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BRUNO AUGUSTO SAMPAIO FUGA

Advogado e Professor. Doutorando em Processo Civil pela PUC/SP. Mestre em Direito


pela UEL (na linha de Processo Civil). Pós-Graduado em Processo Civil (IDCC). Pós-
Graduado em Filosofia Política e Jurídica (UEL). Membro da academia londrinense
de letras. Membro ABDPro, IBDP e IDPA. Foi presidente fundador da Comissão de
Processo Civil da OAB de Londrina (atualmente é membro). Conselheiro OAB Londrina.
E-mail: brunofuga@brunofuga.adv.br

THIAGO CAVERSAN ANTUNES


Doutorando em Direito pela Universidade de Marília (UNIMAR). Mestre em Direito
Negocial pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Especialista em Direito Civil
e Processo Civil (UEL). Professor dos cursos de graduação em Direito da Universidade
Norte do Paraná (UNOPAR) e da Universidade Positivo (UP Londrina), e de diversos
cursos de pós-graduação lato sensu. Membro da Associação Brasileira de Direito
Processual (ABDPro) e da Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE). Autor
de livros e artigos científicos. Atua como advogado. E-mail: thiago@caversan.adv.br

RECURSOS EM ESPÉCIE NO
CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL
ESTUDOS AVANÇADOS SOBRE O
SISTEMA RECURSAL CIVIL BRASILEIRO

2ª Edição
Londrina/PR
2019
© Direitos de Publicação Editora Thoth. Londrina/PR.
www.editorathoth.com.br
contato@editorathoth.com.br
Diagramação e Capa: Editora Thoth e Nabil Slaibi
Revisão: os autores. Editor chefe: Bruno Fuga
Coordenador de Produção Editorial: Thiago Caversan Antunes

Conselho Editorial
Prof. Me. Bruno Augusto Sampaio Fuga Prof. Dr. Flávio Tartuce
Prof. Me. Thiago Caversan Antunes Prof. Dr. Zulmar Fachin
Prof. Dr. Clodomiro José Bannwart Junior Prof. Dr. Celso Leopoldo Pagnan
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Prof. Dr. Thiago Ribeiro de Carvalho Prof. Me. Henrico Cesar Tamiozzo
Prof. Dr. Carlos Alexandre Moraes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

F957r Fuga, Bruno Augusto Sampaio


Recursos em espécie no Código de Processo Civil: estudos avançados sobre o sistema recursal
civil brasileiro/ Bruno Augusto Sampaio Fuga, Thiago Caversan Antunes. 2.ª edição, revisada,
ampliada, – Londrina, PR: Thoth, 2019.
164 p.
[fechamento edição nov. 2018]
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-94116-42-0
1. Processo civil – Brasil . 2. Prova (Direito). I. Antunes, Thiago Caversan. II. Título.
CDD 347.06
CDU 347.9(81)
Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Rafaela Ghacham Desiderato
CRB 14/1437
Índices para catálogo sistemático
1. Processo Civil : Direito probatório : 347.06

Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização.


Todos os direitos desta edição reservardos pela Editora Thoth. A Editora Thoth não se
responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta obra por seu autor.
Justamente quando desejo
apaixonadamente esclarecer e
dominar tanto quanto possível
um mistério que me seduziu é
que posso, com satisfação, passar
meses fazendo o trabalho árido e
minucioso para começar a conhecer
melhor ou conseguir fazer algo de
que eu era até então incapaz

Luc Ferry
Ao João Caverzan, com admiração e carinho sinceros, não
apenas por ter se notabilizado no exercício da função de
legislador municipal, com dedicação e seriedade, tendo,
assim, contribuído também para o desenvolvimento das
instituições jurídicas de seu povo; ou por ter sido um
agricultor apaixonado pela terra e pelos frutos com que
ela corresponde ao trabalho do homem; mas também
e principalmente por ser o avô atencioso e afável que
proporcionou algumas das melhores memórias que carrego
de minha infância. Thiago Caversan Antunes.

Aos peixes, por terem me proporcionado bons momentos


na dedicação de tentar pescá-los; e, quando digo aos
peixes, agradeço por terem me proporcionado, na
verdade, momentos com Hamilton Oliveira e Fernando
Fuga, respectivamente meu padrinho e meu avô que já
se foram. Se não fossem os peixes, por certo eu também
teria boas memórias deles, por terem sido grandes pessoas,
principalmente comigo. Mas como essas memórias boas
são mais frequentes quando os homens da minha família
se reuniam para pescar, então dedico aos peixes e ao meu
pai, muito presente, e sempre meu chamou para juntos
estarmos. Bruno Fuga
PREFÁCIO

O novo Código de Processo Civil sob a égide da democracia

Prefaciar a obra Recursos em Espécie no Código de Processo Civil: Estudos


avançados sobre o sistema recursal civil brasileiro, de Bruno Augusto Sampaio Fuga
e Thiago Caversan Antunes, constitui motivo de alegria e, igualmente, de
grande satisfação. Não há como se furtar, contudo, da responsabilidade que o
convite, por mais amigável que seja, impõe a quem recebe o desafio de tecer
considerações a respeito da obra, que o leitor e a leitora, na sequência, serão
agraciados tanto pelo conteúdo quanto pelo estilo da escrita.
Na obra Conceito e Validade do Direito, Robert Alexy chama atenção para
o fato de que os casos incomuns costumam levantar uma carga conceitual,
muitas vezes adormecida e camuflada atrás de toda prática jurídica. São
nessas situações que vêm à luz os problemas prementes que demandam uma
reflexão mais detida e apurada acerca da base teórica que o direito opera.
O novo Código de Processo Civil – NCPC (Lei 13.105/15), além de
figurar como importante tema do debate jurídico atual, impõe o desafio de
refletir os pressupostos teóricos que alinhavam a sua forma sistemática aliada
à correlata aplicabilidade ao contexto empírico.
O tema dos Recursos, objeto específico do presente livro, possui
singular relevância ao transcender a área de Processo Civil, uma vez que os seus
princípios balizares – ampla defesa, contraditório e duplo grau de jurisdição
– se fixam com força constitucional e refletem a dinâmica democrática
do Estado de Direito. O NCPC carrega uma feitura mais condizente aos
pressupostos democráticos, considerando que os dois anteriores Códigos de
Processo Civil brasileiro foram redigidos em contextos políticos autoritários,
respectivamente, no Estado Novo, em 1939; e no Regime Militar, em 1973. As
normas fundamentais do NCPC traduzem o caráter democrático que enseja a
dinâmica dos ritos processuais, prestigiando os princípios da publicidade, da
cooperação, da participação, da razoabilidade, e, sobretudo, de uma possível
solução consensual dos conflitos.
Em outra obra de Robert Alexy, Conceito e Natureza do Direito, ele diz
que “a vida cotidiana do direito é cheia de casos difíceis que não podem ser
decididos simplesmente com base no que foi autoritariamente expedido”.
É a demonstração de que as normas são insuficientes para abarcarem a
completude dos casos concretos, gerando situações em que sempre haverá
de-cisões (ações cindidas) passíveis de reexame, as quais exigirão do julgador
razões quanto ao seu fundamento.
No Brasil, vem de longe a descrença no legislador e o receio cultuado
em relação ao aplicador da lei. Rui Barbosa, em Oração aos Moços, em 1920,
já propalava esse ceticismo, quase que em tom profético, que a história
infelizmente confirmaria. “É verdade – dizia ele – que a execução corrige
ou atenua, muitas vezes, a legislação de má nota. Mas, no Brasil, a lei se
deslegitima, anula e torna inexistente não só pela bastardia da origem, senão
ainda pelos horrores da aplicação.”
É de grande alento que o novo Código de Processo Civil, no contexto
atual da democracia brasileira, traga como marca a sensibilidade da efetiva
realização de direitos harmonizados com as garantias constitucionais. Na
nossa época, em que as instituições firmam os pressupostos da democracia,
não cabem mais argumentos de autoridade ou justificações suportadas em
motivações subjetivas, muitas vezes desalojadas da realidade e carentes
de fundamentação. É necessário e essencial a utilização, sem exceção, de
argumentos portadores de força racional. E os argumentos serão sempre
construídos e reconstruídos em um processo de interação comunicativa, na
qual a força do melhor argumento, via de regra, em que pese o bom senso,
deve prevalecer sobre qualquer outra forma de coerção, seja ela originária da
força, da autoridade ou da exclusiva subjetividade de quem decide.
A racionalidade proveniente do lastro comunicativo constitui, pelo viés
pragmático das condições de possibilidade do entendimento, um importante
procedimento que transcende as limitações concretas e empíricas dos
problemas e conflitos originários na sociedade. O reconhecimento empírico
e transcendental da linguagem caracteriza-se por ser a pronúncia do ato de
fala algo localizado e realizado empiricamente pelo falante, enquanto que as
condições de possibilidade do entendimento, presentes no ato de fala, situam-
se num plano transcendental. Significa que a pretensão de validade inerente
ao ato de fala é transcendental e está além dos limites do contexto local,
porém, o exercício tanto de emitir quanto de reconhecer atos de fala será
sempre empírico e contextualizado, inclusive no procedimento argumentativo
a implicar as partes e o juízo no processo. Assim, o potencial crítico presente
nos pressupostos da linguagem não é identificado em mundos da vida
específicos, mas em “uma estrutura interna de fala, que é universal”, única a
fornecer fundamento normativo capaz de realizar “justiça” à uma sociedade
complexa e plural, como é a nossa.
O NCPC ao exigir das partes e do próprio juízo uma atitude de
participantes (Art. 5º), está a evocar a necessidade de que todos os envolvidos
no processo orientem-se em vista do entendimento, o que significa, em
termos, que cooperem entre si (Art. 6º). Tal postura requer que as partes
disponham em seus discursos de três pretensões de validade, a saber: a
pretensão de que o enunciado proferido é verdadeiro; a pretensão de que a
ação pretendida é correta; e a pretensão de que a intenção manifesta é veraz.
Nesse sentido, todos aqueles que se orientam pelo entendimento poderão
fazer uso dos modos cognitivo, interativo e expressivo do uso linguístico.
Estes três modos correspondem aos atos de fala constatativos, regulativos e
representativos, que, por conseguinte, remetem respectivamente às questões
de verdade no mundo objetivo dos fatos: às questões de justiça no mundo
social; e às questões de expressões pessoais no mundo subjetivo. Em face
de cada fragmento de mundo, seja o mundo objetivo da natureza externa, o
mundo normativo da sociedade ou o subjetivo da natureza humana, as partes
assumem três atitudes diferentes correspondentes à atitude objetivante,
atitude conforme à normas e atitude expressiva. A orientação de ação em
vista à participação e à cooperação, ainda que em fragmentos diferentes de
mundo, só é possível mediante o pressuposto de que a linguagem constitui-
se como condição de possibilidade do entendimento. A solução da lide é o
telos do processo, da mesma forma que o entendimento é telos da linguagem.
Desses dois pressupostos é possível esperar que o entendimento gere, ao final,
consenso ou acordo entre as partes. Aliás, este é um dos pontos inovadores
no NCPC ao enfatizar, amiúde, a possibilidade de as partes colocarem fim ao
conflito por meio da mediação ou da conciliação.
Ainda assim, os recursos são partes indispensáveis de um processo
argumentativo que evolui do juízo monocrático para instâncias colegiadas,
cujo olhar plural pode, com mais precisão, verter a força do melhor argumento
empregado pelas partes. Interpor recursos nas suas distintas modalidades e
espécies não se limita a somente ver assegurada a pretensão subjetiva das partes,
mas preconiza, acima de tudo, um peculiar caráter do exercício democrático,
cuja contribuição argumentativa das partes faz firmar argumentos sólidos que
ajudam uniformizar e estabilizar a jurisprudência nos Tribunais.
O livro que o leitor e a leitora, ora dispõe, é um alento teórico no
âmbito das discussões do novo Código de Processo Civil. A densidade da
reflexão e o cuidado técnico ao explorar os recursos em espécie demonstram
que Bruno Augusto Sampaio Fuga e Thiago Caversan Antunes souberam
qualificar, a contento, o sentido pleno da pesquisa jurídica aliada à prática
profissional.
Espero ter reunido nestas poucas páginas que me couberam redigir a
título de “prefácio”, o destaque merecido da obra, construída com inovadora
abordagem prática e sólida fundamentação teórica, e que certamente
encontrará boa acolhida de estudantes, pesquisadores e o público em geral
interessado na temática.

Londrina, 04 de agosto de 2017.


Clodomiro José Bannwart Júnior
Professor dos Programas de Mestrado em Direito Negocial e Mestrado em
Filosofia na Universidade Estadual de Londrina.
Professor convidado do Saraiva Aprova, da Editora Saraiva. Membro da Academia
de Letras, Ciências e Artes de Londrina.
APRESENTAÇÃO

Por vezes o ato de interpretar pode estar viciado por uma série de
motivos. Por exemplo, interpretar uma obra sem conhecer pessoalmente
o autor (ou os autores) pode gerar uma interpretação bem mais autêntica
do que o (os) conhecendo. A questão está, obviamente, ligada ao fato de
que ao conhecer mais profundamente alguém, tende-se não só a realizar a
hermenêutica do objeto em análise, mas colocar nesse processo interpretativo
vivências com seu (s) autor (es). Eliminá-las é possível? Essa é uma grande
questão que está na pauta no dia a dia de todos aqueles que se preocupam
com a criação e a aplicação do Direito.
Qual o motivo dessa explicação inicial? Na verdade ela é muito simples:
a obra que tenho a alegria de apresentar nesse momento, dos professores
Bruno Augusto Sampaio Fuga e Thiago Caversan Antunes, intitulada
Recursos em Espécie no Código de Processo Civil: estudos avançados sobre
o sistema recursal civil brasileiro, agora em sua 2ª edição, publicada pela
Editora THOTH, é texto no qual é lido e apresentado pelo olhar de quem,
infelizmente, ainda não teve a oportunidade de conhecer, pessoalmente
os autores. Poderia, ao primeiro olhar do desatento leitor, parecer uma
contradição, servindo o parágrafo inicial, exatamente, para eliminá-la, ao passo
que, não os conhecendo pessoalmente, existe a possibilidade de minha leitura
ser mais autêntica ao texto, ao que realmente produziram para a academia.
Por isso, posso afirmar que a obra produzida, agora em renovada edição,
é fruto de pensamento maduro sobre o sistema recursal brasileiro que, como
se sabe, com o advento do CPC/2015, teve modificações que necessitam ser
mais bem compreendidas. Na revisão da obra, não descuidaram os autores de
trabalhar com o polêmico tema da interpretação sobre o alcance do art. 1.015,
CPC, que trata do exaustivo (ou não) rol de possibilidades de interposição
do recurso de Agravo de Instrumento. Trabalharam também com decisão
recente do Superior Tribunal de Justiça sobre a necessidade da impugnação
de todos os pontos da decisão recorrida como forma de (in) admissibilidade
do recurso interposto, assim como alocaram ao texto súmulas relacionadas
ou ligadas ao sistema recursal para melhor fechamento do estudo.
Bruno e Thiago, agora sem a formalidade professoral, já anunciaram à
academia parceria profícua em seus estudos, tendo recentemente publicado
livro de significativa importância sobre o a produção antecipada da prova, na
qual conta com a participação de inúmeros colegas que se preocupam sobre
o tema. Também, não necessariamente lado a lado, mas ainda em ligados à
mesma obra, publicaram Principais inovações do novo Código de processo
Civil e Filosofia do Direito, obras de referência para quem quer conhecer um
novo olhar sobre alguns temas ligados não só ao processo, mas ao Direito
em si.
Por isso, foi com muita alegria e entusiasmo que recebi o honroso
convite para apresentar a 2ª edição dessa ampliada obra de Bruno Fuga e
Thiago Caversan cujas ideias acessam, com certeza, o primeiro escalão de
pensamentos que unem a preocupação de um renovado sistema recursal
brasileiro, a partir de uma análise não só legalista, presa ao CPC, mas da
doutrina e das decisões judiciais que devem acompanhar todo o acadêmico e
o profissional do Direito.
Escrever mais seria privar o leitor do contato com o que foi produzido,
parabenizando Bruno e Thiago pela publicação da 2ª edição do livro, assim
como à Editora pela aposta e ao público leitor que, em tão curto espaço de
tempo oportunizou aos autores a possibilidade de revisão e ampliação das
ideias.

Porto Alegre, novembro de 2018.

Prof. Dr. Marco Félix Jobim


Professor dos Programas de Graduação e Pós-graduação lato e stricto
sensu da PUC/RS.
APRESENTAÇÃO 2.ª EDIÇÃO

O presente livro foi escrito por dois amigos, professores de processual


civil; só isso já motivo de comemoração. A ideia nossa, como professores, foi
reunir pontos problemáticos processuais nos aspectos recursais e escrever
sobre eles. Foi selecionado todos os recursos do art. 994 do CPC e decidimos
abordar pontos específicos dos recursos em espécie. O livro foi bem recebido
pela academia, houve um processo de amadurecimento entre os autores, que
discorremos bastante sobre o tema (pessoalmente, em aulas e também outros
escritos) e chega o tempo de lançar a sua segunda edição.
O livro foi atualizado em diversos pontos, mas especialmente no
capítulo de Agravo de Instrumento diante de novas decisões, em especial
recurso pendente de julgamento no STJ e o capítulo Recurso Especial, pois
incluímos um novo subcapítulo, novos atualizações de rodapés e novas
considerações sobre custas processuais e assistência judiciária quando o
solicitante é o advogado.
Pois bem. O livro ainda segue o propósito de abordar em sua grande
parte pontos polêmicos, sem uma preocupação com os aspectos didáticos
iniciais dos temas – partimos do entendimento que o eleitor sabe o básico e
assim seguimos com os temas.
Desejamos boa leitura para todos.
Os autores.
Londrina, novembro de 2018.
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE
O LIVRO

Os autores são professores de Direito Processual Civil e membros


ativos da Comissão de Processo Civil da Subseção de Londrina da OAB.
Ambos participaram da elaboração do livro oficial sobre o CPC/2015 da
OAB de Londrina1 e são autores de outras obras relacionadas ao tema.
O livro nasceu de uma ideia central de apresentar estudo sobre todos os
recursos em espécie previstos no repertório do art. 994 do CPC. O primeiro
capítulo, único fora deste rol, trata de uma visão geral sobre todos os recursos
e, em especial, sobre pontos essenciais a serem levados em conta na análise
dos recursos, comumente, nesta obra, denominados “elementos essenciais
dos recursos”.
O propósito foi tratar sobre temas avançados e controvertidos acerca
dos recursos. Dessa maneira, resta claro, ao longo da leitura, que cada capítulo
apresenta no início uma visão geral sobre o recurso sob análise, após, há
um recorte temático e pesquisa sobre determinados pontos de interesse
específico.
Entende-se que a parte recursal é de suma importância para qualquer
operador do Direito e, nesse sentido, com uma grande preocupação teórica,
mas também prática, apresenta-se a obra ora oferecida ao público.
O livro é interessante em duas vertentes. Primeiro, como leitura para
o operador do Direito se deparar com questões controvertidas e avançadas,
às vezes, não presentes em manuais resumidos sobre CPC; assim, a obra
pode ser lida em sua íntegra, fato este que irá colaborar para aprimorar
o conhecimento do operador do Direito e, dessa forma, proporcionar
atualização sobre o tema e também maior aptidão técnica. Segundo, pode ser
útil como fonte de pesquisa acadêmica e prática; ao operador, por exemplo,
que esteja trabalhando com um Recurso Especial, recomenda-se a leitura do
Capítulo 1 e do Capítulo 7 para, assim, possivelmente aprimorar o recurso a

1. FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo
Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017.
ser protocolado. Este é, pelo menos, um desejo dos escritores: fazer com que
seu livro possa ser útil nas rotinas forenses.
Nesse sentido, importante deixar claro que os capítulos certamente não
tratam sobre todos os pontos dos recursos em questão, nem compõem um
manual com fácil ilustração dos recursos e seus cabimentos legais; a leitura é,
em muitos momentos, densa. O escritor, quando inicia um projeto, deve ter
em mira seu público alvo, com quem deseja dialogar, ou seja: se for um livro
para concurseiros, a forma de escrita é diferente, assim como seu conteúdo;
para graduandos, a escrita deve ser totalmente adaptada com explicações de
elementos básicos para, assim, ser didático.
Este livro não tem essa dimensão (graduandos ou concurseiros). Parte-
se do pressuposto de que o leitor já tenha conhecimento preliminar da matéria
e deseja se aprofundar ou pesquisar.
Em um mundo com tantos manuais, esquematizados e afins (não
pretendendo, obviamente, que a observação soe como crítica, pois se sabe ser
muito complexo e difícil elaborar obras com esses referenciais e entendem-se
as finalidades a que se propõem), este livro foge desse panorama e trata sobre
temas avançados e controvertidos.
Esse é o desejo dos autores. Essa foi a linha de pesquisa e, assim,
espera-se agradar o leitor que tenha esse propósito de leitura.
SUMÁRIO

PREFÁCIO ........................................................................................................... 9
APRESENTAÇÃO ............................................................................................13
APRESENTAÇÃO 2.ª EDIÇÃO.................................................................... 15
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO .................................... 17

CAPÍTULO I
ELEMENTOS ESSENCIAS DOS RECURSOS DE ACORDO COM O
CPC/2015 ............................................................................................................23
1.1 Dialeticidade ..................................................................................................23
1.2 Localizar jurisprudência e precedentes obrigatórios ............................... 27
1.3 Ratio decidendi e obiter dictum ................................................................. 29
1.4 Overruling e distinguishing ......................................................................... 32
1.5 O prequestionamento ..................................................................................36

CAPÍTULO II
RECURSO DE APELAÇÃO E A APLICABILIDADE DO ART. 1.012,
§3º DO CPC. CONCESSÃO DO EFEITO SUSPENSIVO ..................... 41
2.1 O recurso de apelação e o CPC/2015 ....................................................... 42
2.2 Em regra, o efeito suspensivo..................................................................... 43
2.3 A concessão do efeito suspensivo e o recurso pertinente ...................... 45
2.4 Tutela provisória e o artigo 229 § único....................................................48
2.5 Possibilidade de cassação do efeito suspensivo ....................................... 51

CAPÍTULO III
O AGRAVO DE INSTRUMENTO. ROL TAXATIVO E NÃO
EXAUSTIVO ......................................................................................................53
3.1 O agravo de instrumento ............................................................................ 53
3.2 Agravo de instrumento e rol não exaustivo ............................................54
3.3 O mandando de segurança como meio recursal ...................................... 59
3.4 Correição parcial como meio recursal ....................................................... 62

CAPÍTULO IV
AGRAVO INTERNO .......................................................................................69
4.1 Previsão legal. agravo interno no código de processo civil.................... 69
4.2 Dialeticidade no agravo interno ................................................................. 71
4.3 Decisão e a fundamentação necessária...................................................... 72
4.4 A multa por inadmissibilidade manifesta .................................................. 73
4.5 Fungibilidade com os embargos de declaração........................................ 74
4.6 O agravo interno e o artigo 1.030 .............................................................. 75
4.7 Agravo interno no agravo de instrumento ............................................... 77
4.8 Agravo interno nos recursos extraordinário e especial repetitivos ....... 78
4.9 Agravo interno contra a decisão sobre desconsideração da personalidade
jurídica................................................................................................................... 79
4.10 No âmbito do juizado especial ................................................................. 79

CAPÍTULO V
OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO......................................................... 81
5.1 Previsão legal no CPC/2015 ....................................................................... 82
5.2 Hipóteses de cabimento do recurso .......................................................... 82
5.3 Prazo e características da oposição do recurso ........................................ 86
5.4 Julgamento dos embargos ........................................................................... 87
5.5 Embargos de declaração e fungibilidade...................................................88
5.6 Julgamentos dos embargos de declaração e recursos interpostos
anteriormente.......................................................................................................89
5.7 Embargos de declaração e pré-questionamento ......................................90
5.8 Efeitos da oposição de embargos de declaração ..................................... 93
5.9 Embargos de declaração e conduta protelatória ...................................... 95

CAPÍTULO VI
RECURSO ORDINÁRIO................................................................................97
6.1 Previsão legal no CPC/2015 ....................................................................... 97
6.2 Hipóteses de cabimento do recurso .......................................................... 98
6.3 Prazo e características da interposição do recurso ................................100
6.4 Efeitos da interposição .............................................................................. 101
6.5 Processamento do recurso ........................................................................ 102

CAPÍTULO VII
RECURSO ESPECIAL. UMA NECESSÁRIA LEITURA PROCESSUAL
E CONSTITUCIONAL ................................................................................105
7.1 O recurso especial e o CPC/2015............................................................ 105
7.2 Dialeticidade ................................................................................................109
7.3 Em regra, o não efeito suspensivo ........................................................... 110
7.4 Tutela provisória e o art. 229 § único .......................................................111
7.5 Prova do dissídio jurisprudencial (CF, art. 105, III, “c”) ...................... 112
7.6 Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência (Cf, art. 105, III,
“a”) ...................................................................................................................... 115
7.7 Jurisprudêncial defensiva e aplicabilidade das súmulas..........................116
7.8 Recurso especial e extraordinário repetitivos ..........................................116
7.9 Legitimidade. honorários de advogado ....................................................117

CAPÍTULO VIII
RECURSO EXTRAORDINÁRIO ...............................................................119
8.1 Previsão legal no CPC/2015 ......................................................................119
8.2 Hipóteses de cabimento do recurso ........................................................120
8.3 Prazo e características da interposição do recurso ................................ 121
8.4 Repercussão geral .......................................................................................123
8.5 Fungibilidade ...............................................................................................126
8.6 Efeitos da interposição ..............................................................................130
8.7 Processamento do recurso ........................................................................130

CAPÍTULO IX
DO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO.....................................................................................135
9.1 Previsão legal. Agravo em recurso especial e em recurso extraordinário
no CPC ...............................................................................................................136
9.2 Dialeticidade no agravo interno ............................................................... 137
9.3 O agravo em recurso especial e recurso extraordinário e o artigo 1.030
..............................................................................................................................138
9.4 Não fungibilidade entre agravo interno e agravo no recurso extraordinário
e recurso especial............................................................................................... 140
9.5 O recurso da decisão proferida no artigo 1.030, §2º............................. 141

CAPÍTULO X
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ...........................................................145
10.1 Embargos de divergência e o CPC/2015 ............................................. 145
10.2 Prova da divergência ................................................................................ 148
10.3 Recurso da decisão de inadmissibilidade .............................................. 151

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................155

REFERÊNCIAS ...............................................................................................157
CAPÍTULO I

ELEMENTOS ESSENCIAS DOS


RECURSOS DE ACORDO COM O
CPC/2015

No presente capítulo, discorre-se sobre os elementos essenciais que


devem constar, em geral, em um recurso no Processo Civil brasileiro. Os
elementos essenciais, pontos fundamentais e vitais para o conhecimento e
possível provimento do recurso são os temas aqui analisados.
O CPC/2015 alterou de forma significativa alguns elementos do
Processo Civil e os recursos evidentemente não ficaram fora dessas relevantes
inovações. Percebe-se, tanto na prática quanto na teoria, que alguns assuntos
são amplamente debatidos e, às vezes, com algumas profundas controvérsias.
O propósito então é pensar nos recursos e examinar aqui quais seriam
os elementos basilares de qualquer recurso nessa área, que são essenciais não
somente nos planos acadêmico e teórico, mas também na prática forense.
Para tanto, munidos de ampla pesquisa, apresentam-se reflexões sobre a
dialeticidade, a necessária pesquisa por súmulas, jurisprudências e precedentes
(como pesquisar e o que pesquisar), a ratio decidendi e a obiter dictum dos
julgamentos, overruling e o distinguishing e, por fim, o prequestionamento.
O foco é o estudo do CPC/2015 no que tange ao sistema recursal e o
recorte do presente capítulo é apresentar os elementos essenciais de qualquer
recurso no âmbito cível. A seguir, portanto, inicia-se a discussão com o tema
dialeticidade.

1.1 DIALETICIDADE

Importante para o operador do Direito, no ato de recorrer, em relação


a qualquer matéria e a qualquer tema, ter em mente que o recurso deve
ser movido contra a decisão recorrida e não somente apresentar a tese em
discussão. A parte recorrente, tendo razão e se tiver elementos para o recurso,
24 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

deve apontar os motivos de efetiva modificação da decisão recorrida, pois


precisa ser ela reformada (total ou parcialmente).
Consiste em equívoco bastante comum a parte recorrente, acreditando
estar com os elementos necessários para a reforma da decisão, replicar os
fundamentos da inicial, da contestação ou impugnação (vício de muitos
operadores do Direito que deve ser evitado tanto quanto possível). O recurso
carece sempre de ser motivado e fundamentado estritamente de acordo com os
fundamentos constantes da sentença, acórdão ou decisão recorrida. É preciso
demonstrar o motivo de reforma da deliberação recorrida e não apenas a tese
em si – sendo lógico, de outro lado, que a tese e seus fundamentos também
devem estar presentes; porém, de forma especialmente voltada a demonstrar
a necessidade de reforma ou anulação da decisão.
De acordo com o artigo 932, III do CPC/2015, incumbe ao relator
“não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha
impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida”.
Ou seja, a ausência de impugnação específica dos fundamentos da decisão
recorrida implica o não conhecimento do recurso – o que evidenciaria um
grave erro de utilização da técnica processual.1
1. Sobre o tema: “Sexto princípio infraconstitucional dos recursos, o da dialeticidade, relaciona-se,
em alguma medida, com o princípio da voluntariedade. Se aquele princípio se relaciona com
a necessária exteriorização do inconformismo do recorrente diante de uma dada decisão, este
se atrela à necessidade de o recorrente demonstrar as razões de seu inconformismo, relevando
porque a decisão lhe traz algum gravame e porque a decisão deve ser anulada ou reformada. Há
várias Súmulas dos Tribunais Superiores que fazem, ainda que implicitamente, menção a esse
princípio – assim, v.g., Súmula 182 do STJ e as Súmulas 287 e 284 do STF – e o CPC de 2015 o
acolheu expressamente em diversas ocasiões, como se demonstra ao longo deste Capítulo.”
Sobre o tema: “Faço questão de frisar, a respeito deste princípio, que o recurso deve evidenciar
as razões pelas quais a decisão precisa ser anulada, reformada, integrada ou completada, e não
que o recorrente tem razão. O recurso tem de combater a decisão jurisdicional naquilo que ela
o prejudica, naquilo que ela lhe nega pedido ou posição de vantagem processual, demonstrando
o seu desacerto, do ponto de vista procedimental (error in procedendo) ou do ponto de vista do
próprio julgamento (error in judicando). Não atende ao princípio aqui examinado o recurso que
se limita a afirmar a sua posição jurídica como a mais correta. É inepto o recurso que se limita
a reiterar as razões anteriormente expostas e que, com o proferimento da decisão, ainda que
erradamente e sem fundamentação suficiente, foram rejeitadas”. BUENO, Cassio Scarpinella.
Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105,
de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
Sobre o tema: “O inciso III explicita a necessidade do recorrente de expor as razões recursais
referentes ao pedido de reforma ou de decretação de nulidade da sentença, em atenção ao
princípio da dialeticidade recursal. Ou seja, para que a apelação seja conhecida o recurso deverá
impugnar especificamente a sentença. Nesse sentido, o art. 932, III dispõe que incumbe ao
relator não conhecer de recurso que não tenha impugnado especificadamente os fundamentos da
decisão recorrida”. RIBEIRO, Cristiana Zugno Pinto. Novo Código de Processo Civil anotado
OAB Rio Grande do Sul. 2015, p. 775.
Sobre o tema: “O inciso III explicita a necessidade do recorrente de expor as razões recursais
referentes ao pedido de reforma ou de decretação de nulidade da sentença, em atenção ao
princípio da dialeticidade recursal. Ou seja, para que a apelação seja conhecida o recurso deverá
impugnar especificamente a sentença. Nesse sentido, o art. 932, III dispõe que incumbe ao
relator não conhecer de recurso que não tenha impugnado especificadamente os fundamentos da
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 25

Na Apelação, por exemplo, deve-se demonstrar “as razões do pedido


de reforma ou de decretação de nulidade” – artigo 1.010, III2, assim também
no agravo de instrumento – artigo, 1.016, III3, de igual maneira, no agravo
interno – artigo 1.021, §1º4. Nos embargos de declaração, o essencial é indicar
de forma clara e circunstanciada o erro, obscuridade, contradição ou omissão5.
No recurso extraordinário e no recurso especial há também necessidade de
se demonstrar as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão
recorrida (CPC, art. 1.029, III). Essa tem sido, inclusive, uma exigência dos
tribunais6 e dos órgãos superiores7.

decisão recorrida”. RIBEIRO, Cristiana Zugno Pinto. Novo Código de Processo Civil anotado
OAB Rio Grande do Sul. 2015, p. 775.
Sobre o tema: “O recurso não pode se resumir à repetição de razões deduzidas antes, seja na
petição inicial, seja na contestação. Se configuram meio de impugnação de uma decisão, devem
fazer referência específica aos aspectos da decisão que justificam a sua anulação, complementação
ou reforma”. APRIGLIANO, Ricardo de Carvalho. Código de Processo Civil Anotado. OAB
Paraná. 2015, p. 1542.
2. Sobre o tema: “O caput do art. 1.010 se ocupa com o conteúdo das razões de apelo. O texto
aprimora, no particular, o art. 514 do CPC atual, deixando clara a necessidade de o pedido de
reforma ou invalidação do julgado estar fundamentado em razões aptas a dar-lhe embasamento
(princípio da dialeticidade).” BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil:
inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva,
2015.
3. “III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;”
4. “§ 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos
da decisão agravada.”
5. “Artigo 1.032: Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição
dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a
preparo.”
6. “TJ/RS - Recurso Cível 71005396171 RS (TJ/RS). Data de publicação: 13/07/2015. Ementa:
Processual. Imprescindibilidade da correlação entre as razões da irresignação recursal com
sentença proferida. Violação ao princípio da dialeticidade recursal positivado no art. 514, II,
CPC. Recurso não conhecido.” (grifo nosso)
7. AgRg no AREsp 822675: “Processual penal. Agravo regimental no Agravo em Recurso Especial.
Homicídio qualificado. Ausência de impugnação específica no Agravo em Recurso Especial.”
AgInt no REsp 1466003/PE: “2. O artigo 1.021, § 1º, do Código de Processo Civil de 2015
determina que o recorrente, na petição de agravo interno, observe o princípio da dialeticidade
recursal com a impugnação específica dos fundamentos da decisão agravada, sob pena de
não conhecimento do recurso.”
AgRg no RMS 47875/RS: “Processual civil e administrativo. Agravo interno no recurso ordinário
em mandado de segurança. Falta de impugnação aos fundamentos da decisão. Princípio da
dialeticidade recursal.”
STF. ARE 831369 Agr/DF : “Princípio da Dialeticidade, que impõe o ataque específico aos
fundamentos. Insuficiência de alegação genérica. Precedentes. Manutenção da decisão ora
agravada.”
STF. AI 631672 AgR “Fato e de direito suficientes à reforma da decisão sob O princípio
da dialeticidade recursal impõe ao recorrente o ônus de evidenciar os motivos de julgada,
trazendo à baila novas argumentações capazes de infirmar todos os fundamentos do decisum que
se pretende modificar, sob pena de vê-lo mantido por seus próprios fundamentos. 2. O agravo
é inadmissível quando a sua fundamentação não impugna especificamente a decisão agravada”
“A petição do recurso ordinário em mandado de segurança deve observar o princípio da
dialeticidade, ou seja, deve apresentar as razões pelas quais a parte recorrente não se conforma
26 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Na prática a dialeticidade deve ser posta no recurso como preliminar,


como uma forma de organização dos fundamentos da sentença e,
principalmente, por meio da indicação clara e objetiva de quais serão as
impugnações de acordo com os fundamentos da decisão recorrida. Se
o magistrado fundamenta sua sentença de acordo com elementos de “a”, “b”
e “c”, o recorrente deverá demonstrar os motivos de reforma da sentença de
acordo com os fundamentos “a”, “b” e “c”. Incorre em erro, portanto, quem,
para tentar anular ou modificar a sentença, apenas copia os fundamentos da
inicial, contestação ou impugnação; pois nas peças processuais provavelmente
há elementos da tese debatida no processo, mas essas peças (por questão
cronológica), não combatem exatamente a decisão a ser recorrida e seus
respectivos fundamentos.
O recurso deve, então, dialogar especificamente com o objeto
recorrido (sentença, acórdão, decisão interlocutória e outros). De acordo
com Daniel Amorim Assumpção Neves8, “trata-se, na realidade, da causa
de pedir recursal”. Lembra ainda Neves que o recurso, em regra, deve ser
de “fundamentação livre”, vale observar, porém, que o recurso obviamente
deve guardar uma lógica processual e, em geral, debater apenas questões já
aventadas no curso do processo9.
O princípio da dialeticidade tem ligação com o elemento descritivo do
recurso (consubstanciado nos fundamentos e pedido constantes do recurso);
esse elemento exige do recorrente a exposição da fundamentação recursal
(causa de pedir: error in judicando e error in procedendo) e do pedido (que poderá
ser de anulação, reforma, esclarecimento ou integração).10
Consubstancia, portanto, de suma importância a dialeticidade, pois
definirá para os Recorridos quais são os elementos para fundamentar
eventuais Contrarrazões, além de fixar os limites de atuação do Tribunal no
julgamento do recurso.
Por fim, sobre este tópico, pode-se questionar se, na ausência de
dialeticidade, deveria o relator, à luz do artigo 932, parágrafo único, intimar
o Recorrente para sanar o vício. Ao contrário do entendimento de Ferreira

com o acórdão proferido pelo Tribunal de origem, o que, todavia, não se verifica nos presentes
autos, em que a impetrante deixou de impugnar especificamente o ponto do acórdão recorrido
consistente na denegação do mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição” (STJ, RMS 33.455)
8. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil / Daniel Amorim
Assumpção Neves. – 7. ed. rev. Versão ebook, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2015
9. Exceção no disposto no artigo 933 do CPC/2015.
10. Idem.
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 27

Filho11, entende-se que não. Pensa-se no seguinte exemplo: o réu vê o pedido


do autor julgado totalmente procedente; não satisfeito, interpõe o recurso
de apelação e copia apenas grande parte de sua Contestação como razões de
seu inconformismo; embora sua peça possa em seu conteúdo ser robusta, ela
não atacou os fundamentos da decisão recorrida. O autor então é intimado
para apresentar Contrarrazões. O relator, verificando essa suposta falha, de
acordo com o entendimento que se tem, não poderia entendê-la como vício
a ser sanado. Se assim fosse, o Recorrente poderia fazer então uma nova
estrutura recursal; porém, agora, com acesso às Contrarrazões do Recorrido,
em clara vantagem processual e em completo descompasso com o princípio
da paridade de armas.12
Entende-se não ser vício a ser sanado, mas sim clara deficiência
recursal, precisamente por inexistência de impugnação específica, ou seja,
os elementos do recurso (suas razões) não atendem ao seu propósito de
convencer o julgador da necessidade de reforma da decisão. Do contrário,
ter-se-ia que estender esse entendimento para todos os recursos (apelação,
agravo de instrumento, especial, extraordinário e afins), causando um caos,
ainda maior, nos tribunais e em todo andamento recursal.

1.2 LOCALIZAR JURISPRUDÊNCIA E PRECEDENTES


OBRIGATÓRIOS

Não são tratados, neste breve capítulo, os fundamentos da decisão


(CPC, art. 489), porém algumas informações são conexas ao presente tema e,
portanto, importantes para o desenvolvimento da discussão.
O novo paradigma do Código de Processo Civil é o grande respeito
às jurisprudências, súmulas e também aos precedentes (há diferença entre os
termos e adiante é demonstrado)13.
11. Sobre o tema: “Se as razões da apelação estiverem totalmente divorciadas dos fundamentos da
sentença, deverá o relator dar oportunidade ao apelante para que sane o vício? À luz da norma
constante do art. 932, parágrafo único, a resposta apresenta-se positiva”. FERREIRA FILHO,
Manoel Caetano. Código de Processo Civil Anotado. OAB Paraná. 2015, p. 1569.
12. E veja que mesmo que se desse ao Recorrido oportunidade de apresentação de novas
Contrarrazões, estar-se-ia trabalhando evidentemente contra a garantia de razoável duração do
processo.
13. Sobre o tema: “Identificar a ratio decidendi de uma questão constante de um caso - isto é, o
precedente que deve ser aplicado (“precedent case”) - é apenas uma das tarefas que envolve a
dinâmica de um sistema de precedentes. Além de identificar a ratio, é preciso saber se essa é
aplicável ao caso presente (“instant case”)”. MITIDIERO, Daniel. Precedentes: da persuasão à
vinculação (versão e-book). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
Sobre o tema: “Isso quer dizer que [...] a evolução da teoria da interpretação, o impacto do
constitucionalismo e a transformação do próprio conceito de direito fizeram surgir uma nova
racionalidade jurídica no Civil Law, que, portanto, pode exigir e conviver com um sistema de
precedentes obrigatórios”. MARINONI, Luiz Guilherme. A ética dos precedentes. Luiz

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