DIREITO CIVIL
Sumário
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) .......................................................................... 3
Direitos da Personalidade........................................................................................................................... 38
Bens. ........................................................................................................................................................... 51
Domicílio .................................................................................................................................................... 64
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
DIREITO CIVIL
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
I. Conceito de lei
A lei é uma fonte do direito (primária). A LINDB traz regras a respeito dessa fonte de lei.
O art. 1º diz que: salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias
depois de oficialmente publicada. Se lei for omissa, será de 45 dias o período de vacatio legis
(período entre a publicação e a vigência da lei).
A LC 95/98 ensina como será feita a contagem do prazo: faça a inclusão da data da
publicação e faça a inclusão do último dia do prazo. A vigência inicia no dia subsequente à
consumação integral.
Ex.: CC/02 entrou em vigor no dia 11/01/2003, um ano após a sua publicação.
O art. 1º, §1o, trata sobre quando a norma brasileira passa a vigorar no estado estrangeiro,
dizendo que a obrigatoriedade da lei brasileira, nos Estados, estrangeiros, se iniciará 3 meses
depois de oficialmente publicada.
Em havendo uma norma corretiva, ou seja, se houver uma nova publicação do texto legal,
que corrige alguns erros, neste caso, este prazo de 45 dias ou de 3 meses, começam a correr a
partir da nova publicação, sendo considerado como lei nova.
O art. 2º consagra o princípio da continuidade da lei. Isto é, quando a lei entra em vigor,
continuará ela em vigor, até que outra lei a modifique ou a revogue.
Ou seja, não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
Observe-se que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
III. Revogação
O meio mais comum para se retirar a eficácia de uma norma jurídica é por meio da
revogação.
• Revogação parcial (derrogação): há uma supressão parcial do texto. A lei nova torna sem efeito
parte de uma lei anterior.
• Revogação expressa (por via direta): a lei nova diz que está revogando a lei anterior.
• Revogação tácita (por via indireta/oblíqua): a lei nova é incompatível com a anterior.
IV. Repristinação
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Repristinação ocorre quando existe a Lei A. Esta Lei A é revogada pela Lei B. Aí vem a Lei C
e revoga a Lei B. Repristinação se dará quando a Lei C revoga a Lei B, vindo a Lei A vigorar
novamente.
No caso de inconstitucionalidade da Lei B, esta seria natimorta, razão pela qual não teria
efeito algum, de modo que a Lei A sofreria o efeito repristinatório, voltando a vigorar, pois não
deveria ter deixado de vigorar.
• Teoria da presunção absoluta: haveria uma presunção iure et iure de que todos conhecem a lei.
• Teoria da necessidade social: Tartuce e MHD se filia a ela. As normas devem ser conhecidas para
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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que melhor sejam observadas. Há uma necessidade social de que se consideram as normas
conhecidas para que sejam observadas. Trata-se de aplicação do princípio da vigência sincrônica
das leis.
O art. 140 do CPC/2015 diz que o juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna. O
parágrafo único ainda diz que o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. Perceba
que o juiz somente julgará com fundamento em equidade quando houver expressa autorização
legal.
O juiz sempre deve julgar com equidade, mas por equidade não, pois deverá se ater as
normas do ordenamento jurídico.
O art. 4º diz que quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com:
• Analogia
• Costumes
Mas o caso concreto pode exigir que a aplicação se dê fora dessa ordem, aplicando-se
primariamente os princípios gerais.
Isso porque, por conta da constitucionalização do direito civil, temos uma maior força
normativa dos princípios, atraindo eles para uma aplicação direta.
a) Analogia
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Ausente norma para regular o caso, será necessário valer de norma que regula caso
semelhante.
i. Classificação da analogia
• Analogia legal (legis): é a aplicação de uma norma próxima, mas apenas de uma norma próxima.
• Analogia juris: há um conjunto de normas próximas para extrair dali uma norma que irá regular
este caso concreto.
• Interpretação analógica: também é forma de intepretação. Aqui, o legislador traz uma série de
menções, fazendo o encerramento genérico, permitindo ao aplicador da norma que se valha dos
exemplos trazidos e pelo encerramento genérico para subsumir a situação ao dispositivo legal.
Uma regra que é importante é a que trata das normas de exceção e normas excepcionais.
Mas pergunta-se: caso o pai queira hipotecar um imóvel em favor de um dos filhos. Neste
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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NÃO. Isso porque não é venda, e sim hipoteca. Não se pode fazer uma analogia para
abarcar uma situação que não foi abarcada em norma excepcional (art. 496 do CC).
b) Costumes
Costumes são práticas, usos, reiterados que tenham conteúdo lícito (tanto é que ato que
fere os bons costumes é ato ilícito), e que também tenha relevância jurídica (sendo a ideia de
obrigatoriedade que tem na cabeça dos indivíduos).
• Costumes secundum legem: é o costume segundo a lei. Há uma referência expressa da lei sobre
os costumes, mandando que se observem os costumes. Não há uma integração, havendo, em
verdade, uma subsunção do fato à norma.
• Costumes praeter legem: aqui o costume é efetivamente de integração. Pois o costume praeter
legem é aplicado quando a lei é omissa. Ex.: reconhecimento do cheque pré-datado. A
jurisprudência entende que existe direito de indenização a favor daquele que teve contra si
depositado um cheque antes do prazo ajustado. É o teor da Súmula 370 do STJ.
• Costumes contra legem: neste caso, a aplicação do costume contraria o que dispõe a lei, mas
isto não se pode admitir, visto que costume não revoga a lei.
Professor Miguel Reale conceitua princípios como sendo verdades fundantes. São as
verdades que fundam o sistema, sendo alicerces do sistema.
Para Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, os princípios gerais de direito não se encontram
positivados no nosso sistema normativo, tendo por função auxiliar o juiz no preenchimento das
lacunas.
• Viver honestamente
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• Princípio da eticidade:
Deve haver ética nas relações. Valoriza a boa-fé, na lealdade da conduta entre as partes.
É a boa-fé objetiva, a qual tem função de interpretação dos negócios jurídicos, mas também a
função de controle das condutas humanas, além de possuir a função de integração.
Ex.: se o contrato foi omisso em determinado ponto, e não há norma contratual que regule este
ponto, deverá integrar a lacuna por meio da boa-fé objetiva, por meio do comportamento
esperado de alguém que se encontre naquela situação.
• Princípio da socialidade:
A ideia é deixar de ser um código egoísta e passar a ser um código com preocupação da função
social. Todas as categorias civis têm função social, como propriedade, empresa, posse, família,
responsabilidade civil, contratos, etc.
• Princípio da operabilidade:
Tartuce diz que há dois sentidos: simplicidade (permite operá-lo de forma mais fácil) e a
efetividade (permite que seja aplicado facilmente, tornando-o efetivo).
d) Equidade
Em regra, equidade é uma fonte informal do direito, mas caso esteja na lei será formal.
• Equidade legal:
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Estará presente quando a lei determina que o magistrado deverá decidir por equidade o caso
concreto.
O CPC estabelece no art. 140, p.ú., que o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em
lei. Se a lei não autoriza ele a julgar por equidade, não poderá ele julgar dessa forma.
Diferencia-se julgar por equidade de julgar com equidade:
o Julgar por equidade: é desconsiderar a regra legal, julgando pelo bom senso.
o Julgar com equidade: é decidir valendo-se da regra, mas dando a ela interpretação justa
para o caso concreto. Trata-se de um dever perene do magistrado.
O art. 5º, XXXVI, diz que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e
a coisa julgada.
O art. 6º da LINDB diz que a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Este dispositivo conceitua o que é ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada:
• Direito adquirido
Direito adquirido é o direito que alguém adquiriu, sendo incorporado ao patrimônio desse
alguém.
O §2º do art. 6º diz que se consideram adquiridos assim os direitos que o seu titular possa
exercer, e aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida
inalterável, a arbítrio de outrem.
O fato de existir um termo, ou seja, “daqui a 20 dias irá se incorporar ao seu patrimônio” já
implica direito adquirido, pois é certo que passará 20 dias, ou seja, já poderá incorporar o
respectivo patrimônio.
Ex.: benefício previdenciário que alguém já estava usando não poderá perder, desde que tenha
sido concedido regularmente. No caso da reforma da previdência, só poderá atingir quem não se
aposentou. Mas quem já se aposentou tem o direito adquirido.
• Ato jurídico perfeito
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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É uma manifestação de vontade lícita, emanada por uma pessoa livremente disposta, a qual já
se encontra aperfeiçoada.
O ato jurídico perfeito é aquele que está consumado de acordo com a lei vigente ao tempo em
que se efetuou aquele ato. Ex.: contrato celebrado anteriormente.
• Coisa julgada
Ou seja, a coisa julgada não prevalece quando se está a tratar de direito fundamental ao
conhecimento da origem genética. Haverá aqui uma ponderação de valores.
Ou seja, o contrato celebrado antes é ato jurídico perfeito. Mas não vai prevalecer se
contrariar norma de ordem pública. Aqui há uma relativização da proteção.
Ex.: redução equitativa da multa contratual. Foi celebrado um contrato antes do CC/02, o
qual previa uma multa abusiva. Com o novo CC, apesar de ser um ato jurídico perfeito, o juiz
poderá promover a redução equitativa da multa, ainda que o ato tenha sido anterior, pois o
contrato deverá observar a função social.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O art. 7º consagra a regra lex domicili, ou a regra do domicílio. Ou seja, devem ser
aplicadas, no que concerne ao começo e fim da personalidade, as normas do país em que
domiciliada a pessoa.
• Nome
• Capacidade
• Direitos de família
a) Casamento
Com relação ao casamento, se for celebrado no Brasil, deverão aplicadas as regras dos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração do ordenamento jurídico brasileiro.
Neste caso, tendo domicílio diverso, deverão ser aplicadas as regras de invalidade do
casamento do primeiro domicílio conjugal.
Ex.: João e Maria são brasileiros, os quais vão se casar, devendo ser observadas as regras
de impedimento do CC. Johny e Jenifer são americanos e irão se casar perante a autoridade
diplomática, devendo observar as normas de impedimento dos EUA, pois é o país de domicílio de
ambos os nubentes.
Mas e se os nubentes tiverem domicílios diversos, ou seja, se Jenifer está se casando com
Juan, que é colombiano? Como dito, caso tenham os nubentes domicílios diversos, deverão ser
aplicadas as regras quanto à invalidade do casamento, as regras do primeiro domicílio conjugal,
ou seja, onde Juan e Jenifer irão morar? Esta é a pergunta.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Em relação ao regime de bens, a LINDB diz que deve ser aplicada a lei do local em que os
cônjuges tenham domicílio. A regra é o regime de comunhão parcial.
Havendo divergência quanto aos domicílios, ou seja, se tiverem dois ou três domicílios,
prevalecerá as regras do primeiro domicílio conjugal.
O §7o do art. 7º diz que salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família
estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o domicílio do tutor ou curador se
estenderá aos incapazes sob sua guarda.
O §8o diz que o domicílio da pessoa que não tiver residência fixa (domicílio) é o local que
a mesma for encontrada, onde tiver sua moradia habitual.
b) Bens
No que se refere aos bens, deve ser aplicada a norma do local em que estes bens se
situam.
Caso os bens sejam móveis, aplica-se a lei do domicílio do seu proprietário. O penhor
regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada.
c) Obrigações
Ao tratar das obrigações, na LINDB, há consagração da regra locus regit actum. Isso
significa que a regra do local em que foram constituídas as obrigações será a lei que regerá o
contrato.
Para aplicar a lei brasileira a um determinado negócio, precisa que este negócio tenha
sido celebrado no território nacional.
Sendo celebrado no exterior, mas tendo que produzir efeitos no Brasil, poderá produzir.
No entanto, se a lei brasileira exigir uma forma específica (ex.: escritura pública), esta norma
deverá observar esta regra para produzir efeitos no Brasil.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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A sucessão por morte ou por ausência obedece à norma do país do último domicílio do
de cujus ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
Com relação às normas quanto à vocação hereditária para suceder bens de estrangeiro
situado no Brasil, vão ser as leis nacionais em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou
de quem os represente.
Mas há uma exceção: sendo mais favoráveis ao cônjuge ou aos filhos do casal, serão
aplicadas a lei pessoal do último domicílio. No entanto, se a lei do último domicílio do de cujus
se mostrar mais favorável ao filho do casal ou a sua viúva ou viúvo.
• Governo estrangeiro ou entidade constituída para atender governo estrangeiro não pode
adquirir no Brasil bens imóveis ou suscetíveis à desapropriação.
é exclusiva.
O art. 17 estabelece que as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando:
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Antinomia: “nomia” é norma + “anti” é contrariedade. É uma norma que conflita com a
outra.
Existem meta-critérios clássicos que foram criados por Norberto Bobbio para solucionar o
choque entre normas jurídicas.
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O interessante está nas antinomias de 2º grau, quando o choque envolve dois critérios
trazidos por Norberto Bobbio:
A própria Constituição consagra o princípio da isonomia. A norma especial que parece destoar
da norma geral superior pode ser que simplesmente esteja aplicando o princípio da isonomia.
Ex.: CF consagra o princípio da igualdade, estabelecendo que homens e mulheres são iguais
perante a lei. Mas a Lei Maria da Penha confere um tratamento especial para mulher, sendo uma
lei especial e inferior, enquanto a CF é geral e superior. Neste caso, apesar de parecer
contraditório, o princípio da isonomia respalda. Não existe uma prevalência dos critérios nesse
caso.
Portanto, no caso de conflito entre norma superior e norma especial, há dois caminhos para
solução desse choque. O primeiro é o legislativo criar uma terceira norma e estabelece qual das
duas normas deverá prevalecer. A maioria dos casos é solucionada pelo Poder Judiciário, o qual
deverá analisar o caso concreto e definir.
O art. 8 do NCPC diz que ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais
e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade
e a eficiência. O juiz deverá fazer um juízo de ponderação para verificar o critério que
aplicará naquele caso, observando os critérios acima mencionados.
Importa registrar que a Lei n. 13.655, de 2018 incluiu os artigos de 20 a 30 na LINDB, tendo
sido o art. 25 vetado. A interpretação dos arts. 20 a 30 deve ser a de que eles se aplicam para
temas de direito público, mais especificamente para matérias de Direito Administrativo,
Financeiro, Orçamentário e Tributário. Tais regras não se aplicam, portanto, para temas de direito
privado.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O art. 20 da LINDB tem por objetivo reforçar a ideia de responsabilidade decisória estatal
diante da incidência de normas jurídicas indeterminadas. O dispositivo proíbe “motivações
decisórias vazias, apenas retóricas ou principiológicas, sem análise prévia de fatos e de impactos.
Obriga o julgador a avaliar, na motivação, a partir de elementos idôneos coligidos no processo
administrativo, judicial ou de controle, as consequências práticas de sua decisão.”
(https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-rebatem-criticas.pdf)
Impende ressaltar que o art. 20 não impede de que o julgador decida com base em valores
jurídicos abstratos, mas antes da decisão se torna necessário seja feita uma análise prévia de quais
serão as consequências práticas dessa decisão. Assim, a análise das consequências práticas da
decisão passa a fazer parte das razões de decidir.
Ressalte-se que esse regramento do art. 20 vale para decisões proferidas nas esferas
administrativas (ex: em um PAD), controladora (ex: julgamento das contas de um administrador
público pelo TCE) e judicial (ex: em uma ação civil pública pedindo melhores condições do sistema
carcerário).
A expressão “consequências práticas da decisão” prevista no art. 20 significa “as
consequências econômicas da decisão proferida”. Ou seja, Trata-se da chamada “análise econômica
do direito – AED”. “De acordo com a Análise Econômica do Direito (AED), a economia,
especialmente a microeconomia, deve ser utilizada para resolver problemas legais, e, por outro
lado, o Direito acaba por influenciar a Economia. Por esta razão, as normas jurídicas serão eficientes
na medida em que forem formuladas e aplicadas levando em consideração as respectivas
consequências econômicas.” (OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo.
2ª ed., São Paulo: Método, 2014, p. 31).
Outro aspecto da alteração da LIND é a previsão do parágrafo único do art. 20 que preconiza
“A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas”.
Assim, todas as decisões, sejam elas proferidas pelos órgãos administrativos, controladores
ou judiciais, devem ser motivadas. O administrador, conselheiro ou magistrado, ao tomar uma
decisão, deverá indicar os motivos de fato e de direito que o levaram a agir daquela maneira.
O art. 21 da LINDB tem por objetivo exigir o exercício responsável da função judicante do
agente estatal. O que significa dizer que “invalidar atos, contratos, processos configura atividade
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altamente relevante, que importa em consequências imediatas a bens e direitos alheios. Decisões
irresponsáveis que desconsiderem situações juridicamente constituídas e possíveis consequências
aos envolvidos são incompatíveis com o Direito”. (https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-
rebatem-criticas.pdf)
Por sua vez o art. 22 da mencionada lei preconiza o primado da realidade que significa: “(...)
a norma em questão reconhece que os diversos órgãos de cada ente da Federação possuem
realidades próprias que não podem ser ignoradas. A realidade de gestor da União evidentemente é
distinta da realidade de gestor em um pequeno e remoto município. A gestão pública envolve
especificidades que têm de ser consideradas pelo julgador para a produção de decisões justas,
corretas. As condicionantes envolvem considerar (i) os obstáculos e a realidade fática do gestor, (ii)
as políticas públicas acaso existentes e (iii) o direito dos administrados envolvidos. Seria pouco
razoável admitir que as normas pudessem ser ignoradas ou lidas em descompasso com o contexto
fático em que a gestão pública a ela submetida se insere.” (https://www.conjur.com.br/dl/parecer-
juristas-rebatem-criticas.pdf)
O parágrafo segundo do art. 22 trouxe critérios a serem considerados na aplicação das
sanções, quais sejam:
a) Natureza e gravidade da infração cometida;
b) Danos causados à Administração Pública;
c) Agravantes;
d) Atenuantes;
e) Antecedentes.
O art. 23 trouxe regramento sobre alteração de interpretação e modulação dos efeitos da
decisão. Nesse sentido, caso haja alguma mudança na forma como a Administração Pública, os
Tribunais de Contas ou o Poder Judiciário interpretavam determinada norma, deverá ser previsto
um regime de transição. Isso significa dizer que deve haver uma concessão de um prazo para que
os administradores públicos e demais pessoas afetadas pela nova orientação possam se adaptar à
nova interpretação.
Requisitos para a aplicação do regime de transição:
a) A decisão administrativa, controladora ou judicial deve estabelecer uma interpretação ou
orientação nova;
b) Essa interpretação nova deve recair sobre uma norma de conteúdo indeterminado;
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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c) Por conta dessa interpretação, será imposto novo dever ou novo condicionamento de direito;
d) O regime de transição mostra-se, no caso concreto, indispensável para que o novo dever ou
condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente;
e) A imposição desse regime de transição não pode acarretar prejuízo aos interesses gerais.
Cabe ao órgão julgador a análise dos preenchimentos dos requisitos acima, sendo passível
de recurso caso o interessado entenda que deveria ter direito ao regime de transição.
Art. 24 - REVISÃO DEVERÁ LEVAR EM CONTA A ORIENTAÇÃO VIGENTE NA ÉPOCA DA PRÁTICA
DO ATO. O ato deverá ser analisado conforme as orientações gerais da época e as situações por elas
regidas deverão ser declaradas válidas, mesmo que apresentem vícios.
O art. 26 da LINDB previu a possibilidade de a autoridade administrativa celebrar um acordo
(compromisso) com os particulares com o objetivo de eliminar eventual irregularidade, incerteza
jurídica ou um litígio (situação contenciosa). É requisito para que esse compromisso seja realizado
que o órgão jurídico (AGU, PGE, PGM) seja previamente ouvido, e, ainda, em alguns casos a
realização de audiência pública.
O art. 27 previu a imposição de compensação. De acordo com a Sociedade Brasileira de
Direito Público o “dispositivo em questão visa evitar que partes, públicas ou privadas, em processo
na esfera administrativa, controladora ou judicial aufiram benefícios indevidos ou sofram prejuízos
anormais ou injustos resultantes do próprio processo ou da conduta de qualquer dos envolvidos. O
art. 27 tomou o cuidado de exigir que a decisão que impõe compensação seja motivada e precedida
da oitiva das partes. Há, também nesse caso, a possibilidade de celebração de compromisso
processual entre os envolvidos.”
Segundo ainda a Sociedade Brasileira de Direito Público, “o art. 28 quer dar a segurança
necessária para que o agente público possa desempenhar suas funções. Por isso afirma que ele só
responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões em caso de dolo ou erro grosseiro (o que
inclui situações de negligência grave, imprudência grave ou imperícia grave)”.
O art. 29, por sua vez, previu a consulta pública prévia à edição de atos normativos por
autoridade administrativa. Isso traz transparência e previsibilidade à atividade normativa do
Executivo.
Por fim, o art. 30 da LINDB trouxe instrumentos para aumentar a segurança pública:
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das
normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em
relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.
I. Introdução
O CC foi instituído pela Lei 10.406, sendo de 10/01/2002, que teve a previsão de vigência
pelo prazo de 1 ano. Então, 1 ano da publicação, começando a vigorar no dia subsequente,
começando no dia 11/01/2003.
• Eticidade
• Socialidade
• Operabilidade
a) Princípio da eticidade
• Função interpretativa: sendo exemplo o art. 113, o qual estabelece que os negócios jurídicos
devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Há aqui o
princípio da boa-fé objetiva como forma de interpretação.
• Função limitadora: o art. 187 traz uma sanção para aquele que contraria a boa-fé no exercício
de um direito. E portanto o exercício irregular de um direito é abuso de direito, sendo ato ilícito.
Há um controle feito pela boa-fé objetiva, a qual limita a atuação do sujeito. O direito termina
quando inicia o direito do outro.
• Função de integração: o art. 422 do CC/02 consagra a boa-fé como forma de integração do
contrato, a qual deverá ser observada na conclusão ou na execução do contrato. Ex.: o contrato
foi omisso, mas qual seria o comportamento esperado?
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b) Princípio da socialidade
O art. 421 do CC estabelece que a liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato. O contrato tem uma função social que deverá ser observada.
c) Princípio da operabilidade
Segundo Judith Martins Costa, na atual codificação material, é possível que se perceba um
sistema aberto, ou um sistema de janelas abertas, que permitem uma constante incorporação e
solução para novos problemas.
Exemplo é a função social da propriedade, boa-fé, bons costumes, atividade de risco, etc.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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É estático. Consta da lei, mas não há definição. Quando o aplicador do direito dele se utiliza, e
passa a dar sentido ao conceito legal indeterminado, passará a ser uma cláusula geral, pois
somente então terá uma função dinâmica. Antes não era regulado.
• Cláusulas gerais:
Miguel Reale criou uma particular teoria do conhecimento, baseando-se em duas subteorias:
culturalismo jurídico e a teoria tridimensional do direito. A diferença entre um e outro é do
ponto de vista.
O culturalismo jurídico é do ponto de vista subjetivo, pois o enfoque jurídico está no aspecto do
sujeito. Orientarão a aplicação e as decisões que serão tomadas as seguintes expressões: cultura,
experiência e a história. A partir da análise da cultura local, da experiência local e da história
local é possível extrair uma norma, estando os olhos voltados para o sujeito.
Na teoria tridimensional, vamos para o plano objetivo. Isso porque o direito é fato, valor e
norma. Ou seja, se há um fato, há uma repercussão valorada na sociedade e a partir dessa
valoração, cria-se uma norma. O adultério era crime, mas com o tempo, houve uma valoração
do fato pela sociedade, deixando de ser crime. Ou seja, mudou-se a norma.
Na relação entre culturalismo jurídico e a teoria tridimensional do direito, fica fácil, visto que
cultura é o valor que se dá aquela situação. Experiência é a norma. Enquanto a história é o fato.
O magistrado e jurista devem fazer um mergulho no fato e, então de acordo com seus valores e
experiências, aplica a norma, de acordo com os limites, os quais devem ser observados.
Pessoa natural
I. Capacidade
O art. 1º diz que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Essa capacidade
é uma capacidade de direito ou de gozo. Toda pessoa tem esta capacidade.
Existe ainda outra capacidade, sendo denominada capacidade de fato ou de exercício. Esta
capacidade algumas pessoas não têm.
Conclui-se que para ter capacidade civil plena, é preciso ter a capacidade de direito (gozo)
e a capacidade de fato (exercício).
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Existem certos conceitos que são similares à capacidade, mas são diferentes:
• Personalidade: é a soma de caracteres de uma pessoa. É aquilo que a pessoa é para ela e aquilo
que ela é para a sociedade. Diz-se que a capacidade é a medida da personalidade. E portanto a
personalidade é a essência, ou substância, e a capacidade é o quantum.
O art. 2º do CC diz que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida.
Mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
• Teoria natalista:
A personalidade começa com o nascimento com vida. O nascituro não é pessoa. Isso porque o
CC exige para a personalidade o nascimento com vida. Por meio dessa teoria, o nascituro não
tem direitos, mas apenas expectativas de direitos.
A crítica principal que se faz é no sentido de que, se o nascituro não é pessoa, o que ele seria,
uma coisa? A resposta seria afirmativa. No entanto, não se pode tratar o nascituro como coisa,
visto que o próprio código assegura desde a concepção direito ao nascituro.
• Teoria da personalidade condicional:
A personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão
sujeitos a uma condição suspensiva. Por isso o nome da teoria da personalidade condicional.
Condição suspensiva é um elemento acidental do negócio jurídico, podendo estar presente ou
não. Trata-se de um elemento acidental que subordina a eficácia do negócio a um evento futuro
e incerto, no caso, o evento é o nascimento. E portanto, a condição é o nascimento.
Qual é a crítica? O nascituro não teria direito, mas apenas expectativas de direitos. Essa teoria é
extremamente apegada a questões patrimoniais. Ela não responde a apelo de direitos pessoais
ou de direitos da personalidade do nascituro. Isso porque direitos da personalidade são
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
incondicionais, não podendo estar sujeito a uma condição, termo ou encargo. Essa é a grande
crítica da teoria da personalidade.
• Teoria concepcionista:
Segundo a maioria da doutrina e a jurisprudência do STJ, esta é a teoria que foi adotada pelo
Código Civil.
Essa teoria concepcionista sustenta que o nascituro é pessoa humana, tendo os direitos
resguardados pela lei. A conclusão dessa corrente consta do Enunciado 1 da Jornada de Direito
Civil, que diz que a proteção que o código defere ao nascituro alcança o natimorto, e portanto
aquele que nasceu sem vida, no que concerne aos seguintes direitos: nome, imagem e
sepultura. A teoria concepcionista é a que prevalece entre doutrinadores.
Maria Helena Diniz adere a esta teoria, apesar de fazer uma distinção simples entre
personalidade jurídica:
a) Personalidade jurídica formal: é a relacionada com direitos da personalidade. O nascituro já
têm.
b) Personalidade jurídica material: é a personalidade jurídica relacionada a direitos patrimoniais.
O nascituro só adquire com nascimento com vida.
A teoria concepcionista tem prevalecido no STJ. Há um julgamento importante em que se
reconheceu o dano moral ao nascituro pela morte de seu pai que ocorreu antes do seu
nascimento.
O debate das teorias relativas ao nascitura ganha reforço com a Lei 11.804/08, que trata
dos alimentos gravídicos, apesar da crítica à nomenclatura.
A Lei 11.105, conhecida como Lei de Biossegurança, vai tutelar a situação do embrião,
reforçando a teoria concepcionista.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
O art. 5º da Lei diz que é permitida a utilização de células-tronco embrionárias para fins
de pesquisa e terapia, obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não
utilizados no respectivo procedimento, desde que:
Ainda, para fins de utilização de embrião para fins de pesquisa e uso terapêutico, a lei
autoriza tal utilização, desde que, em qualquer caso, seja indispensável o consentimento dos
genitores.
Muita coisa mudou com a Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
O Estatuto apenas consolidou aquilo que constava da Convenção de Nova Iorque, a qual
tem força de emenda constitucional.
Segundo o art. 3º, são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida
civil apenas os menores de 16 anos.
• Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
• Pródigos
Não trata dos doentes mentais ou de deficiência. A ideia é a inclusão total dos deficientes.
A Lei nº 13.146/2005 tem aplicação imediata, atingindo todas as pessoas que, no início da
vigência da referida norma, não podiam exprimir a vontade, por causa transitória ou permanente,
as quais passaram a ser consideradas relativamente incapazes.
É forçoso afirmar que o art. 6º da Lei 13.146/15 estabelece que a deficiência não afeta a
plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
• Exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas
sobre reprodução e planejamento familiar;
Veja, a ideia é a inclusão da pessoa com deficiência. No plano familiar, com relação aos
atos existenciais há uma inclusão plena da pessoa com deficiência.
O art. 84 do Estatuto estabelece que a pessoa com deficiência tem assegurado o direito
ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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A ideia é incluir a pessoa com deficiência. E ainda, a curatela afetará tão somente os atos
relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
Em outras palavras, podem existir a limitação de atos patrimoniais, mas não em relação
a atos existenciais.
Portanto, para que a curatela esteja presente, é necessário que haja ação judicial
específica, enquadrando-se em uma das hipóteses do art. 4º, pois se for menor de idade, o pai
será o responsável.
b) Representação e assistência
Com relação aos absolutamente incapazes, estes deverão ser representados. Então, o
menor de 16 anos deverá ser representado, sob pena de nulidade absoluta do ato por ele
praticado.
Em relação aos relativamente incapazes, estes deverão ser assistidos, sob pena de
anulabilidade do negócio.
Questão que era sempre debatida seria o negócio celebrado pelo incapaz antes da
declaração da incapacidade. Mas aí vinha a declaração da incapacidade do sujeito pela sentença,
ou seja, a sentença era posterior ao negócio que havia sido fechado.
Pablo Stolze diz que os atos anteriores à interdição poderão ser tidos como inválidos, se
a causa de interdição já existia, e, se à época em que os fatos foram praticados, a incapacidade
podia ser percebida pelo negociante capaz. Se ele não podia perceber, não seria possível anular.
Segundo o STJ, serão considerados nulos os atos e negócios jurídicos praticados pelo
incapaz anteriores à sentença de interdição, em se comprovando que o estado da incapacidade
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Na opinião de Flávio Tartuce, a boa-fé blindaria o negócio tratado entre o sujeito capaz e
o sujeito absolutamente incapaz.
Hoje em dia, como não existem mais absolutamente incapazes maiores de 18 anos.
c) Absolutamente incapazes
Ex.: menino de 15 anos foi à padaria comprar pão. Este negócio não será nulo.
d) Relativamente incapazes
Existem atos em que esses menores de 18 e maiores de 16 anos podem praticar sem a
assistência, como é o casamento, desde que exista autorização dos pais. Também poderão
elaborar testamentos e ser testemunhas em negócios e atos jurídicos. Além disso, poderão
requerer registro do seu nascimento. Poderão ainda ser empresários, desde que exista
autorização legal para tanto. Podem ser eleitor, podendo votar. Podem também ser
mandatários para negócios extrajudiciais.
• Ébrios habituais e os viciados em tóxico:
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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poderá o sujeito praticar o ato que quiser, pois a ideia é manter plenamente integrado ao
contexto social. Veja, a regra é a capacidade.
• Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade
Pródigos são aquelas pessoas que dissipam o patrimônio de forma desordenada e desregrada.
Basta pensar nas pessoas viciadas em jogos.
Os pródigos têm que ter nomeação de um curador. Mas como a questão é patrimonial, ficarão
privados apenas dos atos que possam comprometer o seu patrimônio. Caso contrário não.
Poderão desde já continuar praticando os seus atos.
A situação dos índios ou silvícolas, conforme o parágrafo único do art. 4º, é regida por lei
especial. Essa lei especial é a Lei 6.001/73, que é o Estatuto do Índio, o qual coloca que o silvícola,
enquanto não for integrado à comunidade nacional, sob o regime de tutela, devendo ter uma
assistência exercida pela FUNAI.
A lei considera que são nulos os atos praticados por índio não integrado e qualquer outra
pessoa estranha à comunidade, caso não tenha havido tutela da FUNAI.
Não se aplica essa regra de nulidade, se o índio revelar consciência e conhecimento do ato
praticado, e desde que o ato praticado não lhe seja prejudicial.
Qualquer índio pode requerer ao juízo competente que seja liberado do regime tutelar,
desde que preencha os requisitos legais, sendo a ideia de estar plenamente integrado à comunhão
nacional.
e) Emancipação
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Com a emancipação, o menor deixa de ser incapaz, passando a ser capaz, mas não deixa
de ser menor. O Enunciado do CJF diz que a emancipação, por si só, não ilide a aplicação do ECA.
Ou seja, o menor emancipado não pode tirar carteira de motorista. Não poderá também
ingressar em local em que seja proibida a entrada de menores, pois o indivíduo continua sendo
menor. Não poderá ingerir bebidas alcoólicas.
Mas, a emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeito à
desconstituição por um vício de vontade. Isso porque o caso seria de anulação da emancipação.
A emancipação é ato formal e solene, visto que, via de regra, deve ser feita por
instrumento público.
É aquela emancipação concedida por ambos os pais. Não é necessária a homologação do juiz, se
ambos os pais concordam. É concedida a emancipação por instrumento público, devendo ser
registrada no cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais. O menor deverá ter no mínimo 16
anos completos para esta emancipação legal.
• Emancipação judicial:
A emancipação se dará por meio de sentença do juiz, quando, por exemplo, o sujeito ingressar
com processo para poder emancipar o filho.
A decisão judicial afasta a necessidade de escritura pública, mas não afasta a necessidade de
registro. Tanto a emancipação voluntária como a judicial, deverão ser registradas no cartório
de Registro Civil das Pessoas Naturais.
Segundo o ECA, a emancipação
pode ser concedida pelo Juiz da Infância e Juventude quando faltarem os pais e, preenchidos os
requisitos da lei civil, se os direitos do requerente, previstos no ECA, forem ameaçados ou violados
por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, bem como por omissão ou abuso dos pais ou
responsável ou em razão de sua conduta (art. 148 c/c art. 98 do ECA).
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• Emancipação legal:
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona dizem que se for caso de nulidade ou de anulabilidade,
a emancipação irá persistir se o casamento foi contraído de boa-fé pelo menor
(casamento putativo). Em relação ao divórcio e a viuvez, não há retorno ao estado de
incapacidade.
o Emancipação pelo exercício de emprego público efetivo:
É possível que o menor militar, que tenha ao menos 17 anos, e esteja prestando o serviço
militar, seja emancipado.
I. Morte real
A lei considera que a morte real se dá com a morte cerebral (encefálica). Para afirmar a
morte real, é necessário um laudo médico, visando a elaboração do atestado de óbito, o qual será
registrado no cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais.
O art. 77 da Lei 6.015/73 estabelece que nenhum sepultamento será feito sem a certidão
de óbito.
O art. 7º do Código Civil diz que há dois casos de morte presumida sem declaração de
ausência:
• Desaparecimento do corpo de uma pessoa numa situação em que for extremamente provável
a morte de quem estava em perigo de vida. Ex.: naufrágio.
Com isso, na sentença, que reconhece a morte presumida, é necessária que conste a
provável data do falecimento da pessoa natural.
Segundo o art. 88, poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito
de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra
catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível
encontrar-se o cadáver para exame.
No parágrafo único está escrito que será também admitida a justificação no caso de
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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A pessoa desapareceu, não deixou representante ou procurador, será nomeado um curador para
administrar os bens. Este curador terá como função guardar os bens da pessoa desaparecida e,
em ação específica, proposta pelo MP ou por qualquer interessado, normalmente um herdeiro.
Caso o desaparecido tenha deixado representante ou procurador, não será ausência.
Todavia, poderá haver a nomeação de curador, caso o desaparecido tenha deixado procurador
ou representante, mas este não tenha aceitado o encargo de representar e administrar os seus
bens. Neste caso, o juiz poderá nomear um curador.
O art. 25 diz que cabe ao cônjuge a condição de curador legítimo, desde que não esteja
separado judicialmente, ou não esteja separado de fato por mais de 2 anos antes da declaração
da ausência. Cabe ressaltar que o NCPC ainda trata da separação judicial.
Estando o cônjuge ausente, o próprio §1º estabelece uma ordem de preferência para exercer a
curadoria, dizendo que a curadoria dos bens incumbe aos pais do ausente. Não tendo pais, serão
chamados os descendentes do ausente, e neste caso o grau mais próximo exclui o grau mais
remoto. Não havendo pais, nem descendentes, compete ao juiz a escolha do curador dativo.
O companheiro e convivente merece a mesma proteção e regramento do que é conferido ao
cônjuge.
O art. 745 do NCPC estabelece que feita a arrecadação dos bens, o juiz mandará publicar editais
na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma
de editais do CNJ, onde permanecerá por 1 (um) ano, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e
na imprensa da comarca, durante 1 ano, reproduzida de 2 em 2 meses, anunciando a
arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens.
Findo o prazo de 1 ano, previsto no edital, poderão os interessados requerer a abertura da
sucessão provisória, observando-se o disposto em lei.
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• Sucessão provisória:
Decorrido 1 ano da arrecadação dos bens do ausente, poderá ser aberta a sucessão provisória,
desde que haja pedido formulado pelos interessados.
Caso o ausente tenha deixado representantes ou procurador, será aberta a sucessão provisória
após o prazo de 3 anos.
Os interessados para requerer a sucessão provisória são:
i) o cônjuge não separado judicialmente (inclui-se o companheiro);
ii) os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
iii) os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte (ex.: legatários);
iv) os credores de obrigações vencidas e não pagas.
Segundo o art. 745, §2º, do NCPC diz que o interessado, ao requerer a abertura da sucessão
provisória, pedirá a citação pessoal dos herdeiros presentes, a citação pessoal do curador e a
citação por edital dos herdeiros ausentes, a fim de que venham a requerer habilitação.
A sentença da abertura da sucessão provisória só produzirá efeito 180 dias depois de publicada
pela imprensa. Após, transita em julgado.
Logo que transite em julgado, será possível a abertura de eventual testamento, e ao inventário
e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.
Se for o caso, antes mesmo da partilha, o magistrado poderá determinar que certos bens sejam
vendidos. Isto é, o art. 29 do CC diz que, antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente,
ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em
títulos garantidos pela União.
O Código Civil exige que os herdeiros, que vão entrar na posse dos bens, prestem garantia para
que sejam imitidos na posse desses bens, seja por meio de penhor ou hipoteca, devendo ser
tais valores no montante dos quinhões a que deverão receber.
O art. 31 do CC diz que, em relação aos bens imóveis do ausente, serão, como regra, inalienáveis,
até que haja a divisão e partilha desses bens. Aquele que tiver direito à posse provisória, mas
não puder prestar a garantia, será excluído, ou seja, não será imitido na posse, mantendo-se
sob a administração do curador, ou sob a administração de outro herdeiro designado pelo juiz,
e que preste essa garantia.
Quem está dispensado de prestar garantia? Cônjuge, ascendente e descendente.
Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o
ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem
movidas.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Cabe ressaltar que o art. 1.571, §1º, trata da morte por ausência e fala que ela põe fim ao
casamento. O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio,
aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
IV. Comoriência
Segundo o art. 8 do CC, se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão
simultaneamente mortos.
Perceba que duas pessoas tenham morrido na mesma ocasião, não se exigindo que
tenham morrido no mesmo lugar. Nesse caso, considera-se que morreram ao mesmo tempo.
A importância disso é para fins sucessórios, bastando pensar que se João for casado com
Maria, e não tendo eles filhos, há um irmão de João e uma irmã de Maria. Caso ambos João e
Maria venham a falecer, metade dos bens vai para o irmão de João e a outra metade para irmã de
Maria.
Se não houvesse comoriência, supondo que João morresse depois de Maria, ela teria
morrido e João herdaria os bens de Maria. Após, João morreria meia hora depois, herdando a
totalidade da herança o irmão de João.
Esta presunção de morte simultânea é relativa, podendo ser afastada por um laudo
médico.
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Direitos da Personalidade
A IV Jornada de Direito Civil trouxe o Enunciado 274, o qual estabelece que os direitos da
personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula
geral da tutela da pessoa humana, constante do art. 1º, III, da Constituição.
Maria Helena Diniz estabelece que direitos da personalidade são direitos subjetivos da
pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja:
1. Sua integridade física (vida, alimentos, próprio corpo, seja vivo seja morto, o corpo alheio,
as partes separadas do corpo vivo ou morto)
• Sua integridade intelectual (liberdade de pensamento, autoria científica, artística literária, etc.)
• Sua integridade moral (honra, segredo pessoal, segredo profissional, imagem, identidade
pessoal, familiar, social, etc.)
Todavia, o Código Civil não reconhece a possibilidade de que as pessoas jurídicas sejam
titulares de direitos da personalidade, tendo em vista que foi deferido a elas apenas a proteção
dos direitos da personalidade, no que couber (MPDFT).
Com base nisso, a Súmula 227 do STJ determinou que a pessoa jurídica pode sofrer dano
moral. O STJ já entendeu ser possível dano moral à PJ por protesto indevido de duplicata.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Por outro lado, pessoas jurídicas de direito público não poderão sofrer danos morais,
apesar de também serem passíveis de proteção dos direitos da personalidade.
• Direito ao esquecimento:
Foi reconhecido no Enunciado 531 do CJF, estabelecendo que a tutela da dignidade da pessoa
humana, na sociedade da informação, inclui o direito ao esquecimento. Na jurisprudência do STJ,
ganha destaque a decisão dada no REsp 1334097-RJ, o qual reconheceu o direito ao
esquecimento de um homem que havia sido inocentado da acusação de ter se envolvido na
chacina da candelária. Ele foi retratado pelo programa “Linha Direta”, quando já estaria
absolvido.
• Direito de não saber:
Este direito é uma novidade. O direito de não saber é um direito distinto do direito à privacidade.
Na verdade, o direito de não saber só terá efeito se houver uma manifestação expressa da
preferência de não saber. E mesmo havendo a manifestação expressa, encontrará limites para o
exercício do direito de não saber, isto é, é a probabilidade de, em não sabendo isso, violar o
direito de outras pessoas.
Ex.: o STJ entendeu que o portador do vírus HIV não tem direito a não saber que é portador do
vírus. Neste caso, a questão do direito de não saber encontra obstáculo que ele não consegue
transpor, que é a probabilidade de prejudicar o direito de outras pessoas, como a integridade
física.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
§2º do art. 489 do NCPC diz que no caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e
os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência
na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão.
Na sua obra, Alexy, visando a ponderação, parte de algumas premissas para que o
sopesamento seja possível:
• Na colisão entre princípios, há restrições recíprocas. Alexy faz uma diferenciação de colisão
entre regras e colisão entre princípios. Se a colisão for entre regras, uma delas deverá ser
retirada. Sendo uma colisão entre princípios, haverá uma ponderação, ou seja, um deles cederá
de alguma forma para que o outro também seja exercido.
Fredie Didier Jr. discorda dessa opinião, pois se encontra respaldado pelo professor Humberto
Ávila.
• Neste caso, o aplicador do direito aplica a técnica da ponderação, fazendo o sopesamento. Isso
porque os direitos fundamentais trazem mandados de otimização, e como o conflito é entre
princípios, é necessário fazer o sopesamento. É, em verdade, a aplicação da máxima da
proporcionalidade.
• A pesagem feita pelo aplicador do direito deve ser fundamentada em uma argumentação que
convença. O juiz, ao aplicar a técnica da ponderação, deverá resultar numa fundamentação
idônea, ou seja, de possível conclusão e de forma que seja justa.
Didier discorda da necessidade dessa colisão ser apenas entre princípios, pois, para ele, no
caso de colisão entre regras poderia também solucionar pela técnica da ponderação, como forma
de alcançar uma decisão mais justa.
• Intransmissíveis
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
• Irrenunciáveis
• Extrapatrimoniais
• Vitalícios
• Inatos
• Absolutos
• Indisponíveis
• Imprescritíveis
• Impenhoráveis
O art. 11 do CC já traz a hipótese de que, com exceção dos casos previstos em lei, os direitos
da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer
limitação voluntária.
E portanto pela redação do CC, o exercício do direito fundamental não pode sofrer
limitação voluntária. Mas há a relativização desse caráter ilimitado e absoluto do direito da
personalidade.
O Enunciado 4 do CJF diz que o exercício dos direitos da personalidade podem sofrer
limitação voluntária, mas desde que esta limitação não seja permanente e nem geral. Isto
justifica o Big Brother.
O Enunciado 139 do CJF diz que os direitos da personalidade podem sofrer limitações,
ainda que não expressamente previstas em lei, não podendo ser exercido com abuso de direito,
pois violaria a boa-fé e os bons costumes.
permanente.
O art. 12, caput, do CC, traz a tutela geral da personalidade, estabelecendo que é possível
exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos,
sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
E portanto o que há aqui são dois princípios: princípio da prevenção (visa evitar que o
dano ocorra) e o princípio da reparação integral dos danos (visa reparar o dano ocorrido).
Nesta mesma linha, a súmula 403 do STJ estabelece que independe de prova de prejuízo
a publicação não autorizada, para fins de indenização, da imagem da pessoa com fins
econômicos ou comerciais. Mesmo que não tenha prejuízo, havendo a disposição da imagem para
fins comerciais, terá direito à indenização.
A reparação de eventual dano moral poderá ser perseguida pelo cônjuge, ou qualquer
parente em linha reta, ou colateral até o 4º grau. Em tais casos, o que há é um dano indireto, ou
seja, atinge o morto, mas repercute em seus familiares. Portanto, os familiares, quando buscam a
reparação, agem em direito próprio.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
O art. 20, parágrafo único, trata de um caso específico, que é o caso de lesão à imagem do
morto, estabelecendo também a possibilidade de legitimação dos lesados indiretos pelo dano
em ricochete.
Todavia, há uma diferença. Quando se trata de lesão à imagem do morto ou ausente, serão
partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
Perceba, o dispositivo relacionado à imagem não fala dos colaterais até o 4º grau.
Todavia, caso estes sujeitos sofram dano moral em ricochete, nada impede que ingressem com a
ação.
O art. 13 trata do direito de disposição de partes separadas do próprio corpo para fins de
transplante.
Segundo o art. 13, salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons
costumes.
O parágrafo único diz que o ato previsto neste artigo será admitido para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Veja, o Código estabelece que essa disposição do corpo de forma permanente é vedada,
salvo se existir uma exigência médica nesse sentido. Caso não exista exigência médica, não há de
que se falar em disposição de parte do corpo vivo de forma permanente, salvo para fins de
transplante.
Existem ações que pleiteiam a alteração do nome do transexual, mas sem a necessidade
de cirurgia de adequação do sexo. Neste caso, o Poder Judiciário, em consonância com a I Jornada
de Direito da Saúde, promovida pelo CNJ, estabelece que quando comprovado o desejo de viver
e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, resultando na incongruência entre a identidade
determinada pela anatomia e a identidade sentida, a cirurgia de transgenitalização passa a ser
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
A IV Jornada de Direito Civil trouxe o Enunciado 376 que diz: O art. 13 do CC, ao permitir a
disposição do próprio corpo por exigência médica autoriza a cirurgia de transgenitalização, e como
consequência autoriza a alteração do prenome e do sexo no registro civil.
Segundo o art. 14, é válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do
próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
A disposição de órgão para depois da morte é plenamente possível, porém esta disposição
do próprio corpo pode ser revogada a qualquer momento.
O art. 4º da Lei 9.434/97 estabelece que a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo
de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização
do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o
segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à
verificação da morte.
Ou seja, a retirada de órgãos pós mortem deverá ser precedida de diagnóstico de morte
encefálica, e depende de autorização de parente maior, na linha reta ou colateral até o 2º grau,
ou do cônjuge sobrevivente.
Perceba que há uma aparente incongruência, visto que o código diz que a pessoa pode
dispor de parte do seu corpo, podendo inclusive revogar esta autorização. No entanto, a Lei
9.434/97 diz que se for morte encefálica, os parentes são quem vão dizer se irão dispor dos órgãos
do parente morto.
Segundo o art. 15, ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Flávio Tartuce exemplifica o caso em que um paciente está à beira da morte. Neste caso, é
necessária cirurgia, mas esta intervenção é de alto risco. A intervenção, neste caso, deverá
ocorrer, sob pena de responsabilização do médico. Isso porque, o fato do art. 15 trazer tal regra,
não pode permitir uma conclusão que sacrifique a própria vida.
Um hard case trazido por Tartuce é aquele em que um sujeito, à beira da morte, com
cirurgia de alto risco, mas por convicções religiosas se nega a intervenção cirúrgica. Aqui há
alguma divergência doutrinária no sentido de ser possível ou não a intervenção médica.
Tartuce entende que em casos de urgência, deverá haver intervenção cirúrgica, visto que
o direito à vida demandaria maior proteção do que o direito à liberdade religiosa. Mas isto não é
pacífico. A despeito disso, a jurisprudência dominante entende no mesmo sentido do que Tartuce.
Ou seja, havendo risco do sujeito, deverá prevalecer o direito à vida.
O enunciado vai além, dizendo que esta liberdade de crença vai prevalecer, desde que
observados os seguintes critérios:
A VI Jornada de Direito Civil aprovou o Enunciado 533, dizendo que o paciente plenamente
capaz pode deliberar sobre todos os aspectos concernentes ao tratamento médico que possa lhe
causar algum risco de vida, seja imediato ou mediato, salvo as situações de emergências no curso
de procedimentos médico e cirúrgicos que não possam ser interrompidos.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Veja, no meio da cirurgia não é possível exigir que, caso tenha havido uma complicação,
sendo necessária, por exemplo, uma transfusão de sangue, seja exigida a autorização do paciente.
A proteção de todos esses elementos constam do art. 17, o qual diz que o nome da pessoa
não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao
desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
Havendo a exposição do nome da pessoa ao desprezo público, ainda que não haja a
intenção difamatória, haverá ato ilícito.
O nome também não poderá ser utilizado, sem autorização, em propaganda comercial
(art. 18).
Veja, se o nome foi utilizado não para expor a desprezo público, e sim como enaltecimento
da pessoa, mas na hipótese tenha havido intenção comercial ou para fins de propaganda, também
deverá indenizar, pois seria imprescindível autorização.
Apesar da falta de proteção legal, deve-se concluir que esta proteção também deve ser
estendida ao apelido, o qual na verdade é denominado de cognome, nome artístico de alguém
ou alcunha.
A Lei de Registros Públicos, que é a Lei 6.015/73, no art. 58 diz que o prenome será
definitivo, mas a própria lei traz exceções, admitindo-se a sua substituição por apelidos públicos
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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notórios.
Ex.: no interior é muito comum o pai registrar a filha como Maria, mas a mãe queria chamar
ela de Joana e nunca chama ela de Maria. Ela cresce sendo chamada de Joana pela cidade inteira.
Nesse caso, cabe a substituição do prenome, pois é público e notório, através do qual ela é
conhecida.
• Adequação de sexo
• Introdução de alcunha.
O art. 56 fixa um prazo decadencial para que o nome do interessa possa ser alterado. E
isso desde que não prejudique apelidos de família.
Este prazo decadencial, o qual estabelece que, no primeiro ano após ter atingido a
maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador, alterar o nome, desde que não
prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O STJ entende que este prazo decadencial não é absoluto, podendo ser alterado mesmo
após o esgotamento do prazo de 1 ano após a maioridade, desde que haja motivação idônea.
Perceba que o art. 20 diz que a exploração de uma imagem de uma pessoa poderá ser
barrada por ela, inclusive poderá implicar indenização por danos morais.
Ordem pública e administração da justiça são cláusulas gerais, ou seja, será o juiz quem vai
dizer no caso concreto se estas permitem a divulgação dessa imagem ou da pessoa sem a sua
autorização. Basta pensar nos crimes de envolvimento de políticos.
• imagem-atributo: é a sua qualificação, sendo a imagem pela qual as pessoas lhe julgam.
A proteção à imagem não pode ser, e não é, uma proteção absoluta, devendo ser
ponderada com o direito à informação e com a liberdade de imprensa.
Se houver uma colisão entre direito da imagem e direito à liberdade de imprensa, tem-se
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
que levar em conta a notoriedade do retratado, notoriedade dos fatos, a veracidade dos fatos, e
ainda as características de sua utilização.
Perceba que entre o direito à informação e o direito à imagem, é necessário ponderar qual
prevalecerá, considerando qual é o fato, a pessoa e se o fato é verídico.
O direito brasileiro não admite o hate speech, que são as manifestações de ódio, despreza,
intolerância, sendo possíveis nos EUA. Dessa forma, o STF adotou essa corrente de proibição do
hate speech, sustentando que deve haver limitações ao direito de liberdade de expressão.
O STJ diz que, se houver dano, para verificar a gravidade do dano, sofrido pela imagem
da pessoa que não autorizou, deverão ser analisadas alguns pontos:
• qual é a natureza e o grau da repercussão do meio pelo qual se dá a divulgação. Uma coisa é o
amigo publicar na página do facebook, outra coisa é sair na Folha de São Paulo.
• deve entender qual é o direito de informar como uma garantia que deve ser exercida. Nesse
sentido, há alguns critérios que devem ser levados em consideração: i) qual é o grau de utilidade
para o público do fato informado; ii) qual é o grau de atualidade da imagem (verificar sobre o
direito ao esquecimento); iii) qual é o grau de necessidade de veiculação daquela imagem para
veicular o fato; iv) qual é o grau de preservação do contexto em que a imagem foi colhida (ex.:
imagem contextualizada de maneira imprópria).
O STF, por unanimidade, julgou procedente uma ADI, para dar interpretação conforme à
Constituição aos arts. 19 e 20 do Código Civil, sem redução de texto.
O STF declarou inexigível o consentimento da pessoa biografada. Ou seja, ela não tem
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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que autorizar para ser biografada. É igualmente desnecessária a autorização das pessoas que
sejam coadjuvantes na biografia, bem como aquelas que tenham morrido, mas que foram
mencionadas.
É simples: pode publicar a biografia sem autorização, mas caso seja aplicado ato ilícito,
deverá reparar o dano por meio de indenização.
O Código Civil tutela o direito à intimidade, prescrevendo no art. 21 que a vida privada da
pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Bens.
a) Conceito
Portanto, bem é uma coisa que proporciona ao homem uma utilidade, sendo suscetível de
apropriação. O ar não é bem, pois apesar da utilidade, não é suscetível de apropriação.
b) Patrimônio mínimo
A tese do patrimônio mínimo foi desenvolvida pelo ministro Luiz Edson Fachin, em uma
obra em que ele aponta uma tendência, que é a repersonalização do direito civil, situação na qual
o direito civil retira os olhos do patrimônio, colocando-os sobre a pessoa.
A tese pode ser resumida da seguinte forma: deve-se assegurar a uma pessoa o mínimo
de direitos patrimoniais, a fim de que esta pessoa viva com dignidade.
A aplicação dessa teoria é verificada no art. 548 do Código Civil, o qual estabelece que é
nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência
do doador. Portanto, este artigo consagra a nulidade da doação universal, visto que é preciso de
um mínimo de patrimônio para garantir a vida digna da pessoa.
O art. 928, parágrafo único, estabelece, ao tratar da indenização contra o incapaz, que o
valor indenizatório que o incapaz será responsabilizado será fixado pelo juiz com equidade, para
não privar o incapaz e seus dependentes do mínimo para viver com dignidade.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Nesse caminho, o STJ consolidou o entendimento de que o imóvel de que pessoa solteira
reside, seja viúva, divorciada ou separada, constitui bem de família, sendo portanto
impenhorável, conforme Súmula 364 do STJ.
Ou seja, se a família mora nos fundos e na frente funciona uma padaria, onde o pai
trabalha lá, a mãe fica no caixa e o filho na confeitaria, aquele bem será impenhorável, pois eles
mesmos moram lá, pouco importando que o registro consta no nome da sociedade.
i. Quanto à tangibilidade
b. bens corpóreos: tem existência corpórea e são materiais. Ex.: casa e carro.
• bens incorpóreos: tem existência abstrata. Ex.: direito de autor, propriedade industrial,
fundo empresarial.
• bens imóveis: não podem ser removidos sem a sua deterioração ou destruição. Podem
ser subdivididos em:
o por natureza: são formados pelo solo e tudo aquilo que se incorporar a ele de
forma natural. Abrange o solo, subsolo, superfície, espaço aéreo e tudo que lhe
for incorporado. Ex.: árvore que é incorporada naturalmente.
o por acessão física intelectual: tudo que for empregado intencionalmente para
o por disposição legal: são bens considerados imóveis pela lei, a fim de dar maior
proteção jurídica, tais como: o direito à sucessão aberta, direitos reais sobre
imóveis (hipoteca) e penhor agrícola, excepcionalmente.
• bens móveis: são aqueles que podem ser transportados sem deterioração ou
destruição, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social daquele
bem, podendo ser transportados por força própria ou de terceiros. Os bens móveis
poderão ser subclassificados por:
o por natureza: são aqueles que podem ser transportados sem qualquer dano,
o por antecipação: são os bens que eram imóveis, mas que foram mobilizados
por uma atividade humana. Ex.: colheita de uma plantação. Todo ano o
fazendeiro semeia para colher. Trata-se de um bem móvel por antecipação.
o por determinação legal: a lei estabelece que o bem é móvel, conforme art.
Ações e direitos que recaem sobre bens móveis são bens móveis. Ex.: penhor, assim como
a energia, direitos pessoais de caráter patrimonial é bem móvel, etc.
Flávio Tartuce considera que são bens imóveis especiais ou bens móveis sui generis. Isso
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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porque apesar de serem móveis, são tratados como imóveis pela lei, visto que exige um registro
especial deles e admite a instituição de hipoteca.
Logo, pelo princípio de que o acessório segue o principal, a hipoteca, que é direito real de
garantia, é bem móvel ou imóvel?
Recaindo sobre um bem imóvel, será a hipoteca bem imóvel, pois o acessório segue o
principal. Caso o direito real de garantia recai sobre bem móvel, será também considerado bem
móvel. Ou seja, a hipoteca poderá ser um bem móvel ou imóvel, a depender de qual bem ela
garante.
• bens infungíveis: não podem ser substituído por outro da mesma espécie, qualidade ou
quantidade. O automóvel é um bem móvel, mas também é infungível. Isso porque o
carro tem chassi.
• bens fungíveis: podem ser substituídos. São aqueles que podem ser substituído por
outro da mesma espécie, qualidade ou quantidade.
• bens consumível: são bens móveis cujo uso importa a sua destruição imediata e os bens
destinados à alienação. Ex.: sanduíche gera consuntibilidade física. Carro possui uma
consuntibilidade jurídica.
• bens inconsumível: são aqueles bens que permitem a sua reiterada utilização sem que
haja a sua destruição (inconsuntibilidade física), bem como aqueles que são inalienáveis
(inconsuntibilidade jurídica).
• bens divisíveis: são aqueles que podem partir em porções reais e distintas, formando
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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cada uma um todo perfeito. O art. 87 explica que os bens divisíveis são os que se podem
fracionar sem alteração na sua substância (aspecto físico), sem diminuição considerável
de valor (aspecto econômico), ou sem prejuízo do uso a que se destinam (aspecto
funcional). Ex.: sacas de cereais são bens divisíveis.
• bens indivisíveis: são aqueles bens que não podem ser partilhados, pois, do contrário,
deixa de ser um todo perfeito, gerando a desvalorização do bem ou mesmo a perda das
qualidades essenciais desse todo. Ex.: diamante de 5 quilates vale muito mais do que
dividir o bem em 5 partes de 1 quilate cada. Portanto, é indivisível, pois há uma perda
substancial do seu valor. A indivisibilidade pode decorrer da natureza do bem, de
imposição legal ou mesmo da vontade do seu proprietário. Há uma indivisibilidade
natural em relação à casa, assim como o relógio de pulso. A herança, segundo a lei, é
bem indivisível até que ocorra a partilha. A indivisibilidade convencional pode ocorrer
quando dois proprietários de um boi convencionarem que aquele animal não vai ser
morto para vender a carne, mas tão somente para reprodução.
• bens singulares (individuais): são bens individuais, considerados de per si. Ex.: livro, boi,
etc.
• bens universais: são bens que se encontram agregados a um todo, constituído por várias
coisas singulares, mas considerados em seu conjunto, formando um todo
individualizado. Essa união poderá ser fática ou mesmo jurídica.
o universalidade de fato: ocorre quando essa ligação é feita pela vontade humana.
Esses bens que formam esta universalidade podem formar relações jurídicas
próprias. Ex.: biblioteca pode ser vendida inteira, tendo um valor próprio, como a
obra completa de Machado de Assis.
o universalidade de direito: essa unidade individualizada é dada pela lei, sendo uma
ficção legal. O art. 91 diz que há universalidade de direito quando se tem um
complexo de relações jurídicas de uma pessoa dotada de valor econômico. Ex.:
patrimônio, massa falida.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Patrimônio é conceituado por Cristiano Chaves como sendo complexo de relações jurídicas
apreciáveis economicamente (credor x devedor x credor).
• bem principal: são aqueles que existem de forma autônoma e independente, não
dependendo de qualquer outro objeto.
• bem acessório: são aqueles bens que a existência e finalidade dependem de outro bem,
que é denominado principal. O acessório segue o principal, conforme o princípio da
gravitação jurídica.
• Frutos: Os frutos têm origem no bem principal, mas mantêm a integridade deste último,
sem diminuir a substância ou quantidade. Classificam-se como:
o frutos naturais: ex.: frutos de uma árvore, mas mantém a inteireza da coisa principal,
no caso a árvore;
o frutos industriais: decorrendo de uma atividade humana. Ex.: saco de balinhas feita
por uma fábrica;
Quanto ao estado que normalmente se encontram os frutos, podem ser classificados em:
o frutos pendentes: são os frutos que ainda não foram colhidos. Ex.: fruta que está na
árvore.
o frutos estantes: são os frutos que já foram colhidos e já estão armazenados. Ex.:
maçãs colhidas e que estão armazenadas.
o frutos percipiendos: são os frutos que deveriam ter sido colhidos, mas não foram.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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o frutos consumidos: são os frutos que foram colhidos e não existem mais, pois foram
consumidos.
• Produtos: Produtos são bens acessórios que saem da coisa principal, diminuindo a sua
quantidade e substância. Neste ponto difere do fruto, pois este sai da coisa principal,
mas não diminui a sua substância ou quantidade. Ex.: pepita de ouro retirado de uma
mina. Explora-se a mina até que acabará o ouro.
Este dispositivo afirma que são pertenças os bens que, não constituindo partes
integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.
Há um bem que vai servir outro bem, de forma permanente, mas não sendo parte
integrante deste bem. A pertença não perde a sua individualidade, pois é um bem que serve outro
bem. A doutrina traz um exemplo que esclarecedor. Ex.: em uma fazenda, o sujeito compra uma
caminhonete para utilizar dentro da fazenda. Este bem é uma pertença, pois é destinado a servir
um bem principal, que é um imóvel, não perdendo a sua individualidade e não é parte integrante
deste bem.
Pertença são todos os bens móveis que o proprietário intencionalmente emprega na
exploração industrial de um imóvel ou na sua comodidade. Por isso, as pertenças se classificam
como essenciais, fundamentais ou não essenciais.
O art. 94 diz que os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não
abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso. Veja que, apesar de ser acessória, a pertença não segue o principal, via de
regra.
Tartuce sustenta que os bens imóveis por acessão intelectual não desapareceram com o
CC/02, pois eles seriam as pertenças.
• Partes integrantes: Partes integrantes são bens acessórios que estão unidos ao bem
principal, formando um todo independente. Ex.: lâmpada que se coloca no lustre, assim
como a lente que se coloca na câmera, formando um todo independente.
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o benfeitorias voluptuárias: são benfeitorias para mero deleite. Ex.: piscina numa casa.
Não se pode confundir benfeitorias com acessões, eis que as primeiras são melhorias
e as últimas são incorporações.
• bens públicos: pertencem a pessoa jurídica de direito público interno. Os bens públicos
podem ser classificados em diferentes tipos:
o bens de uso geral (ou de uso comum do povo): são aqueles necessários ao uso geral
do povo, sem a necessidade de uma permissão especial. Ex.: praças e ruas, ainda que
cobre pedágio.
o bens de uso especial: são bens ou terrenos que são utilizados pelo próprio estado
para execução de um serviço público especial. Isto é, há uma destinação especial
àquele bem, denominado de afetação. Ex.: repartições públicas, sede da prefeitura,
etc.
o bens públicos dominicais: são bens que fazem parte de um patrimônio disponível da
pessoa jurídica de direito público. Ex.: terras devolutas, pois não têm uma destinação
específica. Os bens dominicais podem ser convertidos em bem de uso comum ou
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Os bens de uso comum e de uso especial são inalienáveis, enquanto os bens dominicais
são alienáveis. Mas esta inalienabilidade não é absoluta, podendo perdê-la, desde que haja
desafetação, ou seja, que mude a destinação do bem.
Na afetação, o bem dominial passa a ser afetado a uma função. Ex.: terreno vazio passou
a ser a sede da prefeitura. Na desafetação, há a mudança da destinação do bem para a categoria
de bens dominicais. Ou seja, passam a fazer parte do patrimônio disponível da pessoa jurídica de
direito público, podendo ser alienado. Os bens públicos podem ou não ser alienáveis, a depender
da destinação ou não do bem, se há afetação ou não.
Seja qual for a espécie de bem público, nenhum deles está sujeito a usucapião.
Para muitos doutrinadores está superada a dicotomia: bem público e bem privado. Para
eles, haveria agora uma tricotomia, trazendo o denominado bem difuso. Ex.: bem ambiental seria
bem difuso. Esta superação, e a visualização do bem difuso, é a melhor concepção civil
constitucional, como é o caso do meio ambiente, em que se considera que tal bem é da
coletividade.
Res nullius são as coisas que não têm dono, ou seja, coisas de ninguém. Por uma questão
lógica, estas coisas só podem ser bens móveis, pois se o bem imóvel não pertence a qualquer
pessoa, ele pertence ao Estado. Exemplo disso são as terras devolutas.
O bem de família é voluntário ou convencional quando pode ser instituído por alguém:
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Eduardo Defaveri
• pelos cônjuges
• por um terceiro
O bem de família convencional não revoga o bem de família legal, podendo inclusive
conviverem.
Para que seja bem de família convencional, é necessário que o bem seja:
• imóvel
A instituição do bem de família convencional deve ser feita por escrito, registrada no
cartório de registro de imóveis, no local em que o imóvel está situado. Esta instituição se dará por
escritura pública ou testamento.
• inalienabilidade do imóvel
• impenhorabilidade do imóvel
O art. 1.715, p.ú., diz que no caso de execução dessas dívidas, o saldo existente será
aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento
familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz.
O art. 1.722 diz que se extingue, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os
cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.
Esta extinção não impede a aplicação da proteção do bem de família legal, constante da
Lei 8.009/90.
O art. 1º da Lei 8.009/90 diz que o imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade
familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam
seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
A Súmula 205 do STJ diz que a Lei 8.009/90 tem eficácia retroativa, atingindo esta
impenhorabilidade de dívidas anteriores ao advento da lei. Trata-se de uma retroatividade
motivada ou justificada, em prol de normas de ordem pública.
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Eduardo Defaveri
O bem de família é irrenunciável, e o seu oferecimento à penhora não o torna bem sujeito
à constrição.
O STJ entende que, no caso de locação do bem, se esta renda é utilizada para manutenção
daquela família, ou para locação de outro imóvel em que esta família viva, a proteção do bem de
família permanece. Trata-se do bem de família indireto. Este inclusive é o teor da Súmula 486 do
STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde
que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.
Do mesmo modo, o STJ entendeu que, se o executado possui um único imóvel residencial,
mas quem mora nele é um parente (ex: filho), mesmo assim esse imóvel será considerado como
bem de família, sendo impenhorável. Em outras palavras, constitui bem de família, insuscetível
de penhora, o único imóvel residencial do devedor em que resida seu familiar, ainda que o
proprietário nele não habite (Inf. 543).
No caso da família não ter imóvel próprio, a impenhorabilidade recai sobre os bens
móveis quitados, que guarnecem a residência e sejam de propriedade do locatário.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela
entidade familiar. Esta exceção só se aplica se a hipoteca foi constituída por ambos os
cônjuges ou de toda a entidade familiar. O fato de a hipoteca não ter sido registrada não
pode ser utilizado como argumento pelo devedor para evitar a penhora do bem de
família, pois o registro não é necessário (Inf. 585, STJ).
• Imóvel ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
O STJ, em sede de recursos repetitivos, disse que é legítima a penhora do bem de família
pertencente a fiador em contrato de locação. Em outubro de 2015, o STJ sedimentou este
entendimento, inclusive trazendo a Súmula 549, a qual afirma que é válida a penhora de bem de
família pertencente a fiador de contrato de locação.
Além disso, o STJ entendeu que o rol das exceções do bem de família é meramente
exemplificativo. O STJ diz que a proteção da impenhorabilidade não pode prevalecer nos casos
em que o devedor age de má-fé.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Domicílio
Domicílio é o local em que a pessoa pode ser sujeito de direitos e deveres na ordem
privada. É o local onde poderá ser cobrada ou cobrar direitos e deveres na ordem jurídica.
Domicílio é o local da sua residência. Há quem diga que domicílio é residência com ânimo
definitivo. O domicílio eleitoral é mais amplo do que o domicílio civil.
O art. 71 vai dizer que é possível a pluralidade de domicílios, ou seja, a pessoa poderá ter
duas ou mais residências, o qual ela viva alternadamente, considerando-se domicílio seu
qualquer delas.
O art. 72 do CC diz que o local em que a pessoa exercitar profissão também é domicílio
da pessoa natural, também sendo permitido a pluralidade domiciliar. Neste caso, se a pessoa
exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que
lhe corresponderem.
Essa intenção é vislumbrada por meio das declarações da pessoa à municipalidade, tanto
de onde ela está saindo como onde ela está indo morar. Ex.: alteração do domicílio eleitoral é
exemplo de intenção manifesta de se mudar.
O art. 73 do CC fala que a pessoa natural, se não tiver residência habitual, será o domicílio
em que ela for encontrada. Ex.: ciganos, peregrinos, circenses, etc.
I. Classificação do domicílio
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• domicílio necessário (ou legal): é o domicílio imposto pela lei. Não exclui o domicílio
voluntário.
• domicílio contratual (convencional): o art. 78 diz que, nos contratos escritos, poderão
os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e
obrigações deles resultantes. Nos contratos é possível eleger um domicílio. O foro
competente para divergir sobre eventual divergência será aquele eleito. Denomina-se
cláusula de eleição de foro.
Pessoa Jurídica
I. Introdução e conceito
A pessoa jurídica pode ser conceituada como um conjunto de pessoas, se for uma
corporação, ou conjunto de bens, que adquirem uma personalidade jurídica, a partir de uma
ficção legal.
O Código Civil adotou a teoria da realidade técnica, eis que se trata da somatória de outras
duas outras teorias: teoria da ficção (Savigny) e da teoria da realidade orgânica (Otto Gierke).
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Sustentava que a pessoa jurídica seria um sujeito com existência ideal, ou seja, fruto da
técnica jurídica. As pessoas jurídicas seriam pessoas por ficção legal, uma vez que somente os
sujeitos dotados de vontade poderiam por si mesmos titularizar direitos subjetivos. A pessoa jurídica
não teria uma função social, teria uma existência abstrata, ideal.
A crítica recai no fato de negar a atuação social da pessoa jurídica, ela participa de
relações sociais, esta teoria é extremamente abstrata, demais. A pessoa jurídica integra as relações
sociais. Como reconhecer à ficção, mero artifício, a natureza de um ente que tem indiscutível
existência real? Se a PJ é uma criação de lei, mera abstração, quem haveria criado o Estado, PJ de
direito público por excelência?
• Teoria da realidade objetiva ou organicista (Clóvis Beviláqua):
É o contraponto da teoria da ficção. Para ela, a pessoa jurídica não seria fruto da técnica
jurídica, mas sim um organismo social vivo. Para este pensamento a pessoa jurídica teria uma
atuação social, sendo um organismo social vivo.
A crítica recai no fato de o erro não reconhecer a atuação social. O erro é dizer que a PJ é
criada pela sociologia e não pelo direito.
• Teoria da realidade técnica (Ferrara):
Aproveitando elementos das duas correntes anteriores, é mais equilibrada. Afirma que
a pessoa jurídica teria existência real, não obstante a sua personalidade ser conferida pelo direito.
Posto a pessoa jurídica seja personificada pelo direito, tem a atuação social na condição de sujeito
de direito. Sem olvidar que a personalidade jurídica é concedida pelo direito, ela tem função social.
• Pessoa jurídica estrangeira: é formada em outro país e para funcionar no Brasil precisará
de autorização do Poder Executivo.
• Pessoas jurídicas de direito privado: são instituídas pela vontade dos particulares,
podendo ser divididas em:
o Fundações;
o Associações;
o Partidos políticos;
o Entidades religiosas;
o EIRELI;
O art. 44, §1º, do Código Civil traz um rol das pessoas jurídicas de direito privado:
• Associações;
• Sociedades;
• Fundações;
• Organizações religiosas;
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
• Partidos políticos;
• EIRELI;
Há que se destacar um Enunciado, o qual diz que a relação entre as pessoas jurídicas
constantes do art. 44 não é exaustivo.
Tartuce diz que este enunciado abre a possibilidade para afirmar que o condomínio edilício
tem personalidade jurídica. Frise-se que existe esta discussão doutrinária. A maioria entende que
o condomínio edilício não tem personalidade jurídica,
O parágrafo único estipula o prazo decadencial de 3 anos para anular a constituição das
pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação
de sua inscrição no registro.
As pessoas jurídicas devem ser representadas por uma pessoa natural, a qual
representará ativa ou passivamente. Em regra, essa pessoa virá mencionada no respectivo
estatuto.
Sendo o Estatuto omisso, a pessoa jurídica será representada pelos seus próprios
diretores. Veja, os atos praticados por tais pessoas vinculam a pessoa jurídica.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Aqui, é bom que se ressalte o Enunciado 145 que diz que o art. 47, que diz que os atos
vinculam a pessoa jurídica, não afasta a aplicação da teoria da aparência, no caso de
responsabilização do sócio, praticados em nome da pessoa jurídica.
O fato do ato praticado ser do sócio, diretor ou administrador vincular a pessoa jurídica,
não afasta a aplicação da teoria da aparência. Isso significa dizer que é possível aplicar a teoria da
desconsideração da personalidade jurídica, caso o sócio tenha abusado, a fim de que ele
responda pelos seus atos.
Tomada a decisão, o prazo para anular essa deliberação será de 3 anos, quando violarem
a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.
Para Tartuce, a sociedade irregular se diferencia da sociedade de fato. Aquela tem contrato
social, mas não foi registrado. Enquanto a sociedade de fato é aquela que não tem contrato social.
a) Associações
O art. 53 diz que se constituem as associações pela união de pessoas que se organizem
para fins não econômicos. Deve ser lido como não lucrativos.
O que há aqui é um conjunto de pessoas que se destinem a fins não lucrativos. Isto não
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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significa que não possa ter lucro. Não poderá ser esta a finalidade da associação.
As associações podem desenvolver atividade econômica, desde que não exista finalidade
lucrativa. Ex.: clubes, etc.
Segundo o CC, não existe entre os associados direitos e obrigações recíprocos. Isso
porque não há intuito de lucro.
A diferença entre a associação e a sociedade é a de que aquela não tem fins lucrativos e a
sociedade sempre tem fins lucrativos.
O art. 54 traz os requisitos para uma associação, estabelecendo que, sob pena de
nulidade, o estatuto das associações conterá:
O art. 55 diz que deverão os associados ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir
categorias com vantagens especiais.
O art. 56 diz que a qualidade de associado é intransmissível, visto que se trata de um ato
personalíssimo, mas é possível que o estatuto disponha em sentido contrário.
A exclusão do associado só é possível se houver justa causa. Mesmo assim, é preciso que
a exclusão seja decorrente de um procedimento que assegure ampla defesa e recurso, nos
termos previstos no estatuto.
Só existem duas formas de obrigação do sujeito: uma por meio de lei outra por meio de
contrato. Caso o sujeito não tenha aderido, não poderá ser compelido a pagar a associação.
O art. 58 consagra que nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou
função que lhe tenha sido legitimamente conferido pela associação, a não ser nos casos previstos
na lei ou no estatuto.
• destituir os administradores
• alterar o estatuto
Ocorre que o artigo não diz qual é o quórum para instalação e nem o quórum para
deliberação para destituir administradores e alterar estatuto.
O art. 60 fala do quantum, mas é para outro caso. Este dispositivo estabelece que a
convocação dos órgãos deliberativos será na forma do estatuto, garantido a 1/5 dos associados
o direito de promover esta convocação.
Este art. 60 estipula 1/5 dos associados tem o direito de convocar órgão deliberativo.
Existe precedente do TJRS em que se considera nula a previsão no Estatuto que determina
que nos casos de dissolução da associação, o patrimônio vai ser rateado entre os associados, eis
que haveria um esbarrar na vedação de lucro. Bastaria pensar numa associação que cresceu
muito e que tenha um patrimônio de 100 milhões de reais com 100 associados.
b) Fundações
O art. 62 do CC diz que as fundações são criadas por escritura pública ou por testamento.
• elaboração de estatuto
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As fundações surgem com registro do seu estatuto no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
O parágrafo único do art. 62 diz que a fundação somente poderá constituir-se para fins
de:
• assistência social
• educação
• saúde
• atividades religiosas
O art. 64 do CC diz que constituída a fundação, num negócio jurídico entre vivos, o
instituidor é obrigado a transferir a fundação a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens
dotados. Caso não o faça, os bens serão registrados em nome da fundação por mandado judicial.
fundação funcionar em várias unidades da federação, caberá a atuação conjunta dos Ministérios
Públicos de todos os estados envolvidos. Se funcionarem no Distrito Federal ou em Território,
caberá o encargo ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
Atente-se que esta dissolução poderá ocorrer na seara administrativa, isto é, feita pelo
Ministério Público. Nestes casos, os bens que pertencem à fundação serão destinados a uma
outra fundação que desempenhe atividade semelhante, salvo se o estatuto tiver uma previsão
em sentido contrário.
c) Sociedades
Já foi dito que finalidade lucrativa distingue sociedade de associação, apesar de ambas
serem espécies de corporação.
O Enunciado 69 diz que sociedades cooperativas são sociedades simples, mas sujeitas à
inscrição na Junta Comercial.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• sociedade limitada
Ressalva-se que a sociedade anônima somente pode ser sociedade empresária, jamais
sociedade simples.
O Código Civil reserva às leis especiais o tratamento dos partidos políticos e das
organizações religiosas.
O poder público não pode negar reconhecimento dos atos constitutivos, desde que se trate
efetivamente de uma organização religiosa e preencha os requisitos.
Com relação aos partidos políticos, eles são organizados e funcionarão conforme disposto
em lei específica. Serão estudados em direito eleitoral.
A União deverá promover ação na capital em que tiver domicílio a outra parte. Ex.: João
mora em Curitiba, devendo a União promover ação em Curitiba.
• Distrito Federal
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O Município tem como domicílio o lugar em que funciona a sua administração, ou onde
funciona a sua prefeitura.
A pessoa jurídica de direito privado também tem domicílio, sendo esta a sua sede jurídica,
onde funcionam as suas diretorias e administrações. Ou seja, terá a pessoa jurídica domicílio no
lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio
especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
É possível que uma pessoa jurídica tenha diferentes domicílios. Trata-se de uma
pluralidade domiciliar.
• dissolução judicial
Não estando previsto no estatuto a destinação para qual entidade serão encaminhados
os bens, serão eles destinados a estabelecimento municipal, estadual ou federal, com finalidade
semelhante ao da associação que está sendo dissolvida naquele momento.
Por cláusula do estatuto, ou sendo ele silente, é possível que por deliberação dos sócios,
caso o estatuto seja omisso, ou se assim prever o estatuto, que antes da destinação do
remanescente, receba cada associado o respectivo valor da sua contribuição do patrimônio da
associação. Neste caso, não se está a promover o enriquecimento do associado.
b) Fundações
Em relação à extinção das fundações, existe uma norma específica, que é o art. 69.
Este dispositivo vai dizer que se tornar ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa
a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o Ministério Público, ou qualquer interessado,
vai promover a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato
constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual
ou semelhante
a) Introdução
A regra é que a pessoa jurídica tenha uma existência distinta da existência dos seus sócios.
Portanto, a regra é que a responsabilidade dos sócios, em relação às dívidas sociais, é uma
responsabilidade subsidiária, desde que o tipo societário permita isto.
Basta pensar que na sociedade limitada, se estiver com o capital social integralizado, não
haverá sequer responsabilidade subsidiária. Da mesma forma é com as quotas já integralizadas
pelos sócios da sociedade anônima.
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b) Conceito
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Todavia, o §5º estabelece que também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica
sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores. No mesmo sentido é o teor do art. 4 da Lei 9.605/98, o qual
estabelece que poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
Percebe-se que o Código Civil exija que exista desvio de finalidade ou confusão
patrimonial, além do próprio prejuízo ao credor. Este é a adoção da teoria maior, pois a
desconsideração exige o abuso da personalidade jurídica e o prejuízo ao credor. A teoria maior
exige que se demonstre a confusão patrimonial ou o desvio de finalidade.
Por essa razão, o STJ já decidiu também que o mero encerramento irregular da atividade
da empresa não tem o condão de, por si só, gerar a incidência da desconsideração da
personalidade jurídica, especialmente aquela prevista no Código Civil, que exige a fraude.
Para o CDC e a Lei de Crimes Ambientais, exige apenas o prejuízo ao credor, motivo pelo
qual adotou a teoria menor. Aqui, a desconsideração da personalidade jurídica exige apenas a
existência de prejuízo ao credor.
Caso muito comum são aqueles relacionados a dívidas de alimentos ou de divórcio. Nestas
situações, os sócios adquirem bens para si, mas com o patrimônio da sociedade e em nome dela,
a fim de que não tenha nada em seu nome. Eis a confusão patrimonial.
O Enunciado 283 diz que é cabível desconsideração da personalidade jurídica inversa para
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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alcançar bens do sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoas com
prejuízos a terceiros.
Ex.: ABC Móveis encerrou suas atividades. Passados dois meses, é inaugurada a loja DEF
Móveis, com os mesmos móveis, mas não com o nome do sócio devedor, mas com o nome da
filha. Na verdade, há uma empresa sucessora, situação na qual o credor poderá cobrar a DEF
Móveis.
A desconsideração da personalidade jurídica sempre foi viável, e isso antes mesmo dessa
previsão do NCPC.
Segundo o art. 14, a personalidade da pessoa jurídica poderá ser desconsiderada sempre
que for utilizada com abuso de direito para facilitar, para encobrir ou para dissimular a prática de
atos ilícitos previstos na Lei Anticorrupção, ou para provocar uma confusão patrimonial.
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Neste caso, serão estendidos todos os efeitos das sanções aplicadas àquela pessoa jurídica
aos seus administradores e sócios com poderes de administração.
No âmbito fiscal, o STJ entende que se presume dissolvida irregularmente a empresa que
deixar de funcionar no seu domicílio fiscal sem ter comunicada essa alteração de domicílio aos
órgãos competentes, legitimando-se, portanto, o redirecionamento da execução fiscal aos sócios-
gerentes ou que administrem. É o teor da súmula 435 do STJ. Há aqui uma presunção de fraude.
O Enunciado 284 do CJF diz que as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos
ou de fins não econômico estão abrangidas pela aplicação da desconsideração da personalidade
jurídica.
Portanto, é plenamente possível que haja nas fundações e nas associações, ainda que não
tenham finalidade lucrativa.
O Enunciado 285 do CJF diz que a teoria da desconsideração da personalidade jurídica do Código
Civil pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor.
Ou seja, nada impede que a pessoa jurídica se utilize da desconsideração em seu favor,
quer para não atingir o sócio-administrador, quer para atingir o sócio.
Está previsto nos art. 133 a 137, dentro do capítulo das intervenções de terceiro.
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O juiz não poderá decretar a desconsideração de ofício. Tartuce afirma que é possível nos
casos de aplicação da teoria menor (CDC e ambiental).
Caso haja o incidente, a sua instauração suspenderá o processo, salvo na hipótese em que
há o pedido na petição inicial.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Perceba que a opção do legislador é fazer com que aquilo que é desconsiderado é aquilo
que envolve o plano de eficácia e não de validade. Ou seja, o ato é válido, mas perante o credor
este ato é ineficaz.
Ex.: pessoa jurídica passou um bem para o nome do sócio. O credor pediu a
desconsideração. O bem valia 10 milhões de reais. A pessoa jurídica devia 1 milhão ao credor. O
sócio teve de pagar este 1 milhão, já que houve a desconsideração.
O restante continua sendo válida, mas sendo ela ineficaz em relação ao credor, que teve
vitorioso o plano de desconsideração.
Fato jurídico é o fato que interessa ao direito, sendo uma ocorrência que tenha relevância
jurídica.
Ato jurídico é um fato que tem relevância jurídica, mas com elemento volitivo e conteúdo
lícito. É a atuação da vontade de alguém.
Negócio jurídico é um ato jurídico, com elemento volitivo e de conteúdo lícito, mas que há
composição de interesse das partes, com finalidade específica e desejada pelas partes.
O negócio jurídico é o ponto principal da parte geral do Código Civil, sendo o ponto
principal para entender o contrato, casamento, testamento, etc.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O art. 190 do NCPC diz que, versando o processo sobre direitos que admitam
autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
O art. 191 ainda diz que, de comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para
a prática dos atos processuais, quando for o caso. Tal calendário processual vincula as partes e o
juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados.
Por conta do calendário processual, fica dispensada a intimação das partes para a prática
de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.
Além desses conceitos, parte considerada da doutrina traz o denominado ato-fato jurídico.
Nos atos-fatos jurídicos, a vontade não integra o suporte fático, visto que é a lei que faz o
ato-fato jurídico, atribuindo consequências ou efeitos independentemente da parte ou do sujeito
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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As classificações do negócio jurídico servem tanto para o negócio jurídico quanto para o
ato jurídico stricto sensu.
Negócios jurídicos unilaterais: a declaração de vontade emana de apenas uma pessoa. Ex.:
testamento, renúncia. É possível também falar em:
• Negócios jurídicos onerosos: em ambos os lados há sacríficos de vontades. Ex.: compra e venda.
• Negócios jurídicos neutros: são aqueles em que não há uma atribuição patrimonial determinada.
Ex.: instituição de um bem de família voluntário.
• Negócios jurídicos bifrontes: são aqueles em que poderão ser gratuitos ou poderão ser
onerosos, a depender do contrato. Ex.: mandato, depósito, etc. Se o sujeito está recebendo pelo
mandato, será oneroso, senão será gratuito.
• Negócios jurídicos inter vivos: destinam-se a produzir efeitos durante a vida dos negociantes.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• Negócios jurídicos mortis causa: destinam-se a produzir efeitos após a morte de determinada
pessoa. Ex.: testamento e o legado.
• Negócios jurídicos formais ou solenes: são aqueles que obedecem a uma forma ou solenidade
para ser concluído.
• Negócios jurídicos informais: não é necessário forma ou solenidade para o ato. Ex.: locação e
prestação de serviços.
• Negócios jurídicos principais e independentes: são aqueles que não dependem de qualquer
outro negócio jurídico para existência. Ex.: contrato de locação.
• Negócios jurídicos acessórios e dependentes: são aqueles que a existência está subordinada ao
negócio jurídico principal. Ex.: contrato de fiança em relação ao contrato de locação.
• Negócios jurídicos impessoais: o negócio jurídico não depende de qualquer condição dos
envolvidos. A prestação pode ser cumprida tanto pelo contratante ou por terceiros. Ex.: caso não
queira comprar o carro numa loja, compra o mesmo carro noutra.
• Negócios jurídicos pessoais (intuito personae): o negócio jurídico depende de uma condição
especial de um dos negociantes. Trata-se de uma obrigação infungível. Ex.: contratação de um
pintor para fazer um quadro na casa do sujeito.
• Negócios jurídicos consensuais: o negócio jurídico já gera efeitos a partir do momento em que
ocorre o acordo de vontades. Ex.: compra e venda.
• Negócios jurídicos reais: o negócio jurídico gera efeito a partir da entrega do objeto (tradição).
Ex.: comodato e mútuo.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• plano da existência
• plano da validade
• plano da eficácia
Atente-se que esta escada permite que um negócio seja existente, mas seja inválido, ainda
que seja eficaz. Ex.: negócio jurídico anulável. Caso não seja anulado, será ele convalidado.
É possível também que o negócio seja existente, válido, mas não seja eficaz. Ex.: contrato
celebrado sob condição suspensiva.
a) Plano da existência
Neste plano, há os pressupostos para um negócio jurídico, sendo seus elementos mínimos
e sua essência. Sem que haja isto, o negócio não existe.
• Partes
• Vontade
• Objeto
• Forma
b) Plano da validade
• Partes capazes
• Vontade livre
Esses são os requisitos de validade do negócio jurídico. Não tendo o negócio jurídico tais
requisitos, será ele nulo de pleno direito. Ou seja, nulidade absoluta.
O art. 184 diz que, respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio
jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável. Na primeira parte, este
dispositivo consagra o princípio da conservação dos negócios jurídicos, tendo em vista a função
social do contrato.
Capacidade geral
É possível que o negócio seja firmado por absolutamente incapaz ou por relativamente
incapaz? SIM, desde que esteja representado, em caso de absolutamente incapaz, ou assistido,
caso relativamente incapaz.
No tocante à incapacidade relativa de uma das partes, o CC diz que esta incapacidade não
pode ser arguida pela outra parte, ou seja, invocada pelo capaz em benefício próprio. E também
não pode aproveitar cointeressados capazes, salvo se o objeto for indivisível.
com Carlos, de 20 anos. Carlos, que é cointeressado, também não poderá arguir a incapacidade
de Antônio para fins de anulação do contrato, salvo se o objeto for indivisível.
O art. 111 do CC contraria um ditado popular, pois estabelece que o silêncio importa
anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração
de vontade expressa.
Portanto, via de regra, quem cala não consente. Isso porque João calou-se, motivo pelo
qual não consentiu, salvo se os usos, costumes ou circunstância o autorizem, e não seja declaração
expressa de vontade necessária.
Segundo art. 112, nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Adota-se aqui a teoria subjetiva dos
contratos e negócios jurídicos. Isto quer diz que não importa somente aquilo que está
literalmente escrito, devendo ser necessário saber a intenção das partes.
O STJ já decidiu que a doação feita a um Santo, deverá ser considerada como doada a uma
igreja católica, representante daquele Santo. Veja, ainda que esteja escrito que foi doado a um
Santo, é preciso considerar efetivamente o que pleiteava a pessoa doadora.
No art. 113, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé objetiva e
os usos do lugar de sua celebração. Trata-se de aplicação da teoria objetiva dos negócios
jurídicos. Isso porque, na interpretação dos contratos, é necessário se valer da boa-fé objetiva, ou
seja, a partir dos comportamentos que são esperados com aquele tipo de contrato.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Ex.: se João doou um carro, e não fez referência à aparelhagem de som, não se pode
entender que João doou toda a aparelhagem, visto que o contrato gratuito deve ser interpretado
restritivamente.
• Objeto lícito:
É aquele que não é contrário aos bons costumes, à ordem pública, à boa-fé, à função social, etc.
Se o objeto for ilícito, o negócio jurídico é nulo.
• Objeto possível:
Isto é, no plano fático. É preciso que exista uma possibilidade física e uma possibilidade jurídica.
Se as prestações do negócio são impossíveis, o negócio deve ser declarado nulo. Haverá uma
impossibilidade jurídica quando a lei veda o seu conteúdo. Ex.: não se pode negociar herança de
pessoa viva.
O art. 106 do CC traz uma ressalva importante, estabelecendo que a impossibilidade inicial do
objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou então se ela cessar antes de realizada
a condição a que ele estiver subordinado. Este artigo estabelece que somente a nulidade
absoluta tem o condão de nulificar o negócio.
Ex.: João disse que conseguiria um diamante de 18 quilates para a namorada. Para João, isto é
impossível, mas não é absolutamente impossível. Só que essa impossibilidade é relativa. Se a
impossibilidade é relativa, o negócio é válido. No entanto, se com o passar do tempo João compra
o diamante, o negócio será plenamente válido, ainda que estivesse sob condição suspensiva.
Por outro lado, se a impossibilidade é absoluta, não haver negócio, sendo ele nulo.
• Objeto determinado ou determinável:
O negócio jurídico deve ao menos ser determinável. Ex.: obrigação incerta. O objeto ainda está
pendente de determinação (concentração). Por exemplo, Samer disse que entregaria 2 bois a
Eduardo. No dia em que Eduardo vai pegar os bois, Samer diz quais serão os dois bois que ele irá
pegar. Samer escolhe os bois A e B, ou seja, fez a concentração, visto que eram determináveis,
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Eduardo Defaveri
A forma deve ser prescrita, ou seja, a lei traz a forma, ou a forma pode ser não defesa em
lei, de forma que não contrarie a lei.
Como regra, a declaração de vontade não necessita de uma forma especial, salvo quando
a lei o exigir. Vige o princípio da liberdade das formas.
O art. 109 do CC diz que, no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem
instrumento público, este é da substância do ato.
Ou seja, caso alguém celebre um negócio e estabeleça uma cláusula de não valer sem
instrumento público, passará este a ser da substância do ato. Portanto, a imposição de um
negócio solene pode decorrer das intenção das partes, razão pela qual sua inobservância poderá
implicar nulidade do negócio.
O art. 108 vai estabelecer que a escritura pública somente será exigida nos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre
imóveis de valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Aqui há uma função social, pois quem compra um imóvel com valor até 30 salários
mínimos tem em seu favor a presunção de que não tenha condições de arcar com a escritura
pública.
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Eduardo Defaveri
c) Plano da eficácia
No último degrau estão os efeitos, mas com relação às partes ou com relação a terceiros.
• Regras relativas ao inadimplemento do negócio jurídico que vão levar à resolução (juros,
cláusula penal, perdas e danos, regime de bens, etc.
O art. 2.035 do CC diz que a validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos
antes da entrada em vigor do Código Civil de 2002, obedece ao disposto nas leis anteriores,
referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos (sua eficácia), salvo se houver sido prevista pelas
partes, determinada forma de execução, se subordinam aos preceitos produzidos após a vigência
deste Código.
Em outras palavras, no plano da validade vale a regra que vigia no momento de celebração
do contrato. Com o CC/02, as regras continuam válidas, mesmo que tenha havido mudanças.
Perceba que o art. 2.035 não fala de existência, estando subentendida na validade. Outra
situação é o fato de que devem ser aplicadas as normas incidentes no momento da produção
dos efeitos, e não da celebração do contrato.
Ex.: supondo que tenha sido celebrado um contrato na vigência do Código Civil de 1916, e
trazia uma multa exagerada no contrato, causando uma onerosidade excessiva. Com o CC/02, o
contrato será considerado válido, celebrado conforme as regras do CC/16, mas ele foi
descumprido na vigência do CC/02. Como cláusula penal e multa estão ligadas à eficácia, é possível
que o juiz aplique o art. 403 do CC/02, o qual consagra a possibilidade de o magistrado reduzir
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ii. Estudo dos elementos acidentais do negócio jurídico. Condição, termo e encargo.
Os elementos acidentais do negócio jurídico são aqueles em que as partes podem ou não
adicionar em seus negócios.
→ Condição
Quanto às possibilidades:
• condições possíveis: são aquelas que podem ser cumpridas físicas ou juridicamente.
• condições impossíveis: são aquelas que não podem ser cumpridas, podendo derivar de uma
razão natural ou de uma razão jurídica. Neste caso, haverá nulidade absoluta. Ex.: João diz que
venderá o seu carro sob a condição de Pedro viajar a Júpiter dentro de 2 anos. Essa condição,
apesar de não ser ilícita, é impossível.
Quanto à origem:
• condição causal: são aquelas que têm origem em evento natural. Ex.: João vende um bem a
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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o meramente potestativas: dependem das vontades intercaladas de duas pessoas. São lícitas.
Ex.: liberalidade instituída em favor de uma pessoa, dependente do seu desempenho
artístico. Se a pessoa cantar no espetáculo da escola, a mãe vai dar uma viagem para a
Disney. Neste caso, será meramente potestativa, pois dependem de vontade intercalada de
duas pessoas.
• condição mista: é aquela que depende de um ato volitivo e de um evento natural. Ex.: João dará
a viagem para a Disney a Pedro, se ele cantar na apresentação da escola e estiver chovendo na
hora.
• condições suspensivas: são aquelas que, enquanto não se verificarem as condições, o negócio
jurídico não gera efeitos. Ex.: venda a contento. O aperfeiçoamento do negócio só ocorrerá com
a aprovação ad gustum do comprador. A venda está a contento do comprador. Ou seja, somente
passará a produzir efeitos quando o comprador aprovar.
• condições resolutivas: são aquelas que, enquanto não se verificar a condição, ela não traz
nenhuma consequência para o negócio jurídico, cabendo inclusive o exercício do direito sob
condição. Ex.: retrovenda. É o fato do vendedor exigir o direito de recompra daquele bem. Se
não for exercida a retrovenda, o negócio (compra e venda) produzirá plenamente os seus efeitos.
O art. 128 do CC diz que, se a condição resolutiva for aposta a um negócio de execução
continuada ou periódica, a realização da condição resolutiva, não tem eficácia quanto aos atos
já praticados, salvo disposição em contrário, desde que compatíveis com a natureza da condição
pendente e conforme aos ditames de boa-fé. Portanto, o que foi feito antes da condição
resolutiva permanece íntegro.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Isso porque o art. 129 estabelece que se reputa verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a
condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, e
considera-se ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a
quem aproveita o seu implemento.
No art. 129, a lei veda a má-fé, pois, de forma maliciosa, não se está permitindo que a
condição ocorra. Neste caso, será tido como se a condição tivesse ocorrido.
E o art. 130 diz que, ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou
resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. Este dispositivo diz que a
existência da condição impede que o sujeito exerça o seu direito, visto que há mera expectativa
de direito. No entanto, isto não impede que o sujeito pratique atos destinados a conservar este
direito eventual.
→ Termo
O termo faz com que a eficácia do negócio fique subordinada à ocorrência de um evento
futuro e certo. Se for futuro incerto, é condição.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
• Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia
útil.
• Meado considera-se, em qualquer mês, o seu 15º quinto dia, ainda que se trate do mês de
fevereiro.
O art. 135 estabelece que, ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições
relativas à condição suspensiva e resolutiva.
• Quanto à origem:
o termo legal: fixado pela própria norma jurídica. Diferencia-se da condição, que é fixada
exclusivamente pela vontade das partes.
• Quanto à certeza:
o termo certo (determinado): é o tempo determinado, pois se sabe quando o evento vai
ocorrer. Ex.: dia 20 de abril o devedor pagará o credor.
o termo incerto (indeterminado): sabe-se que o evento ocorrerá, mas não se sabe quando.
Ex.: quando João morrer, Pedro vai receber herança, mesmo que não se saiba quando.
→ Encargo
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Em relação à doação modal, ou doação com encargo, existem regras específicas. Isto é, só
haverá liberalidade efetivamente na parte que exceder o encargo imposto.
O art. 136 estabelece que o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito,
salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição
suspensiva.
Perceba que a condição suspende a aquisição do direito, enquanto o termo não suspende
a aquisição, mas apenas o exercício do direito. Já o encargo não suspende a aquisição e nem o
exercício do direito.
O art. 137 estabelece que se considera não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo
se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.
Via de regra, considera-se que o encargo é não escrito, mas se for para considerá-lo como
não escrito, será conservado o negócio sem o respectivo encargo. Todavia, sendo o encargo o
motivo determinante para a liberalidade, aí o negócio será invalidado.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
a) Vícios sociais: fraude contra credores e simulação. São condenados pela repercussão social,
atentando contra a boa-fé.
a) Erro e ignorância
Segundo o art. 138, os negócios jurídicos celebrados por erro são anuláveis, desde que as
declarações de vontade emanem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de
diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Portanto, se o erro for substancial gera a anulação do negócio. Não precisa ser o erro
escusável, justificável ou não. Basta que seja substancial.
• O erro interessa à natureza do negócio, ou o erro incide sobre o objeto principal da declaração,
ou ainda se há erro quanto às qualidades essenciais.
Ex.: O sujeito compra uma bijuteria, acreditando se tratar de ouro. O sujeito paga 2 mil reais e
descobre que era bijuteria. Neste caso, o sujeito não teria comprado se soubesse que era
bijuteria. Aqui o erro é quanto às qualidades essenciais, de modo que este erro é substancial,
implicando a anulação do negócio.
• Se o erro for a respeito à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Em tese, ninguém pode se escusar de cumprir a lei, alegando que não a conhece. No entanto, o
erro de direito pode justificar a anulação do negócio quando ele for o motivo para a prática
daquele negócio.
Ex.: Locatário de um imóvel comercial pode propor a ação renovatória no último ano do contrato
até 6 meses antes do contrato vencer. Supondo que o indivíduo pensou errado, pensando que
deveria ter proposto um ano antes ou que perdeu prazo para a ação renovatória, situação na
qual ele celebra um novo contrato de locação mais oneroso do que seria se tivesse renovado o
contrato.
Neste caso, poderá ele ingressar com a ação alegando erro de direito essencial ou substancial,
eis que não teria celebrado o contrato se soubesse que tinha direito à ação renovatória, motivo
pelo qual pede a anulação do contrato.
Veja, houve erro de direito, não houve sequer a recusa à aplicação da lei, sendo possível a
anulação.
O motivo do negócio jurídico é a razão pela qual uma pessoa celebra o negócio. A doutrina
diferencia motivo de causa do negócio, pois a causa está no plano objetivo.
Assim sendo, o falso motivo, por regra, não gera anulabilidade do negócio jurídico, já que
não interessa ao direito. Todavia, caso este falso motivo esteja expresso como razão
determinante, aí poderá ser anulado, conforme art. 140 do CC.
O art. 141 diz que a transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável
nos mesmos casos em que o é a declaração direta.
Meios interpostos são meios de comunicação, principalmente pela internet. Isto quer dizer
que, se houver um erro de transmissão por meios interpostos, é anulável o negócio nos mesmos
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O art. 143 estabelece que o erro de cálculo não gera anulação, mas apenas autoriza a
correção da declaração de vontade. Ou seja, o negócio é mantido. Trata-se de aplicação do
princípio da preservação do negócio jurídico.
Ademais, o erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real
do manifestante. É aplicação do princípio da preservação do negócio jurídico.
Cabe mencionar ainda o erro quanto à pessoa ou à coisa, segundo o qual o erro de
indicação, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando se puder
identificar a coisa ou pessoa cogitada por seu contexto e pelas circunstâncias.
O prazo decadencial para anular um negócio jurídico eivado de erro é de 4 anos, contados
da celebração do negócio jurídico.
b) Dolo
Dolo é um artifício ardiloso, sendo empregado para enganar alguém para ter um benefício
próprio.
O art. 145 diz que o negócio praticado com dolo é anulável, quando este for a sua causa
Trata-se do dolo substancial (essencial).
Se for o dolo acidental, haverá perdas e danos, mas o negócio é mantido. Será acidental
se o negócio fosse realizado, embora por outro modo.
No caso de uma das partes se valer de um artifício malicioso para levar a outra a praticar
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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um ato que não praticaria normalmente, visando obter uma vantagem, haverá dolo. E este dolo
poderá gerar anulação do negócio jurídico.
Frise-se: dolo essencial gera anulação do negócio; dolo acidental gera perdas e danos,
mas não anulação do negócio jurídico. Isso porque o negócio seria praticado mesmo assim, de
outro modo, mas seria.
Ressalte-se que não só o próprio negociante pode agir com dolo, gerando a anulabilidade
do negócio. É possível que haja dolo de terceiro, o qual pode acontecer se a parte, a quem
aproveite o dolo, tivesse conhecimento dessa atuação do terceiro, ou ao menos devesse ter
conhecimento da atuação do terceiro.
Caso a parte não tivesse conhecimento sobre o terceiro, e tampouco pudesse ter, será
válido o negócio, e pelas perdas e danos daquele que sofreu o dano será de responsabilidade do
terceiro.
Dolo do representante legal? O dolo do representante legal de uma das partes só obriga
o representado a responder civilmente até a importância do proveito que experimentou.
Classificam-se o dolo:
• Quanto ao conteúdo:
o Dolus bonus: é o dolo tolerável, afirmando, por exemplo, que o produto é o melhor do Brasil.
Não tem a finalidade de prejudicar o comprador.
o Dolus malus: não é admitido. São ações maliciosas com objetivo de enganar pessoas e causar
prejuízos. Neste caso, poderá haver a anulação do negócio jurídico.
o Dolo negativo (omissivo): praticado por uma omissão. Cabe ressaltar que o art. 147
estabelece que, nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, é preciso que o prejudicado
prove que não celebraria o negócio se a omissão não ocorresse. É preciso que fique claro
que o prejudicado demonstre que o dolo é substancial, de modo que não celebraria o
negócio se tivesse a informação que ele não tinha. Caso contrário, o negócio é mantido,
podendo até mesmo caber perdas e danos.
o Dolo recíproco (dolo bilateral, dolo compensado e dolo enantiomórfico): é o caso em que
ambas as partes atuam tentando prejudicar o outro. São dois malandros. O código civil
estabelece que se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização. Caso um deles tenha prejuízos maiores do que
o outro, haverá uma compensação parcial e o prejudicado em quantia maior poderá pleitear
perdas e danos contra a outra parte. Trata-se do dolo enantiomórfico.
c) Coação
A coação é uma pressão física ou moral, que é exercida sobre a vontade de um negociante.
Visa obriga a assumir uma obrigação que ele mesmo não queria.
O art. 151 diz que a coação, para viciar a declaração da vontade, deve ser relevante. E
ainda, deverá ser fundada em temor de dano iminente e considerável à sua pessoa envolvida,
ou à sua família, ou aos seus bens.
Se o temor de dano disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz,
com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
• Coação física: há o constrangimento corporal. Há aqui nulidade absoluta. Há quem defenda que
seja caso de inexistência, visto que não há sequer vontade da pessoa.
• Coação moral (vis compulsiva): é o fundado em temor de dano iminente. Há aqui a anulabilidade
do ato.
O art. 152 estabelece que, no apreciar a coação, o juiz deve levar em conta o sexo, a idade,
a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam
influir na gravidade dela. Veja, é necessário analisar o caso concreto.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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coação.
A coação exercida por terceiro gera anulabilidade o negócio jurídico, desde que o
negociante beneficiado tivesse ou devesse ter conhecimento dessa coação ou se, pelo menos,
devesse ter conhecimento. Neste caso, ambos, tanto o coator como o beneficiário da coação, vão
responder solidariamente por perdas e danos.
d) Estado de perigo
Há estado de perigo toda vez que o negociante, ou parte de sua família, estiver em perigo,
e a outra parte conhecer este perigo, sendo este perigo a única causa para celebrar o contrato,
haverá vício do contrato.
Veja, aqui há uma situação de perigo que alguém vive, ou alguém da família do contratante
vive, e este é o elemento subjetivo. Esta situação de perigo deve ser conhecida pela outra parte.
Nas palavras do Código Civil, há estado de perigo quando alguém, premido da necessidade
de se salvar, ou de salvar algum familiar seu, de grave dano conhecido pela outra parte, assume
obrigação excessivamente onerosa.
Para afastar a anulação, o juiz poderá se utilizar da revisão negocial, com base no princípio
da preservação dos contratos.
e) Lesão
Segundo o art. 157, ocorre a lesão quando uma pessoa está sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta.
Veja, aqui a pessoa necessitada ou inexperiente firma contrato por valor muito maior do
que vale a prestação que vai receber. Mas é manifestamente maior.
Se o caso fosse de vício posterior à celebração, seria o caso de revisão contratual, pela via
da imprevisibilidade, etc.
Vale lembrar que na lesão a regra é a revisão do contrato e não a sua anulação.
Doutrinariamente, o lesionado pode optar por nem pleitear a anulação do negócio jurídico
e promover diretamente a revisão do contrato.
Lesão não se confunde com dolo, visto que este exige um aproveitamento intencional da
parte beneficiada, agindo com meio articuloso para obter vantagem. Na lesão não é assim.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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A lesão não se confunde com o estado de perigo, visto que, na lesão, o elemento subjetivo
é a premente necessidade ou inexperiência da parte, enquanto no estado de perigo, o perigo que
acomete o contratante ou alguém próximo a ele é conhecido pelo outro negociante. Na lesão não
é necessário que a outra parte conheça da situação do contratante.
f) Simulação
A simulação gera a nulidade do negócio, podendo ser alegada por terceiros, mas também
por uma parte contra a outra, visto que gera a nulidade do negócio jurídico, sendo uma questão
de ordem pública.
O art. 167 reconhece a nulidade absoluta do negócio jurídico simulado, mas prevê que irá
subsistir o negócios que se dissimulou, isto é, o negócio que se buscou esconder, desde que este
negócio seja válido for na substância e na forma.
Tal dispositivo trata da simulação relativa. Isso porque na simulação relativa há dois
negócios: o negócio aparente e o negócio escondido (dissimulado).
Veja, se for possível manter o negócio dissimulado, ele irá persistir, desde que válido na
substância e na forma.
Como se está a falar de uma nulidade absoluta, em todos os casos de simulação, não há
necessidade de uma ação específica para declarar nulo o ato simulado. O seu reconhecimento
pode ser incidental ou até mesmo de ofício pelo juiz, eis que se trata de norma de ordem pública.
• Negócios jurídicos que conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas das quais realmente
se conferem, ou se transmite esses direitos.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Trata-se de uma simulação subjetiva. Pedro finge que vende um imóvel a João, quando na
verdade vende a José. É a ideia do “laranja”.
• Negócios jurídicos que contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira.
Indivíduo confessa uma dívida que não existe. Trata-se de modalidade de simulação objetiva.
• Negócios jurídicos que os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
Há uma simulação objetiva, pois a alteração das datas terá repercussão jurídica.
O §2º do art. 167 diz que ficam ressalvados os direitos de terceiros de boa-fé em face dos
contraentes do negócio jurídico simulado.
• Simulação absoluta: tem aparência de negócio, mas na verdade não há negócio algum. Ex.: pai
que, supostamente, doa um imóvel ao filho, mas continua usufruindo do imóvel, a fim de não
responder por uma dívida que tenha contraiu.
• Simulação relativa: há um negócio aparente, que não existe, mas há outro negócio dissimulado,
escondido. Neste caso, poderá a simulação relativa ser classificada em:
o Simulação relativa subjetiva: a parte celebra um negócio na aparência, mas celebra outro
na essência. Ex.: laranja. Vende-se um imóvel a João, constando na escritura o nome de João,
mas na verdade vende-se a José.
o Simulação relativa objetiva: a parte celebra um negócio, mas na realidade há outra figura
obrigacional. Por exemplo, para burlar o fisco celebra contrato de mútuo, quando, na
verdade, seria de locação.
Frise-se que em todos os casos o negócio celebrado é nulo, pois simulação é causa de
nulidade absoluta.
A reserva mental, também denominada de reticência essencial, está prevista no art. 110
do CC, estabelecendo que a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
No momento de assinar o contrato, o sujeito colocou uma coisa, quando na verdade tinha
outro objetivo. Caso a outra parte não saiba, o contrato continua valendo.
• se a outra parte tem conhecimento da reserva mental, o negócio é nulo, visto que similar à
simulação.
Sílvio de Salvo Venosa faz uma diferenciação entre simulação e reserva mental. Para ele,
quando a reserva mental é de conhecimento da outra parte, o negócio se aproxima muito da
simulação, tanto é que para parte da doutrina seriam idênticos.
Para Venosa, o que diferencia entre os vícios é que o declarante, no caso de reserva
mental, acredita que o declaratário não saiba que ele está mentindo. Na simulação, por sua vez,
o declarante sabe que o declaratário tem o conhecimento, visto que estariam inclusive em
conluio.
A fraude contra credores é uma atuação maliciosa do devedor. Ante a sua iminente
insolvência, o devedor começa a dissipar o seu patrimônio de forma gratuita ou onerosa, de
maneira a afastar a possibilidade de seus bens responderem pelas obrigações assumidas antes
das transmissões desses bens.
João tem 2 imóveis, valendo 500 mil reais. João deve 500 mil reais. Se for executado, vai à
insolvência. Neste caso, João vende um imóvel e doa outro imóvel para quando o credor executar
os 500 mil reais, não encontrar bens para solver a dívida
O art. 158 estabelece que estão incluídas as hipóteses de remissão e de perdão da dívida
na fraude contra credores. Se João, devedor, perdoa dívida de José no valor de 500 mil reais,
também poderá caracterizar fraude contra credores, podendo tal negócio ser anulado pelos
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O credor com garantia real também poderá propor ação pauliana ou revocatória, se a
garantia se tornar insuficiente. Cabe ressaltar que apenas os credores que já o eram ao tempo
dos atos de disposição poderão pleitear a anulação deles.
A ação pauliana poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele
celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido
de má-fé. A boa-fé não!
O art. 790, VI, do NCPC, estabelece que estão sujeitos à execução, os cuja alienação ou
gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em ação autônoma, de
fraude contra credores. Percebe-se que o Código Civil adotou a teoria da anulação e o NCPC
confirma esta adoção.
Para fins de prova, deve-se dizer que cabe a ação anulatória e o que há é a anulação do
ato.
Por conta disso, o ato praticado com fraude contra credores poderá ser anulado, dando-se
em ação pauliana. Sendo anulado o negócio, o credor quirografário, que recebeu do devedor
insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do
acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
Se a disposição dos bens pelo devedor se deu de forma gratuita ou se perdoou dívidas, o
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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art. 158 vai dispensar o consilium fraudis, ou seja, dispensará a prova de que o sujeito atuou com
fraude contra credores.
Isto é, se abre mão do seu patrimônio de forma gratuita, basta que o credor demonstre
que experimentou prejuízo com aquele comportamento, razão pela qual não necessita
demonstrar o consilium fraudis.
A ação anulatória caberá ainda que o devedor não soubesse que com o seu ato de remissão
estivesse sendo levado à insolvência.
Uma hipótese em que há motivos para ser conhecida do outro contratante é a venda de
bens entre irmãos.
Consoante o art. 160, se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago
o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a
citação de todos os interessados. Caso o valor do bem seja inferior, o adquirente, para conservar
os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
Atente-se que em face de terceiros, a ação pauliana só surtirá efeitos se comprovar a má-
fé.
Ex.: Pedro vendeu para João em fraude contra credores. João vendeu para José, mas este
não sabia do ônus. No entanto, em face de José não poderá sofrer a ação de fraude contra
credores, visto que seria necessário provar a má-fé.
A súmula 195 do STJ estabelece que, em embargos de terceiro, não se anula ato jurídico
por fraude contra credores. A súmula diz que se quiser anular um ato ou contrato por fraude
contra credores, será necessário propor ação pauliana.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Cabe ressaltar que em embargos de terceiro não é possível alegar fraude contra credores,
pois o instrumento correto é ação pauliana.
De acordo com o art. 164, há uma presunção relativa de boa-fé, pois, presumem-se de
boa-fé os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural,
ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família. Veja, será presumido de boa-fé as
alienações feitas para que o negócio continuasse em funcionamento, ou aquilo feito pelo sustento
ou subsistência, ainda que tivesse em estado de insolvência.
Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante
hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência
ajustada.
A fraude contra credores só vai ser presumida no caso de transferência gratuita de bens
ou de remissão de dívidas, pagamento de dívida antecipada, constituição de uma garantia que
não existia, etc.
Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o
devedor insolvente tiver dado a algum credor.
• na fraude à execução, é desnecessária ação pauliana, visto que o ato não é anulável, mas ineficaz,
podendo ser reconhecido no próprio processo de execução, por simples petição. Na fraude
contra credores o ato é anulado.
A súmula 375 do STJ diz que o reconhecimento da fraude à execução depende do registro
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O informativo 552, o STJ disse que, no que diz respeito à fraude à execução:
• é indispensável a citação válida para a configuração de fraude à execução. Somente a partir daí
é que o indivíduo sabe que contra si corre um processo que poderá reduzi-lo à insolvência.
• a boa-fé se presume, inexistindo registro na matrícula do imóvel, quem deve provar que o
terceiro adquirente tinha o reconhecimento da demanda é o credor. Por outro lado, presume
a fraude à execução quando há alienação de bens realizada após a averbação do registro de
bem do processo.
Os elementos acidentais do negócio jurídico são aqueles em que as partes podem ou não
adicionar em seus negócios.
→ Condição
o negócio que está relacionado com aquela condição. Ex.: não se pode vender um carro, sob a
condição de que João mate José. Este negócio é nulo, pois não se poderá executar a obrigação.
Quanto às possibilidades:
• Condições possíveis: são aquelas que podem ser cumpridas físicas ou juridicamente.
• Condições impossíveis: são aquelas que não podem ser cumpridas, podendo derivar de uma
razão natural ou de uma razão jurídica. Neste caso, haverá nulidade absoluta. Ex.: João diz que
venderá o seu carro sob a condição de Pedro viajar a Júpiter dentro de 2 anos. Essa condição,
apesar de não ser ilícita, é impossível.
Quanto à origem:
• Condição causal: são aquelas que têm origem em evento natural. Ex.: João vende um bem a
Pedro se chover amanhã.
o Meramente potestativas: dependem das vontades intercaladas de duas pessoas. São lícitas.
Ex.: liberalidade instituída em favor de uma pessoa, dependente do seu desempenho
artístico. Se a pessoa cantar no espetáculo da escola, a mãe vai dar uma viagem para à
Disney. Neste caso, será meramente potestativa, pois dependem de vontade intercalada de
duas pessoas.
• Condição mista: é aquela que depende de um ato volitivo e de um evento natural. Ex.: João dará
a viagem para à Disney a Pedro, se ele cantar na apresentação da escola e estiver chovendo na
hora.
• Condições suspensivas: são aquelas que, enquanto não se verificarem as condições, o negócio
jurídico não gera efeitos. Ex.: venda a contento. O aperfeiçoamento do negócio só ocorrerá com
a aprovação ad gustum do comprador. A venda está a contento do comprador. Ou seja, somente
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• Condições resolutivas: são aquelas que, enquanto não se verificar a condição, ela não traz
nenhuma consequência para o negócio jurídico, cabendo inclusive o exercício do direito sob
condição. Ex.: retrovenda. É o fato do vendedor exigir o direito de recompra daquele bem. Se
não for exercida a retrovenda, o negócio (compra e venda) produzirá plenamente os seus efeitos.
O art. 128 do CC diz que, se a condição resolutiva for aposta a um negócio de execução
continuada ou periódica, a realização da condição resolutiva, não tem eficácia quanto aos atos
já praticados, salvo disposição em contrário, desde que compatíveis com a natureza da condição
pendente e conforme aos ditames de boa-fé. Portanto, o que foi feito antes da condição
resolutiva permanece íntegro.
Isso porque o art. 129 estabelece que se reputa verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a
condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, e
considera-se ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a
quem aproveita o seu implemento.
No art. 129, a lei veda a má-fé, pois, de forma maliciosa, não se está permitindo que a
condição ocorra.
E o art. 130 diz que, ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou
resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. Este dispositivo diz que a
existência da condição impede que o sujeito exerça o seu direito, visto que há mera expectativa
de direito. No entanto, isto não impede que o sujeito pratique atos destinados a conservar este
direito eventual (esse artigo aplica tanto para condição quanto para termo).
→ Termo
O termo faz com que a eficácia do negócio fique subordinada à ocorrência de um evento
futuro e certo. Se for futuro incerto, é condição.
• Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia
útil.
• Meado considera-se, em qualquer mês, o seu 15º quinto dia, ainda que se trate do mês de
fevereiro.
O art. 135 estabelece que, ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições
relativas à condição suspensiva e resolutiva.
• Quanto à origem:
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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o Termo legal: fixado pela própria norma jurídica. Diferencia-se da condição, que é fixada
exclusivamente pela vontade das partes.
• Quanto à certeza:
o Termo certo (determinado): é o tempo determinado, pois se sabe quando o evento vai
ocorrer. Ex.: dia 20 de abril o devedor pagará o credor.
o Termo incerto (indeterminado): sabe-se que o evento ocorrerá, mas não se sabe quando.
Ex.: quando João morrer, Pedro vai receber herança, mesmo que não se saiba quando.
→ Encargo
Em relação à doação modal, ou doação com encargo, existem regras específicas. Isto é, só
haverá liberalidade efetivamente na parte que exceder o encargo imposto.
O art. 136 estabelece que o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito,
salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição
suspensiva.
O art. 137 estabelece que se considera não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo
se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.
Via de regra, considera-se que o encargo ilícito é não escrito, mas se for para considerá-
lo como escrito, será conservado o negócio sem o respectivo encargo. Todavia, sendo o encargo
o motivo determinante para a liberalidade, aí o negócio será invalidado (art. 137, CC).
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Prescrição. Decadência
Prescrição e Decadência
Os prazos de prescrição estão concentrados em dois artigos do Código Civil: arts. 205 e
206.
Os demais prazos do CC, via de regra, são decadenciais. Os prazos prescricionais são
sempre em anos.
Por outro lado, decadência está relacionada a direitos potestativos, às ações constitutivas
(positivas ou negativas), em que a outra parte tem uma relação de sujeição. Ex.: numa ação
desconstitutiva, como anulação de casamento, há prazo para tanto, podendo ou não exercer, não
podendo a outra parte se opor quanto a isso.
• Algumas ações constitutivas, tais como aquelas que não têm prazo especial de exercício fixado
em lei.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
O art. 189 diz que, violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual poderá ser
extinta pela prescrição.
Isso porque a dívida prescrita continua sendo dívida, não podendo apenas exigir o
pagamento.
Para as ações condenatórias, quando não houver prazo específico, o prazo prescricional
geral será de 10 anos.
Parte da doutrina pondera de que não se pode admitir apenas com o surgimento do dano
a contagem do prazo prescricional. Para início do prazo prescricional seria necessário o
conhecimento do dano pelo sujeito que o experimentou.
Portanto, só teria início a contagem do prazo a partir do momento em que a parte teve o
conhecimento do ato ou do fato do qual nasce o seu direito de exigir. O que há aqui é a adoção
da teoria da actio nata com o viés subjetivo.
Ex.1: No caso de responsabilidade civil do estado por erro médico, a data para o início do
lapso prescricional não é a data do acidente, e sim a data em que a vítima tem ciência inequívoca
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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de sua invalidez ou da extensão da incapacidade. A partir desse conhecimento é que inicia o prazo
prescricional. Este é o teor de súmula 278 do STJ.
Ex.2: O médico esqueceu uma agulha dentro do corpo de uma mulher. Não tinha a mulher
o conhecimento de que havia uma agulha dentro de si, até o dia em que, por meio do raio-X,
percebeu-se o instrumento dentro do corpo. Neste caso caberá ação de indenização, a contar do
momento em que teve o conhecimento do fato.
É a adoção da teoria da actio nata com viés subjetivo, adotada pela jurisprudência.
Em sede legislativa, esta teoria foi adotada pelo art. 27 do CDC, estabelecendo que
prescreve em 5 anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do
serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Sobre o art. 27 do CDC, importa registrar que de acordo com entendimento do STJ a
pretensão do segurado de cobrar do segurador a indenização contratada prescreve em um ano
(prescrição ânua). Não se o prazo prescricional do art. 27 do CDC, pois não se trata de fato do
serviço (acidente de consumo), mas de inadimplemento contratual.
Se o indivíduo experimentou o dano, mas não sabe que o experimentou, não começa a
contar o prazo.
De acordo com o art. 190, a exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.
Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes, pois têm origem
estritamente legal (art. 192). Já a decadência poderá ser legal ou convencional.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita
(art. 193). Agora, não está limitada à primeira manifestação da parte, podendo a prescrição ser
alegada em sede de recurso.
O código civil não traz nenhuma novidade, e portanto a súmula 150 do STF continua em
vigor, dizendo que a execução prescreve no mesmo prazo da prescrição da ação.
O NCPC incluiu uma outra forma de prescrição nas ações de execução, denominada
prescrição intercorrente. O art. 921 do NCPC estabelece entre as hipóteses de suspensão da
execução, o fato de o executado não ter bens penhoráveis.
Nesta situação, o juiz suspende o processo pelo prazo de 1 ano, situação na qual também
ficará suspensa a prescrição. Após ultrapassado o prazo de 1 ano, começa a correr o prazo da
prescrição intercorrente. Então, o NCPC traz a hipótese e possibilidade de prescrição intercorrente
nas ações de execução. O juiz, depois de ouvir as partes, no prazo de 15 dias, poderá de ofício
reconhecer a prescrição intercorrente e extinguir o processo.
Segundo o art. 195, os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os
seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem
oportunamente.
O art. 196 diz que a prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu
sucessor.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
O enunciado 296 do CJF, por uma questão de valorização constitucional, estabelece que não
corre também a prescrição entre os companheiros durante a união estável.
• Não corre a prescrição entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
• Não corre a prescrição entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a
tutela ou curatela;
• Não corre a prescrição contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de
guerra;
Vale também para termo inicial, o qual recebe o mesmo tratamento da condição suspensiva.
Este dispositivo seria desnecessário, pois enquanto não tiver ocorrido a condição suspensiva, não
adquiriu sequer o direito, não tendo como exigir.
• Não corre a prescrição não estando vencido o prazo;
A evicção é a perda de uma coisa em decorrência a uma decisão judicial ou decisão administrativa
que atribui determinada coisa a terceiro. Enquanto estiver cobrando algo em juízo não correrá a
prescrição contra o sujeito que vendeu a coisa.
• Não corre a prescrição antes da respectiva sentença definitiva, quando a ação se originar de
fato que deva ser apurado no juízo criminal;
Houve um ilícito civil e penal. O sujeito está respondendo o processo na esfera penal, razão pela
qual deverá aguardar o término do processo penal para aferir a responsabilidade civil do
indivíduo. Enquanto não houver a respectiva sentença definitiva, não começará a correr o prazo
prescricional.
O art. 201 diz que, suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, esta
suspensão só aproveita aos demais se a obrigação for indivisível.
conduta do devedor, fazendo com que o prazo se interrompa e retorne ao seu início.
O NCPC, de acordo com o art. 240, §1º, estabelece que a interrupção da prescrição, operada pelo
despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data
de propositura da ação.
Portanto, o prazo em que foi ajuizada a ação será considerada como marco interruptivo da
prescrição, visto que o despacho terá força retroativa.
O art. 19, §2º, da Lei 9.307, estabelece que a instituição da arbitragem interrompe a prescrição
retroagindo à data de requerimento de instauração àquela arbitragem.
Portanto, a instituição de arbitragem também interrompe a prescrição.
• interrompe a prescrição o protesto judicial ou o protesto cambial;
• interrompe a prescrição qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
Veja, aqui há uma conduta do devedor. Ex.: pagamento de juros pelo devedor. Outro exemplo o
STJ entendeu que constitui causa interruptiva da prescrição a propositura de demanda judicial
pelo devedor, seja anulatória, seja de sustação de protesto, que importe em impugnação de
débito contratual ou cártula representativa de direito de credor.
O art. 204 diz que a interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros
credores. Da mesma forma, a interrupção operada contra um codevedor, ou seu herdeiro, não
prejudica aos demais coobrigados.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros, mas a interrupção
efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.
O art. 207 diz que, salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as
normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.
O art. 208 estabelece que a decadência não corre contra os absolutamente incapazes.
Atente-se que os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas também têm ação contra os seus
assistentes ou representantes legais, que derem causa à decadência, ou não a alegarem
oportunamente.
Como dito anteriormente, é nula a renúncia à decadência legal. Por outro lado, é possível
renunciar a decadência convencional, após a sua consumação.
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Eduardo Defaveri
Responsabilidade Civil
1. Responsabilidade Civil
I. Introdução
Ato ilícito é um ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, que viola direitos e causa
prejuízos a uma outra pessoa, situação na qual nasce o dever de reparar o dano.
O art. 186 do CC diz que, aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
O art. 187 consagra a teoria do abuso de direito (teoria dos atos emulativos).
Para que o abuso do direito esteja configurado, é importante que a pessoa esteja
exercendo o direito de forma abusiva ou irregular. É a atuação do exercício irregular do direito.
Para tanto, não é necessário que se discuta ou que se levante o elemento culpa. Basta que
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
a conduta exceda manifestamente os parâmetros do art. 187 (fins econômicos, fins social, boa-fé
objetiva ou pelos bons costumes).
O exercício irregular do direito poderá se dar em diversos ramos da ciência jurídica: direito
do consumidor (ex.: propagandas discriminatórias), direito do trabalho (ex.: direito de demissão
do trabalhador, mas não poderá ser vexatória), direito processual (ex.: punição por litigância de
má-fé para quem deduziu pretensão contra texto expresso em lei).
Assédio judicial ocorre quando alguém, líder de um certo grupo, instiga os liderados a
promover uma série de demandas descabidas contra uma determinada pessoa. Ex.: pessoa
ameaça ingressar com mais de 100 processos contra outra por esta não fazer o que ela quer.
Apesar de haver o direito de ação, este está sendo exercido de forma irregular.
Dentro do direito civil, será encontrado no direito das coisas, o exercício abusivo do direito
de propriedade, que atribui ao titular a prerrogativa de usar, gozar, de fruir, de dispor da coisa,
sendo oponível a todos os outros. Este direito de propriedade tem esse caráter erga omnes.
Quando estão preenchidos todos estes atributos, o sujeito passa a ter a propriedade plena do
bem.
O §1º do art. 1.228 diz que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância
com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados a flora, a fauna,
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada
a poluição do ar e das águas.
Com base neste dispositivo é possível verificar que o exercício do direito de propriedade
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
deverá atender ao fim econômico e social, bem como a preservação do meio ambiente.
Percebe-se que o direito de propriedade é limitado, pois ela deve cumprir a sua função
social.
• Conduta humana
• Dano (prejuízo)
• Nexo de causalidade
a) Conduta humana
A conduta humana é causada por uma ação ou omissão, que poderá ser voluntária, por
negligência, imprudência ou imperícia.
Para que haja uma conduta omissiva apta a gerar o dever de indenizar, é preciso que se
esteja diante de um caso em que o sujeito tinha o dever jurídico de agir e não agiu, ou seja, tinha
o dever jurídico de praticar o ato, mas não praticou. Além disso, é imprescindível que tenha
havido prejuízo.
Para responsabilizá-lo, não basta que o indivíduo tivesse o dever de praticar o ato, não
praticou e houve o prejuízo. É necessário ainda demonstrar que, se a conduta tivesse sido
praticada, o dano teria sido evitado, ou poderia ter sido evitado. Não basta o dever de agir e não
agiu, devendo também demonstrar que se o indivíduo tivesse agido, o dano poderia não ter
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
ocorrido.
O art. 942 do CC estabelece que os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito
de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado. Se a ofensa tiver mais de um autor, todos
responderão solidariamente pela reparação. Há consagração da hipótese de solidariedade legal.
Perceba que, neste caso, o indivíduo está sendo responsabilizado por ato próprio.
Todavia, poderá o indivíduo responder por ato praticado por terceiros, como os pais
respondem pelos filhos menores, dono do animal responde pelo animal, etc.
Como se vê, não é apenas o ato próprio que gera responsabilidade para o indivíduo, mas
também atos de terceiros, a depender do caso.
A culpa em sentido estrito, apesar de existir o desrespeito a uma norma, não há a violação
intencional desse dever. Portanto, na culpa há uma conduta voluntária, mas se chega a um
resultado involuntário. Todavia, o resultado era previsível, razão pela qual houve uma violação aos
deveres objetivos de cuidado.
• Imprudência: é falta de cuidado somado a uma ação. É o agir sem tomar os cuidados necessários.
É o sujeito que emprega velocidade acima do permitido.
• Negligência: é a falta de cuidado pela omissão. É o sujeito que causa dano, porque o carro
derrapa na pista, batendo no carro estacionado, eis que os pneus estavam carecas, ainda que
estivesse em baixa velocidade.
• Imperícia: é falta de qualificação, própria dos profissionais liberais. Ex.: médico que faz cirurgia
sem ter habilitação para fazer cirurgia.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
É possível que haja na mesma situação negligência e imprudência, como é o caso em que
o sujeito corre a 200 km/h na avenida, chovendo e com pneus carecas.
i. Quanto à origem
• Culpa contratual: é o desrespeito a uma norma prevista no contrato, ou mesmo um dever anexo,
relacionado com a boa-fé objetiva. Vale lembrar que a culpa contratual é considerada mais grave
do que a extracontratual.
• Culpa in vigilando: era a culpa decorrente da quebra do dever legal de vigilância. É o pai que não
vigiou o filho, tendo este causado dano. Neste caso, o pai iria ser responsabilizado por este
prejuízo.
• Culpa in elegendo: o patrão, pelo ato do empregado que causou prejuízo, responderia, já que
ele elegeu aquele empregado.
Hoje em dia não cabe mais falar nessas modalidades de culpa presumida. Isso porque o
art. 933 do Código Civil adota a teoria do risco. Portanto, esses casos acima passam a ser casos de
aplicação da responsabilidade objetiva.
• Culpa grave (lata): há uma imprudência ou negligência crassa. O efeito é o mesmo do efeito do
dolo, devendo o ofensor pagar a indenização integral.
• Culpa média e culpa leve: é a culpa intermediária, passando a ser analisada se há uma
concorrência de culpas com relação ao terceiro. Isso porque haverá repercussão na indenização.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Se houver uma exceção desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, o juiz poderá reduzir
equitativamente a indenização, especialmente quando a vítima tiver contribuído para o evento
danoso.
• Culpa levíssima: o fato só teria sido evitável se tivesse empregado uma cautela extraordinária.
Em regra, responderá a pessoa, ainda que a culpa seja levíssima, conforme se extrai do art. 944
do CC, o qual diz que a indenização mede-se pela extensão do dano. Mas, presente a culpa
levíssima, a indenização deverá ser reduzida, visto que haverá maior desproporção entre a culpa
e o dano experimentado.
É possível que haja a não reparação integral do dano, nos casos em que há desproporção
entre a gravidade da culpa e o dano experimentado, situação na qual o juiz reduzirá
equitativamente a indenização. Esta desproporção deve ser analisada restritivamente, porque a
regra é a reparação integral.
Veja que este tema é tratado na responsabilidade subjetiva, em que há análise da culpa.
Flávio Tartuce chama a atenção para os casos de responsabilidade objetiva. Para ele, no
caso de responsabilidade objetiva, não se discute culpa, mas a culpa concorrente da vítima é
admitida como atenuante do nexo de causalidade. Dessa forma, se a vítima contribuiu 20% para
a ocorrência do dano e o causador contribuiu com 80% para a causação do dano, significa que
haverá implicância na redução equitativa da indenização. Portanto, se há um dano de 100 mil, mas
20% foi culpa da vítima, deverá reduzir 20% na indenização, por conta da atenuação do nexo de
causalidade.
c) Nexo de causalidade
A responsabilidade civil, ainda que objetiva, não existe se não houver relação de
causalidade entre a conduta do agente e o dano experimentado pela vítima.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Existem várias teorias que justificam o nexo de causalidade, sendo 3 delas as mais
importantes:
• Teoria da causalidade adequada: existe uma parcela da doutrina (Tartuce) que diz que esta foi
adotada pelo Código Civil, sendo esta a ser adotada para fins de prova. Esta teoria diz que o fato
relevante ao evento é o que gera a responsabilidade civil. Ou seja, existe nexo de causalidade
quando há fato relevante para causação do dano. Estaria prevista nos arts. 944 e 945 do CC. O
que se faz é a possibilidade de pensar a causalidade como forma adequada.
• Teoria do dano direto e imediato: prevalece na doutrina esta corrente. Somente devem ser
reparados os danos que decorrem dos efeitos necessários da conduta do agente. Os efeitos
necessários decorrentes daquela conduta são os que podem ser imputados àquele sujeito. É a
ideia do art. 403 do CC. Veja, é na doutrina que prevalece!
• Força maior: é um evento previsível, mas inevitável. Ex.: furacão. Sabe-se que virá, mas é
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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inevitável.
Essas excludentes do nexo de causalidade devem ser analisadas caso a caso. É preciso
verificar se naquele evento se está diante de um caso fortuito ou força maior, ou se decorre do
risco do empreendimento, o chamado risco proveito, ou seja, se não há relação com a atividade
do suposto causador do dano.
É imperioso saber se o fato causado entra ou não no risco do negócio. Isto é, se será
considerado efeito interno ou se se trata de um evento externo ao negócio, a fim de verificar se
há responsabilidade ou não pelo fato. Isto varia de caso a caso.
Por exemplo, assalto à mão armada pode ser caso fortuito ou não, a depender do negócio.
Para descobrir é preciso verificar onde o assalta ocorreu e qual era o serviço prestado pelo
estabelecimento que ocorreu. Ex.: assalto a ônibus é considerado caso fortuito ou força maior,
excluindo a responsabilidade pela ausência de nexo causal. Todavia, o assalto dentro de uma
agência bancária não exclui o nexo de causalidade, devendo a instituição financeira ser
responsabilizada. Este dever de indenizar continua presente porque o banco deve garantir
segurança de quem está dentro dele.
Todavia, se o assalta ocorre na via pública, fora da instituição financeira, o banco não
responde, pois o evento foge do risco do empreendimento, ou seja, é um fato externo. O assalto
dentro da agência é fato interno.
O STJ entende que assalto praticado no interior de shopping center não exime a empresa
de responder pelo prejuízo experimentado pela vítima, pois se trata de risco do
empreendimento, ainda que seja no estacionamento.
Além disso, o STJ, na Súmula 479, estabelece que instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por um fortuito interno, relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros, no âmbito das atividades bancárias.
Com relação ao caso fortuito e a força maior, para estarem presentes, no entanto, é
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• Necessariedade: deve ser analisado se o fato ocorrido tinha, no caso concreto, a aptidão (força)
de impossibilitar o cumprimento da obrigação. O fato deve ser de tal ponto grave que gere a
impossibilidade absoluta de cumprimento da prestação. Vale ressaltar que impossibilidade não
se confunde com dificuldade ou onerosidade. Não basta que o fato tenha tornado mais difícil ou
oneroso o cumprimento da obrigação. Ele deve ter tornado impossível.
• Inevitabilidade: deve ser analisado se o devedor não tinha, no caso concreto, meios para evitar
ou impedir as consequências do evento. “O fato deve ser irresistível, invencível, atuando com
força indomável e inarredável. O que se considera é se o evento não podia ser impedido nos seus
efeitos. O fato resistível, que pode ser superado, não constitui evento a autorizar a exoneração.
É perfeitamente possível que o fato seja imprevisível, mas suas consequências evitáveis. Se o
devedor não toma medidas para evitá-la, tipifica-se o inadimplemento e não a impossibilidade
com apoio no caso fortuito ou força maior.” (Marco Aurélio Viana).
Por conta disso, o STJ entendeu que a invasão promovida pelo MST em propriedade rural,
por si só, não é fato suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser
analisada, concretamente, a presença dos requisitos do caso fortuito e força maior
(necessariedade e inevitabilidade, previstos no art. 393, parágrafo único). A parte que faz esta
alegação deve comprovar que a ocupação ilegal da propriedade rural pelo MST criou óbice
intransponível ao cumprimento da obrigação. Deverá também provar que não havia meios de
evitar ou impedir os seus efeitos. Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá
exigível na hipótese de o MST invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a
invasão constitui óbice intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam meios de
evitar ou impedir os efeitos dessa ocupação.
d) Dano (prejuízo)
• Dano material
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• Dano moral
• Dano estético
• Dano social
Dano patrimonial ou material atinge o patrimônio corpóreo de uma pessoa. Não cabe a
fixação de dano hipotético ou eventual de uma pessoa.
• Danos emergentes (danos positivos): é o que efetivamente se perdeu com o dano. Ex.: houve
um homicídio, situação na qual a família gastou com hospital, funeral, etc. A família tem o direito
de ser reembolsado por estas despesas.
• Lucros cessantes (danos negativos): é aquilo que efetivamente se deixou de ganhar. Ex.: no caso
do homicídio, é a prestação de alimentos indenizatórios, ou seja, é o valor que o sujeito estaria
contribuindo para a sua família, mas que agora não pode mais. Existem lucros e rendas cessantes.
O taxista, quando fica na oficina por conta de um dano experimentado, ficará sem
trabalhar. Se o valor da reparação do carro foi 3 mil reais, isto será dano emergente. Mas durante
o período que o sujeito ficou sem trabalhar ele não ganhou, devendo receber os danos negativos,
ou seja, os lucros cessantes por aquilo que não recebeu durante o período.
→ Alimentos indenizatórios
Em relação aos alimentos indenizatórios, por conta de morte ou invalidez, é devida uma
indenização a título de lucros cessantes aos dependentes do falecido.
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Deve-se levar em conta o tempo de vida provável daquela pessoa que faleceu,
considerando a expectativa de vida informada pelo IBGE.
O cálculo dos alimentos indenizatórios é feito da seguinte forma: o STJ considera que 2/3
do salário da vítima, pois 1/3 ela gastaria consigo mesma. Portanto, 2/3 irão para os dependentes
da vítima, mais FGTS, décimo terceiro, férias, horas extras eventuais, até o limite da idade de
expectativa de vida provável da vítima.
Supondo que o acidente tenha atingido uma vítima que já tinha ultrapassado este limite
de idade de vida provável, trazido pelo IBGE. Ex.: atropelaram o senhor de 80 anos na faixa de
pedestre.
Neste caso, faz-se um cálculo de sobrevida, de acordo com as condições gerais daquele
sujeito. E este cálculo poderá variar de 2 a 5 anos, ou até maior.
A jurisprudência entende que o valor que foi pago pelo seguro obrigatório (DPVAT) deve
ser abatido do montante reparatório pago pelo causador do dano. Este é o teor da Súmula 246
que diz que o valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente
fixada.
Há crítica da doutrina sobre isso, pois para a jurisprudência seria caso de enriquecimento
sem causa.
Em alguns casos, o STJ tem quebrado esta regra de que a indenização deverá ser fixada
com base na vida provável da vítima falecida. Exemplo disso ocorre nos casos em que quem
falece é o filho da família. Ex.: filho teria 17 anos quando faleceu. Neste caso, ele contribuiria para
família até uma certa idade. Ou também nos casos em que falece o pai da família, o qual tinha 54
anos e o filho tinha 17 anos. Neste caso, o filho não vai ficar recebendo do pai até o fim da vida
provável, mas apenas até os 24 ou 25 anos, que é o limite da relação de dependência. Esta é a
presunção que o STJ cria.
Neste caso, a Súmula 491 do STF estabelece que é indenizável o acidente que cause a
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
O cálculo dessa indenização é feito com base num salário mínimo, contabilizando 2/3 no
período em que o menor teria entre 14 a 24 anos, supondo que ajudaria a família.
No entanto, existem julgados que defendem elementos indenizatórios aos pais, inclusive
após este período. Nesta situação, em que o indivíduo atinge 24 ou 25 anos, presume-se que ele
teria casado, hipótese que passará a contribuir com 1/3 de seus rendimentos.
Flávio Tartuce critica essa visão do STJ, alertando que isto não é a realidade brasileira. Para
ele, a pessoa com 25 anos, como regra geral, não contribui com mais nada para sua família.
Não se aplica ao caso a Súmula 54 do STJ, que somente tem incidência para condenações
que são fixadas em uma única parcela. Se a condenação for por responsabilidade extracontratual,
mas o juiz fixar pensão mensal, neste caso, sobre as parcelas já vencidas incidirão juros de mora a
contar da data em que venceu cada prestação. Sobre as parcelas vincendas, em princípio não
haverá juros de mora, a não ser que o devedor atrase o pagamento, situação na qual os juros irão
incidir sobre a data do respectivo vencimento (Inf. 580, STJ).
O dano moral está presente quando está lesão se dá em face de direitos da personalidade.
A angústia, o sofrimento ou a dor são efeitos do dano moral. Isso porque o dano moral é
configurado a lesão de direitos da personalidade.
No dano moral não existe uma finalidade de acréscimo patrimonial, tanto é que não
incide imposto de renda sobre esta indenização. Este entendimento inclusive é sumulado pelo
STJ (Súmula 498).
Como dito, para haver dano moral, é necessário que haja lesão aos direitos da
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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personalidade. Diante disso, é possível que o indivíduo não sinta dor, angústia ou sofrimento, mas
ainda assim esteja presente o dano moral.
Demonstrada a ocorrência da ofensa, não é preciso comprovar que essa ofensa gerou dor,
angústia ou sofrimento para configuração do dano moral.
É por isso que se diz que é um dano moral in re ipsa, isto é, comprovado dano a um direito
da personalidade, não é necessário comprovar que aquela atitude gerou dor, angústia ou
sofrimento. Ex.: inscrição no cadastro dos inadimplentes quando é indevida.
• Dano moral direto: a lesão atinge a própria pessoal, diretamente. O sujeito inscreveu o nome do
lesado nos cadastros de inadimplentes.
• Dano moral indireto: ocorre quando há um dano moral em ricochete. Isto é, o dano moral que
atinge a pessoa de forma reflexa. Por exemplo, por conta da atitude imprudente alguém é morto.
Há um dano moral à família do lesado. Veja, um terceiro experimentou o dano moral por um fato
ocasionado a outra pessoa. Ex.: uso indevido da imagem do morto ou lesão à honra do morto.
Haverá também dano em ricochete quando há lesão em face de uma coisa. O animal é
considerado uma coisa para fins de indenização. Se alguém matar um animal, poderá ser
considerado que houve um dano moral, caso em que seria um dano moral em ricochete, atingindo
a pessoa de forma reflexa.
Esta é a regra. Isso porque a jurisprudência do STJ vai dizer que, se o descumprimento do
contrato se der em relação a valores que são fundamentais, aí haverá dano moral. Ex.: sujeito
precisa ser internado, mas o plano de saúde indevidamente nega esse atendimento. Como o valor
tratado aí é saúde, e é fundamental, haverá dano moral.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Outro direito fundamental reconhecido é o direito à moradia. Neste caso, a questão que
chega ao STJ é o fato de que a construtora não entregou o imóvel na data aprazada. Por conta
disso, o STJ entende que se ultrapassar os limites do razoável, haverá configuração do dano moral.
No caso em que há contato do corpo estranho com a pessoa que consumiu o produto
alimentício, segundo o STJ, haverá a configuração do dano moral. Isto é pacífico.
A discussão que existe é, e se o sujeito comprar a Coca-Cola, notar que há uma barata
nadando dentro do refrigerante? Neste caso, há ou não o dano moral?
Em 2014, o STJ considerou que os danos morais seriam reparáveis, ainda que o produto
não tivesse sido consumido. O fundamento foi de que houve um concreto risco de lesão à saúde
do consumidor, de forma que há uma ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada.
Neste caso, justifica a fixação de danos morais de alimentos não consumido, pois continha um
corpo estranho.
O que se percebe é que há um caminhar para a responsabilidade civil sem dano. Isso
porque o sujeito não experimentou o dano moral.
O ministro Luís Felipe Salomão disse que: “a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
se consolidou, no sentido de que a ausência de ingestão do produto impróprio para o consumo
configura hipótese e mero dissabor vivenciado pelo consumidor”. Este julgado é de 2015.
Isto irá depender do caso concreto. O dano moral não surge apenas da simples violação à
legislação que determina o tempo máximo de espera.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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não haver dano moral, pois vai depender da verificação dos casos, ou dos fatos que geraram
sofrimento ou o desconforto que ultrapassou o limite do mero dissabor da vida em sociedade,
causando angústia, dor ou outro valor psíquico, capaz de gerar dano moral.
Ex.: idoso esperou durante 2 horas na fila do banco em pé. Houve a responsabilização por
dano moral neste caso.
Estas decisões em que começa a condenar alguém porque fez com que outra pessoa
esperasse por mais de duas horas na fila do banco implica a adoção da possibilidade de se
responsabilizar civilmente alguém pela perda do tempo livre.
A perda do tempo livre justifica a indenização, pois se trata de um valor que deve ser
considerado.
São alguns direitos da personalidade da pessoa jurídica: direito ao nome, direito à honra
objetiva, direito à imagem, etc.
O STJ foi decidir a respeito do cabimento ou não de indenização por danos morais em
benefício de pessoa jurídica de direito público. Ocorre que o STJ entendeu que não são cabíveis.
O fundamento é a origem do instituto do cabimento da indenização por danos morais.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Como se sabe, o dano moral busca proteger os direitos fundamentais. E a origem dos
danos fundamentais está ligada à necessidade de se proteger o cidadão do Estado. Por isso, tanto
a doutrina como a jurisprudência somente irão reconhecer às pessoas jurídicas de direito público
direitos fundamentais de caráter processual ou que assegurem a ela a sua autonomia.
Veja, são direitos fundamentais que asseguram proteção ao Estado contra o próprio
Estado.
Para o STJ, não cabe ao Estado alegar que um indivíduo violou direito da personalidade do
Estado e, portanto, deve indenizá-lo moralmente, pela violação da imagem.
1ªC: entende que a indenização de danos morais tem a natureza meramente reparatória.
Está superada.
2ªC: a indenização por danos morais tem caráter punitivo ou disciplinador (punitive
damages). A ideia é punir alguém pelo fato de ter violado um direito da personalidade.
3ªC: a indenização por danos morais tem caráter compensatório, caráter reparatório, mas
também tem um caráter pedagógico, disciplinador, visando coibir novas condutas. Não pode ser
ínfima a indenização a fim de fomentar a prática ilícita pelo ofensor. Esta é a tese que vai
prevalecer.
Em outubro de 2016, o STJ fixou critérios para se chegar a esse valor de indenização por
danos morais.
Inicialmente, o juiz, para fixar danos morais, deve agir com equidade, com bom senso,
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Ocorre que o STJ tem um julgado que é da relatoria do ministro San Severino, que foi
relembrado por Luís Felipe Salomão.
• 1ª Fase: Fixação do valor básico de acordo com o interesse jurídico lesado e analisa-se como o
Tribunal normalmente fixa o dano para essa situação. Ex.: houve morte no caso concreto e o
Tribunal normalmente fixa 200 salários mínimos para estes casos.
É preciso entender que a indenização tem uma função pedagógica, mas o valor pecuniário
não pode gerar enriquecimento sem causa do autor.
Portanto, o juiz deve ter atenção ao princípio da proporcionalidade, de forma que não seja
ínfima a indenização, a ponto de fomentar a prática ilícita, e nem mesmo alta para gerar
enriquecimento sem causa.
Hoje, doutrina e jurisprudência separam dano estético de dano moral, mas ambos são
danos de caráter extrapatrimonial.
Conceitua-se dano estético como sendo lesão à beleza física, à harmonia da forma externa
de alguém.
Estes danos estão presentes quando a pessoa tem uma ferida, uma cicatriz, um corte na
pele, quando sofre uma lesão ou a perda de um órgão, podendo ser inclusive interno, desde que
seja visível. A imputação também pode ser dano estético.
O STJ vem entendendo que dano estético é uma coisa e dano moral é outra. No dano
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estético há uma alteração morfológica da formação corporal, que agride a visão, causando
desagrado ou repulsa, ou mesmo chamando atenção pela falta de harmonia gerada pelo evento.
Por isso a súmula 387 do STJ diz que é lícita a cumulação de dano estético com o dano
moral.
Dano moral coletivo é o dano que atinge ao mesmo tempo vários direitos da
personalidade de pessoas determinadas ou determináveis. Os danos morais coletivos não têm
caráter difuso.
O CDC vai admitir expressamente a reparação de danos morais coletivos (art. 6, VI).
No STJ, há precedentes nos dois sentidos, ora admitindo danos morais coletivos, ora
inadmitindo essa indenização. No entanto, é uma tendência a sua admissão de reparação de dano
moral coletivo.
Em 2012, o STJ condenou uma instituição bancária por danos morais coletivos, causados
aos clientes com deficiência física, pois o banco havia colocado os caixas no andar de cima da
agência bancária, dificultando o acesso das pessoas com deficiência.
Danos sociais são lesões à sociedade, que atingem à qualidade de vida da sociedade, tanto
por conta do seu rebaixamento patrimônio moral, principalmente no tocante à segurança, quanto
por diminuição da qualidade de vida. Esse rebaixamento pode ter repercussão material e também
repercussão moral.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O dano social decorre de uma conduta socialmente reprovável. São danos difusos,
envolvendo direitos difusos, sendo as vítimas indeterminadas e indetermináveis. Por conta disso,
a indenização por danos sociais também está previsto no art. 6º, VI, do CDC.
O valor a ser fixado será destinado ao fundo de proteção que tenha relação ao direito
atingido ou a uma instituição de caridade.
Flávio Tartuce rasgou elogios a esta decisão, afirmando que a condenação decorreu de
uma matéria de ordem pública, motivo pelo qual seria desnecessário o pedido na petição inicial.
A perda de uma chance é um tema interessante e importante, visto que se percebeu que
as pessoas sofriam danos por perda de uma chance considerável de se cumprir.
Essa perda de uma chance ocorre quando a pessoa vê frustrada uma expectativa que ela
tinha e que, dentro da lógica do razoável, ela teria, caso as coisas tivessem seguido o seu curso
normal. É a perda da chance séria e real que justifica a indenização.
Por exemplo, vários julgados condenam advogados que perdem o prazo do recurso, pois
houve a perda de uma chance de vitória judicial. Perceba que se trata de um caso em que o sujeito
de 1ª instância decida de uma forma, e o Tribunal de Justiça entende de outra forma. Neste caso,
não há dúvidas de que deverá pagar indenização.
Essa chance de vitória deve ser séria e real, quando, por exemplo, o Tribunal tenha o
entendimento pacífico contrário ao entendimento do juiz que julgou a sentença. Do contrário, se
a chance era mínima, não haverá perda de uma chance.
O STJ vai dizer que a teoria da perda de uma chance pode ser utilizada para apuração de
responsabilidade civil por erro médico, mas na hipótese em que o erro médico tenha reduzido
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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No caso dessa indenização por erro médico, não se trata de uma coisa simples. No caso, o
que matou o paciente não foi o erro médico ou o médico, e sim a doença. O dano morte foi
experimentado em razão de uma doença.
A perda de uma chance é uma modalidade autônoma de indenização, motivo pelo qual
não há responsabilização pelo resultado morte, pois não foi o médico que causou. O médico irá
responder pela perda de uma chance que ele privou o paciente. Então, a chance em si é
considerada como um bem autônomo, perfeitamente reparável. E portanto, não há uma
mitigação do nexo causal, e sim o nexo causal direto. Ou seja, há a conduta do médico, que pode
ser omissiva ou comissiva e o resultado e o dano, que é a perda da chance, como bem jurídico
autônomo.
Há uma doutrina que pretende dar um caráter mais objetivo para esta teoria da perda de
uma chance, a fim de considerar para que haja uma chance real e séria, deverá ela ser superior a
50% de chances.
A maior parte dos julgados não considera aplicável a teoria da perda de uma chance,
motivo pelo qual dependerá do caso concreto a fixação de indenização.
De acordo com o art. 950 do CC, se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não
possa exercer sua profissão ou ofício, ou se diminuir a capacidade de trabalho, a indenização
cabível deve cobrir, além das despesas de tratamento e os lucros cessantes, a pensão
correspondente ao trabalho que ele não poderá mais exercer, ou uma pensão que cubra a
depreciação da remuneração que experimenta, em razão de não poder mais exercer na
plenitude o trabalho que exercia.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Esse pedido do credor, para receber tudo de uma vez será feito, não necessariamente vai
ocorrer, pois o juiz, para deferir ou não, analisará quais são as condições econômicas do devedor.
Mas será encontrado no entendimento no próprio STJ, em que entende que poderá ser
discutida a culpa no caso de obrigação de resultado assumida por profissional liberal. Cumpre ao
médico demonstrar que os eventos danosos decorreram de fatores externos e alheios à sua
atuação na cirurgia.
Veja, o STJ diz que se continua discutindo a culpa, porém há a inversão do ônus da prova.
O paciente não precisa provar que o médico errou, e sim o médico provar que não houve culpa
sua, e que o erro experimentado decorreu de fatores externos, alheios à cirurgia.
O art. 952 do CC diz que, havendo usurpação ou esbulho de coisa alheia, além dessa coisa
ter de ser restituída, a indenização vai consistir pagar o valor das deteriorações e dos lucros
cessantes. Se a coisa faltar, o esbulhador terá de indenizar o correspondente à coisa perdida,
tendo em vista eventual afeição que a pessoa pode ter.
O legislador diz que o vizinho, bêbado do prédio, que entrou no garagem e atropelou o
cachorro da vizinha, não poderá apenas repor um novo cachorro, ainda que seja da mesma raça.
Neste caso, é necessário considerar o valor da afeição, considerando o quanto o animal era
importante para a pessoa.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O valor de afeição deverá ser considerado quando for fixar o valor da indenização.
Este dispositivo diz que, aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Perceba aqui que a responsabilidade poderá independer de culpa, e ser objetiva, quando:
• Teoria do risco criado: está presente nos casos em que o agente cria um risco. No art. 938 do CC,
há responsabilidade do ocupante do prédio pelas coisas que dele caírem ou serem lançadas
(defenestrar).
• Teoria do risco profissional: neste caso, a atividade exercida pelo sujeito gera riscos.
• Teoria do risco proveito: o risco decorre de uma atividade lucrativa. O sujeito extrai proveito
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• Teoria do risco integral: diverge das demais, pois não admite causa excludente de
responsabilidade civil alegada. É típica dos danos ambientais e dos danos nucleares.
Perceba que o parágrafo único do art. 927 fala em atividade de risco. Esta expressão é uma
cláusula geral. Então é o juiz quem vai dizer se aquela atividade é de risco ou não é.
Se for lido o art. 7º, XXVIII, da CF, parece que a responsabilidade do empregador é dolosa
ou culposa, em face de dano experimentado pelo empregado.
Este dispositivo diz que são direitos do trabalhador, sem excluir outros, seguros contra
acidentes do trabalho a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que o empregador está
obrigado, quando incorrer em dolo ou em culpa.
A CF diz que o seguro vai ter de arcar, sem excluir a indenização quando incorrer em dolo
ou culpa. Então, para ter de pagar indenização será necessário incorrer dolo ou culpa.
No entanto, quando o dispositivo inicia, afirma que são direitos do trabalhador, sem excluir
outros. Portanto, o empregador deverá pagar ao empregado uma indenização, quando causa
prejuízo, com dolo ou culpa, mas também quando há prejuízo sem dolo ou sem culpa,
respondendo objetivamente pelos danos causados ao empregado. Isso porque a atividade que
exerce é uma atividade de risco.
Portanto, atividade de risco é aquilo que a jurisprudência dos Tribunais dizem que é. Trata-
se de uma cláusula geral.
Então, tem-se entendido que é necessário demonstrar a culpa da empresa que mantém o
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site. Neste caso, só irá responder se tiver agido culposamente, como por exemplo quando é
comunicada extrajudicialmente sobre as mensagens ofensivas, e ainda assim não toma
providências para afastar o dano.
Em 2014, veio o Marco Civil da Internet 12.965/14, no seu art. 18, a lei diz que o provedor
de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiro.
O problema é que o art. 19 traz uma restrição perigosa, pois diz que provedores de internet
somente podem ser responsabilizados por danos decorrentes de um conteúdo gerado por uma
terceira pessoa se, após ordem judicial específica, não tomarem as providências para, dentro do
prazo assinalado, tornar indisponíveis o conteúdo.
Lembrando que não se fala mais em culpa in custodiendo, in elegendo e in vigilando, pois
passam a ser casos de responsabilidade objetiva.
• Os pais são responsáveis pelos atos praticados pelos filhos que estejam sob a sua autoridade e
sob a sua companhia.
• O tutor e curador são responsáveis por atos de pupilos ou curatelados que estejam sob sua
autoridade e em sua companhia.
• Os donos do hotel também serão responsáveis pelos hóspedes que tenham gerado dano.
• Aqueles que contribuírem gratuitamente nos produtos do crime, serão responsáveis até a
concorrência da respectiva quantia, independentemente de culpa. Ou seja, se o indivíduo
contribuiu com o produto do crime, deverá responder até a quantia que a qual concorreu.
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Todos esses casos são de responsabilidade civil objetiva, conforme o art. 933, o qual diz
que as pessoas mencionadas no art. 932 respondem independentemente de culpa.
Para que essas pessoas respondam, não é necessário que demonstrem culpa delas, mas é
necessário que demonstrem que houve culpa daqueles pelos quais elas respondem. Então, há
uma responsabilidade objetiva indireta, denominada responsabilidade objetiva impura.
Isso porque não é necessária comprovar culpa do sujeito que está sendo responsabilizado,
porém é preciso provar a culpa do tutelado, curatelado, filho, empregado, etc.
Lembrando que quem ressarcir o dano tem o direito de reaver o que tiver pago em
benefício daquele por quem pagou. O direito de regresso está garantido, salvo quando o
causador do dano for descendente, absolutamente ou relativamente incapaz.
O art. 942, parágrafo único, diz que há solidariedade entre todos os sujeitos dos incisos do
art. 932. Trata-se de uma solidariedade em relação à vítima, ou seja, poderá ela acionar tanto o
empregado quanto o empregador.
Ocorre que o caso dos incapazes é uma exceção a essa regra. Se o ato ilícito foi praticado
por um incapaz, o responsável por ele irá responder de forma principal e o incapaz terá apenas
responsabilidade subsidiária e mitigada.
Atente-se que deve ser lido este dispositivo juntamente com o art. 928. Este dispositivo diz
que o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis:
O parágrafo único do art. 928 diz que a indenização, que deverá ser equitativa, não terá
lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.
Atente-se que todos são solidários, menos o incapaz. Isso porque o incapaz tem uma
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responsabilidade subsidiária, pois só irá responder se os responsáveis por ele não tiverem essa
responsabilidade ou não tiverem condições de pagar. A responsabilidade do incapaz deve ser
equitativa, com base naquilo que poderá pagar, e nem terá lugar se essa indenização privá-lo ou
daqueles que dele dependam de sua sobrevivência.
Lembrando que o STJ decidiu que a responsabilidade dos pais por filho menor, além de
ser objetiva, deve-se comprovar apenas a culpa na prática do ato ilícito daquele pelo qual são
os pais responsáveis legalmente (ou seja, é necessário provar apenas a culpa do filho).
Por isso, pode-se concluir dizendo que os incapazes (ex: filhos menores), quando
praticarem atos que causem prejuízos, terão responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada
e equitativa, nos termos do art. 928 do CC. A responsabilidade dos pais dos filhos menores será
substitutiva, exclusiva e não solidária.
Por conta desse entendimento, não há obrigação nenhuma da vítima lesada de propor a
ação em litisconsórcio contra o responsável e o incapaz. Não há litisconsórcio necessário, neste
caso.
Seria plenamente possível que o autor (vítima) tivesse, por sua opção e liberalidade,
ajuizado a ação contra ambos (pai e filho, este causador do dano). Neste caso, teríamos uma
hipótese de litisconsórcio:
• Facultativo: não há nada (seja a lei ou a relação jurídica) que obrigue sua formação, decorrendo
ela da conveniência da parte.
• Simples: porque a decisão não seria necessariamente idêntica para o incapaz e seu responsável.
A vantagem de o autor propor contra os dois seria para o caso de ele já saber que o
responsável pelo incapaz não possui patrimônio suficiente e que o próprio incapaz detém bens,
em seu nome, que poderiam servir para custear a indenização. Trata-se de hipótese rara na
prática, mas possível. Neste caso, o autor faria dois pedidos:
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• O primeiro para que haja a condenação do responsável pelo incapaz a reparar o dano;
• O segundo pedido seria subsidiário, ou seja, na hipótese de o responsável pelo incapaz não ter a
obrigação de indenizar ou não ter meios para isso, pede-se a condenação do próprio incapaz.
Contudo, há uma exceção: os pais só respondem pelo filho incapaz que esteja sob sua
autoridade e em sua companhia. Assim, os pais, ou responsável, que não exercem autoridade
de fato sobre o filho, embora ainda detenham o poder familiar, não respondem por ele.
Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade,
residia permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor – sobre quem
apenas o pai exercia autoridade de fato – não pode ser responsabilizada pela reparação civil
advinda do ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o
filho (Inf. 575, STJ).
Lembrando que o art. 932, I, do CC estabelece que são também responsáveis pela
reparação civil os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia.
A doutrina e a jurisprudência afirmam que o legislador não foi muito feliz quando utilizou
a expressão “em sua companhia”. Assim, deve-se evitar, neste caso, a interpretação literal e os
pais irão responder mesmo que eles não estejam presentes no momento do ato causador do
dano.
Para Cristiano Farias, não se trata de proximidade física no momento do dano. Mesmo que
o menor, em viagem, cause danos a terceiros, tais danos estão sob o amparo do dispositivo em
questão. Cabe aos pais contribuir para a formação dos hábitos e comportamentos dos filhos, e
isso se reflete, de modo sensível, quando os menores estão fora do lar, e não se encontram sob a
proteção direta deles, e nem haja fiscalização familiar. É irrelevante, portanto, para a incidência
da norma, a proximidade física dos pais, no momento em que os menores causam danos.
Inclusive o STJ já decidiu que o fato de o menor não residir com o genitor não configura,
por si só, causa excludente de responsabilidade civil.
Por todo o exposto, não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor
simplesmente pelo fato de que ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no momento da
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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conduta.
Deve-se esclarecer que a responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos menores, nos
termos do art. 932, I, é objetiva. A responsabilidade por ato de terceiro (art. 932) é objetiva, sendo
também chamada de responsabilidade indireta ou complexa.
Este é inclusive o teor do Enunciado 451-CJF: A responsabilidade civil por ato de terceiro
funda-se na responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o modelo de
culpa presumida.
Assim, as pessoas arroladas no art. 932 responderão sem que se discuta se tiveram ou não
culpa. A vítima precisará, contudo, provar a culpa do causador direto do dano.
Especificamente quanto às demandas por danos causados por médicos, se for observado
qual é a responsabilidade dos hospitais nestes casos? O médico é empregado dos hospitais e aí
eles respondem objetivamente, independentemente de culpa?
Para o STJ, a responsabilidade dos hospitais, pelos danos causados aos pacientes (que são
consumidores), poderá ser sintetizada da seguinte forma:
• Atos técnicos praticados por médicos sem vínculo de emprego e de subordinação: serão
imputados ao profissional médico pessoalmente, ficando o hospital eximido da responsabilidade,
desde que não tenha concorrido para o dano.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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No art. 936 dispõe que o dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado,
se não provar culpa da vítima ou força maior.
Não havendo culpa exclusiva da vítima ou força maior, haverá uma causa excludente do
nexo de causalidade.
O art. 937 diz que o dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem
de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
Perceba que não é defenestração, não se trata de coisas jogadas da janela. Aqui é o prédio
em ruínas.
Neste caso, o dono da construção responde objetivamente pelo risco criado ou pelo risco
proveito.
Essas situações, na imensa maioria dos casos, estarão inseridas dentro da responsabilidade
objetiva do CDC. Isso porque o morador do prédio será considerado como consumidor direto
(quem comprou o apartamento) e a vítima do evento serão vítimas do eventos, sendo
considerados consumidores por equiparação (bystander).
Para não confundir, é necessário destacar a responsabilidade civil objetiva por danos
causados por coisas lançadas (defenestramento).
Defenestrar significa jogar pela janela, com base no art. 938 do CC, o qual diz que, aquele
que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano provenientes das coisas que dele caírem
ou forem lançadas em lugar indevido.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Sabe-se que o contrato de transporte é um contrato típico, pois está descrito na lei.
O art. 735 diz que, havendo acidente com o passageiro, não cabe a alegação de culpa
exclusiva de terceiro. Tal proteção é maior do que a prevista no CDC, visto que lá a culpa exclusiva
de terceiro exclui a responsabilidade, aqui não.
O transportador terá direito à ação regressiva, apesar de ter que indenizar o passageiro.
O art. 736, parágrafo único, diz que, caso o transportador receba algum tipo de vantagem
indireta, a sua responsabilidade será objetiva. Ex.: pagar gasolina, pedágio, almoço etc. Então a
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
No caso de programa de milhagem, aplica-se o art. 736, parágrafo único, visto que a
companhia aérea recebe um lucro indireto. Portanto, não dá para dizer que o sujeito terá
responsabilidade subjetiva.
a) Legítima defesa
O art. 188, I, diz que não constituem atos ilícitos aqueles atos praticados em legítima
defesa.
A excludente do dever de indenizar é a legítima defesa real, visto que a legítima defesa
putativa não exclui o dever de indenizar.
Tartuce faz uma analogia para aplicar ao art. 930 do CC os casos de legítima defesa. Esta
dispositivo é inicialmente aplicável a estado de necessidade e remoção de perigo iminente.
O art. 930 consagra o direito de regresso daquele que causou o dano em relação ao
causador do estado de perigo. Portanto, indeniza-se, mas tem o direito de regresso.
O parágrafo único reconhece o direito de regresso contra aquele que o dano acabou sendo
causado. Ex.: destruiu o muro do vizinho para salvar alguém que seria atropelada. Deverá pagar o
muro ao vizinho, mas terá o direito de regresso à pessoa que foi a pessoa em razão da qual causou
o dano.
Tartuce diz que, sendo exercido a legítima defesa em caráter imoderado, ou seja, havendo
abuso, e no caso de legítima defesa putativa, haverá o dever de indenizar. Mas poderá ter o direito
de regresso em face da pessoa que o sujeito defendeu, ou em face da pessoa que causou ao
sujeito o pensamento de que a situação era de legítima defesa.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O art. 188, II, diz que não constituem atos ilícitos a deterioração ou destruição da coisa
alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
O parágrafo único diz que o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o
tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção
do perigo.
Isso significa que o ato praticado em estado de necessidade não é ilícito, mas só é ilícito,
caso seja imprescindível, pois do contrário o sujeito irá responder, e nos limites do indispensável.
O art. 929 diz que, se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, não forem culpados do perigo,
terão direito à indenização do prejuízo que sofreram.
O art. 930 diz que, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do
dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.
Ex.: Lucas soltou o Rottweiller na rua, vindo em direção à João. Mas João quebrou a porta
do vizinho Pedro para se esconder. João deverá indenizar Pedro por ter quebrado a porta, mas
também terá direito de regresso contra Lucas por ter soltado o cachorro quando não deveria.
O art. 188, I, segunda parte, diz que o ato praticado num exercício regular de um direito
não é ato ilícito.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
A cláusula de não indenizar não incide nos casos em que houver conduta dolosa, ou
criminosa, da parte. Ex.: diante de um contrato que tem cláusula de não indenizar e a outra parte
atua dolosa, ou criminosamente, para causar o dano. Neste caso, a cláusula de não indenizar não
será válida.
Também não tem validade e nem eficácia a cláusula de não indenizar nos contratos de
guarda. Ex.: contratos de estacionamento.
É possível que haja causa excludente do nexo de causalidade nos casos de contrato de
guarda. Ex.: roubo dentro do estacionamento. Neste caso, a empresa de estacionamento não
responde por assalto a mão armada ocorrida dentro do estacionamento.
Posse
1. Posse
Se posse é direito, é preciso saber se se trata de direito real ou de direito pessoal. Aqui há
entendimento para todos os lados.
Flávio Tartuce diz que o direito real é de natureza especial. Especial porque a posse é o
domínio fático que a pessoa exerce sobre uma coisa. Se direito é fato, valor e norma, a posse é o
componente jurídico do direito. A posse nasce de um fato que é valorado e encontra respaldo
normativo. Por isso teria a natureza especial, por conta desse nascedouro fático.
Atente-se que há duas correntes que procuram justificar a posse como categoria jurídica.
• Animus domini: é o elemento subjetivo, que é a intenção de ter a coisa para si.
Perceba que se for adotada a teoria subjetiva, não seriam possuidores o locatário,
comodatário, depositário, etc., pois não teriam animus domini.
2ª Teoria Objetiva (Ihering): para constituição da posse basta que o sujeito disponha
fisicamente da coisa. Na verdade, para o Ihering, o corpus é formado pela atitude externa do
possuidor em relação à coisa. O possuidor passa a agir, em relação à coisa, com intuito de explorá-
la, inclusive economicamente. Para a teoria objetiva, dentro do corpus há uma intenção de
explorar a coisa para fins econômicos.
Essa teoria foi a adotada no Código Civil, basta ler o art. 1.196, o qual diz que se considera
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes
à propriedade. Portanto, posse é quem exerce ou tem de fato o exercício de um dos exercícios
inerentes à propriedade.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Pelo conceito objetivo, consegue-se perceber que a posse pode ser desdobrada, podendo
haver a posse direta e a posse indireta. O locador é possuidor indireto, pois exerce um dos
poderes inerentes à propriedade, pois o proprietário goza da propriedade. O locatário usa a coisa,
ou seja, exerce um dos atributos da propriedade, sendo possuidor direto.
O art. 1.198 diz que se considera detentor aquele que, achando-se em relação de
dependência para com outro, conserva a posse em nome desta outra pessoa e em cumprimento
de ordens ou instruções suas. O parágrafo único afirma que, aquele que começou a comportar-
se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se
detentor, até que prove o contrário.
Outro exemplo ainda é o caso da ocupação irregular de área pública. O STJ entende que
a ocupação irregular de área pública não induz posse e sim mera detenção. Por isso, será
considerado mero detentor.
a) Quanto ao desdobramento
• Posse direta: exercida por quem tem o poder físico sobre a coisa (ex.: locatário).
• Posse indireta: exercido por meio de outra pessoa, como um exercício de direito (ex.: locador).
O Enunciado 76 do CJF diz que o possuidor direto tem direito de defender sua posse
contra o possuidor indireto, e o possuidor indireto tem direito de defender sua posse contra o
possuidor direto.
A posse violenta é aquela obtida por meio de esbulho, violência física ou moral, como a
ameaça.
A posse precária é a posse obtida com abuso de confiança ou abuso de direito. Ex.: o
sujeito para de pagar o aluguel e não devolve o imóvel.
A posse, mesmo injusta, é posse. Isso significa que é possível defender essa posse injusta
em face de terceiros, inclusive se valer de ações possessórias em caso de esbulho e turbação.
Isso porque a posse é viciada somente sobre uma determinada pessoa, e não em relação a todo
mundo.
O art. 1.208, segunda parte, vai dizer que posses injustas por meio de violência ou
clandestinidade podem ser convalidadas. No entanto, as posses precárias não podem ser
convalidadas. Segundo o dispositivo, não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância
assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.
Portanto, uma posse que nasce violenta ou clandestina poderá ser convalidada caso cesse
a violência ou a clandestinidade. Este é o entendimento que prevalece na doutrina.
deixando de ser injusta e passa a ser justa. A posse precária, no entanto, continuará sendo injusta.
• Posse de boa-fé: é a posse que ignora a existência de um vício que impede a aquisição da coisa.
• Posse de má-fé: é a posse em que há conhecimento do vício que acomete a coisa. Por isso, do
ponto de vista subjetivo, pois está na cabeça do sujeito.
SIM. Nada impede alguém ter uma posse injusta e de boa-fé. Basta pensar naquele que
adquire a posse de outrem sem saber que aquela posse é injusta. Houve a violência, e na semana
seguinte houve a transferência da posse, pois não houve a ultrapassagem do prazo de 1 ano e 1
dia, a fim de se tornar justa.
SIM. Posse justa é uma posse não violenta, não clandestina e não precária. Mas é possível
que essa posse contenha algum vício. Nesse caso, haverá uma posse justa e de má-fé.
• Posse com título: há uma causa representativa da transmissão da posse. Há documento escrito.
• Posse sem título: não há essa causa representativa da posse, não há documento escrito.
No caso do achado de tesouro, a doutrina fala em ato-fato jurídico, pois o indivíduo não
teria a vontade juridicamente relevante para que o ato jurídico produza efeitos. Mas concorda-se
que há a posse daquela pessoa, mas uma posse sem título.
• Ius possidendi: é o direito à posse que decorre da propriedade. Há uma posse com título, pois
decorre da propriedade, do direito explicitado.
• Ius possessionis: é o direito que decorre exclusivamente da posse. Há uma posse sem título, que
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
Alguns autores falam da posse natural, que é a posse sem título (ius possessionis), e posse
civil ou jurídica, que é o ius possidendi (posse com título).
e) Quanto ao tempo
• Posse nova: a posse conta até 1 ano, ou seja, com menos de 1 ano e 1 dia.
A importância está na seara processual civil, a fim de verificar o cabimento das ações
possessórias.
• Posse ad interdicta: a posse pode ser defendida inclusive por meio das ações possessórias
diretas. Essa posse não conduz à usucapião. É a posse fundada em contrato de locação,
comodato, depósito, etc.
Via de regra, há adoção da teoria objetiva de Ihering, mas também se adota, no caso da
posse ad usucapionem, a teoria de Savigny.
O art. 1.214 diz que o possuidor de boa-fé tem direito, enquanto a boa-fé durar, aos frutos
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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percebidos.
O parágrafo único vai dizer que os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé
devem ser restituídos, mas apenas depois de serem deduzidas as despesas da produção e
custeio daquele fruto. Devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação, pois
não eram para estar percebidos.
A lei distingue a boa-fé da má-fé com repercussão naquilo que tem ou não direito.
O art. 1.215 diz ainda que os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos
logo que são separados. No entanto, os frutos civis reputam-se percebidos dia por dia (juros).
Lembre-se que frutos não implicam a diminuição da coisa. O produto gera a diminuição
da coisa.
Quando se fala em fruto, devolve-se a coisa completa, mas no produto, para se falar em
devolver a coisa completa, deve ser devolvida a coisa completa naquele período.
Benfeitorias são bens acessórios, que serão introduzidos, a fim de conservar, melhorar a
sua utilidade, classificando-se em necessária (conservar a coisa), útil (melhora a utilidade da
coisa) e voluptuária (de mero deleite).
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O art. 1.219 diz que o possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias
necessárias e úteis. Quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, terá ele o direito de levantá-
las, quando o puder sem detrimento da coisa principal, e terá o possuidor de boa-fé o direito de
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Essa lei vai dizer que, salvo disposição contratual em sentido diverso, as benfeitorias
necessárias, introduzidas pelo locatário, mesmo que não tenham sido autorizadas pelo locador,
gerará o direito de indenização ao locatário. As benfeitorias úteis, no entanto, se tiverem sido
autorizadas pelo locador, também deverão ser indenizadas.
Neste caso, permitirão tanto a necessária, ainda que sem autorização, quanto a útil, com
autorização do locador, o direito de retenção. Em relação às voluptuárias, poderão ser
levantadas, desde que não gerem dano à coisa.
Em relação às benfeitorias, o art. 1.220 vai dizer que ao possuidor de má-fé serão
ressarcidas somente as benfeitorias necessárias, não tendo o direito de retenção pela
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
V. Posse e responsabilidades
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O art. 1.217 diz que o possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da
coisa, a que não der causa. Veja, o dispositivo diz que o possuidor de boa-fé tem
responsabilidade subjetiva.
O art. 1.210 do CC vai dizer que o possuidor tem direito a ser mantido na posse no caso de
turbação, de ser restituído na posse no caso de esbulho e de ser segurado na posse no caso de
uma violência iminente em que precise dessa segurança.
Se está diante de uma amaça, turbação ou esbulho novo, que são aqueles com menos de
1 ano e 1 dia, caberá uma ação de força nova, que seguirá o rito especial previsto no NCPC,
cabendo a medida liminar inaudita altera pars.
Por outro lado, se houver uma ameaça, turbação ou esbulho velho, com mais de 1 ano e
1 dia, haverá uma ação de força velha, observando-se o procedimento comum.
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Em 2016, o STJ entendeu que particulares podem ajuizar ação possessória para
resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo)
instituída como servidão de passagem. Ex: a empresa construiu uma indústria e invadiu a via de
acesso (rua) que liga a avenida a uma comunidade de moradores locais. Os moradores tem
legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que
está sendo invadida representa uma servidão de passagem.
O parágrafo único diz que pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária
e adequada para:
Lembre-se que a ação possessória tem caráter dúplice, sendo possível que o réu, na
contestação da ação possessória, poderá alegar que ele é o ofendido, devendo ele ser indenizado
pelo autor. Trata-se do pedido contraposto (art. 556).
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Já o art. 557 afirma que na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor
quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a ação de reconhecimento
de domínio for deduzida em face de terceira pessoa. Aqui há uma mudança, pois não havia esta
previsão.
O parágrafo único diz que não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação
de propriedade ou de outro direito sobre a coisa.
O art. 562 diz que, estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem
ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração da posse. Caso
não esteja devidamente instruída, determinará que o autor justifique previamente o alegado,
antes da expedição do mandado de manutenção ou reintegração da posse, citando-se o réu para
comparecer à audiência que for designada.
O parágrafo único vai dizer que, contra as pessoas jurídicas de direito público, não será
deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes judiciais. Este dispositivo traz uma exceção.
O art. 563 vai dizer que, se considerar suficiente a justificação apresentada pelo autor, o
juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração.
O art. 565 vai dizer que, no litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a
turbação do imóvel tiver ocorrido há mais de 1 ano e 1 dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de
concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30
dias. Lembrando que na mediação o mediador não propõe a solução às partes, mas fomenta um
contato entre elas.
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Se passou de 1 ano e 1 dia, em regra, a lei não permite a liminar, pois voltaria para o
procedimento comum. Todavia, o próprio NCPC traz uma exceção, por conta da necessidade de
audiência de mediação no prazo de 30 dias.
No caso de litígio coletivo pela posse de imóvel, caso tenha sido concedida a liminar, e se
essa não for executada no prazo de 1 ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar
audiência de mediação.
Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou
do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados
para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência
de possibilidade de solução para o conflito possessório. Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio
sobre propriedade de imóvel.
Segundo o art. 1.211 do CC, quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-
á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que essa pessoa obteve a posse
de modo viciado. Portanto, ficará mantida na posse aquela pessoa que já se encontra na posse.
Esse dispositivo trata do chamado possuidor aparente.
O art. 1.212 diz que o possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização,
contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que era esbulhada.
Este dispositivo diz que aquele que sofreu esbulho pode propor uma ação de reintegração
de posse em face de um terceiro de má-fé, que adquiriu a posse por quem sabia que adquiriu por
ser esbulhada.
O art. 1.210, §1º, diz que o possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou
restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo. Portanto, os atos devem ser
imediatos. E além disso, os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• possuidor tome o cuidado para que as medidas não possam ir além do indispensável para a
recuperação da posse, sob pena de abuso do direito.
O art. 1.204 afirma que a posse é adquirida desde o momento em que se torna possível
o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
Quando se encontra uma coisa abandonada e é pega para si, há uma forma de aquisição
originária. Mas quando alguém vende um bem é forma de aquisição derivada.
Como forma derivada mais importante há a tradição, que é a entrega de bem móvel.
• Tradição simbólica: não há a entrega efetiva da coisa, mas algo que simboliza a entrega. Ex.:
entrega da chave do apartamento. É o que ocorre na traditio longa manu, em que a coisa a ser
entregue é colocada à disposição da outra parte.
• Tradição ficta: é a tradição que se dá por presunção, como ocorre na traditio brevi manu.
O art. 1.206 diz que a posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com
os mesmos caracteres. É o princípio da continuidade do caráter da posse, pois é uma forma
derivada da aquisição da posse, em que as características é passada aos herdeiros e legatários.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O art. 1.207 vai dizer que o sucessor universal continua de direito a posse do seu
antecessor. Já ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos
legais.
Então, nos casos de herança há simplesmente uma sucessão. Portanto, nos casos de
herança, em que há a sucessão universal, há continuidade da posse do atual com o antecessor.
No caso de sucessão singular (compra e venda), o possuidor atual poderá unir a sua posse
atual com o seu antecessor.
O art. 1.209 diz que a posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas
móveis que nele estiverem, de forma que havendo a transmissão da posse do imóvel haverá
também transmissão da posse dos bens móveis que guarnecem o bem imóvel, já que esses bens
são acessórios. Há aplicação do princípio da gravitação jurídica.
O art. 1.223 diz que a posse será perdida quando ela cessa, embora contra a vontade do
possuidor. Será considerada cessada a posse quando ele perde o poder sobre o bem, ou seja,
quando cessa os atributos inerentes ao direito de propriedade.
O art. 1.224 diz que só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.
Isso significa dizer que, tomada a notícia de que o imóvel foi esbulhado, poderá o possuidor
se dirigir até o local e retirar as pessoas de lá no ato, visto que não se considera que a posse foi
perdida, somente se considerando que no outro dia foi perdida a posse.
IX. Composse
É uma situação na qual duas ou mais pessoas exercerão poderes possessórios sobre a
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O art. 1.199 vai dizer que, se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada
uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores.
• Composse pro indiviso (indivisível): há compossuidores, com fração ideal das posses, mas não
se consegue determinar, no plano fático, qual é a parte de cada um. Ex.: dois irmão com a posse
de uma fazenda, que plantam soja conjuntamente.
• Composse pro diviso (divisível): cada compossuidor sabe qual é a sua parte, pois é determinável
no plano fático e real. Ex.: os dois irmãos têm um terreno, mas há uma cerca dividindo metade
do local.
3. Propriedade
I. Conceito
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Propriedade é o direito que alguém possui em relação a algum determinado bem ou coisa. É o
domínio que a pessoa tem sobre a coisa.
Direito de propriedade é consagrado como direito fundamental (art. 5º, XXII, CF). A propriedade não
é direito absoluto, motivo pelo qual deve haver o cumprimento da função social.
Quando a propriedade for resolúvel, também há uma propriedade limitada, pois alguns dos
atributos da propriedade passam a ser de outra pessoa. O proprietário, que reúne todos os poderes (ou
atributos) da propriedade (GRUD), é titular da propriedade plena ou alodial.
A depender dos atributos que possui, a pessoa que detenha o direito de propriedade recebe uma
denominação diferente, como superficiário, usufrutuário, usuário, habitante, promitente comprador, etc.
Por exemplo, no usufruto percebe-se que o nu proprietário tem o direito de dispor e reaver a coisa,
mas quem tem o domínio útil (usufrutuário) tem os atributos de gozar e usar da coisa.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• Direito absoluto: tem caráter erga omnes, oponível a todos. Mas hoje há muitas limitações ao
direito de propriedade, como a função social e socioambiental da propriedade.
• Direito exclusivo: via de regra, não pode pertencer a coisa a mais de uma pessoa, salvo no caso
de condomínio.
• Direito perpétuo: o direito não se perde, como regra, pelo seu não exercício.
• Direito elástico: Orlando Gomes diz que a propriedade pode ser distendida ou contraída, de
acordo com o seu exercício. Ora o sujeito tem os 4 atributos, estando estendida, ora ele tem
menos atributos, contraindo o direito de propriedade.
O §1º do art. 1.228 vai dizer que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Esse dispositivo confere uma finalidade ao exercício do direito de propriedade. É necessário que a
propriedade cumpra essa função.
A função social e socioambiental da propriedade está prevista no CC e no art. 225 da CF, dispositivo
que protege o meio ambiente como um bem difuso e que visa à sadia qualidade de vida das pessoas e futuras
gerações (assegura direitos intergeracionais).
A CF traz vários preceitos que seguem a linha da faceta impulsionadora da função social da
propriedade. O art. 186 da CF vai dizer que há função social da propriedade quando há o aproveitamento
racional e adequado da propriedade. É preciso aproveitar a propriedade para que se exerça a função social.
É preciso observar, como o art. 186 continua, as relações do trabalho, exigindo relação de emprego.
A norma geral civil vai consagrar uma função socioambiental da propriedade, devendo respeitar a
fauna, flora, patrimônio histórico e artístico, etc. Esse dispositivo traz uma especial preocupação com o
ambiente, seja natural, artificial ou cultural, mas há a preocupação ambiental.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Exemplo disso se extrai do STJ, quando passou a decidir que o novo proprietário de um imóvel é
obrigado a fazer a reparação ambiental, mesmo que não tenha sido ele o causador do dano ambiental. Ou
seja, a obrigação de reparação ambiental é ambulatória e, portanto, propter rem.
É imperioso anotar que o art. 2º, §2º, do Código Florestal diz que as obrigações previstas no Código
Florestal têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência
de domínio ou posse do imóvel rural. É o direito de sequela objetivo, em que a obrigação persegue a coisa
sobre a qual ela recai.
O art. 1.228, §2º, diz que são proibidos os atos que não trazem ao proprietário qualquer
comodidade ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. Na verdade, o que há aqui
é a vedação do exercício irregular do direito de propriedade. É a vedação ao ato emulativo.
É necessário então fazer uma leitura sistemática do art. 1.228, §2º, do CC, mas terá que lembrar do
art. 187 do CC, que diz que também comete ato ilícito aquele que abusa do direito.
O Enunciado 49 do CJF diz que a regra do art. 1.228, §2º, deve ser interpretada restritivamente,
prevalecendo a regra do art. 187 do CC. Para efeitos de ato emulativo, é preciso considerar que a
responsabilidade tem caráter objetivo, e não subjetivo.
O §3º do art. 1.228 trata da desapropriação por necessidade ou por utilidade pública, e da
desapropriação por interesse social, além de tratar do ato de requisição em caso de perigo público
iminente. Segundo o dispositivo, o proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público
iminente.
O art. 1.229 diz que a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes,
em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam
realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-
las. Esse dispositivo trata da extensão vertical da propriedade. Esse artigo vai se amparar no critério de
utilidade pelo seu proprietário.
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Segundo o art. 1.230, a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por
leis especiais. Isso se dá, porque a CF diz que tais bens pertences à União.
O que fica garantido ao concessionário é o produto da lavra, mas o bem pertence à União.
O parágrafo único estabelece que o proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos
minerais de emprego imediato na construção civil, desde que esses produtos não sejam submetidos a
transformação industrial.
Exemplo disso é a areia. O sujeito que compra uma propriedade e contém areia, poderá vender a
uma construtora, pois a areia não necessita de transformação industrial.
O art. 1.231 diz que a propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
Segundo o §4º do art. 1.228, o proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de 5 anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras
e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
Neste caso, o juiz irá fixar uma justa indenização ao proprietário, pagando-se o preço a ele, situação
na qual a sentença poderá ser registrada no Registro de Imóveis, em nome daqueles que se encontram na
área.
Atente-se que isto não se trata de usucapião. Isso porque na usucapião há uma forma originária de
aquisição da propriedade, motivo pelo qual não há pagamento por isso. Neste caso da desapropriação judicial
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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privada por posse-trabalho há o pagamento, então é uma forma de desapropriação, visto que há
indenização.
• Na usucapião coletiva urbana, a área deve ter no mínimo 250m², enquanto na desapropriação
judicial privada por posse-trabalho exige apenas uma extensa área.
Esse conceito representa a efetivação da função social da propriedade, pois é a posse que está sendo
exercido sobre a área, e o desempenho da atividade positiva sobre o imóvel faz com que a posse faça nascer
o direito à propriedade daquele imóvel, desde que paga uma justa indenização.
A boa-fé da posse e daqueles que ocupam o terreno na desapropriação não é uma boa-fé objetiva.
A boa-fé aqui é subjetiva, estando relacionada à conduta dos envolvidos, verificando-se se empregam uma
forma adequada da exploração da propriedade.
A desapropriação judicial privada por posse-trabalho pode ser alegada inclusive como matéria de
defesa, bem como por ação autônoma.
a) Propriedade resolúvel
A propriedade resolúvel é uma propriedade que pode ser resolvida. Pode ser extinta pelo advento
de uma condição ou de um termo, ou mesmo por uma causa superveniente, que venha a destituir a relação
jurídica. Exemplo disso é a chamada compra e venda com cláusula de retrovenda. Durante esse período de
até 3 anos a propriedade do comprador é uma propriedade resolúvel, podendo ser extinta a qualquer
momento.
O art. 1.359 vai dizer que, resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento
do termo (causa anterior), entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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(retorna ao status a quo), e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do
poder de quem a possua ou detenha.
Já o art. 1.360 afirma que, se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor,
que a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à
pessoa, em cujo benefício houve a resolução, que ela proponha uma ação contra aquele cuja propriedade se
resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor.
Exemplo de causa superveniente é a ingratidão do donatário, que pode gerar revogação da doação.
Se pode gerar a revogação, há uma causa superveniente, a qual pode destituir a relação jurídica. Se antes
dessa causa superveniente, o donatário aliena o bem que foi a ele doado. Neste caso, em regra, o terceiro
será de boa-fé, ficando perfeita a propriedade. Caberá apenas ao doador ingressar com uma ação contra o
donatário a fim de que este o indenize.
b) Propriedade fiduciária
O art. 1.361 vai considerar fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor
tenha, com escopo de garantia, transferido ao credor.
A Lei 9.514/97 vai regular a alienação fiduciária em garantia de bens imóveis. O art. 22 da Lei vai dizer
que a alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com
o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa
imóvel.
• Formas originárias: basicamente há acessões e a usucapião. Acessões são ilhas, aluvião, avulsão,
álveo abandonado, plantações, construções. A outra é a usucapião.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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O que há aqui é uma propriedade que inicia do zero, entre a pessoa e a coisa, nenhum vício anterior
subsiste.
i. Acessões naturais
O art. 1.248 diz que as acessões constituem um modo de aquisição originário da propriedade, através
do qual passa a pertencer ao proprietário tudo aquilo que foi incorporado natural ou artificial na sua
propriedade.
→ Formação de ilhas:
A ilha é uma faixa de terra que é cercada por água em todos os lados. Importante é perceber que há
um acúmulo paulatino de areia, cascalho, materiais que vão sendo levados pela correnteza até que ultrapasse
o limite da água.
Pode acontecer também de haver o rebaixamento da água, descobrindo uma parte de terra.
O que interessa no direito civil apenas as ilhas formadas em rios não navegáveis, ou seja, particulares,
pois, do contrário, será ilhas públicas.
O código vai dizer que no caso das ilhas particulares, elas irão pertencer aos proprietários ribeirinhos
que fazem fronteiras ali (fronteiros).
• as ilhas que se formarem no meio do rio: consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos
ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir
o álveo em duas partes iguais;
• as ilhas que se formarem entre a referida linha e uma das margens: consideram-se acréscimos
aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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• as ilhas que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer
aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram: se a ilha é produto de um
braço do rio que abriu sobre o terreno de alguém, a ilha será deste.
→ Aluvião
É um processo lento.
O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre
eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.
• Aluvião própria: é o acréscimo natural que vai sendo levado pelas águas do rio, até que surja
uma terra.
• Aluvião imprópria: se dá quando as águas se afastam, formando um terreno descoberto e
acréscimo de terra.
→ Avulsão
Segundo o art. 1.251, a avulsão se dá quando, por força natural violenta, uma porção de terra se
destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar
o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em 1 ano, ninguém houver reclamado.
O parágrafo único vai dizer que, recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que
se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida.
→ Álveo abandonado
Álveo é a superfície que as águas cobrem, sem transbordar para o solo natural.
Álveo abandona é a parte que secou do rio. É o rio que seca, que desaparece.
Conforme o art. 1.252, o álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das
duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso,
entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
O art. 1.253 vai dizer que toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita
pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.
• Quem semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais
alheios, adquire a propriedade destes materiais, sementes ou plantas, porém fica obrigado a
pagar o valor desses materiais, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. Ex.: se
o sujeito havia deixado sementes na fazenda do vizinho, mas no outro dia o vizinho havia
plantado todas as sementes na área dele, agiu de má-fé, devendo pagar indenização por perdas
e danos.
• Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não
superior à vigésima parte deste, o construtor adquire de boa-fé a propriedade da parte do solo
invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte invadida, e responde por indenização
que cubra o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente. Essa indenização
deve corresponder ao valor de 5% do terreno, mas também ao valor da desvalorização da área
remanescente.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
• Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio for superior a 5% (vigésima parte)
deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que
abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da
desvalorização da área remanescente. Por outro lado, estando de má-fé, será obrigado a
demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em
dobro.
O STJ decidiu no sentido de que o construtor, proprietário dos materiais, poderá cobrar do
proprietário do solo a indenização devida pela construção, quando não puder havê-la do contratante. Ex:
a Empresa "A" contratou uma construtora (Empresa “C”) para fazer um centro comercial no terreno
pertencente à empresa "B". A empresa "B", mesmo não tendo participado do contrato, poderá ser
responsabilizada subsidiariamente caso a construção seja realizada e a construtora (Empresa “C”) não seja
paga. Aplica-se, ao caso, o parágrafo único do art. 1.257: "O proprietário das sementes, plantas ou materiais
poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou
construtor (Inf. 593).
O art. 1.243 vai dizer que o possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido, acrescentar à sua
posse a dos seus antecessores, contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, com justo título e de boa-
fé.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
Eduardo Defaveri
O art. 1.244 estabelece que se estende ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das
causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.
Por isso muitos chamam a usucapião de prescrição aquisitiva.
A prescrição poderá ser impedida ou suspensa, bem como ser interrompida. No caso de
impedimento, o prazo prescricional não começa a correr, mas na suspensão o prazo, já iniciado, para de
correr, voltando a correr de onde parou. Na interrupção, o prazo para e volta a correr do início.
O art. 201 diz que, suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, esta suspensão só
aproveita aos demais se a obrigação for indivisível.
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• interrompe a prescrição qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do
processo para a interromper.
• Usucapião ordinária
• Usucapião extraordinária
• Usucapião constitucional (especial rural)
• Usucapião constitucional (especial urbana)
• Usucapião especial urbana por abandono do lar
• Usucapião especial urbana coletiva
• Usucapião especial indígena
Segundo o art. 1.242, adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por 10 anos.
O parágrafo único reduz esse prazo para de 5 anos, se o imóvel houver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde
que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social
e econômico.
A doutrina faz uma crítica, pois o código exige um duplo requisito para reduzir: i) pagamento
onerosamente e o registro no cartório; ii) nesse período em que estava registrado fez sua moradia e realizou
investimentos de interesse social e econômico.
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Segundo o art. 1.238, aquele que, por 15 anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu
um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé, podendo requerer ao juiz que
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
O prazo será reduzido para 10 anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
O sujeito exerce a posse mansa, pacífica, duradoura e contínua pelo prazo de 15 anos, não
dependendo de justo título ou boa-fé. Para reduzir, baste estabelecer a moradia habitual ou realizar obras
ou serviços de caráter produtivo.
Segundo o art. 191, aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
seu, por 5 anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a 50 hectares,
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.
O art. 191 é reproduzida literalmente pelo art. 1.239 do CC. Não há exigência de justo título e boa-
fé. Nesse caso, o registro será meramente declaratório da propriedade.
O Enunciado 594 diz que é possível adquirir uma propriedade de menor extensão do que ao do
módulo rural estabelecida para a região, por meio da usucapião especial rural.
→ Usucapião constitucional ou usucapião especial urbana ou usucapião pro misero (art. 183 da CF)
O art. 183 vai dizer que, aquele que possuir como sua área urbana de até 250m², por 5 anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
O direito ao usucapião especial urbana não é reconhecido ao mesmo possuidor por mais de uma
vez. Essa vedação não se vislumbra da usucapião especial rural.
Destaque-se que o herdeiro legítimo continua de pleno direito à posse de seu sucessor, desde que já
resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão.
As somas das posses somente pode ser mortis causa, não podendo ser inter vivos.
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A Lei 12.424 incluiu a usucapião especial urbana por abandono do lar no sistema da usucapião
especial urbana.
O art. 1.240-A diz que, aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição,
posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² cuja propriedade dividia com ex-
cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-
lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
O direito da usucapião especial urbana por abandono do lar não é conhecida por mais de uma vez.
O art. 10 do Estatuto da Cidade (Lei 10.257) diz que as áreas urbanas com mais de 250m², ocupadas
por população de baixa renda para sua moradia, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não
for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
A usucapião especial coletiva de imóvel urbano é declarada por sentença, a qual servirá de título para
registro no cartório de registro de imóveis.
Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da
dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos,
estabelecendo frações ideais diferenciadas.
O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de
seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
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Segundo o art. 33, o índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por 10 anos consecutivos,
trecho de terra inferior a 50 hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena.
Este artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas
reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal.
→ Observações
Usucapião administrativa
Além das modalidades judiciais, a Lei Minha Casa Minha Vida (Lei 11.977) instituiu a modalidade de
usucapião administrativa, efetivada pelo cartório de registro de imóveis, a fim de que o poder público
legitime a posse, sejam eles públicos ou particulares, a qual será concedida aos moradores cadastrados pelo
poder público, desde que esses não sejam concessionários, foreiros ou proprietários de um outro imóvel
urbano ou rural, e desde que não sejam beneficiários de uma legitimação de posse concedida anteriormente.
O detentor do título de legitimação de posse, depois de 5 anos com esse título, poderá requerer ao
oficial de registro de imóveis que seja convertida a legitimação de posse em registro de propriedade. Nesse
caso, desde que se trate de imóvel particular, pois bem público não haverá essa conversão.
Usucapião extrajudicial
O art. 2.029 diz que até dois 2 após a entrada em vigor do Novo Código Civil, os prazos estabelecidos
no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 1.242, que tratam da usucapião ordinária e
extraordinária com prazo reduzido em razão da posse trabalho ou moradia, serão acrescidos de 2 anos,
qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916.
A ideia é não pegar o sujeito de surpresa. Ex.: antes o prazo era de 15 anos e após o NCC é de 10
anos. Se já tinha a posse do imóvel por 10 anos antes do CC, não é possível, com a entrada em vigor do novo
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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código, dizer que ele já se tornara proprietário. Para isso, caso tivesse 10 anos, teria ele de completar mais 2
anos a fim de consumar a usucapião.
Para os demais casos de usucapião, valerá a regra do art. 2.028, o qual estabelece que serão os da lei
anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.
Então se antes o prazo era de 20 anos para usucapião, e com a entrada em vigor do código civil já
tivesse passado mais de 10 anos, continua sendo regulado pela lei anterior, caso o prazo tenha sido reduzido
pelo código civil.
Se o prazo de usucapião era de 20 anos, e ainda não tenha passado da metade do prazo, então, com
a entrada do novo código civil, será considerado o novo prazo.
i. Registro público
O art. 108 diz que os contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis devem
ser feitos por escritura pública, se o valor do imóvel for superior a 30 salários mínimos. Do contrário, basta
que seja escrita.
A escritura pública não transfere a propriedade. Esta é uma solenidade, ou seja, uma formalidade,
estando no prazo de validade do contrato. Para que o contrato produza efeitos, é preciso que haja o registro
imobiliário, situando-se no plano da eficácia do contrato. É ele que vai gerar a aquisição da propriedade.
O art. 1.245 do CC vai dizer que a propriedade vai se transferir entre vivos através do registro. Ou
seja, é forma derivada de aquisição.
Segundo o art. 1.246, o registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial
do registro, e este o prenotar no protocolo. A partir desse momento, o registro é eficaz, ou seja, consagra-se
o princípio da prioridade, tendo ela quem primeiro solicitou o registro ao registrador.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Se o teor do registro for falso, o interessado poderá requerer que o teor do registro seja retificado
ou anulado (art. 1.247). Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente
da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.
Na sucessão hereditária de bens imóveis, a propriedade se transfere com a morte. É uma forma de
aquisição derivada da propriedade.
O registro é feito apenas para fins de publicidade, visto que a transferência do imóvel se deu com a
morte.
Segundo o art. 1.784, aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos
e testamentários. Este é o princípio da saisine.
→ Ocupação
O art. 1.263 diz que aquele que se assenhorear de coisa sem dono desde logo lhe adquire a
propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.
A ocupação é uma forma de aquisição originária da propriedade (res nullius – coisa de ninguém).
Pode ser objeto de ocupação inclusive a coisa abandonada por outrem (res derelicta).
→ Achado do tesouro
O art. 1.264, em sua primeira parte, conceitua o tesouro como sendo o depósito antigo de coisas
preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória.
• o tesouro será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro
casualmente, desde que tenha agido de boa-fé.
• o tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado por ele, ou em
pesquisa que o proprietário ordenou, ou se quem encontrou o tesouro foi terceiro não
autorizado (agiu de má-fé).
• sendo o tesouro encontrado em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o
descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o descobridor.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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→ Descoberta
Segundo o art. 1.233, quem quer que ache coisa alheia perdida deve restituir a coisa ao dono ou
legítimo possuidor.
A coisa perdida não é coisa sem dono! O dono apenas não está com a coisa porque a perdeu.
Se o descobridor da coisa não conhecer o dono, deverá tomar todas as medidas necessárias para
encontrá-lo. Caso não encontre a coisa, deverá entregar à autoridade competente (delegado de polícia ou
juiz de direito).
Após 60 dias da divulgação, e ninguém tenha aparecido, a coisa será vendida em hasta pública, serão
deduzidas as despesas da coisa, a recompensa do descobridor (que não pode ser inferior a 5%) e o restante
pertencerá ao município. Se o valor da coisa for diminuto, o município poderá abandonar em favor de quem
a achou.
A recompensa não pode ser inferior a 5%, sendo ela denominado achádego.
O art. 1.235 diz que o descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor
legítimo, quando tiver procedido com dolo. Não responderá por prejuízos que tenha causado com culpa.
• Usucapião ordinária
• Usucapião extraordinária
→ Usucapião ordinária
Quem possui a coisa móvel como sua, de forma contínua e pacífica, durante 3 anos, desde que tenha
justo título e boa-fé, vai adquirir a propriedade.
→ Usucapião extraordinária
Aqui, se a posse da coisa se prolongar por 5 anos, haverá usucapião, sendo dispensável a boa-fé e o
justo título.
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c) Especificação
Especificar é concentrar uma coisa. Consiste na transformação de uma coisa numa nova espécie,
através do trabalho de alguém (especificador). Tendo o especificador feito o seu trabalho, não é mais possível
o retorno a sua forma anterior.
Ex.: quando há uma escultura em relação a uma pedra. Se a pedra pertencia a alguém, mas tenha
havido a especificação da pedra, por meio da escultura, feita pelo escultor.
• A espécie nova (escultura) será de propriedade do especificador, se não for possível o retorno
ao status anterior. Se o dono da pedra era outro, deverá o especificador indenizar o dono da
coisa anterior. Mas o produto da especificação passa a ser do especificador.
• Se toda a matéria for alheia, e não se puder retornar à forma anterior, e o especificador tiver
agido de boa-fé, a espécie nova será dele.
• Se for possível a redução ao estado anterior, ou quando for impraticável, mas a espécie nova se
foi obtida de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima. O art. 1.271 diz que o especificador
de má-fé não tem direito sequer a indenização pelo trabalho.
Ainda que o especificador tenha agido de má-fé, se a coisa especificada tiver valor consideravelmente
superior ao valor da matéria-prima, continuará a coisa como dele.
Coisas pertencentes a coisas diversas e a pessoas diferentes se mistura, e de forma que é impossível
o retorno ao status anterior, ou seja, é impossível separá-las.
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• Confusão há mistura de coisas líquidas ou mesmo entre gases. Ex.: mistura de álcool com vinho;
álcool com gasolina. Neste caso, não dá mais para separar.
• Comistão é a mistura de coisas sólidas e secas, não sendo mais possível separar. Ex.: mistura de
areia com cimento.
• Adjunção é a justaposição, ou seja, é a sobreposição de uma coisa sobre a outra coisa, não tendo
mais como separar. Ex.: tinta na parede não dá mais para separar.
• Se a coisa pertencer a diversos donos, e sendo elas confundidas, misturadas ou adjuntadas sem
o consentimento deles, continuam pertencendo a esses donos diversos, desde que seja possível
separá-las sem deterioração.
• Não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, vai se manter como
indivisível o todo, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com
que entrou para a mistura ou agregado. Se uma das coisas puder considerar-se principal, será o
dono do principal o dono do todo, indenizando os demais.
• Se a confusão, comistão ou adjunção se operou de má-fé, à outra parte caberá escolher entre
adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for
devida, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado. Essa decisão entre
comprar o que falta ou vender o que tem será tomada pelo condômino de boa-fé, e o de má-fé
fica sujeita à decisão do condômino de boa-fé.
O Código fala em comissão, mas a doutrina aponta que o correto seria comistão.
e) Tradição
O art. 1.267 diz que a propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da
tradição. Portanto, para transferir a propriedade, é necessário haver a tradição do bem móvel.
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Eduardo Defaveri
• Tradição ficta: o parágrafo único afirma que há tradição quando o transmitente continua a
possuir pelo constituto possessório. Ex.: Samer era o dono, mas vendeu a coisa para João, e em
seguida pediu para que a coisa fosse alugada para ele. João aceitou alugar a coisa a Samer,
continuando com a coisa consigo, sendo possuidor. Não houve a entrega efetiva, mas houve uma
tradição ficta, pelo constituto possessório. Também haverá tradição ficta quando o adquirente
já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico, passando a ser o dono da coisa. A isso
se dá o nome de traditio brevi manu.
• Tradição simbólica: por outro lado, quando o adquirente cede o direito à restituição da coisa,
que se encontra em poder de terceiro, há uma tradição simbólica, sendo denominada de traditio
longa manus.
O art. 1.268 trata da alienação a non domino, ou seja, alienação por quem não era o dono. Nessas
situações, a tradição não implicará transferência da propriedade, exceto se a coisa oferecida ao público, em
leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé,
como a qualquer pessoa, poderia crer que o alienante se afiguraria dono da coisa.
O §2º diz que não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico
nulo.
O art. 1.276 diz que o imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o
conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outra pessoa, poderá ser arrecadado,
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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como bem vago, e passados, 3 anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se
achar nas respectivas circunscrições.
O imóvel rural, todavia, que tenha sido abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser
arrecadado, como bem vago, e passar, 3 anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize.
O §2º cria uma presunção, muito criticada pela doutrina, afirmando que se presume de modo
absoluto a intenção, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.
A jurisprudência também tempera e modera essa aplicação do §2º.
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)