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Revista Magister de
Direito Penal e Processual Penal
Ano XVI – Nº 91
Ago-Set 2019
Classificação Qualis/Capes: B1
Editores
Fábio Paixão
Walter Diab
Coordenador
Aury Lopes Júnior
Conselho Científico
Damásio E. de Jesus – Fernando da Costa Tourinho Filho – Luiz Flávio Borges D’Urso
Elias Mattar Assad – Marco Antonio Marques da Silva
Conselho Editorial
Adeildo Nunes – Amadeu de Almeida Weinmann
Carlos Ernani Constantino – Celso de Magalhães Pinto – César Barros Leal
Cezar Roberto Bitencourt – Élcio Pinheiro de Castro – Fernando Capez
Fernando de Almeida Pedroso – Haroldo Caetano da Silva
José Carlos Teixeira Giorgis – Luiz Flávio Gomes – Marcelo Roberto Ribeiro
Maurício Kuehne – Renato Marcão – René Ariel Dotti – Roberto Victor Pereira Ribeiro
Rômulo de Andrade Moreira – Sergio Demoro Hamilton
Umberto Luiz Borges D’Urso
A responsabilidade quanto aos conceitos emitidos nos artigos publicados é de seus autores.
As íntegras dos acórdãos aqui publicadas correspondem aos seus originais, obtidos junto ao
órgão competente do respectivo Tribunal.
A editoração eletrônica foi realizada pela LexMagister, para uma tiragem de 3.100 exemplares.
CDU 343(05)
LexMagister
Diretor Executivo: Fábio Paixão
Doutrina
1. A Releitura do Princípio In Dubio Pro Societate no Rito Especial do Júri
Rafael Estrela Nóbrega............................................................................................. 10
2. Ensaio sobre uma Segurança Jurídica Metamórfica
Rogério Filippetto..................................................................................................... 38
3. O Papel Transformativo das Corporações no Processo Penal: Ideias sobre
Compliance e Vitimização Corporativa
Eduardo Saad-Diniz............................................................................................... 57
4. O Combate à Pornografia de Vingança e a Tutela Penal da Imagem no
Brasil
Leonardo Estevam de Assis Zanini e Silvio Luiz Maciel............................................ 72
5. Metacognição: Ofensa à Imparcialidade do Juiz Criminal na Fase de
Investigação
Luiz Fernando Kazmierczak e Gustavo Carvalho Kichileski..................................... 94
Jurisprudência
1. Supremo Tribunal Federal – Preconceito Religioso. Lei nº 7.716/89.
Limites Excedidos na Liberdade de Manifestação Religiosa. Diferença
entre Discurso Religioso e Discurso sobre a Crença Alheia
Relª Minª Cármen Lúcia....................................................................................... 111
2. Superior Tribunal de Justiça – Pena Restritiva de Direitos. Execução
Provisória. Impossibilidade. Art. 147 da LEP
Rel. Min. Ribeiro Dantas....................................................................................... 119
3. Superior Tribunal de Justiça – Prescrição. Réu que Completou 70 Anos
Depois da Sentença Condenatória. Redução do Prazo Prescricional.
Impossibilidade de Aplicação do Art. 115 do CP
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz............................................................................. 123
4. Superior Tribunal de Justiça – Inquérito Policial. Investigação Deflagrada
com Base em Notitia Criminis de Cognição Imediata. Notícia Veiculada
em Imprensa. Reportagem Jornalística. Possibilidade. Outros Elementos
Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro...................................................................... 129
5. Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Crime Ambiental.
Desmatamento. Art. 50-A da Lei nº 9.605/98. Estado de Necessidade e
Inexigibilidade de Conduta Diversa Não Comprovados
Rel. Des. Fed. Néviton Guedes............................................................................... 145
6. Tribunal de Justiça do Amapá – Embriaguez ao Volante. Paciente que
Dormia no Carro. É Atípica a Conduta do Acusado que, Apesar da
Comprovação da Embriaguez, não Pratica a Elementar “Conduzir Veículo
Automotor” Inscrita no Art. 306 da Lei nº 9.503/97
Rel. Des. Carmo Antônio....................................................................................... 153
7. Tribunal de Justiça de São Paulo – Apelação em Liberdade. Sentença
Condenatória. Tomar Refeição em Restaurante sem Dispor de Recursos
para Efetuar o Pagamento. Deferimento. Impossibilidade. Condições
Pessoais Desfavoráveis
Relª Desª Claudia Fonseca Fanucchi....................................................................... 157
8. Divergência Jurisprudencial............................................................................... 161
9. Ementário............................................................................................................ 164
Sinopse Legislativa. .............................................................................................. 192
Destaques dos Volumes Anteriores.................................................................... 193
Índice Alfabético-Remissivo................................................................................ 194
Em Evidência
RESUMO: Urge que o Júri passe por uma reformulação. É preciso extirpar a
íntima convicção. Ela é incompatível com a exigência de fundamentação (art.
93, IX, da CF). Sendo bem simples: ninguém pode perder a liberdade por um
detalhe. Um sim ou um não, dados às escuras, sem o dever de dizer o porquê, é
absolutamente incompatível com a democracia. É incrível como a comunidade
jurídica não se insurge contra isso.
do CPP, ainda que por clemência, não constitui decisão absoluta e irrevogável,
podendo o Tribunal cassá-la quando ficar demonstrada a total dissociação da
conclusão dos jurados com as provas apresentadas em Plenário. Assim, resta
plenamente possível o controle excepcional da decisão absolutória do Júri, com
o fim de evitar arbitrariedades e em observância ao duplo grau de jurisdição”.
Essa discussão e esse aspecto polêmico do Júri estão ligados à própria
fragilidade da instituição. De um lado, tem-se que a soberania dos veredictos
não é absoluta; de outro, a previsão de íntima convicção que ganhou um
reforço a partir do quesito genérico previsto no art. 483, III, do CPP, isto é,
a admissão pelo legislador de que, mesmo que se admita a autoria e a ma-
terialidade e, independentemente da tese anunciada pela defesa, os jurados
podem entender, por íntima convicção, que o acusado deva ser absolvido (por
exemplo, por clemência).
Afinal, ao que consta da lei, não se perguntam as razões da decisão. Daí
a pergunta: o segundo grau (ou o STJ) pode dizer que o Júri não pode ab-
solver alguém por clemência? Como saber (d)isso, se a votação é por “íntima
convicção e secreta”? Eis o busílis. Trata-se de uma aporia. Um dilema sem
saída. Aliás, como não há justificativa e nem quesitação jurídica propriamente
dita, indaga-se apenas se o réu deve ser absolvido. E, veja-se, a absolvição deve
estar fundada na prova? A lei apenas diz “por íntima convicção”. Assim, como
dizer que a absolvição é contraria à prova dos autos, se o quesito apenas fala
“se o réu deve ser absolvido”? A resposta é: isso é impossível. Resposta em
contrário é contrariar a lei.
Explico: o quesito genérico é feito, nitidamente, em favor do réu. E isso se deduz
de uma coisa singela: não se pergunta se o réu deve ser condenado. Disso
deflui a pergunta: o recurso previsto na letra d do inciso III do art. 593 é também um
recurso que pode ser manejado pela acusação? Como aferir a contrariedade à prova
dos autos se os jurados podem absolver o acusado sem necessidade de dizer
por quê?
No caso acima analisado pelo STJ, o Ministro destacou que, para con-
cluir que a decisão do Conselho de Sentença foi contrária à prova dos autos,
a Corte fluminense se baseou nos depoimentos colhidos durante a instrução
probatória, assim como na causa mortis descrita no exame de corpo de delito.
Daí:
a) Júri esgota a matéria de fato? Como diferenciar fato e direito?
O inusitado é que o segundo grau pode examinar o contexto probatório
do modo que melhor entender, sendo que, face à Súmula nº 7, o STJ não
Em Evidência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 7
pode dizer se o que o Tribunal de piso disse confere com a realidade. Não
parece estranho e paradoxal isso tudo?
Ademais, há uma contradição e uma ilogicidade nessa decisão do STJ.
Se o Júri não tem soberania para absolver por íntima convicção contra a prova
dos autos, esse exame acerca do acerto ou erro do Júri a ser realizado pelo
Tribunal de Justiça cabe apenas a este? Segundo essa tese, fica transferida a
soberania do Júri para uma absoluta soberania do segundo grau. Logo, como
dizer que esgota em primeiro grau, a ponto de o STF afirmar a possibilidade de prisão
imediata? Sim, porque se o motivo do apelo do Ministério Público é reexame
da prova que teria sido mal examinada pelo Júri e desse julgamento do segundo
grau não cabe recurso porque será reexame de prova vedado pela Súmula nº
7, então, de fato, faz sentido afirmar que o apelo de decisão do Júri somente pode ser
feito pela defesa, porque se trata de um quesito defensivo, genérico, vitaminado pela íntima
convicção, sindicável apenas quando for a favor da defesa. À acusação restaria apenas
uma apelação quando se tratar de nulidade (já discuto isso na sequência). E
isso por uma razão singela: decidindo o jurado por íntima convicção, não há
fundamentação; é como se fosse feito por sorteio ou par ou ímpar. Ou como
fazem na tribo Azembe, na África, envenenando um pintinho. Eis a extrema
fragilidade do Tribunal do Júri.
b) Como saber que a decisão é contra a prova dos autos com esse modelo de quesitos?
Insisto: de que modo o Tribunal de segundo grau vai saber que a deci-
são foi contrária à prova dos autos? Buscando a ficção da “verdade real” (sic)?
Mas, atenção, se o Júri não é indagado sobre legítima defesa ou outra tese
defensiva, como saber que o jurado não decidiu por que acha injusta a condenação?
Como saber? Ou está proibida a absolvição por injustiça? Se sim, então não
será mais íntima convicção. Tertius non datur.
c) Fato: a íntima convicção é insustentável na democracia – esse é o ponto
De todo modo, reforça-se, com isso, a extrema inadequação de o Júri poder
decidir por íntima convicção. Isso contraria a Constituição, que exige fundamen-
tação. E, como já dito, a Constituição garante a instituição do Júri e o sigilo
das votações, mas não garante a íntima convicção (farei um artigo sobre as
necessárias alterações no Júri – já no início dos anos 1990 escrevi sobre isso).
No livro Comentários à Constituição do Brasil, da Saraiva (Canotilho, Mendes,
Sarlet e Streck), já adianto algumas posições no comentário ao Júri.
d) Resumindo as três posições sobre absolvição e a apelação
No âmbito do STJ existem três posições: (I) não é permitida a ab-
solvição por qualquer motivo fora da prova dos autos, o que torna possível
o recurso do MP diante da absolvição que não tenha amparo no conjunto
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Em Evidência
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1 Nesse sentido, ver: LOPES Jr., Aury. Tribunal do Júri: a problemática apelação do artigo 593, III, ‘d’, do CPP. Consultor
Jurídico. 18 ago. 2017.
Em Evidência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 9
TITLE: Jury trial: imprisonment and prohibition of appeal from final judgment by the prosecution – the
decision of the Federal Supreme Court.
ABSTRACT: It is necessary that the Jury Trial undergoes some reformulation. The breast of judge needs
to be completely removed. It is incompatible with the requirement for grounds (Article 93, item IX, of the
Federal Constitution). To put it simply: no one should lose its freedom for a detail. A yes or no, delivered
unclearly, with no obligation of explaining why, is absolutely incompatible with democracy. It is amazing
to see that the legal community does not object to this.
1 A Prova
A prova, no curso do processo, é o instrumento utilizado pelos sujeitos
processuais para comprovar os fatos que deram ensejo à demanda. As partes,
através da instrução probatória, buscarão o convencimento do magistrado de
que os fatos decorreram da forma como lhe são apresentados por cada uma.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 11
1 “(...) a demonstração dos fatos em que assenta a acusação e daquilo que o réu alega em sua defesa é o que constitui
a prova.” (MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1998. v. II. p. 253)
2 “It is therefore only after the hearing of the evidence is concluded and both parties have had an opportunity to present
their arguments and to comment freely on the evidence, that the judge’s power to follow his own personal ‘intime
conviction’ can come into play.” (KUNERT, Karl H. Some observations on the origin and structure of evidence rules
under the common law system and the civil law system of free proof in the German Code of Criminal Procedure.
Buffalo Law Review, v. 122, 1966-1967, p. 162)
3 “es importante hacer referencia a las diferentes corrientes que procuran dar respuesta previamente a la pregunta:
¿cuál es la finalidad de la prueba?, pues bien ellas son: la primera, que considera que la prueba tiene por finalidad la
fijación formal de los hechos; la segunda, según la cual la prueba tiene por finalidad la obtención del convencimiento
del juez y la tercera que sostiene que la prueba tiene como propósito central la obtención de la verdade.” (RUA,
Monica Maria Bustamante. La relación del estándar de prueba de la duda razonable y la presunción de inocencia
desde el garantismo procesal en el Proceso Penal Colombiano. Opinión Jurídica, Medellín, v. 9, n. 17, p. 71-91, ISSN
1692-2530, ene./jun. 2010, p. 75. Disponível em <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3294142>.
Acesso em: 10 jul. 2019)
4 “First, the fact (or facts) to be proved are normally related to an event or state of affairs in the past or, if in the present,
not otherwise the object of the fact-finder’s immediate perception. This fact must therefore be reconstructed for
and befor the fact-finder. This construction of the replica of the fact in issue is the first phase of the proof process
as a whole. As a matter of fact, several conflicting replicas will normally emerge in a controversial case. Secondly, to
have this replica or model of the fact in issue – or a variety of replicas, for that matter – set up in the courtroom does
not yet create the workable certainty that is needed do arrive at a decision. To reach such a decision, the replica, or
one of the various replicas presented, or a combination of parts thereof, has to be accepted as truly representing the
original fact (...) The second phase of the process consists of the evaluation of the replica with a view to its judicial
acceptance as a true reconstruction of the original fact. If the evaluation results in an affirmative answer as to on
of the replicas, the fact it represents is considered proved… if the answer is a negative one with respect to all the
replicas, the determinative fact has not been established. The basis for the decision is the artificially supplied by the
rules concerning the burden of proof.” (Ibid. p. 123)
5 “In order to secure the desirable accuracy and comprehensiveness of the reproduction, the common law and the civil
law systems have developed two entirely different devices: the adversary system on the one hand and the clarifying
duty of the judge on the other hand (...) The active clarifying function of the judge under the Continental procedural
system is often labeled as the typical ‘inquisitorial’ feature as opposed to the ‘accusatorial’ nature of the proceedings
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
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2 A Busca da Verdade
O processo, seja civil ou penal, quando analisado como procedimen-
to, possui sempre o intuito de chegar à verdade dos fatos que ocorreram e
o originaram. Contudo, nem sempre é fácil ou possível montar as peças do
quebra-cabeças e chegar ao que efetivamente ocorreu.
under the adversary system (...) The main function of section 244(2), CCP, is now to make sure that where the par-
ties failed to indicate – in the charge sheet, in formal motions to receive evidence, or in informal suggestions to the
court – or to themselves adduce, all pertinent evidence, the trial judge has to step in and to assume the role of defense
o state counsel, respectively.” (KUNERT, Karl H. Some observations on the origin and structure of evidence rules
under the common law system and the civil law system of free proof in the German Code of Criminal Procedure.
Buffalo Law Review, v. 122, 1966-1967, p. 125)
6 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O neoprivatismo no processo civil. In: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas
de direito processual: nona série. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 97.
7 “Com base no conhecimento difundido de que somente a atividade instrutória das partes não assegura de maneira
alguma a descoberta da verdade, andou-se afirmando a tendência de atribuir-se ao juiz um papel ativo na produção
das provas que as partes não tenham requerido por iniciativa própria, com a evidente finalidade de fazer com que a
verdade, ainda assim, possa ser apurada.” (TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: o juiz e a construção dos fatos.
Trad. Vitor de Paula Ramos. 1. ed. São Paulo: Marcial Pons, 2016. p. 201)
8 “Por ello, desde el punto de vista iuspublicista, la abstención judicial debe ser siempre rechazada. No tiene sentido que
el mismo Derecho que en mayor medida tiene como finalidad la preservación de la paz social, acabe por desautorizar
a uno de sus principales agentes: el juez.” (FENOLL, Jordi Nieva. La duda en el proceso penal. Madrid: Marcial Pons,
2013. p. 43)
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 13
9 GRECO, Leonardo. Publicismo e privatismo no processo civil. Revista de Processo, São Paulo, RT, ano 33, n. 164,
out. 2008, p. 45-46.
10 “En efecto, por convicción pareciera referirse a un modelo de libre valoración de la prueba por parte del juez, de
carácter eminentemente subjetivo, en virtud del cual el adjudicador adquiere el íntimo convencimiento acerca
de los hechos ocurridos. Sin embargo, este razonamiento es inconsistente para quienes compartimos un modelo
garantista, que permita el control de esa justificación por parte de un tribunal superior o de un tercero, incluida,
obviamente, la comunidade.” (RODRÍGUEZ, Raúl Carnevali; VAL, Ignacio Castillo. El estándar de convicción
de la duda razonable en el proceso penal chileno, en particular la relevancia del voto disidente. Revista Ius et Praxis,
año 17, n. 2, 2011, p. 77-118, p. 79. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4096091>.
Acesso em: 10 jul. 2019)
11 MITTERMAIER, C. J. A. Tratado da prova em matéria criminal. 3. ed. Campinas: Bookseller, 1996. p. 60-62.
12 MALATESTA, Nicola Flamarino Dei. A lógica das provas em matéria criminal. 6. ed. Campinas: Bookseller, 2005.
p. 87-88 e 107.
13 TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: o juiz e a construção dos fatos. Trad. Vitor de Paula Ramos. 1. ed. São
Paulo: Marcial Pons, 2016. p. 223.
14 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Processo civil e processo penal: mão e contramão?. In: MOREIRA, José Carlos
Barbosa. Temas de direito processual: sétima série. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 207.
15 Para Eugenio Florian, “(...) dado que está dominado por un interés público, es necesario que la verdad resplandezca
en su totalidad sin ninguna clase de limitaciones. En él se averigua la llamada verdad material” (apud LINHARES,
Raul Marques. O juiz e a gestão da prova no processo penal: entre a imparcialidade, a presunção de inocência e a
busca pela verdade. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 119, p. 201-240, mar./abr. 2016, p. 16).
16 “Quanto às regras que concernem à admissão, à produção – e, por vezes, até mesmo à valoração das provas – pode-se
observar que essas podem limitar ou condicionar de modos diferentes a busca da verdade; isso não implica, entretanto,
que essas determinem a descoberta de uma verdade diferente daquela que se poderia descobrir fora do processo. Pode-
se somente dizer que essas produzem um déficit na apuração da verdade que se dá no processo, já que, por exemplo,
obstam a produção de provas relevantes à apuração dos fatos cujo conhecimento é importante para a decisão. Esse déficit
não implica que haja uma verdade processual: implica somente que, em um processo em que vigem normas limitadoras
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
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da possibilidade de servir-se de todas as provas relevantes, apura-se somente uma verdade limitada e incompleta, ou
– nos casos mais graves – não se apura verdade alguma. O problema, então, não concerne à verdade, mas aos limites
em que a disciplina do processo consente que essa seja apurada.” (TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: o juiz e
a construção dos fatos. Trad. Vitor de Paula Ramos. 1. ed. São Paulo: Marcial Pons, 2016. p. 107)
17 “Conquanto as denominações de verdade real e verdade formal não ‘apunten a conceptos diferentes de lo que se
entiende por verdad’, o direito processual penal ‘objetiva más la averiguación de la verdade que otras regulaciones
jurídico-procesales, por la transcendencia que en el tiene el interes público (estatal), el cual desplaza al interés
provado por la averiguación de la verdade’.” (MAIER, Julio apud MOREIRA, José Carlos Barbosa. Processo civil e
processo penal: mão e contramão?. In: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de direito processual: sétima série. São
Paulo: Saraiva, 2001. p. 204-205)
18 “Evidente que não se trata daquela verdade real de outrora, a que se dedicou o período inquisitorial da Idade Média.
Mas da busca da verdade como forma de realização de um direito da parte, o direito à prova dos fatos que alega,
e de um dever do juiz, ainda que de caráter subsidiário, de tentar reconstruir os fatos o mais próximo que puder
chegar da realidade, a fim de que sua sentença possa tornar vencedor aquele que tem efetivamente o melhor direito.”
(BASTOS, Marcelo Lessa. O processo penal e a gestão da prova: a questão da iniciativa instrutória do juiz em face do
sistema acusatório e da natureza da ação penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. p. 1)
19 “Lá, na esfera civil, se o réu acionado por Cr$ 100,00, diz, mentirosamente, que já pagou 50 e o autor aceita a afirma-
ção, não cabe ao juiz averiguar se o fato é verdadeiro ou falso. No juízo criminal, acontece exatamente o contrário.
Não importa que o réu confesse ou que o Ministério Público aceite a alegação de uma causa de exclusão do crime
ou que haja sido arguido um fato extintivo da punibilidade. O juiz procura colher a prova de tudo quanto possa
levar a conhecer os fatos reais, verdadeiros.” (TORNAGHI, Helio. Curso de processo penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
1990. v. 1. p. 267)
20 Para Gustavo Badaró, “não há diferença entre processo civil e penal quanto à finalidade de alcance da verdade; o
que existe são limites distintos para a obtenção da verdade, o que não quer dizer que, do ponto de vista da teoria do
conhecimento, haja ‘verdades’ distintas” (apud GUEDES, Clarissa Diniz. Persuasão racional e limitações probatórias:
enfoque comparativo entre os processos civil e penal. Tese [Doutorado em Direito]. São Paulo: Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo, 2013. p. 78-79).
21 “Ambos os processos buscam equilibrar a busca da verdade e o risco de equívocos em conformidade com a espécie
de relação material analisada; mas é, justamente, a diversidade da natureza das relações em jogo no processo penal
e no processo civil que determina métodos diversos para a consecução da igualdade material no processo através da
distribuição dos erros.
A exigência de um modelo de constatação fundado, via de regra, na preponderância de uma das teses fáticas pressupõe
uma relação jurídica estruturalmente igualitária, ao passo que a exigência de um modelo de constatação mais rigoroso
para a condenação penal pressupõe uma desigualdade estrutural a ser compensada juridicamente. No processo penal,
a desigualdade na distribuição dos erros desvenda uma disparidade apenas aparente de armas e visa, tanto quanto no
processo civil, à igualdade material. Em ambos os casos, há distribuição de riscos de equívocos judiciais.
Entretanto, não há como afirmar, a priori, que no processo civil esta distribuição dos riscos de equívoco privilegie
mais ou menos a busca da verdade que no processo penal. Tudo o que se pode inferir é que a exigência de níveis
de certeza mais ou menos elevados para se decidir em favor de uma ou de outra parte é orientada por princípios
totalmente diversos no processo civil e no processo penal, justamente pela disparidade das questões substanciais
tratadas em cada seara.
Portanto, os métodos de busca da verdade e os paradigmas para assegurar a igualdade material em cada processo
divergem a ponto de afastá-los consideravelmente no que concerne ao tratamento da admissão, produção e valoração
da prova, mas não o suficiente para se concluir que um destes processos esteja menos preocupado, em todos os
aspectos, com a busca da verdade como finalidade da prova.” (Ibid., p. 88-89)
22 “O princípio da verdade material possui uma clara vinculação com o princípio inquisitivo. Jorge de Figueiredo Dias
aponta, como objetivo do princípio da investigação (ou princípio inquisitório), a obtenção das bases de decisão pelo
juiz, permitindo-se a ele a busca por provas além dos limites estabelecidos pelas partes, por isso também o nome-
ando de princípio da verdade material.” (WEDY, Miguel Tedesco; LINHARES, Raul Marques. O juiz e a gestão da
prova no processo penal: entre a imparcialidade, a presunção de inocência e a busca pela verdade. Revista Brasileira
de Ciências Criminais, v. 119, p. 201-240, mar./abr. 2016, p. 13)
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23,24,25,26
.
verdade real. De fato, mesmo que não se possa alcançar uma verdade plena
e absoluta pelo processo, o magistrado não pode se eximir de tentar afastar a
dúvida antes de formar seu convencimento para o julgamento27-28.
A sentença é um ato judicial. É o resultado da cognição do juiz com
base nas provas apresentadas pelas partes e, eventualmente, complementadas
pelo julgador, cuja missão é demonstrar fundamentadamente a sua conclusão
acerca da avaliação dos fatos29-30.
23 “A grande maioria da doutrina brasileira insiste em dizer que o processo penal é regido pelo princípio da verdade
material. Contudo, não se dá conta que esta ideia vem legitimar o sistema inquisitório e toda a barbárie que o acom-
panha, na medida em que tem o processo como meio capaz de dar conta ‘da verdade’; e não de ‘ uma verdade’, não
poucas vezes completamente diferente daquela que ali estar-se-ia a buscar.
Assim, é preciso admitir que no processo penal jamais se vai apreender a verdade como um todo – porque ela é inal-
cançável – e, portanto, como se viu, o que se pode – e deve – buscar nos julgamentos é um juízo de certeza, pautado
nos princípios e regras que asseguram o Estado Democrático de Direito.” (COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda.
Introdução aos princípios gerais do direito processual penal brasileiro. Separata ITEC, ano 1, n. 4, jan./mar. 2000)
24 “La contraposición entre verdad real y verdad formal, mediante la cual algún procesalista ha creído expresar en
fórmula sintética una diversidad esencial de objeto entre la instructoria penal y la instructoria civil (de suerte que, si
tuviese fundamento tal contraposición, solamente sería verdadera historiografía la que se realiza en las aulas penales),
no corresponde en modo alguno a la verdadera naturaleza de los procesos, los cuales, aun sirviéndose de diferentes
métodos de investigación, sedirigne al mismo y único fin, que es la busca de la verdad simple y una, sin añadidos y
sin calificativos.” (CALAMANDREI apud FARIA, André Luiz Chaves Gaspar de Morais. Os poderes instrutórios do
juiz no processo penal: uma análise a partir do modelo constitucional de processo. Belo Horizonte: Arraes, 2011. p. 57)
25 Para Magalhães Noronha, “dois são os sistemas quanto à colheita de provas: o da verdade legal e o da verdade real.
O primeiro, também chamado de verdade formal, existe quando a lei estabelece o valor das provas; há hierarquia
entre elas; seu valor é fixado aprioristicamente, consideradas, então, as provas em semiplenas, plenas e pleníssimas.
O juiz está vinculado a sua classificação. Já no outro sistema, o magistrado não fica adstrito a critérios valorativos
e apriorísticos da prova, mas é livre na sua escolha e aceitação. Não há regras predeterminadas a sua crítica. Assim,
v.g., pode ele aceitar o testemunho de um homem de bem contra o de dois de má fama, de vida escusa e condenável”
(Curso de direito processual penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 91).
26 “La ley bajo ciertas circunstancias pone límites al esfuerzo de investigación: de esta manera afirma indirectamente
que en todos los otros casos está permitido practicar cualquier prueba que sea pertinente. Así, el proceso penal
está reconocidamente dominado por el principio de la investigación de la verdad material: únicamente la ‘verdad
real’ puede ser fundamento de una decisión, pero el juez no puede encontrarla si la busca por caminos marcados
obligatoriamente de antemano.” (BELING, Ernst; AMBOS, Kai; GUERRERO, Orcas Julian. Las prohibiciones
probatorias. Bogotá: Temis, 2009. p. 4)
27 JARDIM, Afrânio Silva. Garantismo no processo penal: breve e parcial reflexão. Revista Eletrônica de Direito Processual,
p. 6-10, vol. 14, 2014, p. 8. Disponível em <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/14523>.
Acesso em: 8 set. 2016.
28 Como afirma Montero Aroca: “a função da jurisdição deve se centrar em que o juiz é o último garante dos direitos
que o ordenamento reconhece ao indivíduo, notadamente os direitos fundamentais. Ora, afigura-se óbvio que,
como garante de direitos fundamentais – seja de que ramo forem tais direitos –, o juiz deve cuidar de resguardá-los
da melhor forma possível, o que traz à tona a relação entre prova e verdade no processo. Logo, a busca da verdade
como objetivo do processo também se coaduna com esta concepção, na justa medida em que a verdade não está
excluída como premissa relevante à garantia, pela via judicial, dos direitos fundamentais” (apud GUEDES, Clarissa
Diniz. Persuasão racional e limitações probatórias: enfoque comparativo entre os processos civil e penal. Tese [Doutorado
em Direito]. São Paulo: Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2013. 471 f.).
29 “Em verdade, o juiz de um estado constitucional não pode firmar premissas fáticas e considerá-las provadas com base
apenas em sua íntima e solipsista convicção, nem motivá-la de forma meramente formal. É preciso que se argumente
e justifique adequadamente como os fatos foram trazidos para a sentença. Um juiz que não se faz entender não é um
juiz democrático e, para que possamos entendê-lo, é necessário que sua sentença exponha os argumentos de prova
que tenham influído em seu veredito e discorra de forma comprometida acerca dos aspectos que poderiam influenciar
no resultado da valoração probatória.” (SANTOS, Pedro Alves; ROESLER, Claudia Rosane. Argumentação, fatos e
verdade no processo penal em estados constitucionais. REDP, Rio de Janeiro, ano 13, v. 20, n. 1, jan./abr. 2019, p. 423)
30 “O convencimento do juiz precisa ter ligação umbilical com a demonstração desses fatos. Ou seja, a prova, que deve
retratar o mais fielmente possível a realidade, busca convencer o juiz, para que o mesmo profira uma decisão racional.”
(MIRZA, Flávio. Reflexões sobre a avaliação da prova pericial. In: Org. BASTOS, Marcelo Lessa; AMORIM, Pierre
Souto Maior Coutinho de. Tributo a Afrânio Silva Jardim: escritos e estudos. 3. ed. Salvador: Juspodivm, 2019. p. 349)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
16
Para Alexandre Morais da Rosa, a busca pela verdade real visa apenas
acalentar a consciência de acusadores e julgadores, pois durante todo o tramite
de produção das provas, vários detalhes se perdem, inviabilizando, portanto,
o conhecimento dos fatos exatamente como se deram31.
31 “Daí que a informação no campo do processo penal adentra por meio da prova, cujo regime possui quatro momentos
(requerimento, deferimento, produção e valoração). Em todos esses momentos há possibilidade de perda (gaps). A
testemunha pode não comparecer, morrer, a filmagem não funcionar, o laudo não ter sido feito, etc., enfim, todas
as possibilidades processuais atinentes à prova, por definição, impedem a informação perfeita.” (ROSA, Alexandre
de Morais da. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013. p. 94)
32 “Verifica-se um ‘donismo’ processual sem precedente, endo e extraprocessuais: o processo é meu, o promotor é
meu, o estagiário é meu, o servidor é meu, o carro é meu, eu sou eu, eu e eu. Então, eu posso investigar, eu posso
acusar, eu posso julgar, recorrer e executar a sanção.” (GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo legal: abordagem
conforme a CF e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 90)
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 17
33 “Segundo Illuminati, duas características básicas diferenciam o acusatório do inquisitivo: a legitimação para acusar
e os poderes do juiz para atuar de ofício. As dimensões do contraditório são outra marca do modelo acusatório.
Contraditório formal e material com submissão da prova ao confronto no espaço público do processo, cuja po-
tencialidade há de superar a fase preparatória da imputação.” (GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo legal:
abordagem conforme a CF e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 95)
34 “El antiguo proceso inquisitivo general trataba bastante mal la persona del imputado. Él era objeto de investigación
y aun cuando su situación procesal con frecuencia ha sido esbozada con demasiados colores lúgubres, es con segu-
ridad cierto que el respeto por su dignidad humana y en general por la esfera de su personalidad era un concepto
desconocido de tal manera que en cualquier caso una práctica probatoria no requería hacer un alto frente a esta
limitación. No siquiera el cuerpo y la vida del investigado estaban seguros ante las injerencias del proceso penal, pues
la práctica de prueba por medio de la coacción de la tristemente recordada tortura era la prueba reina.” (BELING,
Ernst; AMBOS, Kai; GUERRERO, Orcas Julian. Las prohibiciones probatorias. Bogotá: Temis, 2009. p.16)
35 “En ese sentido, el sistema inquisitivo pareciera buscar una verdad objetiva (material) que, en realidad, se aproxima
a un ideal de verdad ontológica, basada en la creencia de que la búsqueda de una verdad objetiva no solamente es
posible, sino que, además, deseable. En base a ese presupuesto, entonces, el juez, como responsable de la averigua-
ción de la verdad, y la determinación de la inocencia o culpabilidad del imputado, debe desarrollar la actividad de la
prueba orientado hacia esa verdad material. Por ello, la justicia en el sistema inquisitivo se entiende alcanzada cuando
se logra objetiva, sustancial y ontológicamente la verdad material.” (RODRÍGUEZ, Raúl Carnevali; VAL, Ignacio
Castillo. El estándar de convicción de la duda razonable en el proceso penal chileno, en particular la relevancia del
voto disidente. Revista Ius et Praxis, año 17, n. 2, 2011, p. 77-118, p. 89. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/
servlet/articulo?codigo=4096091>. Acesso em: 10 jul. 2019.
36 “En ese sentido, el proceso penal no es un procedimiento libre, sino formalizado de averiguación de la verdad.
Cuando la Constitución establece que nadie puede ser penado sin juicio previo fundado en la ley, no está protegiendo
al imputado que ha sido coaccionado para incriminarse, ni el domicilio a la correspondencia violadas, pues la lesión
ya se ha consumado, lo que pretende es establecer que un juicio fundado en elementos de prueba así obtenidos no
puede fundamentar una condena penal por la propia ilicitud del procedimiento en el cual se basa.” (ROXIN, Claus.
La prohibición de autoincriminación y de las escuchas domiciliares. Dir. por Francisco Munoz Conde y Marcela de Langhe.
1. ed. Buenos Aires: Hammurabi, 2008. p. 25)
37 “While courts will inevitably engage in balancing, I do not think that determining the material truth in a criminal
proceeding should be considered to be a higher goal than the respect for the international and constitutional protec-
tion of the right to human dignity and related guarantees respecting the right to silence and privacy (...) In order to
provide an effective remedy for violations of rights during criminal investigations, evidence obtained in violation
of fundamental constitutional rights should presumptively be excluded, subject only to narrowly-drawn exceptions
for good-faith errors and emergencies. Exclusion of such evidence should not depend on the balancing of interests;
otherwise, fundamental human rights will be lost in the balance.” (THAMAN, Stephen C. Exclusionary rules in
comparative law. Ius gentium: comparative perspectives on law and justice, v. 20, Springer Ed., p. 408-409)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
18
38 “Do iter procedimental dos atores jurídicos se extrai um modus operandi programático acerca de um objeto, direcio-
nado a um fim, uma metodologia de aplicação e hermenêutica, motivo por que admite uma metodologia acusatória,
ou uma técnica acusatória, mas esta, assim como o estilo ou princípio, não representa a totalidade do conteúdo do
sistema. Embora não padronizado, historicamente houve uma estrutura processual objetiva (atos, atividades...) e
subjetiva (atores jurídicos, sujeitos...) estruturada ideologicamente a partir de norma escritas, princípios, valores e
práticas costumeiras, formando um verdadeiro sistema de processamento criminal, produzindo um determinado
resultado.” (GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo legal: abordagem conforme a CF e o Pacto de São José da
Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 92)
39 “como é cediço, o devido processo legal, em seus aspectos formal e material, constitui uma das mais importantes
garantias para a defesa dos direitos e liberdades das pessoas, configurando um dos pilares do constitucionalismo
contemporâneo (...) Desde a sua concepção, o devido processo legal passou a constituir a ‘garantia das garantias’,
essencial para assegurar a concreção dos direitos e liberdades plasmados ao longo de séculos por renhidas lutas
travadas contra a autocracia e o absolutismo.” (STF, AgRg no HC 156.583/RS)
40 “Todavia, entende-se que não é possível falar em restrição – mínima que seja – do mandado constitucional de proteção
ao devido processo. Tem-se o devido processo penal como garantia constitucional irrestringível, pois o resultado
da mínima restrição que seja a este, o tornará impossível de ser chamado ‘devido’ processo, pois somente assim o
será quando observado em completude. O respeito ao devido processo (penal) equivale ao respeito ao ordenamento
jurídico constitucional do Estado de Direito.” (MENDES, Carlos Helder Carvalho Furtado; OLIVEIRA, Daniel
Kessler de. A ilicitude probatória resultante da vulneração do devido processo penal e a constante busca pela “efici-
ência” processual. Revista Eletrônica de Direito Processual, Rio de Janeiro, ano 13, v. 20, n. 1, jan./abr. 2019, p. 66)
41 “Assim, o devido processo é o constitucional e convencional, o justo processo, muito além da normatividade ordinária. É
aquele capaz de assegurar a proteção dos direitos humanos no plano concreto, por meio de uma teia de garantias forjadas
em sua historicidade, na complexidade normativa doméstica e internacional.” (GIACOMOLLI, Nereu José. O devido
processo legal: abordagem conforme a CF e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 99)
42 “O filtro da validade constitucional possui uma dupla face: formal e substancial, ou seja, da vinculação da regra ao
conteúdo material da Constituição, na perspectiva de proteção dos direitos fundamentais, consubstanciados na CF.
Portanto, na contemporaneidade, o acoplamento da potestatividade punitiva, na perspectiva de limite e controle de
sua atividade e incidência, ultrapassa a mera justificação e suficiência do plano ordinário, da objetivação das regras,
mas atinge outras dimensões, universais, migrando do ente legislativo, legal (ser), para o ente constitucional, subs-
tancial, deontológico (dever ser).” (Ibidem, p. 101-102)
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 19
43 “(...) o procedimento criminal apresenta-se atualmente como verdadeiro instrumento democrático de proteção do
cidadão, a impedir o arbítrio, limitar o poder punitivo estatal e tutelar as garantias constitucionais de investigados
ou denunciados.” (STF, AgRg no HC 156.583/RS)
44 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 4. ed. São Paulo: RT, 2011. p. 66.
45 “Assim, a jurisdição penal só seria válida num processo em que o conjunto de atos fosse executado de acordo com
a forma e a ordem pré-estabelecidas.” (SOUZA NETTO, José Laurindo de. Processo penal: sistemas e princípios. 5.
ed. Curitiba: Juruá, 2014. p. 116)
46 TUCCI, Rogério Lauria. Op cit., nota 44, p. 66.
47 “Contudo, quando se tenta o esboço de um sistema processual penal de garantias conforme a constituição, não pode
esconder-se que o devido processo tem que tutelar tanto o interesse individual pelas garantias como o interesse
coletivo pela repressão justa dos delitos cometidos, porque tanto afeta a justiça um inocente preso que um culpável
impune.” (BAÑOS, Javier Ignácio; MIRANDA Jr., Joaquim José. Sistema de garantias constitucionais no direito
processual penal. 1. ed. Belo Horizonte: Edições Superiores, 2017. p. 77)
48 “Cuida-se, como é sabido, de uma garantia de caráter dúplice. De um lado, indica a indispensabilidade da instauração
de um processo antes da restrição de quaisquer direitos. De outro, significa que o processo precisa ser adequado,
ou seja, não pode ser um simulacro de procedimento, devendo assegurar, no mínimo, a imparcialidade do juiz, a
publicidade do julgamento, a igualdade entre as partes, o efetivo contraditório, a ampla defesa e a motivação das
decisões.” (STF, AgRg no HC 156.583/RS).
49 “De este modo, lo importante, desde el punto de vista constitucional debe ser el considerar si el juez con las actua-
ciones que le permite la ley y la jurisprudencia es suficientemente imparcial, y no ve amenazada su independencia:
si la obtención y práctica de la prueba respeta las garantías fundamentales; si rige con todas las consecuencias la
presunción de inocencia y el derecho a guardar silencio y a no confesarse culpables; si hay garantías suficientes para
defender la posición del imputado – sea como sea que el legislador decida llamarle – y si a la víctima se le coloca
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
20
en una posición en la que pueda salvaguardar convenientemente sus intereses, sin que ello deba suponer, por lo
menos en la mayoría de los casos, un desconocimiento del carácter público de la infracción criminal cometida.”
(FENOLL, Jordi Nieva; VADELL, Lorenzo Bujosa. Nociones preliminares de derecho procesal penal. Barcelona: Atelier
Libros Jurídicos, 2016. p. 19)
50 “O devido processo legal consubstancia-se, sobretudo, como igualmente visto, uma garantia conferida pela Magna
Carta, objetivando a consecução dos direitos denominados fundamentais, através da efetivação do direito ao processo,
com imprescindível concretização de todos os seus respectivos corolários, e num prazo razoável.” (TUCCI, Rogério
Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz e. Devido processo legal e tutela jurisdicional. São Paulo: RT, 1993. p. 19)
51 “En efecto, el estándar de prueba no pretendía proteger al imputado – como hoy lo sostenemos –, sino que la duda
razonable fue originalmente concebida para proteger – de su condena – el alma de los integrantes del jurado. Se
creía, en esos tiempos, que el destino de quienes juzgaban estaba también en juego en cada juicio, porque condenar
a un inocente era considerado en la antigua tradición cristiana potencialmente como un pecado capital. Por ende,
la duda razonable fue en un inicio creación de la doctrina teológica, que procuraba asegurar – o reafirmar – en el
jurado la idea de que ellos podían condenar al imputado sin poner en riesgo su propia salvación, siempre y cuando
las dudas de la responsabilidad del acusado no fueran razonables.” (RODRÍGUEZ, Raúl Carnevali; VAL, Ignacio
Castillo. El estándar de convicción de la duda razonable en el proceso penal chileno, en particular la relevancia del
voto disidente. Revista Ius et Praxis, año 17, n. 2, 2011, p. 77-118, p. 81. Disponível em <https://dialnet.unirioja.es/
servlet/articulo?codigo=4096091>. Acesso em: 10 jul. 2019)
52 POZZOBON, Thayse Cristine. Monografia apresentada como requisito parcial para conclusão do Curso de Preparação à Magis-
tratura em nível de Especialização. Escola da Magistratura do Paraná. Curitiba, jul. 2015. Disponível em: <https://www.
monografias.com/pt/trabalhos3/duvida-razoavel-aplicabilidade-tribunais-brasileiros/duvida-razoavel-aplicabilidade-
tribunais-brasileiros2.shtml>. Acesso em: 19 abr. 2018.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 21
cada detalhe, de cada prova. Portanto, não se pode exigir do julgador uma
certeza absoluta em termos técnicos, e sim que decida se, dentro das provas
produzidas de acordo com o que o rito processual permite, o acusado é cul-
pado. Esse quantum de prova necessária é chamado de “prova mais além da
dúvida razoável”53.
O sistema inglês possui como parâmetro de um julgamento justo a
prova beyond a reasonable doubt, segundo o qual havendo essa prova além da
dúvida razoável já é o bastante para que esteja caracterizada a culpabilidade
do réu54-55. Deve ser considerado também que não há uma determinação de
critérios objetivos para aferição desse parâmetro que varia de caso a caso em
decorrência das possibilidades ou não da produção probatória.
De acordo com Larry Laudan, o conceito da expressão pode assim ser
explicado:
“A dúvida razoável trata, portanto, desse estado do caso que deixa a mente
do julgador em uma condição tal que não possa dizer que experimenta uma
convicção perdurável, que produz certeza moral, sobre a verdade buscada.
Se subsiste uma dúvida razoável em relação à prova da culpabilidade, o
acusado tem direito de se beneficiar da presunção de inocência e ser absol-
vido. Assim, as provas hão de estabelecer a verdade dos fatos no sentido de
produzir uma certeza que convence, dirige o entendimento e que satisfaz
a razão e o juízo dos julgadores. Isso, conclui, é o que se considera prova
mais além de toda a dúvida razoável.”56-57
53 REIS, André Wagner Melgaço. Standard de prova além da dúvida razoável (proof beyond a reasonable doubt). Conjur. Dis-
ponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-ago-14/andre-melgaco-reis-standard-prova-alem-duvida-razoavel>.
Acesso em: 10 abr. 2019.
54 “Siguiendo la misma línea, pero sin identificar en absoluto donde estaría el grado de certeza, el Tribunal Constitucional
español creó un concepto muy ambiguo: el de ‘mínima actividad probatoria de cargo’. Según el mismo – aunque
cambiando un poco da formulación del Tribunal Constitucional que no la sustancia –, para conseguir destruir la
presunción de inocencia y, para tanto, eliminar toda duda razonable, el tribunal a quo tenía que haber realizado una
actividad probatoria que permitiera a ese tribunal a quo inferir la existencia de una atribución delictiva. De ese modo,
habiéndose practicado esa actividad probatoria sobre la acusación y habiendo quedado demostrada, la presunción de
inocencia habría sido legítimamente destruida (...) Pero lo más relevante que finalmente se ha aportado en ese terreno
es la necesidad de motivación. La ‘duda razonable’ casi siempre ha prescindido de la misma, pero no así la ‘certeza
moral’, ni tampoco numerosos autores que han tratado de construir sus ideas basándose em la duda razonable y en
la posibilidad preponderante.” (FENOLL, Jordi Nieva. La duda en el proceso penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 80)
55 “Es por ello, que en estos casos también se habla de Burden of Proof, es decir carga de la prueba – onus probando. Si las
evidencias aportadas por el órgano persecutor no alcanzan la medida o el estándar de más allá de toda duda razona-
ble, no es posible condenar. En consecuencia, es una exigencia dirigida también a quien persigue, y no sólo a quien
juzga.” (RODRÍGUEZ, Raúl Carnevali; VAL, Ignacio Castillo. El estándar de convicción de la duda razonable en el
proceso penal chileno, en particular la relevancia del voto disidente. Revista Ius et Praxis, año 17, n. 2, 2011, p. 77-118,
p. 84. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4096091>. Acesso em: 10 jul. 2019.
56 FENOLL, Jordi Nieva. Op. cit., nota 54, p. 80.
57 “En esta perspectiva, Laudan, en la fijación del estándar de prueba de ‘conocimiento más allá de toda duda razonable’,
a través de la lógica inductiva, presenta dos formas alternativas o equivalentes que son comúnmente presentadas a
los jurados a través de las instrucciones de las deliberaciones: 1. Si es creíble la prueba acusatoria, o un testimonio
que resulta difícil de explicar si el acusado fuese inocente, y no es creíble la prueba exculpatoria, o un testimonio
que sería muy difícil de explicar si el acusado fuese culpable, entonces condénelo. De otro lado, absuélvalo. 2. Si la
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
22
historia de la acusación acerca del delito es plausible y usted no puede imaginar una historia plausible que muestre al
acusado como inocente, entonces condénelo. De otro modo, absuélvalo.” (RUA, Monica Maria Bustamante; VELEZ,
Diego Palomo. La presunción de inocencia como regla de juicio y el estándar de prueba de la duda razonable en
el proceso penal: Una lectura desde Colombia y Chile. Revista Ius et Praxis, ano 24, n. 3, 2018, p. 651-692, p. 684.
Disponível em <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6891053>. Acesso em: 10 jul. 2019.
58 “Ese mismo elemento de la duda inspira el beyond any reasonable doubt, que como há recordado acertadamente la
jurisprudencia del Tribunal Europeo de Derechos Humanos, tampoco se distingue de la presunción de inocencia.
El contenido es el mismo, y cuando se creó esa frase para instruir a los jurados anglosajones, simplemente se estaba
buscando que entendieran que solamente podían condenar si no tenían dudas razonables, porque si las albergaban,
tenían que absolver. Exactamente lo mismo que se pretende con el in dubio pro reo, que, como ya se ha dicho, coincide
en contenido con la presunción de inocencia.” (FENOLL, Jordi Nieva. Fundamentos de derecho procesal penal. Buenos
Aires: Euros, 2012. p. 284)
59 “Este estándar de prueba tiene su antecedente en el proceso penal inglés y es la regla fundamental en el proceso penal
norteamericano; asimismo, existe la tendencia de su aplicación en ordenamientos propios del derecho continental
como en el derecho italiano y ahora en el colombiano. La razón de la adopción del estándar de conocimiento, más
allá de toda duda razonable, es de naturaleza ético-política, para procurar que el juez penal pueda condenar al acusado
solamente cuando se haya conseguido, por lo menos tendencialmente, la certeza de su culpabilidad; ello significa
que el acusado tendrá que ser absuelto todas las veces que sobre su culpabilidad resulte una duda razonable.” (RUA,
Monica Maria Bustamante. La relación del estándar de prueba de la duda razonable y la presunción de inocencia
desde el garantismo procesal en el Proceso Penal Colombiano. Opinión Jurídica, Medellín, v. 9, n. 17, p. 71-91, ISSN
1692-2530, ene./jun. 2010, p. 76. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3294142>.
Acesso em: 10 jul. 2019.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 23
60 REIS, André Wagner Melgaço. Standard de prova além da dúvida razoável (proof beyond a reasonable doubt). Conjur. Dis-
ponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-ago-14/andre-melgaco-reis-standard-prova-alem-duvida-razoavel>.
Acesso em: 10 abr. 2019.
61 Para corroborar a necessidade de um parâmetro, o doutrinador afirma que: “Nadie es capaz de determinar qué nivel
de duda es exigible para declarar la inocencia en un proceso, habida cuenta de que las sentencias son absolutamente
variopintas en este punto. Tampoco existe unidad, en absoluto, acerca de qué nivel de suficiencia probatoria de cargo
debe alcanzarse para poder dictar una sentencia de condena. Todo ello demuestra que la presunción de inocencia
es, sin duda, un criterio altamente inseguro en la práctica, e imperfecto científicamente hablando” (FENOLL, Jordi
Nieva. Fundamentos de derecho procesal penal. Buenos Aires: Euros, 2012, p. 279).
62 CARDOSO, Luiz Eduardo Dias. A condenação e a absolvição de OJ Simpson à luz dos standards probatórios.
Consultor Penal. Disponível em: <https://consultorpenal.com.br/a-condenacao-e-a-absolvicao-de-oj-simpson-a-
luz-dos-standards-probatorios>. Acesso em: 20 abr. 2019.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
24
67 “XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;”
68 “IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
26
mencionado. Recebida a demanda pelo juiz, o mesmo deverá citar o réu para
que apresente defesa prévia no prazo de 10 dias em que deve constar toda a
defesa a que o réu entender de direito, incluindo preliminares. Apresentada
a defesa prévia, abre-se prazo para o MP ou querelante, dependendo do tipo
de ação, para se manifestar.
O magistrado, então, designa a audiência de instrução, bem como de-
termina a realização das diligências cabíveis. A audiência será, de preferência
una, como determina a Lei nº 11.689/08, em que serão ouvidas as testemunhas,
peritos, realizadas acareações e interrogatório do réu. Sempre que possível, o
juiz deverá ouvir a vítima, devendo a mesma ser intimada para a audiência.
Finda a instrução, seguem-se aos debates orais, e, a partir de então, inicia-se
o prazo para o juiz prolatar a sentença69.
Nessa decisão, apresentam-se ao magistrado algumas opções: absolver
sumariamente o acusado nas hipóteses previstas no art. 415 do CPP; prolatar
sentença de pronúncia do acusado se restar convencido da existência de in-
dícios mínimos de autoria e comprovação da materialidade do fato; prolatar
sentença de impronúncia, caso não se convença de tais requisitos; ou remeter
os autos ao MP, no caso de necessárias retificações, inclusões ou alterações.
Portanto, observa-se que, nesse procedimento há um julgamento com-
plexo, partindo de duas decisões, inicialmente a decisão da admissibilidade da
denúncia, proferida pelo magistrado com a pronúncia do acusado, requisito
essencial para a continuidade do procedimento e que será analisada a seguir, e
a decisão tomada pelos jurados, pelos pares do acusado, que definem, efetiva-
mente, a sua responsabilidade ou não pelo fato que lhe vem sendo imputado.
69 “Entra no juízo, que sobre a tese das provas o juiz deve formular, a determinação de tal valor, pelo que se fala, além
da inspeção, de valoração das provas; o uso que o juiz faz das provas, para formular o juízo, consiste precisamente
em tal valoração, de maneira que depois de haver escutado uma testemunha, ou, de qualquer maneira, observado
um indício, o juiz o valora para julgar e este valorar se assemelha precisamente ao ato de quem, pondo-lhe sobre a
balança, procede a pesá-lo.” (CARNELUTTI, Francesco. Das provas no processo penal. Trad. Vera Lúcia Bison. 1. ed.
Campinas: Impactus, 2005. p. 22)
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 27
70 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Millennium, 2009. v. III. p. 176.
71 “Caso contenha termos injuriosos ao acusado, frases de efeito contra a defesa ou acusação, ingressos inoportunos
no contexto probatório ou qualquer outro ponto que seja contundente na inserção do mérito, deve provocar, como
consequência, a sua anulação. Não se pode conceber que a decisão, nesses termos proferida, seja lida pelos jurados,
de modo a influir na formação do seu convencimento.” (NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual
penal. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 971)
72 No mesmo sentido: LOPES Jr., Aury. Direito processual penal. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 793. “Com isso,
pretende-se, essencialmente, evitar os excessos do juiz na pronúncia e, principalmente, o uso abusivo dessa decisão,
no plenário, por parte do acusador. Essa prática, tão disseminada até então, gerava gravíssimos para a defesa, pois
a decisão de pronúncia e, principalmente, o acórdão confirmatório dela, eram utilizados pelos acusadores como
‘argumentos de autoridade’, induzindo os jurados a afirmarem a autoria e a materialidade e, por consequência,
condenarem o réu”.
73 “O magistrado que prolata a sentença de pronúncia deve exarar a sua decisão em termos sóbrios e comedidos, a fim
de não exercer qualquer influência no ânimo dos jurados. É aconselhável, por outro lado, que dê a entender, sempre
que surja controvérsia a propósito das elementares do crime, que sua decisão, acolhendo circunstância contrária ao
réu ou repelindo as que lhe sejam favoráveis, foi inspirada no desejo de deixar aos jurados o veredicto definitivo
sobre a questão, a fim de não subtrair do Júri o julgamento do litígio em todos os seus aspectos.” (MARQUES, José
Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Millennium, 2009. v. III. p. 175)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
28
74 “Se há dúvida, é porque o Ministério Público não logrou êxito na acusação que formulou em sua denúncia, sob o
aspecto da autoria e materialidade, não sendo admissível que sua falência funcional seja resolvida em desfavor do
acusado, mandando-o ao júri, onde o sistema que impera, lamentavelmente, é o da íntima convicção.” (RANGEL,
Paulo. Direito processual penal. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 653)
75 No mesmo sentido: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual penal. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2018. p. 971.
76 LOPES Jr., Aury. Direito processual penal. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 796.
77 Ibidem.
78 BADARÓ, Gustavo Henrique. Ônus da prova no processo penal. 1. ed. São Paulo: RT, 2003. p. 390.
79 “A experiência demonstra que a aplicação desse princípio in dubio pro societate, aliado à recomendação de que a
linguagem judiciária, na pronúncia, deve ser moderada, decorre apenas de mera praxe judicial e conta com certa
conveniência, funcionando até como desculpa, pois é inegavelmente mais cômodo remeter a dúvida ao Júri do que
ter que resolvê-la, penetrando mais profundamente no conjunto de provas existente no processo.” (BÁRTOLI,
Márcio apud Ibid, p. 391)
80 BADARÓ, Gustavo Henrique. Op. cit., nota 78, p. 391.
81 “Para o oferecimento da denúncia, exige-se apenas a descrição da conduta delitiva e a existência de elementos pro-
batórios mínimos que corroborem a acusação. Provas conclusivas da materialidade e da autoria do crime são neces-
sárias apenas para a formação de um eventual juízo condenatório. Embora não se admita a instauração de processos
temerários e levianos ou despidos de qualquer sustentáculo probatório, nessa fase processual deve ser privilegiado o
princípio do in dubio pro societate. De igual modo, não se pode admitir que o julgador, em juízo de admissibilidade da
acusação, termine por cercear o jus accusationis do Estado, salvo se manifestamente demonstrada a carência de justa
causa para o exercício da ação penal.” (STJ, RHC 92.649/RS).
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 29
“É certo que, para a pronúncia, não se exige certeza além da dúvida razoável, di-
ferentemente do que necessário para a condenação. Contudo, a submissão de um
acusado a julgamento pelo tribunal do júri pressupõe a existência de lastro
probatório consistente no sentido da tese acusatória, ou seja, requer-se um standard
probatório um pouco inferior, mas, ainda assim, dependente da preponderância de
provas incriminatórias.
(...)
“Segundo pacífica jurisprudência desta Corte Superior, a propositura da ação penal exige tão somente a prova da
materialidade e a presença de indícios mínimos de autoria. Prevalece, na fase de oferecimento da denúncia, o princípio
do in dubio pro societate.” (RHC 109.737/PR).
“Na fase de deliberação quanto à possibilidade de recebimento da denúncia, na qual vigora o princípio do in dubio
pro societate, afigura-se como suficiente para que se autorize a instauração da ação penal tão somente a existência de
indícios suficientes de autoria e materialidade. A inicial acusatória, portanto, deve alicerçar-se em elementos pro-
batórios mínimos que demonstrem a materialidade do fato delituoso e indícios suficientes de autoria, em respeito
aos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da
Constituição Federal).” (AO 2.275/RN)
“O acórdão recorrido se encontra consentâneo com o entendimento desta Corte, no sentido de que na sentença de
pronúncia deve prevalecer o princípio in dubio pro societate, não existindo nesse ato qualquer ofensa ao princípio da
presunção de inocência, porquanto tem por objetivo a garantia da competência constitucional do Tribunal do Júri.”
(ARE 986.566 AgR/SE)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
30
86 CF: “Art. 5º (...) LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”.
87 “Segundo nos parece, o princípio da não culpabilidade (ou inocência) encontra sua mais radical fundamentação na
incerteza, enquanto ponto de partida. Praticado um fato lesivo e com aparência de tipicidade penal, cumpre ao Estado
promover a descoberta de sua autoria e também adequá-lo a um modelo sancionatório regularmente previsto em
lei. Mas, e isso é decisivo, deve-se partir da incerteza e não da possibilidade de certeza, a ser aferida pelas conclusões
da autoridade investigante ou daquela com atribuição para a postulação junto à jurisdição.” (OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de. O processo penal como dialética da incerteza. In: BASTOS, Marcelo Lessa; AMORIM, Pierre Souto Maior
Coutinho de [Org.]. Tributo a Afranio Silva Jardim: escritos e estudos. 3. ed. Salvador: Juspodivm, 2019. p. 271)
88 “Así, finalmente, la presunción de inocencia actúa como regla de juicio para aquellos casos en los que el juez no ha
alcanzado el convencimiento suficiente para dictar una sentencia, ni en sentido absolutorio, ni en sentido conde-
natorio, esto es, ‘cuando se encuentra en estado de duda irresoluble’.” (RUA, Monica Maria Bustamante; VELEZ,
Diego Palomo. La presunción de inocencia como regla de juicio y el estándar de prueba de la duda razonable en
el proceso penal: Una lectura desde Colombia y Chile. Revista Ius et Praxis, ano 24, n. 3, 2018, p. 651-692, p. 658.
Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6891053>. Acesso em: 10 jul. 2019.
89 “Como regra de prova, a formulação mais precisa é o standard anglo-saxônico no sentido de que a responsabilidade
criminal deve ser provada acima de qualquer dúvida razoável (proof beyond a reasonable doubt).” (AP 580/SP, DJe
26.06.2017)
90 Da mesma forma entende Gustavo Badaró informando que “a norma, prevista no art. 5º, LVII, da Constituição da
República, traz ao réu uma garantia política do estado de inocência, uma regra de tratamento durante o processo
e, no que mais importa no momento, uma regra de julgamento em caso de dúvida (in dubio pro reo)” (BADARÓ,
Gustavo Henrique. Ônus da prova no processo penal. 1. ed. São Paulo: RT, 2003. p. 280).
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
32
91 “Pero creo que el ‘más allá de toda duda razonable’ y, en consecuencia, la presunción de inocencia, van, valga la redundancia,
más allá. En mi opinión, la finalidad de la presunción de inocencia es tratar de hacer al juez más imparcial, alejándolo del
impacto que haya generado el daño que hayan podido provocar los hechos, a fin de que no quiera ver con precipitación
a un culpable donde no lo hay, que es lo más frecuente entre la sociedad. En consecuencia exigirle al juez que tenga una
duda razonable supone, principalmente, hacerle consciente de sus emociones negativas, a fin de que pueda conseguir
alejarse de ellas.” (FENOLL, Jordi Nieva. La duda en el proceso penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 50)
92 Assim apresentou o Ministro: “o critério de que a condenação tenha que provir de uma convicção formada para
‘além da dúvida do razoável’ não impõe que qualquer mínima ou remota possibilidade aventada pelo acusado já
impeça que se chegue a um juízo condenatório. Toda vez que as dúvidas que surjam das alegações de defesa e das
provas favoráveis à versão dos acusados não forem razoáveis, não forem críveis diante das demais provas, pode haver
condenação” (STF, APN 470/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, DJe 22.04.2013).
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 33
7 Conclusão
Diante das informações apresentadas no presente trabalho, resta clara
a intenção, ao menos, de alteração de parâmetro que vem se delineando com
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
34
recentes do país, bem como do parâmetro mais objetivo que pode vir a auxiliar
o magistrado em sua função, apesar de o mesmo não ser isento de falhas ou
de gerar discussões acerca de sua interpretação.
TITLE: The reinterpretation of the in dubio pro societate principle in the special proceeding of the jury.
ABSTRACT: This article aims at analyzing the current interpretation of indictment decision with the
application of the “proof beyond a reasonable doubt” standard. To this end, there will be an introduction
about the concept of evidence and truth in its various aspects as understood by jurists and the legal system.
Following this logic, this text briefly addresses the procedural systems in existence with the consequent
presentation of the necessary rules for the proceeding to be deemed legitimate, i.e., the due process of
criminal law. Based on that, this article presents the American concept of the reasonable doubt standard,
including its origin and analysis by jurists, while showing the divergences that it brings in the legal systems
where it is applicable. Finally, after brief highlights about the functioning of the Jury Trial, the indictment
decision and the current and contrasting understandings on the application of the in dubio pro societate and
in dubio pro reo principles, arising from the insertion in our Courts of the “beyond a reasonable doubt”
standard, will be more deeply commented.
KEYWORDS: Criminal Procedural Law. Proof Beyond A Reasonable Doubt. In Dubio Pro Reo Principle.
In Dubio Pro Societate Principle. Indictment Decision.
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Rogério Filippetto
Doutor em Direito e Mestre em Ciências Penais pela Faculdade
de Direito da UFMG; Professor de Direito Processual Penal
da PUC Minas; Procurador de Justiça.
1 Introdução
O presente ensaio é resultado de iniciais reflexões sobre a aspiração
humana quanto à segurança, segurança essa que assume nuance peculiar
quando se invoca as regras básicas de convivência que ganharam a complexi-
dade tratada pelo Direito. Volta-se o enfoque especialmente para as questões
atinentes ao Direito Criminal, embora se parta de uma perspectiva histórica
e de teoria geral.
A partir disso, faz-se uma abordagem comparativa sobre o desenvol-
vimento do Direito na Alemanha, através da contribuição de Savigny, con-
siderando o duelo entre as práticas consuetudinárias e a existência de regras
positivadas. O embate representa a segurança da previsibilidade do Direito
escrito e a mobilidade e propriedade das regras aplicáveis, segundo a tradição e
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 39
cultura dos povos. Mas é preciso frisar a dificuldade de fazer uma opção ou de
se buscar o tempero entre as vertentes, de modo que esse desafio de satisfazer
o espírito que busca a segurança jurídica, com a previsibilidade, permanece em
contínuo processo de aperfeiçoamento. Essa química ganha paulatino aumento
de complexidade, já que ingredientes como a mutabilidade dos fenômenos e
a influência de aspectos políticos e econômicos interagem, produzindo um
cenário cada vez mais imprevisível e não genérico. Tudo isso é muito próprio
de uma era de incertezas, representada pelo pós-modernismo que precisa
buscar convivência com pilares do Direito, notadamente com a segurança que
se espera seja proporcionada pela implementação e interpretação das regras.
Estabelecido o paralelo e um panorama em que as coisas se apresentam,
insere-se a discussão acerca dos meios de prova e sua interpretação, sempre
considerando o Direito Processual como instrumento de contenção de abu-
sos punitivos, buscando um espaço de convivência entre essa finalidade, que
representa foros de segurança e a busca de eficiência na produção probatória.
A variante que surge, de maneira não acessória, é a transformação do fenô-
meno criminal, informado por ingredientes de violência e de criminalidade.
Há, também, a necessidade de se considerar o sentimento social de insegu-
rança, decorrente do alarma ou do terror que o crime pode produzir num
mundo globalizado, associado ao risco de perecimento dos estados, diante
do terrorismo. Cresce o clamor de fortalecimento da feição policialesca do
estado, amenizando o rigor de liberdades, ao tempo que também cresce um
sentimento de busca da segurança, como forma de afastar riscos democráticos.
Este ensaio é, então, permeado pelo constante antagonismo que surge
entre o público e o privado; a segurança como previsibilidade e a flexibilidade
como efetividade; e práticas ditatoriais e democráticas. Enfim, entre a força
dos extremos e a possibilidade de se buscar um caminho do meio, como
forma de não se fazer opções excludentes, mas que resultem de um diálogo
entre opostos.
1 SAVIGNY, Friedrich Carl von. Trad. José Díaz García. De la vocación de nuestra época para la legislación y la ciencia del
derecho. Universidad Carlos III de Madrid, 2015. p. 70-71.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 41
2 LOPES, Mônica Sette. Uma charada: a ciência, os métodos, a lei e o conflito. Revista do Tribunal Regional do Trabalho
da 3ª Região, Belo Horizonte, v. 40, n. 70, p. 190, jul./dez. 2004. Suplemento especial. Disponível em: <https://hdl.
handle.net/20.500.12178/73438>. Acesso em: 14 ago. 2019.
3 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. p. 33-35. Curio-
samente, segundo esclarece Maximiliano, apesar de o brocardo in claris cessat interpretatio vir expresso em latim, não
tem ele origem romana, sendo que Ulpiano professava o contrário, isto é, que embora claríssimo, o édito do pretor
não se deve descurar da interpretação respectiva (op. cit., p. 33).
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
42
4 FERRAJOLI, Luigi. Garantismo e direito penal. Trad. Pedro Vaz Patto. Revista Julgar, número especial, 2008, p. 55-57.
Disponível em: <https://sites.google.com/site/julgaronline/Home/numeros-publicados/julgar-especial---setembro-
dezembro---2008>. Acesso em: 14 ago. 2019.
5 SAVIGNY, op. cit., p. 59.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 43
6 O Código Francês
Savigny tece críticas à codificação da época, partindo da afirmação de
que a crítica extravasa o próprio texto codificado. Começa com o Código de
Napoleão, dizendo que sua maior influência foram os elementos políticos
que se sobrepuseram aos técnicos. Manifesta, assim, seu desprezo pela con-
tribuição dos exegetas.
Os aspectos técnicos codificados levaram em conta o reconhecimento
de um Direito já existente: em parte, o Direito romano e, em parte, o Direi-
to francês, que se expressava pelo costume. O Direito novo introduzido na
França foi mal acolhido nas localidades. O mesmo fenômeno teria se repetido
na Alemanha11.
O valor do código está na sua parte técnica e teórica, que não se chegou
a discutir com propriedade, porque o estudo se submeteu a um corpo cole-
giado numeroso e heterogêneo, que se perdia discutindo questões pontuais
e específicas, em detrimento de um debate teórico geral. A teoria geral do
direito das coisas e das obrigações não se pode entender sem uma preparação
científica. As questões específicas analisadas no Código de Napoleão são
insignificantes diante das teorias gerais.
A dificuldade está na eleição das disposições efetivamente a serem trata-
das e das respectivas regras. Para isso é preciso dominar os princípios reitores
sobre os quais descansa a segurança e a eficácia do trabalho do jurista. Nesse
não se pode antever, mas que pode ser submetido a regras gerais, decorrentes
da lei ou do costume, de modo que o código não poderia ser algo blindado.
14 TUCCI, Rogério Lauria. Teoria do direito processual penal. São Paulo: RT, 2002. p. 172-173.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
50
17 Conferir: FRANCO, Alberto Silva. Crimes hediondos. 4. ed. São Paulo: RT, 2000. p. 81-86.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
52
18 HASSEMER, Winfried. Três temas de direito penal. Porto Alegre: AMP/Escola Superior do Ministério Público, 1993.
p. 65-66.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 53
de los poderes o bien (como en la filosofía de la historia del siglo XIX) una
excepción del desarrollo orgánico de las cosas.”19
O Brasil ainda não enfrenta o mesmo problema que outros países, posto
que muito embora o incremento da criminalidade de massa e organizada se
manifeste cada vez mais, não se tem o Estado ameaçado em sua existência,
talvez porque esse status do crime se mantenha exatamente graças à estrutura
estatal brasileira, não havendo razão, sob a perspectiva criminal, para a promo-
ção de alterações. Portanto, haverá quem diga não existir ambiente propício ao
desenvolvimento de um Direito Penal de Exceção, como paradigmaticamente
se vislumbra nos Estados Unidos e na Itália. Todavia, as bases dogmáticas estão
presentes e renovadas em autores contemporâneos:
19 SCHMITT, Carl. La dictadura: desde los comienzos del pensamiento moderno de la soberanía hasta la lucha de
clases proletaria. Trad. José Díaz García. Madrid: Alianza, 1999. p. 194.
20 GRINOVER, Ada Pellegrini. O crime organizado no sistema italiano. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São
Paulo, n. 12, p. 85-86, out./dez. 1995.
21 SCHMITT, op. cit. p. 195.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
54
saia de sua esfera privada. Mas então o direito penal de inimigos também
só pode ser legitimado como um direito penal de emergência que vige
excepcionalmente.”22
8 Conclusão
Como esclarecido de início, o presente escrito é apenas um ensaio sobre
uma diversidade de questões oriundas dessa constante busca humana pela
segurança. Segurança que na perspectiva jurídica se modifica à medida em
que se realiza, bem como guarda necessidade mutante conforme o contexto
social também se transforma.
Parece ser possível dizer que para a satisfação dos anseios humanos, a
segurança, e mais especialmente falando, a segurança jurídica, é muito mais
um ideal, uma meta, que não se atinge, mas cuja busca se faz essencial para
22 JAKOBS, Günther. Fundamentos do direito penal. Trad. André Luís Callegari. São Paulo: RT, 2003. p. 143.
23 SCHMITT, Carl. O führer protege o direito. Trad. Ronaldo Porto Macedo Júnior. São Paulo: Max Limonad, 2001. p. 223.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 55
ABSTRACT: Taking Savigny’s studies as a theoretical framework, the search is made for the existence
of legal stability and its contours, considering the Law that is born from positive law and the custom.
The debate is updated based on the problems that the judge faces in interpreting the law and proof, due
to the social sentiment that seeks predictability. Finally, the aim of the study is to verify the possibility of
real legal stability.
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1 Para um conceito de “justiça criminal corporativa” e reflexões críticas sobre a métrica da criminalidade corporativa:
LAUFER, William. The missing account of progressive corporate criminal law, University Journal of Law and Business,
New York, n. 14, 2017, p. 1-63.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 59
3 LUHMANN, Niklas. Das Recht der Gesellschaft. Suhrkamp, 1993; LUHMANN, Niklas. Die soziologische Beobachtung
des Rechts. Hermann Luchterhand, 1986.
4 LUHMANN, Niklas. Legitimation durch Verfahren. Suhrkamp, 1983.
5 TEUBNER, Gunther. Juridification of social spheres: a comparative analysis in the areas of labor, corporate, antitrust
and social welfare law. ������������������������������������������������������������������������������������������
De Gruyter, 1987. p. 24. Originalmente, a ideia foi incorporada ao processo penal em: FER-
NANDES, Fernando. O processo penal como instrumento de política criminal. Almedina, 2001. p. 94.
6 Op. cit., p. 51.
7 Debatendo o modelo de Luhmann, e com referências à clássica ideia de Nils Christie sobre a “expropriação do
conflito vitimal”: BILLIS, Emmanouil; KNUST, Nandor. Alternative types of procedure: aspects of social legitimacy.
In: SIEBER, Ulrich et al. (Ed.). Alternative systems of crime control. Duncker & Humblot, 2018. p. 39-58 (“the lack of
normative integration of the victims and the community affected by the original conflict into the criminal process
make them almost disappear in this transposed state-conflict-resolution mechanism”, p. 51).
8 Op. cit., p. 51.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 61
9 Por exemplo, há muitas vantagens no emprego das ciências sociais para reduzir a criminalidade violenta: “The focus is
on a ‘bad behavior, good person’ approach in which those present seek to reconnect the offender to his or her values,
with the goal of motivating the offender to want to follow the rules in the future. The restorative justice approach
seeks ways to heighten the offender’s future motivation to engage psychologically and behaviorally in society. This
engagement includes developing or becoming more committed to social values that promote self-regulation, and
consequently adhering more closely to laws and social regulations in the future, that is, to lower levels of rearrest.
In other words, one important goal is being able to create better community members” (TYLER, Tom; RANKIN,
Lindsay. Public attitudes and punitive policies. In: DVOSKIN, Joel et al. (Ed.). Using social science to reduce violent
offending. Oxford Press, 2012. p. 118.
10 FINDLAY, Mark; HENHAM, Ralph. Transforming international criminal justice: retributive and restorative practice in
the trial process. Willan Publishing, 2005. p. 292-294.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
62
das narrativas das vítimas poderia ser uma estratégia bastante inspiradora para
recobrar o juízo moral no processo decisório do sistema jurídico. Isso não
é tão distinto da dinâmica do reconhecimento, tratamento da vítima com
especial consideração à relação que ela estabelece com o ofensor e o sistema
de justiça criminal11.
Isso implica um espectro mais amplo de práticas transformativas, ini-
ciando com o reconhecimento das vítimas do crime corporativo e conferindo-
lhes o papel de protagonista no sistema de justiça criminal. É claro que estas
ideias demandam pesquisa muito mais profunda, mas deixando por agora
de lado a rejeição da agência moral das empresas (corporate moral agency) por
parte de certos doutrinadores, o reconhecimento da vítima poderia prover
uma identificação da culpabilidade muito mais acurada. Para que essa emprei-
tada tenha algum sucesso, há algumas questões-chave de pesquisa: como as
empresas poderiam ajudar as vítimas a endereçar suas narrativas no processo
penal? Os códigos de conduta corporativos e os procedimentos internos po-
deriam reconectar as obrigações morais e os deveres jurídicos? Ou para que
a empresa seja somada como parte no processo, sobretudo como interessada
na “reconciliação” com a infração? Qual poderia ser o valor de novas perspec-
tivas normativas na obrigação moral das corporações? Ou, mais diretamente,
estendendo-se o alcance da personalidade de vítima (victimhood) às corporações,
é possível estabelecer com clareza o reconhecimento delas como vítimas?
Mais empiricismo12 e experimentação a respeito poderia demonstrar como
as coisas poderiam funcionar na prática.
Ao redor do mundo, os criminalistas estão intensivamente engajados
em pesquisa comparada, na maioria das vezes delimitada a incrementar a
qualidade da responsabilidade penal empresarial. No momento, a pesquisa
em direito penal parece ainda negligenciar aspectos empíricos centrais sobre
a extensão do comportamento corporativo socialmente danoso13, deixando de
reconhecer as insuficiências na comparação dos sistemas de justiça criminal
11 “This withdrawal of respect or recognition is our most basic response to wrongdoing and thus can correctly be
described as the expressive form of blame. It is the most basic response to wrongdoing because it essentially involves
the recognition that our relationship has changed in some way as a result of wrongdoing. Perhaps we can eve say
that wrongdoing – that is, the failure to do what it is one has a moral obligation to do – is just whatever properly
motivates us to this withdrawal of recognition. What blame express, through its symbolic withdrawal of recogni-
tion, is a deterioration in relationships: it expresses the view that things have changed for the worse between ‘us’. A
natural metaphor to reach for in explaining this is to talk about distance, or a rupture in relationships; we might even
talk in more grandiose fashion about the alienation of the wrongdoer from the moral community.” (BENNETT,
Christopher. The apology ritual: a philosophical theory of punishment. Cambridge Press, 2008. p. 107)
12 FORTI, Gabrio et al. (Org.). Victims & corporations: implementation of Directive 2012-29-EU. Justice Programme
of the European Union, 2017.
13 Literatura empírica é escassa. Veja-se mais sobre em: SIEBER, Ulrich; ENGELHART, Marc (Ed.). Compliance
programs for the prevention of economic crimes: an empirical survey of German companies. Duncker & Humblot, 2014.
p. 96-98, quantifying victimization of companies and third parties.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 63
14 A analítica de Malcolm Feeley tem ainda muito valor: “The logic of comparative analysis – concomitant variation – has
rarely been exploited effectively in the field since using the legal system or legal culture as the unit of analysis, like
much of social science generally, is ‘negative’ or ‘corrective’, in that it is most successful in marshalling evidence to
challenge or ‘disprove’ the accuracy of received wisdom or generalization put forward by others. However valuable
this may be, it does little to advance explanatory analysis” (Comparative criminal law for criminologists: comparing
for what purpose? In: NELKEN, David [Ed.]. Comparing legal cultures. Dartmouth, 1997. p. 103)
15 Para uma análise mais profunda sobre a insuficiência da responsabilidade penal empresarial na experiência norte-
americana: LAUFER, William. Corporate bodies and guilty minds. Chicago Press, 2006. p. 60.
16 Eg MILLER, Dale; VIDMAR, Neil. The social psychology of punishment reactions. Law and Society Review, n. 14,
1980, p. 565-602.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
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17 Impressiona que o uso de guidelines para auxílio de reguladores e de enforcers a articular suas estratégias reguladoras
seja uma tendência global. Por exemplo, o Grupo Crimint, na Argentina, preparou um consistente protocolo e
abriu o debate ao crivo de especialistas internacionais. (PABLO MONTIEL, Juan; AYESTARÁN, Nicolás [Ed.].
Lineamientos de integridad. Crimint, 2018).
18 JOHNSON, K. Federal court processing of corporate, white collar, and common crime economic offenders over
the past three decades. Mid-American Review of Sociology, n. 11, 1986, p. 25-44; mais específico sobre o papel das
corporações e vitimização no processo penal: HAGAN, John. Victims before the law: a study of victim involvement
in the criminal justice process. Journal of Criminal Law and Criminology, n. 73, 1982, p. 317-330.
19 LAUFER, William. A very special regulatory milestone. University of Pennsylvania Journal of Business Law, 2018, 413 ff.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 65
20 Na vitimologia: FINKELHÖR, David. Developmental victimology. In: R. Davis et al. (Ed.) Victims of crime. Sage,
2007. p. 28.
21 Todos os comentários são discutidos em maiores detalhes em: SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia corporativa: um
novo campo de pesquisa nas ciências criminais (forthcoming, 2019).
22 Assim como mencionado por William Laufer, durante o 5º Simpósio dos Jovens Penalistas em Freiburg, Alemanha.
23 SHERMAN, Lawrence. Reason for emotion: reinventing justice with theories, innovations, and research’ Criminol-
ogy, n. 41, 2003, p. 1-37.
24 “Victimhood produces grieving relatives, dominated by their hurt and loss, and survivors, maimed physically or
psychologically, who take their victimhood into the future as a burden of grief and pain. Managing these emotions
is foundational to peacemaking. These emotions are particularly divisive when all groups can claim themselves
victims. The emotions around victimhood therefore need to be managed in such a way as to permit victimhood to
be recognized as an issue, and the victims honoured, while moving them and the rest of society beyond the memory.
This requires as a starting point a plural approach to victimhood by recognizing that all have suffered in different
ways.” (BREWER, John. Dealing with emotions in peacemaking. In: KARSTEDT, Susanne et al. (Ed.). Emotions,
crime and justice. Hart, 2014. p. 309.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
66
25 STRANG, Heather; BRAITHWAITE, John. Restorative justice and civil society. Cambridge, 2001. p. 1-13. Conceitual-
mente, Strang e Braithwaite dividem a justiça restaurativa em três diferentes categorias: 1) procedimental, engajando
todos os stakeholders; 2) valorativa (mecanismos alternativos à perspectiva tradicional de justiça); e 3) integrada,
idealmente concebida como um continuum entre o engajamento de stakeholders e formas alternativas de justiça.
26 SHERMAN, Lawrence; STRANG, Heather. Restorative justice: the evidence. The Smith Institute, 2007. p. 88.
27 FINDLAY, Mark; HENHAM, Ralph. Op. cit., p. 292-294.
28 Participação, neste caso, significa, “not only participating directly, they should be encouraged to do so to generate
the emotional power upon which the ‘success’ of restorative justice depends” (STRANGER, Heather. Is restorative
justice imposing its agenda on victims? In: ZEHR, Howard et al. [Ed.]. Critical issues in restorative justice. New York:
Monsey, 2004. p. 95-106.
29 De fato, as práticas restaurativas podem prover “means by which victim’s harms and needs are addressed, then the central
role played by victims means that they are integral to the process. To be sure, victims may arrive at their conference full
of retributive and bitter emotions, but this is usually no more than a normal reaction to the harm they have experienced.
Only by acknowledging the legitimacy of these retributive emotions and permitting their expression can restorative
justice be perceived as a mainstream alternative to the exclusive and impersonal punitive focus of the formal justice
system. Without such an acknowledgment, restorative justice will remain limited to trivail disputes between people little
affected by the crime or its treatment” (STRANG, Heather. Is restorative justice imposing its agenda on victims? In:
ZEHR, Howard et al. [Ed.]. Critical issues in restorative justice. New York: Monsey, 2004. p. 95-106.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 67
perdão30. Tomando por base esta questão, por agora é possível apenas somar
alguns comentários ao papel das emoções no âmbito corporativo. Este “giro
emocional” trazido pelas práticas restaurativas nos leva ao desafio da restau-
ração, um desafio bastante promissor ao setor privado.
Desde uma perspectiva normativa, o processo penal transformativo,
ao combinar práticas restaurativas com a punição retributiva, acaba forjando
a noção de justiça transformativa31. A questão particular sobre a reprovação
moral do comportamento corporativo socialmente danoso implica desafiar as
teorias jurídicas tradicionais e o juízo moral centrado na figura da autoridade
competente – o juiz. O deslocamento parcial ao âmbito corporativo permite
questionar se há de fato valores e práticas sociais que possam ser combinadas
com enforcement mais inteligente e punição prioritária à severidade da conduta.
Também levanta problemas a respeito da carga simbólica que deve
expressar uma condenação, notadamente no que diz respeito às emoções
mais impactadas pelo comportamento corporativo socialmente danoso32. Tal
qual Fisse e Braithwaite já o afirmavam, o processo penal deveria tomar por
foco atribuir valor e reconhecimento público às estratégias corporativas33.
Em minha opinião, a “autorregulação regulada” (ou mais próximo de sua
formulação original, a “autorregulação submetida a enforcement” – enforced self-
regulation) não deveria ser tomada como mais um dogma que nos forçamos
a reproduzir na pesquisa científica latino-americana. O próprio Braithwaite
avaliou criticamente esta ideia em uma série de oportunidades. Ele sugere, por
exemplo, algumas alternativas bastante criativas à falta da “arma benigna” (big
benigngun) nos países em desenvolvimento34, sobretudo, porque estes países
sequer dispõem de sanções jurídicas mais consistentes em seus ordenamentos.
Espera-se que as ciências criminais encontrem a oportunidade para
encorajar a experimentação científica e introduzir práticas sociais mais ino-
30 SHERMAN, Lawrence; STRANG, Heather. Empathy for the devil: the nature and nurture of revenge. In:
KARSTEDT, Susanne et al. (Ed.). Emotions, crime and justice. Hart, 2014. p. 145-168.
31 “Transformative justice is about dealing with both the injustice of being victimized and with the injustice of distribu-
tive justice. Transformative justice departs from the adversarialism of repressive, retributive, vengeful, and even
restorative justice on the ground that these forms of justice serve to perpetuate and reproduce the marginal and
disempowering conditions of the victimized and the enraged. Instead, policies of nonviolence are called for that seek
to transform the dominant practices of our penal-justice systems and of the larger systems of distributive injustice
throughout society. At the same time, transformative justice seeks to move victims from vengeance to forgiveness,
from defensive hatred and alienation to altruistic empathy and protectiveness, as it seeks to respond to the needs of
the most vulnerable and harmed in our society who require at a minimum four things: (a) answers to why they were
victimized; (b) recognition of the wrongs they incurred; (c) restitution for the injuries they received, and (d) the
restoration or establishment of peace and security lost or never obtained.” (BARAK, Gregg. Violence and nonviolence:
pathways to understanding. Sage, 2003. p. 323.
32 BENNETT, Christopher. The apology ritual: a philosophical theory of punishment. Cambridge Press, 2008. p. 145.
33 FISSE, Brent; BRAITHWAITE, John. Corporations, crime and accountability. Cambridge Press, 1993. p. 218-238.
34 BRAITHWAITE, John. Responsive regulation and developing economies. World Development, n. 34, 2006, p. 884-898.
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68
35 YOUNG, Richard. Testing the limits of restorative justice: the case of corporate victims. In: HOYLE, Carolyn;
YOUNG, Richard (Ed.). New visions of crime victims. Hart, 2002. p. 133-172.
36 VOGT, David. The aims of restorative justice: some philosophical remarks on the challenges of integrating restorative
justice into the criminal justice system. Reconciling the irreconcilable? In: GRÖNING, Linda; JACOBSEN, Jorn
(Ed.). Restorative justice and criminal justice: exploring the relationship. Santerus, 2012. p. 21-40.
37 SIMPSON, Sally Seminal. Corporate crime, law, and social control. Cambridge Press, 2002. 180 f.
38 Op. cit.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 69
39 Findlay e Henham apontam outros resultados possíveis para esta combinação entre práticas restaurativas e punição
retributiva: “disestablishing the professional monopoly over trial communication; deconstructing legal language to
open up meaning to lay participants; reframing judicial discretion to facilitate more flexible and spontaneous levels
of trial conversation; allowing the determination of truth to divert trial outcomes from the determination of indi-
vidual liability through determinations of guilty; staging trial outcomes where RJ can precede and perhaps defuse
the need for findings of guilt, and sentence to follow; softening the entry and exit stages in the trial and making
the accountability of the process serve more than the satisfaction of professional participants” (FINDLAY, Mark;
HENHAM, Ralph. Op. cit., p. 292-294).
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
70
40 Veja-se, por exemplo: SEPINWALL, Amy. Blame, emotion and the corporation. In: ORTS, Eric et al (Ed.). The
moral responsibility of firms. Oxford Press, 2016. p. 143-168.
41 William Laufer (nota 24).
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 71
TITLE: The transformative role of corporations in criminal procedure: ideas about compliance and
corporate victimization.
ABSTRACT: It is suggested that the transformative criminal procedure should use more narratives than
descriptions, since narratives introduce the tragic value of real human lives in the decision-making process.
The possibilities of corporate victimology, originally conceived by Laufer, will be explored, with the primary
purpose of emphasizing that the study of corporate victimization could support some strategic possibili-
ties for the acknowledgment of victimization processes, as a centerpiece of legal sanctions in relation to
socially harmful corporate behavior. This text intends to summarize this transformative impulse in a clear
suggestion: restorative justice integrated with compliance technology and combined with the retributive
function of punishment, conceived as a possible theoretical framework to better address victims’ needs.
In conclusion, pretty similarly to what Laufer proposes to be the progressive line of criminal liability of
legal entities, it is suggested that compliance resources may be used as a powerful transformative strategy.
42 Compliance convergence consiste em iniciativas corporativas mensuráveis, que proveem a “convergence of informal
corporate social controls” (LAUFER, William. The missing account... op. cit., p. 63). As ciências criminais deveriam se
empenhar em maior experimentação neste campo. Transformar o papel das corporações no processo penal talvez seja
alinhar-se à flexibilidade do âmbito corporativo. Por um lado, conceder mais espaço para atores não estatais poderia
ser uma estratégia muito promissora para ajudar a priorizar as estratégias de enforcement aos casos mais danosos. Por
outro, é bastante razoável empregar mecanismos de verificação intensiva de direitos fundamentais para controlar os
abusos sob a “forma” (shape) ou os “valores partilhados” (shared values) advindos das expectativas corporativas. Este
primado da regulação privada tem sido amplamente debatido no campo da violação de direitos humanos no âmbito
corporativo, veja-se, por exemplo: Darian-Smith; C. Scott. Regulation and human rights in socio-legal scholarship.
Law and Policy, n. 31, 2009, p. 271-276. Ver também: CHOUDHURY, Barnali. Hardening soft law initiatives in
business and human rights. In: PLESSIS, Jean Du et al (Ed.). Corporate governance codes for the 21st Century. Springer,
2017. p. 189-208 (“growing nonstate regulatory power requires either an acceptance of diminished rights or the
elaboration of a new rights narrative which more effectively embraces private power”).
43 Longamente sobre: SAAD-DINIZ, Eduardo. Ética negocial e compliance: entre a educação executiva e a interpretação
judicial. RT, 2019.
Doutrina
Introdução
No direito penal brasileiro, diferentemente do que ocorre na legislação
de muitos países europeus, não há um tipo que cuide especificamente da
tutela penal da imagem. Não há que se falar na existência, no direito pátrio,
de uma disposição penal que salvaguarde amplamente a imagem, ainda que
em associação com a proteção da privacidade e da intimidade.
A despeito da ausência de tal previsão legal, é bastante corriqueira a
ocorrência de situações que dão enfoque a essa problemática. Isso se deve
principalmente ao desenvolvimento tecnológico, que permitiu a digitalização
de imagens e a miniaturização de equipamentos, facilitando a captação de
imagens1. Além disso, o surgimento da internet permitiu a distribuição dessas
imagens de forma praticamente sem controle, até mesmo instantaneamente
(em tempo real) e em escala global, o que gerou grandes transformações na
dinâmica das relações sociais e dos meios de comunicação2.
Tudo isso leva ao questionamento acerca da necessidade ou não da tu-
tela penal em defesa da imagem. É praticamente indiscutível a necessidade da
intervenção penal em relação aos tipos previstos na grande maioria das legisla-
ções, como é o caso do homicídio, da lesão corporal, do furto, do estelionato,
etc. A punição dessas condutas é fundamental para a convivência humana3.
Mas o mesmo pode ser dito em relação à violação da imagem? É necessária a
tutela da imagem pelo direito penal? Em quais circunstâncias seria justificável
tal proteção? Tais indagações são inicialmente objeto de análise do presente
artigo, cuja investigação se pautará pelo estudo da doutrina e jurisprudência.
Respondidos os questionamentos supra, passa-se à análise dos dispo-
sitivos penais que permitem, a partir do direito positivo brasileiro, algum
tipo de tutela penal da imagem, ainda que de forma indireta, por via reflexa.
Ademais, juntamente com o estudo do direito positivo, serão propostos novos
paradigmas para a tutela penal da imagem.
que nos dias atuais é inegável a exposição da imagem a ofensas das mais va-
riadas. Em outras palavras, a necessidade de intervenção penal no âmbito da
proteção da imagem se justifica exatamente pela facilidade de ataque a esse
bem jurídico, particularmente em virtude da constante evolução tecnológica17.
É bem verdade que o legislador brasileiro, especialmente no que toca
ao direito penal, não tem elaborado legislação que possa ser considerada con-
veniente. Normalmente parte de problemas pontuais, surgidos em situações
concretas, propondo a criação de novos tipos penais em toque de caixa, sem
um estudo aprofundado e sistematizado acerca do bem jurídico a ser tutelado
penalmente. Para piorar, muitas vezes, os próprios parlamentares se vanglo-
riam pelo fato de terem aprovado um projeto em tempo recorde, o que acaba
demonstrando justamente a imaturidade com que nossas leis são criadas.
Seja como for, essa problemática não afeta a necessidade de criação de
normas penais que possam responder aos inúmeros ataques à imagem das
pessoas. Desse modo, é evidente a existência de dignidade constitucional
em relação ao bem jurídico em questão, bem como há necessidade da pena
para sua proteção, pressupostos fundamentais para a tutela penal18. Por isso,
a legislação penal pátria não pode ficar a reboque dessa nova realidade, dei-
xando sem resposta adequada essa atual modalidade de ilícito, que é própria
dos tempos modernos19.
17 BEXIGA, Vanessa Vicente. O direito à imagem e o direito à palavra no âmbito do Processo Penal, p. 11.
18 Como esclarece Carvalho, “não é pelo facto de determinado valor ter uma essencial dignidade constitucional (‘dig-
nidade penal’) que, necessariamente, terá de ser criminalizada a sua lesão; exige-se, complementarmente, que haja
‘necessidade penal’” (CARVALHO, Américo Taipa de. Direito penal: parte geral, p. 53).
19 Lamentavelmente, como aponta Costa Junior, o que ocorre até os presentes dias é que “o legislador caminha sem-
pre com o passo trôpego. Avança com vagar. Mais lentamente que os fatos sociais, que evoluem vertiginosamente,
reivindicando normas e providências” (O direito de estar só. São Paulo: RT, 2007. p. 9).
20 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direitos da personalidade: aspectos essenciais, passim.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
78
3 O Consentimento Presumido
O problema atinente ao consentimento presumido é bastante comum
em relação à utilização da imagem. Discute-se se somente o consentimento
expresso afastaria eventual conduta típica ou se outras formas de consenti-
mento também seriam admitidas com essa finalidade.
Na Alemanha, a doutrina admite o consentimento presumido em
casos, como, por exemplo, o de intervenções cirúrgicas. Entretanto, é certo
que esse problema pode ser solucionado com excludentes expressamente
previstas na legislação penal, como a do estado de necessidade de terceiro ou
do exercício regular do direito, o que tornaria desnecessária a utilização da
figura supralegal28.
O Código Penal português, por sua vez, equipara o consentimento
presumido ao consentimento efetivo, estabelecendo os pressupostos para a
sua validade29. Trata-se de causa excludente de crime, a qual está prevista no
artigo 39º do referido código: “1 – Ao consentimento efectivo é equiparado
o consentimento presumido. 2 – Há consentimento presumido quando a
situação em que o agente actua permitir razoavelmente supor que o titular
do interesse juridicamente protegido teria eficazmente consentido no facto,
se conhecesse as circunstâncias em que este é praticado”. Assim sendo, o
mencionado dispositivo cuida de “situações em que o titular do bem jurídico
Ora, ainda que se trate de delito próprio, que exige condição especial
do sujeito ativo, essa norma penal inegavelmente também permite a tutela da
imagem dos infantes. E o tipo pode, inclusive, alcançar coautores ou partícipes,
que não detêm a autoridade, guarda ou vigilância do menor, mas podem atuar
em conjunto com quem detém essa condição.
Parece óbvio que uma das formas de constrangimento ou humilhação
de alguém é justamente por meio da divulgação de imagens em situações
que expõem a pessoa à vergonha ou à execração pública. Aliás, a razão de
se tutelar a imagem é exatamente para proteger as pessoas de tais situações
vexatórias, uma vez que a divulgação de imagens que retratam a pessoa em
situações comuns ou até honrosas não configuram ilícito penal. Se alguém
é filmado socorrendo uma pessoa ferida e sua imagem é postada nas redes
sociais com texto elogioso sobre sua conduta, é certo que isso não pode ser
punido criminalmente.
Como o art. 232 do ECA constitui delito de ação livre, ou seja, não
exige uma forma de execução específica, é certo que o constrangimento ou
vexame do menor pode ocorrer pela divulgação de suas imagens. É o caso, por
exemplo, da divulgação de imagens de menores acusados de ato infracional,
sem que isso tenha qualquer utilidade para o processo, o que pode ensejar não
somente a responsabilização da autoridade responsável pela vigilância do me-
nor, mas também do executor da captação da imagem ou de quem a divulgou.
Outrossim, o art. 143 do ECA determina que na divulgação de atos
judiciais, policiais ou administrativos, que digam respeito a crianças e ado-
lescentes a que se atribua autoria de ato infracional, são vedadas fotografias.
Pode a Polícia manter a fotografia do menor em seus cadastros para atuação
investigativa, mas obviamente não pode publicar essa imagem.
Além das normas acima, o ECA garantiu, nas situações previstas nos
arts. 240 a 241-C, a proteção penal da imagem da criança e do adolescente.
Tais disposições criminalizam, em linhas gerais, a realização de foto ou de
filme pornográfico com criança ou adolescente, a venda de foto ou filme
pornográfico envolvendo criança ou adolescente, a divulgação pela internet de
foto ou vídeo pornográfico de criança ou adolescente38, a guarda de material
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
38 No que toca à competência, o Plenário do STF já firmou posicionamento no sentido de que compete à Justiça
Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo
criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/90) quando praticados por meio da rede mundial
de computadores. Igualmente, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que o crime previsto no art. 241-A da Lei nº
8.069/90, relativo à divulgação de imagens pornográficas de crianças e adolescentes, quando praticado pela internet,
é da competência da Justiça Federal, pois as imagens são colocadas à disposição de um número indefinido de pessoas
e, ao menos potencialmente, para usuários residentes fora do território nacional.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 83
59 Sobre o problema na construção das leis penais assevera Carvalho que “atribuir ao direito penal um papel simbólico
é abrir as portas à aceitação de ‘bodes expiatórios’, o que o direito em geral, e o direito penal em especial, deve evitar
a todo custo” (Direito penal: parte geral, p. 50).
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88
5 Considerações Finais
No panorama atual, não resta dúvida que o direito penal brasileiro
considera ser necessária a tutela penal contra determinados ataques graves e
intoleráveis à imagem da pessoa. A violação decorrente da captação e utilização
da imagem sem maiores consequências para seu titular, por outro lado, em
função da subsidiariedade, deve ficar fora da esfera de proteção penal.
No ordenamento jurídico brasileiro não existe um tipo penal voltado
especificamente para a tutela da imagem. Apesar disso, embora não exista
tutela penal própria e autônoma do direito de imagem, é certo que existem
algumas disposições, como foi visto, que permitem sua defesa mediata, uma
vez que cuidam precipuamente da lesão a outros bens jurídicos.
Nesse contexto, pode-se afirmar que o combate à prática de divulgação
indevida de imagens atinentes a material íntimo vem ganhando muita força
no direito brasileiro, visto que a criação de novos tipos penais tem permitido
a criminalização de uma ampla gama de condutas. Assim sendo, não resta
dúvida que o legislador brasileiro considerou existir, como regra, dignidade
penal na proteção da imagem que contenha cenas de nudez, ato sexual ou ato
obsceno. Ademais, o legislador também reconheceu a existência de necessi-
dade de proteção penal nessas situações, constituindo o direito penal a forma
adequada e eficaz para tanto.
Todavia, vale questionar se seriam somente as hipóteses de cenas de
nudez, de ato sexual ou de ato obsceno que deveriam ser tipificadas. Em rea-
lidade, as normas examinadas ainda deixaram em aberto um vasto campo de
imagens relacionadas com a intimidade da pessoa, que nada tem a ver com
cenas de nudez, de ato sexual ou de ato obsceno, mas que certamente têm
legitimidade e necessidade de proteção pelo direito penal. Esse é o caso, por
exemplo, de fotografias tiradas de uma pessoa em um leito de um hospital ou
de um vídeo feito quando uma pessoa estava agonizando após um acidente
automobilístico. Em tais situações, a despeito da legitimidade e da necessidade,
não há que se falar na salvaguarda penal da imagem.
Outrossim, a existência de inúmeros tipos penais, inseridos no Códi-
go Penal e em leis especiais, também dificulta a defesa penal da imagem. É
bastante complexo interpretar harmonicamente, sem cometer injustiças, as
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
92
diferentes normas penais que guardam relação com a imagem. Dessa forma,
seria melhor a unificação de alguns tipos, o que pode ser notado em alguns
países europeus, como na Suíça, na Alemanha, na França e em Portugal.
Por conseguinte, não obstante ser evidente que houve um avanço
considerável em relação ao quadro deficitário até então existente, acredita-se
que o direito penal brasileiro deveria contar com um tipo dotado de maior
alcance, levando em conta a proteção da imagem em associação com a in-
timidade, não se restringindo apenas e tão somente ao campo da liberdade
sexual. Assim, deveria abranger, no mínimo, a salvaguarda contra a violação
da intimidade, que também vem sendo diuturnamente vulnerada pelos novos
avanços tecnológicos.
TITLE: The fight against the revenge pornography and the criminal protection of the image in Brazil.
ABSTRACT: This Article analyses the need for protection of the image by criminal law. It emphasizes
that the defense of the image by the criminal law is a subject that passes for the understanding of the
theory of the legal good as instrument for limitation of the criminal intervention. It presents reflections
on the importance of consent, expressed or presumed, with regard to the atypicality or the exclusion of
illegality of conduct involving the right to image. After a general analysis of the legitimacy and necessity of
criminal protection, the text studies the norms of Brazilian law that offer, even if indirectly, protection to
the image, as is the case of the Statute of the Child and Adolescent, the Carolina Dieckmann Law and the
Law of protection of people with special needs. Finally, the crimes of unauthorized registration of sexual
intimacy and dissemination of the scene of rape, sex, nudity or pornography are analyzed.
KEYWORDS: Criminal Protection of the Image. Right to Privacy. Personality Rights. Porn Revenge.
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1 Introdução
A presente pesquisa aborda o tema de metacognição e sua relação com
a teoria do véu da ignorância de John Rawls, junto à análise do sistema de
justiça criminal brasileiro e chileno.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 95
2 Metacognição
A metacognição consiste no processo de conhecimento, correspon-
dendo a compreensão do autoconhecimento. O autoconhecimento em si,
nada mais é que a noção de saber como e quanto estamos aprendendo sobre
determinado assunto, objeto de estudo, saber como o processo de informação
é gerido no nosso pensamento.
Segundo John Hurley Flavell, a metacognição está ligada ao processo
de aprendizagem.
“A metacognição refere-se aos conhecimentos do sujeito relativos aos seus
próprios processos e produtos cognitivos (...) refere-se, também, ao moni-
toramento ativo e consequente regulação e orquestração desses processos
em relação aos objetos cognitivos ou dados sobre os quais eles incidem.”1
O processo de conhecimento está ligado ao processo cognitivo, sendo este
um conjunto de fatores e acontecimento que, reunidos, pode extrair uma inter-
pretação e racionalizar as informações coletadas para extração do conhecimento.
“(...) a metacognição é todo o movimento que a pessoa realiza para tomar
consciência e controle de seus processos cognitivos. Ela diz respeito, entre
outras coisas, ao conhecimento do próprio conhecimento, à avaliação, à
regulação e à organização dos próprios processos cognitivos.”2
1 FLAVELL, J. H. Metacognitive aspects of problem solving. In: RESNIK, L. B. (Ed.). The nature of intelligence. Hillsdale,
NJ: Lawrence Erlbaum, 1976. p. 231-236.
2 PORTILHO, Evelise M. L.; DREHER, Simone A. S. Categorias metacognitivas como subsídio à prática pedagógica.
Educação e pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 181-196, 2012.
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96
10 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 9.
11 MACHADO, Antônio Alberto. Teoria geral do processo penal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 8-9.
12 LOPES Jr., Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p.140.
13 Ibid., p. 43.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 99
“(...) Artículo 9º.- Autorización judicial previa. Toda actuación del procedi-
miento que privare al imputado o a un tercero del ejercicio de los derechos
que la Constitución asegura, o lo restringiere o perturbare, requerirá de
autorización judicial previa. En consecuencia, cuando una diligencia de
investigación pudiere producir alguno de tales efectos, el fiscal deberá
solicitar previamente autorización al juez de garantía.”21
21 CHILE. Biblioteca del Congresso Nacional de Chile. Codigo Procesal Penal. Disponível em: <https://www.leychile.
cl/Navegar?idNorma=176595>. Acesso em: 20 maio 2019.
22 BRASILEIRO, Renato. Manual de processo penal. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 1.213.
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102
“O Estado-juiz deve ser terceiro justamente para não ter parcialidade (in-
teresse/pré-julgamento) na resolução do caso penal em favor de qualquer
uma das partes. A imparcialidade é uma construção técnica artificial do
processo, que não se confunde com ‘neutralidade’. O julgador ignora os
fatos, mas não é neutro, já que possui suas conotações políticas, religiosas,
ideológicas, etc., mas deve ser imparcial cognitivamente: afastamento
subjetivo dos jogadores e objetivo do caso penal. Não há neutralidade
porque se trata de um juiz-no-mundo. Mas deve haver imparcialidade,
um afastamento estrutural, um estranhamento em relação ao caso penal
em julgamento, aquilo que os italianos chamam de terzietà (alheamento, ser
um terceiro desinteressado). A imparcialidade é um princípio supremo do
processo, como ensina Werner Goldschmdit, fundante da própria estrutura
dialética (actum trium personarum – Búlgaro).”23
23 LOPES Jr., Aury; ROSA, Alexandre Morais da. Quando o juiz já sabia: a importância da originalidade cognitiva
no processo penal. Conjur. 29 abr. 2016. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-abr-29/limite-penal-
quando-juiz-sabia-importancia-originalidade-cognitiva-processo-penal>. Acesso em: 23 maio 2019.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
104
“(...) Pelo conteúdo da decisão do juiz, restara evidenciado que ele teria sido
influenciado pelos elementos coligidos na investigação preliminar. Dessa
forma, considerou que teria ocorrido hipótese de ruptura da denominada
imparcialidade objetiva do magistrado, cuja falta, incapacita-o, de todo,
para conhecer e decidir causa que lhe tenha sido submetida. Esclareceu
que a imparcialidade denomina-se objetiva, uma vez que não provém de
ausência de vínculos juridicamente importantes entre o juiz e qualquer dos
interessados jurídicos na causa, sejam partes ou não (imparcialidade dita
subjetiva), mas porque corresponde à condição de originalidade da cognição
que irá o juiz desenvolver na causa, no sentido de que não haja ainda, de
modo consciente ou inconsciente, formado nenhuma convicção ou juízo
prévio, no mesmo ou em outro processo, sobre os fatos por apurar ou sobre
a sorte jurídica da lide por decidir. Assim, sua perda significa falta da isenção
inerente ao exercício legítimo da função jurisdicional.”24
24 ROSA, Alexandre Morais da. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. Florianópolis: Empório do
Direito, 2016. p. 329-330.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 105
25 O sistema processual penal brasileiro atual, assentado no CPP de 1941 (cópia do Codice Rocco, da Itália, de 1930,
o fascista Vincenzo Manzini na dianteira), tem por base – e sempre teve – a estrutura inquisitorial. Por trás de todos
estava o Code Napoleón, de 17.11.1808 (em vigor desde 01.01.1811), pilotado por Jean-Jacques-Regis de Cambacérès,
homem de habilidades políticas conhecidas, mas, sobretudo, conhecedor das maneiras de como dobrar o Imperador.
Foi dele (depois arquichanceler do Império) a ideia de mesclar a investigação preliminar colhida nos mecanismos
inquisitoriais das Ordonnance Criminelle de 1760, de Luís XIV, com uma fase processual no melhor estilo do Júri
inglês, então adotado pelos franceses, mutatis mutandis, por um Decreto de 16-29.09.1791 e combatido desde a adoção.
Salvava-se, retoricamente, pela fase processual, a democracia dos julgamentos, dando-lhes uma aparência acusatória
e, assim, um espetáculo com partes, acusação e defesa, debates orais e, de certa forma, tão só a intervenção do juiz
para o controle da sessão. Tudo era, contudo, só retórica de um chamado processo misto. (COUTINHO, Jacinto
Miranda. Sistema acusatório: cada parte no lugar constitucionalmente demarcado. Revista de Informação Legislativa,
Brasília, v. 46, n. 183, p. 103-115, jul./set. 2009, p. 110)
26 KRAMER, Heinrich; SPRENGER, Jacobus. Malleus malleficarum: manual da caça às bruxas. São Paulo: Ed. Três, 1976.
27 O herege não é designado “herege” senão porque alguém, investido de poder eclesiástico e institucional classificou a
sua prática ou as suas ideias como destoantes e contrárias a uma ortodoxia oficial que se autopostula como o caminho
correto. (BARROS, José D’Assunção. Heresias entre os séculos XI e XV: uma revisitação das fontes e da discussão
historiográfica – notas de leitura. In: Arquipélago. Ponta Delgada [Açores]: Universidade dos Açores, 2007-2008. p. 125)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
106
28 DEMORI, Leandro et al. Como e por que o Intercept está publicando chats privados sobre a Lava Jato e Sérgio Moro.
The Intercept Brasil. Disponível em: <https://theintercept.com/2019/06/09/editorial-chats-telegram-lava-jato-moro/>.
Acesso em: 16 jun. 2019.
29 Cf. MACEDO, Fausto. Moro desafia: “Se quiserem publicar tudo, publiquem. Não tem problema”. Estadão.
Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/se-quiserem-publicar-tudo-publiquem-nao-
tem-problema/>. Acesso em: 16 jun. 2019; e DALLAGNOL, Deltan. Esclarecimento. Ataques à Lava Jato. YouTube.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wrBxmwv8qUE>. Acesso em: 16 jun. 2019.
30 CPP: “Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: (...) IV
– se tiver aconselhado qualquer das partes;”.
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31 STRECK, Lenio Luiz. Lavajatogate: Com hackers ou X9, o direito nunca mais será o mesmo. Conjur. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2019-jun-11/lenio-hackers-ou-x9-direito-nunca-mesmo>. Acesso em: 16 jun. 2019.
32 CANÁRIO, Pedro. Combate à corrupção que desrespeita direitos fundamentais destrói democracia. Conjur. Dis-
ponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-jun-16/entrevista-juarez-tavares-professor-advogado>. Acesso em:
16 jun. 2019.
33 Crise humanitária é uma situação de emergência, em que a vida de um grande número de pessoas se encontra
ameaçada e na qual recursos extraordinários de ajuda humanitária são necessários para evitar uma catástrofe ou pelo
menos limitar as suas consequências. Crises humanitárias geralmente caracterizam-se pela privação de alimentação,
abrigo, riscos à saúde, à segurança ou ao bem-estar de uma comunidade ou de um grande grupo de pessoas, em
uma área quase sempre extensa. Conflitos armados (guerras entre países ou guerras civis), epidemias, crise alimen-
tar (decorrente de secas ou pragas) ou desastres naturais (terremotos, inundações, tsunamis) podem levar a crises
humanitárias (RUFIN, Jean-Christophe. O império e os novos bárbaros. Rio de Janeiro: Record, 1991). Cf. JEAN,
François. The plight of the world’s refugees: at the crossroads of protection in Médecins Sans Frontières. World in crisis:
the politics of survival at the end of the 20th century. Londres/N. Iorque: Routledge, 1997; e ALBUQUERQUE,
Fernando Mourão de. Fatores internos e externos da crise em dossiê África/Brasil. Revista USP, n. 18, 1993.
34 ZAFFARONI, E. Raúl. Derecho penal humano y poder en siglo XXI. Nicaragua: INEJ e Facultad de Derecho del Uni-
versidad de Chile, 2016. p. 88.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Doutrina
108
5 Conclusão
A presente pesquisa buscou trabalhar com o tema da metacognição e
sua relação com a teoria do véu da ignorância de John Rawls, para aplicação de
um julgamento justo, imparcial, evitando, por assim, que convicções pessoais,
obtidas pela metacognição, interfiram no julgamento.
Ao longo da pesquisa mostrou-se como o véu da ignorância pode ser
usado no julgamento que evite a utilização das convicções pessoais que podem
interferir na imparcialidade de um magistrado.
A metacognição como processo de conhecimento e de autoconhecimen-
to das suas aprendizagens obtidas ao longo da vivência de cada um, mostra-se
praticamente inalienável à nossa essência humana.
No plano ideal, a aplicação do véu da ignorância seria a medida mais
adequada para proferir um julgamento justo, imparcial, não contaminado
pelas pré-concepções anteriores, ligadas à metacognição.
As pré-concepções de um juiz que atua na fase de investigação criminal
e, após, realiza o julgamento do mesmo caso, ofendem de modo claro, como
a luz do dia, a sua imparcialidade.
O caso de exemplo, de grande repercussão da Operação Lava Jato,
nos mostra a falha do sistema de investigação criminal brasileiro, e, como
colocamos nesta pesquisa, a alternativa de solução com o processo penal
chileno, nos demonstrando um meio de minimizar o problema da impar-
cialidade na investigação criminal, tendo em vista, as limitações humanas
que possui com a metacognição, e dificuldade de aplicar o véu da ignorância
na nossa realidade.
A presente pesquisa mostrou o funcionamento do processo penal
do Chile, em que no sistema de investigação criminal há dois magistrados,
um conhecido como juiz de garantia, que atua na fase de investigação e
faz o controle de legalidade dos atos investigatórios, e o outro, que após o
término da investigação, dá início à ação penal em que outro magistrado
assume o caso.
A experiência chilena nos mostra um sistema de justiça criminal que
preserva a imparcialidade do magistrado, diferentemente do Brasil, que o
mesmo juiz que coordena os atos de investigação, é o mesmo que julga, o que
de acordo com a lição de Zaffaroni, a experiência chilena estaria de acordo
com a construção de um “direito penal humano” para o século XXI, enquanto
a brasileira segue o “direito penal desumano”.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 109
TITLE: Metacognition: offenses the impartiality of the criminal judge in the investigation phase.
ABSTRACT: This research deals with the topic of metacognition and the Brazilian and Chilean criminal
investigation system. The methodology used in this research was the qualitative and the inductive research
method. A bibliographical review was done on the subject, with a focus on Brazilian and foreign legislation,
doctrine and jurisprudence. In the sequence, a study is made on the interferences of metacognition in the
impartiality of the criminal judge in the phase of investigation and judgment together with the analysis
of the theory of the veil of ignorance. In conclusion, the present research emphasized the problem of
the impartiality of the criminal judge in the Brazilian criminal process, when he acts in the investigation
phase and then judges the same process.
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ZAFFARONI, E. Raúl. Derecho penal humano y poder en siglo XXI. Nicaragua: INEJ e Facultad de Derecho
del Universidad de Chile, 2016.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Su-
premo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência da Ministra
Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento, por unanimidade, em
negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Relatora. Sessão
Virtual de 28.06.2019 a 05.08.2019.
Brasília, 6 de agosto de 2019.
Ministra Cármen Lúcia – Relatora
RELATÓRIO
A Senhora Ministra Cármen Lúcia (Relatora):
1. Em 15.03.2019, neguei seguimento ao recurso ordinário em habeas
corpus, com requerimento de medida liminar, interposto por Afonso Henri-
que Alves Lobato contra julgado da Quinta Turma do Superior Tribunal de
Justiça pelo qual, em 04.10.2018, negado provimento ao Agravo Regimental
no Habeas Corpus 424.402, Relator o Ministro Joel Ilan Paciornik. A decisão
agravada tem o seguinte teor:
“6. Razão jurídica não assiste ao recorrente.
7. O exame dos pedidos formulados pelo recorrente neste momento tradu-
ziria dupla supressão de instância, pois essa questão não foi apreciada na se-
gunda instância estadual.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
112
VOTO
A Senhora Ministra Cármen Lúcia (Relatora):
1. Razão jurídica não assiste ao agravante.
2. Como afirmado na decisão agravada, o exame dos pedidos formulados
pelo agravante neste momento traduziria dupla supressão de instância, pois
essa questão não foi apreciada na segunda instância estadual.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 115
VOTO-VOGAL
Pelo princípio da colegialidade, acompanho o voto da Relatora, com a
ressalva de entendimento.
EXTRATO DE ATA
Ag. Reg. no Recurso Ordinário em Habeas Corpus 168.353
Proced.: Distrito Federal
Relatora: Ministra Cármen Lúcia
Agte.: Afonso Henrique Alves Lobato
Adv.: Roberto Flavio Cavalcanti (163183/RJ)
Agdo.: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
Proc.: Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Agdo.: Ministério Público Federal
Proc.: Procurador-Geral da República
Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo re-
gimental, nos termos do voto da Relatora, com ressalva do Ministro Edson
Fachin. Segunda Turma, Sessão Virtual de 28.06.2019 a 05.08.2019.
Composição: Ministros Cármen Lúcia (Presidente), Celso de Mello,
Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Edson Fachin.
Ravena Siqueira – Secretária
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indica-
das, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
120
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Ribeiro Dantas (Relator):
Trata-se de agravo regimental interposto pelo Ministério Público Federal
contra decisão que concedeu a ordem para suspender a execução das penas
restritivas de direitos até o trânsito em julgado da sentença condenatória.
Alega o agravante a existência de precedentes do Supremo Tribunal
Federal que entende pela possibilidade de execução provisória das penas
restritivas, tal qual ocorre com as privativas de liberdade.
Requer a reconsideração da decisão agravada ou a submissão do agravo
ao crivo deste órgão colegiado para que seja determinada a execução provisória
da pena restritiva de direitos imposta ao agravado.
É o relatório.
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Ribeiro Dantas (Relator):
O agravante não apresentou argumentação apta à alteração do posicio-
namento anteriormente firmado.
Diante da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos
do HC 126.292/SP, ficou assente que, esgotadas as instâncias ordinárias, a
interposição de recurso especial não obsta a execução da decisão penal con-
denatória. E, ainda, em julgamento colegiado do pedido de liminar das ADCs
43 e 44, confirmou-se esse entendimento.
No entanto, ao agravado foi imposta pena restritiva de direitos.
A Suprema Corte, ao tempo em que vigorava o entendimento de ser
possível a execução provisória da pena, como agora, não a autorizava para as
penas restritivas de direito.
A propósito:
“HABEAS CORPUS. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. EXECU-
ÇÃO PROVISÓRIA. VEDAÇÃO.
O entendimento desta Corte é no sentido de que a execução da pena restriti-
va de direitos só pode ocorrer após o trânsito em julgado da sentença conde-
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 121
natória. Ordem concedida.” (HC 88.741/PR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda
Turma, DJ 04.08.06)
“HABEAS CORPUS. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. IMPOSSI-
BILIDADE DE SUA EXECUÇÃO DEFINITIVA ANTES DO TRÂNSI-
TO EM JULGADO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. PE-
DIDO DEFERIDO.
As penas restritivas de direitos somente podem sofrer execução definitiva,
não se legitimando, quanto a elas, a possibilidade de execução provisória, eis
que tais sanções penais alternativas dependem, para efeito de sua efetivação,
do trânsito em julgado da sentença que as aplicou. Lei de Execução Penal
(art. 147). Precedentes.” (HC 89.435/PR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda
Turma, DJe 22.03.2013)
Ademais, encontra-se em pleno vigor o disposto no art. 147 da Lei das
Execuções Penais (Lei nº 7.210, de 11.07.84), que assim dispõe:
“Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direi-
tos, o Juiz da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando necessário,
a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.” (grifou-se)
Não há notícia de que o STF ou a Corte Especial do STJ, no âmbito de
suas respectivas competências, tenham declarado a inconstitucionalidade de
aludida norma. Nem mesmo no já referido HC 126.292/SP fez-se menção
a tal possibilidade.
Por conseguinte, este órgão colegiado não poderia recusar a aplicação
do art. 147 da LEP sem ferir a CF ou desconsiderar a orientação da Súmula
Vinculante nº 10, verbis:
“Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fra-
cionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucio-
nalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no
todo ou em parte.”
Nesse sentido, além do julgado da Suprema Corte – HC 89.435/PR –,
da relatoria do Ministro Celso de Melo, têm-se decisões da 5ª Turma do STJ:
“PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS COR-
PUS. CONDENAÇÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA DE PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. IMPOSSIBILI-
DADE. RECURSO PROVIDO.
I – ‘A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau
de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não com-
promete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo
art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal’ (HC 126.292/SP, Tribunal Pleno,
Rel. Min. Teori Zavascki, DJe 17.05.2016).
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
122
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, denegar a ordem,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro,
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
124
Antonio Saldanha Palheiro, Laurita Vaz e Sebastião Reis Júnior votaram com
o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 25 de junho de 2019.
Ministro Rogerio Schietti Cruz – Relator
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz:
Nelson Almeida Taboada alega sofrer constrangimento ilegal em decor-
rência de acórdão prolatado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que
deu parcial provimento ao recurso de apelação da defesa para reduzir a pena
imposta pela prática de gestão fraudulenta e apropriação indébita financeira
e, em embargos de declaração, reconheceu a ocorrência da prescrição em
relação a esse último delito.
Depreende-se dos autos que o paciente foi denunciado como incurso
nos arts. 4º, caput e parágrafo único, e 5º, caput, ambos c/c o art. 25, todos da
Lei nº 7.492/86, na forma dos arts. 29 e 71 do Código Penal. A denúncia foi
recebida em 19.09.95 (fl. 13).
Ao término da instrução criminal, sobreveio condenação às penas de
13 anos e 6 meses de reclusão, pelo crime previsto no art. 4º, caput, da Lei nº
7.492/86, e 8 anos e 3 meses de reclusão, pelo crime do art. 5º do mesmo Di-
ploma Normativo. A sentença foi publicada em 14.03.07 (fl. 108) e transitou
em julgado para o Ministério Público em 30.03.07 (fl. 110).
Irresignada, a defesa interpôs apelação, à qual, por maioria de votos, foi
dado parcial provimento, a fim de redimensionar a reprimenda para 4 anos
e 6 meses de reclusão, pelo crime do art. 4º, e 4 anos de reclusão, pelo delito
do art. 5º, ambos da Lei nº 7.492/86.
Opostos embargos declaratórios, estes não foram acolhidos. Todavia, foi
declarada extinta a punibilidade, de ofício, relativamente aos fatos que deram
ensejo à imputação da prática do delito previsto no art. 5º da Lei nº 7.492/86. Em
seguida, foram opostos novos aclaratórios, os quais não vieram a ser acolhidos.
Neste mandamus, pugnam os impetrantes, resumidamente, que “seja
reconhecida a extinção da punibilidade pela prescrição, com base nos [sic] art.
107, IV, c/c ao art. 110, § 1º, em decorrência da aplicação do art. 115 ao prazo
previsto no art. 109, III, com incidência do art. 114, II, todos do Código Penal
em relação a pena imposta por violação ao art. 4º, caput, da Lei nº 7.492/86,
nos autos do Processo 0101114-25.1992.4.03.6181” (fl. 9).
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 125
VOTO
O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz (Relator):
I – Contextualização
O paciente foi condenado, em primeiro grau, por gestão fraudulenta e apro-
priação indébita financeira. Em apelação, houve a confirmação dessa condenação,
embora as penas hajam sido reduzidas de 13 anos e 6 meses e 8 anos e 3 meses
de reclusão para 4 anos e 6 meses e 3 anos e 6 meses de reclusão, respectivamente.
Os embargos de declaração opostos acabaram por resultar na extinção
da punibilidade, pela prescrição, do fato relacionado à apropriação indébita
financeira. Portanto, ainda pesa sobre o paciente a condenação por gestão
fraudulenta, cuja reprimenda ficou estabelecida em 4 anos e 6 meses de reclusão,
a ser inicialmente cumprida em regime semiaberto.
A argumentação dos impetrantes é a de que o acórdão, ao confirmar a
sentença, constituiu-se novo édito condenatório, sobretudo porque reformou par-
cialmente a sentença, circunstância que repercutiria na redução do prazo pres-
cricional. Em reforço a toda argumentação desenvolvida, foram colacionados
alguns precedentes desta Corte, os quais se alinham à tese defendida no writ.
II – Exame do Caso
De início, convém salientar que a incidência da prescrição, na hipótese
dos autos, somente ocorrerá em caso de reconhecimento da procedência das
alegações dos impetrantes. Caso contrário, o prazo prescricional, que é de 12
anos (ex vi do art. 109, III, do CP), não haverá transcorrido.
Outro aspecto que merece ser frisado é que, de fato, alguns preceden-
tes desta 6ª Turma têm se inclinado para o reconhecimento, nos casos em que
há modificação substancial da condenação pelo Tribunal, de novo marco interruptivo
da prescrição e, também, a possibilidade de aplicação do benefício previsto no art. 115
do Código Penal, esse último pleiteado pelos impetrantes. Em um deles, no
qual fiquei vencido juntamente com a Ministra Maria Thereza de Assis Moura,
decidiu-se consoante esta ementa:
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
126
“1. Havendo substancial modificação da sentença pelo acórdão, que não ape-
nas aumentou o quantum de pena, mas também o próprio lapso prescricional,
além de modificar a tipificação conferida ao fato, deve o acórdão ser considerado
como novo marco interruptivo da prescrição, inclusive para fins de aplicação do benefício
do art. 115 do Código Penal.” (AgRg no REsp 1.481.022/RS, Rel. p/ o Acórdão
Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 22.10.2018, destaquei)
No ponto, apenas como registro, assinalo que em alguns casos recen-
tes cheguei a afirmar que mesmo a simples confirmação da condenação em
segundo grau constituiria novo marco interruptivo da prescrição (v.g. EDcl no
AgRg no AREsp 1.167.106/SP, DJe 26.04.2019). Tal constatação foi motivada
pela existência de precedentes do STF nesse sentido e foi acompanhada pela
6ª Turma na oportunidade.
Devo reconhecer, contudo, que essa questão ainda não está pacificada no
âmbito da Suprema Corte e, por isso mesmo, é necessária cautela. Além disso,
a Corte Especial deste Tribunal Superior, no julgamento do EDcl no AgRg no
RE nos EREsp 1.619.087/SC (Rel. Min. Humberto Martins, DJe 22.03.2019),
reafirmou a compreensão de que o acórdão confirmatório da condenação não cons-
titui novo marco interruptivo prescricional, ainda que modifique a pena fixada, nos
termos descritos no art. 117, IV, do Código Penal.
Entretanto, uma coisa é a redução do prazo prescricional e outra são os
marcos interruptivos da prescrição. Em minha compreensão não relaciono a
redução dos prazos, conforme art. 115 do CP, com as causas interruptivas da
prescrição, previstas no art. 117 do mesmo Diploma Legal, porquanto se trata
de fenômenos distintos e que repercutem de maneira diversa. Além disso, há ainda
a própria disposição legal (art. 115 do CP), que apenas alude a necessidade
de sentença como marco temporal para a redução, por razão etária, do prazo
prescricional.
Ao afirmar que são fenômenos distintos e que repercutem de maneira
distinta, o faço com base na seguinte premissa: a interrupção do prazo pres-
cricional, pela ocorrência de algum dos diversos fatores concernentes no art.
117, se relaciona com os pilares que sustentam o instituto da prescrição, isto
é, com o decurso do tempo, que pode levar ao esquecimento do fato, e a
circunstância de que eventual inércia deve ser suportada pelo Estado, mercê
de sua atuação basear-se no ius puniendi.
Já a redução do prazo prescricional pela idade avançada do agente se
orienta pelo vetor constitucional da dignidade da pessoa humana, representada
pela necessidade de proteção à velhice, a qual merece tratamento especial à
vista dos efeitos deletérios da longa duração do processo. Ambos os institu-
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 127
tenha 70 anos de idade na data da condenação (e não na data em que o título condenató-
rio se torna imutável ou é confirmado em grau de recurso). Precedentes.
(...)” (EDcl nos EDcl nos EDcl na APn n. 300/ES, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, CE, DJe 19.12.2017, destaquei)
Não descuro que há precedentes deste Superior Tribunal, segundo os quais a
redução pode acontecer quando o réu, embora complete 70 anos após a pri-
meira decisão condenatória, obtenha, da Corte ad quem em apelação, substancial
modificação da decisão que o condenou. É o que se extrai, por exemplo, do voto
condutor do acórdão relativo ao precedente citado (AgRg no REsp 1.481.022/
RS, Rel. p/ o Acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 22.10.2018, grifei):
“Assim, analisando o caso concreto, é fácil perceber que o agravante com-
pletou 70 anos antes do acórdão que confirmou a sentença condenatória, no
entanto, a meu ver, alterando-a de forma substancial, o acórdão não só readequou
a capitulação jurídica da condenação (do art. 22, caput, da Lei nº 7.492/86 para o
delito previsto no parágrafo único do mesmo artigo) como também majorou a
pena de 3 anos, 10 meses e 20 dias para 5 anos e 10 meses, de modo a alterar
o prazo prescricional e o regime, além de impedir a substituição da pena. A
hipótese se enquadra, portanto, nos precedentes acima citados.
Acrescento, ainda, que a situação do caso concreto é diferente da que foi
analisada no precedente apresentado pela Eminente Relatora – lá se entendeu
que não houve alteração substancial, tendo em vista ter ocorrido apenas majoração das
penas fixadas (...)”
No particular, importante dizer que a concepção de modificação
substancial da condenação, conforme diretrizes estabelecidas pelos próprios
precedentes, pressupõe que ocorra uma nova capitulação jurídica do crime e o redi-
mensionamento substancial da pena, suficiente para alterar os prazos prescricionais.
Ainda que considerássemos essa compreensão como acertada – o que
faço apenas para argumentar, visto que a redução do prazo pela idade não se
confunde com marco interruptivo, como visto linhas atrás –, observo que não
atingiria a hipótese sub examine. Deveras, o paciente, que somente completou
70 anos de idade após o édito de primeiro grau, teve somente reduzida a pena
imposta em primeiro grau, sem que houvesse a modificação da capitulação jurídica do
crime.
Por isso, mesmo que adotado esse entendimento, não haveria ocorrido
alteração substancial que justificasse considerar o acórdão confirmatório da
condenação como referência para a redução do prazo prescricional.
III – Dispositivo
À vista do exposto, denego a ordem.
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indi-
cadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Sebastião Reis Júnior
e Nefi Cordeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz.
Sustentou oralmente o Adv. Patrick Berriel, pela parte recorrente: W.F.
Brasília, 4 de junho de 2019 (Data do Julgamento).
Ministro Antonio Saldanha Palheiro – Relator
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Antonio Saldanha Palheiro (Relator):
Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus com pedido liminar in-
terposto por W.F. contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.
Consta dos autos que o recorrente está sendo investigado pela suposta
prática do delito de gestão fraudulenta de instituição financeira, cujo inquérito
tramita perante a 11ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Ceará.
Na ação originária, alegou a defesa os seguintes pontos – os quais cons-
tam do acórdão recorrido –, a seguir transcritos (e-STJ, fl. 849):
“i – Investigação penal de contratos de financiamento celebrados com o Ban-
co do Nordeste na cidade de Salvador, onde os respectivos recursos foram
pagos pela instituição financeira. Supostas irregularidades consumadas na
Bahia. Incompetência manifesta da Seção Judiciária do Ceará, onde a investi-
gação atualmente tramita. Inteligência do art. 70 do CPP.
ii – Investigação ilegalmente promovida em primeira instância, versando so-
bre imaginária vinculação entre doações em favor da chapa eleitoral integrada
pelo atual Presidente da República e ato de gestão do Banco do Nordeste
realizado pelo atual Ministro de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
Violação à norma do foro por prerrogativa de função.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
132
sem reunir elementos que permitissem a denúncia de quem quer que fosse
até o presente momento), deve-se, com o que se tem por agora, mantê-la; e
mantê-la com as autoridades dela encarregadas.
8. Ordem denegada.”
Nas razões do presente recurso ordinário, a defesa reafirma as alegações
originárias.
Diante disso, pleiteia, liminarmente, a “imediata paralisação da tra-
mitação do Inquérito Policial 0198/2015 SR/DPF/CE (Processo 0001613-
04.2015.4.05.8100), bem como das medidas cautelares que lhe são correlatas”
(e-STJ, fl. 898).
O pleito liminar é fundado nas seguintes razões (e-STJ, fls. 918/919):
“a) investigação em primeira instância versa sobre fatos objeto de procedimen-
to anteriormente arquivado pela Procuradoria-Geral da República, sem que o
órgão de cúpula do Ministério Público Federal tivesse autorizado a retomada
da apuração, de modo a ocasionar a nulidade da íntegra do inquérito policial
que tem ostensivamente desrespeitado aquela deliberação irretratável;
b) a investigação em primeira instância versa sobre contratos celebrados em
Salvador, na Bahia onde os respectivos recursos foram disponibilizados pelo
BNB, o que afasta a competência da Seção Judiciária do Ceará para o proces-
samento do feito;
c) o inquérito em primeira instância investigou ato de gestão de instituição
financeira realizado com a participação decisória do atual Ministro de Plane-
jamento, Desenvolvimento e Gestão, à época em que ainda gozava de foro
por prerrogativa de função, o que afastava a competência da Seção Judiciária
do Ceará para o processamento do feito;
d) a investigação em primeira instância foi iniciada exclusivamente com base
em matéria jornalística produzida a partir do vazamento clandestino de infor-
mações sigilosas, servindo de instrumento para chancelar esta prática ilícita,
em manifesta subversão do devido processo legal para a implementação da
medida extrema, o que ocasiona a nulidade da íntegra do inquérito policial.”
No mérito, postula o provimento do recurso, nos seguintes termos
(e-STJ, fls. 919/920):
“a) tendo em vista que a investigação em primeira instância apura fatos objeto
de procedimento de investigação anteriormente arquivado pela Procurado-
ria-Geral da República, sem que este órgão de cúpula tivesse provocado o seu
desarquivamento, pugna o ora recorrente pelo conhecimento e provimento
do presente recurso, a fim de que seja integralmente anulado o inquérito
policial em primeira instância, bem como as medidas cautelares que lhe são
correlatas, em respeito ao devido processo legal confirmado pelo Plenário
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 135
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Antonio Saldanha Palheiro (Relator):
Como relatado, busca a defesa a reforma do acórdão vergastado ante
a suposta ocorrência de vícios no inquérito policial, eivas essas que teriam o
condão de anulá-lo.
Pois bem. Consoante entendimento jurisprudencial desta Casa, o
trancamento de inquérito policial é medida excepcional, só admitida quando,
de forma clara e precisa, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto
fático ou probatório, constate-se a atipicidade da conduta ou a inexistência
de indicativos mínimos de autoria.
Com efeito, é cediço, no âmbito da jurisprudência dos Tribunais Su-
periores, que “o trancamento de inquérito policial pela via do habeas corpus,
segundo pacífica jurisprudência desta Suprema Corte, constitui medida
excepcional, só admissível quando evidente a falta de justa causa para o seu
prosseguimento, seja pela inexistência de indícios de autoria do delito, seja
pela não comprovação de sua materialidade, seja ainda pela atipicidade da con-
duta do investigado” (HC 165.781 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda
Turma, j. 22.02.2019, publ. 28.02.2019).
Nesse contexto, a jurisprudência desta Casa não aceita, em regra,
discussões fundadas na ausência de comprovação do elemento subjetivo do
tipo ou na carência de indícios suficientes de autoria do delito, porquanto tais
esclarecimentos demandam, na maior parte das vezes, apreciação detalhada dos
elementos de convicção constantes do processo, providência manifestamente
inconciliável com o rito célere e sumário deste remédio constitucional.
De mais a mais, é assente na jurisprudência desta Corte Superior de
Justiça que “Eventuais irregularidades ocorridas na fase investigatória, cuja natureza é
inquisitiva, não contaminam, necessariamente, o processo criminal, onde as provas serão
renovadas” (HC 250.321/SP, Relª Minª Marilza Maynard, Desª Conv. do TJSE,
Quinta Turma, j. 23.04.2013, DJe 02.05.2013, grifei).
Entretanto, feitas essas considerações, passo à apreciação dos pedidos
a fim de verificar a ocorrência de flagrante ilegalidade apta a nulificar o in-
quérito policial.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 137
ACÓRDÃO
Decide a Quarta Turma do TRF da 1ª Região, por unanimidade, negar
provimento à apelação, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 22 de abril de 2019.
Desembargador Federal Néviton Guedes – Relator
RELATÓRIO
Trata-se de apelação interposta pela Defensoria Pública da União em
favor de Elias de Souza Lima e Hellem da Rocha de Souza (fls. 165/168) contra
sentença, de fls. 152/160, que os condenou pela prática do delito previstos
no art. 50-A da Lei nº 9.605/98, à pena de 1 (um) ano de reclusão e 10 (dez)
dias-multa, substituída por uma pena restritiva de direitos, consistente na
prestação de serviços à comunidade.
Narra a denúncia que:
“Entre os anos de 2010 e 2012, os denunciados Hellen da Rocha de Souza e Elias
de Souza Lima desmataram, mediante uso de motosserra e de queimadas, área
total de 26,1 ha (vinte e seis hectares e um décimo) de floresta e vegetação
primária em área de domínio público, localizada no Projeto de Desenvolvi-
mento Sustentável (PDS) Nova Esperança, criado pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), sem autorização do órgão com-
petente.
(...)
Foi realizada perícia in loco nas coordenadas referenciadas no auto de infra-
ção emitido pelo Ibama, resultando no Laudo de Perícia Criminal Federal nº
234/2014-SETEC/SR/DPF/AC (fls. 68/79), o qual constatou que, ao todo,
foram desmatados 47,9 ha no lote ocupado pelos denunciados. Cumpre ano-
tar que a área total do lote, conforme as declarações dos denunciados (fls. 94
e 96), é de 50 ha.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 147
(...)
Desse modo, Hellen da Rocha de Souza e Elias de Souza Lima incidiram no
delito tipificado no art. 50-A da Lei nº 9.605/98, combinado com as causas de
aumento de pena previstas no art. 53, incisos I e II, c, da Lei nº 9.605/98.”
Os apelantes asseveraram, em síntese, que:
“Não se pretende discutir o tipo penal, o que se questiona é que a conduta
praticada pelos acusados, visto que a mesma fora motivada pela necessidade
de subsistência pessoal e de sua família.
O juízo a quo, ao proferir a sentença, afastou a existência do estado de neces-
sidade baseando-se na declaração do réu Elias de que 30 ha (trinta hectares)
de terra seriam suficientes para a sua subsistência e de sua família. Cumpre
esclarecer que a declaração foi citada, na decisão, de forma descontextualiza-
da, pois nem toda a área desmatada é produtiva.
Ademais o réu afirmou que a área de 30 ha seria suficiente levando em con-
sideração apenas a criação bovina e o arrendamento de terra, nesse sentido
é importante lembrar que, no presente caso, o arrendamento é vedado pelo
ordenamento jurídico e a condição financeira da família não deixa dúvidas da
impossibilidade de os réus adquirirem 100 cabeças de gado para extrair renda
deles, restando apenas a agricultura.
Além disso, cabe acrescentar que o escoamento da produção na região estava
impossibilitado, uma vez que as vias de acesso eram intrafegáveis. Nesse sen-
tido, o réu Elias, em sede de interrogatório, também afirma que, ao contrário
do disposto na denúncia e na sentença, dos 50 ha de sua propriedade, 6 ha não
foram desmatados, além de que grande parte das árvores derrubadas estavam
secas e mortas há muito tempo, de forma que não houve efetiva lesividade
na extração destas.
Nesse contexto, as imagens de satélite presentes no processo são capazes ape-
nas de demonstrar que antes haviam árvores em determinado espaço e depois
estas foram retiradas, mas não consegue expor em que estado encontravam-
se as espécimes desmatadas.
Pelo exposto, mostra-se inviável afastar a existência de estado de necessidade
apenas pelos fundamentos presentes na sentença condenatória.
É cediço que a diminuição no quanto foi desmatado não é capaz, por si só,
de causar a diminuição da pena dos acusados, porém a assunção das falsas
premissas elencadas impossibilitou o douto julgador de primeiro grau de re-
conhecer a excludente de ilicitude pleiteada.
Assim, houve clara falha na apuração da situação fática objeto dos autos, de maneira que
resta claro que o caso em apreço se amolda perfeitamente ao previsto na dicção legal sobre
o estado de necessidade.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
148
VOTO
Trata-se de apelação interposta pela Defensoria Pública da União em
favor de Elias de Souza Lima e Hellem da Rocha de Souza (fls. 165/168) contra
sentença, de fls. 152/160, que os condenou pela prática do delito previstos
no art. 50-A da Lei nº 9.605/98, à pena de 1 (um) ano de reclusão e 10 (dez)
dias-multa, substituída por uma pena restritiva de direitos, consistente na
prestação de serviços à comunidade.
Presentes os pressupostos de recorribilidade, conheço da apelação
criminal.
Os acusados foram condenados pela prática do crime previsto no art.
50-A da Lei nº 9.605/98, que dispõe:
“Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, planta-
da ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do
órgão competente: (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.”
Materialidade e Autoria
Materialidade e autoria comprovada pelo laudo pericial de fls. 68-79,
Auto de Infração 631.053 e relatório de fiscalização de fls. 10/18, bem como
pelo interrogatório dos réus, tanto no inquérito policial, quanto em juízo.
Portanto, não há que se falar na ausência ou insuficiência de provas a
embasar um decreto condenatório.
Estado de Necessidade
Em seu apelo, os réus alegam que suas condutas não constituem crime
porque desmataram a área para agricultura, com finalidade de subsistência de
sua família, devendo ser aplicada a causa de não punibilidade descrita no art.
50-A, § 1º, da Lei nº 9.605/98.
Nos termos descritos no art. 24 do Código Penal, “Considera-se em
estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”.
O juízo a quo, ao proferir a sentença apelada, entendeu que não está
comprovado que o réu agiu em estado de necessidade para afastar o decreto
condenatório, haja vista que o réu disse que seria suficiente trinta hectares para
ele sobreviver, enquanto que há aproximadamente 48 hectares desmatados,
situação diferente de outras ações penais, nas quais reconheceu a inexigibili-
dade de conduta diversa de colonos que desmatam áreas pequenas para plantio
destinado a prover a subsistência da família. Vejamos:
“Logo, há prova de que ambos os réus estavam na terra desde o ano de 2010,
bem como que foi identificado o desmate pelo laudo pericial nos seguintes
anos: entre 04.10.2010 e 01.06.2011 desmatamento de 4,1 ha; entre 01.06.2011
e 11.09.2012, desmatamento de 9,0 ha; entre 11.09.2012 e 08.07.2013, des-
matamento de 17,4 ha, sendo que o total da área desmatada é de 47,9 ha, ou
seja, quase sua totalidade, como destacou o réu Elias em seu interrogatório.
Nesse sentido, tanto a ré Hellem quanto Elias assumiram que desmataram
a área, com foice e motosserra, por ambos os réus, assim como tem prova
pericial nos autos.
Contudo, embora os réus tenham afumado desconhecer que era crime a prá-
tica do desmate de toda a área, para arrendar a terra para criação de gado, tal
versão é isolada nos autos e oposta a toda a documentação amealhada aos
autos.
Vê-se que o réu Elias disse trabalhar no campo, desde oito anos de idade, de
sorte que, acostumado com a relação com a natureza, jovem, bem como, pela
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
150
subsistência e porque não havia outra forma de prover seu sustento e de sua
família.
Nessa esteira, manifesta-se o Superior Tribunal de Justiça e esta Corte:
“(...) 2. Inaplicável o princípio da insignificância in casu, uma vez que a quanti-
dade do pescado apreendido (25 kg de peixes de espécies variadas), bem como
o fato de a atividade ter sido praticada em período de defeso e com petrechos
proibidos para pesca, demonstra tanto a lesividade ao bem jurídico tutelado
quanto o elevado grau de reprovabilidade do comportamento delitivo.
3. O estado de necessidade não está caracterizado se não esteve presente, em
nenhum momento, o perigo atual e iminente para o réu, condição essencial
ao reconhecimento da excludente de ilicitude, nos termos do art. 24 do Có-
digo Penal. A mera alegação de dificuldade financeira não justifica a prática
delitiva. (...)” (STJ, AgRg no REsp 1.591.408/PR, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, Sexta Turma, j. 24.05.2016, DJe 17.06.2016)
“(...) 4. Não há falar em inexigibilidade de conduta diversa como causa suprale-
gal de exclusão da culpabilidade quando o acusado não comprova nos autos que
não poderia agir de modo diferente. O ônus de provar inexigibilidade de condu-
ta diversa é da defesa, nos termos do art. 156 do CPP, o que não foi feito, in casu.
5. Não cabe, na espécie, a aplicação dos princípios do favor rei e in dubio pro
reo. Dolo específico caracterizado pela intenção de obter vantagem ilícita.
Materialidade e autoria do delito de estelionato comprovadas pelos docu-
mentos acostados aos autos.
6. Aplicada na sentença a hipótese do § 1º do art. 171 do Código Penal. Re-
dução da pena de multa.
7. Apelação a que se dá parcial provimento.” (ACR 0002560-34.2011.4.01.3307/
BA, Rel. Des. Fed. Ney Bello, Rel. Conv. Juiz Fed. Marcio Sá Araújo, Tercei-
ra Turma, e-DJF1 17.02.2017)
Dosimetria
Na fixação da dosimetria das penas, o magistrado fixou a pena-base no
mínimo legal, em 1 (um) ano de reclusão, em razão de serem favoráveis as cir-
cunstancias judiciais do art. 59 do CP, a qual restou definitiva neste montante.
Houve a sua substituição por uma pena restritiva de direitos, consistente na
prestação de serviços à comunidade.
Não merece, assim, ser reformada a sentença apelada.
Diante do exposto, nego provimento à apelação criminal.
É o voto.
Desembargador Federal Néviton Guedes – Relator
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Jurisprudência
152
VOTO-REVISOR
O Exmo. Sr. Desembargador Federal Olindo Menezes (Revisor): Os
autos do processo foram recebidos e, sem acréscimo ao relatório, pedi dia
para julgamento.
Elias de Souza Lima e Hellem da Rocha de Souza apelam de sentença
da 2ª Vara Federal/AC (fls. 152-160), que os condenou, individualmente, a
1 (um) ano de reclusão e 10 (dez) dias-multa, pela prática do delito previsto
no art. 50-A da Lei nº 9.605/98.
Argui, preliminarmente, a excludente do estado de necessidade, por
terem desmatado a área para agricultura, com intuito de viabilizar a sobre-
vivência familiar. Subsidiariamente, pugna pela aplicação das atenuantes de
baixo grau de escolaridade e da confissão espontânea, fixando a pena abaixo
do mínimo legal.
As razões recursais, compreensíveis e naturais na dialética processual pe-
nal, na tentativa de reverter a condenação, não têm, com a devida vênia, aptidão
para desautorizar os fundamentos da sentença, que, passo a passo, de forma
persuasiva, louvou-se nos elementos informativos dos autos, documentais e
orais, dando pela procedência da ação penal. Ademais, tal versão de estado de
necessidade encontra-se isolada nos autos, não tendo sido suficientemente
demonstrada pela defesa.
Os mesmos fatos, como é natural no mundo do Direito, nem sempre
se submetem às mesmas leituras e/ou consequências jurídicas, mas, na reali-
dade, o decreto condenatório, com arrimo no conjunto da prova, produzida
sob as luzes do contraditório e da ampla defesa, e na linha dos precedentes,
demonstra com suficiência a autoria e a materialidade da imputação da de-
núncia, não devendo ser alterado.
A apenação, devidamente individualizada (art. 5º, XLVI, da CF) foi es-
tabelecida com razoabilidade, dentro das circunstâncias objetivas e subjetivas
do processo, no mínimo legal para ambos, o suficiente para a reprovação e
prevenção do crime (art. 59 do Código Penal), obedecida a legislação.
Incabível reconhecer a incidência das atenuantes pleiteadas pela defesa,
vez que a pena já foi estabelecida no mínimo legal, conforme Súmula nº 231
do STJ.
Nesse contexto, nego provimento à apelação, confirmando o decreto con-
denatório na sua plenitude, pelos seus próprios fundamentos.
É o voto.
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, a Câmara Única do
egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amapá, à unanimidade, conheceu
do recurso e, pelo mesmo quórum, deu-lhe provimento, tudo nos termos do
voto proferido pelo Relator.
Tomaram parte no referido julgamento os Excelentíssimos Senhores:
Desembargador Carmo Antônio (Relator), Desembargador Agostino Silvério
(1º Vogal) e a Desembargadora Sueli Pini (Presidente e 2ª Vogal).
Macapá (AP), 18 de junho de 2019.
RELATÓRIO
Marlúcio Viegas da Silva, por seu advogado, interpôs apelação contra a
sentença proferida pelo Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de
Santana, nos autos da presente ação penal.
Segundo a denúncia, no dia 19 de fevereiro de 2017, por volta de
18h30min, o apelante foi flagrado conduzindo veículo automotor com a
capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool.
Na sentença, a Juíza a quo condenou o recorrente à pena de 7 (sete)
meses e 26 (vinte e seis) dias de detenção, em regime semiaberto em razão
da reincidência, bem como ao pagamento de 16 (dezesseis) dias-multa, pela
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154
prática do crime previsto no art. 306, caput, da Lei nº 9.503/97 (CTB). Deter-
minou, ainda, a suspensão do direito de dirigir veículo automotor pelo prazo
de 3 (três) meses. A pena privativa não foi substituída por restritiva de direito
em razão da ausência dos requisitos autorizadores (mov. 44).
Em suas razões, o recorrente afirmou que não há elementos proba-
tórios suficientes para condená-lo. Alegou que, apesar de embriagado, não
conduzia o veículo, apenas dormia em seu interior. Apontou que o policial
que efetuou a abordagem não afirmou que ele estava conduzindo o veículo.
Esclareceu que a chave do automóvel estava com terceiro, que saiu para ad-
quirir combustível. Ao final, requereu a absolvição por ausência de provas da
autoria delitiva (mov. 166).
Em contrarrazões, o MP relatou que as provas não estão plenamente
aptas a fundamentar o decreto condenatório. Informou que, não obstante a
comprovação do estado alcoólico do apelante, não há comprovação de que
ele dirigia o veículo. Assim, requereu a reforma da sentença a fim de absolver
o recorrente (mov. 103).
A Procuradoria de Justiça opinou pelo conhecimento do recurso e, no
mérito, pelo provimento do apelo. Considerou que as provas indicam que
o acusado não conduzia o veículo no dia dos fatos. Recomendou, por fim, o
provimento do apelo (mov. 84).
VOTOS
ADMISSIBILIDADE
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Carmo Antônio (Relator)
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Agostino Silvério (1º Vogal)
Também conheço.
A Excelentíssima Senhora Desembargadora Sueli Pini (2º Vogal)
Conheço.
MÉRITO
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Carmo Antônio (Relator)
No presente caso, constam nos autos provas suficientes para demonstrar
a alteração da capacidade psicomotora do apelante para a condução de veículo
automotor, decorrente do consumo de bebida alcoólica.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 155
DECISÃO
A Câmara Única do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amapá,
à unanimidade, conheceu do recurso e, pelo mesmo quórum, deu-lhe pro-
vimento, tudo nos termos do voto proferido pelo Relator.
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus Criminal
nº 2159397-03.2019.8.26.0000, da Comarca de Santos, em que é impetrante
a Defensoria Pública do Estado de São Paulo e paciente Tiago Vieira de Jesus.
Acordam, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito
Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
“Denegaram a ordem de habeas corpus. V.U.”, de conformidade com o voto
da Relatora, que integra este v. Acórdão.
O julgamento teve a participação dos Excelentíssimos Desembargadores
Damião Cogan (Presidente) e Tristão Ribeiro.
São Paulo, 13 de agosto de 2019.
Desembargadora Claudia Fonseca Fanucchi – Relatora
decisão em perfeita consonância com o disposto nos arts. 312 e 387, parágrafo
único, do Código de Processo Penal (...)” (fl. 37).
Anote-se, ainda, a inexistência de afronta ao princípio da não culpabili-
dade inscrito no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, pois a presunção
constitucional não desautoriza as diversas espécies de prisões processuais, que
visam a garantir o cumprimento da lei processual ou a efetividade da ação penal.
Em outras palavras, qualquer outro posicionamento ou interpretação
de prevalência da presunção de inocência seria uma contradição, vez que a
própria Constituição Federal estabelece expressamente a prisão em flagrante
e a por ordem judicial fundamentada.
Por conseguinte, inexistindo manifesta nulidade, flagrante ilegalidade
ou, ainda, qualquer defeito teratológico, inarredável reconhecer a inexistência
do acenado constrangimento ilegal.
Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.
Desembargadora Claudia Fonseca Fanucchi – Relatora
Divergência Jurisprudencial
acórdão impugnado afirmado, com base em elementos concretos demonstrados nos autos, que
a decisão dos jurados proferida em primeiro julgamento encontra-se manifestamente contrária
à prova dos autos, é defeso a esta Corte Superior manifestar-se de forma diversa, sob pena de
proceder indevido revolvimento fático-probatório, incabível na via estreita do writ. HC não
conhecido. (STJ; HC 313.251; Proc. 2014/0345586-7; RJ; 3ª S.; Rel. Min. Joel Ilan Paciornik;
DJE 27/03/2018; p. 768)
sanções restritivas de direito em cumprimento, cuja execução não foi suspensa, sua reconver-
são em privativa de liberdade se torna obrigatória por impossibilidade de expiação simultânea
ou posterior. Inaplicabilidade do art. 76 do CP. Inteligência do art. 44 do CP e arts. 111 e 181
da LEP. (TJGO; AgExPen 9799-40.2019.8.09.0175; 1ª C.Crim.; Rel. Juiz Aureliano Albuquerque
Amorim; DJEGO 21/08/2019; p. 77)
o dolo jamais resulta da própria expressão considerada ofensiva e não pode ser presumido. A
determinação finalística do agir deve necessariamente ser analisada para a realização do juízo
de tipicidade penal. III – Da análise das provas acostadas aos autos e ao considerar contexto
em que se deram os diálogos, verifica-se que a conduta do Apelado possuía a clara intenção
de disciplinar, o denominado animus corrigendi vel disciplinandi. IV – Não restou comprovada a
vontade livre e consciente do Acusado de ofender, de modo a atingir a honra do Ofendido, o
que afasta a configuração do crime do art. 216 do CPM, por absoluta falta de dolo específico
do tipo – animus injuriandi. Diante da inexistência de elemento subjetivo essencial à caracteri-
zação da infração penal em causa, a conduta será atípica. V – Recurso conhecido e desprovido.
Decisão unânime. (STM; APL 7000176-03.2019.7.00.0000; Rel. Min. Péricles Aurélio Lima de
Queiroz; DJSTM 13/08/2019; p. 6)
sória da pena autorizada, conforme entendimento firmado pelo STF (HC 126.292). Súmula
nº 122 do TRF da 4ª Região. (TRF 4ª R.; ACR 5006447-51.2016.4.04.7002; PR; 7ª T.; Relª Desª
Fed. Salise Monteiro Sanchotene; DEJF 15/08/2019)
atestam que as sardinhas-verdadeiras apreendidas na embarcação Salmo 31, liderada pelo réu,
são frutos de pesca em período proibido, constituindo infração penal prevista no art. 34, III, da
Lei nº 9.605/96. II – A única explicação plausível para a inexistência de nota fiscal da compra
e venda das sardinhas e de declaração de estoque do pescado, documentos deveriam estar na
embarcação, é o fato de os peixes terem sido capturados de maneira irregular. III – Após sope-
sadas as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, restaram aplicadas adequadamente as sanções
ao réu, de forma individualizada e proporcional, revelando-se ao final necessárias e suficientes
para a reprovação e prevenção do delito. IV – Apelação da defesa não provida. (TRF 2ª R.; ACR
0812268-35.2010.4.02.5101; RJ; 2ª T.Esp.; Rel. Des. Fed. Marcello Granado; DEJF 15/07/2019)
recurso para receber a denúncia e determinar o prosseguimento do feito. Parecer da PRR1 pelo
provimento do recurso. 3. Descaminho. CP, art. 334. Denúncia rejeitada com fundamento
na insignificância. Agente que teve lavrados contra si dois autos de infração. Inaplicabilidade
do princípio da insignificância. (A) “A reiteração delitiva afasta a aplicação do princípio da
insignificância nos crimes de descaminho” (STJ, AgRg no AREsp 1.277.201/MT; AgRg no
REsp 1.780.308/RS; STF, HC 109.739/SP; HC 108.696/MS; HC 120.438). Assim sendo, o
STF tem afastado o “princípio da bagatela em razão da maior reprovabilidade da conduta”, no
caso de “[r]eiteração delitiva” (STF, HC 115.331; HC 107.067; HC 96.684/MS; HC 100.367).
No mesmo sentido, o entendimento desta Corte: ACR 0004302-22.2010.4.01.3601; ACR
0002514-56.2009.4.01.3811; RSE 0002399-05.2017.4.01.3601. (B) Hipótese em que a Receita
Federal lavrou outro Auto de Infração contra a recorrida pela prática, em tese, do mesmo delito
de descaminho. (C) Ofensa ao Enunciado nº 444 da Súmula do STJ. Não ocorrência. (D) “A
jurisprudência [do] Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que a existência de
outras ações penais, inquéritos policiais em curso ou procedimentos administrativos fiscais,
apesar de não configurar reincidência, é suficiente para caracterizar a habitualidade delitiva e,
por consequência, afastar a incidência do princípio da insignificância, não podendo ser conside-
rada atípica a conduta” (STJ, AgRg no REsp 1.790.748/SC; AgRg no REsp 1.686.897/PR; REsp
1.750.739/RS). Também o STF decidiu que a “[e]xistência de outros processos administrativos
fiscais instaurados (...) em razão de práticas de descaminho” justifica o reconhecimento do
“[e]levado grau de reprovabilidade da conduta imputada evidenciado pela reiteração delitiva,
o que afasta a aplicação do princípio da insignificância” (STF, HC 112.597). 4. “Salvo quando
nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia
vale, desde logo, pelo recebimento dela” (STF, Súmula nº 709). Hipótese em que inexiste
nulidade na decisão recorrida. Em consequência, impõe-se o provimento do recurso a fim
de receber a denúncia e determinar o prosseguimento da ação penal. 5. Recurso no sentido
estrito provido. (TRF 1ª R.; RSE 0002406-94.2017.4.01.3601; MT; 4ª T.; Rel. Juiz Fed. Conv.
Leão Aparecido Alves; DJF1 12/08/2019)
Readequação da pena do réu. 6. O conjunto probatório dos autos, especialmente a prova oral
produzida, não se revelou suficiente para embasar a censura penal pelo crime de corrupção ativa
imputado ao réu. Absolvição mantida. 7. Recurso do Ministério Público Federal não provido.
Recurso do réu parcialmente provido. (TRF 2ª R.; ACR 0501337-36.2016.4.02.5101; RJ; 1ª
T.Esp.; Rel. Juiz Conv. Andrea Daquer Barsotti; DEJF 16/08/2019)
inconsistências aventadas pela defesa, porquanto ressuma da instrução deste feito a presença
dos requisitos formais indispensáveis ao deferimento da extradição. Precedentes: EXT 669,
Rel. Min. Celso de Mello, DJ 29.03.96; EXT 575, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 06.05.94; EXT
1.030, Rel. Min. Carlos Britto, Tribunal Pleno, DJ 03.08.2017; EXT 1.013, Rel. Min. Marco
Aurélio; DJ 23.03.07. 7. Pedido de extradição deferido e condicionado à assunção prévia pelo
Estado requerente dos compromissos previstos no art. 96 da Lei nº 13.445/2017, dentre eles
o de detração da pena, a qual deve levar em conta apenas o período de prisão preventiva por
força da extradição. (STF; Ext 1.562; DF; 2ª T.; Rel. Min. Edson Fachin; DJE 06/08/2019; p. 127)
Código Penal), o apenado cumpriu, durante anos, todas as demais condições impostas para o
livramento condicional. (TJMG; Ag-ExcPen 0366773-53.2019.8.13.0000; 1ª C.Crim.; Rel. Des.
Flávio Leite; DJEMG 21/08/2019)
veículo que configure inobservância do dever objetivo de cuidado, sob pena de violação ao
princípio da ampla defesa. 2. Apesar de não ser necessária a existência de prova irrefutável de
autoria para o início da persecução criminal, a denúncia que se limita a descrever que o denun-
ciado conduzia o veículo sequer cumpre os requisitos do art. 41 do CPP, devendo ser rejeitada
pela inépcia. 3. Recurso conhecido e não provido. (TJAL; RSE 0849682-61.2017.8.02.0001; 1ª
C.Cív.; Rel. Des. Washington Luiz Damasceno Freitas; DJAL 12/08/2019; p. 127)
obediência ao requisito objetivo estabelecido no art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90. 2. Em que
pese a fundamentação apresentada pelo magistrado, tenho, na oportunidade, por discordar da
decisão apontada, tendo em vista que o STF, já firmou o entendimento de que o referido artigo
é constitucional, ou seja, que para a concessão da progressão de regime aos condenados por
crimes hediondos ou equiparados, é necessário o cumprimento de 2/5 da pena, se primário
ou 3/5 se reincidente. 3. Agravo em execução penal conhecido e provido, em harmonia com o
parecer ministerial. (TJAM; AgExPen 0642132-08.2018.8.04.0001; 2ª C.Crim.; Relª Desª Onilza
Abreu Gerth; DJAM 29/07/2019; p. 80)
Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 04.06.2014). 5. Habeas corpus indeferido. (STF; HC
154.438; Rel. p/o Ac. Min. Alexandre de Moraes; DJE 01/07/2019)
91/61 – MOEDA FALSA. ART. 289, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. AUTORIA, MA-
TERIALIDADE E DOLO COMPROVADOS. INCABÍVEL A DESCLASSIFICAÇÃO PARA
O TIPO DESCRITO NO § 2º DO ART. 289 DO CÓDIGO PENAL. DOSIMETRIA COR-
RETAMENTE APLICADA. APELAÇÃO DESPROVIDA. 1. Recurso de apelação interposto
pelo réu, em face da sentença que o condenou pela prática do crime de moeda falsa, previsto
no art. 289, § 1º, do Código Penal, à pena privativa de liberdade de 3 (três) anos de reclusão e
10 (dez) dias-multa, a ser cumprida em regime inicialmente aberto. 2. Nara a denúncia que,
no dia 13 de abril de 2014, o réu consciente e voluntariamente, teria introduzido em circulação
duas cédulas de Real falsas, uma de R$ 50,00 (cinquenta reais) e outra de R$ 20,00 (vinte reais),
quando efetuou o pagamento de bebidas alcoólicas na banca do Sr. Fábio Júlio Rodrigues, na
festa denominada “Esquenta Junino”, festejo de São João fora de época, que acontece no bairro
Caimbé. 3. A materialidade e a autoria delitiva ficaram comprovadaa pelo Laudo de Exame de
Moeda (Cédula) nº 131/2014-SETEC/SR/DPF/RR, que teve por objeto as notas apreendidas
e concluiu positivamente acerca da falsificação, esclarecendo, ademais, que “a falsificação é de
boa qualidade” (não grosseira), bem como pela testemunhal produzida. 4. O dolo ficou evi-
denciado pela conduta do réu que demonstra claramente que ele tinha ciência da falsidade das
cédulas e mesmo assim tentou introduzir as notas em circulação. Nota-se aqui o modus operandi
comum no crime de moeda falsa consistente, no caso, em repassar uma nota de valor maior
para comprar produto de valor bem inferior (o réu fez compras de bebidas em várias barracas).
5. A pretensão à desclassificação para o tipo descrito no § 2º do art. 289 é improcedente. A
incidência desse tipo penal demanda prova de que o agente recebeu as cédulas de boa-fé, o que
não se verifica nos presentes autos. Ao contrário, os elementos probatórios constantes dos autos,
vistos em conjunto, são suficientes à conclusão, em nível acima de dúvida razoável, de que o
acusado tinha ciência prévia da falsidade das cédulas. 6. No que tange à dosimetria da pena, o
direito penal brasileiro adota o critério trifásico, elaborado por Nélson Hungria, conforme se
extrai do art. 68 do CP. Nesse sistema, há de se observar três etapas. Na primeira, calcula-se
a pena base conforme as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. Na segunda, o magistrado
aplica as atenuantes e agravantes que porventura venham a existir. Por fim, na terceira fase,
verifica-se a existência de eventuais majorantes e minorantes. Não merece reforma a sentença,
não havendo alterações a serem feitas na pena, notadamente por ter sido fixada no mínimo
legal. 7. Apelação a que se nega provimento. (TRF 1ª R.; ACR 0002357-07.2014.4.01.4200;
RO; 4ª T.; Rel. Juiz Fed. Conv. Leão Aparecido Alves; DJF1 14/08/2019)
provido. (TRF 3ª R.; ACR 0003914-92.2016.4.03.6143; 5ª T.; Rel. Des. Fed. Maurício Kato;
DEJF 21/08/2019)
da legislação infraconstitucional, uma vez que se trata de decisão proferida pela maioria dos
integrantes de apenas um dos órgãos fracionários do pretório Excelso, que, embora tenha
reconhecido a repercussão geral do tema no ARE 848.107 RG/DF, ainda não fixou seu en-
tendimento sobre a questão. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ; AgRg-HC 516.214; Proc.
2019/0174684-0; SP; 5ª T.; Rel. Min. Jorge Mussi; DJE 20/08/2019)
aquela realidade que se propõe evidenciar. Sob pena de violação ao ne bis in idem, afasta-se a
condenação pelo art. 329 do Código Penal. Embargos infringentes desprovidos. (TRF 4ª R.;
ENUL 5001592-58.2018.4.04.7002; PR; 4ª S.; Rel. Des. Fed. Carlos Eduardo Thompson Flores
Lenz; DEJF 20/08/2019)
denegado. (TJAL; HC 0803610-48.2019.8.02.0000; C.Crim.; Rel. Des. João Luiz Azevedo Lessa;
DJAL 20/08/2019; p. 141)
processo contra o investigado, na esfera cível, do que se extrai o efetivo prejuízo sofrido pela
vítima, mesmo que não tenha sobrevindo condenação. O dano à vítima do vazamento da
informação é causa de aumento e não elementar do crime de Violação de Sigilo Funcional,
não sendo necessária a ocorrência do dano para que ocorra a subsunção da ação do réu ao tipo
penal. Ainda, o delito tipificado no art. 325 do Código Penal é de natureza formal, de modo que
não exige resultado naturalístico, consistente em prejuízo para a Administração ou para outra
pessoa com a revelação. Alegação de nulidade decorrente da ausência de autorização judicial
para a quebra do sigilo bancário do acusado afastada. Consoante afirma o próprio recorrente,
nenhuma incompatibilidade foi apurada na movimentação financeira ou patrimônio do acusado
e o sentenciante salientou que as informações obtidas diretamente pelo Ministério Público
Federal são irrelevantes para o deslinde do feito. Relatório de Missão Policial bem como as
informações nele constantes possuem, por sua própria natureza, caráter sigiloso. Assim, tam-
bém não há falar em atipicidade tendo em conta o teor do documento não revelar fato que
desabone o investigado. As alegações de erro causado por terceiro por ter a advogada provo-
cado o acusado para fornecer cópia do RMP 380/04, ausência de dolo e estrito cumprimento
de dever legal não procedem. O apelante agiu com consciência de que realizava a violação do
sigilo funcional, mediante a entrega do relatório de missão policial à advogada, ainda que a
pedido desta, uma vez que o relatório de missão policial possui caráter sigiloso, tanto é assim
que o réu orientou a advogada a requerer a entrega do documento aos seus superiores, isto
é, diretamente na Superintendência da Polícia Federal, no entanto, optou por fornecer o do-
cumento à advogada. Tampouco se há falar em estrito cumprimento do dever legal, uma vez
que não há dever legal a ser cumprido pelo apelante no sentido de disponibilizar o relatório de
missão policial para a advogada, pelo contrário, na condição de agente policial, tinha o dever de
resguardar o sigilo das informações constantes do documento, cujo afastamento só poderia se
dar mediante autorização da autoridade competente. Pena reduzida ao mínimo legal. Apelação
parcialmente provida. (TRF 3ª R.; ACR 0007881-07.2011.4.03.6181; SP; 5ª T.; Rel. Des. Fed.
Maurício Kato; DEJF 20/08/2019)
91/91 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. Lesão corporal (art. 129, § 9º, do CP). Prisão
em flagrante. Concessão da liberdade provisória mediante o pagamento de fiança. Constrangi-
mento ilegal configurado. Paciente hipossuficiente (assistido pela Defensoria Pública). Ordem
concedida. (TJSP; HC 0026291-76.2019.8.26.0000; Ac. 12781786; 15ª C.D.Crim.; Rel. Des.
Gilberto Ferreira da Cruz; DJESP 21/08/2019; p. 2.903)
Sinopse Legislativa
* Nota: íntegras das normas disponíveis em nosso endereço eletrônico, no link dedicado a esta publicação.
Destaques do Volume nº 90
– Do Prazo Prescricional das Sanções Penais Previstas para as Pessoas Jurídicas em Crimes Ambientais
por Oswaldo Henrique Duek Marques, Professor e Doutor, e Paulo Henrique Aranda Fuller,
Professor e Mestre
– O Interrogatório do Réu no Projeto de Código de Processo Penal
por Sergio Demoro Hamilton, ex-Professor e ex-Procurador de Justiça
– O Controle de Constitucionalidade das Leis Penais e o Princípio da Proporcionalidade
por Gilmar Ferreira Mendes, Ministro do STF e Doutor
– As Criptomoedas e a Lavagem de Dinheiro
por Ronaldo Rodrigues de Oliveira Bortoletto, Advogado e Especialista, e Cinthia Obladen de
Almendra Freitas, Professora e Doutora
– Política Regulatória, Enforcement e Compliance: Análise dos Lineamientos da Oficina Anticorrupção da
Procuradoria Argentina
por Eduardo Saad-Diniz, Professor e Doutor
– Decisão Judicial e Limites Interpretativos: Reflexões Jurídico-Filosóficas Acerca da Interceptação
Telefônica no Caso Lula e Dilma Rousseff
por Felinto Alves Martins Filho, Advogado e Especialista, e Eduardo Rocha Dias, Mestre e Doutor
– A Relevância da Cooperação Internacional para o Aprofundamento do Combate à Corrupção no
Brasil
por Carla Abrantkoski Rister, Mestre e Doutora
– Entre Expansão ou Delimitação do Critério Biológico da Inimputabilidade Penal do Art. 26 do CP
por Rodrigo Silva Barreto, Advogado e Mestre
Destaques do Volume nº 89
– A Reforma do Código de Processo Penal
por Fernando Tourinho Filho, Professor e Doutor
– Pena: a Desproporcionalidade e Ineficácia Social da Redução de Pena na Lei de Tóxicos
por Sebastião Sérgio da Silveira, Doutor e Pós-Doutor, Paulo José Freire Teotônio, Professor e
Mestre, Bruna Carolina Oliveira e Silva, Advogada e Pesquisadora, Gabriel Cotrim Maciel de Lima,
Advogado e Pesquisador, e Henrique Augusto Freire Teotônio, Acadêmico de Direito e Pesquisador
– Delinquência Empresarial e Prescrição das Sanções Penais Cominadas aos Crimes Ambientais
Previstos na Lei nº 9.605/98: Proteção ou (Des)Proteção do Ambiente?
por Rodrigo José Leal, Professor e Doutor
– Por que os Tribunais Criminais dos Estados Unidos São Tão Dependentes da Plea Bargaining?
por Dylan Walsh, Escritor e Jornalista, com tradução de Aury Lopes Júnior, Professor e Doutor
– O Crime Organizado, a Interceptação e Análise de Sinais como Meio Extraordinário de Prova e o
Conflito com o Direito à Intimidade
por Francisco Edinaldo do Vale Cavalcante, Bacharel em Direito e Delegado da Polícia Civil, e
Roberto Meyer Pinheiro, Especialista e Mestre
D E
DENÚNCIA EDUARDO SAAD-DINIZ
- Rejeição. Homicídio culposo. Acidente de - Artigo: “O Papel Transformativo das Cor-
trânsito. Omissão de socorro. Mera descrição porações no Processo Penal: Ideias sobre
de que o agente conduzia o veículo e não Compliance e Vitimização Corporativa”......... 57
socorreu a vítima. Necessidade de a denúncia EMBRIAGUEZ AO VOLANTE
indicar inobservância de dever de cuidado.
- Acórdão do TJAP – Absolvição. Paciente que
TJAL (Em. 91/50)........................................... 178
dormia no carro. Apesar da comprovação da
DESCAMINHO embriaguez, não pratica a elementar conduzir
- Denúncia. Rejeição com fundamento na in- veículo automotor. Art. 306 da Lei 9.503/97...... 153
significância. Agente que teve lavrados contra - Pena. Suspensão da carteira de habilitação.
si dois autos de infração. Inaplicabilidade do Fixação com fundamento nos mesmos
princípio da insignificância. TRF 1ª R. (Em. critérios da pena restritiva de liberdade.
91/25).............................................................. 170 Proporcionalidade. TJAC (Em. 91/31).......... 173
DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME EMENDATIO LIBELLI
- Estupro de vulnerável. Beijo em público. - A emendatio libelli é perfeitamente possível
Crime não configurado. Desclassificação na fase recursal, ressalvada a hipótese de re-
para a contravenção penal do art. 65 do DL formatio in pejus, quando apenas a defesa tiver
3.688/1941. Reconhecimento da prescrição recorrido, nos termos do art. 617 do CPP.
da pretensão punitiva da novel pena. TJAP TRF 4ª R. (Em. 91/73)................................... 185
(Em. 91/33)..................................................... 174 ENSAIO SOBRE UMA SEGURANÇA
- Roubo impróprio. Art. 157, § 1º, do CP. JURÍDICA METAMÓRFICA
Desclassificação da conduta de ofício. Furto - Artigo de Rogério Filippetto.......................... 38
e lesões corporais de natureza grave. Art.
155, § 4º, III, do CP e art. 129, § 1º, I, do CP. ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Concurso material de crimes. Art. 69 do CP. - Absolvição. Gravidez. Continuidade deli-
TRF 4ª R. (Em. 91/73)................................... 185 tiva. Atipicidade da conduta. Relativização
da violência presumida. Consentimento da
DESENVOLVIMENTO
vítima. União estável com o acusado. Filha
CLANDESTINO DE ATIVIDADE DE
em comum. Reconhecimento. TJGO (Em.
TELECOMUNICAÇÕES 91/35).............................................................. 174
- Vide Rádio Comunitária. - Beijo em público. Crime não configurado.
DESERÇÃO Desclassificação para a contravenção penal
do art. 65 do DL 3.688/1941. TJAP (Em.
- O posterior licenciamento não afeta a conti-
91/33).............................................................. 174
nuidade da ação penal. Inconstitucionalidade
do art. 88, II, a, do CPM. Impossibilidade. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
STM (Em. 91/28)........................................... 172 - Possibilidade de extinção da punibilidade,
DISTRIBUIÇÃO CLANDESTINA DE após cumprida a pena privativa de liberdade,
SINAL DE TV A CABO independentemente do adimplemento da
multa. TJSP (Em. 91/37)............................... 175
- O laudo de exame em equipamentos e em
local indicam que a ocorrência de distribui- EXTRADIÇÃO PASSIVA
ção clandestina de sinal de telecomunicação - Reciprocidade. Dupla tipicidade. Dupla
se amolda perfeitamente à conduta descrita punibilidade. Princípio da contenciosidade
no art. 183 da Lei 9.472/97. TRF 2ª R. (Em. limitada. Presença dos demais requisitos.
91/30).............................................................. 172 STF (Em. 91/38)............................................ 175
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 197
art. 2º, § 2º, da Lei 8.072/90. Necessidade de - Tóxicos. Tráfico. Causa de diminuição de
cumprimento de 2/5 da pena, se primário ou pena do art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06. Re-
3/5 se reincidente. TJAM (Em. 91/53).......... 179 dução em 1/3. Quantidade não expressiva
- Progressão de regime. Semiaberto. Admissi- de entorpecente. Réu primário e de bons
bilidade. Longa pena a cumprir e gravidade antecedentes. Necessidade de readequação
das condutas praticadas pelo sentenciado da pena. Causa de aumento do art. 40, III,
inaptas a fundamentar a decisão indeferitória, da Lei de Drogas em patamar superior a 1/6.
ante a inexistência de previsão legal a respeito. Motivação concreta. STJ (Em. 91/84)........... 188
Exame criminológico atual favorável. Benes-
PRAZO
se cabível. TJSP (Em. 91/71)......................... 185
- Agravo regimental no RMS. Prazo para
- Progressão de regime. Semiaberto. Defe-
interposição do agravo regimental. Art. 258
rimento. Condições legais atendidas. Data
base para a concessão de benefício é a data do RISTJ. 5 dias. Fazenda Pública em juízo.
do preenchimento dos requisitos legais. TJSP Prazo em dobro. 10 dias. Aplicação de regra
(Em. 91/70)..................................................... 185 do CPC. Impossibilidade. Intempestividade
mantida. STJ (Em. 91/8)................................ 165
- Receptação qualificada. Telefone celular.
Aquisição no exercício de atividade comer- PRECONCEITO RELIGIOSO
cial. Restituição voluntária à vítima antes do - Acórdão do STF – Lei 7.716/89. Limites exce-
oferecimento da denúncia. Arrependimento didos na liberdade de manifestação religiosa.
posterior. Incidência. Critério para diminui- Diferença entre discurso religioso e discurso
ção da pena. TJAP (Em. 91/80)..................... 187 sobre a crença alheia....................................... 111
- Regime de cumprimento. A teor do disposto
no § 2º do art. 387 do CPP, o período de PRESCRIÇÃO
custódia provisória repercute na fixação do - Acórdão do STJ – Réu que completou 70
regime de cumprimento da pena. STF (Em. anos após a sentença condenatória. Redução
91/47).............................................................. 178 do prazo prescricional. Impossibilidade de
- Remição. Estudo a distância. Impossibilidade. aplicação do art. 115 do CP........................... 123
Não preenchimento dos requisitos legais. - Falta grave. Apuração. Preliminar acolhida.
TJSP (Em. 91/76)........................................... 186 Superado o menor prazo prescricional pre-
- Remição. Tempo de estudo e trabalho. De- visto no art. 114, I, do CP, qual seja, o de 2
ferimento parcial, com exclusão das horas anos, a contar da prática da falta disciplinar.
excedentes estudadas. Pleito de consideração TJSP (Em. 91/13)........................................... 166
do tempo extrapolado. Inadmissibilidade. - Pena. Restritiva de direitos convertida em
TJSP (Em. 91/77)........................................... 186 privativa de liberdade. Decurso do lapso
- Restritiva de direitos convertida em privativa prescricional a partir da interrupção da exe-
de liberdade. Decisão que não reconheceu a cução. Inteligência do art. 112 do CP. TJSP
prescrição da pretensão executória. Pretendi- (Em. 91/66)..................................................... 184
do o reconhecimento dessa causa extintiva da
- Pretensão executória. Termo inicial. Data do
punibilidade. Admissibilidade. Decurso do
trânsito em julgado da sentença condenatória
lapso prescricional a partir da interrupção
para a acusação. STJ (Em. 91/69).................. 184
da execução. Inteligência do art. 112 do CP.
TJSP (Em. 91/66)........................................... 184 PRESCRIÇÃO RETROATIVA
- Sonegação fiscal. Aplicável a causa especial - Estelionato. Acolhimento. Pena in concreto
de aumento prevista no art. 12, I, da Lei fixada em patamar inferior a 2 anos. Decurso
8.137/90, uma vez que o montante sonegado de tempo superior a 4 anos entre a data do
foi superior a R$ 500.000,00. TRF 1ª R. (Em. recebimento da denúncia e a publicação da
91/79).............................................................. 187 sentença. Ocorrência da prescrição da pre-
- Tortura, constrangimento ilegal e violação tensão punitiva. TJAC (Em. 91/32)............... 173
de domicílio. Absolvição. Possibilidade uni-
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
camente para um delito de constrangimento
ilegal. Abrandamento do regime prisional. - Importação irregular de medicamentos.
Possibilidade. Substituição ou suspensão da Pequena quantidade. Aplicação em face da
pena privativa de liberdade. Inviabilidade. ausência de potencial lesivo à saúde pública,
TJMG (Em. 91/83)........................................ 188 quando não há indícios de que o produto se
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 91 – Ago-Set/2019 – Índice Alfabético
202
destinasse ao comércio irregular. TRF 4ª R. (50 W) excede à máxima prevista pela Lei
(Em. 91/54)..................................................... 180 9.612/98, que instituiu o Serviço de Radio-
difusão Comunitária. STF (Em. 91/27)........ 171
PRISÃO PREVENTIVA
- Tratando-se de crime formal e de perigo abs-
- Associação criminosa, comércio e tráfico in-
trato, não se exige a ocorrência de um dano
ternacional de armas de fogo. Condenação à
concreto para a sua consumação. Afastada a
pena de mais de 20 anos de reclusão. Excesso
pena pecuniária prevista no art. 183 da Lei
de prazo para julgamento do recurso de apela-
9.472/97, aplicam-se as disposições do CP.
ção. Inocorrência. Garantia da ordem pública.
TRF 3ª R. (Em. 91/26)................................... 171
Constrangimento ilegal não caracterizado.
STJ (Em. 91/14)............................................. 166 RAFAEL ESTRELA NÓBREGA
- Estupro de vulnerável e exploração sexual. - Artigo: “A Releitura do Princípio In Dubio Pro
Gravidade concreta da conduta delituosa. Societate no Rito Especial do Júri”.................. 10
Ameaça à vítima e à sua família. Garantia da
RECEPTAÇÃO QUALIFICADA
ordem pública. Constrangimento ilegal não
caracterizado. Ordem não conhecida. STJ - Telefone celular. Aquisição no exercício de
(Em. 91/34)..................................................... 174 atividade comercial. Fortíssimos indícios de
o bem adquirido ser produto de crime (§ 1º
- Feminicídio. Tentativa. Decisão judicial que
do art. 180 do CP). TJAP (Em. 91/80).......... 187
aponta concretamente a necessidade da cus-
tódia cautelar. Gravidade da conduta. Risco REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA
à ordem pública caracterizado. Pedido de À DE ESCRAVO
substituição da prisão preventiva por outra
- Supressão da liberdade da vítima não com-
medida cautelar. Impossibilidade. TJAL (Em.
provada. Para que se configure o tipo penal
91/81).............................................................. 187
do art. 149 do CP, é imprescindível a supres-
- Furto qualificado tentado. Prisão em flagran- são da liberdade da vítima. TRF 1ª R. (Em.
te. Convertida em preventiva. Garantia da 91/75).............................................................. 186
ordem pública e conveniência da instrução
criminal. Ausência de fundamentação. STJ ROGÉRIO FILIPPETTO
(Em. 91/46)..................................................... 177 - Artigo: “Ensaio sobre uma Segurança Jurídica
- Interceptações telefônicas. Legalidade. Metamórfica”................................................. 38
Garantia da ordem pública e resguardo da
aplicação da lei penal. Ausência de ilegalidade. S
STF (Em. 91/57)............................................ 180
SENTENÇA
- Tortura. Impossibilidade. Ausência dos
requisitos do art. 312 do CPP. Decisão do - Nulidade. Audiência de instrução e julga-
magistrado singular mantida em sua integra- mento. Realizada sem o comparecimento da
lidade. TJAL (Em. 91/82)............................... 188 testemunha de acusação. Desistência da oitiva
- Tóxicos. Tráfico. Ausência de fundamenta- da testemunha de acusação e da vítima pela
ção. Constrangimento ilegal caracterizado. defesa. Ausência de requerimento. Prejuízo
STJ (Em. 91/85)............................................. 189 caracterizado. TJAM (Em. 91/16)................. 167