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As normas constitucionais de eficácia plena são as mais fáceis de identificar

nas questões de concurso. São aquelas normas que desde a entrada em vigor
da Constituição já estão aptas a produzir eficácia. Por isso, são definidas como
de aplicabilidade direta, imediata e integral.
Em relação às duas últimas classificações não se pode dizer o mesmo. Aqui o
candidato se confunde e com razão, pois a matéria se torna mais complexa.

As normas constitucionais de eficácia contida são dotadas de aplicabilidade


direta, imediata, mas não integral (o legislador pode restringir a sua eficácia). Já
as normas constitucionais de eficácia limitada têm a sua aplicabilidade
indireta, mediata e diferida (postergada, pois somente a partir de uma norma
posterior poderão produzir eficácia).
Assim, é preciso dizer que a diferença principal entre as normas
constitucionais de eficácia contida e as de eficácia limitada é que a primeira
produz efeitos desde logo (direta e imediatamente), podendo, entretanto, ser
restringidas. A segunda (eficácia limitada), só pode produzir efeitos a partir da
interferência do legislador ordinário, ou seja, necessitam ser “regulamentadas”.
Veja dicas para diferenciar as “contidas” das “limitadas”:
1) Em regra, sempre que houver expressões como “salvo disposição em lei” será
norma de eficácia contida.
2) Em regra, sempre que tiver expressões como “a lei disporá” será norma de
eficácia limitada.

3) Enquanto não houver lei a disciplinar norma de eficácia contida, esta poderá
ocorrer de forma plena. Na norma de eficácia limitada ocorre o contrário, pois é
impossível o seu exercício enquanto não houver a sua regulamentação, observe:

As normas de eficácia limitada podem, ainda, ser divididas em dois grupos,


quais sejam, normas de princípio institutivo (ou organizativo) e normas de
princípio programático.

As normas de eficácia limitada de princípio institutivo (ou organizativo) são


aquelas em que o legislador traça em linhas gerais o seu conteúdo normativo e
refere que a lei irá estabelecer posteriormente as regras para que ocorra a sua
aplicabilidade. São exemplos os seguintes artigos do texto constitucional:
Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos
Territórios.
Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da
administração pública.
Por sua vez, as normas de eficácia limitada de princípio programático são as
que traçam programas (diretrizes) que devem ser buscados e alcançados pelo
poder público. São exemplos a realização da justiça social, valorização do
trabalho, amparo à família, combate ao analfabetismo, etc.

Como vão seus estudos? Hoje vamos falar sobre a eficácia das normas constitucionais,
um assunto recorrente nas provas de concursos públicos, na disciplina de Direito
Constitucional. Focaremos na classificação que mais aparece em provas, mas veremos
também outra classificação importante.

Tenha em mente que, nesse assunto, entender a matéria, e não apenas decorá-la, é
essencial. Os examinadores gostam de apresentar um artigo da Constituição Federal
de 1988 (CF/88) e questionar sobre a eficácia da norma apresentada.

Um concurseiro iniciante pode se preocupar, achando que isso implica decorar a eficácia
de todos os artigos da CF. Calma! Na verdade, se você realmente entender cada
elemento da classificação que veremos, conseguirá deduzir com tranquilidade qual
será a eficácia da norma na hora da prova.

Ainda, ressalto que entender esse tema nos dá uma boa base para entender muitos
outros assuntos em Direito Constitucional.

Preparado(a)?

Classificação de José Afonso da Silva


O jurista José Afonso da Silva divide as normas constitucionais, quanto à eficácia e
aplicabilidade em: normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e normas de
eficácia limitada. Essa é a classificação mais exigida em provas de concursos públicos.

Normas de eficácia plena


As normas de eficácia plena são aquelas que, apenas com o texto constitucional, são
capazes de produzir todos os seus efeitos, de forma imediata e integral. Assim,
normas desse tipo não dependem de outras normas para produzir todos os seus
efeitos.

A aplicabilidade das normas de eficácia plena é dita:

• Direta: essas normas podem ser aplicadas diretamente, não precisando


de outras normas para viabilizar sua produção de efeitos.
• Imediata: essas normas estão aptas a produzir efeitos desde o momento
em que entram em vigor, ou seja, imediatamente.
• Integral: essas normas são capazes de produzir todos os seus efeitos (em
sua integralidade), não dependendo de outras normas para completar-lhes os
sentidos, nem podendo ter seus efeitos reduzidos por outra norma.

Relacionado à aplicabilidade integral, também se diz que as normas de eficácia plena


são não restringíveis. Ademais, relacionado à aplicabilidade direta e integral, dizemos
que essas normas são autoaplicáveis.

Exemplo de norma constitucional de eficácia plena é: Art. 19. É vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III – criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.

Repare que, nesse artigo, a Constituição Federal não faz menção a outras leis que possam
vir a alterar o alcance desses dois artigos.

Alerta: apesar de as normas de que estamos tratando não precisarem de normas para
que possam produzir todos os seus efeitos, é possível que haja alguma norma
regulamentadora sobre o assunto. Porém, isso não muda o fato de as normas de eficácia
plena poderem produzir seus efeitos imediatamente, de forma integral e direta!

Normas de eficácia contida

As normas de eficácia contida (ou prospectiva) são capazes de produzir todos os seus
efeitos desde sua entrada em vigor, mas que podem ser restringidas no futuro. Por
isso, sua aplicabilidade tem as seguintes características:

• Direta: aplicam-se diretamente, não precisando de outras normas para


viabilizar sua produção de efeitos.
• Imediata: produzem efeitos desde o momento em que entram em vigor,
ou seja, imediatamente.
• Possivelmente não integral: essas normas são capazes de produzir todos
os seus efeitos (em sua integralidade) quando entram em vigor, mas podem sofrer
restrição futura, ou seja, podem ter seu alcance limitado por outra norma.
Da mesma forma que as normas de eficácia plena, são autoaplicáveis (tendo em vista as
características de aplicabilidade direta e imediata). Porém, diferentemente,
são restringíveis, o que justifica seu efeito possivelmente não integral.

Exemplo de norma constitucional de eficácia contida é: Art. 170, parágrafo único. É


assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em
lei.

Note que você consegue perceber, pelo texto do artigo, que se trata de norma de eficácia
contida, pois se assegura o livre exercício da atividade econômica até que a lei diga o
contrário. Percebe a possibilidade de restrição futura?

É exatamente a característica de “possivelmente não integral” de que estávamos


falando. Se a lei criar restrições (é uma possibilidade, não uma certeza), a aplicabilidade
desta norma será não integral.

Alerta: apesar de usualmente considerarmos que seriam leis que restringiriam as normas
de eficácia contida, isso não é necessariamente verdade. É possível que a eficácia de
uma norma venha a ser restringida até por um conceito jurídico indeterminado.

Por exemplo, o artigo 5º, XXV, diz: “no caso de iminente perigo público, a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário
indenização ulterior, se houver dano”.

Nesse caso, o iminente perigo público pode limitar o direito de propriedade. Esse
conceito é indeterminado, não estando definido em uma lei. Assim, a avaliação do caso
concreto permitirá dizer o que é “iminente perigo público”.

Normas de eficácia limitada

Por fim, temos as normas de eficácia limitada, que não estão aptas a produzir todos os
seus efeitos sozinhas, dependendo de complementação por outro ato normativo. Por
isso, sua aplicabilidade pode ser definida como:

• Indireta: não podem ser aplicadas diretamente, necessitando de outras


normas para viabilizar sua produção de efeitos.
• Mediata: essas normas não estão aptas a produzir
efeitos imediatamente, sendo sua eficácia plena obtida em momento posterior.
• Reduzida: essas normas não produzem todos os seus efeitos quando
entram em vigor, dependendo de outra norma para que isso ocorra. Possuem,
inicialmente, uma eficácia restrita, reduzida.
Por essas características, diz-se que as normas de eficácia limitada são não
autoaplicáveis.

Exemplo de norma constitucional de eficácia limitada é: Art. 5º, XXXII – o Estado


promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Nesse exemplo, perceba que, até que o Poder Legislativo edite a lei, a defesa do
consumidor não estará concretizada. Viu como a norma tem eficácia indireta (depende
da lei mencionada), mediata (sua eficácia completa não é imediata) e reduzida?

Repare que as normas de eficácia limitada são diferentes das normas de eficácia
contida: estas estão aptas a produzir seus efeitos de forma imediata, mas poderão ser
limitadas no futuro; aquelas dependem necessariamente da complementação normativa
para que seus efeitos se tornem plenos!

Alerta: apesar de os efeitos de as normas de eficácia limitada terem efeitos reduzidos


inicialmente, ainda assim podemos mencionar dois efeitos iniciais:

• Efeito negativo: a norma revoga disposições anteriores contrárias a ela


e impede a edição de normas posteriores que a contradigam.
• Efeito vinculativo: a norma vincula o poder público a criar as normas
regulamentadoras necessárias para que a produção de efeitos passe a ser plena, sob
pena de haver declaração de omissão.

Assim, dizemos que as normas de eficácia limitada possuem eficácia mínima ao entrar
em vigor. Estaria errada uma questão de prova que afirmasse que elas não têm nenhum
efeito

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