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ISSN 1807-0930

Revista Magister de Direito


Civil e Processual Civil
Ano XVIII – Nº 105
Nov-Dez 2021

Repositório Autorizado de Jurisprudência


Superior Tribunal de Justiça – nº 63/2008

Classificação Qualis/Capes: B1

Editor
Fábio Paixão

Coordenadores
Anderson Schreiber – Daniel Amorim Assumpção Neves – Débora Brandão
Fernanda Tartuce – Flávio Tartuce

Conselho Editorial
Ana Beatriz Presgrave – Ana Luiza Maia Nevares – Angelica Carlini
Arlete Aurelli – Carlos Nelson Konder – Cecília Asperti – Cesar Calo Peghini
Cláudia Lima Marques – Ênio Santarelli Zuliani – Eroulths Cortiano Junior
Fredie Didier Junior – Giselda M. F. Novaes Hironaka – Gisele Góes
Gustavo Tepedino – Heloísa Helena Barboza – José Fernando Simão
José Rogério Cruz e Tucci – Marco Aurélio Bezerra de Melo – Marco Jobim
Maria Helena Diniz – Marilia Pedroso Xavier – Maurício Bunazar
Pablo Malheiros Cunha Frota – Pablo Stolze Gagliano – Rodolfo Pamplona Filho
Rodrigo Reis Mazzei – Rolf Madaleno – Sílvio de Salvo Venosa
Susana Henriques da Costa – Trícia Navarro
Colaboradores deste Volume
Alvaro Lima Sardinha – Ana Lúcia da Silva Campos – Camila Grubert
Cláudio Iannotti da Rocha – Daniel Roberto Hertel – Eveline Denardi
Fábio Siqueira Machado – Guilherme César Pinheiro
João Maurício Brambati Sant’Ana – João Renato Rodrigues Siqueira
Lírio Hoffmann Júnior – Patrícia Verônica Nunes Carvalho Sobral de Souza
Rodrigo Lins Lima Oliveira – Rodrigo Mazzei – Sandoval Alves da Silva Correio
Tiago Bitencourt De David – William Santos Ferreira – William Soares Pugliese
Yan Wagner Cápua da Silva Charlot
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil
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A editoração eletrônica foi realizada pela Editora Magister, para uma tiragem de 5.000 exemplares.

Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil


v. 1 (jul./ago. 2004)-.– Porto Alegre: Magister, 2004
Bimestral.
v. 105 (nov./dez. 2021)
Coordenadores: Anderson Schreiber, Daniel Amorim Assumpção Neves, Débora Brandão, Fernanda
Tartuce e Flávio Tartuce.

ISSN 1807-0930

1. Direito Civil – Periódico. 2. Processo Civil – Periódico.

CDU 347(05)
CDU 347.9(05)

Ficha catalográfica: Leandro Augusto dos Santos Lima – CRB 10/1273


Capa: Apollo 13

Editora Magister
Diretor: Fábio Paixão

Alameda Coelho Neto, 20


Boa Vista – Porto Alegre – RS – 91340-340
Sumário
Doutrina
1. Inventário Extrajudicial e a Existência de Testamento: um Estudo
Exploratório das Disciplinas Internas das Corregedorias dos Tribunais
de Justiça Brasileiros
Rodrigo Mazzei e João Maurício Brambati Sant’Ana ................................................. 5
2. Jeremy Bentham e seu Tratado das Provas Judiciais: um Convite à Leitura
de um Clássico para a Compreensão de Alguns Aspectos Atuais e
Polêmicos do Direito Probatório
William Santos Ferreira, Lírio Hoffmann Júnior e Tiago Bitencourt De David .......... 29
3. Desconsideração da Personalidade Jurídica e a Arbitragem
Alvaro Lima Sardinha e Eveline Denardi................................................................. 44
4. Negócio Jurídico Processual e a Persecução da Verdade
Sandoval Alves da Silva Correio, Rodrigo Lins Lima Oliveira e
João Renato Rodrigues Siqueira ................................................................................ 67
5. A Recorribilidade das Decisões Interlocutórias Não Agraváveis por
Instrumento no CPC/2015
Guilherme César Pinheiro ....................................................................................... 92
6. O Limite Temporal para a Alteração da Competência nas Causas que
Envolvem Interesses de Menores
William Soares Pugliese e Camila Grubert ............................................................. 103
7. O Poder Geral de Cautela no CPC/2015 e suas Limitações
Patrícia Verônica Nunes Carvalho Sobral de Souza, Ana Lúcia da Silva Campos e
Yan Wagner Cápua da Silva Charlot ...................................................................... 116
8. O Contraditório e o Dever das Partes à Colaboração Processual
Cláudio Iannotti da Rocha e Fábio Siqueira Machado ............................................. 136
9. Tutela Provisória no Código de Processo Civil Brasileiro: um Enfoque nos
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça
Daniel Roberto Hertel ............................................................................................ 154

Jurisprudência
1. Superior Tribunal de Justiça – Ação de Reconhecimento de Maternidade
Socioafetiva Post Mortem. Preliminar. Técnica de Julgamento Ampliado.
Julgadores Adicionais. Quantidade. Princípio do Juízo Natural. Modificação
de Voto. Possibilidade. Sustentação Oral. Oportunidade
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva ..................................................................... 167
2. Superior Tribunal de Justiça – Redirecionamento da Execução Fiscal,
na Hipótese de Dissolução Irregular da Pessoa Jurídica Executada.
Impossibilidade de Ser Considerado como Responsável Tributário o
Sócio ou o Terceiro Não Sócio que, Apesar de Exercer a Gerência da
Pessoa Jurídica Executada, à Época do Fato Gerador, dela Regularmente
se Afastou, sem Dar Causa à sua Posterior Dissolução Irregular. Tema nº
962/STJ. Recurso Especial Improvido
Relª Minª Assusete Magalhães................................................................................ 172
3. Superior Tribunal de Justiça – Ação de Indenização. Acidente
de Trânsito. Requisitos de Admissibilidade do Recurso Especial:
Revaloração dos Fatos. Cabimento. Não Incidência do Enunciado
nº 7/STJ. Recurso Devidamente Fundamentado. Não Incidência do
Enunciado nº 284/STF. Inexistência de Fundamento Constitucional
Autônomo Necessário para Interposição de Recurso Extraordinário.
Mérito: Limites Objetivos e Subjetivos da Coisa Julgada. Terceiro
Alheio ao Prévio Processo Indenizatório. Impossibilidade de Incidência
da Coisa Julgada Formada em Processo de que Não Foi Parte
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino ..................................................................... 192
Doutrina

Negócio Jurídico Processual e a


Persecução da Verdade
SanDoval alveS Da Silva correio
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará
(UFPA); Procurador do Trabalho lotado na Procuradoria Regional
do Trabalho da 8ª Região; Professor na Graduação e na Pós-
Graduação em Direito na Universidade Federal do Pará (UFPA);
Membro do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual;
Associado da ANNEP (Associação Norte Nordeste dos Professores
de Processo); e-mail: sandoval.silva@mpt.mp.br.

roDrigo linS liMa oliveira


Advogado; Mestrando em Direito pela Universidade Federal do
Pará (UFPA); Pós-Graduando Lato Sensu em Processo Civil pela
Escola Superior da Advocacia (ESA); Graduado na Universidade
Federal do Pará; e-mail: rodrigolins4429@gmail.com.

João renato roDrigueS Siqueira


Mestrando e Graduado em Direito pela UFPA; Bolsista de
Iniciação Científica PIBIC 2019-2020; Assessor Jurídico da
Procuradoria Regional do Trabalho da 8ª Região;
e-mail: joao.renato.rs@gmail.com.

RESUMO: O presente trabalho insere-se no contexto de ampliação da liber-


dade dos sujeitos a partir da introdução da nova cláusula geral de negociação
processual no artigo 190 do Código de Processo Civil de 2015. O objetivo é
discutir e delinear, à luz da sistemática da legislação processual vigente, os limites
do negócio jurídico processual que tenha como objeto a persecução da verdade
pelo juiz. O artigo parte da premissa de que o negócio jurídico processual é um
instrumento fundamental para garantir um processo justo e a concretização dos
direitos dos sujeitos – não podendo servir para limitar a persecução da verdade,
devendo antes ser utilizado para ampliá-la na condução processual.

PALAVRAS-CHAVE: Persecução da Verdade. Código de Processo Civil de 2015.


Negócio Jurídico. Processual. Justiça.

SUMÁRIO: Introdução. 1 Verdade e Processo; 1.1 Substitutividade e a Relação


com a Verdade; 1.2 Teorias da Verdade no Processo. 2 Verdade no Ordenamento
Jurídico Brasileiro; 2.1 Devido Processo Legal Justo e o Dever de Colaboração;
2.2 Persecução da Verdade no CPC/2015. 3 Negócio Jurídico Processual; 3.1
Cláusula Atípica de Negócio Jurídico Processual no CPC/2015; 3.2 Autonomia
da Vontade e Controle de Validade pelo Magistrado; 3.3 Validade e Eficácia dos
Negócios Jurídicos Processuais. 4 Análise Abstrata das Limitações e Permissões
do Negócio Jurídico Processual sobre a Persecução da Verdade. Conclusão.
Referências.
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Introdução
A presente pesquisa visa analisar o negócio jurídico processual que trata
da persecução da verdade no contexto do Código de Processo Civil (CPC) de
2015. O trabalho parte do exame de presunções que afastam a persecução da
verdade do caso concreto, por serem usadas como fundamentos de decidir;
por não perseguirem a verdade no processo, não garantem o acesso à ordem
jurídica. Por conseguinte, tampouco geram a conformação dos litigantes e a
consequente pacificação social ou apreciação do mérito da causa com justiça.
Dessa forma, analisar-se-á a cláusula geral de negócio jurídico processual
no CPC/2015 e a persecução da verdade no nível constitucional e infralegal,
visando dar valoração formal ao negócio jurídico processual para perseguir
a verdade no processo. Objetiva-se, assim, dar aplicabilidade à convenção
processual que amplie a persecução da verdade e negar validade àquela que
vise limitá-la.
Em síntese, este estudo visa demonstrar a possibilidade de utilizar a fer-
ramenta do negócio jurídico processual como meio para ampliar a persecução
da verdade no processo, bem como demonstrar a inviabilidade do contrário,
sempre tendo em vista alcançar a aplicação do princípio do acesso à ordem
jurídica justa no campo processual.
O trabalho desenvolve-se em quatro etapas, tendo o intuito de de-
monstrar que a persecução da verdade é um mandamento do CPC/2015 e da
Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988.
No primeiro momento, busca-se demonstrar que a verdade é elemento
indissociável da substituição dos sujeitos pelo juiz na atividade jurisdicional.
Sem um substrato fático, o juiz não poderá compreender as razões dos en-
volvidos e, consequentemente, não poderá substituir-se às suas vontades de
maneira adequada e justa derivadamente.
No momento seguinte, são analisadas as teorias da verdade que a consi-
deram irrelevante para o processo, as que negam a existência de uma verdade
e as que acreditam haver uma verdade que deve ser perseguida no processo.
Em seguida, entrar-se-á no negócio jurídico processual, examinando seu
conceito, sua validade e sua eficácia. Quanto à validade e à eficácia, analisar-
se-ão as coincidências e divergências entre o negócio jurídico material e o
processual, buscando-se definir as delimitações em abstrato para enquadrar
o objeto da persecução da verdade.
Por último, analisar-se-á o negócio jurídico processual à luz da norma-
tividade brasileira, visando demonstrar sua aplicabilidade com base em casos
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abstratos, mencionando algumas possibilidades de negociação processual,


a fim de comprovar que é possível a persecução da verdade no processo no
ordenamento jurídico pátrio.

1 Verdade e Processo

1.1 Substitutividade e a Relação com a Verdade


Sempre houve mecanismos para resolver os conflitos entre indivídu-
os. Cumpre ressaltar em um primeiro plano que, após a autotutela, em que
prevalecia o direito do mais forte, havendo pouca racionalidade na resolução
de conflitos, a participação no conflito era pautada pelas próprias convicções,
emoções, intuições e razões do juiz de forma bárbara e sem os preceitos de
igualdade (SILVA, 2017, p. 299).
Com a estatização da jurisdição, foi transmitido ao Estado o dever de
decidir o litígio entre os indivíduos ou sujeitos envolvidos. Houve um ganho
na racionalidade da decisão, uma vez que se transmitia o litígio a terceiro,
que absorvia os sentimentos dos sujeitos envolvidos e emitia uma decisão
imparcial (SILVA, 2017, p. 299).
A substitutividade é uma característica inerente à jurisdição. Trata-se
de um modelo de heterocomposição: um terceiro substitui as vontades das
partes ou dos envolvidos e determina a solução do problema apresentado
(DIDIER JR., 2019, p. 189). Os sujeitos aceitam essa forma de solução do
conflito, seja por acordo material individual (arbitragem), seja por contrato
social processual (jurisdição pública).
Entretanto, com o passar do tempo, houve um distanciamento entre
os sujeitos que litigavam e o juiz que detinha o poder decisório, o que gerou
incongruências. Como poderia haver a substituição adequada do demandante
pelo juiz se ele não detinha as razões e os sentimentos dos sujeitos envolvidos
no processo?
A substituição permaneceu ocorrendo sem a percepção da dor ou do
trauma dos envolvidos, suscitando a dificuldade de conseguir, como resultado,
uma decisão justa. O advogado foi um dos catalisadores desse afastamento,
uma vez que postula somente em interesse de sua parte no litígio, podendo,
inclusive, inventar emoções e criar razões para influir no convencimento do
magistrado, negligenciando a vivência do demandado, pois orienta os sujeitos
do litígio para uma versão mais compatível com a alegação que favorece a parte
que patrocina (SILVA, 2017, p. 299-300).
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A indignação é ainda maior quando o derrotado sucumbe em virtude de


regras presuntivas, uma vez que, nesse caso, há uma ficção da realidade, não se
constatando que o fato1 existiu ou que a razão e o sentimento ocorreram; eles
presumem-se ocorridos, sem que haja a persecução do real fato e da vivência
dos envolvidos na demanda (SILVA, 2017, p. 301).
Desse modo, o juiz deve utilizar mecanismos para alcançar a verdade dos
fatos, as emoções e sensações dos sujeitos a fim de proferir decisão justa. Ele
deve suprir o vácuo de vivência2 que é deixado por todos os acontecimentos
que o distanciam da verdade das partes (SILVA, 2017, p. 302).
A forma de suprir esse vácuo entre as versões de mundo apresenta-
das pelas partes é justamente perseguir a verdade ou, minimamente, tentar
persegui-la, visto que a persecução da verdade é a razão de ser da versão fática
da demanda que será analisada pelo magistrado.
São nítidas a necessidade e a dependência de verdade e de justiça no
modelo jurisdicional. Não há como proferir uma decisão justa, substituindo-
se as partes em sentimentos e razões, sem que se conheçam os fatos que as
levaram a litigar, pois são essas versões que buscam suprir o vácuo de vivência
das partes pelo juiz, que pouco ou nada sabe das razões e dos sentimentos
dos envolvidos no litígio. A ação processual somente se pode concretizar de
maneira justa quando a persecução da verdade do fato puder ser enquadrada
na hipótese normativa (SILVA, 2017, p. 303).
A verdade precisa ser perseguida pelo juiz para que possa haver uma
decisão justa, sendo necessário que o magistrado substitua aos sujeitos da me-
lhor forma, entendendo as angústias e razões de todos os sujeitos envolvidos,
a fim de proferir uma decisão de acordo com a real vivência deles. Deve ser
afastada a convicção de dúvida (SILVA, 2017, p. 323).
Isso demonstra a importância das teorias da verdade para as teorias da
justiça, já que estas só têm assento lógico se partirem de premissas verdadeiras.
Do contrário, a justiça fenece antes mesmo de ser pensada ou teorizada, pois

1 Cumpre destacar, para os fins do presente artigo, a diferença entre fato, evento e versão fática. Segundo Ferraz
Junior (2015, p. 255-256), o evento é um acontecimento do mundo da realidade sem qualquer relato linguístico,
ao passo que o fato é a enunciação de uma determinada situação delimitada no tempo e no espaço. Nesse sentido,
o fato somente se revelará para o direito e, por conseguinte, desencadeará os efeitos jurídicos atinentes por meio
do relato. É esse relato que se denomina versão fática, a qual é baseada na percepção individual ou coletiva e que
se converte em linguagem normativa. De acordo com Taruffo (2012, p. 60-61), a narrativa, isto é, a versão fática, é
todo e qualquer enunciado em que um determinado evento é descrito como ocorrido no mundo real. Desse modo,
os fatos são os eventos ou o conjunto de eventos atinentes “à vida do indivíduo”.
2 O vácuo de vivência caracteriza-se pela insensibilidade ante os problemas e dores do outro, dada a ausência de vivência
e de apreensão de outro modo de vida, diferente do meu. Esse vácuo acarreta a dificuldade de compreender o outro,
de gerar empatia, podendo levar ao desenvolvimento de julgamento injustos, infundados e descontextualizados
(SILVA, 2019, p. 292).
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a aplicação de qualquer teoria da justiça que não tenha base na verdade ou


minimamente na sua persecução é uma justiça natimorta.
É inerente à atividade jurisdicional a substituição dos sujeitos em
conflito pelo juiz.3 Assim, é essencial que a substituição seja feita com base
na verdade. Por outras palavras, é fundamental que o juiz conheça os fatos
ocorridos, as angústias sofridas e as razões daquele litígio para proferir um
julgamento adequado e justo. Não é possível que o juiz detenha a vontade das
partes para resolver o litígio sem conhecer dos fatos e das razões.
A primeira tarefa de substituição pelo juiz é a concretização4 do direito,
que passa pela convicção acerca da verdade dos fatos (cognição), e a segunda
tarefa é a efetivação5 da tutela jurisdicional, que significa realizar o direito no
mundo dos fenômenos (execução).
Desse modo, sendo o processo civil um meio para a tutela jurisdicional
“adequada, efetiva e tempestiva” dos direitos por meio de um processo justo,
devem-se adotar todas as técnicas processuais necessárias e idôneas para a sua
efetivação (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2015b, p. 23-24).
Portanto, a concretização e a realização do direito a uma tutela jurisdicional
justa passam, necessariamente, pela persecução da verdade, sendo fundamental
o conhecimento de suas diversas teorias.

1.2 Teorias da Verdade no Processo


As teorias da verdade são classificadas por Michele Taruffo (2005) da
seguinte maneira: as que admitem a verdade no processo; as que não admitem
a verdade no processo; as que acreditam ser irrelevante a busca da verdade no
processo. Todas serão analisadas sob três prismas: teórico; ideológico e prático.
A primeira linha de pensamento, bem difundida e orientadora da quase
totalidade da atividade processual probatória na jurisdição brasileira, defende
a impossibilidade de se alcançar a verdade dos fatos no processo civil.
Existem três principais impossibilidades nessa linha. A primeira impos-
sibilidade é a teórica, que figura na teoria da verdade, sem pensar na prática ou
na finalidade do processo. Nessa linha, figuram os idealistas, que entendem

3 Em contraposição ao vácuo de vivência, o excesso de vivência é dor e trauma sentidos de tal sorte que se perde
a racionalidade, isto é, é a condição em que a análise do caso fica prejudicada pela exacerbada vivência pessoal do
indivíduo ante o conflito ou conflitos semelhantes, de modo que não consegue dissociar tal análise das experiências
pretéritas. Portanto, o julgamento fica tendencioso, viciado e predeterminado pelos fatos.
4 O termo “concretização” é a interpretação do direito ante o caso concreto (SILVA, 2016, p. 72).
5 O termo “efetivação” é empregado enquanto “realização” do direito, que se constata quando a concretização produz
efeitos reais no mundo e significa efetividade, implementação ou realização material da concretização do direito
(SILVA, 2016, p. 72).
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que o conhecimento está no plano da mente, ou seja, tudo o que a mente


capta é mera percepção derivada dos sentidos, uma vez que o plano mental
não tem ligação com o mundo tangível. As referidas teses visam dissolver a
possibilidade da verdade no plano teórico da filosofia, mas, quando confron-
tadas com a realidade da teoria da prova, tornam-se dificilmente aplicáveis
(TARUFFO, 2005, p. 30-36).
Há também quem defenda a impossibilidade ideológica. Nesse caso,
afirma-se que a verdade do processo não deve ser perseguida, uma vez que não
é o objetivo principal do processo e ainda atrapalha o seu objetivo principal
(TARUFFO, 2005, p. 37).
Existem duas oposições entre as ideologias e as funções processuais. De
acordo com a primeira, a finalidade do processo é resolver conflitos. Logo, a
persecução da verdade poderá ser preterida pela solução de conflitos, ou seja,
a decisão deve satisfazer as partes dando uma resposta sem levar em conta
a verdade, visando unicamente solucionar o conflito. Apesar disso, há uma
nítida contradição nessa afirmação, visto que um bom critério para resolver
os conflitos de forma definitiva seria pautar a decisão pela verdade dos fatos
(TARUFFO, 2005, p. 39).
Outra oposição resultaria do fato de que o processo é um espaço para
liberdade e autonomia dos sujeitos, configurando-se – de certo modo – um
modelo inquisitivo a ação ou atividade do juiz no sentido de perseguir a verda-
de, que supostamente violaria as garantias das partes e teria caráter autoritário
(TARUFFO, 2005, p. 40-44).
Não há vínculo entre persecução da verdade e modelo inquisitivo,
tampouco entre não persecução e modelo dispositivo. No entanto, o que
ocorre no modelo inquisitivo é uma deturpação da persecução da verdade
para satisfazer a interesses particulares, totalmente não racional e diferente
dos modelos tangíveis de alcance da verdade (TARUFFO, 2005, p. 40-44).
Não devemos confundir a busca da verdade real, de forma completa-
mente arbitrária, com a persecução da verdade de forma racional e passível
de controle. Qualquer instituto pode ser interpretado e deturpado de forma
a prejudicar o devido processo legal, cabendo a devida utilização nas confor-
midades éticas, teóricas, ideológicas, práticas e constitucionais.
Quanto aos que negam a verdade pela impossibilidade prática de
alcançá-la, afirmam que o processo não tem meios para alcançá-la. O juiz não
dispõe de alternativas legais suficientes para tentar chegar a tal verdade. Haveria
ainda a limitação pelo tempo e a liberdade para tanto. Ora, isso nitidamente
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 73

poderá ser superado, inclusive por meios jurídicos, de forma a dar a liberdade
ao juiz para perseguir tal verdade (TARUFFO, 2005, p. 45).
O conceito que se nega pela prática é nitidamente o de verdade absoluta,
que obviamente não é o ideal para o caso. Deve ser tomada como parâmetro
uma verdade tangível e relativa que possa, dentro das limitações concretas, ser
alcançada e não ser totalmente diferente da verdade dos fatos (TARUFFO,
2005, p. 46-47).
Obviamente, haverá modelos processuais que não possuam instru-
mentos jurídicos que colaborem para que a verdade possível seja alcançada,
mas isso não quer dizer que não poderá haver processos que possuam regras
suficientes para esse fim (TARUFFO, 2005, p. 46-47).
Um ordenamento jurídico que tenha compromisso com a justiça, seja
qual for a teoria adotada, não pode deixar de ter mecanismos de persecução
da verdade pelo magistrado e de amplo diálogo probatório dos sujeitos para
permitir uma substituição adequada da vontade originária dos envolvidos
no conflito em regime derivado pela vontade do juiz, o qual poderá sentir e
racionalizar os acontecimentos (SILVA, 2017, p. 302), isto é, para fazer revi-
ver o drama de uma confiança traída, de uma emoção ridicularizada ou do
sofrimento de uma injustiça sofrida (RIGAUX, 1997, p. 53).
Tais acontecimentos buscam suprir o vácuo de vivência do juiz, uma
vez que um ordenamento jurídico que reduz o conhecimento dos fatos pelo
órgão decisor é injusto proporcionalmente ao grau de sua limitação.
Há também os que acreditam ser irrelevante a persecução da verdade
no processo. Assim, a interpretação e as atividades são apenas retóricas, sendo
a finalidade final do advogado narrar um fato para convencer o juiz, pouco
importando se a verdade será alcançada ou não (TARUFFO, 2005, p. 48-51).
A segunda variante dessa linha entende que existem métodos semióticos
que são aplicados a problemas linguísticos, ou seja, o processo é um espaço em
que são criadas narrativas pelas partes; por isso, deve ser estudado do ponto
de vista linguístico, não havendo uma efetiva ligação com o mundo empírico.
Uma expressão linguística poderá somente remeter a outras, e assim por diante,
em um ciclo sem fim e dissocia a realidade da linguagem do processo. Tudo é
uma narração e assim deve ser considerado, sendo irrelevante a verdade dos
fatos para o processo (TARUFFO, 2005, p. 52).
Nesse caso, a finalidade da teoria da prova não é o fato em si, mas antes
a afirmação que se faz dele. Um fato em si não pode ser verdadeiro ou falso
no processo, mas a assertiva que os sujeitos envolvidos fazem dele, na petição
inicial ou na contestação, é o que será alvo de comprovação da prova.
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
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Há, finalmente, aqueles que acreditam que a verdade é relevante para


o processo, o qual poderia de algum modo alcançá-la, sendo o processo dire-
cionado para uma verdade provável. Primeiramente, há os que acreditam na
possibilidade teórica de se encontrar a verdade ainda que no campo do possível.
Menciona-se o realismo ingênuo, que trata do fato de que o conhecimento
é igual à realidade em sua integralidade, sendo possível ao intelecto humano
conhecer a realidade (TARUFFO, 2005, p. 53-57).
O realismo ingênuo parece não ser compatível com o processo, visto
que o processo dificilmente terá contato direto com os fatos para afirmar que
determinada percepção ou prova é a realidade dos fatos.
Há também os realistas críticos que estabelecem uma correlação de
correspondência, em certa medida, entre a linguagem e o mundo empírico.
Estabelecem que há uma linguagem por correspondência, sendo possível,
com base nas afirmações e na dialética, alcançar a verdade possível sobre a
assertiva linguística (TARUFFO, 2005, p. 59).
Dependendo do marco referencial adotado, pode surgir uma versão
do mundo que seria igualmente aceita como outra versão, advinda de outro
marco referencial. Assim, há diversas versões que são possíveis, e igualmente
aceitáveis, sendo necessário que a verdade no processo coincida com alguma
dessas versões (TARUFFO, 2005, p. 60-62).
Não existe uma verdade percebida pelos sentidos de forma absoluta,
existe somente uma versão de mundo tão plausível quanto outras. A verdade
nesse sentido é um atributo de determinadas versões de mundo, sendo ina-
ceitável que duas versões de mundo totalmente opostas possuam o atributo
de serem verdadeiras (TARUFFO, 2005, p. 60-62).
O debate processual deverá preencher alguns requisitos para que não
haja a imposição forçada de uma versão de mundo sobre a outra: isonomia
entre os debatedores (concretizado pela paridade de armas); proibição da con-
trovérsia erística (disputa argumentativa no debate) para alcançar a verdade dos
fatos; desconsideração da matemática pitagórica na avaliação da verdade (como
capaz de definir o que é ou não verdadeiro) (MARINONI; ARENHART;
MITIDIERO, 2015a, p. 53).
As teorias para sustentar que a verdade pode (e deve) ser compatibilizada
com os objetivos do processo e da jurisdição, sendo fundamental para uma
decisão justa com base na verdade possível. A decisão justa não é incompatí-
vel com o escopo processual de resolução dos conflitos, visto que a melhor
forma de resolver o conflito e de promover a paz social, no que concerne à
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 75

verdade, seria uma resolução justa. Conclui-se, então, que a busca da verdade
é condição para qualquer decisão justa (TARUFFO, 2005, p. 63-65).
A justiça é um fundamento do direito, e não apenas do processo; como
tal, deverá ser objetivo do Estado ao se substituir aos sujeitos e exercer a juris-
dição. Conforme já explicitado, independentemente do modelo de justiça que
seja usado, todas as teorias da verdade estão condicionadas à realidade dos fatos.
Desse modo, a decisão será injusta e incorreta caso não resida em um
substrato fático, concreto e real. Na teoria da decisão é necessário que se
identifique o fato para que o juiz possa aplicar a norma ao conjunto fático
apresentado, consubstanciando uma decisão verdadeira (TARUFFO, 2005,
p. 66-67).
Ainda há quem se posicione de maneira a aceitar o afastamento da
verdade do caso concreto, mas é impossível esperar que possa ser construída
uma decisão justa e democrática, visto que faltará a essência dessa decisão
justa, que reside na correspondência possível entre o evento fenomênico e
as versões apresentadas, pois o fato é tão importante na incidência da norma
ou na ponderação e na subsunção da norma ao fenômeno ocorrido quanto a
hipótese normativa (TARUFFO, 2005, p. 69-70).
O processo será autoritário se não perseguir a verdade, visto que não
haverá fundamento fático que busca alcançar a verdade para a decisão, a qual
será arbitrária e violadora de garantias fundamentais, por não se preocupar com
um dos principais efeitos na aplicação do direito – a persecução da verdade
para que a norma opere a existência, a validade, a eficácia e os efeitos dos atos
e fatos jurídicos (TARUFFO, 2005, p. 69-70).
Há também quem acredite que a verdade deve nortear o processo. São
os teóricos que defendem a existência de um ordenamento jurídico capaz de
permitir ao magistrado e às partes perseguirem a verdade dos fatos. Ainda
assim, existem críticas às normas que limitam e regulam a busca da verdade
(TARUFFO, 2005, p. 72).
Primeiramente, deve-se observar que tais normas são residuais, não
diferenciando a verdade do processo daquela que há fora dele, sendo neces-
sárias, em algum grau, para a concretização valores jurídicos. Além disso, há
muitas regras que, em sentido oposto, dão liberdade ao juiz e aos envolvidos
no conflito para atuarem perseguindo a verdade e para assumirem o dever de
manifestar-se de acordo com ela (TARUFFO, 2005, p. 72).
Segundo a premissa que consagra o modelo da verdade possível, as
regras que limitam as provas que o magistrado pode utilizar para descobrir
a verdade existem para consagrar valores jurídicos. Na realidade, “o direito
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
76

não tem um compromisso inflexível de alcançar a verdade” (MARINONI;


ARENHART; MITIDIERO, 2015a, p. 40).
O que há é um dever de persegui-la sob pena de proferir decisões in-
justas. Essas limitações não são suficientes para justificar uma diferenciação
entre verdade processual e verdade material, visto que ambos os campos são
limitados.
No processo, há regras que limitam a produção de provas e o dever
fundamental da persecução da verdade pelo magistrado, mas o campo ex-
traprocessual também é limitado em relação ao alcance da verdade. Assim,
ambas as verdades são possíveis e não podem ser totalmente divergentes. Daí a
necessidade de que os aspectos de fora do processo sejam analisados na teoria
da prova, uma vez que, quanto mais forem convergentes as circunstâncias
(contexto6), mais parecidas serão as verdades possíveis (TARUFFO, 2005,
p. 74-75).
Desse modo, é fundamental que sejam concebidos, de forma geral, os
meios de prova, tal como ocorre na teoria do livre convencimento motivado,
utilizada no ordenamento jurídico pátrio. Apenas assim, os aspectos internos
e externos do processo poderão assemelhar-se.
Seguindo essa razão, fica evidente que podem ser criadas infinitas
versões de realidade, seja pelo contexto, seja pelo subjetivismo do analisador.
Independentemente disso, tudo caminha para uma verdade possível, ou seja,
um norte, para que se adote a correta versão de mundo, havendo uma dife-
rença quantitativa em relação às versões de mundo e inclusive entre a versão
processual e a versão material (TARUFFO, 2005, p. 76).
Há uma conexão entre a verdade processual e a não processual, pois
ambas fazem parte de determinada verdade possível, que abarca diversas ver-
sões de mundo e que se diferenciam pelo contexto ou pela análise do objeto
em questão. Desse modo, não pode haver total divergência entre a verdade
processual e a não processual (TARUFFO, 2005, p. 79).
Nesse prisma, conclui-se que as regras que limitam a busca da verdade
no processo nada mais são que uma diferença de contexto, que não desqualifica
a versão de mundo em que se encontram, devendo ser considerada enquanto
uma verdade possível (TARUFFO, 2005, p. 79).

6 Contexto é o conjunto de circunstâncias relativas aos marcos referenciais de uma versão de mundo, dizendo respeito
especialmente à cultura, à língua, às regras, aos conceitos, às noções e aos meios de conhecimento. São os marcos
de referência que fundamentam determinada versão de mundo. É o contexto que faz com que as verdades sejam
possíveis, uma vez que altera o marco referencial da visão de mundo conforme se alteram suas circunstâncias (TA-
RUFFO, 2005, p. 75).
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 77

Partindo dessas premissas e desse modelo de verdade, examinar-se-á


como isso pode ser alcançado na prática, bem como no contexto do ordena-
mento brasileiro, especialmente na CRFB/1988 e no CPC/2015.

2 Verdade no Ordenamento Jurídico Brasileiro

2.1 Devido Processo Legal Justo e o Dever de Colaboração


A busca da justiça pelo processo está constitucionalmente expressa no
direito fundamental ao processo justo (devido processo legal substancial),
conforme o artigo 5º, inciso LIV, da CRFB/1988.7 Trata-se de condição mínima
para a justiça, pois o processo não pode distanciar-se do conceito de justiça
(MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2015c, p. 489).
O termo justiça é vago, possuindo, assim, diversas concepções. Dessa
forma, como seria possível delimitar a justiça buscada pelo processo? É difícil
definir um conceito fechado de justiça, mas é possível delimitar o mínimo
para que o processo não seja injusto, núcleo mínimo do devido processo legal.
Os principais pontos são a colaboração das partes com o juiz e a possibilidade
de uma tutela jurídica efetiva como o contraditório e a ampla produção de
provas, podendo haver mais requisitos (MARINONI; ARENHART; MITI-
DIERO, 2015a, p. 491).
É sobre a colaboração que cabe uma observação interessante: a colabo-
ração visa colocar o magistrado no mesmo patamar das partes, estabelecendo
um verdadeiro diálogo, tendo por objetivo chegar a uma decisão justa, com
base em versões fáticas verdadeiras (MARINONI; ARENHART; MITIDIE-
RO, 2015a, p. 494).
A colaboração possui três pressupostos que militam no sentido da
persecução da verdade: o social, o lógico e o ético. De acordo com o social,
o Estado não poder ser visto como inimigo, devendo o juiz estar no patamar
dos envolvidos. O lógico demonstra que o processo precisa ter uma feição
argumentativa, retirando-se a imagem da completude processual, no sentido
de não haver problemas no processo. Por fim, o ético preconiza a colaboração

7 Originalmente, o devido processo legal foi compreendido como uma garantia procedimental relacionada a exigências
formalistas. As garantias processuais do devido processo legal procedimental determinam, de um lado, as normas
jurídicas em que são estipuladas (enfoque objetivo) e, de outro lado, os direitos subjetivos dos indivíduos e os
respectivos deveres dos agentes estatais (enfoque subjetivo). Assim, a expressão “garantias processuais” refere-se à
norma jurídica em sua integralidade e à parte da norma que prevê os efeitos atribuídos ao fato jurídico. A dimensão
substantiva do devido processo legal (substantive due process of law) vai além do modo de produção do ato do poder
público, abordando o mérito da norma produzida por conduto do processo. O devido processo legal substantivo
conecta-se com os princípios de razoabilidade e de proporcionalidade (DIDIER JR., 2013, p. 48-49).
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
78

para que se persiga a verdade dos fatos (MARINONI; ARENHART; MITI-


DIERO, 2015a, p. 495).
Sendo assim, para que haja o mínimo do devido processo legal justo,
é necessária a colaboração, a qual possui como pressuposto a concretização
da persecução da verdade. Portanto, a colaboração é um pressuposto mínimo
para a concretização do devido processo legal. O pressuposto ético almeja a
interação dos sujeitos para que o magistrado possa proferir uma decisão justa,
o que corrobora a tese de que o devido processo legal inclui como elemento
essencial a persecução da verdade (MARINONI; ARENHART; MITIDIE-
RO, 2015a, p. 496).
O caráter multifacetado do devido processo legal justo requer a criação
de mecanismos que o concretizem. O CPC/2015 positivou diversos meca-
nismos que geram o poder-dever do juiz de perseguir a verdade e colaborar
com as partes para esclarecer os fatos, deixando nítido o núcleo mínimo desse
princípio que trata da colaboração para a busca da verdade.

2.2 Persecução da Verdade no CPC/2015


O CPC/2015 demonstra que a persecução da verdade não constitui
uma norma meramente dispositiva que poderia ser superada; trata-se de
mandamento legal fundado na ordem constitucional para que o magistrado
busque a verdade dos fatos a fim de proferir uma decisão justa, concretizando
o devido processo legal justo.
A sistemática adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro destina-se a
dar ao juiz o poder-dever de perseguir a verdade, impondo-lhe atuar de for-
ma a buscar sua convicção, e ganhou enorme importância com o CPC/2015
(SILVA, 2017, p. 315).
A partir da interpretação construtiva do ordenamento brasileiro, é
possível aferir que o modelo de persecução da verdade é reafirmado pelo
CPC/2015 nos artigos 5º, 6º e 7º, que consagram a boa-fé, a paridade de armas
e a colaboração como obrigação das partes, indicando que esse comportamento
é fundamental para que seja alcançada a decisão justa e em tempo razoável
(SILVA, 2017, p. 315-316).
A paridade de armas, expressa na isonomia processual, mantém equi-
librada a disputa processual e garante a imparcialidade do magistrado. A iso-
nomia, mais que a paridade de armas formal, traduz-se na paridade material,
sendo necessário que o magistrado iguale as partes, propondo mecanismos
desiguais quando as partes forem desiguais (NEVES, 2018, p. 193).
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 79

Esse princípio cria a base para que se possa dialogar em busca da verdade
dos fatos. As partes devem participar de forma ampla e igualitária, sem que
uma versão de mundo se sobreponha a outra pela força ou pela maior dispo-
nibilidade de recursos processuais e materiais (NEVES, 2018, p. 193-194). A
cooperação atua no mesmo sentido, sendo fundamental para tornar o diálogo
entre as partes uma forma de perseguir a verdade, pois o magistrado estará
em pé de igualdade com as partes na correspondência da verdade (NEVES,
2018, p. 205-206).
O princípio, em relação ao magistrado, possui três formas de consubs-
tanciação: o dever de esclarecimento (o magistrado deve pedir esclarecimento
quando necessário); o dever de consultar (o magistrado deve consultar as partes
antes de decidir, para que possam colaborar [influir] na sua decisão); o dever
de prevenir (o magistrado aponta deficiências, pedindo correção). Tudo isso
para que as partes, juntas, em regime de colaboração, concretizem a verdade
no processo (NEVES, 2018, p. 205-206).
A boa-fé processual também é instrumento ético para um ambiente
processual baseado na persecução da verdade. É evidente que não ocorrerá
uma absoluta cooperação processual, visto que as partes têm interesses opos-
tos; por isso, colaborarão com o juízo na medida do possível, mas segundo o
padrão ético exigido. A boa-fé e a lealdade processual visam evitar exagero na
defesa dos valores individuais de cada parte. Vale mencionar que o princípio
é aplicável ao magistrado também (NEVES, 2018, p. 207-209).
Os artigos 77, I, 79 e 80 do CPC/2015 exigem a verdade como dever
dos sujeitos envolvidos no conflito e de seus procuradores, consagrando-a
como necessária para o modelo de justiça adotado pelo ordenamento jurí-
dico brasileiro. Os artigos ainda tratam da litigância de má-fé, condenando
aquele que faltar com a verdade nos atos processuais ou que tentar atrapalhar
a persecução da verdade. Evidencia-se o pressuposto ético do processo e a
possibilidade prática de direcionar o processo para uma decisão pautada pela
verdade (SILVA, 2017, p. 317); a partir daí, persegue-se uma teoria da justiça
para acomodar o caso concreto.
Os artigos 357, II, 370 e 371 demonstram o dever fundamental do
magistrado perseguir a verdade possível e nela fundar seu convencimento.
Por isso, deve delimitar as questões fáticas, determinar as provas necessárias
ao julgamento do mérito, apreciar as provas constantes nos autos e indicar o
motivo do seu conhecimento e de determinado sentido (SILVA, 2017, p. 317).
Fica, assim, evidente o modelo cooperativo no diálogo probatório,
devendo haver a colaboração entre os sujeitos envolvidos no conflito e o
magistrado para alcançar a verdade; uma vez alcançada, o magistrado poderá
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
80

assimetricamente impor a decisão, fundada na verdade possível alcançada nos


autos (SILVA, 2017, p. 317).
O dever fundamental de persecução da verdade também é expresso no
artigo 357 do CPC, por exigir que o magistrado resolva as questões processuais
pendentes no saneamento processual. Nesse momento, o magistrado deverá
distribuir o ônus da prova, definindo o que o sujeito precisar provar. O ônus
da prova como regra de julgamento apenas deverá ser usado em último caso,
por se tratar de presunção, que pode ir contra a verdade dos fatos e levar a
uma decisão injusta por falta de persecução da verdade possível (SILVA, 2019,
p. 319).
No capítulo do CPC/2015 que trata da ação rescisória, há pelo menos
duas hipóteses que tratam diretamente desse compromisso do código com o
valor da verdade nas decisões judiciais. Tais hipóteses estão consagradas no
artigo 966, incisos VI e VII.
O inciso VI do artigo 966 indica que o CPC/2015 busca rescindir o
trânsito em julgado de uma decisão que pode estar baseada num conheci-
mento errôneo sobre os fatos em razão da falsidade demonstrada, o que revela
a força normativa do dever fundamental de persecução da verdade possível
no processo.
Por outro lado, é pacífico na doutrina que, havendo outras provas e
fundamentos, além da prova falsa, a decisão não poderá ser rescindida, pois,
havendo outros fundamentos aptos a mantê-la, esta não poderá ser descons-
tituída (NEVES, 2018, p. 1473).
No momento em que a doutrina afirma ser necessário que a prova seja
o fundamento da decisão no juízo rescindendo, confirma-se que se busca não
evitar a contaminação da decisão por determinada ilicitude, mas tão somente
não permitir que uma decisão baseada em fatos não verdadeiros se perpetue
pelo trânsito em julgado; havendo fatos errôneos, a decisão do juízo neles
motivados será injusta, independentemente da teoria da justiça que se adote,
visto que o pressuposto de verdade inserto não mais subsiste.
Ademais, há possibilidade de rescisão do julgado quando o autor ob-
tiver prova que seja suficiente para alterar a convicção do magistrado quanto
à verdade dos fatos, desde que o autor obtenha “prova nova cuja existência
ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pro-
nunciamento favorável” (artigo 966, VII, do CPC/2015), desde que o autor
não tenha feito uso dessa prova por circunstâncias alheias à sua vontade.
O CPC/2015 passou a permitir a prova documentada e não apenas o do-
cumento novo. Atualmente, é possível, segundo o Superior Tribunal de Justiça
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 81

(STJ), por exemplo, que seja realizado um exame de DNA após o trânsito em
julgado e que essa prova seja documentada e utilizada para garantir alimentos
à criança e ao adolescente, desde que haja a documentação dessa prova. Isso
decorre do fato de que a prova nova poderia modificar o convencimento do
órgão julgador (NEVES, 2018, p. 1475).
Desse modo, observa-se que há uma compatibilização entre os valo-
res segurança jurídica e persecução da verdade possível no processo, visto
que a coisa julgada pode ser rescindida em detrimento da verdade dos fatos.
Permite-se que a rescisória seja utilizada no caso de haver a possibilidade do
magistrado alcançar a verdade e tomar uma decisão justa.
Vale mencionar, ainda, que o prazo para a rescisória no caso de prova
nova somente começa a contar da data de sua descoberta. Mais uma evidência
jurídica de que, em alguns casos, a verdade poderá prevalecer, inclusive sobre
a coisa julgada.

3 Negócio Jurídico Processual

3.1 Cláusula Atípica de Negócio Jurídico Processual no CPC/2015


Os termos “negócio jurídico processual”, “convenção processual” e
“acordo processual” são utilizados indistintamente, embora certos doutrina-
dores identifiquem diferenças.8
Os acordos processuais valorizam o diálogo entre as partes e o juiz,
permitindo que haja uma adequação do procedimento ao direito material
em que se baseia o litígio. Pode haver acordos estáticos que definem qual
procedimento será aplicado sem criar ou personalizar o procedimento. Há
também o procedimento dinâmico, aquele em que as partes personalizam o
procedimento, criando um modelo que ainda não está previsto, ou, embora
previsto, é modificado em alguma de suas fases (NOGUEIRA, 2016, p.
227-228).
O artigo 190 do CPC/2015 trouxe uma cláusula atípica ou aberta de ne-
gócio processual. Surge, então, a positivação do princípio do autorregramento
das partes, sendo permitida a negociação sobre os ônus e as faculdades, bem

8 Para Talamini (2015), por exemplo, “negócio jurídico processual” tem sentido amplo, compreendendo todo ato
jurídico cujo conteúdo é delimitado pela vontade do(s) celebrante(s) e podendo ocorrer tanto de modo unilateral
quanto de modo bilateral. O negócio jurídico processual realizado de modo bilateral denomina-se “convenção
processual”. Há, portanto, uma diferença entre os institutos. Ademais, outro tema que merece destaque é a natureza
jurídica do negócio jurídico processual, que permite antever as suas implicações processuais e até mesmo o modo
como é utilizado. Entretanto, devido ao corte metodológico, essa problemática não será aqui desenvolvida.
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
82

como sobre direitos e deveres no processo, obviamente havendo limitações


(NOGUEIRA, 2016, p. 226).
Esses negócios alteram a regra do processo, e não o objeto litigioso da
demanda, podendo sucumbir e criar regras processuais, dependendo do caso
concreto (DIDIER JR., 2019, p. 430). O controle apenas deverá ser feito em
casos de invalidade ou ilegalidade; caso não haja tais vícios, o magistrado de-
verá dar os meios para a implementação daquilo que foi acordado pelas partes
sobre o procedimento (NOGUEIRA, 2016, p. 229-230).
A limitação dessa convenção processual encontra-se no próprio
CPC/2015, no parágrafo único do artigo 190, que prevê ser necessário o con-
trole de validade pelo magistrado, de ofício ou a requerimento dos sujeitos.
Nota-se o aumento da autonomia da vontade dos sujeitos envolvidos para
definir o regramento adequado ao objeto litigioso. Uma grande quantidade
de convenções processuais é possível aos sujeitos sem que haja rejeição pelo
magistrado.
Isso nos permite aferir que muitos valores processuais que antes não
poderiam ser adaptados pela via do negócio jurídico processual passaram a sê-
lo com o advento do CPC/2015 e sua cláusula atípica de negociação jurídico
processual. Dentre esses valores, destaca-se a verdade, que poderá preponderar
com o auxílio do instrumento negocial processual.

3.2 Autonomia da Vontade e Controle de Validade pelo Magistrado


O CPC/2015 consagrou um modelo de processo público, mas impreg-
nado pelo direito fundamental à liberdade (DIDER JR., 2019, p. 164-169),
ou seja, um modelo em que a autonomia da vontade das partes pode e muitas
vezes deve ser considerada pelo juiz.
Nesse contexto, a cláusula atípica de negociação processual9 sancionou
a expressão do diálogo e a cooperação processual: o pacto entre os sujeitos
envolvidos no conflito, ampliando, assim, a participação dos sujeitos no pro-
cesso, demonstrando seu caráter democrático.
O magistrado atua com a função de gerir e de controlar os negócios
jurídicos processuais, estando vinculado ao que foi pactuado pelos sujeitos,
obviamente quando aquilo que foi pactuado for válido e não for passível de
controle (TOMÉ, 2018, p. 6).

9 Devido ao corte metodológico, não se pretende discutir a natureza normativa do autorregramento das partes, tão
somente evidenciar sua presença no contexto do direito processual civil, especialmente após o CPC/2015.
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 83

Ainda que estejamos diante de uma situação em que o controle por parte
do magistrado seja exigível, observados os princípios da cooperação, boa-fé e
do diálogo processual, é possível que os sujeitos sejam intimados pelo juízo
a adequarem a convenção aos dizeres do ordenamento jurídico (GABRIEL;
MAZZOLA, 2018, p. 4).
Ademais, o texto legislativo utiliza o advérbio “somente” ao se referir
às hipóteses de controle pelo magistrado da convenção processual, dando a
entender que é necessário que o magistrado privilegie a autonomia da vontade
e apenas exerça o controle conforme o rol taxativo do artigo 190, observados os
requisitos de validade de qualquer negócio jurídico (GABRIEL; MAZZOLA,
2018, p. 4).
É oportuno mencionar que não cabe o juízo de conveniência do negócio
jurídico processual feito entre os sujeitos. É necessário que o juiz elucide aos
sujeitos envolvidos as vantagens e desvantagens da convenção, mas nunca
poderá efetivar controle sobre ela, exceto se ocorrer uma das hipóteses de
controle – aplica-se, assim, o in dubio pro libertate.10
É necessário observar com cautela a invalidação parcial do negócio ju-
rídico, bem como a adequação do negócio jurídico ao ordenamento jurídico.

3.3 Validade e Eficácia dos Negócios Jurídicos Processuais


No que concerne à validade e à eficácia do negócio jurídico processual,
é fundamental analisar o negócio jurídico lato sensu para ter noção do campo de
validade geral dos negócios jurídicos, aplicável ao negócio jurídico processual,
bem como do campo específico, aplicável somente à convenção processual.
Existem dois campos em que figura o procedimento: o campo inva-
riável – aquele em que os campos de conhecimento possuem os requisitos
e as características invariáveis, formando, assim, um determinado padrão; o
campo-dependente – em que a mudança de área de conhecimento implica o
surgimento de novos padrões de referência. Nesse sentido, cabe analisar até
que ponto existem campos invariáveis entre o negócio jurídico processual e
o negócio jurídico material (ATAÍDE JUNIOR, 2016, p. 261).
No campo invariável, a essência (elemento nuclear) de qualquer negócio
jurídico será a manifestação ou a declaração de vontade visando o regramento

10 “O in dubio pro libertate sugere que uma norma jurídica convencionada obtenha preferência em relação à regra legis-
lada ou à iniciativa do Estado-Juiz, que possui prerrogativas suplementares. Ao magistrado, enquanto um aplicador
de normas jurídicas válidas, não cabe manifestar recusa de aplicar a norma jurídica de base negocial, a menos que
arque com o ônus argumentativo e demonstre a irregularidade da convenção processual ou a violação às posições
subjetivas de direito fundamental em seu núcleo essencial” (VIDAL, 2017, p. 202).
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
84

de determinada situação jurídica, futura ou presente (ATAÍDE JUNIOR,


2016, p. 267).
Em relação à validade dos negócios jurídicos no campo invariável, três
requisitos precisam ser preenchidos. O primeiro é a capacidade processual
dos sujeitos, visto que, sem capacidade, o negócio jurídico é nulo. Sem a ca-
pacidade ou com a manifesta vulnerabilidade, o sujeito não possui capacidade
para negociar. Outro requisito de validade é a licitude do objeto negociado,
sempre que o objeto for ilegal ou o negociado for contra a lei, o negócio é
nulo (FARIA, 2016, p. 86).
Ademais, é necessário que a forma que contenha o negócio jurídico
não seja vedada por lei (quando não houver forma específica) ou esteja em
conformidade com a lei (quando houver forma específica). Esses requisitos de
validade valem tanto para o direito processual quanto para o direito material,
em termos de negócio jurídico (ATAÍDE JUNIOR, 2016, p. 268).
A eficácia somente subsistirá em relação às partes (aos sujeitos) que
pactuaram o negócio jurídico, sob pena de ilicitude, apenas podendo atingir
terceiros quando houver expressa disposição legal (ATAÍDE JUNIOR, 2016,
p. 269).
Apesar de natureza diversa da processual, os requisitos de validade do
negócio jurídico são os mesmos para as hipóteses de nulidade previstas nos
artigos 166 e 167 do Código Civil (CC) de 2002, visto que são normas de
ordem pública e podem ser alegadas a qualquer tempo.
Quando se analisa o campo-dependente dos negócios jurídicos proces-
suais, em relação aos seus requisitos de existência, validade e eficácia, surgem
outros requisitos, que decorrem do campo de conhecimento do direito pro-
cessual – transcendem o ponto comum entre o negócio jurídico material e o
negócio jurídico processual (ATAÍDE JUNIOR, 2016, p. 269).
Vale mencionar que a legislação é taxativa: o parágrafo único do artigo
190 do CPC/2015 prevê as hipóteses em que o magistrado poderá intervir no
negócio jurídico processual e invalidá-lo.
Relativamente a esse campo, no âmbito da validade, para que o negócio
jurídico processual seja válido, é necessário que não haja manifesta vulnera-
bilidade de um dos sujeitos; caso contrário, haveria quebra da isonomia e não
haveria uma paridade de armas – tornando o acordo anulável. De fato, havendo
vulnerabilidade, ocorrerá o descumprimento do requisito da capacidade, que
no campo processual é a capacidade processual (FARIA, 2016, p. 86).
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 85

Em relação ao objeto, o CPC/2015 trouxe a ideia de que o negócio


processual apenas poderá ser realizado quando o direito material em questão
permitir autocomposição. Não é necessário que o direito seja disponível, pois
é possível que haja autocomposição ainda que o direito seja indisponível.11
Além disso, caso o processo vise afastar alguma norma que garanta o
mínimo do devido processo legal, o objeto será considerado ilícito e o negócio,
nulo. Ademais, proibiu-se a negociação sobre normas cogentes (FARIA, 2016,
p. 93-98), de modo que a persecução da verdade, derivada da colaboração
dos sujeitos, que é núcleo do devido processo legal, não poderá ser objeto de
limitação por via do negócio jurídico processual.
Ainda em relação à validade no campo-dependente, é necessário que seja
respeitada a forma prescrita ou a não proibida pela lei processual e também
que não haja vício de manifestação, uma vez que, havendo vício, o negócio
processual poderá ser anulado (ATAÍDE JUNIOR, 2016, p. 270).
Em relação à eficácia, quase sempre o negócio processual interferirá na
atuação do magistrado, exigindo sua participação, cabendo-lhe o controle de
negócios jurídicos processuais em que houver inserção de cláusula abusiva
em contrato de adesão e nulidade. Vale mencionar, ainda, que se aplica o
regime de invalidação dos atos processuais, que apenas poderão ser anulados
quando houver prejuízo, uma vez que tal regime figura no campo-dependente
(ATAÍDE JUNIOR, 2016, p. 271-273).

4 Análise Abstrata das Limitações e Permissões do Negócio


Jurídico Processual sobre a Persecução da Verdade
Importa lembrar que a persecução da verdade é um dever fundamental
consagrado no ordenamento jurídico brasileiro. A colaboração entre os su-
jeitos envolvidos nos conflitos, problemas e insatisfações sociais (CPIS) para
alcançar a verdade faz parte do núcleo ético do devido processo legal e é dever
fundamental do magistrado, que tem poderes para determinar produção de
prova para além das que foram apresentadas pelos sujeitos envolvidos.

11 O conceito de indisponibilidade deve ser revisitado para mitigar compreensões tão rigorosas que impossibilitam a
imediata, contínua e gradual concretização dos direitos, principalmente dos sociais. A indisponibilidade é definida
quando se argui pelo retrocesso de tais direitos, visto que, nesse campo, a indisponibilidade mostra-se inflexível,
salvo por autorização constitucional em sentido contrário (SILVA, 2016, p. 202). Nesse sentido, a indisponibilidade
do interesse precisa ser revista, uma vez que os conflitos distributivos requerem negociações, cumprimentos e
acompanhamentos graduais e progressivos, por dependerem, necessariamente, de metas, de objetivos e de resultados
a curto, médio e longo prazo (LOPES, 2006, p. 234). Ademais, o paradigma da indisponibilidade não deve recair
sobre o objeto, mas em quem pode dispor de tal direito, de modo a possibilitar a negociação e a fruição dos direitos
(SILVA, 2016, p. 202).
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
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Considerando a sistemática constitucional do devido processo legal


justo, segundo o modelo de justiça constitucional vigente no Brasil, conclui-se
que, para qualquer que seja a justiça objetivada, será necessário determinar a
verdade possível dos fatos (TARUFFO, 2005, p. 36) ou pelo menos perseguir
uma versão de mundo coerente com a verdade dos fatos.
Além disso, o CPC/2015, em seus artigos 6º, 7º, 8º, 77, 79, 80, 357, 370
e 371, demonstra o dever-poder do magistrado para perseguir a convicção e
assentá-la num modelo de verdade, bem como o dever dos sujeitos de agir
conforme a boa-fé e a transparência processual.
Sendo assim, a persecução da verdade pelo magistrado é obrigatória, e
sua limitação não pode ocorrer por meio de negócio jurídico processual, caso o
juízo tenha de exercer a atividade jurisdicional de substituição dos envolvidos
no conflito. Há, nesse caso, um objeto ilícito em relação ao negócio, sendo,
portanto, nulo. Assim, o magistrado deve controlar a validade do negócio
jurídico quando houver cláusula que restrinja seu alcance à verdade.
Não seria possível desnaturar a jurisdição a ponto de retirar dela uma de
suas características principais, que é a substitutividade. O processo, apesar de
recepcionar o princípio da autonomia da vontade e de consagrá-lo, não pode
receber o mesmo tratamento que recebe no âmbito privado. Não é possível
que o juiz se substitua às partes sem ter o conhecimento possível do fato que
se está discutindo para que profira uma decisão justa.
Os artigos 388 e 404 do CPC/2015 balizam o direito de não produzir
provas contra si e o dever de apresentar documentos, apresentando os casos
em que poderá ser excepcionada a participação das partes ou dos sujeitos no
processo com a persecução da verdade.
O artigo 404 define quando poderá haver recusa do dever de apresen-
tar documento e o artigo 388 apresenta as possibilidades para que se possa
evitar o depoimento. O CPC/2015 trata dos casos em que poderá haver uma
superação do dever de colaboração dos sujeitos com a verdade no processo
(SILVA, 2017, p. 321-322).
No artigo 388, é facultado ao sujeito permanecer em silêncio nas hi-
póteses dos seus incisos. Entretanto, não há uma permissão para mentir no
processo, a obrigação de dizer a verdade (caso haja interesse em participar)
continua vigente, configurando litigância de má-fé o descumprimento dessa
obrigação (GÓES, 2015, p. 1054).
As hipóteses em que o sujeito poderá eximir-se de depor estão previstas
nos artigos mencionados. Não poderão ser criadas hipóteses pela convenção
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 87

processual para escusar as partes de apresentar documento ou de depor a


mando do juiz, sob pena de afronta ao devido processo legal.
Os acordos processuais não podem limitar os poderes instrutórios do
magistrado. Isso ocorre porque a liberdade para negociar encontra limites no
núcleo essencial dos direitos fundamentais, como o direito ao devido processo
legal justo (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2018, p. 169-170).
O CPC/2015 foi enfático ao conceber a persecução da verdade como
um requisito indispensável no processo civil constitucional, também delimi-
tando os momentos em que ela poderia ser colocada em segundo plano, não
cabendo aos envolvidos, por meio de negócio jurídico processual, restringir
a justiça da decisão ou da forma de “dizer o direito” pelo Estado.
Em relação à ampliação das ferramentas à persecução da verdade pelas
partes e pelo magistrado, entende-se não haver problema em permitir esse
tipo de convenção. Ao não permitir negociação sobre normas de observân-
cia obrigatória, o CPC/2015 visou impedir a retirada do núcleo mínimo do
devido processo legal justo, vedando o descumprimento do mandamento
constitucional.
Ocorre que, quando se ampliam as ferramentas e os instrumentos para
a persecução da verdade ou sua consagração no ambiente processual, há uma
otimização do mandamento constitucional, concretizando-se o objetivo do
constituinte originário ao garantir o devido processo legal justo, conforme a
colaboração das partes para uma decisão judicial efetiva e justa.
Os deveres derivados da colaboração – esclarecimento, diálogo, preven-
ção e auxílio – são essenciais para criar o modelo de processo dialógico, que
permite que os sujeitos influenciem o rumo que será dado à causa. Em meio
a essa feição lógico-argumentativa, que aceita as dificuldades do processo e
visa superá-las, o magistrado está em pé de igualdade com as partes em rela-
ção ao diálogo; por isso, deve considerar a melhor forma de orientar o feito,
privilegiando a vontade das partes quando não houver motivo para recusá-la
(MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2018, p. 174-178).
Portanto, o negócio jurídico processual pode ser utilizado como instru-
mento para aumentar os poderes de persecução da verdade pelo magistrado.
Isso porque, no modelo cooperativo de processo, fundado na colaboração, os
envolvidos influem na condução do feito e podem determinar a necessidade
de um grau de conhecimento dos fatos superior para que haja maior chance
de uma decisão justa. A ferramenta da convenção processual atua como fo-
mentador de um valor consagrado pelo ordenamento jurídico brasileiro: a
verdade possível.
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 – Doutrina
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Nesse sentido, mais que consagrar a persecução da verdade, o negócio


jurídico processual que amplia a busca da verdade concretiza a autonomia da
vontade dos sujeitos envolvidos no litígio. Não seria plausível impedir que os
sujeitos negociassem a obrigatoriedade de uma decisão pautada pela verdade,
visto que esse impedimento seria um óbice à decisão justa e efetiva, garantida
tanto pelo CPC/2015 quanto pela CRFB/1988.

Conclusão
De todo o exposto, infere-se que a verdade é essencial à justiça. Para que
se possa falar em uma decisão justa, é fundamental que se persiga a verdade
possível dos fatos. Um modelo de processo que persegue a verdade no con-
texto do ordenamento jurídico processual brasileiro é o modelo de Michele
Taruffo e Luiz Guilherme Marinoni.
Foram demonstradas as possibilidades teóricas, práticas e ideológicas.
Teoricamente, a verdade absoluta não tem espaço no processo, no entanto,
a verdade possível poderá ser um modelo de verdade perseguido para que a
decisão seja justa.
Do ponto de vista ideológico, não há incompatibilidade entre a resolução
de conflitos e a persecução da verdade possível, visto que a forma mais eficaz
e justa de resolver o conflito é pautando a decisão pela verdade.
No prisma prático, o ordenamento jurídico brasileiro fornece ferra-
mentas para que se persiga a verdade, como, por exemplo, o modelo do livre
convencimento motivado (persuasão racional) e o dever do juiz de buscar a
verdade.
O ordenamento jurídico brasileiro também demonstra a obrigatorieda-
de das normas que tratam da colaboração dos sujeitos com a verdade, visando
alcançar a decisão justa e efetiva pelo instrumento do processo.
O CPC/2015 é repleto de artigos que direcionam ao entendimento
sistemático de que a persecução da verdade é norma cogente e não pode ser
superada, salvo nos casos expressos na ordem jurídica. A CRFB/1988 con-
firma tal entendimento, visto que consagrou o princípio do devido processo
legal justo, cujo núcleo mínimo é a colaboração dos sujeitos para a verdade
no processo.
Nesse contexto, o negócio jurídico processual, como instrumento da
autonomia da vontade das partes, que tenha como objeto a persecução da
verdade, poderá ser visto sob dois prismas: o da ampliação dos poderes do
juiz para a persecução da verdade e o da limitação de tais poderes.
Doutrina – Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil Nº 105 – Nov-Dez/2021 89

Em relação à ampliação, haveria um ganho na justiça da decisão que, ba-


seada em fatos verdadeiros, poderá ser justa. Sendo assim, não ocorre ilicitude
do objeto da convenção processual, sendo possível a negociação nesse sentido.
Mais que isso, nesse caso, a convenção será utilizada como instrumento
fomentador de decisões mais justas e com maior potencial de gerar pacificação
social e conformação das partes. Os sujeitos poderiam até negociar as exceções
ao dever de colaborar com a verdade expressas no CPC/2015. Isso porque a
autonomia da vontade aumentaria o grau de justiça da decisão.
Quando se analisa o negócio jurídico processual que trata da limitação
dos poderes do magistrado de persecução da verdade, é necessário ter cautela,
visto que a convenção irá contra os mandamentos legais. Nesse caso, estará
configurada a ilicitude do objeto, uma vez que atentará contra um direciona-
mento de todo o ordenamento jurídico brasileiro.
A ordem jurídica consagrou a autonomia da vontade, mas há limites.
O principal limite é o das garantias processuais e normas cogentes do ordena-
mento jurídico, em que se insere a colaboração para a persecução da verdade.
Sendo assim, mais que a ilicitude do objeto, a convenção que atenta contra a
verdade no processo vai contra a função pacificadora e o caráter substitutivo
da jurisdição.
Fica evidente que a convenção processual pode ser instrumentalizada
de forma a consagrar valores jurídicos no processo, sendo a verdade um deles.
Nesses casos, não pode ser efetuado o controle de validade pelo magistrado,
além de ser obrigatório o controle de validade quando desrespeitados esses
valores jurídicos pela autonomia da vontade dos sujeitos envolvidos nos
conflitos, problemas e nas insatisfações sociais.

TITLE: Procedural legal business and the pursuit of truth.

ABSTRACT: The present paper falls within the context of the expansion of the subjects’ freedom from
the introduction of the new general clause of procedural negotiation in article 190 of the 2015 Civil
Procedure Code. The objective is to discuss and delineate, in light of the current procedural legislation,
the limits of the procedural legal business that has as its object the search for the truth by the judge. The
paper starts from the premise that the procedural legal business is a fundamental instrument to guarantee
a fair process and the realization of the subjects’ rights – it cannot serve to limit the pursuit of truth, but
rather should be used to expand it in the procedural conduction.

KEYWORDS: Pursuit of Truth. 2015 Civil Procedure Code. Legal Business. Procedural. Justice.
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Recebido em: 08.10.2021


Aprovado em: 07.12.2021

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