Você está na página 1de 5

EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Entenda-se aqui que quando aludimos à norma constitucional, tratamos de normas


formalmente constitucionais, ou seja, com previsão no texto da Constituição.

Nesse ponto, inicialmente, vale relembrar a diferenciação entre eficácia, validade e


vigência da norma:

Eficácia Validade Vigência


A aptidão da norma jurídica É a compatibilidade de uma É a existência da norma e
para produção dos efeitos que norma jurídica com outra que simplesmente isso. Não
lhe são próprios. Vacatio é um lhe venha a ser superior. se perquire se é compatível com
termo ligado intimamente à outra ou não, é somente sobre
eficácia, que é o intervalo de a sua existência
tempo em que se reconhece a
vigência, mas não a eficácia.

Tema fundamental para toda e qualquer prova de concurso é a classificação das


normas constitucionais quanto à aplicabilidade, especialmente a de José Afonso da
Silva. Vamos revisar esse tema.

1. NORMAS DE EFICÁCIA PLENA

 Conceito: Norma constitucional que já nasceu recebendo do Poder Constituinte


normatividade suficiente para sua imediata incidência. Sua eficácia não depende da
produção de uma norma legal, ou seja, não há interposição legislativa.

 Direito subjetivo ao cumprimento: Toda norma de eficácia plena cria direito


subjetivo ao cumprimento do comando exposto, não sendo necessária nenhuma
providência ulterior. Ou seja, pode ser aplicada a casos concretos sem outra norma
legal. Tem aplicabilidade direta aos casos concretos aos quais se dirigem.

 Indícios de que uma norma constitucional é de eficácia plena:

1. O legislador conseguiu afirmar tudo para que aquele direito constitucional fosse
exequível, sem necessidades de novas normas legislativas.

2. Norma não designa órgão ou autoridade especial para sua específica


regulamentação.

3. Norma constitucional não indica qualquer processo especial para sua execução.
4. Norma constitucional que possui um conteúdo vedativo ou proibitivo.

5. Norma constitucional que estabeleça imunidades e prerrogativas.

 Normas infraconstitucionais recepcionadas pela atual constituição: Em tal situação,


é possível concluir que uma norma constitucional pode ter sua eficácia plena por
meio de sua recepção na nova ordem constitucional.

 Exemplos de normas constitucionais de eficácia plena já cobradas em concursos:

Art. 230 (...) § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes
coletivos urbanos.

Art. 7º (...) XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento
à do normal.

Art. 5º (...) IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

Art. 5º (...) XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro,
ou, durante o dia, por determinação judicial;

Art. 5º (...)LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de
poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder
Público;

2. NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA

 Conceito: Normas constitucionais desprovidas de pressupostos mínimos para incidir


no plano das relações concretas, sendo necessária a edição de uma lei para ocorrer a
aplicabilidade.

 Aplicabilidade: Aplicabilidade é sempre mediata, ou seja, depende de providências


posteriores para que desenvolvam a plena eficácia. Depende da produção de uma
norma legal, ou seja, é necessária a interposição legislativa para ser aplicada a casos
concretos. Não há aplicabilidade direta nem imediata.

 Eficácia Mínima: Mesmo sendo despidas de aplicabilidade, entende-se que as


normas de eficácia limitada possuem uma eficácia mínima negativa para sustar os
efeitos dos atos contrários à norma constitucional e para revogar as regras pré-
existentes que lhe sejam contrárias.

 Direitos subjetivos: Normas de eficácia limitada possuem eficácia para estabelecer


direitos subjetivos negativos em face dos particulares e do poder público.

 Subdivisão: 1) Normas de Eficácia Limitada de Princípio Institutivo; 2) Normas de


Eficácia Limitada de Princípio Programático.

2.1 – Normas de Eficácia Limitada de Princípio Institutivo.

 Conceito: Normas que traçam esquemas gerais de estruturação e atribuições de


órgãos, entidades ou institutos, para que o legislador ordinário os estruture em
definitivo, mediante lei.

 Divisão: Podem ser impositivas ou facultativas.

1. Impositivas: Implicam um dever constitucional de disciplinar determinada norma,


eliminando deficiências técnicas e institucionais. Geralmente aparece por meio das
expressões “lei disporá”, “lei deverá” e etc.

2. Facultativas: Facultam a instituição ou regulação de situações nele delineadas.


Geralmente aparece por meio das expressões: “lei poderá”, “a União poderá” e etc.

 Exemplo de normas de eficácia limitada de princípio institutivo já cobradas em


provas:

Art. 37 (...) VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica

Art. 25 (...) §3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para
integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Art. 37 I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei.

2.2 - Normas de Eficácia Limitada de Princípio Programático

 Conceito: Normas que dependem de argumentos metajurídicos para atingir a sua


aplicabilidade, sendo a regulamentação legislativa insuficiente. Dependem do
cumprimento pelos órgãos estatais de programas e atividades estabelecidos pelo
constituinte, de forma à realização dos fins sociais do Estado.

 Aplicabilidade: Exigem um esforço de vários setores sociais para que se transforme o


mandamento constitucional em uma realidade viável.

 Eficácia Mínima: Como subespécie das normas de eficácia limitada, as normas de


princípio programático também possuem uma eficácia mínima relacionada à ideia de
mínimo existencial.

 Exemplos de normas constitucionais programáticas de princípio programático já


cobradas em concursos:

Art. 21. IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de


desenvolvimento econômico e social;
Art. 7. XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos
da lei;

OBS: Seguindo a doutrina contemporânea, entende-se hoje que o mais importante e


relevante diz respeito à concretização do direito fundamental contemplado na norma
constitucional. Isto se encontra no §1º do art. 5º CF: as normas definidoras dos
direitos e garantias fundamentais tem aplicação imediata. No passado muitos
autores consideraram que se a norma tem aplicação imediata, deveriam ter eficácia
plena. O que a teoria contemporânea afirma é essa separação da classificação da
norma em abstrato com a efetivação em concreto.

Basicamente, as normas constitucionais definidoras dos direitos fundamentais,


independente da classificação em abstrato, dão ensejo à prestação jurisdicional
naquilo que comportarem. Isso é o que a doutrina contemporânea afirma.
Se a norma constitucional for considerada como de eficácia plena ou contida ou
limitada, assim continuará classificada, tanto pela menor importância que tem. O que
não pode acontecer é a negativa da prestação sob a justificativa de ausência de
norma legal.

De modo a concretizar a explanação, temos como exemplo a distribuição de


medicamentos em favor de hipossuficientes econômicos. O STF entende pela
classificação em abstrato das normas, pouco a pouco trabalhando com a efetivação
em concreto. Tanto que vem aceitando o controle judicial de políticas públicas nesse
ponto. Outro exemplo é o caso de efetivação de políticas públicas na construção de
creches para crianças.

Se um hipossuficiente econômico necessita de um medicamento e não consegue a


distribuição gratuita desse medicamento, poderia consegui-lo através do Judiciário?
De acordo com a doutrina da classificação das normas em abstrato não seria possível,
mas seria possível de acordo com a doutrina contemporânea. O direito à saúde,
presente no art. 196 CF, implica em prestação pelo Estado e tem eficácia imediata,
mesmo sem a produção legislativa.

3. NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA

 Conceito: Norma constitucional que expressamente estabeleça uma regra geral e


exceções a tal regra a serem restringidos por lei infraconstitucional. Também pode
atuar de modo a restringir conceitos abertos especificados na norma, mesmo que
não haja exigência de Lei explicitamente.

Aplicabilidade: A norma constitucional de eficácia contida é autoaplicável, contudo, o


legislador infraconstitucional pode estabelecer exceções à sua plena aplicabilidade.
Ou seja, a princípio, a sua aplicabilidade não depende da produção de norma legal.
No entanto, admite o fenômeno da contenção de eficácia, afastar a norma
constitucional em determinados casos concretos. Falta a aplicabilidade integral.
Exemplo: Art. 5º, XIII CF – É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. A CLT estabelece as
condições de idade, salário, higiene, segurança e salubridade. Sua grande função é
conter a eficácia da norma constitucional, pois o livre exercício será alterado quando
não atender às condições legais.

 Direitos subjetivos: Na ausência de norma regulamentadora, prevalece sua


aplicabilidade geral, gerando direitos subjetivos positivos aos titulares.

 Exemplos de normas constitucionais de eficácia contida já cobrados em concursos:

Art. 5º. (...) LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas
hipóteses previstas em lei.

Art. 5º (...) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer;

Art. 5º (...)XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado.

Art. 5º (...) XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada
para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

Você também pode gostar