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Revista Magister de
Direito Penal e Processual Penal
Ano XV – Nº 88
Fev-Mar 2019
Classificação Qualis/Capes: B1
Editores
Fábio Paixão
Walter Diab
Coordenador
Aury Lopes Júnior
Conselho Científico
Damásio E. de Jesus – Fernando da Costa Tourinho Filho – Luiz Flávio Borges D’Urso
Elias Mattar Assad – Marco Antonio Marques da Silva
Conselho Editorial
Adeildo Nunes – Amadeu de Almeida Weinmann
Carlos Ernani Constantino – Celso de Magalhães Pinto – César Barros Leal
Cezar Roberto Bitencourt – Élcio Pinheiro de Castro – Fernando Capez
Fernando de Almeida Pedroso – Haroldo Caetano da Silva
José Carlos Teixeira Giorgis – Luiz Flávio Gomes – Marcelo Roberto Ribeiro
Maurício Kuehne – Renato Marcão – René Ariel Dotti – Roberto Victor Pereira Ribeiro
Rômulo de Andrade Moreira – Ronaldo Batista Pinto (in memoriam)
Sergio Demoro Hamilton – Umberto Luiz Borges D’Urso
A responsabilidade quanto aos conceitos emitidos nos artigos publicados é de seus autores.
As íntegras dos acórdãos aqui publicadas correspondem aos seus originais, obtidos junto ao
órgão competente do respectivo Tribunal.
A editoração eletrônica foi realizada pela LexMagister, para uma tiragem de 3.100 exemplares.
CDU 343(05)
LexMagister
Diretor Executivo: Fábio Paixão
Jurisprudência
1. Supremo Tribunal Federal – Habeas Corpus. Recurso Ordinário.
Substituição. Possibilidade. Em Jogo, na Via Direta, a Liberdade de Ir
e Vir do Cidadão, Cabível É o HC Ainda que Substitutivo do Recurso
Ordinário Constitucional
Rel. Min. Marco Aurélio........................................................................................ 105
2. Superior Tribunal de Justiça – Invasão de Dispositivo Informático. Art.
154-A do CP. Representação. Inequívoco Interesse de Instaurar a Ação
Penal Demonstrado
Relª Minª Laurita Vaz........................................................................................... 109
3. Superior Tribunal de Justiça – Pena. Progressão de Regime.
Indeferimento. Gravidade Abstrata do Delito e na Longa Pena a
Cumprir. Constrangimento Ilegal Configurado. Ordem Concedida de
Ofício
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca.................................................................... 114
4. Superior Tribunal de Justiça – Júri. Condenação. Execução Provisória
da Pena. Impossibilidade. Necessidade de Exaurimento da Jurisdição
Ordinária. Apelação em Liberdade
Rel. Min. Jorge Mussi............................................................................................ 120
5. Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Licitação. Delito Previsto no
Art. 90 da Lei nº 8.666/93. Fraude. Dolo Específico. Não Comprovação.
Absolvição Mantida
Rel. Des. Fed. Olindo Menezes.............................................................................. 134
6. Tribunal de Justiça do Acre – Roubo Qualificado. Uso de Arma Branca
(Faca). Exasperação da Pena Basilar pela Valoração Negativa das
Circunstâncias do Crime. Possibilidade
Rel. Des. Pedro Ranzi............................................................................................ 141
7. Tribunal de Justiça do Distrito Federal – Injúria Racial e Ameaça.
Condenação. Recurso da Defesa. Pedido de Aplicação do Concurso
Formal Próprio. Impossibilidade. Desígnios Autônomos
Rel. Des. Roberval Casemiro Belinati...................................................................... 149
8. Tribunal de Justiça de São Paulo – Excesso de Prazo. Prisão Preventiva.
Paciente que Está Preso Cautelarmente Há Quase 3 Meses, sem
Conclusão do Inquérito Policial. Constrangimento Ilegal. Ocorrência
Rel. Des. Sérgio Coelho.......................................................................................... 156
9. Divergência Jurisprudencial............................................................................... 160
10. Ementário............................................................................................................ 161
Sinopse Legislativa. .............................................................................................. 189
Destaques dos Volumes Anteriores.................................................................... 190
Índice Alfabético-Remissivo................................................................................ 191
Doutrina
André Faustino
Mestrando em Direito da Sociedade da Informação pelo
Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas;
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário das Faculdades
Metropolitanas Unidas; Especialista em Direito Imobiliário
pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas
Unidas; Bacharel em Música pela FAMOSP; Especialista
em Direito Civil pelo Centro Universitário das Faculdades
Metropolitanas Unidas; Especialista em Direito Digital
Aplicado pela FGV; Advogado.
1 Introdução
Desde a criação e efetiva popularização da internet, que se deu na década
de 1990, ocorreu o desenvolvimento desse meio de comunicação, surgindo
diversas aplicações voltadas para o contato entre as pessoas nesse novo am-
biente e, principalmente, para exposição ou aproximação de suas relações,
antes existentes e sustentadas em um mundo físico, e que passaram para um
mundo considerado virtual, em que se destacam aplicações de internet, como
o Facebook e o Twitter, por exemplo.
Essas aplicações de internet, conhecidas como redes sociais ou mídias
sociais, possibilitam a exposição da vida pessoal dos participantes, permitindo
a exteriorização de pensamentos, ideias, opiniões sobre determinado assunto,
sendo esse espaço um local marcado pelo exercício da liberdade de expressão
e manifestação do pensamento, possibilitando várias relações e ligações entre
os seus participantes.
Traçando um paralelo, é como se a Ágora da Grécia antiga – famosa
por ser o lócus de discussão e debate – tivesse se transferido para o interior
da internet ou o ciberespaço1, passando as relações sociais que ocorrem no
interior dessas aplicações de internet a assumir esse tipo de possibilidade.
O ambiente tecnológico fez surgir uma nova visão da realidade que
se descortina, dando origem a um pensamento ou modo de enxergar esse
espaço, na forma de um senso comum, que leva à crença do surgimento de
um “mundo virtual” e de um “mundo real”, cada um com as suas próprias
1 Cf. GIBSON, William. Neuromancer. São Paulo: Aleph, 2003. p. 35: “Ciberespaço. Uma alucinação consensual
diariamente experimentada por bilhões de operadores legítimos, em cada país, por crianças a quem são ensinados
conceitos matemáticos... Uma representação gráfica de dados extraídos de bancos de cada computador do sistema
humano. Complexidade impensável. Linhas de luz alinhadas no não espaço da mente, clusters e constelações de dados.
Como luzes da cidade, afastando-se (...)”.
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2 BARLOW, John Perry. Declaração de independência do ciberespaço. 1996. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/
ciber/textos/barlow.htm>. Acesso em: 2 out. 2018.
3 LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999. p. 94.
4 “Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão, bem
como (...)”
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“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es-
trangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes: (...) IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...) IX – é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.”
6 KEYES, Ralph. The post-truth era: dishonesty and deception in contemporary life. California: St. Martin’s Press,
2004. p. 58: “Within the post-truth period, we have not only a fact and a lie, but a third type of ambiguous assertions
that are not precisely the fact, but simply need a lie. The improved truth would be known as: Neo-truth. Soft fact,
false fact, light fact”. “No período pós-verdade, não temos apenas um fato e uma mentira, mas um terceiro tipo
de afirmações ambíguas que não são precisamente o fato, mas simplesmente precisam de uma mentira. A verdade
melhorada seria conhecida como: Neo-verdade. Fato suave, fato falso, fato light” (tradução livre).
7 VICTORIA UNIVERSITY. Evaluating information: fake news in the 2016 US elections. Library Guides. Disponível
em: <http://libraryguides.vu.edu.au/c.php?g=460840&p=5330649>. Acesso em: 29 out. 2018.
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8 Cf. BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p.
38: “O advento da proximidade virtual torna as conexões humanas simultaneamente mais frequentes e mais banais,
mais intensas e mais breves. As conexões tendem a ser demasiadamente breves e banais para poderem condensar-se
em laços. Centradas no negócio à mão, estão protegidas da possibilidade de extrapolar e engajar os parceiros além
do tempo e do tópico da mensagem digitada e lida, ao contrário daquilo que os relacionamentos humanos, noto-
riamente difusos e vorazes, são conhecidos por perpetrar. Os contatos exigem menos tempo e esforço para serem
estabelecidos, e também para serem rompidos. A distância não é obstáculo para se entrar em contato – mas entrar
em contato não é obstáculo para se permanecer à parte. Os espasmos da proximidade virtual terminam, idealmente,
sem sobras nem sedimentos permanentes. Ela pode ser encerrada, real e metaforicamente, sem nada mais que o
apertar de um botão”.
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9 Cf. TAKAHASHI, Tadao. Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia,
2000. p. 3: “Rapidamente nos adaptamos a essas novidades e passamos a viver na sociedade da informação, uma via
em que a informação flui a velocidades e em quantidades há apenas poucos anos inimagináveis, assumindo valores
sociais e econômicos fundamentais”.
10 Cf. LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996. p. 16: “Já o virtual não se opõe ao real,
mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático,
o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade
qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização”.
11 GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 194.
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15 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. 17. ed. São Paulo: Paz
e Terra, 2016. p. 74.
16 CARVALHO, Luiz Gustavo Grandinetti Castanho de. Liberdade de informação e o direito difuso à informação verdadeira.
Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 82.
17 BBC BRASIL. Como Trump e o Brexit ajudaram a cunhar a palavra do ano escolhida pelo dicionário Oxford. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-37998165>. Acesso em: 1º out. 2018.
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18 NIETZSCHE, Friedrich. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. Trad. e Org. Fernando de Moraes Barros. São
Paulo: Hedra, 2008. p. 36.
19 Cf. ANDREUCCI, Ana Cláudia Pompeli Torezan; JUNQUEIRA, Michele Asato. Pinóquio em tempos de pós-
verdade: fake news e comunicação na construção da cidadania digital para crianças e adolescentes. In: RAIZ, Diogo
(Coord.). Fake news: a conexão entre a desinformação e o direito. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. p. 238:
“Assim relativiza-se a verdade, relativiza-se a sua importância para a formação da moral, para construção da ética e a
utiliza como instrumento de poder, coerção e manipulação. Não importa se é verdade, mas o que todos acreditam
ser verdade”.
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20 Cf. SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 4: “Todas
essas tendências atuais de exposição da intimidade vão ao encontro e prometem uma vontade geral do público: a
avidez de bisbilhotar e ‘consumir’ vidas alheias. Nesse contexto, os muros que costumavam proteger a privacidade
individual sofrem sérios abalos; cada vez mais, essas paredes, outrora sólidas, são infiltradas por olhares tecnicamente
mediados que flexibilizam e alargam os limites do dizível e do mostrável”.
21 LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996. p. 16.
22 Cf. LEMOS, André; LEVY, Pierre. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia. São Paulo: Paulus, 2010.
p. 101: “O desenvolvimento de comunidades e redes sociais on-line é provavelmente um dos maiores acontecimentos
dos últimos anos, sendo uma nova maneira de ‘fazer sociedade’. Os grupos de discussão, listas de difusão, new groups,
chat rooms, mundos virtuais multiparticipantes (Second Life), softwares sociais (Orkut, Facebook), blogs e microblogs,
jogos eletrônicos coletivos, redes sociais móveis (mobile social networking) têm um desenvolvimento espetacular,
particularmente entre as jovens gerações. As comunidades virtuais começaram a se desenvolver há mais de vinte
anos antes da aparição da web. Hoje, elas constituem o fundamento social do ciberespaço e uma das chaves para a
futura ciberdemocracia”.
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23 RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. p. 104.
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em si, mostrar tudo como um show, como algo que seja objeto de desejo de
outras pessoas que não façam parte daquela realidade exposta na rede social e
dessa forma fomentar uma conduta em busca da exposição, da espetaculari-
zação como forma de convívio social. Nesse sentido, o conceito de sociedade
do espetáculo, de Debord24, amolda-se perfeitamente ao tipo de conduta ou
comportamento adotado pelos atores sociais no interior dessas redes.
Os critérios de confiabilidade das fontes de informação passam a ser
mitigados no atual contexto de evolução tecnológica e pela quantidade de
possibilidades que surgem para o compartilhamento dessa informação. Nesse
aspecto, a volatilidade e a velocidade da circulação da informação, bem como
a possibilidade infinita de acessos a essa informação por meio das redes so-
ciais, fez com que em poucos anos as redes sociais passassem a ser o lócus de
discussão e de divulgação de informação.
Embora as postagens sejam, em sua grande maioria, de conteúdo super-
ficial, as redes sociais passaram a ser o maior ponto de divulgação de notícia
e de procura por essas notícias. Com isso, a timeline do Facebook substitui a
antiga página do jornal, fazendo com que os hábitos das pessoas se direcionem
a esse tipo de meio. Nesse sentido, Jean Baudrillard bem elucida a questão:
24 Cf. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2017. p. 64: “A vedete do espetáculo, a
representação espetacular do homem vivo, ao concentrar em si a imagem de um papel possível, concentra pois essa
banalidade. A condição de vedete é a especialização do vivido aparente, o objeto de identificação com a vida aparente
sem profundidade, que deve compensar o estilhaçamento das especializações produtivas de fato vividas. As vedetes
existem para representar tipos variados de estilo de vida e de estilos de compreensão de sociedade, livres para agir
globalmente. Elas encarnam o resultado inacessível do trabalho social, imitando subprodutos desse trabalho que são
magicamente transferidos acima dele como sua finalidade: o poder e as férias, a decisão e o consumo que estão no
início e no fim de um processo indiscutido. Num caso, é o poder governamental que se personaliza em pseudovedete;
no outro, é a vedete do consumo que se submete a plebiscito como pseudopoder sobre o vivido. Mas, assim como
essas atividades da vedete são realmente globais, também não são variadas”.
25 BRAUDRILLARD, Jean. Tela total: mito-ironias da era do virtual e da imagem. Porto Alegre: Sulina, 2005. p. 45.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 17
Notícias falsas ou fake news são aquelas notícias que não possuem con-
teúdo verdade ou verossímil e buscam influenciar ou atingir de alguma forma
a opinião pública27, ou até mesmo o senso comum. Elas podem ser definidas
de forma mais completa, segundo Allcott e Gentzkow, do seguinte modo:
“Nós definimos ‘notícias falsas’ como artigos de notícias que são falsas de
forma intencional e verificável, e poderiam enganar os leitores. Concen-
tramo-nos em artigos de notícias falsas que têm implicações políticas, com
especial atenção para as eleições presidenciais de 2016 nos EUA. Nossa
definição inclui artigos de notícias intencionalmente fabricados, como um
artigo amplamente compartilhado do site agora denunciado denverguar-
dian.com com a manchete, ‘agente do FBI suspeita de falhas de e-mail da
Hillary encontradas mortas em aparente assassinato-suicídio’. Inclui muitos
artigos que se originam de sites satíricos, mas podem ser mal interpretados
como factuais, especialmente quando vistos isoladamente no Twitter ou
nas postagens do Facebook.”28 (tradução livre)
26 BAUMAN, Zygmunt. A modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 12.
27 “No nível coletivo, a prece como entidade mítica: a opinião pública é o sentimento do povo.” (AUGRAS, Monique.
Opinião pública: teoria e pesquisa. São Paulo: Vozes Limitadas, 1970. p. 9)
28 ALLCOTT, Hunt; GENTZKOW, Matthew. Social media and fake news in the 2016 election. Journal of Economic
Perspectives, v. 31, n. 2, p. 211-236, 2017. p. 213: “We define ‘fake news’ to be news articles that are intentionally and
verifiably false, and could mislead readers. We focus on fake news articles that have political implications, with special
attention to the 2016 US presidential elections. Our definition includes intentionally fabricated news articles, such as
a widely shared article from the now-defunct website denverguardian.com with the headline, ‘FBI agent suspected in
Hillary email leaks found dead in apparent murder-suicide’. It also includes many articles that originate on satirical
websites but could be misunderstood as factual, especially when viewed in isolation on Twitter or Facebook feeds”.
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18
29 FERREIRA, Luiz Carlos. Bebê-diabo nasce no ABC paulista, mas some de forma misteriosa. Folha de S. Paulo, 15
de setembro de 2017. Banco de dados (saiu no NP). Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/banco-de-
dados/2017/09/1820253-bebe-diabo-nasce-no-abc-paulista-mas-some-de-forma-misteriosa.shtml>. Acesso em: 10
jan. 2018.
30 KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo: norte e sul – Manual de Comunicação. São Paulo: Edusp, 2001. p. 250.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 19
31 SOUZA, Luciano Anderson de. Expansão do direito penal e globalização. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 173.
32 MAESTRI, Leticia de Almeida. Direito penal na pós-modernidade. Diritto & Diritti. 2011, p. 9. Disponível em:
<https://www.diritto.it/direito-penal-na-pos-modernidade/>. Acesso em: 10 jun. 2018.
33 SOUZA, Luciano Anderson de. Expansão do direito penal e globalização. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 62.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
20
34 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. A expansão do direito penal: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais.
São Paulo: RT, 2002. p. 27.
35 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. A expansão do direito penal: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais.
São Paulo: RT, 2002. p. 41.
36 WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. Medo e direito penal: reflexos da expansão punitiva na realidade brasileira.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. p. 35.
37 HASSEMER, Winfried. Perspectivas de uma moderna política criminal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São
Paulo, v. 2, n. 8, p. 41-51, out./dez. 1994, p. 49.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 21
38 ZEIDAN, Rogério. Direito penal contemporâneo: fundamentos críticos das ciências penais. São Paulo: Saraiva, 2013.
p. 177.
39 HASSEMER, Winfried. Derecho penal simbólico y protección de bienes jurídicos. In: BUSTOS RAMIREZ, Juan.
Pena y Estado. Santiago: Editorial Jurídica Conosur, 1995. p. 23-36.
40 Código Penal: “Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro”.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
22
41 Código Penal: “Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação”.
42 Código Penal: “Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime”.
43 GRIGORI, Pedro. 20 projetos de lei no Congresso pretendem criminalizar fake news. Pública, 11 de maio de 2018.
Disponível em: <https://apublica.org/2018/05/20-projetos-de-lei-no-congresso-pretendem-criminalizar-fake-
news/>. Acesso em: 30 ago. 2018.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 23
Art. 287-A. Divulgar notícia que sabe ser falsa e que possa distorcer, alterar
ou corromper a verdade sobre informações relacionadas à saúde, à segu-
rança pública, à economia nacional, ao processo eleitoral ou que afetem
interesse público relevante.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui
crime mais grave.
46 SOUZA, Luciano Anderson de. Expansão do direito penal e globalização. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 62.
47 BRASIL. Projeto de Lei do Senado nº 473, de 2017. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/
documento?dm=7313311&disposition=inline>. Acesso em: 27 ago. 2018.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 25
48 HASSEMER, Winfried. Derecho penal simbólico y protección de bienes jurídicos. In: BUSTOS RAMIREZ, Juan.
Pena y Estado. Santiago: Editorial Jurídica Conosur, 1995. p. 23-36.
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26
6 Conclusão
O fenômeno das fake news não é recente, porém ganhou força e espaço
com a popularização da internet e o avanço tecnológico, que permitiram um
ambiente facilitador da dinâmica de circulação de informação.
A efemeridade que a informação possui hoje e a indiferença dos indi-
víduos com a verdade, fortalecendo o conceito de pós-verdade, evidenciam
o campo perfeito para o desenvolvimento de uma cultura de criação de con-
teúdo e até mesmo de compartilhamento de notícias que não correspondem
à verdade.
Juntamente com a efemeridade da informação, bem como com a indi-
ferença com a verdade, observa-se a capacidade de estabelecer valor monetário
ou de quantificar economicamente essa informação, o que cria, ainda, uma
visão desta como mercadoria e a possibilidade de se obter receitas financeiras
com a sua circulação. Isso gera uma postura de busca de informação, não para
agregar conhecimento, mas sim para obter vantagem econômica. Nesse sen-
tido, a velocidade da informação ganha mais espaço do que a sua veracidade.
Por outro lado, a internet é um ambiente de difícil regulação, já que o seu
próprio funcionamento e a sua arquitetura tornam qualquer tipo de iniciativa
nesse sentido muito difícil de alcançar os resultados desejados. Quanto mais se
busca regular a internet, mais meios ela encontra para se desviar da regulação,
já que as iniciativas de legislação buscam disciplinar o aspecto visível, ou seja,
a superfície da internet. Entretanto, existem outras questões, como a estrutura
e a própria dinâmica de interação, que são difíceis de serem reguladas, uma
vez que os reflexos das ações no ciberespaço possuem alcance mundial, e
qualquer iniciativa que não leve isso em conta pode fracassar.
A busca por regulação da internet sob o aspecto criminal será mais com-
plexa ainda, já que esse ramo do Direito possui princípios basilares, entre os
quais a da legalidade e a exigência de tipicidade material e formal, exigindo do
legislador intenso esforço no sentido de imaginar todas as possíveis condutas
para, desse modo, tipificá-las em lei. A dinâmica da internet é muito peculiar
e a velocidade das interações é extrema.
Dessa forma, as diversas iniciativas de enquadramento criminal quanto
à criação e à disseminação de notícias falsas, ou seja, as denominadas fake news,
estão fundamentadas em um suposto interesse social. Entretanto, na realidade,
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 27
TITLE: Initiatives on criminalization of fake news in Brazil: reflection of the punitive expansionism.
ABSTRACT: This study deals with the recent initiatives aimed at criminalizing the production and
dissemination of fake news in Brazil, as is the case with the legislative proposals recently presented in
the National Congress, including Senate’s Proposition of Law no. 473, of 2017. The study starts from a
broad and critical analysis about the post-truth in the context of the Information Society, starting to place
the discussion, above all, on the growing phenomenon of the diffusion of fake news in social networks.
In order to safeguard the public and social interest, within a mistaken perspective of criminal policy, the
initiatives of criminal framing regarding the creation and dissemination of false news, in fact, appear to
establish ideological control based on social fact, whose contours, unfortunately, not always are fully
understood by the state authorities, configuring such legislative incursions, amplifying penal types, in
unequivocal expression of punitive expansionism.
KEYWORDS: Information Society. Post-Truth. Fake News. Criminal Law. Expansion.
7 Referências Bibliográficas
ALLCOTT, Hunt; GENTZKOW, Matthew. Social media and fake news in the 2016 election. Journal of
Economic Perspectives, v. 31, n. 2, p. 211-236, 2017.
ANDREUCCI, Ana Cláudia Pompeli Torezan; JUNQUEIRA, Michele Asato. Pinóquio em tempos
de pós-verdade: fake news e comunicação na construção da cidadania digital para crianças e adolescentes.
In: RAIZ, Diogo (Coord.). Fake news: a conexão entre a desinformação e o direito. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2018.
ASCENSÃO, José Oliveira. Direito da internet e da sociedade da informação: estudos. Rio de Janeiro: Forense,
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28
BARLOW, John Perry. Declaração de independência do ciberespaço. 1996. Disponível em: <http://www.dhnet.
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1 Introdução
O objetivo do presente trabalho é um exame da ação de impugnação do
habeas corpus na modalidade coletiva na legislação brasileira, fazendo um breve
* Última doutrina escrita pelo Doutor Marcellus Polastri Lima, falecido em 13 de fevereiro de 2019.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 31
2 Escorço Histórico
Historicamente, o habeas corpus aparece no direito anglo-saxão, através
da Magna Carta de João Sem Terra, de 1215, que foi imposta pelos condes e
barões revoltados com as arbitrariedades do governo da monarquia.
Como elucida José Barcelos de Souza:
“Não há dúvida de que o habeas corpus, nos moldes e com o nome que nos
foram legados, é uma instituição inglesa; mas sua origem, tem-se admiti-
do, remonta ao interdito de líbero homine exhibendo dos romanos. O nome
vem das duas primeiras palavras, em latim, que significam ‘tome o corpo’,
palavras iniciais do writ, ou mandado que, como acontece nas encíclicas,
ou bulas papais (Rerum novarum, Pacem in terra, etc.), deram nome ao ins-
tituto. O mandado dizia: ‘Tome o corpo do preso e o apresente à Corte’.
Nosso Código de Processo Penal conserva até hoje um resquício daquele
mandado inglês. Lá está, com efeito, em um de seus artigos, que ‘se o
paciente estiver preso, o juiz mandará que ele seja trazido imediatamente
à sua presença’. Só que, atualmente, isso não ocorrerá de modo rotineiro,
mas quando pedido pelo impetrante, visto que se firmou a praxe de, em
vez disso, pedirem-se informações ao coator, tal como se faz nos tribunais,
nos casos de competência originária.”1
1 SOUZA, José Barcelos de. Do habeas corpus. Revista da Faculdade de Direito Milton Campos, Belo Horizonte, Del Rey,
vol. 25, 2012, p. 61.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
32
“Todo cidadão que entender que ele, ou outrem, sofre uma prisão ou cons-
trangimento ilegal em sua liberdade, tem o direito de pedir uma ordem de
habeas corpus em seu favor.”
2 Neste sentido: MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 2002. v. IV.
p. 367.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 33
Porém, hoje se tem uma visão mais ampla deste remédio heroico, pois,
na área do Direito Processual Penal, estamos assistindo à consolidação de
uma nova concepção do instituto, tão importante e tão significativa como a
da antiga e histórica doutrina brasileira do habeas corpus. O writ tem sido usado
com grande abrangência independentemente mesmo da existência de prisão
ou de ameaça concreta à liberdade de locomoção. É o que chama Barcelos de
Souza de habeas corpus processual, que tem uma “face de remédio processual
contra a ilegalidade e contra os constrangimentos sem justa causa no processo
penal, para o que pode aí ser perfeitamente utilizado ainda que o réu não se ache
preso nem concretamente ameaçado de prisão (...) Mas é bem de ver que nem por
isso perdeu sua natureza também de ação, uma vez que com ele se instaura
uma relação processual nova ainda quando impetrado contra decisão judicial”3.
As hipóteses de cabimento da medida estão indicadas nos arts. 647 e 648
do CPP, esclarecendo, como dito supra, que, cada vez mais, tem sido ampliado
o espectro de seu cabimento.
Dispõe o art. 648 do CPP:
II – quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III – quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
V – quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que
lei autoriza;
3 SOUZA, José Barcelos de. Doutrina e prática do habeas corpus. Belo Horizonte: Sigla, 1998. p. 11-19.
4 Não há necessidade de ser advogado para impetrar o habeas corpus, e tem-se admitido sua interposição redigida a
petição em qualquer folha de papel, mesmo à mão, sem qualquer formalidade.
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34
5 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris, 1988.
6 TAVARES, Marcelo Leonardo. Carentes de Justiça. Revista de Direito da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,
n. 17, 2001, p. 127-146.
7 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela dos direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 7. ed. São Paulo:
RT, 2017.
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36
8 DIDIER Jr., Fredie; ZANETI Jr., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 4. ed. Salvador: Juspodivm,
2009. vol. IV. p. 34.
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9 DIDIER Jr., Fredie; ZANETI Jr., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 4. ed. Salvador: Juspodivm,
2009. vol. IV. p. 45.
10 LIMA, Thais. Ministros, precisamos falar sobre habeas corpus coletivo. JOTA. Disponível em: <https://www.jota.
info/stf/do-supremo/defesa-senhores-ministros-precisamos-falar-sobre-habeas-corpus-coletivo-22092016>.
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38
11 GALLI, Marcelo. Cabimento de HC coletivo ainda divide opiniões no meio jurídico e dentro do STF. Conjur.
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-fev-21/cabimento-hc-coletivo-ainda-divide-opinioes-meio-
juridico>.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 39
12 No acórdão restou estabelecido que “(...) o que se discute, em suma, neste habeas corpus é a compreensão do real
significado da dignidade humana e o dever que o Estado tem em preservá-la. Nesse sentido, no julgamento do
RE 592.581/RS, com repercussão geral, o STF entendeu que a supremacia dos postulados da dignidade da pessoa
humana e do mínimo existencial legitima a imposição, ao Poder Executivo, de medidas em estabelecimentos pri-
sionais destinadas a assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, não sendo oponível à decisão
o argumento da reserva do possível. Alinhando-se a essa posição, o STJ também já se posicionou ao decidir que não
afronta o princípio da separação dos poderes a intervenção judicial em esfera de competência do Poder Executivo para,
de algum modo, fazer cessar ou, ao menos, amenizar, a situação de grave violação da dignidade humana dos presos
(RMS 42.051/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 05.04.2016, DJe 15.04.2016). Assim, diante da fundamentação
acima exposta, concedo a ordem para determinar que se garanta a todas as pessoas custodiadas no Sistema Prisional e
Socioeducativo do Espírito Santo o direito à saída diária da cela por tempo de 2 (duas) horas para banho de sol”.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
40
6 Conclusão
O artigo estudou o habeas corpus como ação impugnativa de índole
constitucional essencial para garantia do direito fundamental de liberdade dos
indivíduos, quando estes sofram ou sejam ameaçados de sofrer violência ou
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
42
ABSTRACT: This work intends to understand and elucidate the question of the appropriateness of habeas
corpus in the collective modality in the national order. The study will analyze the advantages brought by
the evolution of the collective process and its importance to face the problems of slowness and overload
of the Judiciary, seeking to give greater speed, economy and effectiveness to the jurisdictional provision. In
the end, the habeas corpus will be treated as a constitutional action capable of guaranteeing the fundamental
right to freedom of movement of a community, through the positioning of the doctrine and jurisprudence
of our Superior Courts.
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O Princípio da Proporcionalidade e o
Problema do Controle de Conteúdo das
Normas Penais
1 Sobre o tema, seja permitido o reenvio a: SILVEIRA, Fabiano Augusto Martins. A Constituição e o princípio da ofensividade
penal vinte anos depois, 2008, p. 315-348; Idem. A revisão do modelo constitucionalista de ilícito penal e a chamada “orientação
às consequências”, 2011, p. 213-236.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
46
2 São os três pilares (ou subprincípios) do juízo de proporcionalidade, conforme formatação oferecida pela doutrina
alemã, largamente difundida: “a máxima da proporcionalidade significa que a proporcionalidade, com suas três máximas
parciais da adequação, necessidade (mandamento do meio menos gravoso) e da proporcionalidade em sentido estrito
(mandamento do sopesamento propriamente dito), decorre logicamente da natureza dos princípios, ou seja, que a
proporcionalidade é deduzível dessa natureza”. ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. p. 117-118. Conferir,
ainda: MAUGERI, Anna Maria. I reati di sospetto dopo la pronuncia della Corte Costituzionale n. 370 del 1996, 1999,
p. 476; DONINI, Massimo. Sussidiarietà penale e sussidiarietà comunitaria, 2003, p. 156; CARBONELL MATEU,
Juan Carlos. Derecho penal, 1999, p. 206-214. A doutrina brasileira também reproduz o referido esquema em inúmeros
trabalhos monográficos, com variações terminológicas do tipo: adequação (conformidade, pertinência ou idoneidade);
necessidade (exigibilidade); proporcionalidade em sentido estrito (custo-benefício). Consultar: SARLET, Ingo Wolfgang.
Constituição e proporcionalidade, 2004, p. 101-102; DILGUERIAN, Miriam Gonçalves. Princípio constitucional da
proporcionalidade e sua implicação no direito penal, 2003, p. 188-189; BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da
proporcionalidade e o controle de constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais, 1996, p. 72-84; BUECHELE,
Paulo Arminio Tavares. O princípio da proporcionalidade e a interpretação da Constituição, 1999, p. 124-135.
3 Sobre o vínculo materno do princípio da proporcionalidade para com a doutrina e jurisprudência da Corte Cons-
titucional alemã, consultar, mais uma vez: ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais, 2008, p. 101.
4 Encontramos, na doutrina e na jurisprudência, designações diversas que orbitam o princípio da proporcionalidade, o
que tem gerado, por vezes, confusões e equívocos. Seria a razoabilidade sinônimo de proporcionalidade? A proibição
de excesso também cumpre o mesmíssimo papel? Há, de fato, uma espécie de polifonia que circunda os problemas
que o princípio da proporcionalidade é chamado a resolver. Sem a pretensão de esgotar o debate terminológico, pode-
se afirmar que a razoabilidade é postulado de origem histórica norte-americana, que se traduz na ideia de equidade,
aplicada para solucionar problemas com normas manifestamente “injustas” (ÁVILA, Humberto Bergmann. Teoria dos
princípios, 2005, p. 103); já a proporcionalidade é de origem alemã, considerado postulado geral do direito utilizado na
resolução de colisão entre direitos fundamentais (ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais, 2008, p. 117; SILVA,
Virgílio Afonso da. O proporcional e o razoável, 2002, p. 24). Quanto à proibição de excesso, pode ser entendida,
segundo Gilmar Mendes, como a “contraditoriedade, incongruência e irrazoabilidade ou inadequação entre meios
e fins”, e é tratada, portanto, como sinônimo de proporcionalidade (MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo
Gustavo Gonet. Curso de direto constitucional, 2017, p. 201).
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 47
5 SARLET, Ingo Wolfgang. Constituição e proporcionalidade, 2004, p. 101. Comentando a proporcionalidade em sentido
estrito, J. C. Carbonell Mateu afirma: “trata-se, por empregar expressões próprias da análise econômica do Direito,
de não aplicar um preço excessivo para obter um benefício inferior: se se trata de obter o máximo de liberdade, não
poderão ser previstas penas que resultem desproporcionais em relação à gravidade da conduta” (Derecho penal, 1999,
p. 210).
6 O outro lado da moeda seria a “proibição de insuficiência”, na hipótese de omissão injustificada ou quando a medida
jurídica escolhida esteja muito aquém do objetivo perseguido. Cf., a propósito: SARLET, Ingo Wolfgang. Constituição
e proporcionalidade, 2004, p. 97-105.
7 A confirmar a aplicação básica do juízo de proporcionalidade no confronto entre o objeto da tutela e o objeto da
reação penal (liberdade pessoal), conferir, por outros: ANGIONI, Francesco. Beni costituzionali e criteri orientativi
sull’area dell’illecito penale, 1985, p. 63-65.
8 Sobre a diversificação do painel valorativo no juízo de proporcionalidade, como superando o esquema “fixo” e
“invariável” que contrapõe liberdade pessoal, de um lado, e o bem tutelado pela incriminação, de outro, conferir:
PALAZZO, Francesco. I confinidella tutela penale, 1992, p. 455-456; Idem. Offensività e ragionevolezza nel controllo
di costituzionalità sul contenuto delle leggi penali, 1998, p. 379-380.
9 Sobre esta perspectiva do princípio da proporcionalidade, em experiência comparativa, a Corte Constitucional espanhola,
em decisão, formula a seguinte ponderação: “El principio de proporcionalidad no constituye en nuestro ordenamiento
constitucional un canon de constitucionalidad autónomo. Mas la desproporción entre el fin perseguido y los medios
empleados para conseguir lo puede dar lugar a un enjuiciamiento desde la perspectiva constitucional cuando esa falta de
proporción implica un sacrificio excesivo e innecesario de los derechos que la Constitución garantiza (SSTC 62/1982,
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66/1985, 19/1988, 85/1992, 50/1995, 66/1995, 55/1996 y 161/1997). El juicio que procede en esta sede de amparo debe
ser muy cauteloso. Se limita a verificar que la norma penal no produzca ‘un patente derroche inútil de coacción que
convierte la norma en arbitraria y que socava los principios elementales de justicia inherentes a la dignidad de la persona
y al Estado de Derecho’ o una [FF. JJ. 22 y 23].” Sentença nº 136/1999 da Corte Constitucional Espanhola.
10 Ilustrativos os chamados delitos de opinião (apologia ao crime, incitação ao racismo, entre outros), nos quais se evi-
dencia o afastamento momentâneo da liberdade de expressão em favor de outros interesses juridicamente válidos.
Vemos semelhantes tensões entre os crimes contra a organização do trabalho, com a criminalização limite de condutas
relacionadas aos direitos de greve e de reunião. O mesmo esquema de análise se estende ao crime militar de deserção
(liberdade de locomoção versus disciplina militar), embriaguez ao volante (autodeterminação e a integridade física de
terceiros), evasão de divisas (direito de deixar o país com os bens patrimoniais e o sistema financeiro), porte de arma de
fogo (autodefesa e vida de terceiros), entre tantos outros casos.
11 Referência essencial à Lei da ponderação de Robert Alexy: “Quanto maior é o grau de não satisfação ou de afetação
de um princípio, tanto maior terá de ser a importância da satisfação do outro” (Teoria dos direitos fundamentais, 2008,
p. 161). Ainda sobre o balanceamento de princípios antagônicos, ver: TASSI, Andrea. Il sindacato di ragionevolezza
della Corte Costituzionale sul sistema processuale penali, 2002, p. 228-229.
12 Extrai-se do voto-vista proferido pelo Ministro Roberto Barroso o seguinte trecho: “A tipificação penal viola, também,
o princípio da proporcionalidade por motivos que se cumulam: (i) ela constitui medida de duvidosa adequação para
proteger o bem jurídico que pretende tutelar (vida do nascituro), por não produzir impacto relevante sobre o número
de abortos praticados no país, apenas impedindo que sejam feitos de modo seguro; (ii) é possível que o Estado evite
a ocorrência de abortos por meios mais eficazes e menos lesivos do que a criminalização, tais como educação sexual,
distribuição de contraceptivos e amparo à mulher que deseja ter o filho, mas se encontra em condições adversas;
(iii) a medida é desproporcional em sentido estrito, por gerar custos sociais (problemas de saúde pública e mortes)
superiores aos seus benefícios” (Habeas Corpus 124.306/RJ, 1ª Turma, 29.11.2016, Rel. Min. Marco Aurélio, Pre-
sidente e Redator para o acórdão Min. Luís Roberto Barroso).
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 49
13 Luigi Ferrajoli propõe o seguinte critério: “(...) a pena não deve exceder a violência informal que em sua ausência
o réu sofreria por parte do ofendido ou de outras forças mais ou menos organizadas”. Em seguida, no entanto, o
autor admite que o referido critério não se presta a medições precisas: “Trata-se, na realidade, de uma indicação que
pode apenas orientar as valorações do legislador” (Diritto e ragione, 2002, p. 398-399).
14 Para doutrina e jurisprudência italianas, o princípio de proporcionalidade (ragionevolezza) está radicado, sobretudo
no primeiro parágrafo do art. 3º da Constituição Republicana, que é pura expressão do princípio da igualdade. A
propósito, conferir: GUAZZALOCA, Bruno et al. Controllo di ragionevolezza e sistema penale, 1998, p. 32; INSOLE-
RA, Gaetano. Principio di eguaglianza e controllo di ragionevolezza sulle norme penali, 1997, p. 271-272; TASSI,
Andrea. Il sindacato di ragionevolezza della Corte Costituzionale sul sistema processuale penali, 2002, p. 226 e 229.
Reivindicando, no entanto, uma fundamentação mais versátil, ver: MAUGERI, Anna Maria. I reati di sospetto dopo
la pronuncia della Corte Costituzionale n. 370 del 1996, 1999, p. 463-467. De sua vez, Francesco Angioni vincula o
referido princípio às funções da pena criminal: “qualquer ou quaisquer que sejam, entre aquelas indicadas, as funções
que a Constituição atribui à pena (arts. 25 e 27), visto que para qualquer delas vale o princípio de proporcionalidade,
este último princípio resulta medianamente constitucionalizado por implicação lógica. (...) a previsão de uma pena
desmedidamente severa em relação a qualquer crime (e, portanto, desproporcional em excesso), longe de possuir
uma eficácia intimidativa mais forte, cria no potencial transgressor sentimentos de indiferença ou de fatalismo,
e de outra parte ofusca nos consorciados a escala de valores cristalizada na lei, escala que eles deveriam perceber
justamente pela relação entre espécie e magnitude da sanção e do ilícito” (Beni costituzionali e criteri orientativi
sull’area dell’illecito penale, 1985, p. 62). Na literatura brasileira, notam-se caminhos bem diversos, ora conjugando
o conteúdo do art. 5º e a sua descrição como cláusula pétrea nos termos do art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal,
ora invocando a cláusula geral do Estado Democrático de Direito consagrada no caput do art. 1º, ora apoiando-se na
cláusula do devido processo legal (art. 5º, LIV), ora no comando da reserva legal (art. 5º, II). Conferir: BARROS,
Suzana de Toledo. O princípio da proporcionalidade e o controle de constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais,
1996, p. 87-94; LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Teoria constitucional do direito penal, 2000, p. 420, 433 e 452; DIL-
GUERIAN, Miriam Gonçalves. Princípio constitucional da proporcionalidade e sua implicação no direito penal,
2003, p. 175-181.
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outro tipo penal como régua de ponderação, visto que, em última análise,
como explica Paliero, “uma escala de sanções bem individuada (por ‘tipo’ e por
‘quantidade’) é o indicador essencial para a orientação e segurança coletivas,
porquanto representa o mais ‘visível’ critério de comparação dos valores aceitos
pelo ordenamento jurídico”15.
O legislador não ficará, assim, constrangido na sua prerrogativa exclu-
siva de definir crimes e estabelecer penas, senão a prestar contas de sua obra
como um todo. Sem discutir o mérito da decisão política, a figura do tertium
comparationis faz com que o legislador se queixe a outro legislador, pois um dos
dois se equivocou ao fixar um parâmetro penal desbalizado. Resgata-se, dessa
forma, uma linha de continuidade entre os atos legislativos passados e futuros.
Portanto, se olharmos com atenção, o juízo de proporcionalidade pega
o legislador no contrapé, já que sua escolha não pode ser defendida à custa do
equilíbrio e congruência mínima do sistema de penas. O que seria defensável,
digamos, sob a lógica interna do tipo penal (endonormativa), deixa de sê-lo no
contraste com normas penais de natureza análoga. Assim concebido, “o juízo
de igualdade-razoabilidade (...) seria, em suma, um controle de racionalidade,
de coerência, baseado sobre o princípio de não contradição”16.
Como dissemos, na maioria dos casos, seria muito doloroso operar o
juízo de proporcionalidade recorrendo, tão somente, ao binário crime/pena,
razão pela qual o tertium comparationis funciona como um elemento de simpli-
ficação17, um atalho pretensamente neutro, matemático, que se aproveita da
força de uma norma de direito positivo (alçada a gênero próximo) para desqualifi-
car outro produto legislativo. Quem fala por último não é o intérprete, diz-se,
senão o próprio ordenamento jurídico que reage contra a norma intrusa. Com
efeito, o terreno da dosimetria legislativa da pena, até então imperscrutável, é
submetido a um esquema triádico que confronta o tipo penal suspeito, o próprio
juízo de proporcionalidade e a norma penal de apoio18.
4 Críticas e Acenos
Como a unidade lógica do sistema jurídico – e especialmente do sistema
jurídico-penal com suas pressões inflacionárias – é um ideal a ser perseguido,
mas dificilmente realizável, fica evidente que o juízo de proporção tem sempre
um papel a cumprir. Rápido se constata que o fenômeno do crescimento do
direito penal seria um prato cheio para o critério em exame.
Receamos, todavia, a despeito de sua crescente aplicação jurisprudencial,
que o enunciado ainda não fora explorado até as últimas consequências, no
sentido de desencadear, dada a abundância de matéria-prima19, uma revisão
mais abrangente das normas penais a ponto de preocupar a atividade legife-
rante. Talvez porque não estejam bem esclarecidas, ainda, as consequências
da desproporcionalidade relevante entre duas ou mais figuras típicas: a) ou
o juiz simplesmente recusa validade ao dispositivo impugnado e declara sua
inconstitucionalidade, isentando o acusado de qualquer responsabilidade pe-
nal20; b) ou o juiz aplica a pena (ou outro comando) da norma penal de apoio,
quando mais branda, criando um tipo híbrido por analogia in bonam partem.
Outra hipótese não menos interessante é a de que, tudo considerado,
o juízo de proporcionalidade atuaria mais na fase de acabamento, e não na
conformação geral do sistema. Ao contrário dos enunciados genuinamente
penais, que nutrem expectativas pouco modestas, a proporcionalidade não se
apresentaria como autêntico paradigma de política criminal. Estaria quase que
exclusivamente direcionada ao Judiciário, isto é, à fase pós-legislativa, pelo
menos nas suas mais recentes aparições via tertium comparationis.
A rigor, a ideia de isonomia ou não contradição não nos fornece uma
chave para modelar, idealmente, a parte especial de um código ou o conjunto
19 No caso do direito penal brasileiro, interessantes sugestões em: FRANCO, Alberto Silva. A pessoa humana como centro
do sistema punitivo, 2000, p. 4; ESTELLITA, Heloisa. Direito penal, Constituição e princípio da proporcionalidade,
2003, p. 11-13; SANTORO, Antonio. Casuísmo político-penal, 2004, p. 13; PEIXOTO, Marcos Augusto Ramos.
Possibilidade de controle jurisdicional sobre a proporcionalidade da pena in abstracto, 2005, p. 13-14.
20 Na ocasião do julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade no Habeas Corpus 239.363, o Superior Tribunal de
Justiça optou por declarar inconstitucional o preceito secundário do art. 273 do Código Penal, sob a seguinte funda-
mentação: “(...) 4. O crime de ter em depósito, para venda, produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais de
procedência ignorada é de perigo abstrato e independe da prova da ocorrência de efetivo risco para quem quer que
seja. E a indispensabilidade do dano concreto à saúde do pretenso usuário do produto evidencia ainda mais a falta de
harmonia entre o delito e a pena abstratamente cominada (de 10 a 15 anos de reclusão) se comparado, por exemplo,
com o crime de tráfico ilícito de drogas – notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a saúde pública. 5.
A ausência de relevância penal da conduta, a desproporção da pena em ponderação com o dano ou perigo de dano à
saúde pública decorrente da ação e a inexistência de consequência calamitosa do agir convergem para que se conclua
pela falta de razoabilidade da pena prevista na lei. A restrição da liberdade individual não pode ser excessiva, mas com-
patível e proporcional à ofensa causada pelo comportamento humano criminoso. 6. Arguição acolhida para declarar
inconstitucional o preceito secundário da norma” (Arguição de Inconstitucionalidade no Habeas Corpus 239.363/PR,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Corte Especial, j. 26.02.2015). No mesmo sentido: “A ausência de relevância penal da
conduta, a desproporção da pena em ponderação com o dano ou perigo de dano à saúde pública decorrente da ação e
a inexistência de consequência calamitosa do agir convergem para que se conclua pela falta de razoabilidade da pena
prevista na lei. A restrição da liberdade individual não pode ser excessiva, mas compatível e proporcional à ofensa
causada pelo comportamento humano criminoso” (RE 921.055, Rel. Min. Luiz Fux, j. 26.04.2016).
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
52
TITLE: The principle of proportionality and the problem of controlling the contents of criminal regulations.
ABSTRACT: How fill out the criminal regulations? Should there be a balancing relation between the
conduct and the punishment chosen to suppress it? Aiming at answering those questions, the principle of
proportionality has acquired some prestige among courts for being capable of identifying and correcting
criminal regulations lacking reasonability. The debate about the application of the principle of propor-
tionality faces the problem of content control of criminal regulations. There are genuine contributions
concerning the constitutionality of laws, from a value perspective and based on the examination of the
force of punishment, via tertium comparationis. The appeal to the principle of proportionality has generated,
however, criticisms that are discussed in this article.
Referências Bibliográficas
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Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
54
1 Introdução
Tradicionalmente, no Brasil, os crimes econômicos passavam desperce-
bidos ou impunes por não serem, em regra, o foco dos órgãos de investigação
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
56
e de acusação. Porém, nos últimos anos, essa concepção tem sofrido mudanças
importantes, tendo sido, inclusive, inaugurado um novo e complexo ramo
do Direito Penal, que visa à proteção da atividade econômica desenvolvida na
economia de livre mercado, qual seja, o Direito Penal Econômico.
A atual sociedade de riscos vive um intenso desenvolvimento tecno-
lógico marcado pela inexorável globalização econômica, na qual facilita-se
a circulação de informações, mercadorias e capital, mas, ao mesmo tempo,
fragiliza todo o sistema financeiro (SARCEDO, 2016)1.
Por este motivo, é cada vez mais constante a investigação e a acusação
por crimes econômicos, bem como o relato de uma postura mais ativa e atenta
das empresas, autarquias e instituições para apurá-los.
Toda essa dinamicidade nas relações comerciais acaba por tornar a
ordem econômica e o sistema financeiro mais vulneráveis à criminalidade
econômica, na medida em que o Estado não consegue acompanhar todas as
movimentações com eventuais ocultações e dissimulações, nem tampouco
dispõe de instrumentos suficientes para regulá-las adequadamente.
Assim, as preocupações existentes com esse modo de criminalidade
superaram as barreiras da dogmática penal tradicional e da própria adminis-
trativização do Direito Penal, chegando na prevenção empresarial voltada à
neutralização de riscos.
E é precisamente nesse contexto de prevenção de crimes dessa natureza
que tem se exigido os deveres de integridade, transparência, ética e conformi-
dade às leis, reforçados pela Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013).
Todo esse processo culminou no conceito de compliance criminal, que
pode ser entendido, basicamente, como a forma de detectar condutas delitivas
e de criar uma cultura de conformidade com o direito por meio de proce-
dimentos internos e externos padronizados que visam a mitigar eventuais
infrações penais.
Para a compreensão mais aprofundada do compliance criminal e da
autorregulação corporativa para prevenção de riscos, será analisada a noção
inaugurada pela Lei de Lavagem de Dinheiro brasileira, passando por sua
evolução histórica, conceituação, fases, bens juridicamente tutelados e os
métodos de prevenção e combate do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF).
1 SARCEDO, Leandro. Compliance e responsabilidade penal da pessoa jurídica: construção de um novo modelo de imputação
baseado na culpabilidade corporativa. São Paulo: LiberArs, 2016. p. 21.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 57
3.1 Conceituação
A tipificação do crime de lavagem de dinheiro no Brasil não fora pro-
movida no Código Penal, mas, sim, em legislação especial com a finalidade
2 AZEVEDO, Guilherme Henrique Peixoto de; PEREIRA, Lucas de Freitas. Lavagem de dinheiro: o advento da Lei
nº 12.683/2012, a banalização do crime e o elemento subjetivo especial. In: LOPES, Luciano Santos; MARTINS,
Amanda Jales (Org.). Direito penal econômico: tendências e perspectivas. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017. p. 251.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 59
3 ARAS, Vladimir. A investigação criminal na nova Lei de Lavagem de Dinheiro. Boletim IBCCRIM, ano 20, n. 236,
ago. 2012. Disponível em: <http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Boletim237.pdf>. Acesso em: 1º dez. 2018.
4 MORO, Sérgio Fernando. Crime de lavagem de dinheiro. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 36.
5 SOUZA NETTO, José Laurindo de. Lavagem de dinheiro: comentários à Lei 9.613/98. Curitiba: Juruá, 1999. p. 41.
6 RHC 80.816-6/SP, Rel. Min. Sepulveda Pertence, 1ª T., j. 18.06.2011. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso
em: 1º dez. 2018.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
60
3.2 Fases
Classicamente, a doutrina divide o crime de lavagem de dinheiro em
três fases, são elas: (i) ocultação (placement), na qual visa-se “tirar a visibilidade
dos bens adquiridos criminosamente” (SANCTIS, 2015, p. 177)9; (ii) dissi-
mulação (layering), em que se objetiva separar o capital de sua origem ilícita,
dissimulando os resquícios do modo como fora conseguido; (iii) e integração
(integration ou recycling), na qual o dinheiro sujo reingressa na economia formal
coberto pelo manto da aparência de licitude.
Passa-se à análise mais pormenorizada de cada uma.
7 GÓMEZ DE LA TORRE, Ignacio Berdugo. La “emancipación” del delito de blanqueo de capitales en el derecho
penal español. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, RT, vol. 87, 2010, p. 69.
8 BOTTINI, Pierpaolo Cruz; BADARÓ, Gustavo Henrique. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais:
comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2012. p. 65.
9 SANCTIS, Fausto Martin de. Delinquência econômica e financeira: colarinho branco, lavagem de dinheiro, mercado de
capitais. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 177.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 61
“The fact that money laudering is itself a crime ensures that those who,
because of the nature of their business, are liable to become involved in the
laundering of the proceeds of corruption, are deterred from providing kno-
wing assistance to those who wish to disguise the source of their wealth.”10
Nesta etapa, o sujeito ativo oculta a origem ilícita dos bens, direitos e
valores adquiridos ao utilizar instituições financeiras tradicionais (bancos) e
não tradicionais (cassinos, postos de gasolina e casas de câmbio), além de ati-
vidades econômicas como hotéis e restaurantes, sempre no intuito de inserir
o resultado dos delitos praticados na economia formal (LIMA, 2014, p. 68)11.
Como se vê, é nesta fase que a lucratividade auferida mais se aproxima
de sua origem delituosa, apresentando uma tênue e vulnerável linha divisória,
de modo que é a fase mais fácil de ser detectada pelas autoridades.
A consumação da lavagem se dá com o mero encobrimento, desde que
acompanhado do elemento volitivo, no sentido de reverter em lícito o ativo.
São exemplos da ocultação: o depósito paulatino de pequenas quan-
tias em instituições financeiras (structuring12) para não chamar a atenção das
autoridades competentes, o depósito em contas de terceiros, a conversão em
moeda estrangeira, etc.
10 CARR, Indira M.; GOLDBY, Miriam. The United Nations Anti-Corruption Convention and Money Laundering. 2009.
Disponível em: <https://ssrn.com/abstract=1409628>. Acesso em: 1º dez. 2018.
11 LIMA, Vinícius de Melo. Lavagem de dinheiro e ações neutras: critérios de imputação penal legítima. Curitiba: Juruá,
2014. p. 68.
12 BLANCO CORDERO, Isidoro. El delito de blanqueo de capitales. 3. ed. Navarra: Arazandi, 2012. Cap. I, 3.1.1.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
62
13 BOTTINI, Pierpaolo Cruz; BADARÓ, Gustavo Henrique. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais:
comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2012. p. 24-25.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 63
14 PORTELA, Fábio. PCC: Primeiro Comando da Cocaína. Veja, São Paulo, v. 40, n. 1990. p. 62-64, 10 jan. 2007.
15 SCHÜNEMANN, Bernd. O direito penal é a ultima ratio de proteção de bens jurídicos! – Sobre os limites invioláveis
do direito penal em um Estado de Direito liberal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, RT, vol. 53, 2005,
p. 18.
16 ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Fundamentos. La estructura de la teoria del delito. Trad. Diego Manuel
Luzón Peña, Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de Vicente Remesal. 2. ed. Madrid: Civitas, 1997. p. 56.
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64
“los bienes jurídicos son circunstancias dadas o finalidades que son utiles
para el individuo e su libre desarrollo en el marco de um sistema social
global estructurado sobre la base de esa concepción de los fines o para el
funcionamiento del proprio sistema.”17
Isso implica que as normas penais devem proteger bens e valores indi-
viduais, como a vida, patrimônio, honra, ou coletivos, a exemplo da ordem
econômica e do meio ambiente.
Relativamente ao crime de lavagem, as doutrinas brasileiras e interna-
cionais são bastante divididas a respeito de qual seria o bem jurídico tutelado,
a começar se a constatação deve ser feita em cima da infração antecedente ou
sobre a própria lavagem de dinheiro.
Se se considerar que deve ser levado em conta o delito pretérito, con-
forme já retroafirmado, houve três gerações legislativas. Como a primeira era
atrelada ao tráfico de drogas, naturalmente que o bem jurídico protegido é a
saúde pública. Na segunda e terceira gerações, caracterizadas pela pluraridade
de infrações penais antecedentes à lavagem, pacificou-se que não mais se res-
tringe apenas à saúde pública, mas também deve ser protegido o patrimônio,
a liberdade individual e a Administração Pública (MOLINA, 2009)18.
Lado outro, se considerarmos que o bem jurídico protegido pelas
normas de lavagem de dinheiro é o lesionado pela própria lavagem, Rodolfo
Tigre Maia aponta a administração da justiça como sendo o bem violado, sob
o fundamento de que tal crime coloca em risco a credibilidade das autorida-
17 ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Fundamentos. La estructura de la teoria del delito. Trad. Diego Manuel
Luzón Peña, Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de Vicente Remesal. 2. ed. Madrid: Civitas, 1997. p. 56.
18 MOLINA, Fernandos. Que se protege en el delito de blanqueo de capitales? Reflexiones sobre un bien juridico
problemático. In: BACIGALUPO, Silvina; FERNANDEZ, Bajo. Politica criminal y blanqueo de capitales. Madrid:
Marcial Pons, 2009. p. 122.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 65
19 MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 58.
20 BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de capitais e obrigações civis correlatas. 2. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 54.
21 BOTTKE, Wilfried. Mercado, criminalidad organizada y blanqueo de dinero en Alemania. Revista Penal, n. 2, 1998.
p. 13.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
66
22 “Art. 16. O Coaf será composto por servidores públicos de reputação ilibada e reconhecida competência, designados
em ato do Ministro de Estado da Fazenda, dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do
Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários, da Superintendência de Seguros Privados, da Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, da Agência Brasileira de Inteligência, do Ministério
das Relações Exteriores, do Ministério da Justiça, do Departamento de Polícia Federal, do Ministério da Previdência
Social e da Controladoria-Geral da União, atendendo à indicação dos respectivos Ministros de Estado. (Redação
dada pela Lei nº 12.683, de 2012)” (BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Disponível em: <www.planalto.
gov.br>. Acesso em: 1º dez. 2018.
23 Disponível em: <https://www.valor.com.br/politica/6003575/coaf-ficara-no-ministerio-da-justica-comandado-por-
sergio-moro>.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 67
24 BOTTINI, Pierpaolo Cruz; BADARÓ, Gustavo Henrique. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais:
comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. São Paulo: RT, 2012. p. 42.
25 LIMA, Vinícius de Melo. Lavagem de dinheiro e ações neutras: critérios de imputação penal legítima. Curitiba: Juruá,
2014. p. 70-71.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
68
30 WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions. Cardozo Law Review,
New York, v. 27-1, 2005. p. 497.
31 Soft law são normas sem força cogente, não vinculativas. Refere-se a qualquer instrumento regulatório dotado de
força normativa limitada, isto é, que em princípio não é vinculante, não cria obrigações jurídicas, mas ainda assim
pode produzir certos efeitos concretos aos destinatários.
32 Disponível em: <https://www.ocde.org/daf/anti-bribery/44884389.pdf>. Acesso em: 1º dez. 2018.
33 SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ; Eduardo. Compliance, direito penal e Lei Anticorrupção. São Paulo:
Saraiva, 2015.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
70
ser evidente que o Estado não mais se basta. Os custos locais, para não se
falar nos custos globais, são tremendos, a ponto de bradar, por outro lado,
também por necessidades de controles éticos. Tais valores éticos podem, e
devem, também ser postos como balizas para a autorregulação. Considera-
dos assim, e tendo-se em vista que a estipulação de determinados códigos
de conduta empresariais poderá sorrir como novo firmamento da cultura
empresarial, começa-se a verificar a possibilidade de edificação de um novo
Direito Penal em um novo marco preventivo, ou, verdadeiramente, um
Direito Penal com foco no criminal compliance.”34
34 SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ; Eduardo. Compliance, direito penal e Lei Anticorrupção. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 73-74.
35 NEIRA, Ana Maria. La efectividad de los criminal compliance programs como objeto de prueba en el proceso penal.
Politica Criminal, v. 11, n. 22, dez. 2016. p. 469.
36 “Art. 41. Para fins do disposto neste Decreto, programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica,
no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregula-
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 71
ridades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar
desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira.
Parágrafo único. O programa de integridade deve ser estruturado, aplicado e atualizado de acordo com as características
e riscos atuais das atividades de cada pessoa jurídica, a qual por sua vez deve garantir o constante aprimoramento e
adaptação do referido programa, visando garantir sua efetividade.” (BRASIL. Decreto nº 4.820, de 18 de março de 2015.
Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 1º dez. 2018)
37 “Art. 7º Serão levados em consideração na aplicação das sanções:
(...)
VIII – a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de
irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica;” (BRASIL. Lei
nº 12.846, de 1º de agosto de 2013. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 1º dez. 2018)
38 ÁVILA, Tatiana Antunes; SILVA, Vinicius Lacerda e. Criminal Compliance e o uso indevido de informação privilegiada
no mercado de valores mobiliários. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal, Porto Alegre, LexMagister, ano
XIV, v. 83, abr./maio 2018, p. 106.
39 BONACCORSI, Daniela Villani. Compliance e prevenção penal. In: OLIVEIRA, Luís Gustavo Miranda de (Org.)
Compliance e integridade: aspectos práticos e teóricos. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017. p. 209.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
72
7 Considerações Finais
O Brasil e todos os países pertencentes ao Financial Action Task Force
(FATF) e ao Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI) devem seguir
suas recomendações e atender aos padrões internacionais de combate à lava-
gem de dinheiro.
Os Estados membros deveriam criminalizar a lavagem de dinheiro com
base na Convenção de Viena e na Convenção de Palermo, de modo a incluir
a maior quantidade possível de crimes antecedentes, o que fora atendido no
caso brasileiro com o advento da Lei nº 12.683/2012.
Internamente, o Brasil deve identificar, avaliar e compreender os riscos
da lavagem de dinheiro para o país, designando mecanismos de coordenação
das ações e alocando eficientemente os recursos antilavagem, com o objetivo
de garantir que esses riscos sejam efetivamente mitigados, exigindo que as
instituições financeiras e não financeiras cumpram todas as determinações.
Deve-se assegurar que os formuladores de políticas públicas, a unidade
de inteligência financeira e as autoridades de cada país possuam a independên-
cia suficiente que permita a cooperação internacional e, quando apropriado, a
coordenação doméstica atinente ao desenvolvimento das atividades preventivas
e repressivas.
Nesta toada, a legislação deve contemplar o congelamento, a apreensão
e o confisco de bens lavados e produtos usados ou com a intenção de que fos-
sem usados em crimes de lavagem de dinheiro sem a exigência da condenação
criminal transitada em julgado (non-conviction based forfeiture).
Além disso, o ideal é que se conte com a possibilidade de aplicação
de medidas cautelares para prevenir qualquer negociação, transferência ou
alienação de tais bens.
No âmbito empresarial, deve ser adotado um conjunto de mecanismos
internos de gestão para detectar e prevenir condutas criminosas no ambiente
corporativo de acordo com a legislação nacional e as convenções internacio-
nais, de modo que fique comprovado que a pessoa jurídica praticou todos os
atos preventivos necessários.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 73
TITLE: The money laundering crime in Brazil: corporate criminal compliance and the prevention and
combating methods of the financial activities control board.
ABSTRACT: The present essay investigated by the deductive method approaches the conceptual and
historical aspects of the money laundering crime in Brazil. After studying its phases in more depth, it
is the discussion about what would be the legal protected interest and whether it would be possible to
cover a multi-harmensiveness. Then, the functions and the preventive and repressive methods of the
Financial Activities Control Board are dealt with. Finally, it addresses the origin of criminal compliance
in money laundering and the corporate evolution in order to carry out the business activities allied to a
self-regulatory integrity program.
KEYWORDS: Money Laundering. Legal Protected Interest. COAF. Criminal Compliance. Integrity
Program.
8 Referências
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1 Introdução
Com maior ou menor destaque, a Ordem Econômica sempre esteve
presente nas Constituições brasileiras. Considerando que as Constituições
refletem a [ou resultam da] ordem social vigente, o assunto era tratado de
acordo com a realidade política da época.
Para conclusões sobre o tratamento dado à tutela da Ordem Econômica
é necessário avaliar diversos fatores. Contudo, neste trabalho, como limitação
da pesquisa, a referência será tomada exclusivamente do texto constitucional
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 77
“As relações jurídicas, bem como as formas de Estado, não podem ser
explicadas por si mesmas, nem pela chamada evolução geral do espírito
humano; essas relações têm, ao contrário, suas raízes nas condições ma-
teriais de existência (...)”
(...)
1 Constituição de 1937: “Art. 9º O Governo federal intervirá nos Estados mediante a nomeação, pelo Presidente
da República, de um interventor que assumirá no Estado as funções que, pela sua Constituição, competirem ao
Poder Executivo, ou as que, de acordo com as conveniências e necessidades de cada caso, lhe forem atribuídas pelo
Presidente da República: (...) d) Para assegurar a execução dos seguintes princípios constitucionais: (...) 2º) governo
presidencial (...)”.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 83
“esse novos bens jurídicos (no caso, por exemplo, a ordem econômica)
poderiam ser reguladas pelo ‘Direito da Intervenção’ que teria que ser
configurado como um Direito sancionador situado a meio caminho entre
o Direito Penal e o Direito de contravenções ou de infrações de ordem,
entre o Direito Público e o Direito Civil. Este Direito da Intervenção se
caracterizaria por conter garantias e procedimentos menos rigorosos e
exigentes que os que acompanham o Direito Penal e disporia de sanções
de menor gravidade que este último, ou seja, menos lesivas para os Direitos
individuais.”
4 Considerações Finais
O tratamento da Ordem Econômica foi dado de diferentes formas e
intensidades nas diversas constituições que já orientaram o Brasil. Realidades
sociais e econômicas estiveram como cenário nas diversas mudanças. A erradi-
cação das desigualdades que antes estratificavam os homens e impulsionavam
a sociedade, hoje é diretriz constitucional.
Fruto dessa mudança de concepção, especificamente na Constituição
de 1988, o Estado abandonou uma posição de obrigações negativas para atuar
positivamente na garantia do bem estar socioeconômico. Como resposta, e a
fim de tutelar direitos coletivos, o Estado passou a adotar medidas que extra-
polam o direito penal clássico.
Foi devido a essa necessidade de enxergar o homem social, privilegian-
do-se o interesse coletivo, com relações cada vez mais impessoais, que o Estado
deixou uma posição caracterizada por obrigações negativas para assumir uma
atuação positiva, julgando necessário, para tanto, a utilização do direito penal
para reprimir não só as ofensas ao patrimônio individualmente considerado,
mas aquelas afetas à coletividade.
O perigo que se avizinha é a inevitável abertura a um intervencionismo
penal que desconsidere as precauções necessárias à utilização da ferramenta
punitiva. Não se defende neste artigo o abolicionismo penal ou um modelo
ultraliberal de intervenção tal como sustentado por autores da Escola de
Frankfurt, os quais sustentam a utilização do que chamam de Direito Penal
básico, destinado a resolver apenas os conflitos gerados das relações individuais.
Contudo, não se pode perder de vista o risco ocasionado pela tutela de
bens de perigo abstrato, antecipando-se a proteção para momento anterior à
lesão, o que resulta, em alguns casos, em exercícios de futurologia.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 91
TITLE: Economic criminal law: a critical reflection on the its concept and object.
ABSTRACT: Through remission of the references of the Economic Order in the Brazilian constitutions,
the article demonstrates how the theme was treated in the course of history. Next, the concept and object
of Economic Criminal Law is presented, with the background of the concerns generated by the use of
criminal law deprived of its founding principles, as opposed to a reactive right. It is a bibliographical and
legal research for the exposition of constitutional references, as well as the concept and object of economic
criminal law, using explanatory analysis.
KEYWORDS: Brazilian Constitutions. Criminal Law. Economic Criminal Law. Minimum Criminal Law.
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RESUMO: Seria possível tocar num assunto tão delicado quanto a descrimina-
lização do aborto? E que consequências reais traria para a sociedade? Quem de
fato será atingido se tal descriminalização acontecer? Nosso artigo traz, de uma
maneira muito delicada, um assunto que até então está sendo tratado de várias
maneiras pela sociedade. No entanto, não estão sendo colhidas corretamente
as informações sobre a questão da interrupção gestacional, principalmente com
as mais interessadas no assunto, ou seja, as mulheres. Partindo dos princípios
constitucionais e religiosos verificamos uma grande divergência, por isso, não
se pode confundir e deixar que tenhamos por base a frieza da lei ou os dogmas
religiosos. O assunto merece maior envolvimento e cumplicidade com a decisão,
seja ela qual for. Nosso objetivo é trazer apenas um pouco mais de luz sobre esse
assunto, para que possamos refletir melhor e aceitarmos as decisões que serão
tomadas por nossos legisladores.
1 Introdução
Sempre gera uma grande discussão falar sobre a legalização do aborto.
Assim, de forma mais sutil, resolvemos abordar o assunto requerendo uma
atenção muito delicada e de maneira respeitosa. Sendo assim, procuramos
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
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2 O Estado Gestacional
A gravidez provoca uma série de alterações hormonais, a partir do mo-
mento em que o óvulo chega ao útero. Nesse momento, a mulher já está se
preparando para a gestação. Com relação a esses efeitos, nenhum homem, por
mais que entenda de gravidez, como, por exemplo, um médico obstetra, pode
dar qualquer opinião sobre o que seja, e por motivos óbvios. Pode-se imaginar
da seguinte forma: a gravidez provoca uma alteração hormonal imediata na
mulher, em que já se observa que o ambiente hormonal não é mais o mesmo.
A função biológica dessa mudança no ambiente hormonal é para
prepará-la para suportar todo o período gestacional.
Nós, como homens, imaginamos que não seja fácil crescer algo den-
tro da barriga da gestante, cujas consequências imediatas são de empurrar o
coração para cima, deslocando o pulmão, havendo uma grande retenção de
líquido..., enfim, uma série de alterações que não é fácil.
Nós perguntamos então: como a mulher suporta até chegarem as
dores do parto? Imaginamos que nenhum homem aguentaria isso, mas de
jeito nenhum.
Elas suportam porque o cérebro está inundado de hormônios, sendo
isso que as prepara para aquele momento de estresse durante o trabalho de
parto. Mas e quando a mulher toma a decisão de interrompê-la?
Se a mulher grávida resolve interromper a gravidez é porque ela, com
certeza, tem um motivo muito, mas muito forte pra isso, e é esse motivo que
vai fazer com que ela interrompa a gravidez, de um jeito ou de outro.
Então, se alguém diz que é contra a interrupção da gestação, tudo bem,
podemos entender, mas isso é apenas e tão somente por questões dogmáticas,
puramente religiosas.
Se assumirmos a posição de sermos contra a interrupção gestacional,
acreditamos que as mulheres que buscam as formas ilegais de interrupção
são mais contra do que nós, isso porque são elas que podem sofrer com as
consequências.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
96
O singular tema tem ganhado uma atenção muito grande nos meses
que antecederam às últimas eleições, isso porque está ligado a uma série de
princípios, inclusive religiosos.
Para tratar da interrupção gestacional de maneira mais objetiva, preci-
samos conhecer o instituto do aborto em nosso sistema legiferativo.
Vale trazer que o crime por interrupção da gestação, legalmente conhecida
como crime de aborto, apareceu no Codigo Criminal do Imperio do Brazil de
18301, em seu capítulo “Dos Crimes Contra a Segurança da Pessoa e da Vida”,
mais precisamente na seção de infanticídio, nos arts. 199 e 200 que traziam:
1 O Codigo Criminal do Imperio do Brazil é a Lei de 16 de dezembro de 1830 onde se escrevia Brazil com a letra “z”.
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 97
4 A Descriminalização e a Constituição
Os movimentos feministas no Brasil sempre lutaram pelo reconheci-
mento dos seus direitos, direito esses que vêm evoluindo perceptivelmente
nas várias Constituições que já tivemos.
Vale lembrar a Carta Constitucional, datada de 1946, trouxe muitos
direitos sociais, que já tinham sido amplamente reivindicados na década de
1930, como, por exemplo, a desigualdade dos salários, direito de descanso
da gestante logo após o nascimento do filho sem que houvesse desconto
no salário, entre outros, que deveras só se tornou realidade na Constituição
Federal de 1988.
A criminalização da interrupção gestacional se deu com o Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, ou seja, muito antes da nossa Carta
Republicana, que é de 1988. Isso significa que a sociedade da década de 1940
tinha outra forma de ver a vida, uma cultura baseada fortemente nos preceitos
religiosos.
De fato, a criminalização da interrupção gestacional coibiria as mulheres
de tal comportamento. Talvez nem fosse o mais preocupante na época; porém,
nos dias de hoje, o que se verifica é que essa proibição legal faz com que as
mulheres procurem interromper a gestação de forma clandestina, correndo
risco de morte ou de ferimentos graves, sem contar o risco de ficar estéreis,
dessa forma, ferindo princípios constitucionais como igualdade, dignidade da
pessoa humana, da autonomia e da reprodutividade.
A sociedade tem que perceber que essa é a hora de reanalisar o Código
Penal, não só com relação a esse assunto, mas em outros também. Não há
como se negar tal necessidade, mesmo porque a realidade social das mulheres
vem se modificando e se solidificando mais nas últimas décadas.
São exemplos das transformações sociais sobre as mulheres no mundo
contemporâneo: o reconhecimento da igualdade entre os sexos, a superação
da ótica que limitava a mulher às suas características reprodutivas e a mudança
do cenário em relação à sexualidade feminina.
A Carta Republicana de 1988 não faz expressamente qualquer referência
à interrupção voluntária da gestação, seja para autorizar ou proibir.
Assim, é possível concluir que a Constituição Federal serve como pa-
râmetro para que outras normas legislativas sejam revistas e amoldadas aos
princípios constitucionais, de forma a garanti-los.
O Estado brasileiro é basicamente cristão e majoritariamente católico.
Todos sabemos que a interrupção gestacional é condenada em qualquer cir-
Doutrina – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 99
cunstância, até mesmo nas que são admitidas pelo nosso arcaico ordenamento
jurídico, como a gestação proveniente de violências como o estupro.
A Constituição Republicana é totalmente neutra a posições religiosas.
Observa-se melhor isso analisando o art. 5º, em seu inciso VI, que traz a
igualdade de todos perante a lei, assegurando, inclusive, a inviolabilidade da
liberdade de consciência e de crença, certificado assim o livre exercício dos
cultos religiosos e protegendo os locais onde os cultos e ou liturgias sejam
exercidos.
Devemos, assim, analisar a relação entre a proibição da interrupção
gestacional, por demais influenciada pelas religiões, e a igualdade garantida
constitucionalmente, pois o que abordamos não é a liberação do aborto, mas a
descriminalização, isso porque, segundo nossa Carta Magna2, as mulheres têm
o direito legítimo de interromper o estado gestacional quando esse for indese-
jado, e não há que se admitir que caberia ao Estado esse tipo de preocupação.
Num outro contraponto, verifica-se que uma vez que a gestação não
foi planejada e a mulher resolve interrompê-la, não é o Estado, por força de
lei, quem vai impedi-la, ou seja, ela vai interromper assim mesmo.
2 Carta Magna é um dos nomes que se dá juridicamente a Constituição Federal de 1988, assim como Carta Republi-
cana, Constituição Republicana, Carta Maior...
3 Instrução dos Doze Apóstolos (do grego Didache kyriou dia ton dodeka apostolon ethesin) ou Doutrina dos Doze Apóstolos
é um escrito do século I que trata do catecismo cristão.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Doutrina
100
de saúde, que poderão inclusive dar todo o suporte, seja antes da interrup-
ção ou até mesmo depois, evitando, dessa forma, o número assustador de
mulheres que tiveram suas vidas ceifadas e/ou marcadas pela ausência do
Estado que previamente as condenou e as empurrou para o obscuro! Assim,
a descriminalização da interrupção gestacional não viola qualquer princípio
constitucional, muito pelo contrário, manter essa condição penal é que viola
os princípios da igualdade, da liberdade e da privacidade.
de nove meses nasce uma criança sadia, com boca, nariz, dois olhos..., por
isso, percebam, todo o processo se deu no interior da mulher.
O homem se considerará realmente pai dessa criança?
Até vai, depois que a criança nascer, e que seja submetida a exames de
DNA. Daí, ele que teve sua paternidade comprovada, poderá até ser um pai
maravilhoso.
Então vejamos, fica com esses homens (hoje grande maioria no Con-
gresso Nacional), que não têm a mínima ideia do que é esse processo, para
ficarem impondo regras, e mais, entendemos que sem a participação efetiva
das mulheres a questão não será realmente resolvida, seria isso uma forma
de subjugá-las.
7 Considerações Finais
A importância de fazer com que a mulher evite essa procura e fazer
com que se busque o Estado, é que uma vez detectado o fator que a levou a
tomar essa decisão abrupta, ela saiba que outras providências poderiam ter
sido tomadas.
Na mesma esteira, a manutenção da lei penal afasta das mulheres qual-
quer tipo de ação do Estado, onde esse pode reunir uma série de profissionais
como médicos, psicólogos, assistentes sociais e, se for o caso, juristas, para
ajudar a gestante e dar todo o apoio, nem que seja verificando o que a levou
a tomar essa radical decisão.
Entendemos, ainda, que como o procedimento não é oferecido pelo
SUS e essa prática é considerada criminosa, as mulheres acabam recorrendo
a clínicas clandestinas, e quando não morrem ficam hospitalizadas.
Com a descriminalização da interrupção gestacional, essas mulheres
decididas e cada uma com seu motivo, seriam acolhidas pelo Estado, que
através desses profissionais, trabalhando em equipe multidisciplinar, podem
oferecer melhores alternativas para a gestante, e quem sabe mostrar outras
alternativas.
coldness of law or religious dogmas, as the subject deserves more involvement and complicity with the
decision, whatever it may be. The goal of this article is to bring a little more light to this subject so that
we can better reflect and accept the decisions that will be made by our lawmakers.
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A dosimetria da pena envolve, de regra, o justo ou injusto, não cabendo
presumir ilegalidade.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal em indeferir a ordem, nos
termos do voto do relator e por unanimidade, em sessão presidida pelo
Ministro Luiz Fux, na conformidade da ata do julgamento e das respectivas
notas taquigráficas.
Brasília, 5 de fevereiro de 2019.
Ministro Marco Aurélio – Relator
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
106
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Marco Aurélio – O assessor Dr. Rafael Ferreira de
Souza assim revelou os contornos da impetração:
“Eis o que informado quando da análise do pedido de liminar:
‘(...)
1. O assessor Dr. Rafael Ferreira de Souza prestou as seguintes informações:
O Juízo da Quarta Vara Federal de São José do Rio Preto/SP, no Processo
0005511-47.2015.4.03.6106, condenou o paciente a 5 anos e 7 meses de re-
clusão, em regime inicial fechado, e ao pagamento de 468 dias-multa, ante a
prática dos delitos descritos nos arts. 33, cabeça (tráfico de entorpecentes),
combinado com o § 4º do citado dispositivo e com o 40, incisos �������������
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(trans-
nacionalidade e interestadualidade), da Lei nº 11.343/06, e 334, cabeça (des-
caminho), do Código Penal.
No Tribunal Regional Federal da 3ª Região, foram interpostas apelações pela
defesa e pelo Ministério Público. A Décima Primeira Turma proveu-as para
aumentar a pena-base alusiva ao delito de tráfico, em razão da quantidade de
entorpecente, fixando-a em 8 anos e 4 meses de reclusão; afastar a causa de
diminuição do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, presente a dedicação a ativida-
des criminosas e a impossibilidade de reconhecer-se participação de menor
importância; e desconsiderar a causa de aumento alusiva à transposição de
fronteiras estaduais. Estabeleceu a sanção em 10 anos, 8 meses e 20 dias de
reclusão, em regime fechado, mais o pagamento de 971 dias-multa.
Chegou-se ao Superior Tribunal de Justiça com o Habeas Corpus 398.702/
SP, o qual teve a ordem indeferida pela Sexta Turma.
O impetrante sustenta a inidoneidade das premissas lançadas para aumentar a
pena-base e afastar a causa de diminuição. Evoca jurisprudência. Diz competir
aos Tribunais Superiores examinar a legalidade e constitucionalidade dos crité-
rios empregados na dosimetria da sanção penal. Destaca as condições pessoais
favoráveis do paciente – primariedade, bons antecedentes e trabalho lícito.
(...)’
O impetrante requereu, no campo precário e efêmero, o reconhecimento
da incidência do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas, a fixação da pena-base no
mínimo legal e o implemento de regime de cumprimento mais brando. No
mérito, busca a confirmação das providências.
Vossa Excelência, em 4 de outubro de 2017, indeferiu o pedido de medida
acauteladora.
A Procuradoria-Geral da República opina pela inadmissão da impetração,
dizendo-a substitutiva de recurso ordinário. Afirma ausente ilegalidade a ser
reparada.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 107
VOTO
O Senhor Ministro Marco Aurélio (Relator) – Em jogo a liberdade
de ir e vir, não se tem como deixar de adentrar a matéria versada no habeas
corpus, pouco importando que ganhe contornos de substitutivo de recurso
ordinário constitucional. Rejeito a preliminar suscitada pela Procuradoria-
Geral da República.
Reitero o que assentado, em 4 de outubro de 2017, quando do não
implemento do pedido de medida de urgência:
“(...)
2. O Tribunal Regional Federal da 3ª Região, ao definir a pena-base para o
crime de tráfico de drogas, presente o mínimo de 5 e o máximo de 15 anos,
veio a estabelecê-la em 8 anos e 4 meses. Considerou a quantidade da en-
torpecente – 340,55 quilos de maconha –, reportando-se ao art. 42 da Lei nº
11.343/06. A dosimetria resolve-se, de regra, no campo do justo ou injusto.
Difícil é o pronunciamento judicial que, sob tal ângulo, encerre ilegalidade,
e esta não surge.
No tocante à causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, do mesmo
diploma, o Regional, ao afastar a incidência, agindo dentro do figurino legal,
observou a dedicação a atividades criminosas, levando em conta os contornos
do delito e a constatação de que o paciente fazia do descaminho meio de vida.
Aludiu ao fato de haver aruado como ‘batedor’ de corréu, dizendo ser condu-
ta que não pode ser tida como participação de menor importância.
Quanto ao regime de cumprimento da sanção, atentem para o disposto no
art. 33, §§ 2º e 3º, do Código Penal. A pena-base, presente a quantidade de
substância encontrada, foi fixada acima do mínimo versado para o tipo, e o
total da sanção imposta supera a baliza de 8 anos, sendo o fechado o único
regime adequado.
(...)”
Indefiro a ordem.
É como voto.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
108
EXTRATO DE ATA
Habeas Corpus 148.380
Proced.: São Paulo
Relator: Min. Marco Aurélio
Pacte.: José Carlos Melo da Silva
Impte.: José Luís Siqueira (132119/SP)
Coator: Superior Tribunal de Justiça
Decisão: A Turma, por unanimidade, denegou a ordem, nos termos
do voto do Relator. Presidência do Ministro Luiz Fux. Primeira Turma,
05.02.2019.
Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux. Presentes à Sessão os Senho-
res Ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Luis Roberto Barroso e Alexandre
de Moraes.
Subprocuradora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio Marques.
Cintia da Silva Gonçalves – Secretária da Turma
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sex-
ta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo
regimental, nos termos do voto da Sra. Ministra-Relatora. Os Srs. Ministros
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
110
Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro e Antonio Sal-
danha Palheiro votaram com a Sra. Ministra-Relatora.
Brasília (DF), 5 de fevereiro de 2019 (Data do Julgamento).
Ministra Laurita Vaz – Relatora
RELATÓRIO
A Exma. Sra. Ministra Laurita Vaz:
Trata-se de agravo regimental interposto por Gabriel Emery Santana
contra a decisão de fls. 305-309, em que conheci do agravo para conhecer
parcialmente do recurso especial e, nessa extensão, negar-lhe provimento,
nos termos da seguinte ementa (fl. 305):
“AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME DO ART. 154-A DO
CÓDIGO PENAL. INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO.
REPRESENTAÇÃO. INEQUÍVOCO INTERESSE DE INSTAURAR A
AÇÃO PENAL DEMONSTRADO. TESE DE ABSOLVIÇÃO. ÓBICE DA
SÚMULA Nº 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO
CONHECIDO PARA CONHECER PARCIALMENTE DO RECURSO
ESPECIAL E, NESSA EXTENSÃO, NEGAR-LHE PROVIMENTO.”
Nas razões recursais, a Defesa argumenta que, “estando diante de duas
condutas que necessitam de representação, se faz necessário sua perfeita e
exata manifestação, haja vista que a vítima pode não querer a instauração da
ação penal em relação a um dos fatos” (fl. 318).
Sustenta que “o agravante não pretende que esta corte faça o reexame
das provas (reincursão no acervo fático probatório), mas tão somente obter o
reconhecimento deste egrégio Tribunal do error in judicando” (fl. 318).
Também assevera que, “para a ocorrência da adequação típica do crime
do art. 154-A do CP, é necessário que haja a violação do dispositivo, de seus me-
canismos de segurança, o que não ocorreu no caso em tela, pois, na eventual
hipótese de ter o agravante acessado o aparelho celular da suposta vítima, o
mesmo possuía a senha deste” (fl. 318).
Requer o provimento do agravo regimental para que o recurso especial
possa ser analisado e provido, com a absolvição do agravante.
É o relatório.
VOTO
A Exma. Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora):
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 111
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indica-
das, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros
Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com
o Sr. Ministro-Relator.
Brasília (DF), 12 de fevereiro de 2019 (Data do Julgamento).
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca – Relator
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 115
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator):
Trata-se de agravo regimental interposto pelo Ministério Público Federal
contra decisão que concedeu a ordem de ofício.
Narra a parte agravante, in verbis (e-STJ, fl. 91):
“Verifica-se da folha de antecedentes penais que o paciente cumpre pena total
de 16 anos, 4 meses e 13 dias, em regime fechado, pelo cometimento dos
crimes de tráfico de drogas, estelionato, furtos e roubos.
Para indeferir o pedido de progressão de regime, o juízo de primeiro grau
entendeu que:
‘A pretensão é improcedente.
Com efeito, o sentenciado não reúne méritos subjetivos para alcançar a pro-
gressão e possui longa pena por cumprir, conforme cálculo de liquidação de
penas.
Tratando-se de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, de-
monstram a necessidade de permanência maior no cárcere,visando absorver a
terapia penal e revelar seu merecimento à progressão para regime mais brando.
Sendo que diante da situação específica do sentenciado, apesar do atestado de
bom comportamento carcerário, não se pode dizer somente com base nele que
está preenchido o requisito subjetivo. Diante do exposto, por ora, indefiro a pro-
moção do sentenciado supra qualificado ao regime semiaberto.’
Veja-se que o art. 112 da Lei de Execução Penal (progressão de regime) de-
manda a aptidão do apenado para o convívio com a sociedade ou em regime
mais brando (requisito subjetivo), assim, em que pese o Paciente possua o
requisito objetivo, ainda não preencheu o requisito subjetivo previsto em Lei
para a progressão para o regime intermediário.”
Requer, nesse diapasão, “seja dado provimento ao agravo, revogando-se
a concessão da ordem de ofício, de fls. 78-84, e-STJ” (e-STJ, fl. 93).
É o relatório.
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator):
O presente agravo não apresenta qualquer argumento capaz de des-
constituir os motivos sobre os quais se baseou o decisum ora impugnado, que
merece ser integralmente mantido.
Vejamos:
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
116
Federal passou a não mais admitir habeas corpus que tenha por objetivo subs-
tituir o recurso ordinariamente cabível para a espécie. Precedentes. Contudo,
devem ser analisadas as questões suscitadas na inicial, no intuito de verificar
a existência de constrangimento ilegal evidente – a ser sanado mediante a
concessão de habeas corpus de ofício –, evitando-se, assim, prejuízos à ampla
defesa e ao devido processo legal.
2. No caso, valeu-se o Tribunal de origem de fundamentação inidônea para
cassar a progressão de regime concedida pelo Juízo das Execuções Penais, pois
utilizou-se apenas da gravidade do crime pelo qual a apenada foi condenada,
do restante da longa pena a cumprir, bem como de ilações genéricas acerca da
imprescindibilidade da realização do exame criminológico, de forma que fica
evidenciado o constrangimento ilegal ocasionado à paciente.
3. Ordem não conhecida. Ratificada a liminar anteriormente deferida. Habeas
corpus concedido de ofício para cassar o acórdão proferido no Agravo de Exe-
cução Penal 0198389-77-2013.8.26.0000 e restabelecer a decisão do Juízo da
Execução Penal que concedeu à paciente a progressão para o regime semia-
berto.’ (HC 293.882/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, j.
07.08.2014, DJe 21.08.2014)
Configurada, portanto, na espécie, efetivamente, flagrante ilegalidade, a jus-
tificar a concessão do writ de ofício.
Diante do exposto, não conheço do habeas corpus. No entanto, concedo a or-
dem de ofício para cassar o acórdão proferido no Agravo de Execução Penal
0006560-50.2018.8.26.0996 e, confirmando a liminar anteriormente deferi-
da, determinar que o Juízo de primeiro grau reexamine o pedido de progres-
são de regime formulado em favor do paciente, analisando os requisitos com
base em elementos concretos da execução da pena, à luz do disposto no art.
112 da Lei de Execução Penal.
Comunique-se, com urgência.
Publique-se. Intimem-se.
Sem recurso, arquivem-se os autos.”
Assim, nego provimento ao agravo regimental.
É como voto.
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca – Relator
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar parcial provimento ao
recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Rey-
naldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik e Felix Fischer
votaram com o Sr. Ministro-Relator.
Brasília (DF), 12 de fevereiro de 2019 (Data do Julgamento).
Ministro Jorge Mussi – Relator
RELATÓRIO
Exmo. Sr. Ministro Jorge Mussi (Relator): Trata-se de recurso or-
dinário em habeas corpus, com pedido liminar, interposto por Marcio Alan
Elias Fernandes e Mara Rosa Elias contra acórdão proferido pelo Tribunal
de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que denegou a ordem visada no
Writ 70074479726. Manteve a Corte a quo a prisão decretada nos autos da
ação penal em que restaram condenados, o primeiro, pela prática dos delitos
previstos no art. 121, § 2º, incisos I e IV, do Código Penal, e do art. 35, caput,
c/c o art. 40, incisos IV e VI, ambos da Lei nº 11.343/06, e a segunda, como
incursa nas sanções do art. 121, § 2º, incisos I e IV, do Código Penal, do art.
244-B, § 2º, da Lei nº 8.069/90, e do art. 35, caput, combinado com o art. 40,
incisos IV e VI, ambos da Lei nº 11.343/06.
Sustentam os recorrentes que na sessão de julgamento do Tribunal
popular, realizada em 13.07.2017, tiveram prisão preventiva decretada em
total desrespeito à legislação vigente – ausência de fundamentação idônea –,
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
122
VOTO
Exmo. Sr. Ministro Jorge Mussi (Relator): Da análise dos autos infere-se
que o recorrente Marcio Alan Elias Fernandes foi denunciado e processado
como incurso nas penas do art. 121, § 2º, incisos I e IV, do Código Penal,
e do art. 35, caput, c/c o art. 40, incisos IV e VI, ambos da Lei nº 11.343/06,
e Mara Rosa Elias foi igualmente denunciada e processada pela prática dos
delitos previstos no 121, § 2º, incisos I e IV, do Código Penal, do art. 244-B,
§ 2º, da Lei nº 8.069/90, e do art. 35, caput c/c o art. 40, incisos IV e VI, ambos
da Lei nº 11.343/06.
Consta da denúncia que, no dia 06.02.2014, os denunciados teriam
ceifado a vida de Diogo da Silva Weinheimer, por motivo torpe e mediante
recurso que dificultou a defesa da vítima, utilizando-se de disparos de arma
de fogo, e durante o ano de 2013, teriam se associado para o fim de praticar o
tráfico de drogas, juntamente com menores (e-STJ, fls. 57-68).
Encerrada a instrução processual, durante a qual os réus permaneceram
em liberdade, no dia 13.07.2017, foram condenados, o primeiro, ao cumpri-
mento de 18 (dezesseis) anos e 6 (seis) meses de reclusão, no regime inicial
fechado, mais o pagamento de 700 dias-multa, e a segunda, à pena de 19 (de-
zenove) anos e 10 (dez) meses de reclusão, em regime inicial fechado, mais
o pagamento de 700 dias-multa, pela prática das infrações penais capituladas
nos dispositivos legais supramencionados.
Na ocasião, o Magistrado presidente do Tribunal do Júri negou aos
ora recorrentes o direito ao recurso em liberdade, determinando a execução
imediata da decisão proferida, ao fundamento de que “A partir da ratio que
moveu essas decisões, em julgamento recente, por maioria de votos, a Primeira
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
124
do Júri, a premissa não deve ser diferente. Em que pese a estreita cognosci-
bilidade, a apelação contra decisão do Conselho de Sentença não perde seu
caráter de meio processual da jurisdição ordinária. Tanto que após o acórdão
do Tribunal, abre-se a possibilidade de interposição dos recursos excepcionais.
A soberania dos vereditos do Tribunal do Júri convive em harmonia com
o duplo grau de jurisdição. A diminuição de escopo das matérias conhecidas
na apelação criminal, na forma do art. 593, inciso III, alíneas a, b, c e d, do
Código de Processo Penal, não tem o condão de alterar sua natureza jurídica,
transmutando-a em recurso excepcional. Antes, mantém-se a apelação como
meio processual adequado ao exercício do duplo grau de jurisdição, ínsito à
jurisdição ordinária.
Embora algumas hipóteses do art. 593, inciso III, do Código de Pro-
cesso Penal, tratem de matérias eminentemente de direito, isto não exclui a
apreciação de matéria fática em outras hipóteses, como o recurso interposto
pela decisão manifestamente contrária à prova dos autos.
Aplica-se à decisão condenatória do Tribunal do Júri a regra geral dis-
posta no art. 597 do Código de Processo Penal, que dispõe que “a apelação
da sentença condenatória terá efeito suspensivo”, salvo internações, medidas
de segurança e no caso de suspensão condicional da pena.
Além da inviabilidade jurídica da execução provisória de pronto, há
uma questão de política judiciária extremamente importante a ser ponderada.
Espera-se de uma decisão, seja ela do Tribunal do Júri ou não, o maior grau de
justiça e, para tanto, possibilita-se a ampla produção probatória e ao acusado
falar no processo, inclusive em plenário. Se autorizada a execução provisória,
invariavelmente todo aquele cidadão condenado sairá preso da própria sessão
de julgamento, independentemente da necessidade da constrição. Isto, por
certo, afastará a presença de acusados à própria sessão do Júri, não oportuni-
zando o contato direto dos jurados com a pessoa que estão a julgar, o que é
negativo não só ao réu, mas principalmente à justiça dos vereditos.
A sentença condenatória do Tribunal do Júri não é prontamente exequí-
vel. A sua execução provisória está condicionada ao exaurimento da jurisdição
ordinária. Portanto, será viável somente após o julgamento do respectivo
Tribunal de apelação que mantenha a condenação do Conselho de Sentença.
Esta é, em verdade, a hermenêutica que coaduna a questão jurídica discutida
à tese formulada pelo STF no ARE 964.246-RG.
O entendimento ora esposado é convergente com julgados desta Quinta
Turma. Cito, além do já lembrado HC 462.763/SC, o RHC 92.108/RS, tam-
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 127
ACÓRDÃO
Decide a Turma negar provimento à apelação, à unanimidade.
4ª Turma do TRF da 1ª Região – Brasília, 11 de fevereiro de 2019.
Desembargador Federal Olindo Menezes – Relator
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Juiz Federal Saulo Casali Bahia (Relator Convocado): O
Ministério Público Federal apela de sentença da Vara Federal de Guanambi/
BA, que absolveu Agenor Borges de Souza, Cátia Maria de Souza e Avanício
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 135
VOTO
O Exmo. Sr. Desembargador Federal Olindo Menezes (Relator): A sen-
tença, de forma acertada, concluiu pela atipicidade da conduta, nestes termos:
“(...)
Imputa-se aos réus a prática de crime de fraude a licitações, capitulado no art.
90 da Lei nº 8.666/93, o qual incrimina a seguinte conduta:
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
136
Imediata (mídia audiovisual de fl. 243), comprovando que essa pessoa jurídi-
ca funcionava de forma irregular;
d) situação análoga se verifica quanto à empresa Alimentar, que tinha Cátia
Maria de Souza como sócia (fl. 59), pessoa que aparentemente estava comple-
tamente alheia ao funcionamento de tal empresa. Apesar de não ter admitido
que se tratava de ‘laranja’, Cátia afirmou que, como sócia, nunca participou
de nada, e que tudo referente à empresa era resolvido por ‘Sara Jane’, pessoa
que a teria convencido a entrar para a sociedade (mídia audiovisual – fl. 269);
e) verifico da análise das propostas apresentadas pelas três empresas envolvi-
das (fls. 32, 43 e 55, resumidas no mapa comparativo de preços de fl. 68) que
houve variação mínima de preços entre os produtos licitados. Não obstante
a planilha de especificações do edital (fl. 25) não tenha indicado maiores ca-
racterísticas dos bens a serem licitados, os preços oferecidos pelos licitan-
tes foram praticamente idênticos, com diferença de pouquíssimos centavos
entre um e outro, o que é bastante improvável em condições normais de
concorrência;
f) as propostas das empresas Imediata, Alimentar e da SBA Comercial apre-
sentam a mesma formatação e forma de disposição do texto, inclusive com
os mesmos erros de grafia (na palavra ‘iten’, por exemplo), além de idênticas
abreviações (p. ex., ‘V.Unitario.’, ‘V.Total.’, ‘VIr. Da Proposta’, etc.). Somente
as fontes do editor de texto e os valores foram alterados de uma proposta para
outra (fls. 32, 43 e 55);
g) a proposta da empresa SBA Comercial (fl. 32) é apócrifa, e ainda sem indi-
cação da data de sua suposta apresentação.
Tais características deixam patente a existência de irregularidades no aludido
certame, indicando não ter existido licitação real (com efetivo caráter compe-
titivo e sigiloso entre as propostas dos licitantes).
Entretanto, do conjunto probatório produzido, não foi possível constatar
com segurança a existência de consciência e vontade dos acusados no sentido
de frustrar ou fraudar o caráter competitivo do procedimento licitatório apu-
rado, seja mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, com
uma finalidade especial de buscar proveito para si ou outrem.
Ao ser interrogado, o réu Agenor Borges de Souza, então prefeito municipal,
afirmou que as licitações/compras eram realizadas pela Secretaria da Educa-
ção, não tendo ciência de queixas a respeito da merenda no período em que
foi gestor municipal. Não soube dizer se Avanício teria assinado algum docu-
mento referente à licitação Carta Convite nº 006/2005, sustentando que isso
ficava a cargo da aludida Secretaria de Educação (mídia de fl. 269).
Apesar de responsável pela gestão municipal e de ter homologado o certame
fraudulento, adjudicando o objeto da licitação em favor da empresa benefi-
ciada (fl. 72), não foi possível extrair com segurança que o acusado Agenor
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
138
vontade dirigida ao fim ilícito por parte dos réus competia ao órgão acusador,
o que, a meu ver, não ocorreu a contento na hipótese vertente.
Por fim, quanto à acusada Cátia Maria de Souza, verifico que era sócia mino-
ritária na empresa Alimentar Comércio de Alimentos Ltda. (fls. 57/63), não
tendo exercido poderes de gestão/administração da sociedade. Ademais, ne-
nhum documento ideologicamente falso, constante do procedimento licita-
tório ora apurado, foi firmado pela acusada. Tampouco representou a empre-
sa Alimentar no certame fraudado. Não é possível, assim, da análise de toda a
prova constante dos autos, concluir que Cátia tenha fornecido a proposta de
preços fraudulenta apresentada em nome da Alimentar, por exemplo, e dessa
forma concorrido para a prática delituosa.
Assim, verifico que não existem nos autos provas suficientes a embasar o édi-
to condenatório, impondo-se, portanto, a aplicação do consagrado princípio
in dubio pro reo e a consequente absolvição dos acusados.
III – DISPOSITIVO
Ante o exposto, julgo improcedente o pedido formulado na denúncia e absol-
vo os réus Agenor Borges de Souza, Cátia Maria de Souza e Avanício Novaes
de Freitas, qualificados nos autos, quanto à prática do crime previsto no art.
90 da Lei nº 8.666/93, nos termos do art. 386, inciso VII, do Código de Pro-
cesso Penal.
(...)”
O dolo do crime do art. 90 da Lei nº 8.666/93, na hipótese dos autos,
consistiria na consciência voltada para fraudar e frustrar, mediante combi-
nações e ajustes, o caráter competitivo dos procedimentos licitatórios no
âmbito do Município, com a finalidade de obter as vantagens que descreveu
a denúncia, e consistiria basicamente em auferir proveito em benefício pró-
prio ou de outrem com frustração da regularidade e lisura do procedimento
licitatório, o qual é voltado, dentre outros aspectos, à garantia de isonomia,
impessoalidade, amoralidade e competitividade, sendo que a sentença, acerta-
damente, demonstrou a inexistência dos elementos caracterizadores do ilícito
em comento, qual seja o desvio de verbas públicas federais, no que as razões
do recurso são insuficientes para afastar o decreto absolutório, que se firmou
na prova colhida durante a instrução penal, formando um juízo de certeza
acerca da improcedência da imputação.
Tal o contexto, nego provimento à apelação, confirmando a sentença
absolutória em todos os seus termos, pelos seus próprios fundamentos.
É o voto.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
140
VOTO REVISOR
O Exmo. Sr. Desembargador Federal Cândido Ribeiro (Revisor):
Acompanho integralmente o voto do insigne Relator Saulo Casali Bahia para
negar provimento ao apelo do Ministério Público Federal, confirmando a sentença que
absolveu Agenor Borges de Souza, Cátia Maria de Souza e Avanício Novaes
de Freitas da prática do delito tipificado no art. 90 da Lei nº 8.666/93, uma vez
que a sentença demonstrou a inexistência do dolo na conduta dos acusados.
É o voto.
Desembargador Federal – Cândido Ribeiro
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação 0007161-
30.2018.8.01.0001, acordam os Senhores Desembargadores da Câmara Crimi-
nal do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, por unanimidade, em rejeitar
a Preliminar suscitada. No mérito, por igual julgamento, dar provimento ao
recurso, nos termos do voto do relator e das mídias digitais gravadas.
Rio Branco – Acre, 14 de fevereiro de 2019.
Desembargador Elcio Mendes – Presidente
Desembargador Pedro Ranzi – Relator
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
142
RELATÓRIO
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Pedro Ranzi, Relator: Trata-
se de Apelação Criminal interposta pelo Ministério Público Estadual, em razão
do inconformismo com a sentença condenatória da lavra do Juízo da 3ª Vara
Criminal da Comarca de Rio Branco que, julgando parcialmente procedente
a denúncia, condenou Catrine Nobre da Silva ao cumprimento da pena de
4 (quatro) anos de reclusão, em regime semiaberto, bem como ao pagamento
de 15 (quinze) dias-multa, cada dia no mínimo legal, em razão da prática do
crime previsto no art. 157, caput, c/c o art. 61, inciso I, ambos do Código Penal.
O Parquet, em suas razões recursais de p. 115/123, requisitou, prelimi-
narmente, a instauração de incidente de controle difuso de constitucionalidade,
a fim de declarar a inconstitucionalidade do art. 4º da Lei nº 13.654/2018, que
revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal. No mérito, pugnou
pela reforma da pena-base para reconhecer a negativação do vetor judicial
atinente às circunstâncias do crime.
Em sede de contrarrazões, a defesa rechaçou os argumentos ventilados
pelo Ministério Público, requestando, ao final, o desprovimento do recurso
de apelação.
A Procuradoria de Justiça manifestou-se no parecer de p. 163/169.
É o relatório.
VOTO
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Pedro Ranzi, Relator: Sendo
o presente recurso próprio e tempestivo, bem como preenchidos os demais
requisitos de admissibilidade recursal, dele conheço, passando-se de pronto, à
análise do pleito de instauração de incidente de controle difuso de constitu-
cionalidade, a fim de declarar inconstitucional o art. 4º, da Lei nº 13.654/2018,
que revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal.
1 Direito penal esquematizado: parte geral. 5. ed. São Paulo: Método, 2011. p. 638.
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 147
justificarem, o que não se verifica no caso em análise.” (HC 476.385/SP, Rel. Min.
Félix Fischer, Quinta Turma, j. 11.12.2018, DJe 14.12.2018) (g.n.)
“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
APLICAÇÃO DA LEI Nº 13.654/2018. AUSÊNCIA DE REFLEXO CON-
CRETO NA DOSIMETRIA. CONTRARIEDADE AO ART. 59 DO CÓ-
DIGO PENAL. DOSIMETRIA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO
LEGAL. FUNDAMENTO IDÔNEO. COMPROVAÇÃO DA REINCI-
DÊNCIA. NECESSIDADE DE DOCUMENTO HÁBIL E IDÔNEO.
ART. 63 DO CÓDIGO PENAL. SISTEMA INFORMATIZADO DOS
TRIBUNAIS. DADOS. UTILIZAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL DES-
PROVIDO.
(...) 2. Mesmo após a edição da Lei nº 13.654/2018, ‘o emprego de arma branca,
embora não configure mais causa de aumento do crime de roubo, poderá ser utilizado
para majoração da pena-base, quando as circunstâncias do caso concreto assim justifi-
carem’ (HC 436.314/SC, Rel. Min. Félix Fischer, Quinta Turma, j. 16.08.2018,
DJe 21.08.2018). (...)” (AgRg no AREsp 1.340.032/PI, Relª Minª Laurita Vaz,
Sexta Turma, j. 02.10.2018, DJe 23.10.2018) (g.n.)
Dessarte, em análise às idiossincrasias do caso concreto, constatei não só o
maior grau de reprovabilidade da conduta da apelada, que se passando por passageiro
da vítima, que é mototaxista, teve seus objetos subtraídos pela Apelada mediante o
emprego da arma imprópria (tesoura) – cuja conduta é certamente mais grave do que a
subtração por meio de ameaça verbal, tenho por necessária a valoração negativa do
vetor judicial atinente às circunstâncias do crime.
DECISÃO
Conforme consta da Certidão de Julgamento, a decisão foi a seguinte:
“Decide a Câmara, à unanimidade, rejeitar a preliminar suscitada pelo Minis-
tério Público e, no mérito, dar provimento ao apelo. Câmara Criminal – 14.02.2019.”
Participaram do julgamento os Desembargadores Pedro Ranzi, Elcio
Mendes e Samoel Evangelista.
Bel. Eduardo de Araújo Marques – Secretário
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª Turma Criminal do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Roberval Casemiro
Belinati – Relator, Silvanio Barbosa dos Santos – Revisor, João Timóteo de
Oliveira – 1º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Roberval
Casemiro Belinati, em proferir a seguinte decisão: Recurso conhecido e não
provido. Unânime., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 14 de fevereiro de 2019.
Roberval Casemiro Belinati – Relator
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
150
RELATÓRIO
Cuida-se de apelação criminal interposta pela defesa de Humberto Ribeiro
da Silva contra a sentença que condenou o réu nas sanções dos arts. 140, § 3º
(injúria racial), por duas vezes, e 147, caput (ameaça), por três vezes, ambos do
Código Penal, nos autos da Ação Penal 2017.15.1.001079-6, em curso perante
o Juizado da Vara Criminal e Tribunal do Júri da Circunscrição Judiciária do
Recanto das Emas/DF (fls. 88/99).
A denúncia narrou os fatos nos seguintes termos (fls. 02/02-B):
“(...) No dia 1º de março de 2017 (quarta-feira), por volta das 13h, no interior
de um ônibus de transporte coletivo que se encontrava em via pública situada
na Quadra 803 do Recanto das Emas/DF, Humberto Ribeiro da Silva, com
vontade livre e consciente, injuriou Francisco Ramos e Milane Barros por
meio da utilização de elementos referentes à condição de raça, ofendendo-
lhes a dignidade.
Consta dos autos que, nas condições de tempo e local declinadas, Humber-
to, aparentemente embriagado, adentrou o ônibus coletivo então conduzido
pela vítima Francisco, causando confusão por se recusar a pagar a tarifa res-
pectiva. Após o pagamento, Humberto passou a injuriar a vítima Francisco,
valendo-se de elementos relacionados à raça, chamando-o de ‘macaco’ e di-
zendo ‘como é que um macaco está dirigindo’. Milane, passageira do ônibus
que se prontificou a testemunha contra Humberto, também foi vítima de
injúria racial, sendo chamada pelo denunciado de ‘macaca nojenta’.
No mesmo contexto fático, horário e local acima apresentados, Humberto,
ainda agindo de forma livre e consciente, ameaçou as vítimas Rafael Eloi,
Francisco Ramos e Milane Barros de causar-lhes mal injusto e grave.
Extrai-se dos autos que, nas circunstâncias acima narradas, Humberto amea-
çou as vítimas de morte, dizendo ‘vou te matar, vou pegar um 38’ e ‘eu tenho
um oitão e vou te matar’. (...)”
Processada a ação penal, a pretensão punitiva estatal foi julgada pro-
cedente para condenar o acusado à pena de 2 (dois) anos e 2 (dois) meses
de reclusão, além de 3 (três) meses e 5 (cinco) dias de detenção, ambas em
regime inicial aberto, e 21 (vinte e um) dias-multa, à razão mínima. A pena
privativa de liberdade foi substituída por duas restritivas de direitos, a serem
estabelecidas pelo Juízo das Execuções. Ao sentenciado foi concedido o direito
de recorrer em liberdade e não houve a fixação de valor mínimo a título de
danos morais (fls. 88/99).
O acusado foi intimado por edital da sentença condenatória (fl. 110).
Inconformada, a defesa apresentou recurso de apelação em favor do
réu (fl. 105).
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 151
VOTOS
O Senhor Desembargador Roberval Casemiro Belinati – Relator
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Assim, observa-se dos autos que o réu possuía vontade deliberada diri-
gida a diversos resultados, quais sejam, injúrias dirigidas às vítimas Francisco
e Milane e ameaças dirigidas às vítimas Francisco, Milane e Rafael.
Ademais, verifica-se que os crimes foram perpetrados em momentos
distintos, evidenciando que o réu praticou os dois crimes de injúria racial e os
três crimes de ameaça com desígnios autônomos, o que atrai ao caso concreto
a incidência do art. 70, caput, segunda parte, do Código Penal (concurso formal
imperfeito ou impróprio), que assim dispõe:
“Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabí-
veis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de
um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se
a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.”
A respeito do concurso formal imperfeito, Guilherme de Souza Nucci
pontua:
“(...) na segunda parte, está previsto o concurso formal imperfeito: as penas
devem ser aplicadas cumulativamente se a conduta única é dolosa e os deli-
tos concorrentes resultam de desígnios autônomos. A intenção do legislador,
nessa hipótese, é retirar o benefício daquele que, tendo por fim deliberado
e direto atingir dois ou mais bens jurídicos, cometer os crimes com uma só
ação ou omissão. (...)”
Desse modo, deve ser o réu condenado nas sanções dos arts. 140, § 3º
(por duas vezes), e 147, caput (por três vezes), ambos do Código Penal, na
forma do art. 70, caput, segunda parte, do Código Penal.
Da Dosimetria da Pena
Em relação à pena, não há o que se alterar, tendo em vista que os dis-
positivos legais e pertinentes foram bem aplicados à espécie.
Em relação à vítima Milane, a douta Magistrada aplicou a pena-base do
crime de injúria racial no mínimo legal de 1 (um) ano de reclusão.
Na segunda fase, à míngua de circunstâncias atenuantes e reconhecida a
agravante prevista no art. 61, inciso II, alínea h, do Código Penal (contra mulher
grávida), a pena foi majorada para 1 (um) ano e 2 (dois) meses de reclusão.
Na terceira fase, ausentes causas de diminuição ou de aumento, estabiliza-
se a pena em 1 (um) ano de reclusão e 2 (dois) meses de reclusão e 11 (onze) dias-
multa, à razão mínima.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
154
DECISÃO
Recurso conhecido e não provido. Unânime.
Jurisprudência
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus 2005347-
19.2019.8.26.0000, da Comarca de Avaré, em que é paciente Alex Sandro
Forlini e impetrante Rogero Aparecido da Silva, é impetrado M.M. Juiz de
Direito da 2ª Vara Criminal do Foro de Avaré.
Acordam, em 9ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de
São Paulo, proferir a seguinte decisão: “Concederam a ordem em favor do pa-
ciente Alex Sandro Forlini, determinando a expedição de alvará de soltura em
seu favor, se por outro motivo não estiver preso, mediante o comparecimento
em juízo sempre que for convocado para tanto, proibição de ausentar-se da
Comarca e recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga
(art. 319, I, IV e V, do CPP), sem prejuízo, ainda, de estrita observância das
medidas protetivas fixadas pelo Juízo de piso em favor da ofendida. V.U.”, de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores Sérgio
Coelho (Presidente), Costabile e Solimene e Amaro Thomé.
São Paulo, 14 de fevereiro de 2019.
Desembargador Sérgio Coelho – Relator
Jurisprudência – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 157
VOTO Nº 41164
O Dr. Rogero Aparecido da Silva, Advogado, impetra a presente ordem
de habeas corpus, com pedido de liminar, em favor de Alex Sandro Forlini,
apontando como autoridade coatora o MM. Juízo de Direito da 2ª Vara Cri-
minal da Comarca de Avaré, que indeferiu o pedido de revogação da prisão
preventiva do paciente (fl. 109).
Sustenta, em resumo, que a decisão a quo carece de fundamentação
idônea, porquanto não demonstrou de modo concreto a presença dos re-
quisitos legais autorizadores da excepcional prisão cautelar. Argumenta que
o paciente é primário e ostenta outros predicados pessoais favoráveis, sendo
desproporcional a sua manutenção no cárcere, mesmo porque, em caso de
eventual condenação, fará jus ao regime aberto. Anota, ainda, que as medidas
cautelares alternativas se afiguram suficientes e adequadas no caso dos autos.
Pleiteia, assim, a revogação da prisão preventiva do paciente, com ime-
diata expedição de alvará de soltura em seu favor. Subsidiariamente, pugna
pela aplicação de uma cautelar alternativa ao cárcere.
Os autos vieram instruídos com documentos (fls. 26/118).
Indeferida a liminar (fl. 120), foram prestadas as informações de estilo
pela autoridade apontada como coatora (fls. 123/124) e a douta Procuradoria
de Justiça opinou pela denegação da ordem (fls. 127/131).
É o relatório, em síntese.
Os informes constantes dos autos indicam que a ordem deve ser con-
cedida.
Com efeito, ao que consta, o paciente está preso preventivamente des-
de 20.11.2018, porque, segundo os elementos dos autos, no dia 28.10.2018,
teria ele descumprido as medidas protetivas fixadas em favor da vítima (sua
ex-convivente) nos Autos Digitais 1501509-37.2018.8.26.0073 (fls. 41/42,
44/45 e 61/62).
Ocorre que, pelo que se verifica das informações prestadas pela autori-
dade apontada como coatora no dia 28.01.2019 (fls. 123/124), os autos ainda
“aguardando encerramento do inquérito policial”, sendo certo que, conforme
os registros digitais dos autos de origem, a autoridade policial solicitou, pela
segunda vez, dilação de prazo para conclusão do inquérito, pedido com o
qual concordou o Ministério Público, culminando com o deferimento de
dilação de prazo de mais 60 dias, por decisão proferida no dia 4 de fevereiro
(respectivamente, fls. 151/152, 156 e 184 dos autos de origem).
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Jurisprudência
158
autos é totalmente insegura, o que impõe a absolvição, com fulcro no art. 386, VII, do Código
de Processo Penal. (STF; AP 528; DF; 2ª T.; Rev. Min. Celso de Mello; DJE 01/02/2019)
88/6 – ADULTERAÇÃO DE SINAL DE VEÍCULO AUTOMOTOR. ADULTE-
RAÇÃO GROSSEIRA. ATIPICIDADE. Não implica infração material à norma do art. 311
do Código Penal a adulteração grosseira de placa de veículo que se faça facilmente perceptível,
posto que produzida com colagem de papel para modificação dos algarismos respectivos. (TJSP;
RSE 0104636-08.2016.8.26.0050; Ac. 12204861; 2ª C.D.Crim.; Rel. Des. Sérgio Mazina Martins;
DJESP 26/02/2019; p. 2.961)
88/7 – AMEAÇA. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ART. 217-A, CAPUT E § 1º,
PARTE FINAL, DO CÓDIGO PENAL. ABSOLVIÇÃO. ERRO DE TIPO. ART. 20 DO
CÓDIGO PENAL. TESE AFASTADA. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS.
DEPOIMENTO DA VÍTIMA. COERENTE. HARMONIA COM A PROVA TÉCNICA E
DECLARAÇÕES DOS INFORMANTES. LAUDO DE EXAME DE CORPO DE DELITO.
VESTÍGIOS DE CONJUNÇÃO CARNAL E VIOLÊNCIA. LESÕES CORPORAIS. DO-
SIMETRIA. CULPABILIDADE E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. DESFAVORÁVEIS.
FATOS CONCRETOS MANTIDOS. QUANTUM. DESPROPORCIONALIDADE. RE-
DUÇÃO. DADO PARCIAL PROVIMENTO. 1. Não se acolhe a tese de erro sobre elemento
do tipo quando ausente prova de que o autor do crime realmente tinha elementos seguros para
assim entender, o que não é o caso dos autos. 2. Mantém-se a condenação quando o acervo
probatório, constituído por laudos técnicos, depoimentos da vítima e mais declarações de
informantes, demonstrarem com certeza a prática e autoria de crime de estupro de vulnerá-
vel. 3. A valoração negativa das circunstâncias judiciais foram fundamentadas em elementos
constantes dos autos, inclusive com análise advinda de dados técnicos. 4. O Magistrado possui
certa discricionariedade no momento de estabelecer o quantum de aumento da pena-base,
devendo atender, no entanto, aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. No
presente caso, verifica-se que a majoração da pena na primeira fase da dosimetria se deu em
patamar desproporcional, razão pela qual deve ser reduzida. 5. Dado parcial provimento ao
recurso. (TJDF; APR 2018.04.1.000533-8; Ac. 115.2787; 2ª T.Crim.; Rel. Des. João Timóteo de
Oliveira; DJDFTE 26/02/2019)
88/8 – APROPRIAÇÃO INDÉBITA. ÔNUS DA PROVA. Aquele que alega o repasse
de dinheiro ao proprietário haveria de positivar de modo inequívoco esse fato, sob pena de
responder pela apropriação indébita respectiva. (TJSP; ACr 0084953-87.2013.8.26.0050; Ac.
12215500; 2ª C.D.Crim.; Rel. Des. Sérgio Mazina Martins; DJESP 26/02/2019; p. 2.958)
88/9 – ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE ROUBO MAJO-
RADO. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA DA MEDIDA. POSSIBILIDADE. APELAÇÃO SOMENTE NO EFEITO
DEVOLUTIVO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. Não há constran-
gimento ilegal na determinação da execução imediata da medida socioeducativa de liberdade
assistida, ainda que o paciente tenha permanecido em liberdade no curso de processo, haja vista
o escopo ressocializador das medidas socioeducativas e a observância ao princípio da proteção
integral da criança e do adolescente e da atualidade na aplicação das medidas socioeducativas.
2. Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg-HC 472.186; Proc. 2018/0258378-0; SC; 6ª T.;
Rel. Min. Nefi Cordeiro; DJE 22/02/2019)
88/10 – CONFLITO DE JURISDIÇÃO. FORAM REALIZADAS DIVERSAS
TENTATIVAS DE LOCALIZAÇÃO DA PARTE, PORÉM INFRUTÍFERAS. ART. 66,
PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 9.099/95. A remessa dos autos ao Juízo comum é cabí-
vel quando o acusado não for encontrado. Não sendo encontrado o autor do fato, o declínio
de competência para o Juízo Comum é a solução mais acertada. Ademais, não cabe, em sede
Ementário – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 163
deferido. (TJAC; Desaf 0100031-63.2019.8.01.0000; Ac. 28.105; Rel. Des. Samoel Martins Evan-
gelista; DJAC 26/02/2019; p. 9)
88/23 – DESCAMINHO. ART. 334 DO CP. TRIBUTOS ILUDIDOS NO VALOR
DE R$ 1.163,57. INEXISTÊNCIA DE REITERAÇÃO DELITIVA EXPRESSIVA. AU-
SÊNCIA DE CONTUMÁCIA NA PRÁTICA DELITIVA. PRINCÍPIO DA INSIGNI-
FICÂNCIA. MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO A QUO. 1. A inexistência de contumácia
delitiva abre a possibilidade de incidência do princípio da insignificância em relação ao delito
de descaminho (art. 334 do CP). 2. O agravo regimental não merece prosperar, porquanto as
razões reunidas na insurgência são incapazes de infirmar o entendimento assentado na decisão
agravada. 3. Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg-REsp 1.752.824; Proc. 2018/0166901-7;
SC; 6ª T.; Rel. Min. Sebastião Reis Júnior; DJE 22/02/2019)
88/24 – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OPOSIÇÃO. PRAZO LEGAL DE 2
(DOIS) DIAS. 1. O prazo para oposição de embargos declaratórios é de 2 (dois) dias quando
se tratar de matéria criminal, nos termos do art. 619 do CPP. 2. No caso, a decisão do agravo
regimental foi disponibilizada no DJe/STJ em 31.01.2019, considerada publicada em 01.02.2019,
e os aclaratórios foram opostos somente em 06.02.2019, sendo, portanto, intempestivos. 3. Em-
bargos de declaração não conhecidos. (STJ; EDcl-AgRg-AREsp 1.294.801; Proc. 2018/0117602-0;
SP; 5ª, T; Rel. Min. Jorge Mussi; DJE 26/02/2019)
88/25 – EMBARGOS INFRINGENTES. ART. 157, § 2º, INCISOS I E II, DO CÓ-
DIGO PENAL E ART. 244-B DA LEI Nº 8.069/90. PREVALÊNCIA PARCIAL DO VOTO
VENCIDO. Reconhecimento do concurso formal próprio. Da análise da pretensão do em-
bargante em cotejo com os votos proferidos, há de prevalecer, parcialmente, o voto vencido do
desembargador relator Paulo de Tarso Neves que o declarou às fls. 216/218 (item 000216), em
apenas um ponto: reconhecer o concurso formal entre o roubo e a corrupção de menor (art. 157,
§ 2º, incisos I e II, c/c o art. 14, inciso II, do Código Penal), excepcionado o reconhecimento da
modalidade tentada do delito de roubo por entender esta julgadora que o injusto patrimonial
restou consumado, nos exatos termos do vencedor. Consumação. Improcede a pretensão de
valoração da incidência do art. 14, II, do Código Penal, pois o roubador, ainda que por breve
espaço de tempo, desfrutou da posse mansa e pacífica da res furtiva e ao se considerar a narrativa
da vítima Rafael conjugada com o depoimento do policial militar Hugo Ricardo –, dos quais é
extraído que em determinado momento a vítima perdeu o réu de vista e, somente após a per-
seguição realizada pelos agentes da Lei foi ele abordado e detido, não havendo de lhe socorrer
o fato de ter sido preso em flagrante. Concurso formal próprio. Cabível o reconhecimento do
concurso formal do crime de roubo com o de corrupção de menores, porque com uma única
ação o réu perpetrou dois delitos (roubo circunstanciado pelo emprego de arma e concurso
de pessoas e corrupção de menores [duas vezes]), o que acarretará no exaspero da reprimenda
em 1/6 (um sexto) ao se considerar que o Superior Tribunal de Justiça já firmou posição no
sentido de que para a fixação do quantum do exaspero na última fase. Aumento mínimo de 1/6
e máximo de 1/2. Deve ser observado o critério aritmético, ou seja, a quantidade de infrações
perpetradas. Parcial provimento. (TJRJ; EI-ENul 0001601-08.2016.8.19.0024; 5ª C.Crim.; Relª
Desª Denise Vaccari Machado Paes; DORJ 26/02/2019; p. 160)
88/26 – EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. EXCLUSÃO DE CIRCUNSTÂNCIA
JUDICIAL VALORADA NEGATIVAMENTE SEM FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE.
EXCLUSÃO DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. COMPENSAÇÃO DA ATENUAN-
TE DA CONFISSÃO. ALTERAÇÃO DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE
PENA. REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS. PENA PECUNIÁRIA. SUBSTITUIÇÃO.
INVIABILIDADE. Não obstante a exclusão de uma das circunstâncias judiciais na primeira
fase da dosimetria da pena, remanesce outra valorada de forma negativa ao réu, justificando a
Ementário – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 167
1.675.874/MS, o Juízo criminal é competente para fixar o valor de reparação mínima a título
de danos morais, em processos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher,
desde que haja pedido expresso na denúncia ou queixa, ainda que não especificada a quantia
da indenização e sem necessidade de instrução probatória específica quanto à ocorrência do
dano moral. 7. Considerando que a extensão do dano não foi grave, que a intensidade da dor
experimentada pela vítima não excedeu à normalidade para o tipo penal, bem como levando em
consideração as condições econômicas do réu e da ofendida, mostra-se razoável a fixação como
valor mínimo de reparação a título de danos morais a quantia de R$ 300,00 (trezentos reais). 8.
Preliminar de incompetência rejeitada. Recurso conhecido e parcialmente provido para, mantida
a condenação do réu nas sanções do art. 129, § 9º, do CP, c/c o art. 5º, II, da Lei nº 11.340/06,
reduzir o quantum de exasperação por cada circunstância judicial analisada negativamente e pela
agravante da reincidência, diminuindo a pena de 1 (um) ano e 5 (cinco) meses de detenção
para 5 (cinco) meses e 7 (sete) dias de detenção, bem como alterar o regime de cumprimento
de pena do inicial fechado para o inicial semiaberto e reduzir o valor mínimo de reparação a
título de danos morais para R$ 300,00 (trezentos reais). (TJDF; APR 2018.15.1.001976-0; Ac.
115.3896; 2ª T.Crim.; Rel. Des. Roberval Casemiro Belinati; DJDFTE 26/02/2019)
88/59 – LIVRAMENTO CONDICIONAL. Indeferimento em primeiro grau. Recurso
defensivo. Preenchimento dos requisitos objetivo e subjetivo. Exame criminológico favorável.
Benefício concedido. Recurso provido. (TJSP; AG-ExPen 9000848-13.2018.8.26.0482; Ac.
12235734; 16ª C.D.Crim.; Rel. Des. Leme Garcia; DJESP 26/02/2019; p. 3.058)
88/60 – MANDADO DE SEGURANÇA. Impetrante condenado em primeira instân-
cia por furto e estelionato, sendo-lhe concedido o direito de apelar em liberdade. Intimação
de defensor dativo pelo Diário Oficial que, na verdade, não produziu efeito, pois deveria ter
sido pessoal. Não obstante a realização de intimações pela imprensa em outras oportunida-
des, constatação de que não há termo firmado pelo referido advogado aceitando esta forma
de intimação. Inteligência do art. 370, § 4º, do Código de Processo Penal. Demonstração de
prejuízo ao direito de defesa do paciente. Afastamento do trânsito em julgado, com reabertura
de prazo para apresentação de razões de apelação. Manutenção do direito de recorrer solto,
originalmente previsto na própria sentença condenatória. Ordem concedida, nesses termos,
determinando-se a expedição de contramandado de prisão ou, se já for o caso, de alvará de
soltura clausulado. (TJSP; MS 2251864-35.2018.8.26.0000; Ac. 12221477; 13ª C.D.Crim.; Rel.
Des. De Paula Santos; DJESP 26/02/2019; p. 3.054)
88/61 – MANDADO DE SEGURANÇA. MULTA. ABANDONO DO PROCESSO.
Constitucionalidade. Ausência dos advogados à audiência. Não comparecimento do réu. Con-
duta dos advogados que não constituiu a causa do prejuízo ao bom andamento do processo.
Continuidade do exercício da defesa do réu após a renúncia não aperfeiçoada pela ciência
do mandante. Abandono do Processo não caracterizado. Ilegalidade da imposição da multa
configurada. Segurança concedida. (TJSP; MS 2272813-80.2018.8.26.0000; Ac. 12236665; 2ª
C.D.Crim.; Rel. Des. Luiz Fernando Vaggione; DJESP 26/02/2019; p. 2.961)
88/62 – MEDIDA DE SEGURANÇA. Alegada demora na apresentação do laudo
de exame de cessação de periculosidade. Informações que dão conta de que o procedimento
está sendo processado. Prática, pelo Juízo, de atos prévios necessários para tanto. Avaliação
psicológica que se mostra necessária. Inteligência do art. 97, §§ 1º e 2º, do Código Penal. Não
evidenciada demora na tramitação processual que possa ser imputada a falha ou inércia do Juízo
impetrado. Ordem denegada, com recomendação. (TJSP; HC 2258761-79.2018.8.26.0000; Ac.
12194927; 13ª C.D.Crim.; Rel. Des. De Paula Santos; DJESP 26/02/2019; p. 3.026)
88/63 – OFENSA À SAÚDE PÚBLICA. CRIME PREVISTO NO ART. 272, § 1º-A,
DO CÓDIGO PENAL – CP. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS INTERESSES DA
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Ementário
180
pela leitura do decisum, não houve qualquer espécie de análise por parte do Colegiado sobre a
utilização da prisão domiciliar como a última opção a ser adotada, muito pelo contrário, afinal,
a escolha da prisão domiciliar foi a única para o caso que se está a analisar, ancorando-se na
jurisprudência do STJ, que é pretérita ao julgamento do RE 641.320 RG/RS, Rel. Min. Gilmar
Mendes, desta Suprema Corte. 4. Agravo interno a que se nega provimento. (STF; RE-AgR
1.078.674; RS; 1ª T.; Rel. Min. Alexandre de Moraes; DJE 06/02/2019)
88/75 – REVISÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO PRATICADO POR POLICIAL
MILITAR CONTRA VÍTIMA CIVIL. PERDA DE CARGO PÚBLICO. APRECIAÇÃO
PELA JUSTIÇA COMUM. LEGALIDADE. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO
ESPECÍFICA. INTELIGÊNCIA DO ART. 92, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO
PENAL. VALOR MÍNIMO DE INDENIZAÇÃO. TEMA NÃO SUBMETIDO AO
CONTRADITÓRIO NOS AUTOS DA AÇÃO PENAL. DECOTE. REFORMA PARCIAL
NECESSÁRIA. PEDIDO PROCEDENTE. 1. Cargo ou função pública não são sinônimos de
graduação ou patente. Enquanto estas podem ser perdidas através de processo administrativo
ou judicial, no âmbito da Justiça Castrense, a perda do cargo ou função pública, mesmo que
de natureza militar, pode ser declarada pela Justiça Comum. 2. Observada a regra do parágrafo
único do art. 92 do Código Penal, não se trata a perda do cargo público de efeito automático da
condenação, razão pela qual, para a sua imposição, é necessária a devida motivação. 3. Para que
o valor mínimo de indenização seja estabelecido, é necessário, além de pedido do ofendido (ou
seu representante) ou do Ministério Público, amplo debate a respeito do tema, assegurando-se
as garantias processuais ao acusado, para que ele se defenda também do aspecto cível debatido.
Logo, não estabelecido o contraditório sobre a questão, deve ser decotado o valor fixado. 4. Se a
r. sentença objurgada mostrou-se, em parte, contrária a texto expresso do Código Penal, confi-
gurando a hipótese do art. 621, I, do Código de Processo Penal, violando, também, o princípio
do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, da CR/88), viável a reforma através da revisão
criminal própria a este fim. 5. Pedido procedente. (TJMG; REVC 0709792-70.2018.8.13.0000;
2ª G. C.Crim.; Rel. Des. Eduardo Brum; DJEMG 22/02/2019)
88/76 – ROUBO. RECONHECIMENTO DE VOZ. DEPOIMENTO DA VÍTIMA.
COERENTE COM AS DEMAIS PROVAS. CRIME CONTINUADO. INAPLICÁVEL.
CRIMES CONCOMITANTES. CONCURSO FORMAL. INEXISTÊNCIA DE DESÍG-
NIOS AUTÔNOMOS. REDIMENSIONAMENTO DA PENA. 1. Restou evidenciado
que as vítimas conhecem o apelante desde criança, visto que sempre frequentou o comércio
da vítima, bem assim realizava compras no depósito de gás do filho da vítima, o que tornam a
vítima apta a fazer o reconhecimento de sua voz, visto que já o atendeu diversas vezes durante
a sua vida. 2. Do cotejo minucioso das provas dos autos, estas em um mesmo contexto proba-
tório, mormente quando todas confirmam a forma como se deu o crime, torna-se indiscutível
a autoria delitiva imputada ao apelante no crime de roubo. 3. Sobre a pretendida aplicação do
instituto da continuidade delitiva, entendo totalmente descabida, uma vez que os crimes foram
praticamente concomitantemente – na medida em que os agentes, mediante uma mesma ação
afetaram os membros de uma mesma família, porém patrimônios distintos, e, em uma mesma
oportunidade, ensejando assim a aplicação do art. 70 do Código Penal, o qual dispõe sobre o
concurso formal de crimes. 4. Não há que se falar em desígnios autônomos no cometimento
dos crimes, muito pelo contrário, do que se extrai das provas coligidas na instrução é que o
intento era roubar dinheiro proveniente do comércio, sendo relatado que os assaltantes per-
guntavam insistentemente sobre o malote de dinheiro. 5. Recurso conhecido e parcialmente
provido à unanimidade. (TJPI; ACr 2017.0001.009735-4; 2ª C.Esp.Crim.; Rel. Des. Joaquim Dias
de Santana Filho; DJPI 09/01/2019; p. 13)
88/77 – ROUBO CIRCUNSTANCIADO (CP, ART. 157, § 2º, I E II – ANTIGA
REDAÇÃO). 1º APELO: DOSIMETRIA. PENA-BASE. Avaliação negativa das circunstâncias
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Ementário
184
do crime. Fundamentação idônea. Duas causas de aumento. Utilização de uma delas na terceira
fase de aplicação da pena e a outra como circunstância judicial desfavorável para exasperar a
pena-base. Possibilidade. Precedentes do STJ. Consequências do crime. Valoração neutra, sem
repercussão na basilar. Ausência de interesse recursal, neste ponto. 2º APELO: ABSOLVIÇÃO.
Inviabilidade. Materialidade e autoria comprovadas. Sentença mantida. Recursos desprovidos.
(TJRR; ACr 0010.16.013000-0; C.Crim.; Rel. Des. Ricardo Oliveira; DJERR 21/01/2019; p. 51)
88/78 – ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO. EMPREGO DE ARMA DE
FOGO. CONCURSO DE AGENTES. TENTATIVA. 1. Majorante. Emprego de arma. À
luz do entendimento firmado pelo e. STF e pelo e. STJ, prescindível a apreensão da arma uti-
lizada na prática subtrativa e laudo atestando seu grau de lesividade, para fins de configuração
da majorante, se demonstrado o emprego do artefato por outros elementos de prova. Hipótese
na qual não impressiona não tivesse a arma sido apreendida, porquanto não houve prisão em
flagrante dos comparsas do increpado, que lograram escapar. Emprego de arma de fogo com-
provado pela narrativa da vítima, que confirmou a abordagem por três indivíduos, um deles
empunhando uma arma de fogo. Majorante mantida. 2. Dosimetria da pena. Pena-base bem
fixada em 5 anos de reclusão, pela valoração negativa emprestada ao vetor circunstâncias, que
realmente desbordaram da previsão típica, a vítima tendo sido violentamente agredida pelos
agentes criminosos, incidindo dupla elementar – grave ameaça (uso de arma) e violência.
Consequências do delito que também foram excepcionalmente graves, visto as lesões sofridas
pela vítima, descritas no laudo pericial, decorrentes da ação ilícita de que foi alvo. Pena-base
mantida. Na 2ª etapa do processo dosimétrico, reconhecida a atenuante da confissão espontânea,
foi reduzida a pena em 2 meses, quantum justificado por terem sido recusadas algumas peculia-
ridades. Índice de aumento pela incidência da dupla majorante. O índice de aumento da pena
pela incidência de duas ou mais majorantes é questão que se insere na órbita de convencimento
do magistrado, no exercício de seu poder discricionário de decidir a quantidade de aumento
que julga conveniente na hipótese concreta, desde que observados os limites estabelecidos pela
norma penal. Hipótese na qual o decisor singular, pelas causas majorativas, aumentou as penas
dos delitos de roubo em 3/8, o que proporcional ao número de adjetivadoras incidentes (2) e,
principalmente, à qualidade delas, já que se tratavam de 3 agentes, que abordaram a vítima na
entrada de sua residência, um deles empunhando uma arma de fogo, apontada diretamente
ao lesado. Impossibilidade, nesse contexto, de aplicação do acréscimo no patamar mínimo
(1/3). Critério objetivo adotado pelo e. STJ seguido por este órgão fracionário. Por fim, pela
tentativa, a pena foi reduzida em 2/3, restando definitivada a sanção em 2 anos, 2 meses e 17
dias de reclusão. 3. Suspensão condicional da pena. Impossibilidade. Inviável a concessão do
benefício do sursis, porque a pena aplicada supera 2 anos, a pretensão esbarrando no óbice
previsto no caput do art. 77 do estatuto repressivo. (TJRS; ACr 304608-31.2018.8.21.7000; 8ª
C.Crim.; Relª Desª Fabianne Breton Baisch; DJERS 25/02/2019)
88/79 – ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO POR EMPREGO DE ARMA DE
FOGO E CONCURSO DE AGENTES (ART. 157, § 2º, I E II, DO CÓDIGO PENAL).
ACUSADO QUE, EM COMUNHÃO DE AÇÕES E DESÍGNIOS COM UM COMPAR-
SA, MEDIANTE GRAVE AMEAÇA, CONSISTENTE NO EMPREGO DE ARMA DE
FOGO, SUBTRAIU, PARA SI OU PARA OUTREM, UMA MOTOCICLETA DE PRO-
PRIEDADE DA VÍTIMA NILTON. Pretensão ministerial à reforma parcial da sentença para
fixação do regime inicial fechado que se acolhe, pois injustificavelmente benevolente o regime
semiaberto imposto na sentença, especialmente pela natureza violenta e altamente reprovável
da imputação. Ademais, o réu ostenta antecedente por crime de igual natureza. Provimento
do recurso ministerial para impor ao réu o regime prisional fechado. (TJRJ; APL 0336667-
45.2016.8.19.0001; 4ª C.Crim.; Rel. Des. Francisco José de Asevedo; DORJ 26/02/2019; p. 147)
Ementário – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 185
Corte Especial, j. 29.03.2017, DJe 19.04.2017). 4. Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg-
AREsp 1.338.886; Proc. 2018/0196909-0; SC; 6ª T.; Rel. Min. Nefi Cordeiro; DJE 26/02/2019)
88/83 – TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33, CAPUT, DA LEI Nº 11.343/06). FIXA-
ÇÃO DO REGIME PRISIONAL SEMIABERTO. FUNDAMENTOS IDÔNEOS. SUBS-
TITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITO.
INVIABILIDADE. REQUISITO SUBJETIVO DO ART. 44, III, DO CP NÃO ATENDIDO.
CUMPRIMENTO DA PENA EM PRISÃO DOMICILIAR. PEDIDO SEM AMPARO NO
ART. 117, II, DA LEP. DOSIMETRIA. MATÉRIA NÃO ANALISADA PELO STJ. SUPRES-
SÃO DE INSTÂNCIA. 1. A fixação do regime inicial de cumprimento da pena não está atrelada,
de modo absoluto, ao quantum da sanção corporal aplicada, devendo-se considerar as especiais
circunstâncias do caso concreto. Assim, desde que o faça em decisão motivada, o magistrado
sentenciante está autorizado a impor ao condenado regime mais gravoso do que o recomendado
nas alíneas do § 2º do art. 33 do Código Penal. Esse entendimento se amolda à jurisprudência
cristalizada na Súmula nº 719 (A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a
pena aplicada permite exigir motivação idônea) e replicada em diversos julgados. Inexistência
de ilegalidade. 2. A conversão de pena corporal em restritiva de direitos é condicionada ao pre-
enchimento dos requisitos objetivos (pena inferior a 4 anos e que o crime tenha sido cometido
sem violência ou grave ameaça) e subjetivos (prognose acerca da suficiência da substituição)
elencados no art. 44 do Código Penal. Ausente, no caso, requisito de ordem subjetiva previsto
no art. 44, III, do Código Penal. 3. O pedido de cumprimento da pena em prisão domiciliar
deve ser dirigido, por primeiro, ao Juízo da Vara de Execuções Penais. Ademais, não há nos
autos qualquer documento que comprove a impossibilidade de continuação de tratamento
médico no estabelecimento prisional. 4. O STJ não enfrentou os demais pedidos relacionados
à dosimetria da pena. Desse modo, qualquer juízo desta Corte a respeito deles implicaria dupla
supressão de instância e contrariedade à repartição constitucional de competências, o que não
é admitido pela jurisprudência do STF. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF;
HC-AgR 163.821; SP; 1ª T.; Rel. Min. Alexandre de Moraes; DJE 06/02/2019)
88/84 – TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA. CAUSA ESPECIAL
DE DIMINUIÇÃO DE PENA (ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/06). QUANTIDADE E
NATUREZA DAS DROGAS APREENDIDAS. PATAMAR MÁXIMO. INVIABILIDA-
DE. ART. 42 DA LEI Nº 11.343/06. REGIME INICIAL SEMIABERTO. VEDAÇÃO À
SUBSTITUIÇÃO DA PENA POR RESTRITIVA DE DIRETOS. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Firme nesta Corte o
entendimento de que o Magistrado deve levar em consideração a quantidade e a natureza da
substância apreendida, por expressa previsão legal (art. 42 da Lei nº 11.343/06). In casu, foram
apreendidas 325,7 g de maconha e 221,3 g de cocaína, o que justifica a aplicação do redutor de
pena no patamar de 1/2. 2. A quantidade e a natureza da droga apreendida constituem funda-
mento idôneo para a imposição de regime inicial mais gravoso para o início de cumprimento
da pena, no caso o semiaberto, bem como inviabiliza a conversão da reprimenda privativa
de liberdade em restritiva de direitos, conforme precedentes do STJ. 3. Agravo regimental
desprovido. (STJ; AgRg-AREsp 1.394.010; Proc. 2018/0292898-5; SP; 5ª T.; Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik; DJE 26/02/2019)
88/85 – TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA. NATUREZA E
QUANTIDADE DA DROGA. INDEVIDO BIS IN IDEM. PRECEDENTE DO PLE-
NÁRIO DO STF. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. O plenário do Supremo
Tribunal Federal, no julgamento dos HCs 112.776 e 109.193, sob a relatoria do Ministro Teori
Zavascki, por maioria de votos, consolidou o entendimento de que “configura ilegítimo bis in
idem considerar a natureza e a quantidade da substância ou do produto para fixar a pena-base
(primeira etapa) e, simultaneamente, para a escolha da fração de redução a ser imposta na ter-
Ementário – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 187
ceira etapa da dosimetria (§ 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06). Todavia, nada impede que essa
circunstância seja considerada para incidir, alternativamente, na primeira etapa (pena-base)
ou na terceira (fração de redução)”. 2. Situação concreta em que a natureza e a quantidade da
droga foram utilizadas tanto na primeira fase quanto na terceira fase da dosimetria da pena.
Em contrariedade, portanto, à orientação fixada pelo plenário do STF. 3. Ordem concedida,
em parte, apenas para que as instâncias de origem refaçam a dosimetria da pena, afastado o
indevido bis in idem, observada a jurisprudência do plenário do STF. (STF; HC 141.420; SP;
1ª T.; Rel. p/o Ac. Min. Roberto Barroso; DJE 01/02/2019)
88/86 – TRÁFICO DE DROGAS. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO
LEGAL. PENA DEFINITIVA INFERIOR A 4 ANOS DE RECLUSÃO. CIRCUNSTÂN-
CIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. REGIME INICIAL SEMIABERTO. POSSIBILI-
DADE. VEDAÇÃO À SUBSTITUIÇÃO DA PENA POR RESTRITIVA DE DIRETOS.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
APLICAÇÃO DO ART. 12 DA LEI Nº 6.368/76. CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO
DE PENA (ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/06). COMBINAÇÃO DE LEIS. INVIA-
BILIDADE. AUSÊNCIA DE DOLO NA CONDUTA. REEXAME DO CONTEXTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INVIABILIDADE. ÓBICE DA SÚMULA Nº 7
DO STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADA. AUSÊNCIA
DE SIMILITUDE FÁTICA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A fixação do regime prisional
semiaberto com base em circunstância judicial desfavorável considerada para a fixação da
pena-base (circunstâncias e consequências do crime), é fundamento justificável, nos exatos
termos do art. 33, §§ 2º e 3º, do Código Penal – CP. 2. Do mesmo modo, tais circunstâncias
e a reprovabilidade da conduta do réu na execução do crime impedem a substituição da pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos. 3. A Terceira Seção deste STJ, no julgamento
do RER 1.117.068/PR, acolheu a tese no sentido de que a concessão da minorante do § 4º
do art. 33 sobre a pena fixada com base no preceito secundário do art. 12 da Lei nº 6.368/76
não decorreria de mera retroatividade de Lei nova mais benéfica, mas de verdadeira aplicação
conjugada das normas revogada e revogadora, sendo, por isso, de todo inviável (AgRg no REsp
1.578.209/SC, Relª Minª Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 27.06.2016). Assim,
esta Corte Superior admite a retroatividade da Lei nº 11.343/06, a fatos anteriores a sua vigência,
quando mais favorável ao réu, sendo vedada a sua combinação com a revogada Lei nº 6.368/76.
4. Sobre a alegada ausência de dolo na conduta, inafastável a incidência do Enunciado nº 7 da
Súmula desta Corte, porquanto necessário o reexame do conjunto fático-probatório. 5. Nos
termos do art. 1.029, § 1º, do CPC e do art. 255, § 1º, do RISTJ, a divergência jurisprudencial
deve ser comprovada por meio de cotejo analítico, no qual se demonstre a similitude fática
entre o aresto recorrido e o tomado por paradigma, bem como as interpretações divergentes
em relação ao dispositivo de Lei Federal. 6. Agravo regimental desprovido. (STJ; AgRg-AREsp
954.614; Proc. 2016/0190772-7; PR; 5ª T.; Rel. Min. Joel Ilan Paciornik; DJE 26/02/2019)
88/87 – TRÁFICO DE DROGAS. PROTEÇÃO DO DOMICÍLIO (ART. 5º, XI,
DA CF). POSSIBILIDADE. LICITUDE DA PROVA. CIRCUNSTÂNCIAS SUSPEITAS.
PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. GRANDE QUANTIDADE DE DRO-
GA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. HC NÃO CONHECIDO. 1. O
STF, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste STJ, diante da utilização crescente e
sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for
passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da
ordem de ofício nos casos de flagrante ilegalidade. 2. A Suprema Corte definiu, em repercussão
geral, que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial apenas se revela legítimo
– a qualquer hora do dia, inclusive durante o período noturno – quando amparado em fun-
dadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem
estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito (RE 603.616/RO, Rel. Min.
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Ementário
188
Gilmar Mendes, DJe 08.10.2010; REsp 1.498.689/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta
Turma, j. 27.02.2018, DJe 08.03.2018). 3. No caso, a entrada na residência pelos policiais foi
legitimada pelas circunstâncias do caso – paciente encontrado em via pública, próximo a um
ponto de tráfico conhecido, com grande quantidade de maconha e que “correu” ao avistar a
viatura policial –, o que afasta a hipótese de violação domiciliar. 4. Para a decretação da prisão
preventiva é indispensável a demonstração da existência da prova da materialidade do crime e
a presença de indícios suficientes da autoria. Exige-se, ainda que a decisão esteja pautada em
lastro probatório que se ajuste às hipóteses excepcionais da norma em abstrato (art. 312 do
CPP), demonstrada, ainda, a imprescindibilidade da medida. Precedentes do STF e STJ. 5. No
caso, a constrição cautelar foi preservada pelo Tribunal impetrado em razão da periculosidade
do paciente, evidenciada pela grande quantidade de maconha apreendida – 900 g –, aliada às
circunstâncias do flagrante já mencionadas. Conjuntura fática que demonstra a necessidade da
medida para a garantia da ordem pública, a fim de evitar a reiteração delitiva. 6. Habeas corpus
não conhecido. (STJ; HC 472.224; Proc. 2018/0258693-8; RS; 5ª T.; Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca; DJE 20/02/2019)
88/88 – UNIFICAÇÃO DE PENAS. CONTINUIDADE DELITIVA. REQUI-
SITO SUBJETIVO. NÃO IMPLEMENTAÇÃO. HABITUALIDADE CRIMINOSA. A
jurisprudência dominante do e. STJ e do e. STF, bem como desta Corte, ao lado da doutrina
prevalecente, exige, à configuração da continuidade delitiva, a implementação dos requisitos
objetivos do art. 71 do CP (mesmas circunstâncias de tempo, lugar e modos de execução) e
do requisito subjetivo (unidade de desígnios) – adotando, pois, a teoria objetivo-subjetiva,
também denominada híbrida ou mista –, sob pena de, olvidado este último, premiar-se, com
o instituto, o criminoso habitual, que faz dos delitos um meio de vida. Precedentes e escólio
doutrinário. Hipótese na qual ao condenado foi deferida a unificação das penas relativas a
quatro condenações, duas delas por delitos praticados em 02.06.06, e as demais em 05.06.06 e
16.06.06. Embora atendidos os requisitos de tempo, lugar e modus operandi entre as condutas,
os crimes perpetrados não passam de ações absolutamente autônomas, não se observando,
entre elas, qualquer elemento a interligá-las, condizentes, apenas, com a mera habitualidade
criminosa. A habitualidade criminosa não enseja o reconhecimento do delictum continuatum.
Precedentes. Habitualidade criminosa configurada. Decisão monocrática reformada. (TJRS;
AG 341707-35.2018.8.21.7000; 8ª C.Crim.; Relª Desª Fabianne Breton Baisch; DJERS 25/02/2019)
Sinopse Legislativa
* Nota: íntegras das normas disponíveis em nosso endereço eletrônico, no link dedicado a esta publicação.
Destaques do Volume nº 87
– O Acordo de Não Persecução Penal no Processo Penal Brasileiro
por Marcellus Polastri Lima, Mestre e Doutor
– A Emenda Constitucional nº 45/2004 e o Direito Fundamental à Razoável Duração do Processo
Penal
por Álvaro Gonçalves Antunes Andreucci, Professor e Doutor, e Cristian Lima dos Santos Louback,
Mestrando
– Considerações sobre os Requisitos para Prisão Preventiva
por Gisele Leite, Mestre e Doutora
– A Presunção de Inocência Cessa no Segundo Grau da Jurisdição?
por Fernando Tourinho Filho, Professor
– Notas sobre o Habeas Corpus Coletivo: uma Análise a Partir do HC 143.641/SP e do Microssistema
do Processo Coletivo
por Francisco Vieira Lima Neto, Professor e Doutor, e Thaís Milani Del Pupo, Pesquisadora e
Mestranda
– Contribuições da Filosofia da Linguagem de Wittgenstein na Dogmática Penal: um Diagnóstico do
Dolo
por Ana Carla Pinheiro Freitas, Professora e Doutora, Eduardo Rocha Dias, Professor e Doutor, e
Érica Montenegro Alves Barroso, Advogada e Mestranda
Destaques do Volume nº 86
– O Papel do Juiz na Homologação do Acordo de Colaboração Premiada
por Fabiano Augusto Martins Silveira, Mestre e Doutor
– A Verdade no Processo Penal
por Octahydes Ballan Junior, Promotor de Justiça e Mestre
– A Sentença no Projeto de Código de Processo Penal
por Sergio Demoro Hamilton, Procurador de Justiça e Professor
– A Confissão Qualificada e seus Desdobramentos na Legislação Brasileira
por Rafael Simonetti, Promotor de Justiça, e Priscila Gonçalves, Assessora de Promotoria
– Prova por Videoconferência no Processo Penal
por José Antonio Remedio, Professor e Doutor, e Marcelo Rodrigues da Silva, Especialista e Mestre
– Homicídio no Trânsito: Acerca da Divergência entre Dolo Eventual e Culpa (In)Consciente por
Ocasião do Habeas Corpus 124.687 do Supremo Tribunal Federal
por Felinto Alves Martins Filho, Advogado e Especialista, e Martonio Mont’Alverne Barreto Lima,
Doutor e Pós-Doutor
F FURTO
- Pena. Redução ao mínimo legal. Impos-
FABIANO AUGUSTO MARTINS
sibilidade. Afastamento da circunstância
SILVEIRA
judicial “motivos do crime”. Inerente ao tipo.
- Artigo: “O Princípio da Proporcionalidade Manutenção dos vetores “antecedentes, con-
e o Problema do Controle de Conteúdo das duta social e personalidade”. Fundamentação
Normas Penais”.............................................. 44 idônea. A obtenção de lucro fácil não é funda-
mentação idônea a justificar a exasperação da
FALSIDADE IDEOLÓGICA pena-base em delitos de cunho patrimonial.
TJAC (Em. 88/42).......................................... 172
- Laudo pericial comprovando a materialidade
do delito. Prova oral segura no sentido de que - Pena. Substituição da privativa de liberdade
o réu aderiu à conduta dos comparsas. Pena por uma restritiva de direitos consistente
base reduzida. Alteração da modalidade de em prestação de serviços à comunidade ou a
uma das penas substitutivas. Impossibilidade. entidade pública a ser estipulada pelo juízo
TJSP (Em. 88/37)........................................... 170 da execução. Regime aberto em caso de des-
cumprimento. Deferido o direito de apelar
FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, em liberdade. De forma acertada, a r. sentença
ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO reconheceu que o crime restou consumado.
DE SUBSTÂNCIA OU PRODUTOS TJRJ (Em. 88/43)........................................... 172
ALIMENTÍCIOS FURTO PRIVILEGIADO
- Ofensa à saúde pública. Crime previsto no - Pena. Em sendo as acusadas primárias e
art. 272, § 1º, A, do CP. Inexistência de vio- verificado o pequeno valor da coisa subtra-
lação aos interesses da União. Competência ída (inferior a um salário mínimo), estão
da JE. Coação ilegal inexistente. STJ (Em. presentes os requisitos para a concessão do
88/63).............................................................. 179 privilégio legal, figura prevista no art. 155, §
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 195
2º, do CP. Reduzidas as reprimendas em 1/3. curso material (art. 250, § 1º, II, a; art. 147
TJRS (Em. 88/45)........................................... 173 (duas vezes) c/c o art. 61, II, a e e; e art. 163, p.
único, III, na forma do art. 69, todos do CP).
FURTO QUALIFICADO Redução da pena-base que não se concede,
- Pena. Atipicidade da conduta pelo princípio em razão da gravidade das consequências do
da insignificância. Inaplicabilidade. TJRS crime e da conduta social reprovável do réu.
(Em. 88/47)..................................................... 174 TJRJ (Em. 88/56)........................................... 178
- Pena. Subtração cometida mediante rompi- INICIATIVAS DE CRIMINALIZAÇÃO
mento de obstáculo, uma vez que o acusado DAS FAKE NEWS NO BRASIL:
quebrou o vidro do carona do automóvel REFLEXO DO EXPANSIONISMO
para assim subtrair a mochila da vítima. Do
PUNITIVISTA
afastamento dos maus antecedentes. Invia-
bilidade. Do reconhecimento da tentativa. - Artigo de André Faustino, Leonardo Pozzi
Improcedência. TJRJ (Em. 88/44)................. 173 Loverso e Gustavo Filipe Barbosa Garcia..... 5
INJÚRIA RACIAL/AMEAÇA
H
- Acórdão do TJDF – Condenação. Recurso
HABEAS CORPUS da defesa. Pedido de aplicação do concurso
- Acórdão do STF – Recurso ordinário. Subs- formal próprio. Impossibilidade. Desígnios
tituição. Possibilidade. Em jogo, na via direta, autônomos. Regime inicial aberto, substi-
a liberdade de ir e vir do cidadão, cabível é o tuída a pena privativa de liberdade por duas
HC ainda que substitutivo do RO constitu- restritivas de direitos, além de 21dias-multa,
cional............................................................... 105 à razão mínima............................................... 149
N
L
NULIDADE
LEGITIMIDADE DE PARTE
- Intimação do acórdão. Ausência de publica-
- Vide Queixa-Crime. ção do nome de um dos defensores. Prejuízo
à defesa verificado. TJSP (Em. 88/46)........... 174
LICITAÇÃO
- Acórdão do TRF 1ª R. – Delito previsto no O
art. 90 da Lei 8.666/93. Fraude. Dolo específi-
co. Não comprovação. Absolvição mantida.. 134 O CRIME DE LAVAGEM DE
- Fraude em procedimento licitatório. Crime DINHEIRO NO BRASIL:
formal. Denúncia apta. TRF 1ª R. (Em. COMPLIANCE CRIMINAL
88/40).............................................................. 171 CORPORATIVO E OS MÉTODOS
DE PREVENÇÃO E COMBATE DO
LIVRAMENTO CONDICIONAL CONSELHO DE CONTROLE DE
ATIVIDADES FINANCEIRAS
- Indeferimento em primeiro grau. Recurso
defensivo. Preenchimento dos requisitos - Artigo de Vinicius Lacerda e Silva................. 55
objetivo e subjetivo. Exame criminológico
favorável. Benefício concedido. TJSP (Em. O HABEAS CORPUS COLETIVO
88/59).............................................................. 179 - Artigo de Marcellus Polastri Lima e Elias
Gemino de Carvalho...................................... 30
M O PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE E O
MARCELLUS POLASTRI LIMA E
PROBLEMA DO CONTROLE DE
ELIAS GEMINO DE CARVALHO
CONTEÚDO DAS NORMAS PENAIS
- Artigo: “O Habeas Corpus Coletivo................ 30
- Artigo de Fabiano Augusto Martins Silveira. 44
MEDIDA DE SEGURANÇA
- Avaliação psicológica que se mostra neces-
P
sária. Inteligência do art. 97, §§ 1º e 2º, do
PECULATO
CP. Não evidenciada demora na tramitação
processual que possa ser imputada a falha ou - Funcionário público. Utilização de veículo
inércia do Juízo impetrado. Ordem denegada, oficial e do cartão de abastecimento (ticket
com recomendação. TJSP (Em. 88/62)......... 179 car). Art. 312 do CP. Dolo específico não de-
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 197
substitutivas. Impossibilidade. TJSP (Em. da, ainda que tenha sido parcial ou qualifica-
88/37).............................................................. 170 da. TJPI (Em. 88/53)...................................... 176
- Favorecimento da prostituição ou de outra - Incêndio. Casa habitada, ameaça majorada
forma de exploração sexual de adolescente. por motivo fútil ou torpe e contra ascendente,
Reconhecimento da tipicidade da conduta. descendente, irmão e cônjuge, duas vezes,
Determinação de remessa dos autos a origem e dano qualificado contra o patrimônio da
para proceder unicamente a dosimetria do concesionária de serviços públicos, em
apelante. Cumprimento. Pena base acima concurso material (art. 250, § 1º, II, a; art.
do mínimo legal. Possibilidade. Circuns- 147 (duas vezes) c/c o art. 61, II, a e e; e art.
tâncias judiciais desfavoráveis. Aplicação 163, p. único, III, na forma do art. 69, todos
do concurso formal perfeito. Ocorrência. do CP). Reconhecimento, de ofício, da
Pena definitiva redimensionada. TJAC (Em. prescrição retroativa quanto aos crimes de
88/39).............................................................. 171 ameaça e de dano. Redução da pena-base que
não se concede, em razão da gravidade das
- Furto. Redução ao mínimo legal. Impos- consequências do crime e da conduta social
sibilidade. Afastamento da circunstância reprovável do réu. Aplicação do art. 59 do
judicial “motivos do crime”. Inerente ao tipo. CP. Fixação de regime mais brando inviável.
Manutenção dos vetores “antecedentes, con- O regime fechado é o único adequado aos
duta social e personalidade”. Fundamentação objetivos preventivo/repressor da pena. TJRJ
idônea. A obtenção de lucro fácil não é funda- (Em. 88/56)..................................................... 178
mentação idônea a justificar a exasperação da
pena-base em delitos de cunho patrimonial. - Júri. Homicídio qualificado (art. 121, § 2º,
TJAC (Em. 88/42).......................................... 172 II e IV, do CP). Decisão manifestamente
contrária à prova dos autos. Legítima defesa.
- Furto. Substituição da pena de liberdade Erro na dosimetria da pena. Atenuante da
por uma restritiva de direitos consistente confissão espontânea. Direito de recorrer
em prestação de serviços à comunidade ou a em liberdade. Impossibilidade. TJPI (Em.
entidade pública a ser estipulada pelo juízo da 88/51).............................................................. 176
execução. Regime aberto em caso de descum-
- Regime de cumprimento. Prisão domiciliar.
primento. Deferido o direito de apelar em
A utilização da prisão domiciliar como a
liberdade. A defesa requer o reconhecimento
última opção a ser adotada, muito pelo con-
da prática do delito em modalidade tentada.
trário, afinal, a escolha da prisão domiciliar
De forma acertada, a r. sentença reconheceu foi a única para o caso que se está a analisar.
que o crime restou consumado. TJRJ (Em. STF (Em. 88/74)............................................ 182
88/43).............................................................. 172
- Remição por trabalho externo. Jornada in-
- Furto privilegiado. Reconhecido o privilégio ferior a 6 horas aos sábados. Soma das horas
legal nesta instância, foram reduzidas as para fins de remição. Impossibilidade. STJ
reprimendas em 1/3. TJRS (Em. 88/45)....... 173 (Em. 88/35)..................................................... 170
- Furto qualificado. Atipicidade da conduta - Roubo. Reconhecimento de voz. Depoimen-
pelo princípio da insignificância. Inaplicabili- to da vítima. Coerente com as demais provas.
dade. No caso sob julgamento, houve ofensa Crime continuado. Inaplicável. Crimes con-
considerável ao bem jurídico tutelado, o grau comitantes. Concurso formal. Inexistência de
de reprovabilidade da conduta extrapola o desígnios autônomos. Redimensionamento
ordinário e a lesão jurídica registra expressi- da pena. TJPI (Em. 88/76)............................. 183
vidade. TJRS (Em. 88/47).............................. 174
- Roubo duplamente qualificado. Concurso
- Furto qualificado. Subtração cometida me- de agentes (art. 157, § 2º, I e II, do CP).
diante rompimento de obstáculo, uma vez Natureza violenta e altamente reprovável da
que o acusado quebrou o vidro do carona imputação. Provimento do recurso minis-
do automóvel para assim subtrair a mochila terial para impor ao réu o regime prisional
da vítima. Do afastamento dos maus antece- fechado. TJRJ (Em. 88/79)............................ 184
dentes. Inviabilidade. Do reconhecimento da
tentativa. Improcedência. TJRJ (Em. 88/44). 173 - Roubo duplamente qualificado. Concurso de
agentes. Tentativa. Majorante. Emprego de
- Homicídio qualificado tentado. A atenuante arma de fogo comprovado pela narrativa da
da confissão espontânea deve ser reconheci- vítima, que confirmou a abordagem por três
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 199
indivíduos, um deles empunhando uma arma - Tóxicos. Tráfico. Pena definitiva inferior a
de fogo. Majorante mantida. Dosimetria da 4 anos de reclusão. Circunstâncias judiciais
pena. Hipótese na qual o decisor singular, desfavoráveis. Regime inicial semiaberto.
pelas causas majorativas, aumentou as penas Possibilidade. Vedação à substituição da pena
dos delitos de roubo em 3/8, o que propor- por restritiva de diretos. Circunstâncias judi-
cional ao número de adjetivadoras incidentes ciais desfavoráveis. Fundamentação idônea. A
(2) e, principalmente, à qualidade delas, já Corte Superior admite a retroatividade da Lei
que se tratavam de 3 agentes, que abordaram 11.343/06, a fatos anteriores a sua vigência,
a vítima na entrada de sua residência, um quando mais favorável ao réu, sendo vedada a
deles empunhando uma arma de fogo, apon- sua combinação com a revogada Lei 6.368/76.
tada diretamente ao lesado. Impossibilidade, STJ (Em. 88/86)............................................. 187
nesse contexto, de aplicação do acréscimo no
- Violência doméstica. Lesão corporal. Avalia-
patamar mínimo (1/3). TJRS (Em. 88/78).... 184
ção negativa dos antecedentes, da conduta
- Roubo qualificado. Avaliação negativa das social e da personalidade do réu. Manuten-
circunstâncias do crime. Fundamentação ção. Redução do quantum de exasperação
idônea. Duas causas de aumento. Utilização por cada circunstância judicial. Agravante
de uma delas na terceira fase de aplicação da da reincidência. Acréscimo desproporcional
pena e a outra como circunstância judicial à pena-base. Redução. Alteração do regime
desfavorável para exasperar a pena-base. inicial de cumprimento de pena. Crime ape-
Possibilidade. TJRR (Em. 88/77).................. 183 nado com detenção. Pedido de afastamento
da indenização por danos morais. Inviabili-
- Roubo qualificado. Concurso formal próprio. dade. TJDF (Em. 88/58)................................ 178
Aumento mínimo de 1/6 e máximo de 1/2.
Deve ser observado o critério aritmético, ou PENA DE MULTA
seja, a quantidade de infrações perpetradas.
- Prescrição. Competência. Juízo da execução
TJRJ (Em. 88/25)........................................... 166
fiscal, independentemente da origem penal
- Roubo qualificado. Emprego de arma branca da sanção, a multa restou convolada em obri-
(faca). Tentativa. Lei 13.654/2018. Novatio legis gação de natureza fiscal e, por essa razão, a
in mellius, que retroage, alcançando o réu. competência passou a ser da autoridade fiscal.
Tentativa. Índice de redução. Redução pelo STJ (Em. 88/64)............................................. 180
tentame fixada em 2/3, em 1º grau, alterada
para 1/3, observado o iter criminis percorrido PERDA DE CARGO PÚBLICO
pelo acusado. TJRS (Em. 88/80)................... 185 - Revisão criminal. Homicídio. Praticado por
- Tóxicos. Tráfico. Causa especial de diminui- policial militar contra vítima civil. Apreciação
ção (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06). Quan- pela Justiça Comum. Legalidade. Necessida-
tidade e natureza das drogas apreendidas. de de fundamentação específica. Inteligência
Patamar máximo. Inviabilidade. Art. 42 da do art. 92, p. único, do CP. Valor mínimo de
Lei 11.343/06. Regime inicial semiaberto. indenização. Tema não submetido ao con-
Vedação à substituição da pena por restritiva traditório nos autos da ação penal. Decote.
de diretos. Fundamentação idônea. STJ (Em. Pedido procedente. TJMG (Em. 88/75)....... 183
88/84).............................................................. 186 POSSE SEXUAL MEDIANTE FRAUDE
- Tóxicos. Tráfico. Fixação do regime prisional - Em razão das dificuldades que envolvem a
semiaberto. Fundamentos idôneos. Subs- obtenção de provas de crimes que atentam
tituição da pena privativa de liberdade por contra a liberdade sexual, praticados, no mais
restritiva de direito. Inviabilidade. STF (Em. das vezes, longe dos olhos de testemunhas e,
88/83).............................................................. 186 normalmente, sem vestígios físicos que per-
- Tóxicos. Tráfico. Natureza e quantidade mitam a comprovação dos eventos – a palavra
da droga. Configura ilegítimo bis in idem da vítima adquire relevo diferenciado, como
considerar a natureza e a quantidade da subs- no caso destes autos. STJ (Em. 88/68).......... 181
tância ou do produto para fixar a pena-base
PRESCRIÇÃO
(primeira etapa) e, simultaneamente, para a
escolha da fração de redução a ser imposta na - Pena. Furto simples. Acórdão confirmatório
terceira etapa da dosimetria (§ 4º do art. 33 da condenação. Não interrupção do prazo.
da Lei 11.343/06). STF (Em. 88/85).............. 186 Prescrição configurada. STJ (Em. 88/49)...... 175
Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 – Índice Alfabético
200
PRODUÇÃO ANTECIPADA DE
PROVA TESTEMUNHAL R
- Vide Prova. RECURSO ESPECIAL
- Pena. Concurso de agentes. Tentativa. Fixação de nova data de cálculo para o benefí-
Majorante. Emprego de arma de fogo cio. Ausência do preenchimento de condição
comprovado pela narrativa da vítima, que objetiva prevista no art. 123, II, da LEP. TJDF
confirmou a abordagem por três indivíduos, (Em. 88/32)..................................................... 169
um deles empunhando uma arma de fogo.
Hipótese na qual o decisor singular, pelas
T
causas majorativas, aumentou as penas dos
delitos de roubo em 3/8, o que proporcional
TÓXICOS
ao número de adjetivadoras incidentes (2)
e, principalmente, à qualidade delas, já que - Acórdão do STF – Tráfico. Pena. A dosimetria
se tratavam de 3 agentes, que abordaram a da pena envolve, de regra, o justo ou injusto,
vítima na entrada de sua residência, um deles não cabendo presumir ilegalidade. Causa
empunhando uma arma de fogo, apontada de diminuição. Cumprimento. Regime. O
diretamente ao lesado. Impossibilidade, regime de cumprimento é definido a partir
nesse contexto, de aplicação do acréscimo no do patamar alusivo à condenação e das cir-
patamar mínimo (1/3). Por fim, pela tentativa, cunstâncias judiciais – art. 33, §§ 2º e 3º, do
a pena foi reduzida em 2/3, restando defini- CP................................................................... 105
tivada a sanção em 2 anos, 2 meses e 17 dias
de reclusão. Suspensão condicional da pena. - Posse. Crime militar. Art. 290 do CPM.
Impossibilidade. TJRS (Em. 88/78).............. 184 Incidência do art. 28 da Lei 11.343/06.
Impossibilidade. Aplicação da legislação
ROUBO QUALIFICADO castrense. Princípio da especialidade. STF
(Em. 88/65)..................................................... 180
- Acórdão do TJAC – Pena. Uso de arma
branca (faca). Exasperação da pena basilar - Tráfico. Pena. Causa especial de diminuição
pela valoração negativa das circunstâncias do (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06). Quanti-
crime. Possibilidade........................................ 141 dade e natureza das drogas apreendidas.
Patamar máximo. Inviabilidade. Art. 42 da
- Pena. Avaliação negativa das circunstâncias
Lei 11.343/06. Regime inicial semiaberto.
do crime. Fundamentação idônea. Duas
Vedação à substituição da pena por restritiva
causas de aumento. Utilização de uma delas
de diretos. Fundamentação idônea. STJ (Em.
na terceira fase de aplicação da pena e a outra
88/84).............................................................. 186
como circunstância judicial desfavorável para
exasperar a pena-base. Possibilidade. TJRR - Tráfico. Pena. Fixação do regime prisional
(Em. 88/77)..................................................... 183 semiaberto. Fundamentos idôneos. Subs-
tituição da pena privativa de liberdade por
- Pena. Concurso formal próprio. Aumento
restritiva de direito. Inviabilidade. Requisito
mínimo de 1/6 e máximo de 1/2. Deve ser
subjetivo do art. 44, III, do CP não atendido.
observado o critério aritmético, ou seja, a
Cumprimento da pena em prisão domiciliar.
quantidade de infrações perpetradas. TJRJ
Pedido sem amparo no art. 117, II, da LEP.
(Em. 88/25)..................................................... 166
Dosimetria. STF (Em. 88/83)........................ 186
- Pena. Emprego de arma branca (faca). Ten-
- Tráfico. Pena. Natureza e quantidade da
tativa. Prova segura à condenação, que vai
droga. Indevido bis in idem. Configura ile-
mantida. Majorante. Lei 13.654/2018. Novatio
gítimo bis in idem considerar a natureza e
legis in mellius, que retroage, alcançando o réu.
a quantidade da substância ou do produto
Majorante afastada. Conduta desclassificada
para fixar a pena-base (primeira etapa) e,
para os lindes do art. 157, caput, do CP.
simultaneamente, para a escolha da fração
Tentativa. Índice de redução. Redução pelo
de redução a ser imposta na terceira etapa da
tentame fixada em 2/3, em 1º grau, alterada
dosimetria (§ 4º do art. 33 da Lei 11.343/06).
para 1/3, observado o iter criminis percorrido
STF (Em. 88/85)............................................ 186
pelo acusado. TJRS (Em. 88/80)................... 185
- Tráfico. Pena. Pena definitiva inferior a 4
S anos de reclusão. Circunstâncias judiciais
desfavoráveis. Regime inicial semiaberto.
SAÍDA TEMPORÁRIA Possibilidade. Vedação à substituição da pena
por restritiva de diretos. Circunstâncias judi-
- Advento de nova condenação penal com ciais desfavoráveis. Fundamentação idônea.
trânsito em julgado. Interrupção de prazo. Aplicação do art. 12 da Lei 6.368/76. Causa
Índice Alfabético – Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 88 – Fev-Mar/2019 203