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Revista Magister de
Direito Penal e Processual Penal
Ano XVI – Nº 96
Jun-Jul 2020
Classificação Qualis/Capes: B1
Editores
Fábio Paixão
Walter Diab
Coordenador
Aury Lopes Júnior
Conselho Científico
Fernando da Costa Tourinho Filho – Luiz Flávio Borges D’Urso
Elias Mattar Assad – Marco Antonio Marques da Silva
Conselho Editorial
Adeildo Nunes – Amadeu de Almeida Weinmann
Carlos Ernani Constantino – Celso de Magalhães Pinto – César Barros Leal
Cezar Roberto Bitencourt – Élcio Pinheiro de Castro – Fernando Capez
Fernando de Almeida Pedroso – Haroldo Caetano da Silva
José Carlos Teixeira Giorgis – Marcelo Roberto Ribeiro
Maurício Kuehne – Renato Marcão – René Ariel Dotti – Roberto Victor Pereira Ribeiro
Rômulo de Andrade Moreira – Sergio Demoro Hamilton
Umberto Luiz Borges D’Urso
A responsabilidade quanto aos conceitos emitidos nos artigos publicados é de seus autores.
As íntegras dos acórdãos aqui publicadas correspondem aos seus originais, obtidos junto ao
órgão competente do respectivo Tribunal.
A editoração eletrônica foi realizada pela LexMagister, para uma tiragem de 3.100 exemplares.
CDU 343(05)
LexMagister
Diretor Executivo: Fábio Paixão
Jurisprudência
1. Supremo Tribunal Federal – Queixa-Crime com Imputação de
Prática de Crime de Calúnia. Atendimento aos Requisitos Formais.
Impossibilidade de Trancamento da Ação Penal
Relª Minª Cármen Lúcia....................................................................................... 139
2. Superior Tribunal de Justiça – Tóxicos. Tráfico. Condenação Transitada
em Julgado. Revisão Criminal. Tribunal de Origem. Diminuição
da Pena-Base. Aumento do Percentual pelo Reconhecimento da
Reincidência. Situação Final Não Agravada. Pena Diminuída.
Inexistência de Reformatio In Pejus ou Afronta ao Art. 617 do CPP
Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro...................................................................... 149
3. Superior Tribunal de Justiça – Prisão Domiciliar. Riscos da Pandemia
do Coronavírus e Desenvolvimento da Covid-19. Prisão-Pena. O
Surgimento da Pandemia Não Pode Ser, Data Venia, Utilizado como
Passe Livre para Impor ao Juiz da VEC a Soltura Geral de Todos os
Encarcerados sem o Conhecimento da Realidade Subjacente
Rel. Min. Rogério Schietti Cruz............................................................................. 154
4. Superior Tribunal de Justiça – Estelionato. Pretendida Aplicação
Retroativa da Regra do § 5º do Art. 171 do Código Penal, Acrescentado
pela Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime). Inviabilidade. Ato Jurídico
Perfeito
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca.................................................................... 159
5. Tribunal de Justiça de São Paulo – Acordo de Não Persecução Penal. Art.
28-A do CPP. Necessária a Confissão dos Fatos Imputados na Denúncia.
Exigência Ilegal por Parte do MP de 1º Grau de Jurisdição de Delação
de Terceiros e de Informar Eventuais Valores Recebidos pela Prática
Criminosa Afastada em Sede Liminar
Rel. Des. Heitor Donizete de Oliveira..................................................................... 170
6. Divergência Jurisprudencial............................................................................... 174
7. Ementário............................................................................................................ 175
Sinopse Legislativa. .............................................................................................. 193
Destaques dos Volumes Anteriores.................................................................... 194
Índice Alfabético-Remissivo................................................................................ 195
Doutrina
Marcos Fuchs
Diretor-Executivo do Instituto Pro Bono desde 2001;
Advogado formado pela PUC-SP.
Rebecca Groterhorst
Doutoranda em Direito do Estado na Universidade de São
Paulo e Mestre pela mesma Faculdade; Coordenadora de
Projetos do Instituto Pro Bono.
1 Considerações Iniciais
A pandemia de Covid-19 provocou inúmeras discussões jurídicas, mas
tem despertado especial atenção aquela relativa ao cárcere e aos encarcerados,
cuja situação é dramática e se agrava ainda mais durante o período de crise. O
assunto, porém, enfrenta resistência das autoridades, e tampouco existe um
debate público que discuta as necessárias mudanças no cenário carcerário com
a merecida seriedade e que seja capaz de gerar transformações.
No atual cenário, com a disseminação do novo coronavírus, a precarie-
dade e superlotação dos presídios, além da ausência de assistência médica em
diversas unidades prisionais, a temática do encarceramento em massa ganha
ainda mais relevância. Assim, considerando a situação de pandemia do novo
coronavírus, o Conselho Nacional de Justiça elaborou a Recomendação nº
62/2020, em 17 de março de 2020, na qual recomendou aos tribunais e juízes
a adoção de algumas precauções para evitar a proliferação do vírus dentro do
ambiente prisional.
Nesse sentido, o objetivo deste artigo é analisar as recentes decisões do
STF em relação aos presos definitivos e provisórios em regime fechado no
contexto da pandemia, demonstrando a adoção ou não de medidas necessárias
para sua proteção. Ainda que tenham surgido diversos materiais sobre o tema
recentemente, este trabalho se diferencia dos demais ao revisitar decisões
judiciais da Corte Suprema, de forma técnica e detida.
Ao evidenciar a realidade do cárcere por meio de dados concretos relacio-
nados às unidades prisionais brasileiras e decisões judiciais, este artigo oferece
um substrato técnico para pleitos de liberdade perante os tribunais, auxiliando
profissionais da área jurídica e ampliando o debate em relação ao tema.
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STF, RE 580.252/MS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 16.02.2017. Disponível
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em: http://redir.stf.jus.br/pagina-
dorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13578623. Acesso em 29 jun. 2020.
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2 STF, Medida Cautelar na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
j. 09.09.2015. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10300665.
Acesso em: 17 jun. 2020.
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5 ESTELLITA, Heloisa. Responsabilidade penal de dirigentes de empresas por omissão. 1. ed. São Paulo: Marcial Pons, 2017.
p. 95-104. Embora a obra de Estellita se refira à análise da figura da omissão imprópria no ambiente empresarial,
oferece explicações amplas e gerais sobre conceitos relevantes para o estudo da referida modalidade de omissão, com
exemplos que vão além das relações corporativas. Nesse sentido, de acordo com a autora, o garantidor de proteção,
em oposição ao garantidor de assunção e o garantidor de vigilância, tem o dever de proteger de ameaças e perigos
externos a integridade de um ou mais bens jurídicos de outra pessoa que dele dependa em razão de um cenário de
desamparo.
6 Cf. dados disponíveis na plataforma do Conselho Nacional de Justiça. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/
sistema-carcerario/covid-19/. Acesso em: 1º jul. 2020.
7 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça – CNJ. 81% dos APFs analisados por juízes não possuem informação sobre
Covid-19. Notícias CNJ/Agência CNJ de Notícias, 30 de junho de 2020. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/81-
dos-apfs-analisados-por-juizes-nao-possuem-informacao-sobre-covid-19/. Acesso em: 6 jul. 2020.
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8 BRASIL. Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT. Informe Monitoramento do Sistema
de Privação de Liberdade, 24 jun. 2020. Disponível em: https://mnpctbrasil.files.wordpress.com/2020/06/informe-
geral_25.06.2020-mnpct.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020.
9 A denúncia das organizações e instituições, realizada em 23 de junho de 2020, pode ser acessada através do seguinte
link: https://www.conjur.com.br/dl/brasil-denunciado-onu-avanco.pdf. Acesso em: 1º jul. 2020.
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10 Nesses termos, o objetivo do presente capítulo é obter instrumentos para verificar se o STF aplicou, de forma criteriosa,
a Recomendação nº 62/2020 do CNJ, por meio da análise de julgados verificados no Portal de Jurisprudência do site
do Tribunal. É seu escopo, portanto, responder aos seguintes questionamentos: 1) O STF levou em consideração
a recomendação ao julgar pedidos de liberdade no período de março a maio de 2020?; 2) Se sim, a efetividade foi
levada a cabo de forma criteriosa e uniforme?
11 É importante pontuar que a remessa do feito ao juízo de origem nem sempre se dá da mesma forma, havendo a
possibilidade de que ocorra por meio da denegação integral da ordem ou pela concessão parcial apenas para deter-
minar a reavaliação do pedido pelo juiz de execução. Embora tenham pesos simbólicos potencialmente diferentes,
ao fim e ao cabo têm o mesmo efeito.
12 HC 185.047, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 18.05.2020; HC 183.329, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 06.04.2020; HC
184.615, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 30.04.2020; HC 183.585, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 07.04.2020; HC
183.746, Relª Minª Rosa Weber, j. 13.04.2020; HC 184.010, Rel. Min. Edson Fachin, j. 08.05.2020; HC 183.030,
Rel. Min. Roberto Barroso, j. 07.04.2020; HC 182.985, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27.03.2020; HC 183.937, Rel.
Min. Roberto Barroso, j. 11.05.2020; HC 184.958, Relª Minª Rosa Weber, j. 07.05.2020; e HC 184.473, Relª Minª
Rosa Weber, j. 27.04.2020, todos do Supremo Tribunal Federal.
13 HC 185.181, Relª Minª Cármen Lúcia, j. 13.05.2020; HC 183.204, Rel. Min. Edson Fachin, j. 31.03.2020; HC
184.655, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11.05.2020; HC 183.047, Relª Minª Cármen Lúcia, j. 25.03.2020; HC 183.915,
Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 13.04.2020; HC 183.251, Relª Minª Cármen Lúcia, j. 31.03.2020; e HC 183.055, Relª
Minª Rosa Weber, j. 28.04.2020, todos do Supremo Tribunal Federal.
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14 HC 182.886, Rel. Min. Celso de Mello, j. 22.04.2020; HC 184.432 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j.
06.05.2020; HC 182.670, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28.04.2020; HC 180.158 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, j.
08.04.2020; e HC 183.693, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 06.05.2020, todos do Supremo Tribunal Federal.
15 HC 182.582, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 20.03.2020; HC 185.215, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15.05.2020; HC
183.578, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 06.04.2020; HC 182.950, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 27.03.2020;
e HC 150.806, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 31.03.2020, todos do Supremo Tribunal Federal.
16 HCs 182.582, 183.578 e 150.806.
17 STF, Habeas Corpus 184.346/MG, Relª Minª Cármen Lúcia, j. 22.04.2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/
processos/downloadPeca.asp?id=15342958723&ext=.pdf. Acesso em: 18 jun. 2020. Exemplos no mesmo sentido:
HC 185.164, Relª Minª Cármen Lúcia, j. 12.05.2020; HC 183.053, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 26.03.2020; e HC
185.919, Relª Minª Cármen Lúcia, j. 22.05.2020.
18 STF, Habeas Corpus 183.624/SC, Rel. Min. Luiz Fux, j. 06.04.2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/
downloadPeca.asp?id=15342846589&ext=.pdf. Acesso em: 18 jun. 2020. Exemplos no mesmo sentido: HC 184.737,
Rel. Min. Luiz Fux, j. 04.05.2020; HC 184.755, Rel. Min. Luiz Fux, j. 30.04.2020; e HC 185.468, Relª Minª Rosa
Weber, j. 14.05.2020.
19 Situação idêntica aos casos citados na nota de rodapé 15, que reúne julgados em que a ordem foi concedida inte-
gralmente.
20 STF, Habeas Corpus 80.574/SC, Relª Minª Cármen Lúcia, DJE 27.03.2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/
processos/downloadPeca.asp?id=15342755756&ext=.pdf. Acesso em: 18 jun. 2020.
21 STF, Habeas Corpus 183.482/MG, Relª Minª Cármen Lúcia, j. 07.04.2020. Disponível em: <http://portal.stf.jus.
br/processos/downloadPeca.asp?id=15342867812&ext=.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2020.
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22 Situações idênticas aos casos citados na nota de rodapé 12, que reúne julgados em que a ordem foi concedida inte-
gralmente.
23 STF, Habeas Corpus 185.391, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14.05.2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/
processos/downloadPeca.asp?id=15343109469&ext=.pdf. Acesso em: 18.06.2020. Exemplo no mesmo sentido:
HC 183.609, Relª Minª Cármen Lúcia, j. 14.04.2020.
24 De acordo com o Relatório de Atividades do Supremo Tribunal Federal, em 2019 foram recebidos 93.197 processos
no órgão. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/centralDoCidadaoAcessoInformacaoGestaoEstrategica/
anexo/2020_01_24_13.08_RelatoriodeAtividades2019_completo.pdf. Acesso em: 17 jun. 20.
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25 STF, Habeas Corpus Coletivo 186.185, Rel. Min. Luiz Fux, j. 29.06.2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/
processos/detalhe.asp?incidente=5921049. Acesso em: 30 jun. 2020.
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26 ALVES, Cândice Lisbôa; CAMARGO, Beatriz Corrêa. A Covid-19 e as medidas de urgência para proteção de presos
no Brasil. Conjur, 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-abr-16/opiniao-medidas-urgencia-protecao-
presos. Acesso em: 18 jun. 2020.
27 STF, RE 580.252/MS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 16.02.2017. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/pagina-
dorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13578623. Acesso em: 29 jun. 2020.
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6 Considerações Finais
Do presente trabalho podem ser extraídas as seguintes conclusões:
1. A crise da Covid-19 agravou a situação precária dos presídios bra-
sileiros, culminando na edição da Recomendação nº 62/2020 do Conselho
Nacional de Justiça, que estabeleceu orientações gerais aos julgadores no que
tange à necessidade de manutenção das prisões, preventivas ou não, em meio
ao contexto de disseminação do novo coronavírus. Nesse sentido, o presente
artigo se propôs a analisar até que ponto as decisões proferidas no âmbito do
Supremo Tribunal Federal deram efetividade à referida recomendação.
2. Para tanto, em um primeiro momento, fez-se uma apresentação
objetiva da realidade carcerária brasileira, que evidenciou a situação de preca-
riedade e superlotação das unidades prisionais, que não contam com pessoal
ou aparatos satisfatórios para diagnóstico e tratamento de doenças, além de
não contarem com celas reservadas para a população idosa e/ou com doenças
infectocontagiosas.
3. Em razão disso, a Recomendação do CNJ orientou aos juízes e
tribunais a reavaliação de prisões preventivas de determinados grupos de
indivíduos, considerando também a situação das pessoas presas em estabele-
cimentos superlotados, bem como recomendou a máxima excepcionalidade
da prisão preventiva e a progressão antecipada de regime ou prisão domiciliar
das pessoas presas em regime aberto e semiaberto ou que tenham sido diag-
nosticadas com a Covid-19.
4. A análise dos julgados do STF, no entanto, demonstrou que a maioria
dos habeas corpus foi rejeitada de plano, em razão de supressão de instância,
enquanto em alguns casos, de forma aparentemente não criteriosa, foi des-
considerada a supressão e determinada a concessão da ordem.
5. Desse modo, não havendo lógica aparente que justifique a razão da
superação da supressão de instância em alguns casos e outros não, concluiu-se
que o STF deixou de considerar a Recomendação nº 62/2020, afastando-se
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TITLE: Prison and pandemics – a critical analysis of the Brazilian Supreme Court’s decisions during the
COVID-19 crisis.
ABSTRACT: This paper aims to analyze the monocratic decisions delivered by the Brazilian Supreme
Court (STF) in the habeas corpus cases filed in favor of prisoners with requests for freedom, house arrest
or early regime progression due to the coronavirus pandemic. Thus, the trials examination from March
to May 2020 demonstrate whether there was a compliance to the Recommendation 62 of the National
Council of Justice, which intended to relieve the effects of the pandemic in the extreme prison situation.
KEYWORDS: Habeas Corpus. Criminal Law. Pandemic. Coronavirus. Imprisonment. Freedom. Prison
Life. Brazilian Supreme Court. Brazilian National Council of Justice.
7 Bibliografia
ALVES, Cândice Lisbôa; CAMARGO, Beatriz Corrêa. A Covid-19 e as medidas de urgência para proteção
de presos no Brasil. Conjur, 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-abr-16/opiniao-medidas-
urgencia-protecao-presos. Acesso em: 18 jun. 2020.
BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias do
Departamento Penitenciário Nacional, atualizado em 19.03.2020. Disponível em: https://app.powerbi.com/
view?r=eyJrIjoiMTVjZDQyODUtN2FjMi00ZjFkLTlhZmItNzQ4YzYwNGMxZjQzIiwidCI6ImViM
DkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9.
______. ______. Relatório Consolidado Nacional do Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacio-
nal, relativo ao segundo semestre de 2019. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/
infopen/relatorios-analiticos/br/br.
ESTELLITA, Heloisa. Responsabilidade penal de dirigentes de empresas por omissão. 1. ed. São Paulo: Marcial
Pons, 2017.
Introdução
Não se denotam contemporâneas as problemáticas enfrentadas pelo
Brasil no que concerne à segurança pública e à política criminal. Tampouco,
a percuciente necessidade de adoção de medidas políticas ou legislativas para
enfrentamento da questão.
Ocorre que o tratamento envidado a essa temática, que é natural e es-
sencialmente complexo e controvertido nos mais diversos ramos das ciências,
como a sociologia, a psicologia e a filosofia, passou do significativo aprofun-
damento teórico-científico para a rasa e meramente empírica percepção de
realidades fantasiadas pelas correntes políticas de direita e esquerda de forma
consideravelmente acelerada e, principalmente, com o intuito de manipulação
da massa social.
Não se trata de afirmar que surgiram contemporaneamente os discursos
políticos emanados de seus interlocutores como cânticos hipnóticos sob um
universo perfeito em que a criminalidade não passa de uma vaga lembrança.
No entanto, é coerente a constatação de que, atualmente, o assunto ganhou
a atenção popular e esse, em si, não é o problema.
O que se aparenta grave é o afastamento do caráter científico das refle-
xões elaboradas sobre o assunto, pautadas, atualmente, em regra, nas emoções
e paixões políticas e utilizadas como ferramentas em um jogo desleal, em que
a realidade é interpretada na forma que melhor convém a quem a dissemina
para que seja possível a este sagrar-se vencedor.
Não é para menos. A sociedade atual é a sociedade da informação: co-
nhecimento é poder. E a manipulação das informações é intimamente ligada
ao domínio social.
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1 MARTINS, Charles Emil Machado. A reforma e o “poder instrutório do juiz”: será que somos medievais? Disponível
em: https://www.mprs.mp.br/media/areas/criminal/arquivos/charlesemi.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020. p. 4.
2 BORGES, Emerson. A Constituição brasileira ao alcance de todos. Belo Horizonte: D’Plácido, 2020. p. 300.
3 Conforme aponta Charles Emil Martins, leciona Luigi Ferrajoli que “o juiz deve ser um ‘espectador pasivo y de-
sinteresado’ do processo, sustentando que o princípio do ne procedat iudex ex officio constitui pressuposto estrutural
e lógico de todas as demais características, senão a própria identidade do processo acusatório, concluindo que a
principal ‘característica del poder judicial es la de no poder actuar más que cuando se recurre a él (...) Por naturaleza
el poder judicial carece de acción. Es preciso poner lo en movimiento para que se mueva (...)’” (MARTINS, Charles
Emil Machado. A reforma e o “poder instrutório do juiz”: será que somos medievais? Disponível em: https://www.mprs.
mp.br/media/areas/criminal/arquivos/charlesemi.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020. p. 5).
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
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4 CPP: “Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas
as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”.
5 Nesse sentido, o artigo 8, item 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos: “Artigo 8. Garantias judiciais. (...)
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente
sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: (...)”.
6 CPP: “Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar,
mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando
a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir
sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante”.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 25
a serem trilhados para assegurar tal garantia, dentre os quais despontam três
deles, a serem brevemente analisados a seguir: i) a produção da prova; ii) a
apreciação da prova; e iii) o julgamento.
Sobre a produção da prova, o primeiro aspecto a ser abordado, uma
vez inaugurada a fase probatória na ação penal, independentemente de quem
tenha dado origem à produção da prova, esta recairá sobre fatos ou objetos e
dela sempre se obterá um resultado.
Nesse diapasão, infere-se que a mera iniciativa probatória (seja do Mi-
nistério Público ou do próprio magistrado) não interfere, necessariamente,
no resultado da prova, não sendo incomum que provas requeridas pelo órgão
ministerial resultem, na prática, em benefício ao acusado e vice-versa, ante a
vigência do princípio da comunhão da prova.
Na segunda reflexão, concernente à apreciação da prova, percebe-se
que o magistrado é livre para formar suas convicções acerca dos elementos
probatórios produzidos no processo e, por via de consequência, prolatar a
sentença, seja esta condenatória ou absolutória.
Nessa fase, de se observar que a prova já foi constituída e, natural-
mente, submeteu-se ao crivo do contraditório, seja este diferido ou direto,
cumprindo, assim, com a devida observância à normativa constitucional e
infraconstitucional7.
Parece coerente o entendimento de que, independentemente do ente
que tenha tomado a iniciativa probatória, o julgador estará, invariavelmente,
adstrito à análise dos elementos de prova produzidos nos autos, no momento
de sua deliberação conclusiva, devendo, inclusive, valorar todas elas, escla-
recendo a razão pela qual acolheu algumas delas como determinantes para a
sua decisão e atribuiu menor valor persuasivo às outras.
Tal concepção conduz o raciocínio à terceira fase, entendendo-se que,
em um julgamento contrário às provas dos autos, há garantia à inauguração da
fase recursal apta para a devolução do feito à reapreciação, ab ovo, em segunda
instância, com ampla devolutividade ao juízo ad quem para reformar, integral-
mente, o feito, se o caso, no âmbito de sua competência recursal.
7 Se assim não o foi, como na hipótese de uma prova ilícita, estaria maculada e, diante das previsões da Constituição
Federal e do próprio Código de Processo Penal, figurariam inservíveis. Vide o art. 157 do CPP: “São inadmissíveis,
devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas cons-
titucionais ou legais” e o art. 5º, LVI, da CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas
obtidas por meios ilícitos”.
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8 FESTINGER, Leon. Teoria da dissonância cognitiva. Trad. Eduardo Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. p. 13.
9 ANDRADE, Flávio da Silva. A dissonância cognitiva e seus reflexos na tomada da decisão judicial criminal. Revista
Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 1.651-1.677, set./dez. 2019, p. 1.654.
10 FESTINGER, Leon. Teoria da dissonância cognitiva. Trad. Eduardo Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. p. 22-23.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 27
11 ANDRADE, Flávio da Silva. A dissonância cognitiva e seus reflexos na tomada da decisão judicial criminal. Revista
Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 1.651-1.677, set./dez. 2019, p. 1.655.
12 LOPES Jr., Aury; RITTER, Ruiz. A imprescindibilidade do juiz das garantias para uma jurisdição penal imparcial:
reflexões a partir da teoria da dissonância cognitiva. Duc In Altum Cadernos de Direito, v. 8, n. 16, p. 55-91, set./dez.
2016, p. 72-73.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
28
13 LOPES Jr., Aury; RITTER, Ruiz. A imprescindibilidade do juiz das garantias para uma jurisdição penal imparcial:
reflexões a partir da teoria da dissonância cognitiva. Duc In Altum Cadernos de Direito, v. 8, n. 16, p. 55-91, set./dez.
2016, p. 73-74.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 29
14 CPP: “Art. 3º-B. (...) XIV – O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e
pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário,
competindo-lhe especialmente: decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste
Código”.
15 CPP: “Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial
ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código”.
16 CPP: “Art. 3º-C. (...) § 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados
na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo
enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de
obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado”.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
30
“(...) a criação do juiz das garantias não apenas reforma, mas refunda o pro-
cesso penal brasileiro e altera direta e estruturalmente o funcionamento de
qualquer unidade judiciária criminal do país. Nesse ponto, os dispositivos
questionados têm natureza materialmente híbrida, sendo simultaneamente
norma geral processual e norma de organização judiciária, a reclamar a
restrição do art. 96 da Constituição.”
17 MARQUES, José Frederico. Organização judiciária e processo. Revista de Direito Processual Civil, v. 1, ano 1, p.18-29,
jan./jun. 1960, p. 20-21.
18 BORGES, Emerson. A Constituição brasileira ao alcance de todos. Belo Horizonte: D’Plácido, 2020. p. 282.
19 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 34. ed. São Paulo: Atlas, 2018. p. 549.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
32
“Situação diversa ocorre com o art. 3º-D, parágrafo único, o qual não
dispõe propriamente sobre o processo penal, ingressando em questão de
organização judiciária, pois determina que se adote um sistema de rodízio
de magistrados como mecanismo de efetivação do juízo das garantias.”
25 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Juiz das garantias não é juiz para proteger criminoso, diz Toffoli. Publicado
em 3 jan. 2020. Notícias CNJ. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/juiz-das-garantias-nao-e-juiz-para-proteger-
criminoso-diz-toffoli/. Acesso em: 22 maio 2020.
26 ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO BRASIL. Juiz das garantias: imprensa repercute resposta da AMB à
consulta pública do CNJ. Publicado em 13 jan. 2020, às 6h57, atualizado em 13 jan. 2020, às 19h59. Disponível em:
https://www.amb.com.br/juiz-das-garantias-imprensa-repercute-resposta-da-amb-consulta-publica-do-cnj/. Acesso
em: 22 maio 2020.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 35
“Provimento nº 167/84
27 “(...) criou-se através do Decreto Judiciário nº 543, de 26 de novembro de 1993, a Central de Inquéritos Policiais na
Comarca de Curitiba, ‘para controle de inquéritos policiais, demais peças informativas e outros feitos de natureza
criminal ainda não distribuídos, de competência das Varas Criminais não especializadas e do Tribunal do Júri’. Segundo
a regra do art. 6º do DJ nº 543/1993, competia ao juiz da Central de Inquéritos dentre outras funções, ‘decidir sobre
matéria afeta ao plantão judiciário’ (inciso II), ‘decidir a respeito de outras medidas judiciais em inquéritos policiais’
(inciso III) e ‘determinar o arquivamento do inquérito, peça informativa ou outro feito de natureza criminal, na
forma da lei, ou tomar as providências previstas no art. 28 do CPP’ (inciso IV). A competência do juiz da Central
de Inquéritos cessava com o oferecimento da denúncia ou queixa, na forma da regra do art. 4º do DJ nº 543/1993,
quando os autos do processo eram distribuídos a outro juiz de primeiro grau com competência criminal, para realizar
o juízo de admissibilidade da acusação e, em caso de recebimento da inicial acusatória, prosseguir na presidência
do processo de conhecimento. Posteriormente, com a Resolução nº 70/2012, a Central de Inquéritos é renomeada
para Vara de Inquéritos Policiais, com competência para ‘exercer o controle jurisdicional’ dos inquéritos policiais,
‘bem como peças informativas e outros feitos de natureza criminal prévios à ação penal’ (art. 8º, § 7º, I). No âmbito
legislativo formal, as Varas de Inquéritos Policiais são inseridas na organização e divisão judiciárias do Estado do
Paraná com a regrado art. 254, d e k, da Lei Estadual nº 14.277/2013.” (CARVALHO, Luís Gustavo Grandinetti
Castanho de; MILANEZ, Bruno Augusto Vigo. O juiz de garantias brasileiro e o juiz de garantias chileno: breve olhar
comparativo. Disponível em: http://biblioteca.cejamericas.org/handle/2015/5645. Acesso em: 18 maio 2020)
28 CONSELHO SUPERIOR DE MAGISTRATURA. Provimento nº 167, de 27 de janeiro de 1984, do Conselho Superior
de Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Disponível em: encurtador.com.br/hmqvG. Acesso em: 5
maio 2020.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 37
29 ESTADO DE SÃO PAULO. Lei Complementar nº 1.208, de 23 de julho de 2013. Altera a Organização e a Divisão
Judiciárias do Estado. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/norma/170731. Acesso em: 30 abr. 2020.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
38
30 “(...) interessante destacar que, à luz das premissas dispostas na Carta Magna, bem assim no Código de Processo Penal,
realmente, não há, no arcabouço normativo brasileiro, a determinação expressa da chamada audiência de custódia,
consistente na necessária apresentação do indivíduo preso em flagrante ao julgador para aferição das condições de
sua prisão e posterior decisão sobre seu relaxamento, sua conversão em prisão preventiva ou sua liberdade provisória.
Ocorre, porém, que convenções internacionais de direitos humanos, expressamente incorporadas ao ordenamento
jurídico interno pela edição de decretos executivos da Presidência da República, cuja hierarquia normativa é de nor-
mas supralegais, conduzem à interpretação consonante com a obrigatoriedade da realização da audiência de custódia.”
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 39
(CORDEIRO, Gustavo Henrique de Andrade; CATELLI, Thales Aporta; MARGRAF, Alencar Frederico. Audiência
de custódia: mero formalismo ou necessária observância ao objeto constitucional do instituto? Uma análise a partir
do julgamento do Recurso em Habeas Corpus 99.091/AL [2018/0137946-8]. Revista dos Tribunais, ano 108, v. 999,
jan. 2019, p. 768-778)
31 CORDEIRO, Gustavo Henrique de Andrade; CATELLI, Thales Aporta; MARGRAF, Alencar Frederico. Audiência
de custódia: mero formalismo ou necessária observância ao objeto constitucional do instituto? Uma análise a partir
do julgamento do Recurso em Habeas Corpus 99.091/AL (2018/0137946-8). Revista dos Tribunais, ano 108, v. 999,
jan. 2019, p. 768-778.
32 FOLHA DE SÃO PAULO. É dizer que erramos todos esses anos, afirma juíza Renata Gil. Entrevista concedida ao Jornal
Folha de São Paulo. Disponível em: https://www.amb.com.br/em-entrevista-folha-de-s-paulo-renata-gil-afirma-
que-juiz-das-garantias-fere-constituicao/. Acesso em: 19 maio 2020.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
40
Conclusão
Considerando todo o exposto neste estudo, pode-se concluir que o
sistema do juiz das garantias se mostra como uma reforma de significativa
magnitude na organização jurídico-penal como um todo: dos aspectos legais
à organização do próprio Poder Judiciário.
Entretanto, as preconizações constantes na legislação evidenciam o
que as modificações promovidas possuem interferências práticas negativas ao
fundamento basilar da promoção e garantia da imparcialidade do magistrado,
o que exalta as incongruências do sistema proposto e demonstra a suficiência
das diretrizes constitucionais e processuais já previstas na ordem jurídica
anterior à Lei nº 13.964/2019.
Nesse sentido, conclui-se que, no que concerne à vedação à iniciativa
do juiz durante a fase de investigação, a inovadora legislação parte do princípio
de proteção ao sistema acusatório, como se atuação dos magistrados estivesse
conformada aos moldes inquisitoriais.
A rigor, respeitosamente, não parece ser a visão mais adequada, haja vista
que a própria normatização infraconstitucional e constitucional já possui insti-
tutos suficientemente idôneos a assegurar a atividade imparcial do magistrado.
Ademais, sobre esses aspectos, o juiz das garantias demonstra não solu-
cionar os supostos problemas que teriam ensejado a proposta, haja vista que,
como fundamentado, a exemplo da produção e gerenciamento da prova, o juiz,
ao julgar o feito, estará adstrito aos elementos provados, submetidos ao crivo da
ampla defesa e contraditório e, nas hipóteses de apreciação diversa destes, já há no
ordenamento jurídico pátrio instrumentos para busca à modificação da decisão.
Por conta disso, em que pese sua respeitabilidade teórica e acadêmica,
não se revela producente a incorporação da teoria da dissonância cognitiva em
nosso ordenamento jurídico, pela implementação do sistema do juiz de ga-
rantias, porquanto, ainda que o magistrado supostamente estivesse tendente
à condenação ou à absolvição de um determinado acusado, caso sua sentença
seja contrária às provas produzidas nos autos, estará fadada à reforma pelo
juízo ad quem, diante do efeito devolutivo do recurso.
E mais: se o juiz está sujeito a ser influenciado pelos elementos informa-
tivos a ele apresentados durante a investigação, tendendo a refutar quaisquer
provas supervenientes em sentido contrário, tal circunstância também não
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 41
estaria presente no momento em que ele terá de decidir, por ser igualmente
competente, sobre o recebimento – ou não – da peça acusatória?
Por conta dessas reflexões, de se entender que o projeto limita deliberada
e infundadamente as atribuições e possibilidades do juiz no processo, mitigan-
do sua atuação em busca da justiça, sem prejuízo de onerar, desproporcional-
mente, os cofres públicos, ao impor a criação de uma figura que, a rigor, em
nada potencializa a eficiência da justiça criminal e, semelhantemente, muito
pouco tem a acrescer na promoção dos direitos fundamentais dos acusados.
Por esses e pelos fundamentos expostos durante todo o ínterim do
estudo, conclui-se que o juiz das garantias apresenta medidas ineficazes para
problemas que, provavelmente, ocorreram no passado e poderão ocorrer no
futuro e, assim como antes da promulgação da Lei nº 13.964/2019, foram
resolvidos conforme os institutos processuais penais e constitucionais já
existentes preteritamente à sua implementação.
Assim, a imposição do juiz das garantias além de não se mostrar ne-
cessária e eficaz, é excessivamente custosa e, principalmente, complexa, por
revelar uma excessiva burocratização do Poder Judiciário, do processo e da
justiça criminal.
Por isso, sugere-se, como contraponto à dispendiosa figura do juiz de
garantias, facultar aos Tribunais, ao crivo de sua discricionariedade, especifici-
dades e necessidades, a implementação de órgãos como os departamentos ou
centrais de inquérito, os quais poderiam, seguramente, figurar como provedores
de benefícios à persecução penal, como a celeridade, eficiência e a observância
às garantias do acusado, suficientemente apto ao aprimoramento da eficiência
da justiça criminal e à promoção dos direitos fundamentais do investigado.
TITLE: Guarantee judge: a critical analysis of the (in)effectiveness of the proposed system.
ABSTRACT: The purpose of this paper is to analyze the provisions referring to the system of the guarantee
judge incorporated in the national legal system with the promulgation of Federal Law no. 13,964/2019,
using, as a premise, the alleged guarantee of the impartiality of the judge. In this development, reflections
were proposed about the innovative legislation in the light of constitutional and under constitutional
recommendations already provided for in Brazilian law, analyzing the predictions regarding the judge’s
initiative during the investigation phase, going on to study the motivation, production and appreciation
of the evidence in criminal proceedings. The questions concerning the theory of cognitive dissonance
and, consequently, the appreciation of the competence of the court and the practical consequences of the
bureaucratization of the process were also faced. The paper concludes with the finding that the basis used
to implement the system of the guarantee judge collides with the instruments already provided for in the
current legislation and, because of that, it is ineffective and unnecessary. In methodological terms, the
reasoning is inductive, starting from the diffuse legal analysis to reach the conclusion.
Referências
ANDRADE, Flávio da Silva. A dissonância cognitiva e seus reflexos na tomada da decisão judicial criminal.
Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 1.651-1.677, set./dez. 2019.
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da AMB à consulta pública do CNJ. Publicado em 13 jan. 2020, às 6h57, atualizado em 13 jan. 2020, às
19h59. Disponível em: https://www.amb.com.br/juiz-das-garantias-imprensa-repercute-resposta-da-amb-
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ponível em: https://www.mprs.mp.br/media/areas/criminal/arquivos/charlesemi.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 34. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
1 Introdução
O novo Coronavírus (Covid-19) demonstrou a força e os efeitos que
uma epidemia viral pode causar no sistema de saúde de um determinado país
ou região.
O vírus, que causa síndrome aguda respiratória grave, vitimou milhares
de pessoas pelo mundo e chegou ao Brasil ceifando muitas vidas, de pessoas
idosas a jovens, de pessoas com comorbidades preexistentes ou não, além
de causar déficit de vagas em unidades de terapia intensiva de vários estados
brasileiros (dado o grande número de doentes acometidos ao mesmo tempo),
acentuando a deficiência do já combalido sistema público de saúde do país.
Diante dessa situação excepcional vivida pelo Brasil, foi editada a Lei
nº 13.979/2020, que autorizou a adoção de inúmeras medidas pelo Presidente
da República, Governadores e Prefeitos, visando combater o vírus e evitar, ao
máximo, o adoecimento da população.
Dentre as medidas previstas na legislação, tem-se a restrição de direitos
fundamentais, como a liberdade de locomoção, determinação compulsória de
exames médicos, testes laboratoriais, manejo de cadáver, dentre tantas outras,
afinal, situações excepcionais exigem a adoção de medidas excepcionais.
Ocorre que a adoção de medidas deveras restritivas, como o fechamento
de comércios e a paralisação de determinadas atividades, causam problemas
para a economia, pessoas perdem empregos e famílias ficam sem sustento,
levando os administradores públicos a se omitirem nos cuidados com a saúde
pública (visando o resguardo da economia) e, por consequência, conduzindo
ao rápido alastramento do vírus.
Diante desse quadro instalado na sociedade, cabe verificar se a omissão
do Poder Executivo na adoção de medidas de combate ao novo Coronavírus
pode ensejar a responsabilidade penal do Presidente da República, dos Go-
vernadores e dos Prefeitos Municipais.
exemplo, matar alguém (art. 121 do Código Penal), provocar aborto nas con-
dições proibidas pela legislação (arts. 124 a 126 do Código Penal), ofender a
integridade corporal de outrem (art. 129 do Código Penal), etc.
Nesse sentido, destaca-se a lição de Fernando de Almeida Pedroso:
“Crimes comissivos são aqueles que apresentam núcleo que, pela sua índole
e natureza, comporta forçosamente atuação de aspecto positivo. Elemento
nuclear comissivo, por via de consequência, é o que pressupõe a movimen-
tação física e corpórea do agente no mundo exterior, um desprendimento
de sua energia destinado à realização da ação típica. Há mister, em casos
tais, como condição indeclinável para a realização da conduta incriminada,
que o sujeito ativo aja ostensivamente no plano fenomênico. Deve ele fazer
alguma coisa e proceder de forma positiva para a concreção da conduta
punível. Tem que desenvolver comportamento dinâmico endereçado à
concretização do núcleo típico, denotando fisicidade para o mister.”1
Por outro lado, nos crimes omissivos ocorre o inverso dos comissivos,
ou seja, os bens jurídicos podem ser tutelados com a criminalização de uma
inércia por parte do agente. Houve um não fazer do agente que ensejou a
resposta penal.
Basicamente, o crime omissivo criminaliza a inação do agente, quando
estava juridicamente obrigado e lhe era possível agir naquele contexto fático.
Exemplificativamente, deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo
sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida
ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses
casos, o socorro da autoridade pública (art. 135 do Código Penal), deixar o
médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compul-
sória (art. 269 do Código Penal).
Segundo o escólio de Rogério Sanches Cunha, o crime omissivo é: “a
não realização (não fazer) de determinada conduta valiosa (comportamento
ideal) a que o agente estava juridicamente obrigado e que lhe era possível
concretizar. Viola um tipo mandamental”2.
Em resumo, os crimes comissivos violam os tipos proibitivos, isto é,
o agente realiza a conduta que o tipo penal proíbe. Lado outro, os crimes
omissivos violam o tipo mandamental, ou seja, o agente não realiza o que o
tipo penal manda e, portanto, este acaba por ser violado por omissão.
1 PEDROSO, Fernando de Almeida. Direito penal: parte geral. São Paulo: Método, 2008. p. 127-128.
2 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361). Salvador: Juspodivm, 2020. p.
286.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
48
Nesse caso, o omitente não responde apenas pela omissão, mas também
pelo resultado produzido, salvo se este não lhe puder ser atribuído por dolo
ou culpa.
Sob essa acepção doutrina Fernando Capez:
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 49
“o agente tinha o dever jurídico de agir, ou seja, não fez o que deveria ser
feito. Há, portanto, a norma dizendo o que ele deveria fazer, passando
a omissão a ter relevância causal. Como consequência, o omitente não
responde só pela omissão como simples conduta, mas pelo resultado
produzido, salvo se este não lhe puder ser atribuído por dolo ou culpa.”3
3 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 165.
4 Ob. cit., p. 288.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
50
Por sua vez, germes patogênicos são, na lição de Bento de Faria, se-
guindo a exposição de motivos do Código Penal italiano, “todos os elementos
capazes de produzir moléstias infecciosas (bacilos ou quaisquer outros micro-
organismos com esse poder), pouco importando que já estejam biologicamente
5 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361). Salvador: Juspodivm, 2020. p.
696.
6 GRECO, Rogério. Código Penal comentado. Niterói: Impetus, 2019. p. 1.034.
7 Ob. cit., p. 1.034.
8 Apud CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361). Salvador: Juspodivm, 2020.
p. 696.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 51
13 MARTINS, Flávio. Curso de direito constitucional. São Paulo: RT, 2017. p. 1.458.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 53
Observe-se que o art. 85, inciso III, da Constituição Federal institui ser
crime de responsabilidade do Presidente da República os atos que atentem
contra a Constituição Federal e, especialmente, contra o exercício dos direitos
políticos, individuais e sociais.
De igual modo, a lei federal específica que trata dos crimes de respon-
sabilidade do Presidente da República (Lei nº 1.079/1950), no art. 4º, inciso
III, também traz a mesma disposição, no sentido de criminalizar os atos do
Chefe do Poder Executivo Federal que atentem contra o exercício dos direitos
políticos, individuais e sociais. Nesse sentido, especificamente o Direito à
Saúde é um direito social, segundo previsão do art. 6º da Constituição Federal.
Portanto, qualquer conduta comissiva ou omissiva do Presidente da
República que atente contra a saúde pública (direito social garantido cons-
titucionalmente) configura crime de responsabilidade, passível, assim, de
impeachment. Sob esse prisma, cabe distinguir, brevemente, a diferença entre
crimes comuns e crimes de responsabilidade.
Ora, nos regimes democráticos não existe governante acima da lei, ir-
responsável, ao contrário do que previa, em plena monarquia, a Constituição
brasileira de 1824, no art. 99, “a pessoa do Imperador é inviolável, e sagrada:
Elle não está sujeito a responsabilidade alguma”15. Portanto, a Constituição
Federal de 1988, democrática, como sói poderia ocorrer, previu a responsabi-
lidade do Presidente da República nos chamados crimes de responsabilidade,
ficando o Chefe do Poder Executivo Federal sujeito a sanções de perda do
cargo.
Assim, crimes de responsabilidade são aqueles previstos no art. 85 da
Constituição Federal (e na Lei nº 1.079/1950), as chamadas infrações políticas;
enquanto os crimes comuns são aqueles previstos na legislação penal comum
ou especial.
Nesse palmilhar, leciona o inigualável constitucionalista José Afonso
da Silva:
16 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 550-551.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
56
17 MEIRELLES, Hely Lopes. Responsabilidades do prefeito. Revista de Direito Administrativo, n. 128, p. 36/52, abr./jun.
1977. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/viewFile/42297/41014. Acesso em: 10
maio 2020.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 59
18 FERREIRA, Gecivaldo Vasconcelos. Princípio da proibição da proteção deficiente. A outra face do garantismo.
Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 14, n. 2273, 21 set. 2009. Disponível em: https://jus.com.br/
artigos/13542. Acesso em: 10 maio 2020.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
60
6 Conclusões
O Brasil vive uma situação jamais enfrentada anteriormente, o combate
a um vírus mortal, de rápida e fácil proliferação, que tem ceifado muitas vidas.
Além de acentuar as deficiências do já combalido sistema de saúde pública
brasileiro, o novo Coronavírus (Covid-19) ainda fez outra vítima: a economia
do País. Se medidas de isolamento social e de restrição à abertura de comér-
cios e desenvolvimento de atividades econômicas são adotadas pelo Poder
Executivo visando eliminar ou, ao menos, diminuir a incidência do vírus na
sociedade, de outro lado, a economia do Brasil entra em recessão (empresas
fecham e pessoas perdem empregos).
Essa “escolha de Sofia” pode levar o Presidente da República, Governa-
dores e Prefeitos a priorizarem a economia e omitirem-se nos cuidados com a
saúde pública, levando ao alastramento do vírus e o adoecimento da população.
Nesse sentido, tanto a Constituição Federal, a Lei nº 1.079/1950, como
o Código Penal preveem a possibilidade de responsabilização penal dos chefes
dos Poder Executivo em cada âmbito da Federação por atos omissivos que
atentem contra a saúde pública – direito social do cidadão (art. 6º da Consti-
tuição Federal) e causem a propagação do vírus da Covid-19.
Entretanto, como se viu, a legislação brasileira tende a punir mais facil-
mente o Presidente da República e os Governadores, em virtude da expressa
previsão legal de crimes de responsabilidade para a hipótese.
Com relação aos Prefeitos, diante da lacuna legislativa (não há previsão
para esse tipo de omissão no Decreto-Lei nº 201/67), a punição deve ocorrer
através do art. 267 do Código Penal (epidemia), na forma omissiva imprópria,
desde que atendidos a três critérios: (1) os meios utilizados para a propagação
dos germes patogênicos; (2) se os meios utilizados eram realmente idôneos
para causar a epidemia; e (3) a constatação de que a epidemia não decorre
de mero evento natural, mas é resultado da ação humana e dos respectivos
meios utilizados pelo agente para a propagação dos germes patogênicos (re-
lação de causalidade e relação de risco), conforme doutrina Vicente de Paula
Rodrigues Maggio.
A grande dificuldade na responsabilização penal do Prefeito Munici-
pal pela omissão no enfrentamento do novo Coronavírus (Covid-19) seria
constatar que a epidemia no município ocorreu justamente em razão do ato
omissivo, pois, caso ela (epidemia) tivesse ocorrido de qualquer jeito, mesmo
com a adoção de medidas pelo administrador, não poderá ele ser responsabi-
lizado pelo tipo penal em debate.
Por uma questão de equidade, esses mesmos critérios devem ser se-
guidos na responsabilização do Presidente da República e dos Governadores
por crime de responsabilidade. Em outras palavras, deve estar plenamente
demonstrado nos autos: (1) os meios utilizados para a propagação dos germes
patogênicos; (2) se os meios utilizados eram realmente idôneos para causar a
epidemia; e (3) a constatação de que a epidemia não decorre de mero evento
natural, mas é resultado da ação humana e dos respectivos meios utilizados
pelo agente para a propagação dos germes patogênicos (relação de causalidade
e relação de risco).
TITLE: The criminal liability for omission of the executive branch chief in combating the viral epidemic
of the new coronavirus (COVID-19).
ABSTRACT: In light of devastating viral disease, which culminate in thousands of dead and sick people
around the world, positive measures are required from the Brazilian public administrators, especially from
those who are at the head of the Executive Branch, aiming to protect the collective and combat the spread
of the deadly virus in Brazilian society. On February 6th, 2020, Law no. 13,979/2020 entered into force,
providing measures to address the public health emergency of national importance resulting from the new
Coronavirus (COVID-19), which lists a series of exceptional measures that can be adopted by the Heads
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
62
of the Executive Branch in the fight against the virus (isolation, quarantine, compulsory determination of
medical examinations, laboratory tests, management of cadavers, etc.). Therefore, as important as the study
and the effective adoption of positive actions to cope with the emergency situation, is to verify whether the
omissions of the rulers – in this case – have criminal relevance. Here’s what will be verified in this study.
7 Referências
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cargo-ou-fora-dele-crime-de-responsabilidade-dos-prefeitos. Acesso em: 10 maio 2020.
Introdução
O presente artigo objetiva analisar as situações nas quais o crime de extor-
são (art. 158 do CP) pode ser considerado hediondo, com base na redação deter-
minada pela Lei Anticrime (nº 13.964/2019), que alterou o inciso III do art. 1º da
Lei nº 8.072/90, para considerar hedionda a “extorsão qualificada pela restrição
da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º)”.
Essa redação pode gerar algumas dúvidas para o intérprete. De fato, ficaria
configurada a hediondez da extorsão qualificada apenas pela restrição da liber-
dade do ofendido, sem lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º, primeira parte,
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
64
do CP)? Ou, ainda, seria hedionda a extorsão com lesão corporal ou morte, sem
restrição da liberdade do ofendido, em face da ausência de menção expressa ao
art. 158, § 2º, do Código Penal? A mera lesão corporal de natureza leve, resul-
tante da violência na extorsão, seria suficiente para configurar crime hediondo?
Para dirimir essas dúvidas, nosso artigo se inicia com a análise do crime
de extorsão, bem como de suas formas majoradas e qualificadas, para, na se-
quência, apreciarmos as situações de hediondez desse crime, de acordo com
a redação dada pela Lei Anticrime (nº 13.964/2019) ao inciso III do art. 1º da
Lei nº 8.072/90. Ao final, faremos uma síntese de nossas principais conclusões.
1 Da Extorsão
O crime de extorsão está previsto no art. 158, caput, do Código Penal
vigente com a seguinte definição: “Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma
coisa: Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa”. De acordo com o § 1º
desse dispositivo, “se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade”. Nos termos
do § 2º do mesmo artigo, “aplica-se à extorsão praticada mediante violência
o disposto no § 3º do artigo anterior”, que comina pena de sete a 18 anos de
reclusão, se resultar em lesão corporal grave, e de 20 a 30 anos de reclusão,
se a consequência for morte, sem prejuízo da multa em ambos os casos (art.
157, § 3º, I e II, do CP).
O § 3º do art. 158 do Código Penal, incluído pela Lei nº 11.923/09, dispõe
que se a extorsão é cometida “mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa
condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de re-
clusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave
ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente”.
Diante das circunstâncias qualificadoras contidas no § 2º do art. 158 do
Código Penal (lesão corporal grave ou morte), infere-se que as formas quali-
ficadas estabelecidas no § 3º desse artigo, decorrentes de lesão corporal grave
ou morte, apenas incidem quando a restrição da liberdade do ofendido houver
sido condição para se obter vantagem econômica. Caso contrário, havendo lesão
corporal grave ou morte, sem a aludida restrição da liberdade do ofendido, a
adequação típica da conduta seria a do § 2º do art. 158 do Código Penal.
1 BITENCOURT, Cezar Roberto. Reforma penal material de 2009: crimes sexuais, sequestro relâmpago, celulares nas
prisões. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 211-212.
2 GOMES, Luiz Flávio et al. Comentários à reforma criminal de 2009 e à Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. São
Paulo: RT, 2009. p. 23-27.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
66
sem menção expressa ao § 2º do art. 158 do Código Penal, que define o crime
de extorsão qualificada pela morte, sem restrição da liberdade do ofendido.
Essa alteração legislativa suscita um espaço de interpretação a respeito do
alcance da hediondez no crime de extorsão (art. 158 do CP). Em uma primeira
leitura, pode-se cogitar que a hediondez dependeria sempre da restrição da liber-
dade do ofendido, conjugada ou não com a ocorrência de lesão corporal ou morte,
em razão de a referência legal se restringir ao § 3º do art. 158 do Código Penal.
Dessa perspectiva, as formas qualificadas pela ocorrência de lesão corporal grave
ou morte, sem a restrição da liberdade do ofendido, não seriam consideradas
hediondas, porque estariam estabelecidas no § 2º do art. 158 do Código Penal.
Para Guilherme de Souza Nucci, houve “erro do legislador, ao não
considerar como crime hediondo a forma qualificada, com resultado lesão
corporal grave ou morte. É impossível, por analogia in malam partem, corrigir
o equívoco. A forma eleita para transformar delitos em hediondos é a inserção
no rol do art. 1º da Lei nº 8.072/90”3.
Por outro lado, a redação do dispositivo poderia ser interpretada no
sentido da independência das orações nele contidas, configurando a hediondez
da extorsão quando qualificada pela restrição da liberdade do ofendido (art.
158, § 3º, primeira parte, do CP) ou, na segunda oração, quando da ocorrência
de lesão corporal ou morte, mesmo que dissociadas da restrição da liberdade
do ofendido (art. 158, §§ 2º e 3º, in fine, do CP).
3 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito penal: parte especial – arts. 121 a 212 do Código Penal. 4. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020. v. 2. p. 370.
4 Na lição de Aníbal Bruno, “pela análise do elemento linguístico, também chamado gramatical, apreende o intérprete
o sentido das palavras e si mesmas e na sua conexão sintática. O sentido usual em que, em regra, são tomadas as
palavras nas leis penais, e o sentido técnico, muitas vezes preferido pelo legislador” (BRUNO, Aníbal. Direito penal:
parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967. Tomo 1. p. 202).
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 67
“Há entre a extorsão e o roubo (aos quais é cominada pena idêntica) uma
tal afinidade que, em certos casos, praticamente se confundem. Concei-
tualmente, porém, a distinção está em que, na extorsão, diversamente do
roubo, é a própria vítima que, coagida, se despoja em favor do agente.
Dizia Frank, lapidarmente, que ‘o ladrão subtrai, o extorsionário faz com
que se lhe entregue’.”9
9 HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1955. v. VII. p. 63.
10 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito penal: parte especial – arts. 121 a 212 do Código Penal. 4. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020. v. 2. p. 363.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 69
vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em
virtude da ameaça ou da violência sofrida. Enquanto no roubo o agente atua
sem a participação da vítima, na extorsão o ofendido colabora ativamente com
o autor da infração penal”11.
Sobre a natureza da lesão corporal, em nosso entender, houve um lapso
na legislação, ao considerar a extorsão hedionda, em caso de “ocorrência de
lesão corporal”, sem mencionar a sua gravidade. Perfeitamente aplicável aqui a
analogia in bonam partem, admitida no âmbito penal para afastar a hediondez
da extorsão nos casos de lesão corporal de natureza leve. Aliás, sequer há
menção da lesão corporal de natureza leve, seja na forma simples, seja nas
formas agravadas e qualificadas dos crimes de roubo ou extorsão, pois a mera
lesão corporal leve seria absorvida por essas infrações, em suas formas simples
(seria ínsita ao meio de execução “violência”).
Por esses motivos, entendemos hedionda a extorsão, nas seguintes
situações previstas no inciso III do art. 1º da Lei nº 8.072/90, a saber: (i)
ocorrência de restrição da liberdade da vítima (com ou sem lesão corporal grave
ou morte); (ii) ocorrência de lesão corporal grave (com ou sem restrição da li-
berdade do ofendido); ou (iii) ocorrência de morte (com ou sem restrição da
liberdade do ofendido).
Partilha dessa opinião Patricia Vanzolini, para quem, a despeito das suas
imprecisões, “o texto legal passou a incluir tanto a extorsão qualificada pela
privação de liberdade quanto a qualificada pela lesão corporal grave ou morte,
estejam ou não associadas”12.
11 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito penal: parte especial – arts. 121 a 212 do Código Penal. 4. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020. v. 2. p. 363-364.
12 VANZOLINI, Patricia. Alterações à legislação penal especial. In: JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei Anticrime comentada:
artigo por artigo. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 232.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
70
pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º)”.
Portanto, se o legislador considerou hediondo o roubo nessas hipó-
teses, não teria sentido se estabelecesse normas distintas para reconhecer a
hediondez na extorsão.
Assim, parece-nos que o legislador deveria ter incluído também a extor-
são majorada pelo emprego de arma de fogo (art. 158, § 1º, segunda figura, do
CP) entre as situações de hediondez, a exemplo do que ocorreu em relação ao
roubo, como se verifica pelo art. 1º, inciso II, alínea b, da Lei nº 8.072/90. De
fato, não se justifica, na espécie, tratamento diverso entre o roubo cometido
com emprego de arma de fogo e a extorsão, com idêntica majorante, diante
da estreita semelhança entre essas infrações.
3 Conclusões
Diante do exposto, após análise aprofundada do tema, por meio da
conjugação das técnicas de interpretação gramatical e sistemática, podemos
concluir, de lege lata, que a extorsão configura crime hediondo quando qualifi-
cada pela restrição da liberdade da vítima, com ou sem lesão corporal grave ou
morte, bem como nos casos da ocorrência de lesão corporal grave ou morte,
com ou sem a restrição da liberdade do ofendido, seja em razão de o art. 1º,
inciso III, da Lei nº 8.072/90 conter orações coordenadas (distintas e sinta-
ticamente independentes), seja em razão da absoluta equiparação legislativa
operada pelo art. 158, § 2º, do Código Penal, que incorpora todo o regime
jurídico estabelecido para o crime de roubo qualificado (remissão ao dispos-
to no § 3º do art. 157 do CP), impondo a incidência de idêntico tratamento
penal para as condutas – mesmas sanções e mesmo regime jurídico material
e processual (hediondez).
Concluímos, ainda, incabível considerar a mera lesão corporal de
natureza leve para a hediondez da extorsão. Por derradeiro, entendemos ter
havido um lapso na legislação, ao não enumerar a extorsão com emprego de
arma de fogo como crime hediondo.
Dessa ótica, para uma alteração legislativa, apta a propiciar maior seguran-
ça jurídica e maior coerência interna no ordenamento jurídico-penal, sugerimos,
de lege ferenda, a seguinte redação para o art. 1º, inciso III, da Lei nº 8.072/90:
‘Art. 1º (...)
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 71
III – extorsão:
c) qualificada pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 158, § 2º)’.”
ABSTRACT: In this article, we analyze the situations in which the crime of extortion (article 158 of the
CP) can be considered a heinous crime, under the terms of article 1, item III, of Law no. 8,072, of 1990,
as amended by the Anti- crime Law (no. 13,964/2019). In this research, we discussed the crime of extor-
tion, in its aggravated and qualified forms, in order to make a grammatical and systematic interpretation,
through a comparative study of this offense with the crime of theft. At the end, we present our conclusions
and legislative suggestions on the topic.
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ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. v. 2.
VANZOLINI, Patricia. Alterações à legislação penal especial. In: JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei Anticrime
comentada: artigo por artigo. São Paulo: Saraiva, 2020.
1 Introdução
Ainda não há consenso no Brasil acerca do enquadramento do recebi-
mento de honorários advocatícios oriundos de atividade ilícita no crime de
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 73
1 No Brasil, optou-se por adotar a nomenclatura lavagem de dinheiro ao invés de branqueamento de dinheiro, em razão
de que o primeiro termo já estava estabelecido na linguagem popular e no meio financeiro, além de que o segundo
termo poderia ter uma conotação racista. (BRASIL. Exposição de motivos nº 692, de 18 de dezembro de 1996. Disponível
em: http://www.fazenda.gov.br/orgaos/coaf/legislacao-e-normas/legislacao/exposicao-de-motivos-lei-9613.pdf. Acesso
em: 25 set. 2017)
2 BALTAZAR Jr., José Paulo. Crimes federais. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 1.088.
3 A Itália foi o primeiro país a criminalizar a lavagem de dinheiro em 1978. (DE CARLI, Carla Veríssimo. Lavagem de
dinheiro: ideologia da criminalização e análise do discurso. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2012. p. 80-82)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
74
4 BRASIL. Decreto nº 154, de 26 de junho de 1991. Promulga a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes
e Substâncias Psicotrópicas. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 jun. 1991. Disponível em: http://www.planalto.
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Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 75
7 BRASIL. Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra a Corrup-
ção, adotada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 9 de
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8 BRASIL. Decreto nº 154, de 26 de junho de 1991. Promulga a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes
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9 BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos
e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar.
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10 BRASIL. Lei nº 10.701, de 9 de julho de 2003. Altera e acrescenta dispositivos à Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998,
que dispõe sobre os crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema
financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jul. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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11 BRASIL. Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012. Altera a Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, para tornar mais eficiente
a persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jul. 2012. Disponível
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Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
76
12 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal econômico. São Paulo: Saraiva, 2016. v. 2. p. 450-451.
13 BRASIL. Exposição de motivos nº 692, de 18 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.fazenda.gov.br/orgaos/
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14 BALTAZAR Jr., José Paulo. Crimes federais. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 1.089-1.090.
15 DE CARLI, Carla Veríssimo. Lavagem de dinheiro: ideologia da criminalização e análise do discurso. 2. ed. Porto
Alegre: Verbo Jurídico, 2012. p. 98.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 77
portamentos nocivos a ele. Mais que isso, ele serve como uma espécie de freio
ao poder punitivo do Estado, na medida em que limita a intervenção penal16.
Por outro lado, ele também limita a liberdade dos indivíduos, ao passo
que fundamenta a proibição de condutas lesivas. Por isso, deve-se ter muito
cuidado na eleição desses bens jurídicos que serão objeto de proteção pelo Di-
reito Penal. Dessa forma, é preciso que eles estejam pautados na Constituição17.
No que tange ao bem jurídico tutelado pelo crime de lavagem de
dinheiro, constata-se, pois, que existem várias correntes que buscam definir
qual seria ele. Castellar18, por seu turno, elenca cinco possíveis bens jurídicos,
são eles: a saúde pública; o bem jurídico protegido pelo delito antecedente; a
ordem socioeconômica; a administração da justiça; ou a pretensão estatal ao
confisco das vantagens do crime.
No que se refere à saúde pública, ela decorre da primeira geração de
legislações antilavagem, que tinham como crime antecedente o tráfico de dro-
gas. Assim, tendo em vista que essas legislações tinham por objetivo precípuo
o combate ao tráfico de drogas, adotava-se o mesmo bem jurídico do crime
antecedente para a lavagem de dinheiro, ou seja, a saúde pública19.
Todavia, essa ideia de considerar como bem jurídico tutelado pelo
crime de lavagem de dinheiro o mesmo da infração penal antecedente ainda
persiste. De acordo com essa corrente doutrinária, a lavagem de dinheiro po-
deria tutelar qualquer bem jurídico, já que abrangeria o mesmo bem jurídico
tutelado pela infração penal antecedente. Por isso, ela exige um rol específico
de infrações penais antecedentes. Essa corrente sofre várias críticas, porque vai
de encontro à ideia de autonomia do delito de lavagem de dinheiro e acarreta
uma desproporcionalidade na aplicação da pena, eis que independentemente
do bem jurídico tutelado a pena abstratamente cominada seria a mesma,
bem como prejudica a responsabilização penal pela autolavagem, sob pena
de ensejar em bis in idem20.
16 PACELLI, Eugênio; CALLEGARI, André. Manual de direito penal: parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
17 WELTER, Antônio Carlos. Dos crimes: dogmática básica. In: DE CARLI, Carla Veríssimo (Org.). Lavagem de dinheiro:
prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap. 5. p. 188-191.
18 CASTELLAR, João Carlos. Lavagem de dinheiro: a questão do bem jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2012. p.
153-174.
19 WELTER, Antônio Carlos. Dos crimes: dogmática básica. In: DE CARLI, Carla Veríssimo (Org.). Lavagem de dinheiro:
prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap. 5. p. 192; CASTELLAR, João Carlos.
Lavagem de dinheiro: a questão do bem jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2012. p. 154-155.
20 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais
– comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2016. p. 82-84.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
78
Por outro lado, outros autores defendem que o bem jurídico é a ordem
econômica ou a ordem socioeconômica, como De Carli21, Oliveira22, Prado23,
Bitencourt24 e Lima25. Nessa senda, de grande valia é a observação de De
Carli26 no sentido de que:
21 DE CARLI, Carla Veríssimo. Lavagem de dinheiro: ideologia da criminalização e análise do discurso. 2. ed. Porto
Alegre: Verbo Jurídico, 2012. p. 116.
22 OLIVEIRA, William Terra de. Dos crimes e das penas. In: CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES,
Luiz Flávio. Lei de Lavagem de Capitais. São Paulo: RT, 1998. p. 321-323.
23 PRADO, Luiz Regis. Direito penal econômico. 7. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 525-526.
24 Na verdade, Bitencourt identifica como bem jurídico tutelado pelo crime de lavagem de dinheiro a ordem econô-
mica e financeira. (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal econômico. São Paulo: Saraiva, 2016. v. 2.
p. 445-450)
25 LIMA, Vinicius de Melo. Lavagem de dinheiro e ações neutras: critérios de imputação penal legítima. Curitiba: Juruá,
2014. p. 80-86.
26 DE CARLI, Carla Veríssimo. Lavagem de dinheiro: ideologia da criminalização e análise do discurso. 2. ed. Porto
Alegre: Verbo Jurídico, 2012. p. 113-114.
27 SCHMIDT, Andrei Zenkner. Direito penal econômico: parte geral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018. p.
228.
28 SCHMIDT, Andrei Zenkner. Direito penal econômico: parte geral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018. p.
225-235.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 79
(...)”29. Para eles, isso ocorre porque nem sempre a ordem econômica será le-
sada pela prática do crime em tela, ao passo que a prática das condutas descritas
no tipo penal da Lei nº 9.613/98 obstaculiza a identificação e a rastreabilidade
da origem dos bens, direitos e valores oriundos de atividades criminosas, o
que também dificulta a investigação das infrações penais antecedentes30.
Já quanto à pretensão estatal ao confisco, que é outro dos possíveis bens
jurídicos mencionados por Castellar31, refere-se à finalidade da criminalização
da lavagem de dinheiro, que seria de confiscar os valores obtidos com delitos,
prevenindo, assim, a prática de novas infrações penais. Esse bem jurídico, na
realidade, seria uma especificação da administração da justiça, pois impede
a utilização dos bens, direitos ou valores obtidos com a prática das infrações
penais antecedentes32.
No entanto, essas não são as únicas posições existentes na doutrina. O
próprio Castellar33, citado anteriormente, assevera que não existe nenhum
bem jurídico tutelado pelo crime de lavagem de dinheiro. Além disso, para
ele, o Direito Administrativo já seria suficiente para tutelar os possíveis bens
jurídicos cujo tipo penal da Lei nº 9.613/98 visava proteger, não sendo neces-
sária, portanto, a atuação do Direito Penal para tanto34.
Enquanto outros acreditam que se trata de um crime pluriofensivo,
tutelando não apenas um bem jurídico, mas vários, Mendroni35 e Welter36, por
exemplo, acreditam que os bens jurídicos tutelados são a ordem socioeconô-
mica e a administração da justiça, pois ambos isoladamente não seriam capazes
de fornecer proteção suficiente, já que, para eles, a lavagem de dinheiro tem o
condão de lesar tanto a ordem socioeconômica, considerando o impacto que
o dinheiro ilícito pode ter na economia, quanto a administração da justiça, na
medida em que obsta a apuração das infrações penais antecedentes. Baltazar
29 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais
– comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2016. p. 86 – grifos do autor.
30 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais
– comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2016. p. 85-95.
31 CASTELLAR, João Carlos. Lavagem de dinheiro: a questão do bem jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2012. p.
168-174.
32 CASTELLAR, João Carlos. Lavagem de dinheiro: a questão do bem jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2012. p.
168-174.
33 CASTELLAR, João Carlos. Lavagem de dinheiro: a questão do bem jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2012. p.
176-192.
34 CASTELLAR, João Carlos. Lavagem de dinheiro: a questão do bem jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2012. p.
176-192.
35 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime de lavagem de dinheiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 80-82.
36 WELTER, Antônio Carlos. Dos crimes: dogmática básica. In: DE CARLI, Carla Veríssimo (Org.). Lavagem de dinheiro:
prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap. 5. p. 198-199.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
80
37 BALTAZAR Jr., José Paulo. Crimes federais. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 1.090.
38 BRICKEY, Kathleen F. Tainted assets and the right to counsel: the money laundering conundrum. Washington
University Law Quaterly, St. Louis, vol. 66, n. 1, p. 47-61, 1988. Disponível em: https://openscholarship.wustl.edu/
cgi/viewcontent.cgi?article=2033&context=law_lawreview> Acesso em: 21 fev. 2019.
39 AMBOS, Kai. Lavagem de dinheiro e direito penal. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2007. p. 57-61.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 81
“(...) não se desconhece que a busca de uma reflexão teórica sobre o alcan-
ce e a efetividade da normativa de lavagem em contraste com o papel do
advogado criminalista não está alheia à problemática que envolve todos os
setores do Judiciário no longo percurso da construção do Estado Consti-
tucional, ainda mais quando associada à legitimidade do poder coercitivo,
aos ditames democráticos.”
40 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 84.
41 DE GRANDIS, Rodrigo. O exercício da advocacia e o crime de “lavagem” de dinheiro. In: DE CARLI, Carla
Veríssimo. (Org.). Lavagem de dinheiro: prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap.
4. p. 173-174.
42 AMBOS, Kai. Lavagem de dinheiro e direito penal. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2007. p. 63.
43 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 133-134.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
82
III – importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos ver-
dadeiros.
44 BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos
e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar.
1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm. Acesso em: 9 abr. 2019.
45 BRASIL. Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012. Altera a Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, para tornar mais eficiente
a persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jul. 2012. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12683.htm#art2. Acesso em: 9 abr. 2019.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 83
46 BALTAZAR Jr., José Paulo. Crimes federais. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 1.099.
47 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 187.
48 DE CARLI, Carla Veríssimo. Dos crimes: aspectos objetivos. In: DE CARLI, Carla Veríssimo (Org.). Lavagem de
dinheiro: prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap. 6. p. 250-253.
49 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 187.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
84
o caso, todavia, do advogado que aceita honorários superiores aos que efetiva-
mente cobraria ou que nem mesmo prestou o serviço e devolve o excedente
ao seu cliente como forma de dar uma aparência lícita aos valores. Nesses
casos, se tratam de verdadeiros atos para encobrir a origem do dinheiro. A
esse respeito, Lima50 evidencia que:
50 LIMA, Vinicius de Melo. Lavagem de dinheiro e ações neutras: critérios de imputação penal legítima. Curitiba: Juruá,
2014. p. 137.
51 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais
– comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2016. p. 194-196.
52 SOUZA, Alvaro Augusto Macedo Vasques Orione. Estudo de casos acerca da advocacia consultiva e do recebimento
de honorários maculados. In: ESTELLITA, Heloisa (Coord.). Exercício da advocacia e lavagem de capitais. Rio de Janeiro:
FGV, 2016. Parte II. Cap. 1. p. 210.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 85
53 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal econômico. São Paulo: Saraiva, 2016. v. 2. p. 484.
54 GASTALDI, José Petrelli. Elementos de economia política. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 6-8.
55 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Honorários advocatícios. Glossário jurídico. Disponível em: http://www.stf.jus.
br/portal/glossario/. Acesso em: 14 jul. 2019.
56 DE CARLI, Carla Veríssimo. Dos crimes: aspectos objetivos. In: DE CARLI, Carla Veríssimo (Org.). Lavagem de
dinheiro: prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap. 6. p. 255.
57 PRADO, Luiz Regis. Direito penal econômico. 7. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 535.
58 BALTAZAR Jr., José Paulo. Crimes federais. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 1.104.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
86
59 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais
– comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2016. p. 195-196.
60 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime de lavagem de dinheiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 83-84.
61 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal econômico. São Paulo: Saraiva, 2016. v. 2. p. 485-486.
62 DE GRANDIS, Rodrigo. O exercício da advocacia e o crime de “lavagem” de dinheiro. In: DE CARLI, Carla
Veríssimo. (Org.). Lavagem de dinheiro: prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap.
4. p. 174-181.
63 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 144-148.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 87
Por fim, importante ainda mencionar uma das mais recentes tentativas
de criminalizar a conduta, qual seja o PL nº 442/2019, de autoria do Depu-
tado Rubens Bueno, que visava alterar o § 2º do art. 1º da Lei nº 9.613/98,
a fim de incluir um terceiro inciso, o qual criminalizaria o recebimento de
honorários advocatícios de origem ilícita64. O referido projeto, todavia, já tem
parecer da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), que
se manifestou pela inconstitucionalidade do projeto de lei, em razão de violar
direitos fundamentais, em especial, o direito à ampla defesa65. Este, no entanto,
não é o primeiro projeto de lei nesse sentido, anteriormente existiram outros
projetos com objetivos semelhantes ou até mesmo idênticos66.
Com isso, percebe-se que, embora não haja um consenso a respeito
do recebimento dos honorários advocatícios poder ser enquadrado nos tipos
penais da Lei nº 9.613/98, existe essa possibilidade, especialmente, quando
se trata do inciso I do § 2º da referida Lei, também não se pode esquecer das
constantes tentativas de criminalizar tal conduta por meio de projetos de lei
que ainda não restaram frutíferas.
Essa possível criminalização da conduta do advogado se trata de uma
questão delicada ainda mais pela possível violação de direitos fundamentais,
bem como por ser uma conduta cotidiana, que, em princípio, não tem por
objetivo a prática de nenhum delito, razão pela qual, por vezes, se recorre às
condutas neutras para buscar uma solução. Nessa senda, é preciso estudar as
condutas neutras e como o recebimento dos honorários advocatícios nelas se
encaixam, bem como até que ponto a atuação do advogado permanece dentre
do risco permitido.
64 BUENO, Rubens. Projeto de Lei nº 442, de 2019. Altera a Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, que dispõe sobre os
crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os
ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras providências.
Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2191114. Acesso em:
17 jul. 2019.
65 BRASIL. Câmara dos Deputados. PL nº 442/2019. Brasília: Câmara dos Deputados, 2020. Disponível em: https://
www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2191114. Acesso em: 9 maio 2020.
66 HAGE, Fábio Augusto Santana. Apontamentos sobre uma possível relação entre a percepção de honorários advo-
catícios maculados por capital ilícito e o crime de lavagem de dinheiro. Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/
CONLEG/Senado, abril/2018 (Boletim Legislativo nº 69, de 2018). Disponível em: https://www12.senado.leg.br/
publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/boletins-legislativos/bol69. Acesso em: 13 fev. 2019.
67 LOBATO, José Danilo Tavares. Teoria da participação criminal e ações neutras: uma questão única de imputação objetiva.
Curitiba: Juruá, 2010. p. 11.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
88
a ação neutra é “(...) uma contribuição ao injusto penal por alguém cuja re-
provação penal não seja manifestamente exteriorizada”, ou seja, é uma ação
que, em princípio, não é típica, mas que pode contribuir para a prática de um
delito. Ela se encontra entre o permitido e o proibido, tornando-se passível
de responsabilização penal quando exceder o risco permitido no âmbito da
atividade68.
Tratam-se, portanto, de atividades lícitas praticadas diariamente no
âmbito profissional ou social, que não têm por fim violar nenhum bem jurí-
dico tutelado pelo Direito Penal, mas que acabam colaborando na realização
do ato delitivo69. Por isso, também são chamadas de socialmente adequadas,
inócuas ou cotidianas70.
Isso posto, vale lembrar que:
68 LIMA, Vinicius de Melo. Lavagem de dinheiro e ações neutras: critérios de imputação penal legítima. Curitiba: Juruá,
2014. p. 30-31.
69 PEREIRA, Flávio Cardoso. As ações cotidianas no âmbito da participação delitiva. Revista Jus Navigandi, Teresina, 1°
jan. 2003. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/3652/as-acoes-cotidianas-no-ambito-da-participacao-delitiva.
Acesso em: 24 jun. 2018.
70 LIMA, Vinicius de Melo. Lavagem de dinheiro e ações neutras: critérios de imputação penal legítima. Curitiba: Juruá,
2014. p. 31.
71 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 153-154.
72 CALLEGARI, André Luís; WEBER, Ariel Barazzetti. Lavagem de dinheiro. São Paulo: Atlas, 2014. p. 114.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 89
“As ações neutras, em regra, são condutas atípicas, não sendo passíveis de
reprimenda penal, desde que não transcendam o campo ético da liber-
dade profissional, associando-se à prática delitiva, sob a ‘roupagem’ do
livre-exercício de uma atividade. Noutras palavras, se, no caso concreto,
for comprovado que a conduta do agente ultrapassou o risco permitido,
tornando-se idônea para afetar o bem jurídico tutelada (sic), com a presença
do elemento subjetivo cognitivo, entende-se que o contributo adquire
relevância penal.”76
Isso significa que apenas na análise do caso concreto é que vai ser pos-
sível saber se a conduta vai ter relevância penal. Para tanto, verifica-se que,
no caso da lavagem de dinheiro, se a pessoa tinha o conhecimento da origem
ilícita dos valores, bens ou direitos, bem como se a conduta por ela praticada
excede os riscos que sua atividade permite. Caso excedam esses riscos permiti-
dos pela atividade, a conduta adentra o campo do risco proibido, tornando-se,
portanto, apta a sofrer as respectivas consequências na esfera penal.
Logo, é evidente o porquê de se tratar de condutas neutras quando o
assunto são os honorários advocatícios, haja vista que o recebimento destes
é uma ação cotidiana dos advogados no exercício do seu labor. Afinal, como
73 LILLEY, Peter. Dirty dealing: the untold truth about global money laundering, international crime and terrorism. 3th
ed. London: Kogan Page, 2006. p. 74.
74 �����������������������������������������������������������������������������������������������������������������
Tradução livre de: “(...) if so much criminal money is being washed through legitimate businesses can any govern-
ment risk the social and political consequences of trying to stop it (...)”.
75 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 34.
76 LIMA, Vinicius de Melo. Lavagem de dinheiro e ações neutras: critérios de imputação penal legítima. Curitiba: Juruá,
2014. p. 53.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
90
77 BRASIL. Lei nº 8.906, de 4 julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 jul. 1994. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/
L8906.htm. Acesso em: 19 abr. 2019.
78 GRECO, Luís. Um panorama da teoria da imputação objetiva. 4. ed. São Paulo: RT, 2014. p. 50-70.
79 BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos
e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar.
1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm. Acesso em: 9 abr. 2019.
80 BRASIL. Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012. Altera a Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, para tornar mais eficiente
a persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jul. 2012. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12683.htm#art2. Acesso em: 9 abr. 2019.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 91
81 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais
– comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2016. p. 40-42.
82 PRADO, Rodrigo Leite. Dos crimes: aspectos subjetivos. In: DE CARLI, Carla Veríssimo (Org.). Lavagem de dinheiro:
prevenção e controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. Cap. 7. p. 308-311.
83 ESTELLITA, Heloisa. Advocacia e lavagem de capitais: considerações sobre a conveniência da autorregulamentação.
In: ESTELLITA, Heloisa. (Coord.). Exercício da advocacia e lavagem de capitais. Rio de Janeiro: FGV, 2016. p. 20.
84 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais
penais – comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2016. p. 183-187 – grifos
do autor.
85 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais
– comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2016. p. 187.
86 BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos
e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar.
1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm. Acesso em: 9 abr. 2019.
87 BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos
e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar.
1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm. Acesso em: 9 abr. 2019.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
92
88 GRECO, Luís. Um panorama da teoria da imputação objetiva. 4. ed. São Paulo: RT, 2014. p. 85-86.
89 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 157-159.
90 SÁNCHEZ RIOS, Rodrigo. Direito penal econômico: advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-
penal e de política criminal. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 169.
91 AMBOS, Kai. Lavagem de dinheiro e direito penal. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2007. p. 59-60.
92 LOBATO, José Danilo Tavares. Teoria da participação criminal e ações neutras: uma questão única de imputação objetiva.
Curitiba: Juruá, 2010. p. 70-73.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 93
de que não está claro quem seria o responsável pela definição da relevância
da conduta neutra para a prática do crime, mas que provavelmente ficaria a
cargo do juiz, o qual deveria analisar no caso concreto se a conduta adentrou
no campo do risco proibido, além de que o critério não é apto para resolver
todas as situações, sendo necessário se valer de outras construções.
Ainda assim, na tentativa de resolver a questão, Souza93 sugere a análise da
“(...) conformidade com as normas que regem o exercício profissional da advo-
cacia (...)”, isto é, de acordo com o autor, a partir do critério proposto por Greco,
pode-se vislumbrar que a facilidade de se obter outro profissional que praticasse
a mesma conduta reduziria se esta fosse contrária às normas que regem a profis-
são. Dessa forma, para saber se a conduta do advogado de receber os honorários
maculados se encontra dentro risco permitido ou proibido, deve-se verificar
se ela está de acordo com o Estatuto da OAB e o Código de Ética da profissão.
De fato, as condutas neutras constituem outro tema nebuloso na dou-
trina. Sob a ótica da imputação objetiva, tem-se que a conduta deixa de ser
neutra quando cria um risco proibido, ou seja, um risco que não é aprovado
pelo ordenamento jurídico. Todavia, só através da análise do caso concreto é
que se poderá saber se a conduta é neutra ou criminosa.
Isso posto, por meio das condutas neutras é possível obter uma resposta
para a questão dos honorários advocatícios maculados, porque o recebimento
dos honorários é uma conduta cotidiana da atividade dos advogados em de-
corrência da prestação dos seus serviços. Assim, seria preciso verificar se essa
conduta do advogado estaria criando um risco proibido. Contudo, percebe-se
que a doutrina ainda não é unânime no que tange à solução para esse problema,
sendo que uma das soluções viáveis apontadas é a verificação da conformidade
da conduta com a regulamentação da profissão.
Logo, trata-se de questão sensível ligada ao direito de liberdade do
exercício da profissão, uma vez que diz respeito à retribuição pelos serviços
prestados pelo profissional e pode gerar uma restrição desse direito, bem
como ao direito à ampla defesa, ambos direitos fundamentais essenciais num
Estado Democrático de Direito.
5 Considerações Finais
A lavagem de dinheiro consiste no processo por meio do qual o
produto de uma infração penal é submetido a procedimentos destinados a
93 SOUZA, Alvaro Augusto Macedo Vasques Orione. Estudo de casos acerca da advocacia consultiva e do recebimento
de honorários maculados. In: ESTELLITA, Heloisa (Coord.). Exercício da advocacia e lavagem de capitais. Rio de Janeiro:
FGV, 2016. Parte II. Cap. 1. p. 217-218.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
94
TITLE: The acceptance of tainted attorney’s fees and the money laundering crime.
ABSTRACT: The issue of the acceptance of tainted attorney’s fees is still very controversial in Brazil,
especially when the current money laundering criminal type is broad enough to encompass such conduct.
For this reason, this article aimed to study the framework of the conduct of accepting tainted attorney’s
fees in money laundering crime, especially when obtained within the scope of criminal defenses. For that,
it was used the deductive method and the bibliographic research. Thus, it was verified that the conduct
under study might be framed in one of the conducts described in the criminal type of Act 9.613/98.
However, it needs caution to do not violate fundamental rights. The answer seems to be in the objective
imputation theory. Thus, the conduct only could be considered a crime when exceeded the permitted
risk. Nevertheless, this relies on the analysis of the concrete case.
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1 Introdução
A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XII, dispõe ser inviolável
o sigilo de dados e das comunicações telefônicas, com exceção, do último
caso, por ordem judicial, para fins de investigação criminal ou instrução penal.
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, após pedido de vista
da Ministra Cármen Lúcia, no dia 11 de junho de 2019, suspendeu o jul-
gamento do Habeas Corpus 168.052, que discute a licitude da obtenção de
provas em aplicativo de mensagens instantâneas sem a autorização judicial,
mais especificamente durante a abordagem policial.
O relator do referido processo, Ministro Gilmar Mendes, iniciou a vo-
tação no sentido de considerar nulas as provas obtidas através de conversas no
aplicativo, e também as que porventura foram encontradas em decorrência delas.
Utilizou-se, para tanto, dos dispositivos constitucionais descritos nos
incisos X e XII do art. 5º da Constituição Federal de 1988, eis que violaria a
intimidade, a vida privada e o sigilo às comunicações telefônicas do acusado.
Igualmente, o Superior Tribunal de Justiça fixou o entendimento, em
julgamento proferido no Recurso Ordinário em Habeas Corpus 51.531, de
que “ilícita é a devassa de dados, bem como das conversas de WhatsApp, ob-
tidas diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia
autorização judicial”.
Ocorre que o entendimento ainda não é pacificado pela jurisprudência,
impossibilitando a unificação das decisões proferidas pelo Poder Judiciário
em toda sua jurisdição.
É possível, a título de ilustração, demonstrar que os Tribunais ainda
divergem sobre o tema, a ver o julgamento realizado pelo Tribunal de Justiça
do Distrito Federal no Habeas Corpus 0025872-89.2016.8.07.0000, que en-
tendeu que “a apreensão do celular do réu e a verificação pelos policiais de
mensagens, indicativas de tráfico de drogas, não configura intercepção telefô-
nica ou quebra de sigilo dos dados, a demandar prévia autorização judicial”.
Nesse sentido, é inquestionável que as provas, para fins processuais, são
relevantes elementos para formar a convicção do magistrado ao emitir um jul-
gamento definitivo sobre o caso que vier a ser apresentado. Em âmbito penal,
o material probatório possui relevância ainda maior, tendo em vista as garantias
constitucionais que o acusado possui, em especial o princípio do in dubio pro reo.
Em vista dessas garantias constitucionais do acusado que, evidentemen-
te, são vitais em um Estado Democrático de Direito, a produção probatória
irregular ou ilícita pode ocasionar a nulidade absoluta de todo e qualquer
procedimento que vier a ser praticado, posteriormente, no processo.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
100
Tal fato ocasiona, muita das vezes, a própria ineficácia processual, eis
que a anulação de uma prova produzida antes da denúncia pode, pelo decurso
de tempo hábil para renovação das práticas processuais, gerar a prescrição de
um crime, por exemplo.
Dessa forma, é imprescindível para todos os cidadãos e, em especial,
aos operadores do direito, ter o conhecimento prévio de qualquer nulidade
probatória, a fim de garantir um processo justo e efetivo, seja para o acusado
ou para própria sociedade em si, tendo em vista os custos elevados de uma
tramitação processual longa.
O presente trabalho pretende realizar a análise dos dispositivos consti-
tucionais e infraconstitucionais que (in)justificam a obtenção de provas através
de aplicativos de mensagens instantâneas sem autorização pelo órgão judicial.
Para tanto, questiona-se o seguinte: é lícita a obtenção de provas por meio do
acesso, durante abordagem policial, ao aplicativo de mensagens instantâneas
do indivíduo, sem autorização judicial prévia?
Conforme dito, se torna relevante a pacificação do entendimento juris-
prudencial sobre o tema, diante de inegável insegurança jurídica dos operado-
res do direito e do próprio acusado que, caso o entendimento seja pela ilicitude
da prova, poderá fazer, desde logo, valer os seus direitos constitucionais.
Outrossim, a criação de precedente sobre o tema é relevante diante
da reconhecida mora do Poder Judiciário na resolutividade de processos. A
discussão sobre o tema, caso pacificada, evitará, por exemplo, a interposição
de recursos e o consequente decurso do tempo para resolução do assunto.
“(...) constatou-se que o Poder Judiciário tem que lidar com princípios
jurídicos, e não apenas com um conjunto fechado de regras. Dessa forma,
o reconhecimento da indeterminação estrutural do Direito tornou-se o
ponto de partida para as considerações acerca da Constituição, dos direitos
fundamentais e do próprio papel dos juízes e tribunais.”
Não se defende aqui que o direito à intimidade não deve ser protegido
em nenhuma hipótese, mas a aplicação do direito deve levar em consideração,
além dos dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, as circunstâncias
do caso, especialmente as que levaram à abordagem do indivíduo.
Não se olvida que há casos de abusos praticados por agentes da segurança
pública durante o exercício de sua função e que isso também deve ser levado
em consideração quando da análise probatória dos autos do processo judicial,
podendo justificar a invalidação de prova ou o relaxamento de prisão ilegal.
Todavia, não se trata de regra, e também há mecanismos que visam
apurar eventual abuso de tais servidores, como a instauração de procedimento
administrativo disciplinar ou a própria responsabilização penal do servidor pú-
blico, especialmente em face da publicação da nova lei de abuso de autoridade.
Faz-se necessário, pois, entender que o direito à intimidade do indivíduo
é digno de proteção constitucional, devendo ser respeitado pelo Estado e pelos
demais jurisdicionados. Contudo, a utilização do referido direito fundamental
como escudo à prática de ilícitos penais configura abuso de direito, justificando
eventual restrição praticada por autoridades públicas.
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natu-
reza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
106
Para tanto, de acordo com Masson e Marçal (2018, p. 241), apud Biffe
Júnior,
“nas hipóteses em que, dada a urgência desmedida e a excepcionalidade
da situação, for o caso de se efetuar a busca exploratória sem mandado
judicial sobre os dados depositados no aparelho apreendido, deverá a au-
toridade policial realizar um despacho escrito, justificando a necessidade
de afastamento da expectativa de privacidade do possuidor do aparelho
em virtude das peculiaridades do caso concreto, demonstrando, de forma
inequívoca, a urgência na obtenção das informações e/ou o risco concreto
de perecimento destas.”
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
108
5 Considerações Finais
Hodiernamente, nossa sociedade presencia enorme revolução tec-
nológica e a utilização de aplicativos de mensagens instantâneas foi, sem
dúvidas, um importante condutor para acelerar ainda mais o seu processo
de globalização.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 109
TITLE: The (im)possibility of accessing evidence obtained in instant messaging application without legal
authorization.
ABSTRACT: The present paper aims to analyze whether it is lawful for public security agents to obtain
evidence of data contained in an instant messaging application (WhatsApp) without the authorization of a
judicial authority. To this end, it will be made an analysis of the case law from the different Courts in the
country on the subject, which highlights the need for the formation of judicial precedents, in view of the
verification of conflicting decisions. It will be analyzed how the right to intimacy, privacy and data com-
munication of the individual is protected by the Brazilian legal system, as well as the interpretation of the
concept given by the doctrine on the right to intimacy and privacy, especially. Thus, using bibliographic
research as a methodology, under a dialectical approach, we will conclude, without exhausting the studies
on the topic, that it is possible to obtain lawfully evidence extracted from instant messaging applications
during the police approach, especially in cases where there is agreement of the individual or in a situation
of caught in the act, in which the allegation of the right to intimacy succumbs to his abusive allegation.
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Introdução
Ao longo da evolução das mais variadas civilizações, a mulher esteve
submissa à vontade e aos comandos de homens, seja ele seu genitor, irmãos
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 113
“No ano de 1983, Maria da Penha foi vítima de dupla tentativa de femini-
cídio por parte de Marco Antonio Heredia Viveros.
Primeiro, ele deu um tiro em suas costas enquanto ela dormia. Como
resultado dessa agressão, Maria da Penha ficou paraplégica devido a lesões
irreversíveis na terceira e quarta vértebras torácicas, laceração na dura-máter
e destruição de um terço da medula à esquerda – constam-se ainda outras
complicações físicas e traumas psicológicos.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 119
No entanto, Marco Antonio declarou à polícia que tudo não havia passado
de uma tentativa de assalto, versão que foi posteriormente desmentida
pela perícia. Quatro meses depois, quando Maria da Penha voltou para
casa – após duas cirurgias, internações e tratamentos –, ele a manteve em
cárcere privado durante 15 dias e tentou eletrocutá-la durante o banho.”
(INSTITUTO MARIA DA PENHA, 2019)
estes últimos, resta evidenciado que cabe aos interessados demonstrar que o
bem jurídico está exposto a risco e que a medida é necessária.
Repisa-se que, a reforma trazida pela Lei Ordinária Federal nº 12.403, de
4 de maio de 2011, rejeitou a importação de conceitos civilistas para o Direito
Processual Penal, e por meio da alteração que promoveu na então redação do
art. 312 do CPP trouxe a tona os verdadeiros requisitos das cautelares, quais
sejam: fumus commissi delicti (fumaça da comprovação mínima da ocorrência
de um delito e sua autoria) e periculum libertatis (o perigo gerado pelo uso da
liberdade pelo agente ativo de um delito que coloque o processo em risco).
Da conjugação de ambos os requisitos torna-se possível a decretação
dessas medidas cautelares, contudo, nesse momento é que surge o ponto
nevrálgico da questão, pois, “as medidas cautelares de natureza processual
penal buscam garantir o normal desenvolvimento do processo e, como conse-
quência, a eficaz aplicação do poder de penar. São medidas destinadas à tutela
do processo” (LOPES Jr., 2013, p. 786), “a essa premissa de que o processo é
um instrumento do direito material, deve ser somada uma segunda, de que
medida cautelar é um instrumento para assegurar a utilidade e a eficácia do
resultado final do processo” (BADARÓ, 2015, p. 938-939), significa dizer que:
Enfim, resta evidenciado que qualquer medida cautelar, seja ela protetiva
ou mesmo de prisão deve ter por objetivo único a proteção do processo penal,
que uma vez estando em risco, seja pela tentativa de violação de provas ou de
fuga do suspeito, poderão ser aplicadas, caso contrário, tratar-se-á de pura e
simples antecipação de pena travestida de cautelar.
Perante tal arcabouço teórico-jurídico, e diante da problemática apre-
sentada neste estudo, resta analisar a forma que tal instituto cautelar tem sido
apreciado pelos Tribunais de Justiça dos Estados. Para tanto, levantou-se no
sistema de busca do website na internet uma decisão de cada Corte ordinária
estadual para averiguar se há algum case que reconhece, respectivamente: a)
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 127
“Ainda que possam ser prontamente fixadas sem vinculação a uma ação
penal existente ou iminente, as medidas protetivas previstas na Lei nº
11.340/06 possuem cunho subsidiário em relação ao ilícito praticado con-
tra a vítima, não podendo subsistir autonomamente diante da ausência
de qualquer demanda penal específica para a sua apuração, notadamente
quando a própria ofendida é expressa ao se recusar a formalizar a necessária
representação para tanto.” (TJBA, 2019)
Outro ponto relevante é que, a “Lei Maria da Penha não prevê o prazo
de duração de uma medida protetiva. Da mesma forma, o Código de Processo
Penal não prevê prazo de vigência das cautelares, mas estipula sua incidência
de acordo com a necessidade e adequação (art. 282 do CPP) e revisão peri-
ódica (art. 282, § 5º, do CPP)” (TJTO, 2018; TJPB, 2016; e TJMA, 2019).
E dentre as medidas podem ser fixadas as de monitoramento eletrônico e
os “acréscimos de especificação quanto à distância que deve ser mantida da
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 129
Ainda à luz dos Tribunais de Justiça as figuras acima devem ser con-
ciliadas com os “dois requisitos indispensáveis, quais sejam, o fumus comissi
delicti e o periculum in libertatis” para a decretação ou manutenção da prisão
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 131
Por tais razões, as ações positivas, que são tão bem-vindas e necessárias
quanto o gozo de direitos de cidadania e fundamentais, não se adaptam ao
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Doutrina
132
3 Conclusões
Diante de todo o exposto, foi possível constatar que o movimento fe-
minista, em todas as suas ondas, teve grande importância para a proteção da
mulher, especialmente, nos casos de violências ocorridas em um ambiente
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 133
TITLE: Personality rights and the Maria da Penha Law: the precautionary dilemma in the Courts of
Justice of Brazil.
ABSTRACT: The subjugation of women led to the emergence of the feminist movement, which in its
four waves influenced the creation of protective figures in the universal and regional American human
rights system, as well as in Brazil through the creation of the Maria da Penha Law. Such legislation brought
precautionary measures like the emergency protective measures that compel the aggressor and preventive
detention. And after analyzing the case law along the lines proposed, it remains to be demonstrated that
such measures protect directives from the personality of women, although they also protect aggressors
and are improperly applied in some cases as an early punishment.
KEYWORDS: Burden of Proof. Protective Measures. Maria da Penha Law. Personality Rights.
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______. ______. Processo 20102585620148150000, Relª Desª Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti,
j. 10.11.2016.
ESTADO DE ALAGOAS. TJAL. Processo 0800043-66.2019.8.02.9002, Rel. Des. Sebastião Costa Filho,
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ESTADO DE GOIÁS. TJGO. Apelação Criminal 76982-96.2017.8.09.0175, Relª Dra. Camila Nina Erbetta
Nascimento, 1ª Câmara Criminal, j. 31.10.2019.
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ESTADO DE MINAS GERAIS. TJMG. Agravo de Instrumento 1.0079.17.017983-6/001, Rel. Des. Paulo
Cézar Dias, 3ª Câmara Criminal, j. 05.11.2019.
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gueira Virgínio, 3ª Câmara Criminal, j. 30.10.2019.
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Criminal, j. 22.08.2019.
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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Su-
premo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência da Ministra
Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento, por unanimidade, em
negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Relatora. Sessão
Virtual de 15.05.2020 a 21.05.2020.
Brasília, 22 de maio de 2020.
Ministra Cármen Lúcia – Relatora
RELATÓRIO
A Senhora Ministra Cármen Lúcia (Relatora):
1. Em 13.12.2019, neguei seguimento ao presente habeas corpus, com
requerimento de medida liminar, impetrado por Carlos Eduardo de Cam-
pos Machado e outros, advogados, em benefício de Marília de Castro Neves
Vieira, Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, contra ato
da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça pelo qual, em 07.08.2019,
recebida parcialmente, na Ação Penal 912, Relatora a Ministra Laurita Vaz, a
queixa-crime oferecida contra a paciente pelo crime de calúnia contra pessoa
morta, a ex-vereadora Marielle Franco.
2. Publicada essa decisão no DJe de 19.12.2019, foi interposto, em
07.02.2020, tempestivamente, o presente agravo regimental.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Jurisprudência
140
VOTO
A Senhora Ministra Cármen Lúcia (Relatora):
1. Razão jurídica não assiste à agravante.
2. Marinete da Silva, Antônio Francisco da Silva Neto, Anielle Silva dos
Reis Barboza e Mônica Tereza Azeredo Benício, respectivamente, mãe, pai,
irmã e companheira de Marielle Francisco da Silva, ajuizaram queixa-crime
contra a agravante, a ela imputando a prática do delito de calúnia:
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Jurisprudência
142
EXTRATO DE ATA
Ag. Reg. no Habeas Corpus nº 179.253
Proced.: Rio de Janeiro
Relatora: Minª Cármen Lúcia
Agte.: Marília de Castro Neves Vieira
Adv.(a/s): Carlos Eduardo de Campos Machado (02073/A/DF, 046403/
RJ) e outro(a/s)
Agdo.: Superior Tribunal de Justiça
Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo re-
gimental, nos termos do voto da Relatora. Segunda Turma, Sessão Virtual de
15.05.2020 a 21.05.2020.
Composição: Ministros Cármen Lúcia (Presidente), Celso de Mello,
Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Edson Fachin.
Ravena Siqueira – Secretária
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indi-
cadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Sebastião Reis Júnior,
Rogerio Schietti Cruz e Nefi Cordeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 23 de junho de 2020 (Data do Julgamento).
Ministro Antonio Saldanha Palheiro – Relator
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Antonio Saldanha Palheiro (Relator):
Trata-se de agravo regimental manejado contra decisão que denegou a
ordem de habeas corpus.
Depreende-se dos autos que o agravante foi condenado, pela prática do
crime previsto no art. 33 da Lei nº 11.343/06 (tráfico de drogas), às penas de 5
anos e 11 meses de reclusão, em regime inicial fechado, e de 550 dias-multa.
A condenação transitou em julgado em 01.10.2015.
Irresignada, a defesa ajuizou revisão criminal no Tribunal de Justiça, a
qual foi deferida “para afastar as circunstâncias judiciais atinentes à conduta
social e à personalidade do agente, de modo a minorar a pena privativa de
liberdade do revisionando para 5 anos e 10 meses de reclusão e 500 dias-
multas” (e-STJ, fl. 87).
Perante o Superior Tribunal de Justiça a defesa alegou que a Corte local
“incorreu em flagrante reformatio in pejus ao aumentar o incremento operado
na segunda fase da dosimetria em recurso exclusivo da defesa” (e-STJ, fl. 98).
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 151
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Antonio Saldanha Palheiro (Relator):
O recurso não merece prosperar tendo em vista a inexistência de argu-
mentos capazes de infirmar os fundamentos da decisão recorrida.
Com efeito, a jurisprudência de ambas as Turmas da Terceira Seção
deste Sodalício é firme no sentido de que o Tribunal de origem, ainda que
no julgamento de recurso exclusivo da defesa, pode valer-se de fundamentos
diversos dos constantes da sentença para se manifestar acerca da operação do-
simétrica, do regime inicial fixado para o cumprimento da pena, para examinar
as circunstâncias judiciais e rever a individualização da pena, desde que não
haja agravamento da situação final do réu e que sejam observados os limites da
pena estabelecida pelo Juízo sentenciante bem como as circunstâncias fáticas
delineadas na sentença e na incoativa.
É exatamente essa a hipótese dos autos, em que o Tribunal de ori-
gem reduziu a pena-base do agravante, porém promoveu a readequação do
percentual aplicado pelo reconhecimento da reincidência, na segunda fase
dosimétrica. A pena que foi primeiramente fixada em 5 anos e 11 meses e
pagamento de 550 dias-multa foi diminuída para 5 anos e 10 meses e paga-
mento de 500 dias-multa.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Jurisprudência
152
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, negar provimento
ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro, Laurita Vaz e Sebastião
Reis Júnior votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 23 de junho de 2020.
Ministro Rogerio Schietti Cruz – Relator
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz:
Flavia Maria da Silva agrava da decisão de fls. 86-92, em que a Presi-
dência desta Corte Superior indeferiu liminarmente este writ, por considerar
ausente constrangimento ilegal que permita a superação do óbice imposto
pela Súmula nº 691 do STF.
A defesa insiste na concessão de prisão domiciliar à paciente, pois “uma
vez acometida com uma cardiopatia, o Diretor do Núcleo de Atendimento à
Saúde da Penitenciária Feminina II de Tremembé, onde a paciente cumpre
pena, esclareceu que Flávia se enquadra no grupo de risco no novo corona-
vírus” (fl. 98).
Afirma que “em uma analogia com os elementos subjetivos do tipo que
devem estar presentes sobre o prisma da tipicidade da teoria do delito, temos a
sustentação da ausência de dolo nos casos de morte por Covid-19 dentro das
penitenciárias brasileiras, mas não há como sustentar a inexistência de culpa
por parte dos órgãos estatais. Tanto o é, que sob o aspecto civil, a responsabi-
lidade do Estado por morte dentro de delegacias e penitenciárias é objetiva,
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Jurisprudência
156
ressaltando o dever que lhe é atribuído por terem sob custódia pessoas cujos
direitos humanos deveriam ser assegurados” (fls. 100-101).
Assim, reitera que a apenada é hipertensa e mãe de duas crianças me-
nores de 12 anos de idade, que dela depende em tempos de pandemia.
Requer, assim, a reconsideração do referido decisum ou julgado pelo
colegiado, a fim de que seja concedida a ordem.
VOTO
O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz (Relator):
Na espécie, o Juízo das execuções indeferiu o pedido de prisão domiciliar, nos
seguintes termos:
“(...)
A despeito do quadro hipertensivo da detenta, não há nos autos notícia de que a
mesma não possa ser acompanhada na própria unidade prisional onde se encontra, in-
clusive, pelo teor do relatório médico apresentado, ela está recebendo o tratamento necessá-
rio para o seu estado de saúde. Ademais, a direção administrativa do presídio adotou as
medidas urgentes de prevenção à infecção e à propagação do vírus, a fim de tentar reduzir
os riscos epidemiológicos de transmissão e preservar a saúde dos indivíduos confinados,
bem como da sociedade civil como um todo. Sem embargo, não há ao menos
até a presente data notícia de infectados pelo dito ‘Coronavírus’ na localidade
ou sequer casos suspeitos.
(...)
Assim, para o presente caso, não há como afirmar que o risco ‘extramuros’ se
mostra atualmente menor que o ‘intramuros’, a justificar, por si só, pedidos
desta natureza, valendo consignar que o perigo é potencial e alcança a todos
os indivíduos sob a face da terra, indiscriminadamente.” (fls. 35-36)
O Desembargador relator indeferiu a medida e urgência, sob a seguinte
motivação:
“Com efeito, como bem salientado pelo d. juízo a quo, não há nos autos qualquer
indicativo revelando ser imprescindível a concessão da prisão domiciliar à paciente em
razão de sua situação de saúde, de modo que se revela inviável a concessão da medida
liminar pleiteada.
A propósito, anoto que a prisão domiciliar seria viável se atendidos os re-
quisitos previstos no art. 117, da Lei de Execuções Penais. Contudo, o men-
cionado dispositivo legal possibilita a concessão de prisão domiciliar para os
condenados em cumprimento de pena em regime aberto, sendo certo que, ao
menos por ora, não restou evidenciado que a paciente cumpra a reprimenda
em tal regime.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 157
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indica-
das, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, não conhecer do pedido. Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas,
Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Joel Ilan Paciornik.
Brasília (DF), 9 de junho de 2020 (Data do Julgamento).
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca – Relator
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator):
Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de
Wagner Alexandre Alves contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça
do Estado de Santa Catarina, no julgamento da Apelação Criminal 0005244-
45.2014.8.24.0075.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 161
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator):
O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção
deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do
habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for
passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade
de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade.
Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados, exemplificativos dessa
nova orientação das Cortes Superiores do país: HC 320.818/SP, Rel. Min. Felix
Fischer, Quinta Turma, j. 21.05.2015, DJe 27.05.2015; e STF, HC 113.890/
SP, Relª Minª Rosa Weber, Primeira Turma, j. 03.12.2013, DJ 28.02.2014.
Destarte, de início, incabível o presente habeas corpus substitutivo de
recurso. Todavia, em homenagem ao princípio da ampla defesa, passa-se ao
exame da insurgência, para verificar a existência de eventual constrangimento
ilegal passível de ser sanado pela concessão da ordem, de ofício.
A discussão principal deste habeas corpus diz respeito aos processos pendentes
que envolvam o crime de estelionato, devendo-se fixar o entendimento a respeito
da incidência das recentes alterações legislativas sobre a natureza da ação penal
do crime em tela de forma retroativa ou não nas persecuções penais em curso.
Em outras palavras, nas ações penais em curso, cujo réu esteja sendo
acusado pelo crime de estelionato (e não sendo o caso das ressalvas estabe-
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Jurisprudência
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lecidas pela nova lei), deve-se anular todos esses processos para ser exigida a
juntada ao processo da representação?
Como é de conhecimento, a Lei nº 13.964/2019, de 24 de dezembro
de 2019, conhecida como “Pacote Anticrime”, alterou substancialmente o art.
171 do Código Penal, que tipifica o crime de estelionato, in verbis:
“Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qual-
quer outro meio fraudulento:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez
contos de réis. (Vide Lei nº 7.209, de 1984)
§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode
aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º Nas mesmas penas incorre quem:
Disposição de coisa alheia como própria
I – vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia
como própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II – vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inaliená-
vel, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro,
mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas cir-
cunstâncias;
Defraudação de penhor
III – defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV – defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar
a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V – destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio
corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o in-
tuito de haver indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI – emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado,
ou lhe frustra o pagamento.
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a) se a inicial (denúncia) já foi ofertada, trata-se de ato jurídico perfeito, não sendo
alcançado pela mudança. Não nos parece correto o entendimento de que a vítima deve
ser chamada para manifestar seu interesse em ver prosseguir o processo. Essa lição trans-
forma a natureza jurídica da representação de condição de procedibilidade em condição
de prosseguibilidade. A lei nova não exigiu essa manifestação (como fez no art. 88 da
Lei nº 9.099/95)
b) se a incoativa ainda não foi oferecida, deve o MP aguardar a oportuna re-
presentação da vítima ou o decurso do prazo decadencial, cujo termo inicial,
para os fatos pretéritos, é o da vigência da novel lei.” (CUNHA, Rogério
Sanches. Manual de direito penal: parte especial [arts. 121 ao 361]. 12. ed. rev.,
atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 413) – destaquei
Ora, as condições de procedibilidade, que alguns autores chamam de
condições de admissibilidade do processo penal ou, ainda, de pressupostos
processuais, não se confundem com as condições de prosseguibilidade.
Em síntese, a condição de procedibilidade é o requisito que submete a
relação processual à existência ou validez. Como derradeiro exemplo, cita-se,
por oportuno, a representação do ofendido nas ações públicas condicionadas.
Observa-se que a condição de procedibilidade funciona como uma con-
dição necessária para o início do processo. Assim, processo ainda não começou
e a condição precisa ser implementada para que o processo possa ter início.
Por outro lado, na condição de prosseguibilidade o processo já está
em andamento, e uma condição deve ser implementada para que o processo
possa seguir seu curso normal.
No mesmo sentido, destaco o posicionamento do Tribunal de origem (e-
STJ, fl. 29): “De fato, em que pese o novo comando normativo tenha conteúdo
penal, uma vez que seus efeitos podem afetar o direito punitivo estatal, é certo
que não pode atingir o ato jurídico perfeito e acabado. Do contrário, estar-se-ia
conferindo efeito distinto ao estabelecido na nova regra, transformando-se a
representação em condição de prosseguibilidade e não procedibilidade, o que
evidentemente não é possível por via de interpretação. De mais a mais, no caso
presente, há manifestação da vítima no sentido de ver o acusado processado,
não se exigindo para tal efeito, como se sabe, fórmula sacramental”.
Por conseguinte, a princípio, a posição mais acertada seria a de que a
retroatividade da representação no crime de estelionato deve se restringir à
fase policial, não alcançando o processo, o que não se amoldaria ao caso dos
autos, considerando a condição de procedibilidade da representação e não de
prosseguibilidade, conforme nos mostra Rogério Sanches.
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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus Criminal
2079242-76.2020.8.26.0000, da Comarca de Valinhos, em que é impetrante
G. L. M. e paciente G. F. M.
Acordam, em 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça
de São Paulo, proferir a seguinte decisão: “Conheceram da impetração em
favor do paciente G. F. M., e concederam parcialmente a ordem, confirmando-se
a liminar deferida às folhas 267/270 destes autos. V.U.”, de conformidade com
o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores Paulo
Rossi (Presidente sem voto), João Morenghi e Angélica de Almeida.
São Paulo, 30 de junho de 2020.
Desembargador Heitor Donizete de Oliveira – Relator
Voto nº 1170
Trata-se de Habeas Corpus impetrado pelo advogado Dr. Guilherme
Luis Martins, inscrito na OAB/SP nº 334.558, em favor de G. F. M., que
figura como paciente, no qual aponta como autoridade coatora o MM. Juiz
de Direito da 1ª Vara da Comarca de Valinhos, nos Autos de nº 0001562-
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É que acordo de não persecução penal não se confunde com delação pre-
miada, são institutos totalmente distintos, com pressupostos diversos, assim
como as consequências.”
Assim, a concessão parcial da liminar pleiteada, nas folhas 267/270 destes
autos, mostrou-se a melhor solução para o presente caso, e foi suficiente para cessar o
alegado constrangimento ilegal, pois ao ser intimada, a defesa peticionou, na folha
263 dos autos de origem, manifestando-se favoravelmente à realização de au-
diência para que o paciente apresentasse confissão nos moldes delineados no
despacho supramencionado, e no dia 1º de junho de 2020, consoante termo
juntado nas folhas 293/294 dos autos de origem, foi realizada a audiência, o
paciente confessou o crime narrado na denúncia, e foi proposto acordo de não
persecução penal pelo Ministério Público, o qual foi devidamente homologado pela
magistrada, nos seguintes termos:
“III – Prestar serviços à comunidade ou entidades públicas pelo prazo de um
ano, sete meses e vinte dias. IV – Pagamento de prestação pecuniária no valor
de quatro salários mínimos R$ 4180,00 (quatro mil cento e oitenta reais), que
deverá ser pago em 06 (seis) parcelas iguais, mensais e sucessivas de R$ 697,00
(seiscentos e noventa e sete reais) cada, vencendo-se a primeira trinta (30) dias
após a intimação para o cumprimento da execução e as demais até o mesmo dia
dos meses subsequentes, mediante depósito em conta judicial de penas pecu-
niárias nº 5000131066799, do Banco do Brasil, Agência 6839-X/PAB Fórum
Valinhos, nos termos do Prov. CGF nº 01/2013. O autor dos fatos fica ciente
de que deverá trazer os comprovantes em Juízo, bem como retirar as eventu-
ais guias faltantes quando de seu comparecimento mensal para efetivo paga-
mento após a abertura do prédio do Fórum. São deveres do(a) averiguado(a):
a) comunicar ao cartório do Juízo eventuais mudanças de endereço, número
de telefone ou e-mail; b) comprovar, também junto ao cartório, mensalmente,
o cumprimento das condições do acordo, independentemente de notificação
ou aviso prévio, bem como justificar por meio de documentos, por iniciativa
própria, o eventual não cumprimento de alguma das condições. O averiguado
ainda sai ciente de que tão logo seja realizado o agendamento pela Secretaria
de Assistência Social/Secretaria de Saúde locais, deverá realizar o devido com-
parecimento, sob pena de prosseguimento da ação. Em caso de descumpri-
mento de quaisquer condições estipuladas ou não observados os deveres do(a)
averiguado(a), o Ministério Público poderá requerer o prosseguimento do fei-
to com designação de audiência de instrução debate e julgamento e poderá
utilizar o descumprimento do acordo como justificativa para não oferecimento
de proposta de suspensão condicional do processo, quando cabível.”
Ante o exposto, conhece-se da impetração em favor do(a) paciente G.
F. M., e concede-se parcialmente a ordem, confirmando-se a liminar deferida às
folhas 267/270 destes autos.
Desembargador Heitor Donizete de Oliveira – Relator
Divergência Jurisprudencial
cometido mediante grave ameaça e violência à pessoa, a reiteração da conduta delitiva revela
adequada a aplicação da medida socioeducativa de internação. O caráter pedagógico e resso-
cializante das medidas socioeducativas não excluem o seu aspecto retributivo, objetivando não
apenas a reintegração dos adolescentes na sociedade, mas inibir a reiteração no cometimento
de outros atos infracionais. Precedentes do STJ e deste Tribunal. 2. Não há violação ao art. 35,
I, da Lei nº 12.594/2012 (SINASE), considerando que a aplicação da medida socioeducativa
está legalmente respaldada na observância dos requisitos do art. 122, II, do ECA, ao tempo
que a reavaliação semestral da medida, com possibilidade de cessação da internação, ou até
mesmo de progressão para uma medida menos contundente que a restritiva de liberdade, é um
benefício que nenhum adulto obtém no cumprimento de pena, regida pela LEP. 3. Apelação
desprovida. (TJAC; APL 0800095-27.2018.8.01.0013; Ac. 21.909; Feijó; 1ª C.Cív.; Rel. Des. Luís
Camolez; DJAC 03/06/2020; p. 5)
carcerário previsto não configuram óbice à fixação do regime inicial aberto, à luz do disposto
no art. 33, § 2º, alínea c e § 3º, do Código Penal. 6. Em que pese tenha o denunciado utilizado
veículo automotor como instrumento para a prática do delito, na espécie, a inabilitação para
dirigir não se mostra recomendável nem eficaz como medida ressocializadora e preventiva, indo
de encontro à finalidade da norma, que é a de afastar o condenado de condição que favoreça a
criminalidade. (TRF 4ª R.; ACR 5011737-76.2018.4.04.7002; PR; 8ª T.; Rel. Des. Fed. Leandro
Paulsen; PJe 02/07/2020)
por ser mais benéfica ao réu. Contudo, além do silêncio do legislador sobre a aplicação do
novo entendimento aos processos em curso, tem-se que seus efeitos não podem atingir o
ato jurídico perfeito e acabado (oferecimento da denúncia), de modo que a retroatividade
da representação no crime de estelionato deve se restringir à fase policial, não alcançando o
processo. Do contrário, estar-se-ia conferindo efeito distinto ao estabelecido na nova regra,
transformando-se a representação em condição de prosseguibilidade e não procedibilidade.
Doutrina: CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361).
12. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 413. 3. Ademais, na hipótese, há ma-
nifestação da vítima no sentido de ver o acusado processado, não se exigindo para tal efeito,
consoante a jurisprudência desta Corte, formalidade para manifestação do ofendido. 4. Agravo
regimental improvido. (STJ; AgRg-PET-Ag-REsp 1.649.986; Proc. 2020/0013865-6; SP; 5ª T.;
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca; DJE 30/06/2020)
proporcional ao direito de visita dos apenados. 2. Não se mostra consentâneo aos objetivos da
Lei de Execução Penal proibir que uma pessoa possa visitar seu irmão que cumpre pena em
virtude de já visitar seu sobrinho que também é interno, notadamente quando não há qualquer
circunstância concreta que evidencie um risco à ordem do sistema carcerário. 3. Recurso de
agravo provido. (TJDF; RAG 07101.02-73.2020.8.07.0000; Ac. 125.9658; 1ª T.Crim.; Rel. Des.
Cruz Macedo; PJe 07/07/2020)
ou habilitação para dirigir veículos automotores deve guardar proporcionalidade com a pena
privativa de liberdade prevista para o crime. Constatando-se que de forma fundamentada essa
exigência foi observada pelo Juiz, afasta-se a pretensão da sua redução, mantendo-se a Sentença.
Recurso de apelação criminal desprovido. (TJAC; ACr 0013758-15.2018.8.01.0001; Ac. 31.233;
C.Crim.; Rel. Des. Samoel Martins Evangelista; DJAC 10/07/2020; p. 14)
gada. (TJSP; HC 2116195-39.2020.8.26.0000; Ac. 13720342; 16ª C.D.Crim.; Rel. Des. Marcos
Alexandre Coelho Zilli; DJESP 10/07/2020; p. 3256)
96/33 – HOMICÍDIO SIMPLES, AFASTAMENTO DE LOCAL DE ACIDENTE
PARA FUGIR À RESPONSABILIDADE CIVIL OU PENAL, EMBRIAGUEZ AO VOLAN-
TE E VIOLAÇÃO À SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR. REVOGAÇÃO
DA PRISÃO PREVENTIVA. POSSIBILIDADE. 1. Conquanto se trate de imputações que
incluem crime doloso com pena máxima em abstrato superior a quatro anos (homicídio sim-
ples supostamente praticado com dolo eventual), não se vislumbra, no presente momento,
que a liberdade da paciente trará risco concreto à persecução penal e ao meio social. 2. Paciente
primário e portador de bons antecedentes, preso em 25.09.2018 e pronunciado em 04.12.2019,
sem designação de data para o Plenário do Júri. 3. Ordem concedida, pela maioria, confirmada
a liminar anteriormente concedida, com a fixação de medidas de contracautela pelo MM. Juí-
zo a quo, e sem prejuízo da manutenção do isolamento social domiciliar, enquanto durarem
as determinações nesse sentido. (TJSP; HC 2074719-21.2020.8.26.0000; Ac. 13724125; 15ª
C.D.Crim.; Rel. Des. Cláudio Marques; DJESP 10/07/2020; p. 3.247)
96/34 – INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. ATIVIDADE NÃO EXCLUSIVA DA PO-
LÍCIA. Competência do Ministério Público para investigar a prática de ilícitos penais, desde
que observadas as garantias constitucionais asseguradas aos investigados e as prerrogativas pro-
fissionais dos advogados. Violação à separação dos poderes. Inexistência. Repercussão geral da
matéria que o plenário do STF reconheceu no julgamento do ARE 593.727/MG. Reafirmação
da jurisprudência no exame dessa controvérsia. Recurso de agravo improvido. (STF; ARE-AgR
1.241.784; RS; 2ª T.; Rel. Min. Celso de Mello; DJE 06/07/2020; p. 89)
96/35 – JÚRI. CONSELHO DE SENTENÇA QUE CONDENOU O ACUSADO
PELA PRÁTICA DE TENTATIVA DE HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO
(ART. 121, § 2º, I E IV, C/C O ART. 14, II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL). RECURSO
DA DEFESA. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE. INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO
VENTILADA PELO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. Razões apresentadas fora do prazo
estabelecido no art. 588 do CPP. Mera irregularidade. Precedentes. Erro ou injustiça no tocante
à pena aplicada (art. 593, III, c, do CPP). Pena-base para o mínimo legal. Impossibilidade.
Magistrado que apresentou devida fundamentação para o aumento da pena com base no caso
concreto. (I) Culpabilidade acentuada. Agente que exercia profissão de vigilante com formação
no manuseio de arma de fogo. Premeditação. Maior reprovabilidade da conduta demonstrada.
(II) Circunstâncias do crime. Agente que abandona seu local de trabalho com o uniforme da
empresa e pratica a conduta mediante violação de domicílio da vítima e durante o repouso
noturno. Circunstâncias que extrapolam o tipo penal. (III) Consequências do crime. Valoração
negativa. Vítima que sofreu sequelas e abalo emocional. Fundamento idôneo. Segunda fase. (I)
Reconhecimento da agravante do recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Magistrado que
apresentou devida fundamentação para o aumento da pena com base no caso com fundamento
na teoria da migração da qualificadora remanescente. (II) Exclusão da agravante da violência
contra a mulher (CP, art. 61, II, f). Inviabilidade. Agravante devidamente configurada. Terceira
fase. Pedido de reconhecimento da causa de diminuição de pena pela tentativa na metade. Invia-
bilidade. Iter criminis percorrido quase que na sua integralidade. Vítima atingida com disparos de
arma de fogo na face, tórax e abdome. Risco de vida constatado no laudo pericial. Diminuição
da pena adequada na fração de 1/3. Sentença mantida. (TJSC; ACR 0010486-48.2013.8.24.0033;
1ª C.Crim.; Rel. Des. Carlos Alberto Civinski; DJSC 07/07/2020; p. 395)
96/36 – LIVRAMENTO CONDICIONAL. COMETIMENTO DE CRIME DOLO-
SO NO CURSO DA PENA. FALTA GRAVE. AUSÊNCIA DE REQUISITO SUBJETIVO.
COMPORTAMENTO SATISFATÓRIO DURANTE A EXECUÇÃO DA PENA. 1. O
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Ementário
186
âmbito é provisória e, por consequência, reveste-se da cláusula rebus sic stantibus, de sorte que,
se posteriormente alteradas as premissas fáticas e jurídicas que embasaram o acautelamento,
é cabível o reexame da sua necessidade. Litispendência inexistente. 3. No âmbito criminal, é
possível a constrição de ativos lícitos de pessoas jurídicas nas hipóteses em que as infrações
penais são praticadas por meio da empresa e em seu favor. 4. Apesar da suspeita inicial, a
conclusão das investigações não resultou na confirmação dos elementos indiciários da par-
ticipação da empresa nos atos de lavagem de ativos, tampouco indicou que a pessoa jurídica
tenha se beneficiado diretamente do resultado das infrações penais ou que em suas contas
tenham circulado os recursos espúrios. 5. Ausente o requisito do fumus boni iuris, deve a
medida cautelar patrimonial em face de a pessoa jurídica ser revogada, mantendo-se, porém,
o bloqueio de conta cujos recursos são objeto de embargos de terceiro. 6. Apelação criminal
parcialmente provida. (TRF 4ª R.; ACR 5047453-39.2019.4.04.7000; PR; 8ª T.; Rel. Des. Fed.
João Pedro Gebran Neto; PJe 02/07/2020)
96/41 – PENA. REMIÇÃO POR ESTUDO. INCIDÊNCIA DA RECOMENDA-
ÇÃO Nº 44/2013 DO CNJ E DA RESOLUÇÃO Nº 3/2010 DO CNE. DECISÃO MAN-
TIDA. 1. A carga horária utilizada como base de cálculo para a obtenção dos dias remidos é
aquela referente a metade da duração dos cursos presenciais de educação de jovens e adultos
para o ensino médio, qual seja, 600 h, a qual foi adequadamente utilizada pelo Juízo da execução
penal, nos moldes estabelecidos pela Resolução nº 3/2010 do Conselho Nacional de Educação.
2. Agravo regimental não provido. (STJ; AgRg-HC 579.763; Proc. 2020/0107933-6; SC; 6ª T.;
Rel. Min. Rogério Schietti Cruz; DJE 01/07/2020)
96/42 – PENA. RETIFICAÇÃO DO CÁLCULO PARA PROGRESSÃO DE RE-
GIME ATINENTE A CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO. 40% (QUARENTA
POR CENTO). REINCIDENTE NÃO ESPECÍFICO. RECURSO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. AFASTAMENTO DA APLICAÇÃO DA NOVA LEI. UTILIZAÇÃO DA FRA-
ÇÃO DE 3/5 (TRÊS QUINTOS) PREVISTA NO § 2º DO ART. 2º DA LEI Nº 8.072/90.
INVIABILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. A Lei nº 13.964/2019 revogou o § 2º do art.
2º da Lei nº 8.072/90, passando a disciplinar no art. 112 da LEP os percentuais para progressão
de regime, constando do inciso V a aplicação de 40% (quarenta por cento) aos condenados pela
prática de crime hediondo ou equiparado, que sejam primários, e, no inciso VII, a aplicação
de 60% (sessenta por cento) para os casos de reincidentes específicos em crime hediondo ou
equiparado, criando-se uma lacuna em relação aos reincidentes não específicos (caso do agrava-
do). 2. A única solução é a aplicação da norma referente aos condenados por crimes hediondos
com o patamar de cumprimento exigido de 40% (quarenta por cento), nos termos do art. 112,
inciso V, da LEP, pois, embora o referido inciso trate, originariamente, de hipótese de apenado
primário, o reincidente não específico terá de ser nele enquadrado na impossibilidade de se
impor o tratamento mais gravoso previsto no inciso VII (60% – sessenta por cento), o qual
exige a reincidência específica, o que não é o caso do agravado, ora beneficiado com a novatio
legis in mellius. 3. Recurso desprovido. (TJDF; RAG 07100.94-96.2020.8.07.0000; Ac. 126.0089;
2ª T.Crim.; Rel. Des. Silvânio Barbosa dos Santos; PJe 07/07/2020)
96/43 – PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. PRISÃO
PREVENTIVA. Fumus commissi delicti evidenciado. Periculum libertatis não demonstrado. Paciente
primário. Possibilidade de concessão de liberdade, com imposição de medidas cautelares. Ordem
parcialmente concedida, com ratificação da liminar. (TJRS; HC 0059403-89.2020.8.21.7000;
Proc. 70084210442; 4ª C.Crim.; Rel. Des. Newton Brasil de Leão; DJERS 09/07/2020)
96/44 – PRAZO PRESCRICIONAL. ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DA CON-
DENAÇÃO. INTERRUPÇÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM EFEITOS MO-
DIFICATIVOS ACOLHIDOS. 1. Embora a jurisprudência desta Corte, à época do julgamento
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Ementário
188
sói acontecer. IV – Confirmação da liminar deferida e ordem de habeas corpus concedida para
que o paciente responda ao processo em liberdade. Decisão unânime. (STM; HC 7000278-
88.2020.7.00.0000; Rel. Min. José Coêlho Ferreira; DJSTM 08/07/2020; p. 1)
96/47 – PRISÃO PREVENTIVA. ARTS. 180, CAPUT, E 311, CAPUT, C/C O ART.
14, II, TODOS DO CP. LIBERDADE PROVISÓRIA. CABIMENTO. RÉU PRIMÁRIO.
RECOMENDAÇÃO Nº 62/2020. Tratando-se de réu primário, preso preventivamente, há mais
de noventa dias, pela prática de crimes sem violência ou grave a ameaça a pessoa e, ainda, não
subsistindo os motivos ensejadores da segregação, impositiva a soltura provisória. Incidência da
Recomendação nº 62/2020. Ordem concedida. (TJRS; HC 0059323-28.2020.8.21.7000; Proc.
70084209642; 4ª C.Crim.; Rel. Des. Rogerio Gesta Leal; DJERS 09/07/2020)
Agravo desprovido. (STJ; AgRg-HC 566.151; Proc. 2020/0063553-9; SP; 6ª T.; Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro; DJE 01/07/2020)
96/56 – TRÁFICO DE PEQUENA QUANTIDADE DE DROGA. ILEGALIDADE
DA PRISÃO PREVENTIVA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. A prisão preventiva
de jovem com 27 anos de idade, primário, pelo tráfico de pequena quantidade de entorpe-
centes (104,72 g de cocaína) produz um efeito ruim sobre a sociedade de uma maneira geral,
configurando medida contraproducente do ponto de vista de política criminal. 2. Situação
que atrai a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a prisão cautelar
exige a demonstração, empiricamente motivada, dos requisitos previstos no art. 312 do CPP.
Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF; HC-AgR 176.305; SP; 1ª
T.; Rel. Min. Roberto Barroso; DJE 18/06/2020; p. 55)
96/57 – TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS. EXPLORAÇÃO SEXUAL
DE MULHERES. ULTRA-ATIVIDADE DO ART. 231 DO CP E ADEQUADA INTER-
PRETAÇÃO DO ART. 149-A DO CP. LEI Nº 11.344/2016. ABOLITIO CRIMINIS. 1.
Após o advento da Lei nº 13.344/2016, somente haverá tráfico de pessoas com a finalidade de
exploração sexual, em se tratando de vítima maior de 18 anos, se ocorrer ameaça, uso da força,
coação, rapto, fraude, engano ou abuso de vulnerabilidade, num contexto de exploração do
trabalho sexual. 2. A prostituição, nem sempre, é uma modalidade de exploração, tendo em
vista a liberdade sexual das pessoas, quando adultas e praticantes de atos sexuais consentidos.
No Brasil, a prostituição individualizada não é crime e muitas pessoas seguem para o exterior
justamente com esse propósito, sem que sejam vítimas de traficante algum. 3. No caso, o Tri-
bunal a quo entendeu que as supostas vítimas saíram voluntariamente do país, manifestando
consentimento de forma livre de opressão ou de abuso de vulnerabilidade (violência, grave
ameaça, fraude, coação e abuso). Concluir de forma diversa implica exame aprofundado do
material fático-probatório, inviável em recurso especial, a teor da Súmula nº 7/STJ. 4. Agravo
regimental a que se nega provimento. (STJ; AgRg-EDcl-AREsp 1.625.279; Proc. 2019/0349547-
2; TO; 5ª T.; Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca; DJE 30/06/2020)
96/58 – TRÁFICO PRIVILEGIADO. AUTORIA E MATERIALIDADE DEMONS-
TRADAS. PROVA SUFICIENTE À CONDENAÇÃO. Cabível o redutor do tráfico privile-
giado, diante do cumprimento dos requisitos do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas. Aplicação da
fração máxima de diminuição, em face da pouca quantidade dos entorpecentes apreendidos.
Imposição do regime mais brando, diante da primariedade e da quantidade de pena imposta.
Viável a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito. Novo art. 28-A
do CPP. Acordo de não persecução penal. Cabimento. Remessa dos autos ao Ministério Pú-
blico para análise de eventual proposta de acordo. (TJSP; ACr 1506146-17.2019.8.26.0228; Ac.
13676541; 12ª C.D.Crim.; Rel. Des. Amable Lopez Soto; DJESP 10/07/2020; p. 3.221)
96/59 – USO DE ATESTADO MÉDICO IDEOLOGICAMENTE FALSO PARA JUS-
TIFICAR AUSÊNCIA NO TRABALHO. Provadas a autoria e a materialidade do delito, de rigor a
manutenção do édito condenatório. Recurso não provido. (TJSP; ACr 3040360-21.2013.8.26.0114;
Ac. 13721862; 15ª C.D.Crim.; Rel. Des. Willian Campos; DJESP 10/07/2020; p. 3.249)
96/60 – USO DE DOCUMENTO FALSO. AUTORIA E MATERIALIDADE COM-
PROVADAS. FLAGRANTE PREPARADO. NÃO OCORRÊNCIA. SUBSTITUIÇÃO
DA PENA. REGRA DO ART. 44, § 2º, DO CÓDIGO PENAL. 1. Falsidade documental
comprovada pelo laudo pericial acostado aos autos. Utilização dos documentos contrafeitos
na agência da Caixa Econômica Federal como identificação pessoal e para a abertura de contas
bancárias comprovada pelo auto de prisão em flagrante, pela prova testemunhal colhida em
juízo e pelas fichas de abertura de conta utilizadas na consecução do delito. Inexiste óbice ao
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Ementário
192
uso de elementos probatórios colhidos na fase inquisitorial, vez que disponibilizados à defesa
e submetidos ao contraditório quando deflagrada a ação penal. 2. Ausente a presença de agente
provocador, instigando o uso das identificações falsas, não havendo que se falar em flagrante
preparado. 3. O art. 44, § 2º, do Código Penal dispõe expressamente que, na hipótese de a pena
privativa de liberdade ter sido fixada em patamar superior a um ano, como é o caso dos autos,
a mesma só poderá ser substituída por uma restritiva de direito e multa ou por duas restritivas
de direitos. A aplicação de dois substitutivos penais na sentença condenatória encontra-se
em consonância com o mencionado dispositivo legal. 4. Apelações criminais a que se nega
provimento. (TRF 2ª R.; ACR 0490572-79.2011.4.02.5101; RJ; 2ª T.Esp.; Relª Desª Fed. Simone
Schreiber; DEJF 19/06/2020)
96/61 – USO DE DOCUMENTO FALSO. DESCAMINHO. CONSUNÇÃO.
POSSIBILIDADE. 1. A obtenção de vantagens alfandegárias indevidas e burla ao sistema de
controle de importações, introduzindo ilicitamente mercadorias em território nacional, são
consequências intrínsecas ao crime de descaminho, sendo o motivo pelo qual as condutas
descritas no art. 334 do Código Penal foram tipificadas em tal dispositivo. O potencial lesivo
das Declarações de Importação contendo dados inverídicos se exauriu no delito de descami-
nho, uma vez que, da leitura da exordial, este era o crime-fim que os réus buscavam executar.
Precedente do STJ. 2. Recurso em sentido estrito a que se nega provimento. (TRF 2ª R.; RSE
0002467-40.2010.4.02.5001; RJ; 2ª T.Esp.; Relª Desª Fed. Simone Schreiber; DEJF 19/06/2020)
96/62 – VIAS DE FATO. ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR CONTRA A
MULHER. RECONCILIAÇÃO DO CASAL. IRRELEVÂNCIA. FIXAÇÃO DE INDE-
NIZAÇÃO À VÍTIMA. ART. 387, INCISO IV, DO CPP. NECESSIDADE. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. 1. A eventual reconciliação do casal não é suficiente ao afasta-
mento da obrigação de reparar o dano moral causado pela infração penal, já que este deve ser
analisado sob a ótica da conduta em si e não de circunstâncias subsequentes ao ato perpetrado.
2. Ainda a respeito do tema, o STJ já decidiu que “a posterior reconciliação entre a vítima e o
agressor não é fundamento suficiente para afastar a necessidade de fixação do valor mínimo
previsto no art. 387, IV, do CPP, seja porque não há previsão legal nesse sentido, seja porque
compete à própria vítima decidir se irá promover a execução ou não do título executivo, sendo
vedado ao Poder Judiciário omitir-se na aplicação da legislação processual penal que determina
a fixação de valor mínimo em favor da vítima” (REsp 1.819.504/MS, Relª Minª Laurita Vaz). 3.
Recurso conhecido e provido. (TJAC; APL 0801581-83.2018.8.01.0001; Ac. 31.169; C.Crim.;
Rel. Des. Pedro Ranzi; DJAC 01/07/2020; p. 21)
96/63 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO. AMEAÇA.
VIAS DE FATO. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS. LIBERDADE
CONCEDIDA. Paciente preso em 12 de maio de 2020, pela suposta prática do delito de
descumprimento de medidas protetivas de urgência. Prisão preventiva que, no âmbito da Lei
Maria da Penha, é medida excepcional, que se justifica apenas e exclusivamente para evitar a
ocorrência de um mal maior. A realização de audiência com vistas a analisar alternativa diversa
é indispensável, o que não ocorreu no caso dos autos. Paciente primário, nascido em 1979,
embora responda a outro processo por lesão corporal leve e ameaça no âmbito da violência
doméstica, estando segregado há mais de um mês. Liberdade concedida, sem prejuízo da
manutenção das medidas protetivas de urgência. Ordem concedida. Por maioria. (TJRS; HC
0064256-44.2020.8.21.7000; Proc. 70084258979; 3ª C.Crim.; Relª Desª Patrícia Fraga Martins;
DJERS 08/07/2020)
Sinopse Legislativa
* Nota: íntegras das normas disponíveis em nosso endereço eletrônico, no link dedicado a esta publicação.
Destaques do Volume nº 95
– Acordo de Não Persecução Penal e suas Repercussões no Âmbito Administrativo
por Oswaldo Henrique Duek Marques, Livre-Docente e Doutor, e Silvio Luís Ferreira da Rocha,
Mestre e Doutor
– Aspectos Criminais da Lei Geral de Proteção de Dados e a Tutela Penal dos Dados Pessoais
por João Daniel Rassi, Mestre e Doutor, Victor Labate, Advogado, e Eloisa Yang, Advogada e
Mestranda
– Crimes Relacionados à Pandemia do Novo Coronavírus
por Leandro Bastos Nunes, Professor e Especialista
– Ensaio Sobre o Acaso e seus Corolários no Direito e no Processo Penal
por Orlando Faccini Neto, Professor e Doutor
– A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e o Compliance Diante de Situações de Pandemia
por Marcio Fernandes Fioravante da Silva, Advogado e Especialista
– O Caso Neymar: Divulgação de Imagens Íntimas sob a Perspectiva da Inexigibilidade de Conduta
Diversa
por Sebástian Borges de Albuquerque Mello, Mestre e Doutor, e Mariana Ribeiro de Almeida,
Advogada e Mestranda
Destaques do Volume nº 94
– Reflexões sobre o Tempo e o Direito Penal a Partir da Obra O Tempo do Direito
por Aury Lopes Junior, Professor e Doutor, e Jádia Larissa Timm dos Santos, Especialista e Mestra
– As Mudanças na Legislação Penal e Processual Penal com o Pacote Anticrime
por Benigno Núñez Novo, Advogado e Doutor
– O Arrependimento Posterior e o Desnível de Tratamento Jurídico-Penal Envolvendo Delitos
Patrimoniais e Socioeconômicos: uma Violação ao Princípio da Igualdade e o Parâmetro Regulatório
da ADO 26/DF
por Flávio Augusto Maretti Sgrilli Siqueira, Mestre e Doutor
– Ciberterrorismo no Brasil: uma Análise Sobre os Desafios Impostos pelos Ciberataques e a
Efetividade da Lei Antiterrorismo
por Greice Patrícia Fuller, Mestre e Doutora, e Gabriel Oliveira Brito, Advogado e Mestrando
– A Presunção de Inocência na Investigação Criminal
por Túlio Leno Góes Silva, Delegado de Polícia e Mestrando, e Felipe Martins Pinto, Mestre e Doutor
– A Responsabilidade Penal do Indutor Prevista no Artigo 218 do Código Penal: uma Releitura à Luz
do Princípio da Vedação à Proteção Insuficiente
por Diego Leal Nascimento, Especialista e Mestrando, e Américo Bedê Freire Junior, Mestre e Doutor
B CONTRABANDO
- Cigarro. Tipicidade. Dolo. Dosimetria.
BEATRIZ MASSETTO TREVISAN, Prestação pecuniária. Regime inicial de
JOÃO DANIEL RASSI, MARCOS cumprimento da pena. Efeito da condenação.
FUCHS E REBECCA GROTERHORST Inabilitação para dirigir. Art. 92, III, do CP.
- Artigo: “Prisão e Pandemia – uma Análise TRF 4ª R. (Em. 96/10)................................... 176
Crítica das Decisões do Supremo Tribunal
Federal Durante a Crise da Covid-19”......... 5 CRIME AMBIENTAL
- Depósito de artefato explosivo em desacordo
BLOQUEIO DE ATIVOS DE PESSOA com a determinação legal ou regulamentar.
JURÍDICA Art. 54, § 2º, V, da Lei 9.605/98. Potenciali-
- Operação Lava-Jato. Medidas assecuratórias. dade lesiva de causar danos à saúde humana.
Ilegitimidade da sócia. Fato novo. Decisão Art. 16, parágrafo único, III, da Lei 10.826/03.
provisória. Ausência de litispendência. TRF 2ª R. (Em. 96/11)................................... 177
Oferecimento de denúncia que não narra o
envolvimento da empresa nos fatos ilícitos. D
Ausência de fumus boni iuris. Revogação da
medida constritiva em face da pessoa jurídica. DANO MORAL
TRF 4ª R. (Em. 96/40)................................... 186
- Ver Violência Doméstica. Perdas e Danos.
BRUNO ZANESCO MARINETTI
DESAFORAMENTO
KNIELING GALHARDO
- Imparcialidade do Júri. Ausência de com-
- Artigo: “A Responsabilidade Penal por Omis-
provação dos requisitos do art. 427 do CPP.
são do Chefe do Poder Executivo no Com-
Pedido de desaforamento improcedente.
bate à Epidemia Viral do Novo Coronavírus
TJES (Em. 96/14)........................................... 178
(Covid-19)”.................................................... 43
DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME
C - Estupro de vulnerável. Ato libidinoso diverso
da conjunção carnal. Desclassificação. Art.
CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA
215-A do CP. Impossibilidade. STJ (Em.
- Acórdão do STF – Queixa-crime. Atendi- 96/20).............................................................. 180
mento aos requisitos formais. Impossibili-
- Furto qualificado. Crime consumado que
dade de trancamento da ação penal............... 139
afasta a aplicação do art. 17 do CP. Contudo,
COMPETÊNCIA não se verifica na espécie a presença da qua-
- Execução penal. Domicílio do apenado. Des- lificadora relativa à fraude. Desclassificação
locamento da competência. Impossibilidade. para furto simples que se impõe. Regime
Inteligência do art. 65 da LEP. TRF 3ª R. (Em. prisional semiaberto. TJRJ (Em. 96/25)........ 182
96/9)................................................................ 176 - Satisfação da lascívia mediante presença de
- Investigação criminal. Atividade não exclu- criança. Ciência da condição etária da vítima.
siva da polícia. Competência do MP para Pleito de desclassificação para o delito de
investigar a prática de ilícitos penais. STF ato obsceno. Impossibilidade. TJSP (Em.
(Em. 96/34)..................................................... 185 96/52).............................................................. 190
CONFLITO DE JURISDIÇÃO DIREITO DE VISITAS
- Execução penal. Domicílio do apenado. Des- - Mais de um interno. Visita ao sobrinho e
locamento da competência. Impossibilidade. ao irmão presos. Hipótese não prevista em
Inteligência do art. 65 da LEP. TRF 3ª R. (Em. portaria regulamentadora. Possibilidade.
96/9)................................................................ 176 TJDF (Em. 96/16).......................................... 178
CONSUNÇÃO DIREITOS DA PERSONALIDADE E
- Embriaguez ao volante. Conduzir veículo A LEI MARIA DA PENHA: O DILEMA
sem habilitação. Princípio da consunção. Não DAS CAUTELARES NOS TRIBUNAIS
incidência. TJAC (Em. 96/19)....................... 179 DE JUSTIÇA DO BRASIL
- Uso de documento falso. Descaminho. Pos- - Artigo de Hugo Rogerio Grokskreutz e
sibilidade. TRF 2ª R. (Em. 96/61)................. 192 Gustavo Noronha de Ávila............................ 112
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 197
FALSIDADE IDEOLÓGICA/ G
ESTELIONATO
- Operação Broca. Criação de empresas de GUSTAVO HENRIQUE DE
fachada para geração de créditos tributários ANDRADE CORDEIRO, THALES
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Índice Alfabético
198
H I
HABEAS CORPUS INTERNAÇÃO
- Ato individual. Adequação. O HC é ade- - Medida socioeducativa. Ato infracional aná-
quado em se tratando de impugnação a ato logo a roubo majorado (art. 157, § 2º, I e II,
de colegiado ou individual. Em jogo, na via do CP). Arma de fogo. Concurso de pessoas.
direita, a liberdade de ir e vir do cidadão, Emprego de violência e grave ameaça. Inter-
cabível é o HC, ainda que substitutivo de nação. Inteligência do art. 122, I, do ECA.
RO constitucional. STF (Em. 96/27)............ 182 Medida adequada. TJAC (Em. 96/6)............. 175
HOMICÍDIO CULPOSO - Medida socioeducativa. Ato infracional aná-
logo ao crime de furto qualificado. Forma
- Acidente de trânsito. Afastamento de local de continuada. Adequação e necessidade. TJAC
acidente para fugir à responsabilidade civil (Em. 96/7)....................................................... 175
ou penal, embriaguez ao volante e violação à
suspensão da habilitação para dirigir. Revoga- INTERNET CLANDESTINA
ção da prisão preventiva. Possibilidade. TJSP - Serviço de comunicação multimídia. Condu-
(Em. 96/33)..................................................... 185 ta típica. Materialidade, autoria e dolo com-
- Acidente de trânsito. Art. 206, caput, do CPM. provados. Nova dosimetria. Comprovada a
Dever objetivo de cuidado observado. Nexo existência de serviço de telecomunicações,
causal ausente. Caso fortuito. Aplicação do confirma-se a incidência do tipo penal pre-
princípio in dubio pro reo. Absolvição. STM visto no art. 183 da Lei 9.472/97. TRF 2ª R.
(Em. 96/29)..................................................... 183 (Em. 96/12)..................................................... 177
- Médico. Deixar de prestar atendimento à INTIMAÇÃO POR EDITAL
paciente internada. Não configura bis in idem, - ECA. Mandado de segurança. Intimação
a incidência conjunta da causa de aumento editalícia inviável na jurisdição da infância
da pena definida pelo art. 121, § 4º, do CP, e juventude. Adolescentes que ficariam em
relativa à inobservância de regra técnica de exposição pública. TJSC (Em. 96/38)........... 186
profissão, arte ou ofício, no homicídio cul-
poso cometido com imperícia médica. STJ INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
(Em. 96/30)..................................................... 183 - Vide Competência.
HOMICÍDIO QUALIFICADO
J
- Acidente de trânsito. Embriaguez ao volante.
Alegação de decisão genérica e ausência dos JUIZ DAS GARANTIAS: UMA
requisitos da prisão preventiva. Paciente pri- ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A (IN)
mário, com endereço fixo e ocupação lícita. EFICÁCIA DO SISTEMA PROPOSTO
Riscos à integridade física em decorrência da
- Artigo de Gustavo Henrique de Andrade
pandemia da Covid-19. Gravidade concreta
Cordeiro, Thales Aporta Catelli e Emerson
dos fatos a ensejar a manutenção da custódia.
Ademir Borges de Oliveira............................ 19
TJSP (Em. 96/32)........................................... 184
- Acidente de trânsito. Embriaguez ao volante. JÚRI
Prisão preventiva. Garantia da ordem pública. - Homicídio duplamente qualificado (art. 121,
Motivação inidônea. Desproporcionalidade § 2º, I e IV, c/c o art. 14, II, ambos do CP).
da constrição em razão das circunstâncias Erro ou injustiça no tocante à pena aplicada
atuais. Crime praticado sem violência in- (art. 593, III, c, do CPP). Pena-base para o
tencional ou grave ameaça. Recomendação mínimo legal. Impossibilidade. Magistrado
62/2020 do CNJ. Aplicação de medidas que apresentou devida fundamentação para o
cautelares diversas da prisão. Possibilidade. aumento da pena com base no caso concreto.
STJ (Em. 96/31)............................................. 184 Culpabilidade acentuada. Premeditação.
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 199
- Duplicata simulada. Compra e venda ine- - Júri. Homicídio duplamente qualificado (art.
xistente. Tipicidade. Materialidade, autoria 121, § 2º, I e IV, c/c o art. 14, II, ambos do
e dolo comprovados. Dosimetria da pena. CP). Erro ou injustiça no tocante à pena apli-
Mantido o regime semiaberto. TRF 3ª R. cada (art. 593, III, c, do CPP). Pena-base para
(Em. 96/17)..................................................... 179 o mínimo legal. Impossibilidade. Magistrado
- Estupro de vulnerável. Fornecimento de que apresentou devida fundamentação para o
bebida alcoólica a adolescente. Materialida- aumento da pena com base no caso concreto.
de. Autoria. Provas. Existência. Pena base. Culpabilidade acentuada. Premeditação.
Redução. Impossibilidade. Atenuante de Maior reprovabilidade da conduta demons-
confissão. Incidência. Inviabilidade. TJAC trada. Circunstâncias que extrapolam o tipo
(Em. 96/21)..................................................... 180 penal. Consequências do crime. Valoração
negativa. Vítima que sofreu sequelas e abalo
- Falsificação, corrupção, adulteração ou altera- emocional. Fundamento idôneo. Exclusão
ção de produto destinado a fins terapêuticos da agravante da violência contra a mulher
ou medicinais. Aplicação analógica da pena (CP, art. 61, II, f). Inviabilidade. Agravante
do delito de tráfico de drogas. Possibilidade devidamente configurada. Diminuição da
de incidência da causa de diminuição prevista pena adequada na fração de 1/3. TJSC (Em.
no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/06. Minorante 96/35).............................................................. 185
do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/06. Pretendida
aplicação. Impossibilidade. Quantidade de - Maus antecedentes. Condenação pretérita
medicamentos aliada às demais circunstâncias cumprida ou extinta há mais de 5 anos.
do delito. Fundamentação idônea. Dedicação Utilização como maus antecedentes. Impos-
à atividade criminosa. Incabível a substituição sibilidade. STF (Em. 96/2)............................. 174
da sanção privativa de liberdade por restritivas - Maus antecedentes. Condenações anteriores
de direitos, já que não preenchido o requisito ao período depurador. Pendência de julga-
objetivo previsto no art. 44, I, do CP. STJ mento do recurso com repercussão geral
(Em. 96/23)..................................................... 181 (Tema 150). Pena-base acima do mínimo
legal. Possibilidade. STF (Em. 96/1)............. 174
- Furto qualificado. Desclassificação. Crime
consumado que afasta a aplicação do art. 17 - Maus antecedentes. Sentença condenatória
do CP. Contudo, não se verifica na espécie extinta há mais de 5 anos. Utilização como
a presença da qualificadora relativa à fraude. maus antecedentes. Impossibilidade. STF
Desclassificação para furto simples que se (Em. 96/3)....................................................... 174
impõe. Regime prisional semiaberto que - O regime de cumprimento é definido ante o
deve ser mantido tendo em vista os maus patamar alusivo à condenação e as circuns-
antecedentes e a reincidência. TJRJ (Em. tâncias judiciais. Art. 33, §§ 2º e 3º, do CP.
96/25).............................................................. 182 Liberdade. Substituição. A substituição da
- Homicídio culposo. Médico que deixa de pena privativa de liberdade por restritiva de
prestar atendimento à paciente internada. direitos faz-se consideradas as circunstância
Não configura bis in idem, a incidência con- judiciais. Art. 44, III, do CP. STF (Em.
junta da causa de aumento da pena definida 96/27).............................................................. 182
pelo art. 121, § 4º, do CP, relativa à inobser- - Progressão de regime. Retificação do cálcu-
vância de regra técnica de profissão, arte ou lo. Crime hediondo ou equiparado. 40%.
ofício, no homicídio culposo cometido com Reincidente não específico. Afastamento da
imperícia médica. STJ (Em. 96/30)............... 183 aplicação da nova Lei. Utilização da fração de
- Homicídio culposo. Patamar superior para 3/5 prevista no § 2º do art. 2º da Lei 8.072/90.
circunstância judicial do art. 59 do CP. Inviabilidade. Recurso desprovido. TJDF
Valoração negativa das consequências do (Em. 96/42)..................................................... 187
crime e não reconhecimento da atenuante - Remição por estudo. Incidência da Reco-
da confissão espontânea. Impossibilidade. mendação 44/2013 do CNJ e da Resolução
Reforma da valoração negativa da culpabilida- 3/2010 do CNE. A carga horária utilizada,
de, dos motivos e das circunstâncias do crime. qual seja, 600 h, a qual foi adequadamente
Indeferimento. Redimensionamento do utilizada pelo Juízo da execução penal, nos
quantum de redução referente às atenuantes da moldes estabelecidos pela Resolução 3/2010
menoridade relativa e confissão espontânea. do Conselho Nacional de Educação. STJ
Não acolhimento. TJMA (Em. 96/28).......... 183 (Em. 96/41)..................................................... 187
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 201
- Roubo. Majorante do art. 157, § 2º-A, I, do - Pretensão punitiva. Lei 12.234, de 05.05.2010.
CP. Dúvida quanto ao emprego. Não confi- Alterado o § 1º do art. 110 do CP, não mais
guração. Redução do aumento pelas majo- sendo possível a contagem do prazo da
rantes e fixação de regime inicial semiaberto. prescrição da pretensão punitiva na forma
Regime prisional. Fixação do mais severo retroativa entre a data do recebimento da
com base na gravidade abstrata do crime. denúncia e a do fato praticado, o que incide
Alteração para o semiaberto. Compatível com na espécie, já que o fato foi praticado em
a pena imposta e primariedade dos réus. TJSP 18.09.2012. TJRJ (Em. 96/45)....................... 188
(Em. 96/51)..................................................... 189 PRISÃO DOMICILIAR
- Tóxicos. Tráfico. Compensação. Confissão. - Acórdão do STJ – Impossibilidade. Riscos da
Reincidência. Utilização da confissão para pandemia do coronavírus. O surgimento da
configurar a autoria. Se a confissão informal pandemia não pode ser, data venia, utilizado
do agravado aos policiais acerca da subtração como passe livre, para impor ao juiz da VEC
patrimonial, no momento da prisão em fla- a soltura geral de todos os encarcerados sem
grante, foi utilizada como fundamento pelo o conhecimento da realidade subjacente....... 154
Tribunal de origem para manter a sua con-
PRISÃO E PANDEMIA – UMA
denação, é devida a incidência da respectiva
ANÁLISE CRÍTICA DAS DECISÕES
atenuante. STJ (Em. 96/55)........................... 190
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
- Tóxicos. Tráfico. Pleito de afastamento DURANTE A CRISE DA COVID-19
do redutor previsto no art. 33, § 4º, da Lei
- Artigo de Beatriz Massetto Trevisan, João
11.343/06. Para provimento da tese recursal,
Daniel Rassi, Marcos Fuchs e Rebecca Gro-
no sentido de que a ré não preenche os re- terhorst............................................................ 5
quisitos para a concessão do redutor do art.
33, § 4º, da Lei 11.343/06, mostra-se, no caso, PRISÃO PREVENTIVA
imprescindível o reexame dos elementos - Arma de fogo. Porte ilegal. Uso permitido.
fático-probatórios dos autos, o que é defeso Fumus commissi delicti evidenciado. Periculum
em âmbito de recurso especial, em virtude do libertatis não demonstrado. Paciente primário.
disposto na Súmula 7 desta Corte. STJ (Em. Possibilidade de concessão de liberdade, com
96/54).............................................................. 190 imposição de medidas cautelares. TJRS (Em.
- Tóxicos. Tráfico privilegiado. Cabível o 96/43).............................................................. 187
redutor do tráfico privilegiado, diante do - Homicídio. Acidente de trânsito. Afasta-
cumprimento dos requisitos do art. 33, § 4º, mento de local de acidente para fugir à res-
da Lei de Drogas. Imposição do regime mais ponsabilidade civil ou penal, embriaguez ao
brando, diante da primariedade e da quanti- volante e violação à suspensão da habilitação
dade de pena imposta. Viável a substituição para dirigir. Revogação da prisão preventiva.
da pena privativa de liberdade por restritivas Possibilidade. TJSP (Em. 96/33)................... 185
de direito. Novo art. 28-A do CPP. Acordo de - Homicídio qualificado. Acidente de trânsito.
não persecução penal. Cabimento. Remessa Embriaguez ao volante. Alegação de decisão
dos autos ao MP para análise de eventual genérica e ausência dos requisitos da prisão
proposta de acordo. TJSP (Em. 96/58)......... 191 preventiva. Paciente primário, com endereço
fixo e ocupação lícita. Riscos à integrida-
PERDAS E DANOS de física em decorrência da pandemia da
- Vias de fato. Âmbito doméstico e familiar Covid-19. Gravidade concreta dos fatos a
contra a mulher. Reconciliação do casal. ensejar a manutenção da custódia. TJSP (Em.
Irrelevância. Fixação de indenização à vítima. 96/32).............................................................. 184
Art. 387, IV, do CPP. Necessidade. TJAC - Homicídio qualificado. Acidente de trânsito.
(Em. 96/62)..................................................... 192 Embriaguez ao volante. Garantia da ordem
pública. Motivação inidônea. Desproporcio-
PRESCRIÇÃO
nalidade da constrição em razão das circuns-
- Interrupção. Acórdão confirmatório da tâncias atuais. Crime praticado sem violência
condenação, por revelar pleno exercício da intencional ou grave ameaça. Recomendação
jurisdição penal, interrompe o prazo pres- 62/2020 do CNJ. Aplicação de medidas cau-
cricional, nos termos do art. 117, IV, do CP. telares diversas da prisão. Possibilidade. STJ
STJ (Em. 96/44)............................................. 187 (Em. 96/31)..................................................... 184
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 96 – Jun-Jul/2020 – Índice Alfabético
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concessão do redutor do art. 33, § 4º, da Lei de unificação das penas de detenção e reclu-
11.343/06, mostra-se, no caso, imprescindível são, com votação não unânime. Alegação
o reexame dos elementos fático-probatórios de excesso de execução. Inocorrência. So-
dos autos, o que é defeso em âmbito de brevindo condenação em dois crimes cujas
recurso especial, em virtude do disposto na penas cominadas são de detenção e reclusão,
Súmula 7 desta Corte. STJ (Em. 96/54)....... 190 o art. 111 da LEP expressamente autoriza a
- Tráfico. Pequena quantidade. Ilegalidade unificação para fins de execução da pena.
da prisão preventiva. Ordem concedida de TJES (Em. 96/18)........................................... 179
ofício. A prisão preventiva de jovem com 27 USO DE DOCUMENTO FALSO
anos de idade, primário, pelo tráfico de pe-
quena quantidade de entorpecentes (104,72 - Descaminho. Consunção. Possibilidade. O
g de cocaína) produz um efeito ruim sobre potencial lesivo das Declarações de Impor-
a sociedade de uma maneira geral, configu- tação contendo dados inverídicos se exauriu
rando medida contraproducente do ponto de no delito de descaminho, uma vez que, da
vista de política criminal. STF (Em. 96/56).. 191 leitura da exordial, este era o crime-fim que
os réus buscavam executar. TRF 2ª R. (Em.
- Tráfico privilegiado. Pena. Cabível o redutor
96/61).............................................................. 192
do tráfico privilegiado, diante do cumpri-
mento dos requisitos do art. 33, § 4º, da Lei - Flagrante preparado. Não ocorrência. Subs-
de Drogas. Imposição do regime mais bran- tituição da pena. Regra do art. 44, § 2º, do
do, diante da primariedade e da quantidade CP. Falsidade documental comprovada pelo
de pena imposta. Viável a substituição da laudo pericial acostado aos autos. Utilização
pena privativa de liberdade por restritivas de dos documentos contrafeitos na agência da
direito. Novo art. 28-A do CPP. Acordo de Caixa Econômica Federal como identificação
não persecução penal. Cabimento. Remessa pessoal e para a abertura de contas bancárias
dos autos ao MP para análise de eventual comprovada pelo auto de prisão em flagrante,
proposta de acordo. TJSP (Em. 96/58)......... 191 pela prova testemunhal colhida em juízo e
pelas fichas de abertura de conta utilizadas
TRÁFICO INTERNACIONAL DE
na consecução do delito. A aplicação de dois
PESSOAS substitutivos penais na sentença condenatória
- Exploração sexual de mulheres. Ultra- encontra-se em consonância com o men-
atividade do art. 231 do CP e adequada cionado dispositivo legal. TRF 2ª R. (Em.
interpretação do art. 149-A do CP. Lei 96/60).............................................................. 191
11.344/2016. Abolitio criminis. Após o advento
- Uso de atestado médico ideologicamente
da Lei 13.344/2016, somente haverá tráfico
falso para justificar ausência no trabalho.
de pessoas com a finalidade de exploração
Provadas a autoria e a materialidade do delito,
sexual, em se tratando de vítima maior de
de rigor a manutenção do édito condenatório.
18 anos, se ocorrer ameaça, uso da força,
TJSP (Em. 96/59)........................................... 191
coação, rapto, fraude, engano ou abuso de
vulnerabilidade, num contexto de exploração
do trabalho sexual. No caso, o Tribunal a V
quo entendeu que as supostas vítimas saíram
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
voluntariamente do país, manifestando con-
sentimento de forma livre de opressão ou de - Vias de fato. Âmbito doméstico e familiar
abuso de vulnerabilidade (violência, grave contra a mulher. Reconciliação do casal.
ameaça, fraude, coação e abuso). STJ (Em. Irrelevância. Fixação de indenização à vítima.
96/57).............................................................. 191 Art. 387, IV, do CPP. Necessidade. TJAC
(Em. 96/62)..................................................... 192
U - Violação de domicílio. Ameaça. Vias de fato.
Descumprimento de medidas protetivas.
UNIFICAÇÃO DE PENAS Liberdade concedida, sem prejuízo da ma-
- Embargos infringentes e de nulidade. Agravo nutenção das medidas protetivas de urgência.
em execução que entendeu pela possibilidade TJRS (Em. 96/63)........................................... 192
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