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Classificação Qualis/Capes: B1
Editor
Fábio Paixão
Coordenadores
Anderson Schreiber – Daniel Amorim Assumpção Neves – Débora Brandão
Fernanda Tartuce – Flávio Tartuce
Conselho Editorial
Ana Beatriz Presgrave – Ana Luiza Maia Nevares – Angelica Carlini
Arlete Aurelli – Carlos Nelson Konder – Cecília Asperti – Cesar Calo Peghini
Cláudia Lima Marques – Ênio Santarelli Zuliani – Eroulths Cortiano Junior
Fredie Didier Junior – Giselda M. F. Novaes Hironaka – Gisele Góes
Gustavo Tepedino – Heloísa Helena Barboza – José Fernando Simão
José Rogério Cruz e Tucci – Marco Aurélio Bezerra de Melo – Marco Jobim
Maria Helena Diniz – Marilia Pedroso Xavier – Maurício Bunazar
Pablo Malheiros Cunha Frota – Pablo Stolze Gagliano – Rodolfo Pamplona Filho
Rodrigo Reis Mazzei – Rolf Madaleno – Sílvio de Salvo Venosa
Susana Henriques da Costa – Trícia Navarro
Colaboradores deste Volume
Alvaro Lima Sardinha – Ana Lúcia da Silva Campos – Camila Grubert
Cláudio Iannotti da Rocha – Daniel Roberto Hertel – Eveline Denardi
Fábio Siqueira Machado – Guilherme César Pinheiro
João Maurício Brambati Sant’Ana – João Renato Rodrigues Siqueira
Lírio Hoffmann Júnior – Patrícia Verônica Nunes Carvalho Sobral de Souza
Rodrigo Lins Lima Oliveira – Rodrigo Mazzei – Sandoval Alves da Silva Correio
Tiago Bitencourt De David – William Santos Ferreira – William Soares Pugliese
Yan Wagner Cápua da Silva Charlot
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil
Publicação bimestral da Editora Magister à qual se reservam todos os direitos, sendo vedada
a reprodução total ou parcial sem a citação expressa da fonte.
A responsabilidade quanto aos conceitos emitidos nos artigos publicados é de seus autores.
As íntegras dos acórdãos aqui publicadas correspondem aos seus originais, obtidos junto ao
órgão competente do respectivo Tribunal.
A editoração eletrônica foi realizada pela Editora Magister, para uma tiragem de 5.000 exemplares.
ISSN 1807-0930
CDU 347(05)
CDU 347.9(05)
Editora Magister
Diretor: Fábio Paixão
Jurisprudência
1. Superior Tribunal de Justiça – Ação de Reconhecimento de Maternidade
Socioafetiva Post Mortem. Preliminar. Técnica de Julgamento Ampliado.
Julgadores Adicionais. Quantidade. Princípio do Juízo Natural. Modificação
de Voto. Possibilidade. Sustentação Oral. Oportunidade
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva ..................................................................... 167
2. Superior Tribunal de Justiça – Redirecionamento da Execução Fiscal,
na Hipótese de Dissolução Irregular da Pessoa Jurídica Executada.
Impossibilidade de Ser Considerado como Responsável Tributário o
Sócio ou o Terceiro Não Sócio que, Apesar de Exercer a Gerência da
Pessoa Jurídica Executada, à Época do Fato Gerador, dela Regularmente
se Afastou, sem Dar Causa à sua Posterior Dissolução Irregular. Tema nº
962/STJ. Recurso Especial Improvido
Relª Minª Assusete Magalhães................................................................................ 172
3. Superior Tribunal de Justiça – Ação de Indenização. Acidente
de Trânsito. Requisitos de Admissibilidade do Recurso Especial:
Revaloração dos Fatos. Cabimento. Não Incidência do Enunciado
nº 7/STJ. Recurso Devidamente Fundamentado. Não Incidência do
Enunciado nº 284/STF. Inexistência de Fundamento Constitucional
Autônomo Necessário para Interposição de Recurso Extraordinário.
Mérito: Limites Objetivos e Subjetivos da Coisa Julgada. Terceiro
Alheio ao Prévio Processo Indenizatório. Impossibilidade de Incidência
da Coisa Julgada Formada em Processo de que Não Foi Parte
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino ..................................................................... 192
Doutrina
Introdução
A presente pesquisa visa analisar o negócio jurídico processual que trata
da persecução da verdade no contexto do Código de Processo Civil (CPC) de
2015. O trabalho parte do exame de presunções que afastam a persecução da
verdade do caso concreto, por serem usadas como fundamentos de decidir;
por não perseguirem a verdade no processo, não garantem o acesso à ordem
jurídica. Por conseguinte, tampouco geram a conformação dos litigantes e a
consequente pacificação social ou apreciação do mérito da causa com justiça.
Dessa forma, analisar-se-á a cláusula geral de negócio jurídico processual
no CPC/2015 e a persecução da verdade no nível constitucional e infralegal,
visando dar valoração formal ao negócio jurídico processual para perseguir
a verdade no processo. Objetiva-se, assim, dar aplicabilidade à convenção
processual que amplie a persecução da verdade e negar validade àquela que
vise limitá-la.
Em síntese, este estudo visa demonstrar a possibilidade de utilizar a fer-
ramenta do negócio jurídico processual como meio para ampliar a persecução
da verdade no processo, bem como demonstrar a inviabilidade do contrário,
sempre tendo em vista alcançar a aplicação do princípio do acesso à ordem
jurídica justa no campo processual.
O trabalho desenvolve-se em quatro etapas, tendo o intuito de de-
monstrar que a persecução da verdade é um mandamento do CPC/2015 e da
Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988.
No primeiro momento, busca-se demonstrar que a verdade é elemento
indissociável da substituição dos sujeitos pelo juiz na atividade jurisdicional.
Sem um substrato fático, o juiz não poderá compreender as razões dos en-
volvidos e, consequentemente, não poderá substituir-se às suas vontades de
maneira adequada e justa derivadamente.
No momento seguinte, são analisadas as teorias da verdade que a consi-
deram irrelevante para o processo, as que negam a existência de uma verdade
e as que acreditam haver uma verdade que deve ser perseguida no processo.
Em seguida, entrar-se-á no negócio jurídico processual, examinando seu
conceito, sua validade e sua eficácia. Quanto à validade e à eficácia, analisar-
se-ão as coincidências e divergências entre o negócio jurídico material e o
processual, buscando-se definir as delimitações em abstrato para enquadrar
o objeto da persecução da verdade.
Por último, analisar-se-á o negócio jurídico processual à luz da norma-
tividade brasileira, visando demonstrar sua aplicabilidade com base em casos
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1 Verdade e Processo
1 Cumpre destacar, para os fins do presente artigo, a diferença entre fato, evento e versão fática. Segundo Ferraz
Junior (2015, p. 255-256), o evento é um acontecimento do mundo da realidade sem qualquer relato linguístico,
ao passo que o fato é a enunciação de uma determinada situação delimitada no tempo e no espaço. Nesse sentido,
o fato somente se revelará para o direito e, por conseguinte, desencadeará os efeitos jurídicos atinentes por meio
do relato. É esse relato que se denomina versão fática, a qual é baseada na percepção individual ou coletiva e que
se converte em linguagem normativa. De acordo com Taruffo (2012, p. 60-61), a narrativa, isto é, a versão fática, é
todo e qualquer enunciado em que um determinado evento é descrito como ocorrido no mundo real. Desse modo,
os fatos são os eventos ou o conjunto de eventos atinentes “à vida do indivíduo”.
2 O vácuo de vivência caracteriza-se pela insensibilidade ante os problemas e dores do outro, dada a ausência de vivência
e de apreensão de outro modo de vida, diferente do meu. Esse vácuo acarreta a dificuldade de compreender o outro,
de gerar empatia, podendo levar ao desenvolvimento de julgamento injustos, infundados e descontextualizados
(SILVA, 2019, p. 292).
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3 Em contraposição ao vácuo de vivência, o excesso de vivência é dor e trauma sentidos de tal sorte que se perde
a racionalidade, isto é, é a condição em que a análise do caso fica prejudicada pela exacerbada vivência pessoal do
indivíduo ante o conflito ou conflitos semelhantes, de modo que não consegue dissociar tal análise das experiências
pretéritas. Portanto, o julgamento fica tendencioso, viciado e predeterminado pelos fatos.
4 O termo “concretização” é a interpretação do direito ante o caso concreto (SILVA, 2016, p. 72).
5 O termo “efetivação” é empregado enquanto “realização” do direito, que se constata quando a concretização produz
efeitos reais no mundo e significa efetividade, implementação ou realização material da concretização do direito
(SILVA, 2016, p. 72).
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
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poderá ser superado, inclusive por meios jurídicos, de forma a dar a liberdade
ao juiz para perseguir tal verdade (TARUFFO, 2005, p. 45).
O conceito que se nega pela prática é nitidamente o de verdade absoluta,
que obviamente não é o ideal para o caso. Deve ser tomada como parâmetro
uma verdade tangível e relativa que possa, dentro das limitações concretas, ser
alcançada e não ser totalmente diferente da verdade dos fatos (TARUFFO,
2005, p. 46-47).
Obviamente, haverá modelos processuais que não possuam instru-
mentos jurídicos que colaborem para que a verdade possível seja alcançada,
mas isso não quer dizer que não poderá haver processos que possuam regras
suficientes para esse fim (TARUFFO, 2005, p. 46-47).
Um ordenamento jurídico que tenha compromisso com a justiça, seja
qual for a teoria adotada, não pode deixar de ter mecanismos de persecução
da verdade pelo magistrado e de amplo diálogo probatório dos sujeitos para
permitir uma substituição adequada da vontade originária dos envolvidos
no conflito em regime derivado pela vontade do juiz, o qual poderá sentir e
racionalizar os acontecimentos (SILVA, 2017, p. 302), isto é, para fazer revi-
ver o drama de uma confiança traída, de uma emoção ridicularizada ou do
sofrimento de uma injustiça sofrida (RIGAUX, 1997, p. 53).
Tais acontecimentos buscam suprir o vácuo de vivência do juiz, uma
vez que um ordenamento jurídico que reduz o conhecimento dos fatos pelo
órgão decisor é injusto proporcionalmente ao grau de sua limitação.
Há também os que acreditam ser irrelevante a persecução da verdade
no processo. Assim, a interpretação e as atividades são apenas retóricas, sendo
a finalidade final do advogado narrar um fato para convencer o juiz, pouco
importando se a verdade será alcançada ou não (TARUFFO, 2005, p. 48-51).
A segunda variante dessa linha entende que existem métodos semióticos
que são aplicados a problemas linguísticos, ou seja, o processo é um espaço em
que são criadas narrativas pelas partes; por isso, deve ser estudado do ponto
de vista linguístico, não havendo uma efetiva ligação com o mundo empírico.
Uma expressão linguística poderá somente remeter a outras, e assim por diante,
em um ciclo sem fim e dissocia a realidade da linguagem do processo. Tudo é
uma narração e assim deve ser considerado, sendo irrelevante a verdade dos
fatos para o processo (TARUFFO, 2005, p. 52).
Nesse caso, a finalidade da teoria da prova não é o fato em si, mas antes
a afirmação que se faz dele. Um fato em si não pode ser verdadeiro ou falso
no processo, mas a assertiva que os sujeitos envolvidos fazem dele, na petição
inicial ou na contestação, é o que será alvo de comprovação da prova.
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verdade, seria uma resolução justa. Conclui-se, então, que a busca da verdade
é condição para qualquer decisão justa (TARUFFO, 2005, p. 63-65).
A justiça é um fundamento do direito, e não apenas do processo; como
tal, deverá ser objetivo do Estado ao se substituir aos sujeitos e exercer a juris-
dição. Conforme já explicitado, independentemente do modelo de justiça que
seja usado, todas as teorias da verdade estão condicionadas à realidade dos fatos.
Desse modo, a decisão será injusta e incorreta caso não resida em um
substrato fático, concreto e real. Na teoria da decisão é necessário que se
identifique o fato para que o juiz possa aplicar a norma ao conjunto fático
apresentado, consubstanciando uma decisão verdadeira (TARUFFO, 2005,
p. 66-67).
Ainda há quem se posicione de maneira a aceitar o afastamento da
verdade do caso concreto, mas é impossível esperar que possa ser construída
uma decisão justa e democrática, visto que faltará a essência dessa decisão
justa, que reside na correspondência possível entre o evento fenomênico e
as versões apresentadas, pois o fato é tão importante na incidência da norma
ou na ponderação e na subsunção da norma ao fenômeno ocorrido quanto a
hipótese normativa (TARUFFO, 2005, p. 69-70).
O processo será autoritário se não perseguir a verdade, visto que não
haverá fundamento fático que busca alcançar a verdade para a decisão, a qual
será arbitrária e violadora de garantias fundamentais, por não se preocupar com
um dos principais efeitos na aplicação do direito – a persecução da verdade
para que a norma opere a existência, a validade, a eficácia e os efeitos dos atos
e fatos jurídicos (TARUFFO, 2005, p. 69-70).
Há também quem acredite que a verdade deve nortear o processo. São
os teóricos que defendem a existência de um ordenamento jurídico capaz de
permitir ao magistrado e às partes perseguirem a verdade dos fatos. Ainda
assim, existem críticas às normas que limitam e regulam a busca da verdade
(TARUFFO, 2005, p. 72).
Primeiramente, deve-se observar que tais normas são residuais, não
diferenciando a verdade do processo daquela que há fora dele, sendo neces-
sárias, em algum grau, para a concretização valores jurídicos. Além disso, há
muitas regras que, em sentido oposto, dão liberdade ao juiz e aos envolvidos
no conflito para atuarem perseguindo a verdade e para assumirem o dever de
manifestar-se de acordo com ela (TARUFFO, 2005, p. 72).
Segundo a premissa que consagra o modelo da verdade possível, as
regras que limitam as provas que o magistrado pode utilizar para descobrir
a verdade existem para consagrar valores jurídicos. Na realidade, “o direito
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6 Contexto é o conjunto de circunstâncias relativas aos marcos referenciais de uma versão de mundo, dizendo respeito
especialmente à cultura, à língua, às regras, aos conceitos, às noções e aos meios de conhecimento. São os marcos
de referência que fundamentam determinada versão de mundo. É o contexto que faz com que as verdades sejam
possíveis, uma vez que altera o marco referencial da visão de mundo conforme se alteram suas circunstâncias (TA-
RUFFO, 2005, p. 75).
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7 Originalmente, o devido processo legal foi compreendido como uma garantia procedimental relacionada a exigências
formalistas. As garantias processuais do devido processo legal procedimental determinam, de um lado, as normas
jurídicas em que são estipuladas (enfoque objetivo) e, de outro lado, os direitos subjetivos dos indivíduos e os
respectivos deveres dos agentes estatais (enfoque subjetivo). Assim, a expressão “garantias processuais” refere-se à
norma jurídica em sua integralidade e à parte da norma que prevê os efeitos atribuídos ao fato jurídico. A dimensão
substantiva do devido processo legal (substantive due process of law) vai além do modo de produção do ato do poder
público, abordando o mérito da norma produzida por conduto do processo. O devido processo legal substantivo
conecta-se com os princípios de razoabilidade e de proporcionalidade (DIDIER JR., 2013, p. 48-49).
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Esse princípio cria a base para que se possa dialogar em busca da verdade
dos fatos. As partes devem participar de forma ampla e igualitária, sem que
uma versão de mundo se sobreponha a outra pela força ou pela maior dispo-
nibilidade de recursos processuais e materiais (NEVES, 2018, p. 193-194). A
cooperação atua no mesmo sentido, sendo fundamental para tornar o diálogo
entre as partes uma forma de perseguir a verdade, pois o magistrado estará
em pé de igualdade com as partes na correspondência da verdade (NEVES,
2018, p. 205-206).
O princípio, em relação ao magistrado, possui três formas de consubs-
tanciação: o dever de esclarecimento (o magistrado deve pedir esclarecimento
quando necessário); o dever de consultar (o magistrado deve consultar as partes
antes de decidir, para que possam colaborar [influir] na sua decisão); o dever
de prevenir (o magistrado aponta deficiências, pedindo correção). Tudo isso
para que as partes, juntas, em regime de colaboração, concretizem a verdade
no processo (NEVES, 2018, p. 205-206).
A boa-fé processual também é instrumento ético para um ambiente
processual baseado na persecução da verdade. É evidente que não ocorrerá
uma absoluta cooperação processual, visto que as partes têm interesses opos-
tos; por isso, colaborarão com o juízo na medida do possível, mas segundo o
padrão ético exigido. A boa-fé e a lealdade processual visam evitar exagero na
defesa dos valores individuais de cada parte. Vale mencionar que o princípio
é aplicável ao magistrado também (NEVES, 2018, p. 207-209).
Os artigos 77, I, 79 e 80 do CPC/2015 exigem a verdade como dever
dos sujeitos envolvidos no conflito e de seus procuradores, consagrando-a
como necessária para o modelo de justiça adotado pelo ordenamento jurí-
dico brasileiro. Os artigos ainda tratam da litigância de má-fé, condenando
aquele que faltar com a verdade nos atos processuais ou que tentar atrapalhar
a persecução da verdade. Evidencia-se o pressuposto ético do processo e a
possibilidade prática de direcionar o processo para uma decisão pautada pela
verdade (SILVA, 2017, p. 317); a partir daí, persegue-se uma teoria da justiça
para acomodar o caso concreto.
Os artigos 357, II, 370 e 371 demonstram o dever fundamental do
magistrado perseguir a verdade possível e nela fundar seu convencimento.
Por isso, deve delimitar as questões fáticas, determinar as provas necessárias
ao julgamento do mérito, apreciar as provas constantes nos autos e indicar o
motivo do seu conhecimento e de determinado sentido (SILVA, 2017, p. 317).
Fica, assim, evidente o modelo cooperativo no diálogo probatório,
devendo haver a colaboração entre os sujeitos envolvidos no conflito e o
magistrado para alcançar a verdade; uma vez alcançada, o magistrado poderá
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(STJ), por exemplo, que seja realizado um exame de DNA após o trânsito em
julgado e que essa prova seja documentada e utilizada para garantir alimentos
à criança e ao adolescente, desde que haja a documentação dessa prova. Isso
decorre do fato de que a prova nova poderia modificar o convencimento do
órgão julgador (NEVES, 2018, p. 1475).
Desse modo, observa-se que há uma compatibilização entre os valo-
res segurança jurídica e persecução da verdade possível no processo, visto
que a coisa julgada pode ser rescindida em detrimento da verdade dos fatos.
Permite-se que a rescisória seja utilizada no caso de haver a possibilidade do
magistrado alcançar a verdade e tomar uma decisão justa.
Vale mencionar, ainda, que o prazo para a rescisória no caso de prova
nova somente começa a contar da data de sua descoberta. Mais uma evidência
jurídica de que, em alguns casos, a verdade poderá prevalecer, inclusive sobre
a coisa julgada.
8 Para Talamini (2015), por exemplo, “negócio jurídico processual” tem sentido amplo, compreendendo todo ato
jurídico cujo conteúdo é delimitado pela vontade do(s) celebrante(s) e podendo ocorrer tanto de modo unilateral
quanto de modo bilateral. O negócio jurídico processual realizado de modo bilateral denomina-se “convenção
processual”. Há, portanto, uma diferença entre os institutos. Ademais, outro tema que merece destaque é a natureza
jurídica do negócio jurídico processual, que permite antever as suas implicações processuais e até mesmo o modo
como é utilizado. Entretanto, devido ao corte metodológico, essa problemática não será aqui desenvolvida.
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9 Devido ao corte metodológico, não se pretende discutir a natureza normativa do autorregramento das partes, tão
somente evidenciar sua presença no contexto do direito processual civil, especialmente após o CPC/2015.
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Ainda que estejamos diante de uma situação em que o controle por parte
do magistrado seja exigível, observados os princípios da cooperação, boa-fé e
do diálogo processual, é possível que os sujeitos sejam intimados pelo juízo
a adequarem a convenção aos dizeres do ordenamento jurídico (GABRIEL;
MAZZOLA, 2018, p. 4).
Ademais, o texto legislativo utiliza o advérbio “somente” ao se referir
às hipóteses de controle pelo magistrado da convenção processual, dando a
entender que é necessário que o magistrado privilegie a autonomia da vontade
e apenas exerça o controle conforme o rol taxativo do artigo 190, observados os
requisitos de validade de qualquer negócio jurídico (GABRIEL; MAZZOLA,
2018, p. 4).
É oportuno mencionar que não cabe o juízo de conveniência do negócio
jurídico processual feito entre os sujeitos. É necessário que o juiz elucide aos
sujeitos envolvidos as vantagens e desvantagens da convenção, mas nunca
poderá efetivar controle sobre ela, exceto se ocorrer uma das hipóteses de
controle – aplica-se, assim, o in dubio pro libertate.10
É necessário observar com cautela a invalidação parcial do negócio ju-
rídico, bem como a adequação do negócio jurídico ao ordenamento jurídico.
10 “O in dubio pro libertate sugere que uma norma jurídica convencionada obtenha preferência em relação à regra legis-
lada ou à iniciativa do Estado-Juiz, que possui prerrogativas suplementares. Ao magistrado, enquanto um aplicador
de normas jurídicas válidas, não cabe manifestar recusa de aplicar a norma jurídica de base negocial, a menos que
arque com o ônus argumentativo e demonstre a irregularidade da convenção processual ou a violação às posições
subjetivas de direito fundamental em seu núcleo essencial” (VIDAL, 2017, p. 202).
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11 O conceito de indisponibilidade deve ser revisitado para mitigar compreensões tão rigorosas que impossibilitam a
imediata, contínua e gradual concretização dos direitos, principalmente dos sociais. A indisponibilidade é definida
quando se argui pelo retrocesso de tais direitos, visto que, nesse campo, a indisponibilidade mostra-se inflexível,
salvo por autorização constitucional em sentido contrário (SILVA, 2016, p. 202). Nesse sentido, a indisponibilidade
do interesse precisa ser revista, uma vez que os conflitos distributivos requerem negociações, cumprimentos e
acompanhamentos graduais e progressivos, por dependerem, necessariamente, de metas, de objetivos e de resultados
a curto, médio e longo prazo (LOPES, 2006, p. 234). Ademais, o paradigma da indisponibilidade não deve recair
sobre o objeto, mas em quem pode dispor de tal direito, de modo a possibilitar a negociação e a fruição dos direitos
(SILVA, 2016, p. 202).
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Conclusão
De todo o exposto, infere-se que a verdade é essencial à justiça. Para que
se possa falar em uma decisão justa, é fundamental que se persiga a verdade
possível dos fatos. Um modelo de processo que persegue a verdade no con-
texto do ordenamento jurídico processual brasileiro é o modelo de Michele
Taruffo e Luiz Guilherme Marinoni.
Foram demonstradas as possibilidades teóricas, práticas e ideológicas.
Teoricamente, a verdade absoluta não tem espaço no processo, no entanto,
a verdade possível poderá ser um modelo de verdade perseguido para que a
decisão seja justa.
Do ponto de vista ideológico, não há incompatibilidade entre a resolução
de conflitos e a persecução da verdade possível, visto que a forma mais eficaz
e justa de resolver o conflito é pautando a decisão pela verdade.
No prisma prático, o ordenamento jurídico brasileiro fornece ferra-
mentas para que se persiga a verdade, como, por exemplo, o modelo do livre
convencimento motivado (persuasão racional) e o dever do juiz de buscar a
verdade.
O ordenamento jurídico brasileiro também demonstra a obrigatorieda-
de das normas que tratam da colaboração dos sujeitos com a verdade, visando
alcançar a decisão justa e efetiva pelo instrumento do processo.
O CPC/2015 é repleto de artigos que direcionam ao entendimento
sistemático de que a persecução da verdade é norma cogente e não pode ser
superada, salvo nos casos expressos na ordem jurídica. A CRFB/1988 con-
firma tal entendimento, visto que consagrou o princípio do devido processo
legal justo, cujo núcleo mínimo é a colaboração dos sujeitos para a verdade
no processo.
Nesse contexto, o negócio jurídico processual, como instrumento da
autonomia da vontade das partes, que tenha como objeto a persecução da
verdade, poderá ser visto sob dois prismas: o da ampliação dos poderes do
juiz para a persecução da verdade e o da limitação de tais poderes.
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ABSTRACT: The present paper falls within the context of the expansion of the subjects’ freedom from
the introduction of the new general clause of procedural negotiation in article 190 of the 2015 Civil
Procedure Code. The objective is to discuss and delineate, in light of the current procedural legislation,
the limits of the procedural legal business that has as its object the search for the truth by the judge. The
paper starts from the premise that the procedural legal business is a fundamental instrument to guarantee
a fair process and the realization of the subjects’ rights – it cannot serve to limit the pursuit of truth, but
rather should be used to expand it in the procedural conduction.
KEYWORDS: Pursuit of Truth. 2015 Civil Procedure Code. Legal Business. Procedural. Justice.
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
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Referências
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DIDIER JR., Fredie. Sobre a teoria geral do processo, essa desconhecida. 2. ed. rev., ampl. e atual. Salvador:
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