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Revista Magister de
Direito Penal e Processual Penal
Ano XV – Nº 89
Abr-Maio 2019
Classificação Qualis/Capes: B1
Editores
Fábio Paixão
Walter Diab
Coordenador
Aury Lopes Júnior
Conselho Científico
Damásio E. de Jesus – Fernando da Costa Tourinho Filho – Luiz Flávio Borges D’Urso
Elias Mattar Assad – Marco Antonio Marques da Silva
Conselho Editorial
Adeildo Nunes – Amadeu de Almeida Weinmann
Carlos Ernani Constantino – Celso de Magalhães Pinto – César Barros Leal
Cezar Roberto Bitencourt – Élcio Pinheiro de Castro – Fernando Capez
Fernando de Almeida Pedroso – Haroldo Caetano da Silva
José Carlos Teixeira Giorgis – Luiz Flávio Gomes – Marcelo Roberto Ribeiro
Maurício Kuehne – Renato Marcão – René Ariel Dotti – Roberto Victor Pereira Ribeiro
Rômulo de Andrade Moreira – Ronaldo Batista Pinto (in memoriam)
Sergio Demoro Hamilton – Umberto Luiz Borges D’Urso
A responsabilidade quanto aos conceitos emitidos nos artigos publicados é de seus autores.
As íntegras dos acórdãos aqui publicadas correspondem aos seus originais, obtidos junto ao
órgão competente do respectivo Tribunal.
A editoração eletrônica foi realizada pela LexMagister, para uma tiragem de 3.100 exemplares.
CDU 343(05)
LexMagister
Diretor Executivo: Fábio Paixão
Jurisprudência
1. Supremo Tribunal Federal – Habeas Corpus. Recurso Ordinário.
Substituição. Em Jogo, na Via Direta, a Liberdade de Ir e Vir do Cidadão,
Cabível É o Habeas Corpus Ainda que Substitutivo de Recurso Ordinário
Constitucional
Rel. Min. Marco Aurélio........................................................................................ 114
2. Superior Tribunal de Justiça – Pena. Roubo Circunstanciado. Fração de
Aumento na Terceira Fase em 2/3, Diante da Periculosidade Narrada nos
Autos. Ausência de Ilegalidade na Decisão
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior.............................................................................. 118
3. Superior Tribunal de Justiça – Prisão Preventiva. Organização Criminosa
Armada e Tentativa de Furto Qualificado com Emprego de Explosivo.
Art. 312 do CPP. Periculum Libertatis. Fundamentação Idônea. Ordem
Denegada
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz............................................................................. 120
4. Superior Tribunal de Justiça – Prova. Autorização Judicial de
Espelhamento, Via WhatsApp Web, das Conversas Realizadas pelo
Investigado com Terceiros. Pretensão de Rediscutir a Matéria e de
Prequestionar Dispositivos Constitucionais. Via Inadequada
Relª Minª Laurita Vaz........................................................................................... 125
5. Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Apropriação Indébita
Previdenciária. Art. 168-A, § 1º, I, do Código Penal. Valor do Montante
Inferior a R$ 20.000,00. Princípio da Insignificância. Aplicação.
Absolvição Sumária
Relª Desª Fed. Mônica Sifuentes............................................................................. 132
6. Tribunal de Justiça do Acre – Perturbação da Tranquilidade. Âmbito
Doméstico. Absolvição. Impossibilidade. Autoria e Materialidade
Comprovadas. Palavra da Vítima. Relevância
Rel. Des. Elcio Mendes........................................................................................... 139
7. Tribunal de Justiça de Minas Gerais – Pena. Progressão de Regime.
Reeducando Reincidente. Crime Equiparado a Hediondo. Reincidência
Genérica ou Específica. Irrelevância. Incidência do Lapso Temporal de 3/5
Rel. Des. Alberto Deodato Neto.............................................................................. 146
8. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Embriaguez ao Volante.
Lesões Corporais Culposas. Prisão Preventiva. Desnecessidade de Prisão
no Caso Concreto. Medidas Cautelares Diversas. Possibilidade
Relª Desª Lizete Andreis Sebben............................................................................. 149
9. Tribunal de Justiça de São Paulo – Falta Grave. Anotação de Falta
Disciplinar de Natureza Média. Insurgência do MP. Irresignação
Acolhida. Declaração de Perda de 1/3 (Um Terço) dos Dias Remidos
e/ou a Remir Anteriores à Falta. Prazo para o Pleito de Benefícios
Executórios, Todavia, que Deve se Restringir à Progressão de Regime
Rel. Des. Camargo Aranha Filho............................................................................ 153
10. Divergência Jurisprudencial............................................................................... 158
11. Ementário............................................................................................................ 160
Sinopse Legislativa. .............................................................................................. 186
Destaques dos Volumes Anteriores.................................................................... 187
Índice Alfabético-Remissivo................................................................................ 188
Doutrina
apenas 208 presos. Quando a população carcerária ultrapassa a casa dos 580
mil, percebe-se a insignificância da contribuição da União.
No Estado de São Paulo há milhares de pessoas com ordem de prisão
expedida pela Justiça... E se presos forem, irão para onde?
Não podemos nem devemos elaborar um diploma de tamanha impor-
tância para ser citado no exterior, ou viger apenas nas grandes comarcas; ele
deve vigorar também nos pequenos e longínquos foros espraiados por esses
brasis afora, cujos meios de comunicação, seja por via terrestre, seja por via
fluvial, todos conhecemos e lamentamos, mesmo porque “o processo penal
reger-se-á em todo o território nacional por este Código”.
Atento, pois, exclusivamente à nossa vida forense, apresentamos esta
colaboração. Os que conhecem a LEP sabem que entre ela e a realidade bra-
sileira há um verdadeiro abismo. É completamente diferente do que ocorre
nas nossas penitenciárias. Por isso mesmo, e com muito mais razão, devemos
dar aos operadores do Direito um instrumento simples de aplicação da lei
penal, sem prejuízo da observância da melhor doutrina e da melhor orientação
dos nossos Tribunais Superiores. Algo, enfim, que não cause uma mudança
brusca, e às vezes impraticável, no dia a dia forense.
Suprimimos o Juiz de Garantias. Por acaso o Juiz de Garantias pode
impedir a rudeza de alguns Delegados? Poderá, tanto quanto o Juiz que vai
presidir a instrução. Por que complicar quando se pode simplificar? De que
adiantam todos esses cuidados com o “investigado” para, após a condenação,
ser o infeliz lançado como farrapo humano num ambiente insalubre e sem
a menor condição de higiene, negando-se-lhe um mínimo de dignidade? A
mesma dignidade proclamada no art. 1º, III, da Magna Carta como um dos
seus princípios fundamentais... O art. 5º, III, da CF dispõe que ninguém será
submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. E o Estado de
Direito, com o seu regime penitenciário, respeita esse princípio e esse direito
fundamental? De que servem essas garantias judiciais se a justiça, como assi-
nala Cafferata Nores no seu Proceso Penal y Derechos Humanos (Buenos Aires,
2000, p. 199/200), “se detém nas portas dos cárceres?”. Dante Alighieri, ao
cuidar do Inferno, dizia: “Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate!” (Deixai toda
a esperança, ó vós que entrais!” (La divina commedia. 10. ed. Milano: Libraio
della Real Casa, 1938. Canto Terzo, n. 9). E é precisamente o que ouvem
aqueles que são condenados definitivamente.
O nosso CPP não deve conter disposições mirabolantes nem empa-
vonadas, uma vez que a grande maioria das nossas comarcas tem apenas um
Juiz (quando tem...), de sorte que teríamos uma aplicação desunificada do
CPP, a menos que venham a ser criados cargos de “Juiz de Garantias”, com
evidente sangria aos cofres públicos, já maltratados e descaradamente surri-
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contraditória. Entre nós, as provas que são apuradas no inquérito, que é sigilo-
so, são repetidas em juízo sob o crivo do contraditório. Inegavelmente, nesse
particular, o nosso diploma, em se tratando de tutela do direito de liberdade,
supera o sistema francês. As provas que servem para a prolação da sentença
são colhidas depois de “baixar a poeira”, como se costuma dizer. De imediato,
com os ânimos ainda agitados e inquietos, ainda sob comoção, a colheita da
prova pode sair deturpada. Entre nós, primeiro há a fase pré-processual...
depois a instrutória. Esta é que vale. E é contraditória. Outrossim: nos termos
do art. 155 do CPP, o Juiz não pode “fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas”. Se tudo pode e deve ser repetido na
instrução, para que Juiz de Garantias? Por acaso o Juiz do processo não vai
tomar conhecimento de tudo quanto se passou na fase preambular da ação
penal? Se, por acaso, a investigação coubesse a um Juiz e o julgamento a outro,
aí, sim, teríamos o verdadeiro Juiz de Garantias.
Além disso, as medidas tomadas pelo Juiz de Garantias, como decretação
ou não decretação de prisão temporária ou prisão preventiva, a autorização ou
não autorização para busca domiciliar e escutas telefônicas, podem afrontar
o entendimento do Juiz a quem for distribuído o inquérito e criar um clima
desagradável entre eles. Tudo depende da formação de um e de outro. Numa
comarca em que haja dois Juízes, um será o Juiz de Garantias do outro. Evi-
dente que eles trocam ideias a respeito do assunto. Há um clima de amizade
e entendimento entre os Juízes de uma mesma comarca. Como há nos Tri-
bunais. Se por acaso um vier a desagradar o outro, a emenda sairá pior que
o soneto... como diz um dos nossos mais velhos anexins. Embora não caiba
ao Juiz decretar a preventiva de ofício... o Promotor pode requerer... E num
mesmo ambiente de trabalho, num clima de cordialidade e entendimento...
tudo vai depender do temperamento, da formação e independência de Juízes
e Promotores. Há Tribunais em que o Relator encaminha cópia do voto aos
demais partícipes para evitar os embargos infringentes...
Todos sabemos que o Juiz não pode proferir sentença condenatória
com respaldo exclusivamente nos autos do inquérito policial. E, se o fizer, a
Segunda Instância corrige o exagero. Ademais, qualquer “extravagância” do
Juiz em detrimento do indiciado poderá ser jugulada mercê de um habeas
corpus. O mesmo acontecerá se implantarmos o “Juiz de Garantias”. Qual seria
a vantagem? Há Estados que, mesmo possuindo um orçamento respeitável,
até agora não criaram o Juizado Especial Criminal. No Estado de São Paulo
numerosas comarcas não têm o Juizado Especial Criminal. Em Bauru/SP,
cidade com mais de 380 mil habitantes, com 5 Faculdades de Direito, uma
Faculdade de Odontologia modelar que abriga, inclusive, alunos do exterior, 4
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Isso sim, seria o ideal: um Juiz responsável pelo respeito à dignidade dos
encarcerados, pois a Justiça não pode deter-se nas portas dos cárceres, como
sustenta Nores, já citado. O atual CPP precisava e precisa de uma atualização,
tal como ocorreu com a StPO, de 1877, o Code de Procédure Pénale, de 1808 e
o Codice di Procedura Pénale, de 1930. Atualizar e não criar um modelo novo.
Facilitar e não complicar. Não é da nossa cultura atribuir ao Juiz Penal poderes
para fixar valores pertinentes aos danos decorrentes de crime. Tampouco criar
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ABSTRACT: This article aims at supporting the studies about the reform of the Brazilian Code of Cri-
minal Procedure. The draft, authored by the Commission of Jurists, has ups and downs. There are many
good aspects. On the other hand, the Brazilian criminal procedural regulations, having been in force for
over 70 years, have undergone several specific amendments, and some of them should be kept, whereas
others should be further analyzed, being an example the enactment of pretrial detention to ensure urgent
protective measures in cases of domestic violence.
1 Introdução
Antes de iniciarmos a análise de todos os tópicos necessários, cumpre
ressaltar que não são e nem devem ser todos os bens da vida tutelados pelo
Direito Penal, reservando-se a proteção apenas aos bens de maior relevo para a
coletividade, haja vista que o Direito Penal deve ser a ultima ratio, só incidindo
quando nenhum outro mecanismo jurídico funcionar como elemento de
prevenção e de repressão para determinadas condutas, dentro dos paradigmas
e fundamentos constitucionais. Os tipos penais devem (ou deveriam) ser
erigidos pelo Legislador em consideração à importância do bem jurídico a ser
tutelado, segundo paradigmas ditados pela necessidade social, uma vez que a
função do Direito é a de proteger os bens jurídicos selecionados em razão de
prioridades sociais, com o objetivo de assegurar a paz social, tanto na análise
repressiva como preventiva.
Assim, vale salientar que, antes mesmo de instituir uma medida repres-
siva a um delito, necessário verificar se o bem atingido de fato é protegido
pela norma penal incriminadora, apenas após essa análise é que entendermos
a necessidade da instituição de medidas preventivas, uma vez que atualmen-
te estamos diante do enfraquecimento da utilização do sistema repressivo,
o qual vem se mostrando ineficaz diante do alto índice de criminalidade e
reincidência. No entanto, a fim de viabilizar todo o estudo, se faz imperiosa
a distinção dos conceitos de fato típico e adequação típica, a rigor comple-
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inteirar-se de ser sua ação punível ou não. Para tanto, cumpre relembrar que
os elementos do fato típico são: conduta, nexo causal, resultado e tipicidade.
Conduta é toda ação ou omissão consciente e dirigida a uma finalidade;
dolosa ou culposa. A princípio, pune-se apenas quando há vontade (dolo),
porém, como exceção (desde que o legislador expressamente entenda relevante
a punição a título culposo, consignando taxativamente nos Estatutos Repres-
sivos), pune-se quando não há vontade, mas há negligência, imprudência
ou imperícia (teoria da excepcionalidade do crime culposo). Há também a
existência de casos de ausência de conduta, como é o caso da coação física
absoluta ou força irresistível: quando uma mulher, por exemplo, obriga um
homem, mediante força ou coação irresistível (mira de uma arma), a prática
de conjunção carnal com outra mulher, atribui-se a conduta a mulher e não
ao homem.
O nexo causal, por sua vez, é a relação de causa e efeito entre a conduta
e o resultado, sendo, portanto, a modificação do mundo exterior causada pela
conduta. Já a tipicidade é a correspondência exata, a adequação perfeita entre
o fato natural, concreto e a descrição contida na norma penal incriminadora.
Ela seria a conjugação do fato com a conduta e o resultado, desde que ilícito,
ou seja, contrário às normas jurídicas.
Na lição do Professor Aníbal Bruno, tipicidade é a conformidade do
fato àquela imagem diretriz traçada na lei, é a característica que apresenta o
fato quando realiza concretamente o tipo legal, já para Roberto Lyra, “Para que
se indague de como punir é indispensável ter o que punir pela justaposição
entre a conduta e a definição legal”.
A palavra tipo, em seu sentido etimológico, tem o significado de mo-
delo ideal (exemplo ou parâmetro) que reúne determinadas características
essenciais, servindo de referência ou padrão para outras. Assim, a tipicidade
penal é a decorrência da admissão, entre nós, do princípio da legalidade como
fundamental em nosso direito penal, o qual estabelece que não há crime sem
lei anterior que o defina, não há pena sem prévia cominação legal. Tal princípio exige
que, para ser aplicada uma sanção, não seja suficiente a existência de uma lei
incriminadora em sentido vago, devendo o legislador, de forma prévia, de-
terminada, inconfundível, relevante, proporcional e adequada, na previsão de
delitos, descrever as condutas hipotéticas por meio de tipos penais (preceitos
primários).
Com efeito, os tipos referem-se sempre a condutas humanas, pois
são elas que constituem o seu objeto. Trata-se de modelos abstratos de com-
portamentos, os quais, em virtude de sua desvaloração ou valoração social,
recebem o tratamento legislativo adequado e necessário. O direito penal não
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Por sua vez, o § 4º do referido art. 33 traz uma denominada causa es-
pecial de diminuição de pena, dispondo que:
5.1 Primariedade
O conceito de primariedade de um cidadão decorre de uma interpre-
tação inversa do que preconiza o art. 63 do CP: “Verifica-se a reincidência
quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sen-
tença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior”.
Desse modo, é considerado primário aquele que, quando da prática de uma
infração penal, não tenha nenhuma outra condenação irrecorrível pela prática
de crime pretérito, cumprindo-se, pois, o primeiro pressuposto estabelecido
para o reconhecimento do tráfico privilegiado.
Imperioso ser ressaltado que, no caso em comento, a lei não exige a
reincidência específica para que a causa de diminuição de pena seja afastada.
Portanto, não é necessário que o acusado tenha uma condenação anterior
também por tráfico de drogas, bastando que exista em seu passado uma
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7 Quantum de Diminuição
A questão relativa ao montante de pena a ser reduzido, quando da apli-
cação da causa de diminuição no tráfico privilegiado, gera uma das maiores
celeumas acerca do tema. Isso porque a Lei não estabelece, de forma clara e
explícita, como o julgador deve mensurar o quantum a ser diminuído na san-
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1 “Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos,
às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).”
2 “Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal,
a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.”
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A norma regra, por sua vez, tem natureza prescritiva, descreve a conduta
a ser seguida, ou seja, a regra tem pretensão decisiva, cabendo ao julgador uma
margem menor de abstração, visto que a aplicação da regra se dá de modo
absoluto. Cabe ressaltar que, diferentemente da norma regra, o princípio estará
explícito ou implícito na ordem jurídica, haverá princípios constitucionais e
infraconstitucionais, bem como aqueles princípios que embora não positiva-
dos, podem ser ajustados no ordenamento, à medida que são aprovados pela
hermenêutica constitucional e servem como pilar e base do Estado, por isso
dito por muitos como princípios supraconstitucionais.
3 “Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano.”
4 “Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de seis meses a dois
anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”
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9 Considerações Finais
A resposta penal pela violação de um preceito tipificado concretamente
como ilícito pelo Direito Penal (preceito primário) deve (ou deveria) ser a
mais humana entre as soluções possíveis, entre as hipóteses prováveis que
se apresentam ao Estado-Juiz, mesmo porque, embora se pretenda atender
também a fins de prevenção geral, da segurança social, verifica-se que a inter-
venção, como ultima ratio, se realiza, constantemente, em casos particulares,
individualizados, com fins de prevenção especial. A infração penal, com efeito,
ainda que possa ser enquadrada no mesmo preceito ou espécie, do tipo: furto,
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aumento/redução das penas dos delitos nela contidos. A intenção da Lei, com
efeito, é impedir novos delitos, não apenas punir certa e determinada pessoa,
posto que razoável considerar a missão do direito penal como a de possibilitar
a convivência social harmônica, não podendo ficar restritivamente preso na
ideia exclusiva de retribuição. Assim, se a resposta penal, por exemplo, não
for necessária a finalidade de coibir a prática de novos delitos, por evidente,
deve o aplicador do Direito, naquele caso concreto submetido ao seu exame,
reconhecer a injustiça de uma eventual redução ou invocação de circunstância
que não se adeque ao sistema principiológico, notadamente em atendimento
da razoabilidade e proporcionalidade.
Desta forma, em atendimento a razoabilidade, deve preponderar,
acima do preceito positivado, os interesses dos envolvidos, ou seja, a vítima
(direta), sociedade (vítima indireta) e acusado (autor do fato criminoso),
com a adequação da sanção (adequação social da conduta ou comportamento
humano), se constatada necessária, em face da proporcionalidade, aos fatos
peculiares concretamente postos. O direito penal não pode ser aplicado, como
tem infelizmente acontecido, de forma mecânica e desprovido de maiores
considerações de ordem sociológica, fora dos propósitos de prevenção ou
repressão, atuando de modo meramente burocrático e positivista, acabando
por agravar os problemas sociais, uma vez que, por óbvio, a aplicação de pena
exígua a traficantes, que destroem vidas e famílias, não interessa a ninguém,
a não ser ao crime organizado.
A intervenção penal merece ser rechaçada, assim, quando revelar ser
inadequada aos propósitos sociais, como é o caso da aplicação do redutor,
o qual, aplicado de forma mecânica, desumaniza o Direito (razoabilidade).
Quando presente condição para a intervenção, por fim, em nome do senso
de justiça, a pena a ser imposta deve guardar correlação com as circunstân-
cias concretamente consideradas, afastando-se o hermeneuta da falácia de
considerar apenas abstratamente o conteúdo da norma positivada, posto que,
para prevenir, a reprimenda deve ser proporcional ao fato peculiar, não a letra
fria da lei (no caso a equivocada circunstância privilegiadora ao traficante),
considerada na sua generalidade (proporcionalidade).
Enfim, o que propomos e defendemos ao longo do presente trabalho é a
humanização da aplicação do Direito Penal, sempre levando em consideração o
que há de mais relevante para o Direito Pátrio, ou seja, a adjetivação da dignidade
e a análise prévia dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, inseridos
em um grande número de outros princípios, mesmo que de forma indireta.
O homem e sua racionalidade são, por essência, a razão e a finalidade
do Direito, só sendo justificável a intervenção, acoimada de justa, do Estado
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Juiz para aplicação e distribuição de Justiça Social, com a dignidade que lhe
é peculiar.
Com tal paradigma, salta aos olhos, evita-se a mera utilização da má-
quina judiciária para aplicação de regras (redutor) que não atendem as fina-
lidades constitucionais e aos anseios sociais, injustas e contrárias a lógica do
que é razoável e dentro da medida do certo e do justo. A resposta penal pela
violação de um preceito tipificado como ilícito pelo Direito Penal deve ser a
mais humana entre as soluções possíveis. A infração penal, ainda que possa
ser enquadrada no mesmo preceito ou espécie, terá sempre distinção, com
múltiplas variáveis e possibilidades, tais como as motivações, os antecedentes,
as circunstâncias e consequências do crime, o modo de atuar do sujeito ativo,
o risco que o comportamento representa para a sociedade, a potencialidade de
lesão ao bem jurídico tutelado. A justiça, enquanto ideal, só pode ser alcançada
quando, do ponto de vista da razoabilidade e proporcionalidade, separamos
condutas dispares, as quais, a princípio, poderiam ser tomadas como simé-
tricas. A norma jurídica, como é o caso da Lei de Tóxicos, sempre traz em
seu bojo um alto grau de discricionariedade, sempre tendo como parâmetro
o perfil desenhado em lei. Desta forma, a confecção das leis deve guardar
sintonia com ditames de política criminal, tendo sempre por escopo a busca
de soluções que agasalhem, sob o manto dos princípios constitucionais, os
verdadeiros paradigmas de justiça. A resposta penal deve cumprir sempre a
necessária função de coibir a prática de novos delitos, para atingir a finalida-
de de produção da verdadeira justiça, notadamente se considerarmos que a
elaboração das normas, bem como de eventuais exceções, como são os casos
das circunstâncias especiais de redução de pena no tráfico.
Assim, a intervenção penal não pode satisfazer-se com fórmulas gerais,
com integral abstração de condutas hipotéticas, socialmente mais danosas a
sociedade e ao bem jurídico tutelado. Nesse contexto de ideias, o escopo do
presente trabalho foi o estudo das alterações promovidas pela Lei nº 11.343/06,
notadamente no que pertine ao redutor de pena para o tráfico, não sendo
sustentável a inserção de regra que não visou aplicar o Direito Penal de forma
não equânime e justa, o que, sem dúvida, é flagrantemente o que provocou
a regra da redução de pena no denominado tráfico privilegiado. A conduta
objeto do benefício não é, por evidente, abissalmente inferior ao denominado
tráfico padrão, o que vem denotar o equívoco da previsão e a inviabilidade
jurídica da tese, dada a falta de razão do privilégio e a desproporcionalidade da
norma no que tange os parâmetros de punibilidade e individualização da pena.
Dentro do quadro exposto, buscamos extrair a exata dimensão dos
paradigmas, para que nos fosse permitido analisar o acerto ou equívoco do
estabelecimento do privilégio. Por certo, a Lei nº 11.343/06 trouxe uma visão
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 51
mais humana para o vício e suas derivações, pelo menos no aspecto programá-
tico, já que até agora não foram implementadas políticas públicas condizentes
com as regras, as quais, infelizmente, pelo que acreditamos, dificilmente serão
levadas efetivamente a realidade do cotidiano brasileiro.
Dentre as novidades trazidas pela atual Lei de Tóxicos, foi estabelecido
um tratamento diferenciado ao neófito do tráfico, considerando-se que sua
conduta não deveria ser equiparada àquela praticada pelo traficante contu-
maz, sendo-lhe concedida uma redução de pena, quando preenchidos os
requisitos legais previstos no § 4º do art. 33, estando latente que a mens legis
teve como propósito, teoricamente, possibilitar que o sujeito primário e de
bons antecedentes, ou seja, ainda não entregue a fundo ao meio criminoso,
desfrutasse de uma oportunidade mais célere de ressocialização. É indubitável,
todavia, uma intenção oculta no bojo da inserção do benefício extremo, dado
o real interesse em desafogar o problema carcerário brasileiro, diante da falta
de estrutura e investimento estatal no sistema, o que obriga a tomada dessas
providências pontuais, no afã de minimizar impasses de custosa solução no
âmbito nacional, contrárias, contudo, ao interesse social, que deveria nortear
a construção da norma.
A previsão do redutor ao dito pequeno traficante, conforme enfatiza-
mos supra, não atentou para princípio constitucional da proporcionalidade,
estabelecendo um intervalo excessivamente espaçado entre mínimo e máximo
a ser atenuado, não fornecendo ao julgador instrumentos suficientes para a
valoração e mensuração do quantum a ser aplicado no caso concreto. De outro
vértice, em sendo empregada a redução em seu máximo, como quase sempre
ocorre na prática, o montante de pena a ser cumprido fica muito aquém quando
sopesado contra a gravidade e repercussão social do crime em comento, qual
seja, uma sanção de um ano e oito meses de reclusão, inferior, até mesmo, à
de infrações penais infinitamente mais leves do que a espúria mercancia de
drogas, basta, por exemplo, a comparação com os crimes de menor potencial
ofensivo.
Não devemos esquecer, nesse diapasão, o afastamento do comando legal
emanado da Lei nº 8.072/90, com fulcro no art. 5º, XLIII, da CF/88, posto
que afastado pela Suprema Corte o caráter equiparado a hediondo do delito
de tráfico de drogas. O novo posicionamento adotado pelo STF possibilita,
a título de exemplo, a fixação do regime inicial aberto para o cumprimento
da pena, além de permitir a substituição de pena corporal pela prestação de
serviços, o que torna ineficaz o sentido e o fundamento da punição.
Conclui-se que, em verdade, o Estado preocupa-se de forma mais inci-
siva com a dissimulação dos problemas causados pela ineficiência do exercício
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TITLE: Sentence: disproportionality and social ineffectiveness of sentence reduction in the Drug Law.
ABSTRACT: This article meticulously analyzes the social ineffectiveness, from the perspective of pre-
vention, as well as the absence of proportionality, of the reduction of sentences passed to crimes related to
drug traffic (Drug Law), which clearly shows the inefficiency and neglect of the lawmakers regarding the
repressive system, as well as public opinion, leading not only to the study of the reduction of sentences in
a reasoned and proportional way, but also the need to establish a preventive system, adequate to the new
social reality of our country and also the existence of legal provisions that could be encompassed, in order
to facilitate the enforcement of the criminal law and also to deal in a reasonable way with the crime as a
superstructure of related problems. In this context, to better serve the purpose of this study, it becomes
pertinent to explore the definition of the behavior and its social adequacy. Thus, the objective of this rese-
arch (based on analyses of the opinions of courts and jurists) is to consider the lack of reasonableness and
disproportionality of the drastic reduction of sentences, in the so-called privileged trafficking, with emphasis
on the phenomenon of social adequacy and prevention, a greater scope for the existence of the reprimand.
10 Bibliografia
ABI-ACKEL, Ibrahim. Exposição de motivos da nova parte geral do Código Penal: Lei nº 7.209, de 11 de julho
de 1984. Item 25. Disponível em: <http://www.olibat.com.br/documentos/L7209_84.PDF>. Acesso em:
8 nov. 2014.
BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 1999. v. 1.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal: parte geral. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2002. v. 1.
______. Tratado de direito penal: parte geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva. 2011.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 53
1 Para José Afonso da Silva, trata-se de um dos capítulos de maior relevância consagrados na Constituição de 1988.
“A Constituição define o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos e lhe dá a natureza de bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. rev. e atual.
São Paulo: Malheiros, 2003. p. 819). Édis Milaré, por sua vez, chama a atual Constituição brasileira de “Carta Verde”
(Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2005. p. 182-184).
Alexandre de Moraes assinala que, em relação à agenda ético-política e jurídica, a Constituição de 1988 perfilhou os
princípios da Declaração sobre o Ambiente Humano, de Estocolmo (MORAES, Alexandre de. Direito constitucional.
23. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2008. p. 825-826).
2 PRADO, Luiz Regis. Direito penal ambiental: problemas fundamentais. São Paulo: RT, 1992. p. 32. No mesmo sentido:
FERREIRA, Ivete Senise. Tutela penal do patrimônio cultural. São Paulo: RT, 1995. p. 66.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 57
3 De acordo com a Fundação Renova, criada por uma decisão da Justiça para gerir as reparações e o atendimento aos
atingidos, das 53.200 solicitações de indenização feitas, 8.417 foram pagas. O número diz respeito a todas as cidades
atingidas, menos Mariana, onde os atingidos estão sob regras específicas. In: UOL Notícias. Indenizações sem pagar
e ninguém preso: 3 anos após a tragédia de Mariana. Matéria publicada em 06.02.2019. Disponível em: <https://
noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/02/06/indenizacoes-pendentes-e-ninguem-preso-3-anos-apos-
a-tragedia-de-mariana.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em: 3 mar. 2019.
4 MACHADO, Leandro. Tragédia de Mariana: sem indenização, vítimas pescam em área contaminada e já acumulam
R$ 833 mil em multas. G1. Matéria publicada em 11.12.2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/es/espirito-santo/
noticia/2018/12/11/tragedia-de-mariana-sem-indenizacao-vitimas-pescam-em-area-contaminada-e-ja-acumulam-r-
833-mil-em-multas.ghtml>. Acesso em: 3 mar. 2019.
5 G1 MINAS. Chega a 200 o número de mortos identificados no desastre da Vale em Brumadinho. G1. Matéria
publicada em 11.03.2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/03/11/chega-a-200-
o-numero-de-mortos-identificados-no-desastre-da-vale-em-brumadinho.ghtml>. Acesso em: 13 mar. 2019.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 59
6 LISZT, Franz Von. Tratado de direito penal allemão. Trad. por José Higino Duarte Pereira. Rio de Janeiro: F. Briguiet
& C, 1899. Tomo I. p. 476.
7 BETTIOL, Giuseppe. Direito penal. Trad. Paulo José da Costa Júnior. São Paulo: RT, 1976. v. III. p. 199.
8 CARVALHO FILHO, Aloysio de. Comentários ao Código Penal: arts. 102 a 120. Rio de Janeiro: Forense, 1944. v. IV.
p. 177-178.
9 NORONHA, Edgar Magalhães. Direito penal: introdução e parte geral. Atual. por Adalberto José Q. T. de Camargo
Aranha. 37. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 1. p. 360.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 61
10 LEAL, João José. Direito penal geral. 3. ed. rev. e atual. Florianópolis: OAB/SC, 2004. p. 592-593. Para o autor, a ideia
de que o tempo tudo apaga, levou o Estado a estabelecer prazos para exercitar o Jus Puniendi, sendo compreensível
que, “passado o prazo previamente estatuído em lei, o poder estatal de punir o infrator deve desaparecer”.
11 LEAL, João José. Direito penal geral. 3. ed. rev. e atual. Florianópolis: OAB/SC, 2004. p. 592-593. Ver, ainda: GRECO,
Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 18. ed. rev., ampl. e atual. até 1º. de janeiro de 2016. Rio de Janeiro: Impetus,
2016. v. I. p. 853; ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte
geral. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: RT, 2011. p. 646-658.
12 Nos arts. 109 a 119 do CP, os casos de incidência da prescrição são previstos de forma detalhada. (BRASIL. Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/
Del2848compilado.htm>. Acesso em: 16 jan. 2019)
13 Por sua vez, o art. 22 da LCA indica as espécies de pena restritiva de direitos: “suspensão parcial ou total das atividades:
interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade, e proibição de contratar com o Poder Público, bem
como dele obter subsídios, subvenções ou doações”. Corrigindo equívoco conceitual cometido pela lei codificada,
a Lei dos Crimes Ambientais classifica a prestação de serviços à comunidade como alternativa penal de natureza não
restritiva. (BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas
de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil/leis/L9605.htm>. Acesso em: 17 jan. 2019)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
62
14 “Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em: I – custeio de programas e de pro-
jetos ambientais; II – execução de obras de recuperação de áreas degradadas; III – manutenção de espaços públicos;
IV – contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.”
15 Para o Código Penal brasileiro, “A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada
na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta)
dias-multa (art. 49). O valor de cada dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do
maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. O valor da multa
será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária”.
16 Poucos crimes, como de pesca com uso de explosivos (art. 35 e seus incisos), de dano praticado contra Unidade
de Conservação e Áreas de Preservação Permanente (art. 40), de poluição (previsto no art. 54, § 2º) e de elaborar
licenciamento ambiental de forma culposa (art. 69-A, § 1º) deixam de prescrever a pena de multa para o infrator dos
tipos penais ali descritos. Todos os demais crimes previstos na LCA são punidos com pena de multa, expressamente,
indicada na parte sancionatória de cada tipo ambiental penal. Os dispositivos também indicam que a aplicação da
pena pode ocorrer de forma isolada, alternativa ou cumulativa. Vale ressaltar que legislador recorreu intensamente à
pena de multa para sancionar o infrator da lei penal ambiental, numa demonstração clara da crença oficial no poder
persuasivo da pena pecuniária.
17 Para a pessoa física, se assim entender necessário, o magistrado poderá acrescer a pena de multa ou outra sanção
alternativa, à sanção privativa de liberdade, de acordo com o disposto na parte sancionatória de cada tipo penal
ambiental.
18 Basta examinar o estudo sobre ações criminais contra infratores da LCA, no Estado do Pará, para constatar a enorme
dificuldade de se alcançar a sua efetiva aplicação. Em 2003, Brenda Brito e Paulo Barreto pesquisaram que, dos cinco
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 63
Assim, com base no art. 21, o juiz dispõe do poder discricionário para exami-
nar as circunstâncias em que o crime foi praticado, a maior ou menor intensidade
do dano ambiental para, então, aplicar qualquer uma das penas ali descritas – multa,
restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade. Essa disposição geral
indica que, para sancionar o ente jurídico infrator, o juiz pode aplicar só a pena
de multa, só uma das penas restritivas de direitos ou só a prestação de serviços,
de forma isolada. Sempre que entender conveniente e de forma justificada, pode
aplicá-las cumulativamente. Essa alternativa sancionatória vale para qualquer um
dos crimes descritos na LCA praticado por uma pessoa jurídica19.
processos com denúncias oferecidas, dois aguardavam a citação do acusado, outros dois enfrentavam conflito de
competência entre Justiça Federal e Estadual para seu julgamento e um deles aguardava a suspensão do processo.
(BRITO, Brenda; BARRETO, Paulo. Aplicação da lei de crimes ambientais pela Justiça Federal no setor florestal
do Pará. Revista de Direito Ambiental, Publicação oficial do Instituto “O Direito por um Planeta Verde”, ano 10,
n. 37, p. 218-243, São Paulo, RT, jan./mar. 2005. p. 227). Em 2011, comprovamos o demonstrado pelos autores
anteriormente referidos, quanto ao controle penal da pessoa jurídica por crimes ambientais (LEAL, Rodrigo José.
Princípio constitucional do ambiente ecologicamente equilibrado e a responsabilidade penal da pessoa jurídica prevista na Lei
9.605/98: controle penal efetivo x controle penal simbólico do processo de degradação ambiental no Brasil. 2011,
543 f. Tese [Doutorado em Direito]. Universidad de Alicante, 2011. caps. 9 e 10 e anexos 1 a 3, especialmente). Em
2018, não foi diferente. Demonstramos, em outro estudo, as dificuldades da punição criminal à pena de multa de
pessoas jurídicas por crimes ambientais (LEAL, Rodrigo José. Atividade empresarial criminosa contra o ambiente
e resposta punitiva pecuniária: um estudo das penas de multa aplicados na jurisprudência do Tribunal de Justiça de
Santa Catarina – TJSC. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal, ano XIV, n. 84, p. 5-23, Porto Alegre, Lex
Magister, jun./jul. 2018). Isso demonstra que a proteção penal ambiental no Brasil precisa de maiores avanços, tanto
no campo legislativo, quanto no campo político.
19 MARCHESAN, Ana Maria Moreira; STEIGLEDER, Annelise Monteiro; CAPPELLI, Sílvia. Direito ambiental. 5.
ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2008. p. 188.
20 “Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de
modo diverso”. Na Lei nº 9.605/98, também encontramos o princípio da convivência das esferas autônomas, disposto
no art. 79: “Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal”.
Todavia, quando a lei especial conter preceito geral, também disciplinado pelo Código Penal, “prevalece a orientação
da legislação penal especial, em face do seu específico campo de atuação”, conforme: MASSON, Cleber. Direito
penal: parte geral. 8. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014. v. 1. p. 198. Esse é o
entendimento corrente na doutrina brasileira.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
64
berdade cominada no respectivo tipo penal, mesmo que a empresa não tenha
sido processada ou, ao final, não tenha sido condenada21.
A nosso ver, outra opção seria a de a LCA prescrever prazos próprios para
a prescrição das penas dos crimes ambientais cometidos por pessoa jurídica,
deixando a pessoa física sujeita às regras do Código Penal.
Da mesma forma, a LCA optou por remeter ao Código Penal brasileiro
o critério do cálculo para aplicação da pena de multa por crime ambiental
cometido pela pessoa jurídica. Também aqui, a Lei não foi feliz, porque os
valores da pena pecuniária previstos no CP foram concebidos para punir a
pessoa física e não pessoas jurídicas proprietárias de imensos patrimônios,
capazes de causar danos ambientais incalculáveis. Essa afirmação vale mesmo
diante do dispositivo da LCA, que autoriza triplicar o valor máximo da pena
pecuniária cominada na lei codificada22.
De qualquer forma, no caso de condenação de empresa infratora da lei
ambiental, o princípio da convivência das esferas autônomas determina que a aplica-
ção e o cálculo da pena de multa obedecerão às regras e valores prescritos no
Código Penal. Essa operação judicial, que pode parecer de fácil observância,
tem gerado divergência e desencontros na doutrina e na jurisprudência, no
momento em que o magistrado é chamado a examinar a questão da extinção
da punibilidade pela prescrição das penas aplicadas à pessoa jurídica.
A partir dessas considerações gerais e introdutórias, examinaremos as
hipóteses concretas em que o juiz enfrenta a questão da prescrição da pena de
multa cominada ao crime ambiental praticado por pessoa jurídica.
21 A teoria da dupla imputação que não admitia a pessoa jurídica como único sujeito passivo da ação penal ambiental
e exigia que a pessoa física fosse, necessariamente, também processada, acabou superada por decisão do STF, RE
548.181, do Paraná, 2013, Relª Rosa Weber. Vale anotar que no RE 628.582/RS-AgR, j. 06.09.2011, o Ministro Dias
Toffoli já se manifestara no sentido de que a responsabilidade penal isolada da pessoa jurídica, não violava o § 3º do art.
225 da CRFB/88. Ver: LEAL, Rodrigo José. Ambiente ecologicamente equilibrado, responsabilidade penal da pessoa
jurídica e a regra da dupla imputação material: jurisprudência do STJ em descompasso com a nova hermenêutica
do STF. Revista do Direito da UNISC, Santa Cruz do Sul, v. 1, n. 45, p. 61-88, jan./abr. 2015.
22 “A pena de multa será calculada segundo os critérios do Código Penal, podendo ser aumentada em até três vezes, tendo
em vista o valor da vantagem econômica. (Art. 18, da LCA). O valor da pena de multa pode alcançar o valor de 16.200
salários mínimos, caso o autor do fato criminoso ambiental tenha auferido elevada vantagem econômica”. Ver: LEAL, Rodrigo
José. Atividade empresarial criminosa contra o ambiente e resposta punitiva pecuniária: um estudo das penas de
multa aplicados na jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina – TJSC. Revista Magister de Direito Penal
e Processual Penal, ano XIV, n. 84, p. 5-23, Porto Alegre, Lex Magister, jun./jul. 2018.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 65
prescrição das penas ali cominadas, com o fim de estabelecer o controle penal
da delinquência empresarial. Recorrendo à analogia, uma primeira corrente
optou por eleger o prazo prescricional de dois anos, estabelecido no art. 114,
inciso I, do CP. Dessa forma, o entendimento é de que, transcorrido esse
exíguo prazo, prescrita estaria a pretensão punitiva estatal para sancionar o
ente jurídico causador de agressão ao ambiente.
O dispositivo se refere à hipótese em que a pena de multa for “a única
cominada ou aplicada”23. Porém, no âmbito da LCA, as penas cominadas à
pessoa jurídica – multa, restritivas ou prestação de serviços – são autônomas,
de caráter geral e podem ser aplicadas, isoladamente ou em conjunto entre elas.
Por isso, em face da lacuna da lei, a corrente hermenêutica aqui comentada
considera que, em se tratando de uma ou mais penas cominadas ou aplicadas
à pessoa jurídica, a questão relativa a eventual prazo prescricional deve ser
resolvida, com base no inciso I do art. 114 do Código Penal24.
Nessa linha de pensamento, o TJRS reconheceu, por analogia, como
prazo de prescrição das penas restritivas de direitos aplicáveis à pessoa jurídica,
o mesmo prazo da pena de multa, prevista no art. 114, I, do Código Penal.
Com a denúncia apenas recebida, sem sentença condenatória de primeiro
grau, com aplicação de pena de multa ou restritiva de direitos, decorreram
mais de dois anos, na data de julgamento pelo referido tribunal. Segundo
o Relator, a demora em proferir sentença penal condenatória, justificava o
decreto de prescrição.
Consta do acórdão que a pena restritiva de direito aplicável à pessoa
jurídica, tem caráter autônomo e não substitutivo da pena privativa de liber-
dade. Além disso, diz o julgado que a LCA “não traça qualquer parâmetro
que possa servir de base ao cálculo da prescrição, razão pela qual não incidem
sobre essas sanções alternativas cominadas à pessoa jurídica as mesmas regras
do Código Penal!”. Concluiu o acórdão que, “(...) ante o vácuo legislativo, a
solução mais razoável consiste em equiparar, para efeito de prescrição, as penas
restritivas de direito e prestação de serviços à comunidade à multa. Por este
23 “Art. 114. A prescrição da pena de multa ocorrerá: I – em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou
aplicada; II – no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for
alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada (Código Penal).”
24 Cabe destacar que as hipóteses que aqui serão examinadas e comentadas valem para a prescrição da pretensão punitiva
propriamente dita ou prescrição da ação penal (art. 109, caput, do CP), para a prescrição da pretensão punitiva retro-
ativa (art. 117, I e IV, do CP) e, também para a prescrição da pretensão punitiva intercorrente, que se verifica entre
a publicação da sentença condenatória recorrível e seu trânsito em julgado para a defesa. Há, ainda, uma hipótese
de prescrição da pretensão punitiva, denominada de virtual, mas que tem sido vedada pela jurisprudência (Súmula
nº 438 do STJ).
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
66
motivo, observado o prazo prescricional de 2 (dois) anos, os fatos, bem ou mal, estão
prescritos”25.
A linha jurisprudencial acima mencionada, acabou respaldada pelo
STJ, que aplicou o prazo prescricional do art. 114, I, do Código Penal, para
decretar a extinção da punibilidade de uma empresa, única denunciada pela
prática do crime ambiental definido no art. 38 da Lei nº 9.605/98 e condenada
à pena de serviços à comunidade no valor de R$ 30.000,00, em favor de entidade
ambiental legalmente credenciada26. Segundo a Ministra Laurita Vaz, como não
houve condenação de pessoa física à pena privativa de liberdade, não haveria
como balizar o prazo prescricional da pena de prestação de serviços à comu-
nidade, na forma prevista no parágrafo único, do art. 109 do CP27. Assim,
ficava justificado o decreto extintivo da punibilidade28.
Na esteira desse entendimento, o TJSP igualmente decidiu que, no caso
de a pessoa jurídica ser a única denunciada na ação penal, as penas previstas
para sanção da pessoa jurídica são autônomas, não havendo como vincular o
prazo prescricional ao tempo da pena privativa de liberdade, concebida para
punir pessoa física. Decidiu o Tribunal que as penas previstas para os entes
morais devem gozar de prazos prescricionais próprios. Diante da omissão
da LCA, não é admissível aplicar-lhes os prazos previstos na Parte Geral do
Código Penal, destinados às pessoas físicas.
No acórdão, a corte reconheceu que existe previsão na lei codificada
quanto ao lapso temporal da pena de multa e que, desse modo, seria “mais
adequada a equiparação do prazo prescricional da pena restritiva ao da pena de
multa, seja por inexistência de previsão legal a autorizar a utilização do prazo
da pena privativa de liberdade, seja pela própria natureza da pena, seja pela
vedação da utilização da analogia in malam partem”. E assim o TJSP adotou,
por analogia, o prazo benéfico de apenas dois anos, estabelecido no art. 114,
I, do CP29.
25 Nesse sentido: TJRS, Recurso em Sentido Estrito 70026956300, da Comarca de Cruz Alta, em que é recorrente o
MPRS e recorrida All-América Latina Logística do Brasil S/A. Local e data do julgamento: Porto Alegre, 25 de junho
de 2009. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/site/>. Acesso em: 17 jan. 2019.
26 STJ, EDcl no AgRg no RE 1.230.099/AM (2010/0219705-4) (f). Embargante: Centro Educacional Lato Sensu.
Embargado: MP/AM. Relª Minª Laurita Vaz. DJ 20.08.2013. Disponível em: <http://www.stj.jus.br>. Acesso em:
23 jan. 2019.
27 Reza o dispositivo que “Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de
liberdade”.
28 Esse entendimento do STJ, fundamentou decisão, no mesmo sentido, do TJSC, de decreto prescricional de ação
penal contra pessoa jurídica, em 2014. Ap. Criminal 2013.064131-8, de Criciúma. DJ 26.09.2014.
29 No acórdão, ficou estabelecido que “a aplicação das Regras Gerais do Código Penal benéficas à empresa acusada,
equiparando, para efeito da prescrição, as penas restritivas de direitos e a prestação de serviços à comunidade à de
multa, e, consequentemente, submetendo-as ao prazo prescricional de 2 (dois) anos, consoante disposto no art. 114,
inciso I, do Código Penal é a solução mais adequada” (Recurso em Sentido Estrito 0003993-50.2014.8.26.0361, DJ
20.10.2016).
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 67
3.1 Doutrina
Não é só a jurisprudência. Também, a doutrina advoga a aplicação do
prazo de dois anos, estabelecido no art. 114, I, do CP, como solução para en-
frentar a lacuna deixada pela LCA, que é completamente omissa no tocante
à prescrição das penas cominadas aos crimes praticados pela pessoa jurídica,
sejam elas as penas pecuniária ou restritiva de direitos. É o que ponderou
Rodrigo Muniz dos Santos, ao escrever que “as penas cominadas abstrata-
mente para as pessoas jurídicas, independentemente daquelas estabelecidas,
nas mesmas hipóteses, para as pessoas físicas, têm seus prazos prescricionais
fixados em 2 (dois) anos, por aplicação analógica, in bonam partem, do art. 114,
I, do Código Penal”30.
Nessa mesma linha interpretativa, Rodrigo Iennaco sustentou que o
único referencial para prescrição de crime ambiental imputado à pessoa jurídica
é o do art. 114, I, do Código Penal, porque é a única disposição expressa a
respeito da prescrição. “Entendimento diverso remeteria o prazo prescricio-
nal, sem respaldo legal explícito, ao arbítrio do juiz, que elevaria livremente
o prazo prescricional ao prever sanções por período demasiadamente elástico,
unicamente para fugir do prazo de prescrição exíguo da multa”31.
Discorrendo sobre o tema, Juliano Breda entende que a LCA “deveria
ter expressamente mencionado, em cada tipo penal, a sanção aplicável à pessoa
jurídica, como ocorre em relação às pessoas físicas”. Conclui que, diante da
omissão legal, não é possível “o recurso à analogia, dada a vedação de seu uso
no domínio das sanções penais”32.
30 SANTOS, Rodrigo Muniz. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas e prescrição. In: PRADO, Luiz Regis;
DOTTI, René Ariel (Coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal
subjetiva. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2013. p. 324.
31 MORAES, Rodrigo Iennaco de. Prescrição penal bienal da pretensão punitiva da pretensão de punir pessoas jurídicas
em virtude de imputação de crime ambiental. In: IX Congresso Estadual do Ministério Público de Minas Gerais. 27.05.2010.
Disponível em: <http://www.ammp.org.br/inst/artigo/Artigo-34.doc>. Acesso em: 22 jan. 2019.
32 BREDA, Juliano. Inconstitucionalidade das sanções penais da pessoa jurídica. p. 283-297. In: PRADO, Luiz Regis;
DOTTI, René Ariel (Coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal
subjetiva. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2010. p. 287.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
68
33 Foram identificados cerca de cento e vinte e sete (124) recursos de apelação, que são fontes de reflexão para a estrutura
deste artigo. A pesquisa utilizou as palavras-chave “crime ambiental e pessoa jurídica”; “responsabilidade penal da
pessoa jurídica” e “crime ambiental”, com o objetivo de identificar todos os julgados envolvendo a responsabilidade
penal da pessoa jurídica por crimes ambientais previstos na Lei nº 9.605/98, no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça
do Estado de Santa Catarina – TJSC. Esta pesquisa abrangeu o período de 30.03.98 a 15.01.2019. Uma parte, referente
ao período de 30.03.98 a 31.07.2010, pode ser examinada de forma mais detalhada, nos capítulos 9, 10 e no anexo 1,
da seguinte referência bibliográfica: LEAL, Rodrigo José. Princípio constitucional do ambiente ecologicamente equilibrado e
a responsabilidade penal da pessoa jurídica prevista na Lei 9.605/98: controle penal efetivo x controle penal simbólico do
processo de degradação ambiental no Brasil. 2011, 543 f. Tese (Doutorado em Direito). Universidad de Alicante,
2011. p. 340 e ss.
34 Recursos em Apelação Criminal 2009.059190-0, de Chapecó; 2009.045642-4, de São Domingos; 2009.012469-9,
de Mafra; 2009.002732-6, de Garuva; 2008.035284-8, de São Miguel do Oeste; 2008.005942-3, de Bom Retiro;
2008.009352-8, de Bom Retiro; 2007.001757-0, de Lages; 2008.028210-1, de Criciúma; 2008.033076-3, de Cha-
pecó; 2008.008711-6, de Lages; 2008.000442-8, de Ipumirim; 2005.006085-0, de Trombudo Central; 02.002622-0,
de São Miguel do Oeste; 2006.037408-2, de Chapecó; 2009.066332-8, de Ipumirim; 2009.071074-4, de Rio do
Sul; 2010.053376-8, de Porto União; 2013.018748-1, de Joaçaba; 2011.062789-3, de Porto União; 2013.054360-3,
de Concórdia; 2013.064131-8, de Criciúma; 2014.058640-0, de Lages; 2015.032199-3, de Criciúma; 0000516-
37.2011.8.24.0019, de Concórdia; 0000118-95.2014.8.24.0242, de Impumirim.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 69
art. 21 e seus incisos I a III da LCA37. Assim, entendemos ser possível vincular
o prazo de prescrição das penas cominadas aos crimes ambientais praticados por
uma empresa, aos mesmos prazos estabelecidos no art. 109 e seus incisos do CP.
No caso das penas alternativas, essa possibilidade se torna ainda mais
evidente, pois o parágrafo único do art. 109 do Código Penal brasileiro dispõe,
expressamente, que “Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos pra-
zos previstos para as privativas de liberdade”. A dicção do dispositivo é clara e
não deixa dúvida. As penas alternativas (restritivas de direitos e a prestação de
serviço (esta última, no Código, também tratada como restritiva de direitos),
cominadas à pessoa jurídica por crime ambiental, prescrevem nos prazos es-
tabelecidos para as sanções reclusivas destinadas à repressão da pessoa física.
37 As penas aplicáveis, isolada, cumulativa ou alternativamente, à pessoa jurídica são a multa, as restritivas de direitos
e prestação de serviços à comunidade (art. 21 da LCA).
38 “Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde
humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.” (O § 1º descreve a
forma culposa e outros dois parágrafos as modalidades qualificadas do tipo penal).
39 ��������������������������������������������������������������������������������������������������������������
No voto, o Relator reconhece a enorme dificuldade de se encontrar uma regra segura a solução dos casos de pre-
scrição das penas alternativas adotadas pela Lei nº 9.605/98. (TRF da 4ª Região, MS 2002.04.01.013843-0, do Paraná.
Impetrante: Petrobras. Rel. Des. Fábio Bittencourt da Rosa, DJ. 10.12.02. Disponível em: <https://www.trf4.jus.br/
trf4/>. Acesso em: 17.01.2019)
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 71
40 STF, AgRg no RE 944.034/PR. Agravante: Battistella Adm. e Participações S/A. Agravado: MP do Estado do Paraná.
DJ, Brasília, 23 e 29.09.2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 17 jan. 2019.
41 Ver acima, Item 3.
42 Para citar algumas decisões do STJ: RMS 56.073/ES, DJ 25.09.2018; AgRg no RMS 48.851/PA, DJ 20.02.2018.
43 Para citar algumas decisões do TJRS: MS 70076142371, DJ 08.03.2018; Ap. Crime 70074098518, DJ 10.08.2017;
HC 70075492470, DJ 09.11.2017; RSE 70072687791, citado no corpo do Acórdão MS 70076142371.
44 Ver nota de rodapé nº 23.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
72
5 Considerações Finais
A LCA é completamente omissa na questão relacionada aos prazos
prescricionais das penas aplicáveis aos autores, pessoa física ou jurídica, de
crimes ambientais. Por força do princípio da convivência das esferas autônomas,
esse vazio normativo deve ser preenchido pelas regras gerais do Código Penal,
previstas nos arts. 109 a 119 do Código Penal brasileiro.
No caso de pessoa física, sancionada com pena privativa de liberdade,
a lacuna pode ser suprida, sem maior problema, pelo recurso às regras gerais
sobre a matéria, previstas no Código Penal. Mas, quando se trata de pessoa
jurídica, a omissão tem gerado desencontros doutrinários e divergências na
área da jurisprudência.
Diante da omissão, uma primeira corrente jurisprudencial, aplicou o
prazo prescricional de dois anos, estipulado no art. 114, I, do Código Penal,
para qualquer das penas aplicadas à pessoa jurídica, multa, restritivas de direitos
e serviços à comunidade. No entanto, esse entendimento judicial se mostrou
demasiadamente liberal, além de desconsiderar outros dispositivos do CP e
da própria LCA aplicáveis à matéria.
A complexidade das ações penais contra as pessoas coletivas e a mo-
rosidade da justiça criminal deixam evidente que o curto prazo de dois anos
contribuiu, de forma significativa, para a prescrição da maior parte dos crimes
e das ações penais instauradas contra as empresas infratoras do ambiente.
Essa evidente ineficácia da lei penal ambiental é demonstrada pelos
números levantados por pesquisa realizada durante a elaboração desse trabalho
acadêmico46, mostrando que apenas 25 empresas foram efetivamente conde-
nadas por crime ambiental, entre os 124 casos julgados pelo TJSC, durante
o período de 1998 a 2018.
TITLE: Corporate delinquency and prescription of criminal penalties committed to environmental crimes
provided in Law no. 9,605/98: protection or (des)protection of the environment?
ABSTRACT: Law no. 9,605/98 – Law on Environmental Crimes or LCA – does not discipline the issue
related to the prescriptive term of environmental crimes. Consequently, the rules provided for in articles
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
74
109 to 119 of the Criminal Code, fill this gap, pursuant to art. 12 of the Code, art. 79, of the LCA and,
also, of the denominated theory of the coexistence of the autonomous spheres. The codified standards
are intended for crimes committed by individuals, punishable by deprivation of liberty. However, this
type of penalty does not apply to crimes committed by a legal entity. Hence the difficulty of applying the
codified rules on prescription to cases of environmental crimes practiced by companies. Two jurisprudential
currents arose to suppress the omission. The first one adopted the understanding that the criminal penalty
applicable to the legal entity, fine, restrictive of rights or services to the community, prescribes in two years,
of art. 114, I. Another, applies to the legal entity the same prescriptive period of the custodial sentence for
the environmental crime committed by the individual, in the form of the sole paragraph of art. 109 of the
Penal Code. The adoption of each of these jurisprudential currents implies to a greater or lesser extent
effectiveness of the rule that introduced the responsibility of the legal person in Brazil, provided for in
Law no. 9,605/98. Here is the synthesis of what we are going to analyze here.
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Noventa e sete por cento dos casos federais são resolvidos da mesma
maneira de Church, por negociação/barganha. Dados em nível estadual sugerem
números semelhantes em todo o país. Embora o acesso a um julgamento
público esteja consagrado na Sexta Emenda, aceitar uma negociação exclui
essa possibilidade. “Esse direito constitucional, para a maioria, é um mito”,
escreveu o Juiz Federal dos EUA, John Kane, em 2014 – uma voz entre um
coro de juristas, defensores e acadêmicos que pedem por reformas. Alguns
querem ajustes para regulamentação e controle das negociações; outros pedem
uma revisão mais ambiciosa do modo como os procedimentos são conduzidos,
agilizando o processo para torná-lo acessível a um maior número de pessoas.
Barganhas eram quase desconhecidas antes da Guerra Civil. Somente
depois dela, à medida que as ondas de americanos e imigrantes se deslocavam
e chegavam às cidades e as taxas de criminalidade aumentavam, os tribunais de
apelação começaram a documentar negociações que se assemelham à prática
moderna. O acordo tornou-se uma válvula de escape para a resolução de casos.
Os tribunais de apelação “todos condenaram isso como chocante e terrível” na
época, disse Albert Alschuler, um professor aposentado de direito que estuda o plea
bargaining há cinco décadas. Os tribunais levantaram uma série de objeções a esses
primeiros acordos, do sigilo do processo à probabilidade de coagir réus inocentes.
Acordos, escreveu o Supremo Tribunal de Wisconsin, em 1877, são “dificilmente,
se é que são, distinguíveis em princípio de uma venda direta de justiça”.
A prática, no entanto, continuou e, na virada do século, um pequeno
balcão de negócios havia se instalado nessa órbita. “Intermediadores” pode-
riam ser contratados para providenciar alternativas a uma sentença de prisão.
A polícia regularmente visitava as cadeias para “negociar” com os presos. Um
advogado de defesa da cidade de Nova York e amigo de magistrados locais
perambulou na frente do plantão noturno vendendo 10 dias de prisão por US$
300, 20 dias por US$ 200 e 30 dias por US$ 150. Na década de 1920, quando
os crimes federais de violação da “lei seca” inundaram os fóruns criminais,
88% dos casos na cidade de Nova York e 85% em Chicago foram resolvidos
por meio de plea barganinig. Quando a Suprema Corte, em 1969, finalmente
se manifestou sobre a legalidade da questão, decidiu por unanimidade que as
negociações e acordos são constitucionalmente aceitáveis. Eles são “inerentes
à administração da justiça criminal”, declarou a Corte.
Algumas justificativas são usadas para explicar o uso generalizado dos
acordos. Nos casos que envolvem o crime organizado, os promotores podem
usar os acordos para alavancar o caso, extraindo informações de infratores de
menor importância na estrutura criminosa para alcançar os níveis mais altos
da hierarquia. Os acordos também podem oferecer vantagens realmente boas
para pessoas que estão condenadas a longas penas de prisão. O pensamento
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
78
1 NT: Na verdade o problema é que a defesa precisa decidir se aceita ou não o acordo sem conhecer todas as provas
que o Ministério Público tem (ou não tem) contra o réu.
2 NT: Ou seja, justa causa, enquanto elementos probatórios suficientes para acusar alguém e levar o caso penal a
julgamento.
3 NT: No sistema americano existem crimes (graves) em que se limita o poder do juiz de definir a pena, na medida em
que a lei já determina. É o que ocorre, por exemplo, com os crimes apenados com prisão perpétua ou pena de morte.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 79
5 NT: Um procedimento muito importante que pode e deve ser adotado nas negociações é o compartilhamento de
provas entre acusação e defesa, para que a defesa possa decidir sobre fazer ou não o acordo a partir de uma análise
de viabilidade ou não da acusação. Isso é uma exigência de boa-fé e transparência que não só deve pautar o agir do
Estado, mas também como uma forma de evitar “blefes” e acordos abusivos. Se a “estratégia” e a “malícia” podem
ser utilizadas nos negócios privados, não o devem quando se trata de um agente público.
6 NT: Entendemos que a autora está se referindo ao estabelecimento de limites de redução da pena, que devem ser
respeitados e, portanto, inegociáveis, ao contrário do que existe hoje.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 81
ABSTRACT: Plea bargains were almost unheard of prior to the Civil War. Only in its aftermath, as waves
of displaced Americans and immigrants rolled into cities and crime rates climbed, did appellate courts
start documenting exchanges that resemble the modern practice. The plea became a release valve for
mounting caseloads.
Introdução
O crime organizado representa uma estrutura de Estado paralelo
que, apesar de possuir peculiaridades conforme estudadas nos mais diversos
países ou nos diversos Estados da nossa Federação, busca avançar escapando
das diversas ações persecutórias do poder legítimo de um povo. A afirmação
torna-se necessária para pontuar, inicialmente, que as organizações criminosas
representam, dentre seus muitos tentáculos e formatações, um conjunto de
intenções nocivas capazes de corroer as principais bases de um Estado, tendo
em vista o poder econômico de tais grupos delitivos, o grau de infiltração nas
instituições, a força intimidativa e a capacidade de corromper agentes públicos.
Para enfrentar esse perigo, o Estado deve valer-se cada vez mais de
métodos não usuais e ousados (entretanto, com a devida razoabilidade e am-
paro legal). Os métodos ora ventilados são meios de obtenção de prova mais
elaborados que, apesar de não abandonarem o contraditório e a ampla defesa,
devem estar sensíveis ao fato de que os meios ordinários de prova são insufi-
cientes e, até mesmo, inadequados ao combate dessas estruturas ameaçadores
capazes de comprometer, até mesmo, o Estado Democrático de Direito.
Apesar da história da humanidade mostrar que sempre existiram grupos
estruturados com fins delituosos que cresceram no vácuo das ações do poder
constituído, é notória a inabilidade e a ausência da capacidade de antecipar-se
às ações de tais grupos criminosos.
Podemos citar vários exemplos de aglomerados de pessoas que se
sedimentaram ao longo da história para formar instituições paralelas que se
confundem no tempo até mesmo com a própria formatação do poder público.
No Japão, a máfia conhecida como Yakusa detém uma grandiosa estrutura que
se confundiu com o próprio desenvolvimento do comércio daquela região.
Na Itália, são conhecidas e badaladas pelo cinema as organizações mafiosas
Cosa Nostra, na Sicília, a Camorra, em Nápoli, e a ‘Ndrangheta, da Calábria.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
84
Hoje, estamos lidando com grupos que alegam possuir milhares de “ba-
tizados” (integrantes) cooptados e já sujeitos a um pacto de morte pela facção.
Tais integrantes são submetidos a uma ideologia que apregoa que o Estado
é um inimigo que precisa ser combatido por conta da opressão promovida
no sistema penitenciário e nas comunidades. Esse pensamento, se difundido
em cadeias de países com cultura mínima de defesa institucional, como, por
exemplo, o Estado de Israel, seria prontamente debelado.
Entretanto, essa difusão de pensamento criminoso insurgente existe
especialmente por conta de uma cultura de abandono do sistema prisional
brasileiro, na qual vigora a ideia do esquecimento, campo fértil para a proli-
feração de grupos criminosos, pois, destaque-se, o crime organizado possui
o formato que cada Estado impõe. Por conta disso, tornou-se popular a
afirmação de que as cadeias são universidades do crime, de onde surgiram as
maiores organizações criminosas do Brasil, como, por exemplo, o Primeiro
Comando da Capital e o Comando Vermelho, ambas já apresentando aspectos
de transnacionalidade.
Apesar de ser um problema muito antigo, as ações orquestradas por
organizações criminosas tiveram sua primeira abordagem em nosso ordena-
mento jurídico através da Lei nº 9.035/95, sofrendo modificações através da
Lei nº 10.215/01, sendo revogada completamente através da Lei nº 12.850/2013
(Lei do Crime Organizado). No primeiro diploma mencionado, o legislador
buscou definir as ações praticadas pelas organizações criminosas e os meios
operacionais de investigação e de prova, mas não definiu o que seria uma
organização criminosa, muito menos estabeleceu uma tipificação penal para
o fenômeno. Esse lapso legislativo seria o prenúncio do imbróglio que en-
volveria esse tema complexo e inadiável, bem como demonstrou a histórica
falta de atenção do Estado para problema.
Através do Decreto nº 5.015/04, o Brasil ratificou a Convenção das
Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional e, a partir daí,
surgiu o debate se o art. 2º de tal Convenção, também conhecida como Con-
venção de Palermo, poderia ser utilizada para suprir o conceito até então não
esclarecido pela legislação brasileira.
O mencionado artigo se vale do seguinte conceito sobre criminalidade
transnacional: “(...) grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há
algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma
ou mais infrações graves ou enunciadas na Convenção, com a intenção de
obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício
material”. Os debates então mostravam a inadequação de absorver tal conceito
para efeitos de tipificação em nosso ordenamento jurídico, pois se assim ocor-
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 87
Outro tema importante apresentado pela nova lei refere-se à ação deli-
tuosa de impedir ou embaraçar a investigação de infração penal que envolva
organização criminosa. Aqui estão previstas duas possibilidades de cometi-
mento do delito, o impedimento e o embaraço. O primeiro se concretiza
pelo tolhimento, pela interrupção da investigação pretendida. Já o segundo,
verifica-se quando qualquer ação cause prejuízo para o esclarecimento do que
se pretende. Em ambos os casos se exige dolo do agente.
O termo “investigação de infração penal”, utilizado pela lei, causou duas
opiniões quanto à possibilidade de tal delito se verificar durante a instrução
criminal. Uma corrente afirma não ser possível a interpretação extensiva da
referida expressão, sendo que tal delito apenas poderia ser verificado durante
a fase pré-processual. A segunda corrente, que vejo como mais adequada,
afirma que a intenção do texto legal é proteger a ação do Estado que busca os
esclarecimentos necessários a respeito do fato delituoso. Desta forma, seria
incoerente proteger essa necessidade apenas durante as diligências realizadas
antes da instrução processual. Nesse diapasão, a segunda corrente entende que
não se trata de analogia in malam partem, mas de uma utilização inadequado do
texto legal. Além disso, como poderíamos imaginar que, justamente durante
a produção de provas, verificada na instrução do processo, não seria possível
a prática desse tipo penal? Por qual motivo a lei buscaria a proteção de ações
da persecução penal antes da instrução e não durante essa?
Outra polêmica causada foi o tipo penal aberto inserido no mesmo pa-
rágrafo em estudo, tendo em vista que ficou estabelecido no texto normativo
que: nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a inves-
tigação de infração penal que envolva organização criminosa. O termo “de qualquer
forma”, por ser aberto, traz consigo uma insegurança jurídica, especialmente
por firmar uma punição elevada ao infrator. Poderemos então imaginar, a partir
do novo tipo penal, que um advogado, ao extrapolar a linha prudencial e legal
da orientação ao cliente, pode perfeitamente ser atingido pelo tipo penal ao
fornecer alguma orientação que cause prejuízo à investigação.
Como antes destacado, os crimes aqui abordados buscam se concre-
tizar sob um manto protetivo sofisticado, tendo em vista que os integrantes
de organizações criminosas, pelo menos os mais articulados, desfrutam de
mecanismos financeiros, intimidativos e de infiltração que os diferencia da
criminalidade corriqueira. Desta forma, os meios ordinários de investigação
mostram-se inadequados para penetrar as barreiras de proteção destes grupos.
Para superar tais obstáculos, a Lei nº 12850/2013 abordou alguns ins-
trumentos importantes já conhecidos, sendo abordados neste trabalho aqueles
voltados à captação de sinais ou de dados.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
90
Conclusão
O momento atual tem apresentado desafios ainda incompreendidos pela
sociedade, especialmente no que se refere ao comportamento e a evolução
do crime. O fenômeno da Globalização Econômica promoveu uma grande
modificação de comportamentos em vários países do mundo.
Ocorre que, como pessoas comuns, não percebemos com facilidade a
existência de um mundo paralelo que busca crescer na sombra de nossas ações
lícitas, pois, as estruturas que utilizamos, por exemplo, para potencializar o
comércio e o consequente crescimento econômico, são também utilizadas pelo
narcotráfico para suas negociações ilícitas. Ou seja, uma estrutura portuária,
por exemplo, impulsiona uma sociedade, mas, a mesma estrutura pode ser
utilizada de forma subterrânea por uma organização criminosa voltada ao
contrabando, ao tráfico de drogas e de armas, etc.
Da mesma forma, o avanço da tecnologia de telecomunicações, que
ocorre de uma maneira assustadora e, de certa forma, descontrolada, vem
sendo utilizada com grande maestria por grupos criminosos com potencial
corrosivo imensurável.
O debate que levará à solução desses problemas não pode ser superfi-
cial, pois a magnitude do que se está observando pode ser bem maior em um
futuro próximo. Um forte indicativo dessa evolução criminosa é percebida
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 95
TITLE: The organized crime, the interception and analysis of signs as extraordinary means of proof and
conflict with the right to intimate.
ABSTRACT: The present work has the purpose of approaching the advance of organized crime in Brazil
and some of the most adequate methods for proving the existence of these criminal structures seeking the
accountability of its actors. Due to the high degree of intimidation sponsored by such delinquent groups,
the considerable power of corruption and financial, several of the current methods of obtaining evidence
prove inadequate to the historical moment of this evolution, especially in the face of the surprising increase
of new communication technologies, which facilitated the various underground businesses of criminal
organizations. The descriptive-analyticalmethodology was applied in this study, consideringbibliographical
research, legislation and newspaper articles that reveal the evolution of the phenomenon.
KEYWORDS: Criminal Organizations. Criminal Factions. Extraordinary Means of Proof. Right to Privacy.
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intenso acesso pela população brasileira, tais como Wikipédia, Folha de São
Paulo, Globo, El País, Exame, dentre outros.
Fato é que as notícias trouxeram ao apreço da população não apenas a
prisão de figuras públicas importantes, com elevado poder monetário e po-
lítico, o que se evidenciaria como novidade no contexto histórico brasileiro,
mas também a existência de valores gigantescos, aliados ao oferecimento de
propinas, lavagem de dinheiro, bem como superfaturamento de obras em
estatais brasileiras.
Neste contexto, coloca-se em discussão em que ponto a atividade cor-
ruptiva poderia agir de forma positiva ou negativa no desenvolvimento. Isso
porque um dos objetos centrais da Operação Lava Jato é a investigação de
organizações criminosas criadas com o intuito de burlar processos licitatórios,
eliminando-se entraves burocráticos do Estado brasileiro. Desta maneira,
percebe-se que há doutrinadores, tais como Huntington, Leff e Nye, os quais
defendem a utilização controlada da corrupção, dentro da administração
estatal, como agente catalisador dos processos administrativos, bem como
eliminadores de entraves burocráticos. Deste modo, a famigerada Teoria da
Graxa defende que a corrupção, desde que devidamente controlada, poderia
ser útil ao desenvolvimento.
Em evidente contraponto, há doutrinadores como Ackerman, Mauro,
Aidt, Méon e Sakkata, e Enloft, que demonstram que a atividade corruptiva
não apenas é incapaz de promover o desenvolvimento de um país, como traz
consequências inversas, o que se evidencia ante ao cenário de relação direta
para com a ausência de investimentos na educação, saúde, dentre outras áreas
conexas ao desenvolvimento e à preservação de direitos fundamentais.
Tendo em vista que as sentenças proferidas nos processos decorrentes
da Operação Lava Jato, de lavra do juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba,
Dr. Sergio Fernando Moro, fazem menção expressa aos números compro-
vadamente relacionados à atividade corruptiva, observa-se que a sua análise
pormenorizada, de forma empírica, poderá servir como aparato argumenta-
tivo e comparativo com valores relacionados ao desenvolvimento, como, por
exemplo, os custos de construção de escolas públicas.
Deste modo, a análise doutrinária a respeito da corrupção e do desen-
volvimento, aliada a dados empíricos concernentes à corrupção no âmbito da
Operação Lava Jato, bem como aos custos envolvendo construção de escolas
públicas, trará constatação no mínimo relevante acerca do impacto da cor-
rupção do desenvolvimento brasileiro.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
100
TITLE: Corruption and development: an analysis based on figures of Operation Car Wash.
ABSTRACT: Corruption is an anthropological behavior that has occurred since the beginning of the
organized coexistence of human beings. In the case of Brazil, corruption is evidenced as an inheritance
underlying the Portuguese system of domination, through its patrimonial structure and predatory form of
occupation, which, to this day, continues in the Government. The effects of Operation Car Wash, launched
in its first stage by the Federal Police in 2009, notwithstanding the acknowledged media coverage, have
brought, among other consequences, a scenario of intense concern and discussion about corruption in
the Brazilian Government.
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Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Doutrina
112
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal em indeferir a ordem, nos
termos do voto do relator e por unanimidade, em sessão presidida pelo
Ministro Luiz Fux, na conformidade da ata do julgamento e das respectivas
notas taquigráticas.
Brasília, 19 de março de 2019.
Ministro Marco Aurélio – Relator
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Marco Aurélio – O assessor Dr. Rafael Ferreira de
Souza assim revelou os contornos da impetração:
“Eis o que informado quando da análise do pedido de liminar:
‘(...)
1. O assessor Dr. Gustavo Mascarenhas Lacerda Pedrina prestou as seguintes
informações:
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 115
VOTO
O Senhor Ministro Marco Aurélio (Relator) – Em jogo a liberdade
de ir e vir, não se tem como deixar de adentrar a matéria versada no habeas
corpus, pouco importando que ganhe contornos de substitutivo de recurso
ordinário constitucional. Rejeito a preliminar suscitada pela Procuradoria-
Geral da República.
Reafirmo a óptica veiculada, em 16 de maio de 2018, quando do não
implemento de medida de urgência:
“(...)
2. Conforme veiculado, houve a preclusão maior do título condenatório.
Surge o prejuízo parcial do pedido de concessão de liminar, no que voltado
ao afastamento da custódia provisória.
Quanto à alegada dupla tomada, sob o ângulo das circunstâncias judiciais, le-
vou-se em conta a quantidade da droga. Esse elemento foi também conside-
rado relativamente à não aplicação da causa de diminuição versada no art. 33,
§ 4º, da Lei nº 11.343/06. Não há sobreposição quando envolvida elementar
do crime. A razão é simples: para o tipo, é fixada pena mínima e máxima. En-
tão, a definição ocorre tendo em vista as circunstâncias judiciais do art. 59 do
Código Penal. Estabelecida a pena-base, abre-se ensejo para o exame da prá-
tica delituosa, sem limitação, observadas atenuantes e agravantes, causas de
diminuição e de aumento da sanção conforme o art. 68 do referido Código.
No tocante ao argumento de alteração do regime inicial do cumprimento da
pena, o Juízo veio a fixar a pena-base em patamar acima do mínimo previsto
para o tipo. Observou, ao avaliar as circunstâncias, a elevada quantidade e
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 117
EXTRATO DE ATA
Habeas Corpus 145.826
Proced.: Amazonas
Relator: Min. Marco Aurélio
Pacte.: Diogo Ferreira Carvalho
Pacte.(s) : Jose Henry Hernandez ou Jose Henry Hernandez Pinilla
Impte.: Edinei Lourenco de Carvalho (9689/AM)
Coator: Superior Tribunal de Justiça
Decisão: A Turma, por unanimidade, indeferiu a ordem, nos termos
do voto do Relator. Presidência do Ministro Luiz Fux. Primeira Turma,
19.03.2019.
Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux. Presentes à Sessão os Senho-
res Ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Alexandre
de Moraes.
Subprocurador-Geral da República, Dr. Edson Oliveira de Almeida.
João Paulo Oliveira Barros – Secretário da Turma
J u r i sp r u d ê n c i a
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indica-
das, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do
Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro,
Antonio Saldanha Palheiro e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro-Relator.
Brasília, 11 de abril de 2019 (Data do Julgamento).
Ministro Sebastião Reis Júnior Relator
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior: Trata-se de agravo regimental
interposto pelo Ministério Público Federal contra decisão da minha relatoria, que
concedeu a ordem de habeas corpus, para reduzir a fração de aumento na terceira
fase da dosimetria ao mínimo legal. Esta, a ementa do julgado (fl. 67):
“PENAL. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO CIR-
CUNSTANCIADO. PLEITO DE REDUÇÃO DA PENA-BASE. CON-
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 119
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior (Relator): O agravante pede
a reconsideração da decisão e alega que houve a devida fundamentação, por
parte da instância ordinária, para fixação da fração em 2/3 na terceira fase da
dosimetria. Não obstante as razões regimentais, a decisão deve ser mantida.
Veja-se que, na terceira fase da dosimetria da pena, o Magistrado não
apresentou um motivo a mais para elevar a fração, além da própria causa de
aumento, que foi o emprego de arma e o concurso de agentes. De fato, foram
citadas efetivamente as causas de aumento da pena e não foi demonstrada, por
si só, uma maior periculosidade, além daquela já existente na própria inclusão
dessas causas, o que não pode ser aceito para efeito de exasperação da fração.
Confira-se trecho da sentença (fl. 20):
“(...) Presente as causas de aumento de pena dos incisos I e II, § 2º, do art.
157 do Código Penal e considerando a jurisprudência do STJ de que a pre-
sença de mais de uma circunstância de aumento da pena no crime de roubo
não é causa obrigatória de majoração da punição em percentual acima do
mínimo previsto, tenho que, no presente caso, foi empregado arma de fogo pelos
assaltantes, bem como a presença de mais de uma pessoa com o intuito de exercer a grave
ameaça, o que denota, por óbvio, maior periculosidade na conduta do agente,
circunstância apta a ensejar uma resposta mais enérgica do Estado, motivo
pelo qual aumento a pena em 2/5 (...)”
Correta, assim, a redução da fração ao mínimo de 1/3 e o consequente
redimensionamento da reprimenda final para 5 anos e 4 meses de reclusão,
em regime semiaberto, e 37 dias-multa.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.
J u r i sp r u d ê n c i a
3. Ordem denegada.
(STJ; HC 492.319; Proc. 2019/0036240-0; SP; 6ª T.; Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz; DJE 26/04/2019)
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, denegar a ordem,
nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro,
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 121
Antonio Saldanha Palheiro, Laurita Vaz e Sebastião Reis Júnior votaram com
o Sr. Ministro-Relator.
Brasília (DF), 11 de abril de 2019
Ministro Rogerio Schietti Cruz – Relator
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz:
Vinicius Arruda Oliveira alega sofrer constrangimento ilegal diante do
acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo no HC
2236254-27.2018.8.26.0000.
Nesta Corte, a defesa sustenta a ausência de motivação idônea para decretar a
custódia preventiva, pela suposta prática dos crimes de tentativa de furto qualificado com
emprego de explosivo, em concurso de agentes, e organização criminosa.
Requer, liminarmente e no mérito, a revogação da prisão preventiva.
Indeferida a liminar (fls. 115-116) e prestadas as informações (fls. 120-
123 e 126-198), o Ministério Público Federal manifestou-se pela denegação
da ordem.
VOTO
O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz (Relator):
Extrai-se dos autos que o paciente, juntamente com outros acusados,
foi preso preventivamente e, posteriormente, denunciado como incurso nos
arts. 2º, §§ 2º e 3º (liderança), da Lei nº 12.850/2013 e 155, § 4º-A e § 4º,
IV, c/c os arts. 14, II, e 29, todos do Código Penal. Narra a exordial, no que
interessa (fls. 20-52, destaquei):
“Consta do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) nº 11/2018 instau-
rado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, por meio do GAECO/
Sorocaba, que por período de tempo cujo início é indeterminado, mas que
perdurou até a data de 14 de setembro de 2018 (data da operação), no limite
territorial das cidades de Laranjal Paulista, Cerquilho, Pereiras e Tietê, todos os
denunciados acima qualificados, alguns durante todo o período, outros não, integraram e
financiaram organização criminosa armada, para o fim de cometer crimes, em especial,
o de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum e pelo concurso de agentes (art. 155, § 4º-A e § 4º, IV, do Código Penal) e
o de posse ou porte de arma de fogo de uso proibido ou restrito sem autorização ou
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
122
“(...)
3. É idônea a fundamentação da prisão preventiva para fazer cessar imediatamente a rei-
teração da prática criminosa, se a decisão está calçada, tal como na espécie, não apenas em
prognose, mas em elemento real, a indicar que o agente põe a ordem pública em perigo.
4. A periculosidade do agente decorrente do risco de reiteração delitiva pode
ser extraída de elementos como inquéritos e ações penais em curso.
5. Ordem denegada.” (HC 302.427/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T.,
DJe 05.02.2015, grifei.)
Concluo, então, haver sido demonstrada a exigência cautelar justificadora
da prisão preventiva do réu.
À vista do exposto, denego a ordem.
J u r i sp r u d ê n c i a
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos, nos
termos do voto da Sra. Ministra-Relatora. Os Srs. Ministros Sebastião Reis
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
126
RELATÓRIO
5. Cumpre assinalar, portanto, que o caso dos autos difere da situação, com
legalidade amplamente reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça, em
que, a exemplo de conversas mantidas por e-mail, ocorre autorização judicial
para a obtenção, sem espelhamento, de conversas já registradas no aplicativo
WhatsApp, com o propósito de periciar seu conteúdo.
11. Hipótese concreta dos autos que revela, ainda, outras três ilegalidades:
(a) sem que se apontasse nenhum fato novo na decisão, a medida foi autori-
zada quatro meses após ter sido determinado o arquivamento dos autos; (b)
ausência de indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal
a respaldar a limitação do direito de privacidade; e (c) ilegalidade na fixação
direta do prazo de 60 (sessenta) dias, com prorrogação por igual período.
12. Recurso provido, a fim de declarar a nulidade da decisão judicial que au-
torizou o espelhamento do WhatsApp via Código QR, bem como das provas
e dos atos que dela diretamente dependam ou sejam consequência, ressal-
vadas eventuais fontes independentes, revogando, por conseguinte, a prisão
preventiva dos Recorrentes, se por outro motivo não estiverem presos.”
VOTO
A Exma. Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora):
Nos termos do art. 619 do Código de Processo Penal, os embargos
de declaração destinam-se a suprir omissão, afastar ambiguidade, esclarecer
obscuridade ou eliminar contradição existentes no julgado.
Ao contrário do que argumenta o Ministério Público Federal, não há
vício a ser reparado na presente via.
O acórdão impugnado salientou ser inviável proceder-se a uma analogia
entre interceptação telefônica e espelhamento via WhatsApp Web. Dentre ou-
tros fundamentos, foi salientado que, ao contrário da interceptação telefônica,
na qual o investigador age na condição de mero observador, o espelhamento
permite a participação ilimitada em conversas passadas, presentes e futuras.
Não obstante haver presunção de legitimidade nos atos dos agentes públicos,
jurisprudência e doutrina são pacíficas no sentido de que tal presunção é rela-
tiva, devendo ser dada à parte a possibilidade de afastá-la mediante contraprova
idônea. No caso da interceptação telefônica, isso é possível mediante, por
exemplo, perícia; no espelhamento, ao revés, eventual intervenção do agente
público não deixa rastro nem no aparelho telefônico, nem na rede da empresa
que fornece o serviço, dada a tecnologia de criptografia end to end, não sendo
acessível e auditável nem pela Defesa e nem mesmo pelo Estado-Juiz, a revelar
que exigir contraprova implicaria exigir prova diabólica.
Como se vê, o Parquet, ao insistir na validade da prova, pretende mera-
mente rediscutir questões já suficientemente decididas, o que não se coaduna
com a via eleita, salvo em casos excepcionais de atribuição de efeitos infrin-
gentes em razão de erro material ou equívoco manifesto.
Apenas a título de esclarecimento, cabe destacar não ser verdadeira a
assertiva de que a decisão impugnada, ainda que indiretamente, impede o aces-
so a quaisquer dados do WhatsApp. O julgado teve a cautela de consignar, de
forma expressa, inclusive na ementa, que “o caso dos autos difere da situação,
com legalidade amplamente reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça, em
que, a exemplo de conversas mantidas por e-mail, ocorre autorização judicial
para a obtenção, sem espelhamento, de conversas já registradas no aplicativo
WhatsApp, com o propósito de periciar seu conteúdo”. Em outros termos,
o julgado direciona-se exclusivamente às hipóteses em que há espelhamento via
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
130
ACÓRDÃO
Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região,
por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do voto da Relatora.
Brasília, 10 de abril de 2019.
Desembargadora Federal Mônica Sifuentes – Relatora
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 133
RELATÓRIO
A Exma. Sra. Desembargadora Federal Mônica Sifuentes (Relatora):
Trata-se de apelação (fls. 148v. e 151/156) interposta pelo Ministério Público
Federal contra sentença proferida pelo Juízo Federal da 2ª Vara da Subseção
Judiciária de Uberlândia/MG, que julgou improcedente a pretensão punitiva
estatal e absolveu sumariamente o réu Fabrício Moreira da Silveira da prática
do crime previsto no art. 168-A, § 1º, I, do Código Penal, com fundamento
no art. 397, III, do Código de Processo Penal (fls. 140/148).
A peça acusatória narra que Fabrício Moreira da Silveira, comerciante,
responsável direto pela administração da empresa Construrb Construtora e
Conservadora Ltda. ME, teria descontado as contribuições sociais dos salários
dos seus empregados, referentes ao período de 08/2012, não as repassando aos
cofres da Previdência Social, consubstanciando prejuízo de R$ 8.414,53 (oito
mil, quatrocentos e catorze reais e cinquenta e três centavos), materializado
no DCG – Débito Confessado em GFIP nº 42.747.746-8.
A denúncia foi recebida em 01.08.2014 (fls. 106/107).
O juiz sentenciante reconheceu a subsunção formal da conduta do réu
ao tipo incriminador vazado no art. 168-A, § 1º, I, do Código Penal. Entre-
tanto, diante do valor consolidado do crédito tributário no montante de R$
8.414,53, reconheceu a atipicidade material da conduta devido à incidência
do princípio da insignificância.
Em suas razões recursais (fls. 151/156), o apelante pleiteia, em síntese,
a reforma da sentença ao argumento de ser inaplicável o princípio da insig-
nificância na hipótese, tendo em vista que o crime em comento agride bem
jurídico de caráter supraindividual, atingindo a sociedade como um todo.
Contrarrazões a fls. 158/160v.
O Ministério Público Federal, em parecer da Procuradoria Regional da
República, manifesta-se pelo provimento do recurso (fls. 163/165).
É o relatório.
VOTO
A Exma. Sra. Desembargadora Federal Mônica Sifuentes (Relatora):
Como relatado, trata-se de apelação (fls. 148v. e 151/156) interposta pelo
Ministério Público Federal contra sentença proferida pelo Juízo Federal da
2ª Vara da Subseção Judiciária de Uberlândia/MG, que julgou improcedente
a pretensão punitiva estatal e absolveu sumariamente o réu Fabrício Moreira
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
134
RELATÓRIO
O Excelentíssimo Senhor Des. Elcio Mendes, Relator: Trata-se de
apelação criminal interposta por Eliaquim das Chagas da Silva Oliveira, qua-
lificado nestes autos, em face de Sentença (fls. 54/59) prolatada pelo Juízo da
Vara de Proteção à Mulher (Digital) da Comarca de Rio Branco/AC, que o
condenou à pena de 1 (um) mês e 4 (quatro) dias de prisão simples, em regime
inicial semiaberto, pelo cometimento do delito previsto no art. 65 da Lei de
Contravenções Penais, c/c o art. 61, inciso II, alínea f, do Código Penal, bem
como ao pagamento de R$ 954,00 (novecentos e cinquenta e quatro reais) a
título de indenização por danos morais, nos termos do art. 387, inciso IV, do
Código de Processo Penal.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
140
VOTO
O Excelentíssimo Senhor Des. Elcio Mendes, Relator: O recurso é
próprio e tempestivo, razão pela qual o conheço.
Narra a Denúncia – fls. 22/24:
“No dia 20 de março de 2017, por volta das 20h00min, e em outras datas, na
Travessa Botafogo, 114, próximo a Igreja Assembléia de Deus de Madureira,
Bairro Belo Jardim II, nesta Capital, o denunciado Eliaquim das Chagas da
Silva Oliveira, de forma livre e consciente, prevalecendo-se das relações domésticas e
familiares, perturbou a tranquilidade da vítima Francisca de Oliveira Messias
da Silva, conforme será demonstrado através das suas declarações a seguir.”
(destaques no texto original)
Após os trâmites legais, a exordial acusatória foi julgada procedente e
o apelante condenado, conforme relatado alhures.
Não há preliminares. Passo ao mérito.
Da Absolvição
“Deve ser mantida a sentença condenatória, eis que fundamentada no de-
poimento firme e coeso da vítima em harmonia com as demais provas dos
autos.”
O apelante postula a absolvição do delito de perturbação da tranquili-
dade ao argumento de que não há nos autos provas aptas à condenação, bem
como no fato de a sentença se basear exclusivamente na palavra da vítima.
Em que pese todo o alegado, não assiste razão ao recorrente.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 141
Explico.
Preleciona o art. 65 da Lei das Contravenções Penais e o art. 61, inciso
II, alínea f, do Código Penal, in verbis:
“Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por
motivo reprovável:
Pena – prisão simples, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.”
“Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não consti-
tuem ou qualificam o crime:
(...)
II – ter o agente cometido o crime:
(...)
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabita-
ção ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei especí-
fica;” (destaquei)
Materialidade e autoria repousam no Inquérito Policial nº 497/17/DEAM,
Boletim de Ocorrência (fl. 10), Termo de Declarações e Representação Cri-
minal (fls. 11/17), Relatório Policial (fl. 19).
Cumpre transcrever trechos do depoimento do apelante Eliaquim das
Chagas da Silva, colhido na fase inquisitiva – fl. 18:
“(...) nega as acusações e diz que não participa de nenhum grupo no WhatsApp (...)
a vítima está lhe perseguindo para ficar com os bens do interrogado (...).” (destaquei)
Em Juízo, o recorrente manteve a negativa de autoria, no entanto, sem
trazer qualquer comprovação de sua alegação – fl. 55.
“(...) não postou foto alguma e que foi posto num grupo sem sua permissão, por alguém
que não sabe quem é (...) quando percebeu, saiu do grupo e mediatamente (...)
negou a acusação, portanto, disse que nunca tirou foto da vítima e nunca enviou para
grupo algum (...) não sabe de onde saiu a foto, que não foi tirada de seu celular
e que nunca tirou fotos da vítima (...).” (destaquei)
De outra banda, a vítima, tanto na Delegacia como em Juízo, declarou
com detalhes como ocorreram os fatos.
A vítima Francisca de Oliveira Messias da Silva, em Sede Policial,
asseverou – fl. 11:
“(...) foi casada civilmente com o autor, cerca de cinco anos e não tiveram
filhos (...) se separou do autor, em virtude de agressões físicas e ameaças (...)
após o término do relacionamento, o autor passou a lhe enviar fotos íntimas da vítima,
em grupos de WhatsApp, o que vem lhe causando constrangimento (...).” (destaquei)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
142
quando causa temor à vítima, circunstância que não se amolda à contravenção penal
de perturbação da tranquilidade. DOSIMETRIA DA PENA INADEQUADA.
AGRAVANTE MANTIDA CONDIÇÕES PARA O CUMPRIMENTO
DO SURSIS ALTERADAS. Diante da consideração neutra de todas as ve-
toriais do art. 59, caput, do Código Penal, resta redimensionada a pena-base
do 1º fato ao mínimo legal. O pedido de afastamento da agravante prevista
no art. 61, inciso II, alínea f, do Código Penal, não merece prosperar. Não
há bis in idem, pois não está contida na descrição típica do delito de ameaça,
tampouco na contravenção penal de perturbação da tranquilidade, a circuns-
tância de serem cometidos no âmbito doméstico e familiar, merecendo maior
reprovação. Exacerbado, contudo, o aumento operado pela agravante. Assiste
razão à defesa, ainda, no tocante ao afastamento da prestação de serviços à co-
munidade como condição para o cumprimento da suspensão condicional da
pena, nos termos do art. 46, caput, do Código Penal. Substituída por limitação
de final de semana. Precedentes.” (TJRS, Primeira Câmara Criminal, Rel.
Jayme Weingart Neto, j. 28.03.2018, publ. 30.04.2018) (destaquei)
Segue aresto desta Câmara Criminal:
“Apelação Criminal. Perturbação da tranquilidade. Ameaça. Violação de domi-
cílio. Prova da autoria e da materialidade. Validade da palavra da vítima. Nos
crimes que envolvem violência doméstica e familiar, a palavra da vítima é de funda-
mental importância para a devida elucidação dos fatos, constituindo elemento hábil a
fundamentar uma condenação, principalmente quando corroborada pelos demais ele-
mentos de prova. Apelação criminal provida.” (Apelação Criminal 0000223-
13.2018.8.01.0003, Rel. Des. Samoel Evangelista, j. 07.12.2018, data de regis-
tro: 10.12.2018) (destaquei)
Dessa forma, deve ser plenamente aceita a palavra da ofendida como
prova quando se mostre lógica, consistente, e não evidencie vontade deliberada
de prejudicar um inocente.
Ademais, acerca da relação doméstica e familiar como agravante, ensina
Júlio Fabbrini Mirabete1:
“Acrescentou-se à alínea f como nova agravante a circunstância de ser o crime
praticado com violência contra a mulher na forma da lei específica. Trata-se
da Lei nº 11.340, de 07.08.06, que dispõe sobre a prevenção e repressão à
violência doméstica e familiar contra a mulher. Aplica-se a agravante na hipótese
de configurar o crime uma das várias formas previstas de violência, física, psicológica,
sexual, patrimonial ou moral, contra a mulher (art. 7º). Para a incidência da agra-
vante exige-se que a violência seja baseada no gênero e praticada no âmbito da família,
do convívio doméstico ou de relação de convivência íntima, atual ou pretérita,
ainda que ausente a coabitação (art. 5º).” (destaquei)
1 MIRABETE, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal: parte geral. 32. ed. São Paulo: Atlas,
2016. v. 1. p. 292-293.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
144
DECISÃO
Conforme consta da Certidão de Julgamento, a decisão foi a seguinte:
“Decide a Câmara, à unanimidade, negar provimento ao apelo. Questão de
Ordem: Após parecer favorável do Ministério Público, acolher Questão de
Ordem, para determinar o imediato início da execução provisória da pena
imposta ao condenado, bem como expedir mandado de prisão, ficando a car-
go do juízo da vara de origem as providências necessárias ao cumprimento
desta determinação, incluindo a expedição de guia de recolhimento. Unâni-
me. Câmara Criminal 04.04.2019.”
Participaram do julgamento os Desembargadores Elcio Mendes, Samoel
Evangelista e Pedro Ranzi.
Bel. Eduardo de Araújo Marques – Secretário
J u r i sp r u d ê n c i a
ACÓRDÃO
Vistos, etc., acorda, em Turma, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
à unanimidade, em negar provimento ao recurso.
Desembargador Alberto Deodato Neto – Relator
VOTO
Trata-se de agravo em execução penal interposto por João Aparecido
de Moraes contra a r. decisão do MM. Juiz de Direito da Vara de Execuções
Criminais da Comarca de Muriaé, que determinou a retificação do levanta-
mento de penas do reeducando, para que conste a reincidência do agravante.
Pugna a defesa pela reforma da decisão recorrida, a fim de que seja
considerada a fração de 2/5 (dois quintos) para progressão de regime, tendo
em vista que o reeducando não é reincidente específico em crime hediondo
ou equiparado (fls. 8/9).
Contrarrazões às fls. 10/13, pelo desprovimento do agravo.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 147
CIDÊNCIA. A nova redação trazida ao art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90 pela
Lei nº 12.464/07, não estipulou que a fração aplicada às hipóteses de rein-
cidência se limitaria ao reincidente específico em crimes hediondos. Des-
ta forma, o condenado por crime hediondo contemplado por nova conde-
nação, mesmo que de outra natureza, poderá progredir de regime com o
cumprimento de 3/5 (três quintos) da pena aplicada.” (Agravo em Execução
Penal 1.0223.06.204819-2/001, Rel. Des. Silas Vieira, 1ª Câmara Criminal, j.
22.05.2012, publicação da súmula em 01.06.2012)
“AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. FURTO E TRÁFICO ILÍCITO DE
ENTORPECENTES. PROGRESSÃO DE REGIME. ESTÁGIO NECES-
SÁRIO DE CUMPRIMENTO DE PENA PARA O DELITO HEDION-
DO OU EQUIPARADO. REINCIDÊNCIA GENÉRICA OU ESPECÍ-
FICA. 3/5 (TRÊS QUINTOS). RECURSO DESPROVIDO. 1. No caso
daquele que se vê novamente condenado, é necessário três quintos de cum-
primento de pena para a progressão do regime quanto ao crime hediondo
(ou a ele equiparado), pois não exige a lei reincidência específica (art. 2º, § 2º,
da Lei nº 8.072/90). 2. Agravo não provido.” (Agravo em Execução Penal
1.0297.05.002619-6/001, Rel. Des. Antônio Armando dos Anjos, 3ª Câmara
Criminal, j. 17.04.2012, publicação da súmula em 31.05.2012)
“AGRAVO. TRÁFICO DE DROGAS. PROGRESSÃO. CRIME HEDION-
DO. INCIDÊNCIA DA LEI Nº 11.464/07. RÉU REINCIDENTE. APLI-
CAÇÃO DA FRAÇÃO DE 3/5. RECURSO NÃO PROVIDO. Para conces-
são da progressão de regime ao condenado por crime equiparado a hediondo,
deve-se observar a fração de 2/5 do cumprimento da pena, quando primário,
e de 3/5, quando reincidente, sendo irrelevante a natureza desta, ou seja, se
específica ou genérica.” (Agravo em Execução Penal 1.0713.10.005109-1/001,
Rel. Des. José Antonino Baía Borges, 2ª Câmara Criminal, j. 17.05.2012, pu-
blicação da súmula em 28.05.2012)
Diante do exposto, nego provimento ao recurso, mantendo íntegra a
r. decisão guerreada.
Custas recursais pelo agravante, na forma do art. 804 do CPP, devendo
o pedido de gratuidade ser formulado no juízo da execução, quando exigível
o encargo.
Desembargador Flávio Batista Leite – De acordo com o Relator.
Desembargador Wanderley Paiva – De acordo com o Relator.
Súmula: “Negaram provimento ao recurso”.
J u r i sp r u d ê n c i a
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam as Desembargadoras integrantes da Quinta Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em conceder a ordem de
habeas corpus, ratificando a liminar anteriormente deferida.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além da signatária, as eminentes Senhoras
Desembargadora Genacéia da Silva Alberton (Presidente) e Desembargadora
Cristina Pereira Gonzales.
Porto Alegre, 10 de abril de 2019.
Desembargadora Lizete Andreis Sebben – Relatora
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
150
RELATÓRIO
Desembargadora Lizete Andreis Sebben (Relatora)
Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado por Mariana
Francine Fetzner, advogada, em favor de Felipe Soares, contra ato, dito ilegal,
do Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Novo
Hamburgo.
Relata que o paciente foi preso no dia 17.03.2019 pela prática, em
tese, dos crimes de homicídio culposo de trânsito, lesão corporal culposa e
embriaguez ao volante. Alega, em síntese, a ausência dos requisitos para ma-
nutenção da prisão preventiva, mencionando que, em caso de condenação, a
pena imposta será substituída por restritivas de direitos. Ressalta que os crimes
imputados são de natureza culposa e que os registros criminais anteriores
não servem para fins de reincidência. Ventila o princípio da presunção de
inocência, entendendo cabível a imposição de medidas cautelares diversas.
Postula concessão da liminar, para que o paciente seja posto em liberdade.
Subsidiariamente, requer a imposição de medida cautelar diversa.
A liminar foi parcialmente deferida.
Em parecer da lavra do Dr. Renato Vinhas Velasques, a Procuradoria
de Justiça manifesta-se pela concessão parcial da ordem.
Vieram os autos conclusos para julgamento.
É o relatório.
VOTOS
Desembargadora Lizete Andreis Sebben (Relatora)
Adianto que meu voto é no sentido de ratificar a liminar e conceder
parcialmente a ordem de habeas corpus.
Para tanto, adoto, como razões de decidir, o exposto quando do defe-
rimento parcial da liminar:
“(...) Inicialmente, registro que a medida liminar em habeas corpus, frente à
ausência de previsão legal, reveste-se de excepcionalidade, a ser deferida em
situações especiais, em que há flagrante ilegalidade ou prejuízo irreparável.
Ao que consta nos autos, o paciente teria praticado os crimes de lesão corpo-
ral culposa na direção de veículo automotor e embriaguez ao volante.
A prisão em flagrante foi homologada e convertida em preventiva.
Pois bem.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 151
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Execução Penal
7003290-12.2018.8.26.0344, da Comarca de Marília, em que é agravante
Ministério Público do Estado de São Paulo, é agravado Paulo Vinicius da
Silva do Nascimento.
Acordam, em sessão permanente e virtual da 16ª Câmara de Direito
Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
“Deram parcial provimento ao recurso para reconhecer a conduta praticada pelo
sentenciado Paulo Vinícius da Silva do Nascimento, qualificado nos autos, como
falta disciplinar de natureza grave, nos termos dos arts. 50, inciso I, e 52, caput,
ambos da Lei de Execução Penal, determinando a interrupção do prazo para
eventual progressão de regime a partir da referida data e a perda de 1/3 (um
terço) dos dias remidos e/ou a remir anteriores à falta, com elaboração de
novo cálculo da pena”, de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Jurisprudência
154
Voto nº 25375
Trata-se de agravo em execução penal interposto pelo Ministério Pú-
blico do Estado de São Paulo contra a r. decisão (fls. 136/136verso) que, em
sindicância para apuração de falta disciplinar imputada ao sentenciado Paulo
Vinícius da Silva do Nascimento, instaurada pelo Diretor Técnico III da Pe-
nitenciária Nelson Marcondes do Amaral de Avaré/SP, desclassificou a imputação
para falta de natureza média, prevista no art. 45, incisos I e IX, do Regimento
Interno Padrão das Unidades Prisionais do Estado de São Paulo.
Sustenta o agravante, nesta instância, tomando-se os depoimentos dos
agentes de segurança penitenciária, tratar-se de conduta tipificada como falta
grave, prevista nos arts. 50, inciso I, e 52, caput, ambos da Lei de Execução
Penal. Objetiva, à vista disso, o seu reconhecimento, com a determinação de
perda de 1/3 (um terço) dos dias remidos e/ou a remir, bem como a inter-
rupção do lapso temporal para fins de benefícios, anotando-se para todos os
efeitos legais (fls. 139/145).
Oferecida contraminuta (fls. 153verso/154), e mantida a r. decisão (fl.
155), a douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo parcial provimento
do recurso (fls. 159/162).
É o relatório.
Conheço do recurso, presentes os requisitos de desenvolvimento válido
e regular e de admissibilidade para, no mérito, dar-lhe parcial provimento.
Emerge do histórico de Comunicação de Evento nº 177/2017 (fls. 6/7)
que, na data dos fatos, 18 de outubro de 2017, 21 (vinte e um) detentos que
haviam sido transferidos do CDP I de Pinheiros, dentre eles o agravante,
solicitaram a presença do Diretor do Núcleo de Segurança e Disciplina no
pavilhão habitacional do raio I. Atendida a solicitação, tão logo chegou nas
celas 130, 134, 142 e 144, foi abordado em todas elas de forma desrespeitosa, pois os
habitantes das referidas celas passaram a dirigir a palavra em tom ameaçador, dizendo:
NÃO QUEREMOS MAIS FICAR NESTA CADEIA NÃO, TRATE DE DAR
BONDE AGORA NA GENTE SENÃO VAMOS INSTITUIR O SETOR
AQUI NESSA CADEIA E VAMOS TOCAR O TERROR; AQUI É 1533,
VAMOS QUEBRAR TODA ESSA PORRA (fl. 7).
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 155
da pretensão punitiva. 4. Agravo interno conhecido e não provido, com aplicação, no caso de
votação unânime, da penalidade prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC, calculada à razão de 1%
(um por cento) sobre o valor atualizado da causa. (STF; MS-AgR 35.732; RJ; 1ª T.; Relª Minª
Rosa Weber; DJE 05/04/2019)
(art. 158 do CP). Não se afigura suficiente nem seguro, em face das exigências da lei, aceitar
como demonstração da materialidade da infração, documentos outros, elaborados na esfera
policial, sem os rigores do distanciamento subjetivo dos agentes públicos que os elaboram em
relação ao fato delitivo em apuração. 3. Desprovimento da apelação. (TRF 1ª R.; ACR 0002646-
02.2007.4.01.3806; MG; 4ª T.; Rel. Des. Fed. Olindo Menezes; DJF1 26/04/2019)
que comercializavam entorpecente na casa da corré Maria Luciane Barroso da Silva. 3. Com
efeito, tendo em vista o deficitário acervo probatório produzido e frente às perenes incertezas
que permeiam o caso, não resta alternativa mais acertada que a absolvição. 4. Prevalência do
voto vencido. Provimento. (TJAC; EI-ENul 0000347-97.2017.8.01.0013/50001; Ac. 10.908;
T.P.; Rel. Des. Francisco Djalma; DJAC 24/04/2019; p. 1)
o período exato em que o trabalho é prestado, esclarecendo, contudo, a natureza sui generis
da função que, a par de não completar a jornada mínima diária de 6 horas, também exige do
apenado a prontidão para atuar a qualquer momento em que solicitado, diante de situações
imprevistas e emergenciais (incluindo o período noturno), bem como a incumbência de subs-
tituir os demais detentos na liga laboral (trabalhos realizados pelos apenados na parte interna
da casa prisional) quando, por qualquer motivo, impedidos de exercer o trabalho que lhes fora
designado. 3. Aplica-se, à hipótese, o entendimento do STF, que, primando pela interpretação
teleológica da LEP, concluiu ser obrigatório o cômputo de tempo de trabalho nas hipóteses em
que o sentenciado, por determinação da administração penitenciária, cumpra jornada inferior
ao mínimo legal de 6 horas, vale dizer, em que essa jornada não derive de ato de insubmissão
ou de indisciplina do preso, diante dos princípios da segurança jurídica e da proteção da con-
fiança, que tornam indeclinável o dever estatal de honrar o compromisso de remir a pena do
sentenciado, legítima contraprestação ao trabalho prestado por ele na forma estipulada pela
administração penitenciária, sob pena de desestímulo ao trabalho e à ressocialização (RHC
136.509/MG, Min. Dias Toffoli, Segunda Turma, DJe 27.04.2017). 4. Dadas as peculiaridades
da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC), bem expostas pelo seu Diretor
e pelo Juízo das Execuções Penais, cumpre reconhecer o direito do paciente à remição de
sua pena, a título de recompensa pelo trabalho desenvolvido, atendendo, assim, ao escopo da
legislação de afastar os efeitos nocivos da ociosidade e, ao mesmo tempo, desenvolver o senso
de disciplina e responsabilidade do apenado, a fim de que possa ser reintegrado à sociedade. 5.
Tendo a autoridade administrativa da unidade prisional, a quem compete a supervisão sobre a
regularidade do trabalho, emitido o Atestado de Efetivo Trabalho (AET), a não concessão do
benefício, conforme exaustivamente demonstrado, violaria não só o princípio da legalidade
como também o da segurança jurídica e da proteção da confiança. 6. Ordem concedida para
restabelecer a decisão proferida pelo Juízo da Vara de Execuções Criminais da Comarca de
Porto Alegre/RS (PEC 50412-2), que determinou a remição dos dias efetivamente trabalha-
dos pelo paciente, conforme atestado pela autoridade administrativa. (STJ; HC 460.630; Proc.
2018/0182809-7; RS; 6ª T.; Rel. Min. Sebastião Reis Júnior; DJE 26/04/2019)
nário segue a linha de que a prisão cautelar deve estar obrigatoriamente comprometida com
a instrumentalização do processo criminal. Trata-se de medida de natureza excepcional, que
não pode ser utilizada como cumprimento antecipado de pena, na medida em que o juízo
que se faz, para sua decretação, não é de culpabilidade, mas sim de periculosidade. Mostra-se
demasiadamente pernicioso ao primado da presunção da inocência fazer qualquer antecipação
de análise de mérito em momento embrionário da persecução penal. Sabe-se que a segregação
cautelar provisória se submete à cláusula rebus sic stantibus, de modo que o juiz poderá revogar
a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivos para que subsistam,
bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. Writ conhecido e
concedido. Decisão por unanimidade. (STM; HC 7000135-36.2019.7.00.0000; Rel. Min. Carlos
Augusto de Sousa; DJSTM 22/04/2019; p. 4)
parte. (TJAL; APL 0000215-25.2014.8.02.0043; C.Crim.; Rel. Des. José Carlos Malta Marques;
DJAL 26/03/2019; p. 127)
promiscuidade regratória incompatível com o princípio da especialidade das leis” (HC 105.925/
SP, Rel. Min. Ayres Britto). VI – Nessas circunstâncias, fica afastada a possibilidade de fixação
do regime prisional à luz da aplicação analógica das regras estabelecidas no art. 33 do Código
Penal comum. VII – Agravo regimental a que se nega provimento. (STF; HC-AgR 150.443;
DF; Rel. Min. Ricardo Lewandowski; DJE 10/04/2019)
assim o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI). Cumpridas as exigências do art.
33, § 2º, b e § 3º, em particular, o quantum da pena e a presença de circunstâncias judiciais favo-
ráveis, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser estabelecido no sistema semiaberto.
Pedido revisional julgado procedente. V. V.: I – A revisão criminal não se presta para reapreciar
as teses devidamente analisadas quando da prolação da decisão condenatória, mas sim, para
sanar erro técnico ou injustiça na condenação. II – Não é possível deferir o pedido revisional
em razão de diferentes entendimentos ou interpretações das provas. (TJMG; REVC 1157959-
53.2018.8.13.0000; 3ª G.C.Crim.; Rel. Des. Sálvio Chaves; DJEMG 22/04/2019)
Destaques do Volume nº 88
– Iniciativas de Criminalização das Fake News no Brasil: Reflexo do Expansionismo Punitivista
por André Faustino, Advogado e Especialista, Leonardo Pozzi Loverso, Delegado de Polícia e
Mestrando, e Gustavo Filipe Barbosa Garcia, Doutor e Pós-Doutor
– O Habeas Corpus Coletivo
por Marcellus Polastri Lima, Mestre e Doutor, e Elias Gemino de Carvalho, Defensor Público e
Especialista
– O Princípio da Proporcionalidade e o Problema do Controle de Conteúdo das Normas Penais
por Fabiano Augusto Martins Silveira, Mestre e Doutor
– O Crime de Lavagem de Dinheiro no Brasil: Compliance Criminal Corporativo e os Métodos de
Prevenção e Combate do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
por Vinicius Lacerda e Silva, Assessor do TJMG e Mestre
– Direito Penal Econômico: uma Reflexão Crítica sobre o seu Conceito e Objeto
por Reinaldo Denis Viana Barbosa, Advogado e Especialista
– Descriminalização da Interrupção Gestacional
por Edmilson Souza da Silva e Rodrigo Julio Capobianco, Advogados e Especialistas
Destaques do Volume nº 87
– O Acordo de Não Persecução Penal no Processo Penal Brasileiro
por Marcellus Polastri Lima, Mestre e Doutor
– A Emenda Constitucional nº 45/2004 e o Direito Fundamental à Razoável Duração do Processo
Penal
por Álvaro Gonçalves Antunes Andreucci, Professor e Doutor, e Cristian Lima dos Santos Louback,
Mestrando
– Considerações sobre os Requisitos para Prisão Preventiva
por Gisele Leite, Mestre e Doutora
– A Presunção de Inocência Cessa no Segundo Grau da Jurisdição?
por Fernando Tourinho Filho, Professor
– Notas sobre o Habeas Corpus Coletivo: uma Análise a Partir do HC 143.641/SP e do Microssistema
do Processo Coletivo
por Francisco Vieira Lima Neto, Professor e Doutor, e Thaís Milani Del Pupo, Pesquisadora e
Mestranda
– Contribuições da Filosofia da Linguagem de Wittgenstein na Dogmática Penal: um Diagnóstico do
Dolo
por Ana Carla Pinheiro Freitas, Professora e Doutora, Eduardo Rocha Dias, Professor e Doutor, e
Érica Montenegro Alves Barroso, Advogada e Mestranda
A AGIOTAGEM
- Crime contra a economia popular. A cobran-
A REFORMA DO CÓDIGO DE ça de juros exorbitantes na prática da agiota-
PROCESSO PENAL gem é considerada crime contra a economia
popular repudiada pela nossa legislação.
- Artigo de Fernando da Costa Tourinho
TJMG (Em. 89/9).......................................... 161
Filho................................................................ 5
ANTECEDENTES CRIMINAIS
ABSOLVIÇÃO
- Pena. Agravante condenado pela prática
- Atentado violento ao pudor. Negativa da do crime previsto no art. 33, caput, da Lei
vítima. Dúvidas sobre a ocorrência do crime. 11.343/06. Maus antecedentes. Período de-
Absolvição mantida com fulcro no princípio purador. Inaplicabilidade. STJ (Em. 89/10).. 161
do in dubio pro reo. TJMG (Em. 89/2)............ 158
APELAÇÃO EM LIBERDADE
- Crime ambiental. Extração de recursos mine-
rais. Ausência de laudo pericial. Materialidade - Roubo qualificado. Pena. No caso, estabe-
não comprovada. TRF 1ª R. (Em. 89/21)..... 163 lecido na sentença condenatória o regime
semiaberto para o início do cumprimento
- Embriaguez ao volante. Inexistência de da reprimenda, deve o paciente aguardar o
elementos probatórios seguros para a con- julgamento de eventual recurso de apelação
denação. Aplicação do princípio do in dubio em tal regime, compatibilizando-se a prisão
pro reo. TJSP (Em. 89/6)................................. 159 cautelar com o modo de execução determi-
nado na sentença condenatória. TJAC (Em.
- Falsidade ideológica. Ausência de potencia-
89/85).............................................................. 182
lidade lesiva. Conduta atípica. TJGO (Em.
89/45).............................................................. 171 APREENSÃO DE BENS
- Furto qualificado. Cartão de crédito. Con- - Tóxicos. Tráfico. Pedido de terceiro de resti-
duta atípica. TJMG (Em. 89/51).................... 172 tuição de veículo apreendido. Possibilidade.
TJAM (Em. 89/89)......................................... 184
- Moeda falsa. Art. 289, § 1º, do CP. Falta de
elementos que caracterizem o dolo na ação APROPRIAÇÃO INDÉBITA
do réu. Aplicação do princípio in dubio pro reo. PREVIDENCIÁRIA
TRF 2ª R. (Em. 89/1)..................................... 158
- Acórdão do TRF 1ª R. – Valor do montante
- Tóxicos. Associação para o tráfico ilícito. inferior a R$ 20.000,00. Princípio da insig-
Ausência do animus associativo. Provimento nificância. Aplicação. Absolvição sumária..... 132
dos embargos infringentes. Prevalência do
voto vencido. TJAC (Em. 89/32)................... 166 APROPRIAÇÃO INDÉBITA
QUALIFICADA
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
- Continuidade delitiva. Art. 168, § 1º, III, do
- Acórdão do TRF 1ª R. – Apropriação indébita CP, por 3 vezes, na forma do art. 71 do mes-
previdenciária. Valor do montante inferior a mo diploma legal. Declarações de preposto
R$ 20.000,00. Princípio da insignificância. da empresa-vítima e das testemunhas que
Aplicação......................................................... 132 demonstram ter a sentenciada se apropriado
indevidamente dos valores correspondentes
- Crime ambiental. Art. 50-A da Lei 9.605/98. às verbas rescisórias de ex-funcionários. TJSP
Art. 20 da Lei 4.947/66. Desmatamento de (Em. 89/13)..................................................... 162
floresta. Terra de domínio público. Aplicação
do princípio da insignificância. Possibilidade. ARMA BRANCA
TRF 1ª R. (Em. 89/7)..................................... 160 - Vide Pena. Roubo Majorado.
- Furto tentado. Princípio da insignificância.
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR
Objeto furtado com avaliação ínfima. Irre-
levância da conduta na esfera penal. TJMG - Negativa da vítima. Dúvidas sobre a ocorrên-
(Em. 89/56)..................................................... 174 cia do crime. Absolvição mantida com fulcro
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 189
- Pena. Revisão criminal. Pedido formulado - Desacato. Art. 299 do CPM. Alegada in-
de próprio punho. A confissão espontânea compatibilidade do tipo penal com o art.
deve preponderar sobre agravantes genéricas. 13 da Convenção Americana de Direitos
Erro técnico. Redução da sanção. Cabimento. Humanos. Liberdade de expressão e pensa-
TJMG (Em. 89/80)........................................ 181 mento. Inexistência de direitos e garantias
fundamentais absolutos. Extinção anômala
CORRUPÇÃO E da ação penal. Impossibilidade. Denúncia
DESENVOLVIMENTO: UMA que atende aos requisitos do art. 41 do CPP.
ANÁLISE A PARTIR DOS NÚMEROS STF (Em. 89/26)............................................ 165
DA OPERAÇÃO LAVA JATO
- Deserção. Art. 187 do CPM. Pena. Regime
- Artigo de Fluvio Cardinelle Oliveira Garcia prisional fechado. Possibilidade. STF (Em.
e Luiz Paulo Muller Franqui......................... 98 89/67).............................................................. 177
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 – Índice Alfabético
190
- Desrespeito a superior. CPM, art. 160, caput. - Lesão corporal gravíssima. Pretendida des-
Ausência de elementar do tipo. Delito não classificação da conduta imputada ao réu
caracterizado. STM (Em. 89/27)................... 165 (para o delito de lesão corporal grave) Acolhi-
mento. Suspensão condicional do processo.
- Extorsão. Regime inicial. Pena inferior a 8 Possibilidade. TJAL (Em. 89/72)................... 179
anos. Possibilidade de aplicação do regime
de acordo com as regras da legislação penal - Roubo majorado. Emprego de arma branca
comum (art. 61 do CPM). Constrangimento (faca). Continuidade delitiva específica.
ilegal evidenciado. STJ (Em. 89/24).............. 164 Majorante do emprego de arma. Afastamen-
to. Lei 13.654/2018. Novatio legis in mellius,
D que retroage, alcançando o réu. Majorante
afastada. Atenuante. Menoridade. Reconhe-
cimento. Continuidade delitiva específica.
DELINQUÊNCIA EMPRESARIAL
Total de aumento. TJRS (Em. 89/86)............ 182
E PRESCRIÇÃO DAS SANÇÕES
PENAIS COMINADAS AOS CRIMES DESERÇÃO
AMBIENTAIS PREVISTOS NA LEI
Nº 9.605/98: PROTEÇÃO OU (DES) - Crime militar. Art. 187 do CPM. Pena.
PROTEÇÃO DO AMBIENTE? Regime prisional fechado. Possibilidade.
Inteligência do art. 84 c/c o art. 59 do CPM.
- Artigo de Rodrigo José Leal........................... 54 Compatibilidade constitucional da restrição
prevista no art. 88, II, a, do CPM. STF (Em.
DENÚNCIA 89/67).............................................................. 177
- Deputado estadual. Procedimento investiga-
DESRESPEITO A SUPERIOR
tório criminal. Art. 316, caput, do CP. Inépcia
da denúncia e ilicitude da colheita de prova. - Crime militar. CPM, art. 160, caput. Ausência
Afastamento. Recebimento. Princípio do in de elementar do tipo. Delito não caracteriza-
dubio pro societate. Estando a denúncia formal- do. STM (Em. 89/27)..................................... 165
mente perfeita e existindo indícios suficientes
de materialidade e autoria sustentados em DYLAN WALSH E AURY LOPES
elementos colhidos no decorrer do inquérito, JÚNIOR (TRADUTOR)
seu recebimento é medida que se impõe,
permitindo que a elucidação dos fatos ocorra - Artigo: “Por que os Tribunais Criminais dos
durante a instrução criminal realizada sob Estados Unidos São Tão Dependentes da Plea
o crivo do contraditório e da ampla defesa. Bargaining?”..................................................... 76
TJRR (Em. 89/3)............................................ 158
E
DESACATO
- Artigo: “A Reforma do Código de Processo - Pena. Redução. Fração de redução pela mi-
Penal”.............................................................. 5 norante da tentativa. Alteração. Possibilidade.
Diante de apenas uma (de 8) circunstância
FLUVIO CARDINELLE OLIVEIRA judicial desfavorável, deve ser aplicado total
GARCIA E LUIZ PAULO MULLER de 1/8 para aumentar as penas-base devido
FRANQUI aos maus antecedentes do acusado. Deve
ser aplicado o grau máximo de redução das
- Artigo: “Corrupção e Desenvolvimento: uma
penas previsto na causa geral de diminuição,
Análise a Partir dos Números da Operação
atinente à tentativa, porquanto o iter criminis
Lava Jato”........................................................ 98
percorrido pelo apelante restou longe da
FRANCISCO EDINALDO DO VALE consumação do delito, não chegando sequer
CAVALCANTE E ROBERTO MEYER a alcançar o patrimônio da vítima. TJMG
PINHEIRO (Em. 89/53)..................................................... 173
L MOEDA FALSA
- Pena. Crime contra a ordem tributária majo- - Acórdão do STJ – Organização criminosa
rada, em continuidade delitiva (art. 1º, I e II, armada e tentativa de furto qualificado com
c/c os arts. 11 e 12, I, todos da Lei 8.137/97 c/c emprego de explosivo. Periculum libertatis.
o art. 71 do CP). Termo inicial. Constituição Fundamentação idônea. Ordem denegada... 120
definitiva do crédito tributário. Contagem
- Acórdão do TJRS – Embriaguez ao volante.
do prazo. Consideração da causa especial de Lesões corporais culposas. Desnecessidade de
aumento de pena, não permite reconhecer prisão no caso. Medidas cautelares diversas.
como configurada a prescrição, de 8 anos. Possibilidade................................................... 149
STJ (Em. 89/11)............................................. 161
- Crime militar. Ação penal. Art. 290 do CPM.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Segregação cautelar. Conversão em prisão
preventiva. Arts. 254 e 255, e, do CPPM.
- Acórdão do TRF 1ª R. – Apropriação indébita Alegação de exacerbação do uso da custó-
previdenciária. Valor do montante inferior a dia cautelar. Ordem concedida. Mostra-se
R$ 20.000,00. Aplicação................................. 132 demasiadamente pernicioso ao primado da
- Crime ambiental. Art. 50-A da Lei 9.605/98. presunção da inocência fazer qualquer an-
tecipação de análise de mérito em momento
Art. 20 da Lei 4.947/66. Desmatamento de
embrionário da persecução penal. STM (Em.
floresta. Terra de domínio público. Sen-
89/57).............................................................. 174
tença absolutória mantida. Art. 397, III, do
CPP. A conduta atribuída ao réu, pequeno - Estelionato. Golpe do bilhete premiado.
produtor rural, apresenta potencialidade Prejuízo de R$ 14.000,00 à vítima. Prisão
ofensiva insignificante, não sendo justificável preventiva decretada com fundamento na
a incidência da norma penal incriminadora, garantia da ordem pública, conveniência da
principalmente porque o recorrido utilizou instrução criminal e aplicação da Lei Penal.
a área desmatada (26,7 ha) com o fim de Quanto à aplicação de medidas cautelares, o
plantar cultura de subsistência. TRF 1ª R. histórico do paciente desaconselha a adoção
(Em. 89/7)....................................................... 160 de tais medidas. TJRS (Em. 89/34)............... 167
- Furto tentado. Absolvição sumária. Objeto - Estupro de vulnerável. Art. 312 do CPP.
furtado com avaliação ínfima. Irrelevância Periculum libertatis. Medida desproporcional.
da conduta na esfera penal. Ausência de Adequação e suficiência de cautelares menos
periculosidade social da ação. Reduzido grau gravosas. Ordem concedida para substituir a
prisão preventiva do paciente pelas medidas
de reprovabilidade do comportamento do
cautelares previstas no art. 319, I, III e V, do
agente. TJMG (Em. 89/56)............................ 174
CPP, sem prejuízo da fixação de outras medi-
PRISÃO DOMICILIAR das que o prudente arbítrio do Juízo natural
da causa indicar cabíveis e adequadas, bem
- Paciente mãe de filhos menores de 12 anos como de nova decretação da prisão preventiva
de idade. Acusada reincidente. Prisão domi- se efetivamente demonstrada sua concreta
ciliar com fundamento no art. 318 do CPP. necessidade. STJ (Em. 89/37)........................ 168
Possibilidade. Aplicação do entendimento
- Feminicídio tentado. Presença dos requisitos
firmado no julgamento do HC Coletivo
do art. 312 do CPP. Paciente que supos-
143.641/SP. A acusação não diz respeito a tamente atacou sua ex-mulher com uma
crime praticado mediante violência ou grave faca, aproveitando-se do elemento surpresa,
ameaça, nem contra os descendentes, e que motivado pela intenção de não pagar pensão
não estão presentes circunstâncias excepcio- alimentícia, resultando em sua internação
nais que justificariam a denegação da ordem hospitalar por 8 dias. Presença de periculo-
ou mesmo que recomendariam cautela. STF sidade e reprovabilidade social pelo paciente.
(Em. 89/68)..................................................... 178 Suficientes indícios do animus necandi do
paciente. TJSP (Em. 89/50)........................... 172
- Paciente mãe de 2 filhos menores de 12 anos.
Roubo, receptação, cárcere privado, lavagem - Furto qualificado. Manutenção que se im-
de dinheiro e organização criminosa. Custó- põe. Garantia da ordem pública. Inviável
dia cautelar justificada. STF (Em. 89/25)...... 164 a aplicação de medidas cautelares diversas
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 89 – Abr-Maio/2019 201