional, ou um vencimento de natureza
salarial, ou mesmo um direito qualquer que possa ser economicamente avaliado, esse
“direito” a ser judicialmente concretizado é suscetível de apropriação pela parte, integrando
seu patrimônio jurídico, e podendo, por conta disso, ser mesmo suscetível de transmissão por
sucessão.
Digamos que a parte venha a falecer no curso do processo, antes do trânsito em julgado de
demanda em que tenha pleiteado
indenização por dano moral. Por certo que uma futura execução poderá ser movida pelos seus
sucessores, uma vez que na demanda restou incorporado o direito vindicado ao patrimônio
econômico da parte. Nas demandas de saúde, por outro lado, ainda que se julgue devida
determinada prestação de saúde (a concessão de um medicamento, por exemplo), caso a
parte venha a falecer no curso do processo o seu espólio jamais poderá pleiteá-la, pois ela
nunca não integrou o patrimônio econômico da parte falecida.
Isso porque, no que diz respeito a prestações de saúde, seu conteúdo está relacionado à
proteção, promoção e sua recuperação, dentro do contexto de acesso universal e igualitário,
aqui compreendido em sentido geral, conforme previsão do artigo 196 da CRFB em relação
saúde pública. Os pedidos, como visto, envolvem não apenas a mera concessão de
medicamentos ou a realização de tratamentos, mas ao fim e ao cabo a obtenção de prestação
que possa atender à remissão da doença ou agravo à saúde que é descrita na causa de pedir.
Em última análise, o que se pleiteia em face do Estado não são determinadas obrigações
pecuniárias stricto sensu, mas prestações suficientes à manutenção da saúde, na exata medida
da necessidade que a hipótese fática levada a Juízo demanda, sendo típicas obrigações de
fazer, sem conteúdo econômico. Por conta disso, os valores despendidos nos tratamentos ou
nos medicamentos em si pleiteados não se incorporam ao patrimônio do seu requerente. São
vinculados a determinado fim e indisponíveis. Prova disso é que a parte, ao mesmo tempo em
que tem o direito a buscar prestações de saúde em face do Estado, tem a obrigação de
restituir aquilo que não foi estritamente utilizado para o seu tratamento4.
Dito de outra forma, as prestações relacionadas ao direito à saúde não têm caráter
remuneratório (devidas em razão de algum serviço ou uso de bem), compensatório ou
indenizatório (reparação ou indenização
4 Veja-se, por oportuno, o seguinte trecho de ementa do E. STJ: “O objeto do presente feito é
o fornecimento de medicamento, tendo em conta a situação pessoal e específica da
impetrante. Trata-se, portanto, de ação de cunho personalíssimo, a ser exercida pelo seu
próprio titular, e intransmissível. De modo que devem ser devolvidos eventuais medicamentos
não utilizados pela parte autora” (REsp XXXXX/RN – 2ª T. – Relator Min. Herman Benjamin –
DJe 19/03/2014). No mesmo sentido, assim já decidiu o E. TRF4: “Permanece a obrigação do
autor em devolver os medicamentos que eventualmente restaram do tratamento, eis que
foram custeados pelo erário. Caso verificada a existência de medicação excedente no Hospital,
ou em posse do autor, esta deve ser devolvida a União, salvo comprovada inexistência de
excedentes” (TRF4, AC XXXXX-50.2012.404.7204, Quarta Turma, Rel. Candido Alfredo Silva Leal
Junior, juntado aos autos em 21/05/2015).
por prejuízos). A saúde, nesse particular, é um direito humano fundamental e sua prestação
uma obrigação de fazer de direito público, assim, de inestimável valor econômico. O Estado é
obrigado ao seu atendimento na medida estrita da necessidade, não se incorporando ao
patrimônio da parte aquilo que pleiteia em juízo.
Tal entendimento, além disso, privilegia a isonomia, uma vez que, se o sistema de saúde
pública não pode fazer distinções entre pacientes (não há doentes mais ou menos
importantes), não se podem distinguir processos em relação à fixação da sucumbência, uma
vez que em todos eles, invariavelmente, discute-se o mesmo bem jurídico: a saúde e a vida.
Por certo, a distinção que se pode fazer é em relação ao trabalho jurídico do advogado em si,
considerando os ditames do art. 85, § 2º, o que pode propiciar sucumbências fixadas em
valores diversos em cada processo, de acordo com os critérios postos na norma.
Em outras palavras, em se tratando de pleitos de saúde pública, não é cabível considerar que o
advogado que patrocina demanda em que o paciente pleiteie tratamentos mais caros seja
melhor remunerado do que outro que pleiteie aqueles menos onerosos, já que, em tese, a
“natureza e importância da causa” (art. 85, § 2º, III) são necessariamente as mesmas. Mais do
que isso, evita-se que sejam pleiteados tratamentos mais caros em face do Erário, em
detrimento de outros análogos de igual eficácia e menor valor, como meio de majorar valores
de sucumbência.
Em síntese, não obstante as alterações que o NCPC promoveu sobre o regime de fixação de
sucumbência em face da Fazenda Pública, não houve alteração substancial no que diz respeito
às demandas de saúde. Assim, sendo inestimável o proveito econômico da parte, ante as
características precípuas do direito à saúde, devem-se arbitrar os honorários advocatícios por
apreciação equitativa, na forma do art. 85, § 8º, do NCPC.
3 - DOS PEDIDOS
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