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DISCIPLINA: TEORIA E FUNDAMENTOS DA CONSTITUIÇÃO - 2º PERÍODO

Ementa
Constitucionalismo. Direito Constitucional. Constituição. Teoria do Poder Constituinte. Eficácia
e aplicabilidade das normas constitucionais. Evolução histórica do Constitucionalismo
brasileiro. Princípios Constitucionais Fundamentais. Direitos e Garantias Fundamentais.

COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS:

• Apresentar e analisar a importância desta Ciência do Direito; capacitar o aluno dentro


da perspectiva da área do direito; levar ao aluno análise crítico sobre os temas
relacionados; Identificar os principais recursos de normatização da lei aplicada;
Contextualizar a sociedade, refletindo o papel desta ciência do direito; Desenvolver a
capacidade de raciocínio e espírito crítico.

UNIDADE II:

A EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS


A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO
A CARTA POLÍTICA DO IMPÉRIO DO BRASIL DE 1824
A CONSTITUIÇÃO DE 1891
A CONSTITUIÇÃO DE 1934
A CARTA POLÍTICA DE 1937
A CONSTITUIÇÃO DE 1946
A CONSTITUIÇÃO DE 1967 E SUA EMENDA
A CONSTITUIÇÃO DE 1988
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS FUNDAMENTAIS
PRINCÍPIO REPUBLICANO
PRINCÍPIO DO ESTADO DEMOCRÁTICO
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES
PRINCÍPIO DO PLURALISMO POLÍTICO
PRINCÍPIO DA ISONOMIA
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
DIREITOS SOCIAIS
DIREITOS DE NACIONALIDADE
DIREITO DE CIDADANIA (OU DIREITOS POLÍTICOS)

A EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Aplicabilidade Constitucional: é a capacidade de uma norma jurídico-


constitucional de produzir seus efeitos. Trata-se de ato de incidência que somente
haverá a aplicação de uma norma constitucional se esta for eficaz.

Eficácia Constitucional: meio pelo qual a norma constitucional gerará


seus efeitos jurídicos. Variará de acordo com o grau e a sua profundidade.

Espécies de eficácia constitucional:


a) Normativa: trata-se da simples possibilidade de aplicação e de vinculação da norma
constitucional.

A.1) Eficácia normativa de vinculação: estabelece o vinculo entre o legislador e a


regulamentação. Exemplo: art. 226, § 3, da CF/88: “Para efeito de proteção do Estado,
é reconhecia a união estável entre homem e mulher como entidade familiar, devendo a
lei facilitar sua conversão em casamento”.

A.2) Eficácia Normativa de aplicação: trata-se de norma jurídica autoaplicável. Citamos


por exemplo, o artigo 2º, CF: “São Poderes da União, independentes e harmônicos
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”

As principais características da eficácia normativa constitucional são:

1) Imperativa;
2) Taxativa;
3) Cogente;
4) Mandamental.

Importante salientar que, não existe norma constitucional sem sua


eficácia jurídica ou normativa. Podemos citar, por exemplo, as normas programáticas e
limitadoras, que possuem um mínimo de eficácia, traçando por dever do legislador
regulamentá-las.

No tocante ao mínimo de eficácia, podemos entender como a


possibilidade de um preceito constitucional de produzir concretamente seus efeitos
normativos, sob pena de não ter sua vigência. Assim, mesmo que haja sua ineficácia
social, a norma jurídico-constitucional produzirá seus efeitos jurídicos.

B) Eficácia sociológica constitucional: é a incidência concreta das normas


constitucionais sobre determinados fatos sociais de modo a concretizar no seu
cumprimento prático, conforme o comando de vontade da Constituição.

Classificação da Aplicabilidade e Eficácia das Normas Constitucionais

Antes de elencarmos quanto as classificações de aplicação e eficácia


das normas constitucionais, devemos observar os efeitos que poderão variar
conforme: a) grau; b) profundidade; c) extensão. Cada uma dessas variantes de
efeitos será observada em cada espécie, conforme abaixo:

a) Normas constitucionais de eficácia absoluta e de aplicabilidade imediata;

b) Normas constitucionais de eficácia plena e de aplicabilidade imediata;

c) Normas constitucionais de eficácia contida e de aplicabilidade imediata;

d) Normas constitucionais de eficácia limitada e de aplicabilidade diferida;

e) Normas constitucionais de eficácia esvaída e de aplicabilidade esgotada


f) Normas constitucionais de eficácia exaurida e de aplicabilidade esgotada

Normas constitucionais de eficácia absoluta e de aplicabilidade imediata:

São aquelas que produzem supereficácia paralisante contra toda


atividade reformadora que venha expressa ou implicitamente contrariá-las. É
inalterável e funcionam como bloqueio, impedindo que leis ou atos normativos, direta
ou indiretamente afrontem. Não depende de lei para terem sua aplicação imediata,
direta ou integral. Exemplo prático: as clausulas pétreas, previstas no artigo 60,§ 4º,
da Constituição de 1988:

Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I- A forma federativa do Estado;

II- O voto direto, secreto, universal e periódico;

III- Separação dos Poderes;

IV- Direitos e Garantias Individuais.

Normas constitucionais de eficácia plena e de aplicabilidade imediata

São bases elementares provenientes de sua autoexecutoriedade, sendo


direta e integral. Podem ser aplicadas desde o momento em que entram em vigor,
traçam vínculos que se tornem exigíveis e independem de ato legislativo para terem
sua incidência.

Interessante denotarmos que, as normas constitucionais de eficácia


plena e de aplicação imediata podem ser revistas ou emendadas pela ação do poder
reformador, não apresentando efeitos absolutos, sendo que as normas de eficácia
absoluta são intangíveis.

Normas constitucionais de eficácia contida e de aplicabilidade imediata

São as que podem ser restringidas ou suspensas pelo legislador


ordinário e possuem clausula de redutibilidade, permitindo que leis subalternas
componham seu significado. Por exemplo, o artigo 184, da CF, caput:

“Compete a União desapropriar por interesse social, para fins de


reforma agraria, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até
20 anos e cuja utilização será definida em lei”.

§ 1º: As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

A Constituição Federal pode restringir ou suspendem a eficácia de


acordo com fatores específicos que influenciem os efeitos das normas contidas que
Inclusive, pode abrigar conceitos vagos, genéricos e indeterminados, como por
exemplo, o artigo 5º, XXII, da CF, que trata: “é garantido o direito de propriedade”.

Na ausência de leis regulamentadoras, a aplicação será imediata.


Exemplo típico diz respeito a restrição de liberdade de locomoção previsto
constitucionalmente no artigo 5º, XV, da CF, pois, enquanto não houver lei que
restrinja a liberdade, sua aplicação será imediata.

É importante distinguir que, as normas constitucionais de eficácia


contida pode restringir seu alcance, enquanto que as normas de eficácia limitada
ampliam o alcance.

Normas constitucionais de eficácia limitada e de aplicabilidade diferida

São as que dependem de lei para regulamenta-las. Exemplo artigo 107,


da CF, que trata sobre a organização dos Tribunais Regionais Federais.

As nomenclaturas mais comuns são: normas de aplicação deferida, de


eficácia mediata e de eficácia relativa.

Elas podem aplicar o campo de abrangência de assuntos que assim


disciplinam, pois, enquanto não houver uma norma que viabilize o exercício do direito
ou benefício, permanecem inaplicáveis.

Portanto, dependem de lei para que, ter eficácia social, de modo que
vinculam o legislador infraconstitucional ao comando e paralisando os efeitos que
assim desrespeitarem.

Há uma classificação de normas limitadas, como:

a) de princípio institutivo;

b) princípio programático.

Normas limitadas de princípio institutivo. Podem ser:

a.1) Impositivas: as que exigem do legislador a edição de lei integradora de sua


eficácia. Exemplo: artigo 88, CF: “A lei disporá sobre a criação e extinção de
Ministérios e órgãos da administração pública”

a.2) Facultativas ou Permissivas: são as que possibilitam ao legislador instituir ou


regular, mas sem imposição de qualquer dever. Exemplo: art 25, § 3º, da CF/88:

“Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,


aglomerações urbanas e microrregiões constituídas por agrupamentos de Municípios
limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções
públicas de interesse comum”.

Normas limitadas de princípio programático: São diretivas ou diretórias que estatuem


programas a serem desenvolvidos pelo Estado. P. ex. art. 227, da CF. São preceitos
programáticos que produzem efeitos jurídicos que são aplicáveis nos limites de sua
eficácia.

Neste sentido, estabelecem ao legislador ordinário de regulamentar,


criando situações jurídicas subjetivas de vantagens ou mesmo desvantagens, mas
impende que seja editada norma em sentido diverso ao que previsto
constitucionalmente. Tem sua eficácia vinculante, ou seja, vinculam todas as funções
dos Poderes, como Legislativo, Executivo e Judiciário.

Normas constitucionais de eficácia esvaída e de aplicabilidade esgotada

São aquelas que a eficácia já se esgotou-se por completo, porém, não é


o mesmo sentido que uma norma constitucional de eficácia exaurida, visto que a
norma deixa de ser esvaída para tornar-se exaurida. A partir do momento que a norma
esvaída desvanece por completo, seus efeitos jurídicos e sociológicos se transforma
numa eficácia exaurida. Citamos por exemplo, o artigo 26 do ADCT.

Normas constitucionais de eficácia exaurida e de aplicabilidade esgotada

São aquelas que já extinguiram a produção de seus efeitos, pois são


normas dissipadas ou desvanecidas. Por exemplo, art. 1º, 2º, 14, 20, 25 e 48 do
ADCT.

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO

As constituições nascem ou morrem a partir de momentos que marcam


rupturas e necessidade de uma nova ordem política, econômica ou social. Foi assim
na história do Brasil desde a formação de sua primeira Carta Constitucional em 1824,
durante o Império, até a Constituição Cidadã, promulgada em 1988, e atualmente em
vigor.

Ao longo da história, os textos constitucionais alternavam momentos de


maior ou menor equilíbrio entre o poder estatal e os direitos fundamentais dos
cidadãos, transitando por períodos democráticos e autoritários. O Brasil teve sete
Constituições desde o Império. Alguns historiadores consideram a Emenda nº 1 à
Constituição Federal de 1967, como a Constituição de 1969, outorgada pela Junta
Militar. Mas na história oficial do País são consideradas apenas sete – 1824, 1891,
1934, 1937, 1946, 1967 e 1988.

1824 – A Constituição Política do Império

De todas as constituições da história nacional, a Constituição Política do


Império do Brasil foi a que vigorou por mais tempo – 65 anos, e nesse período sofreu
apenas uma emenda. Somente a constituição dos Estados Unidos era mais antiga que
a brasileira. Ela foi elaborada por um Conselho de Estado e outorgada em 1824 por D.
Pedro I.

O texto consolida, em seu artigo 1º, a independência do Brasil,


proclamada em 7 de setembro de 1822, formando uma “nação livre e independente,
que não admite com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se oponha
à sua independência”. No artigo 10, a repartição de poderes se faz em quatro – o
Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial.

Traço marcante dessa Constituição, o Poder Moderador, previsto no


artigo 98 do texto, coloca o imperador como chefe supremo da nação, acima de todos
os outros, e lhe confere um caráter inviolável, sagrado e isento de qualquer
responsabilidade. Pelo dispositivo, o imperador tem poderes ilimitados para nomear
senadores, convocar ou prorrogar assembleia geral, dissolver a Câmara dos
Deputados e suspender magistrados.
O texto estabelece a divisão do território em províncias governadas por
indicados pelo imperador e eleições indiretas e censitárias. Institui a forma de governo
Monárquico Hereditário, Constitucional e Representativo e adota a religião católica
como oficial do Império, permitindo outras religiões apenas em cultos domésticos.

1891 – Constituição Republicana

Com o fim da monarquia é assinado em 15 de novembro de 1889 o


decreto que institui o Governo Provisório da Nova República – o documento pelo qual
é proclamada a República. O momento exigia a elaboração de uma nova carta
constitucional que estabelecesse a estrutura do Estado e os rumos a seguir e, um ano
após a proclamação da República, foi instalado o Congresso Constituinte. A primeira
Constituição republicana do Brasil, com seus 91 artigos e outros oito nas Disposições
Transitórias, foi então promulgada em 24 de fevereiro de 1891, com modificações
profundas em relação à carta anterior.

A Constituição da Republica dos Estados Unidos do Brasil, com caráter


mais democrático, foi promulgada pelo Congresso Nacional e instituiu o federalismo,
“por união perpétua e indissolúvel das suas antigas províncias, em Estados Unidos do
Brasil”. Como forma de governo, essa Carta é marcada pela criação de uma República
presidencialista com federalismo, a qual preserva a autonomia dos estados e destina
uma área de 14.400 km² a ser demarcada no Planalto Central, para nela estabelecer-
se a futura capital federal.

A Carta de 1891 garante a eleição direta, por maioria absoluta de votos


não secretos, para presidente e vice-presidente da República para brasileiros natos,
com mais de 35 anos de idade, no exercício dos direitos políticos. É inspirada no
modelo norte-americano – presidencialista com federalismo – que se opunha ao
modelo da carta anterior da monarquia constitucionalista. Estabelece a separação e
independência entre os Poderes, extingue o Poder Moderador e preconiza a laicidade
do Estado. Institui o habeas corpus como garantia do direito de locomoção.

1934 – Democrática e de curta duração

A Constituição de 1934 reafirma em seu artigo 1º o compromisso com a


República e com o princípio federativo da carta anterior. Para o ministro Celso de
Mello, a Constituição de 34 representou um “divisor de águas na evolução do
constitucionalismo brasileiro”. O texto liberal é fruto de uma série de fatores internos e
externos que culminaram no esgotamento do modelo anterior e já estabelece em seu
artigo 2º que “todos os poderes emanam do povo e em nome dele são exercidos”.

Após a Revolução de 1930 era necessária uma nova Carta


constitucional, uma vez que o então presidente, Getúlio Vargas, governava de forma
autocrata, por meio da edição de decretos. Contra essa concentração de poder eclodiu
a Revolução Constitucionalista de 1932, ocorrida em São Paulo, que levou à
elaboração da Constituição de 1934.

O novo texto trouxe muitos avanços, especialmente na legislação


eleitoral e trabalhista – com a conquista do voto obrigatório e secreto e do direito de
voto às mulheres. Marca a criação da Justiça Eleitoral e do Trabalho. O texto traz
ainda uma nova estruturação do Estado, com as prerrogativas privativas da União
frente aos governos estaduais, e uma nova organização da Justiça no país, com o
aprimoramento do controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos.
Além disso instituiu o Ministério Público, o Tribunal de Contas, o mandado de
segurança e a ação popular.

Apesar dos avanços propostos na Carta de 1934, ela durou pouco,


apenas três anos, e foi revogada para a entrada em vigor da Constituição de 1937,
criada para consolidar o Estado Novo e a ditadura da Era Vargas.

1937 – Institui o Estado Novo com supressão de direitos e garantias

Inspirada nos regimes totalitários em ascensão na Europa no período


que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, a Constituição de 1937 foi outorgada por
Getúlio Vargas para implantar e consolidar o chamado Estado Novo. De caráter
autoritário, o texto começa com uma exposição de motivos feita por Getúlio Vargas
para justificar as medidas duras que viriam a ser elencadas em seus artigos e
parágrafos, para “assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua
independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as
condições necessárias à sua segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade”.

Assim, a Carta de 37 institui a pena de morte, suprime liberdades


individuais e os partidos políticos e concentra poderes no chefe do Executivo,
acabando com a independência dos demais poderes da República. O texto também
restringe a atuação e as prerrogativas do Congresso Nacional, permite a perseguição
política aos opositores do governo e estabelece a eleição indireta com mandato fixo de
seis anos para presidente da República.

O fim da Segunda Guerra Mundial, com a decadência dos regimes


totalitários que inspiraram o Estado Novo, além da insatisfação gerada pela grande
concentração de poder nas mãos do chefe do Poder Executivo levaram à queda do
regime de Vargas. Assume então o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro José Linhares, para a convocação de eleições e de uma Assembleia
Constituinte para a elaboração de uma nova ordem constitucional.

1946 – Retomada democrática

A Constituição de 1946 foi promulgada pelo Congresso Nacional


durante o governo de Eurico Gaspar Dutra. Ela tem o caráter democrático que a
anterior não tinha, retomando os preceitos da Carta liberal de 1934. Passam a ser
restabelecidos os direitos individuais, a independência dos Poderes da República e a
harmonia entre eles, a autonomia dos estados e municípios, a pluralidade partidária,
direitos trabalhistas como o direito de greve e a instituição de eleição direta para
presidente da República, com mandato de cinco anos.

O texto também extingue a pena de morte, garante a liberdade de


expressão, o direito de propriedade, a inviolabilidade das correspondências, entre
outros. Na Carta de 1946 destaca-se a instituição do regime parlamentarista, por meio
do chamado Ato Adicional, de 2 de setembro de 1961, após a renúncia do então
presidente da República Jânio Quadros. Mas tal emenda previa a realização de um
plebiscito. Realizado em janeiro de 1963, a maioria da população decidiu pela
restauração do regime presidencialista.

Embora democrática, a Constituição de 46, com seus 218 artigos traz


na sua primeira parte toda a estruturação do Estado e somente a partir do artigo 129
começa a tratar da declaração de direitos e da cidadania e das garantias individuais. O
texto ainda impede qualquer reforma constitucional na vigência de estado de sítio e a
deliberação de projetos tendentes a abolir a Federação ou a República.
1967 – Consolidação do Regime Militar

Após a instalação do Regime Militar em 1964 foi mantido o


funcionamento do Congresso Nacional, contudo seus poderes e prerrogativas eram
controlados “em nome da segurança nacional”. Apesar de ter sido promulgada pelo
Congresso Nacional, como foram outras cartas com caráter democrático, a
Constituição de 1967 consolidou o Regime Militar no Brasil, tendo como marca o
autoritarismo e a reversão dos princípios democráticos preconizados na Carta de
1946. Houve a concentração de poderes na União, com um Poder Executivo Federal
mais forte, e supressão de garantias políticas, com a adoção da eleição indireta para
presidente da República, por meio de Colégio Eleitoral.

O texto foi diversas vezes emendado, por meio de atos institucionais e


atos complementares decretados entre 1964 e 1969. O mais conhecido deles foi o Ato
Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, que levou ao fechamento do
Congresso Nacional, à supressão de direitos e garantias do cidadão, à proibição de
reuniões, à imposição da censura aos meios de comunicação e expressões artísticas,
à suspensão do habeas corpus para os chamados crimes políticos, à autorização para
intervenção federal em estados e municípios e decretação de estado de sítio.

Considerada por alguns historiadores como a Constituição de 1969, a


Emenda Constitucional nº 1, de 1969, foi, segundo o ministro Celso de Mello, “nada
mais que uma Carta imposta autoritariamente por um triunvirato militar, na ausência do
presidente da República, que havia falecido – o presidente Costa e Silva”. Na
concepção do decano do STF, essa emenda constitucional “é uma Carta
Constitucional envergonhada de si própria, imposta de maneira não democrática e
representando a expressão da vontade autoritária dos curadores do regime”. A história
oficial, entretanto, reconhece apenas sete as constituições brasileiras, de forma que a
Emenda Constitucional 1/1969 é considerada apenas uma reinterpretação do texto de
1967, decretada pela Junta Militar que governava o País, após a morte de Costa e
Silva.

1988 – Constituição Cidadã

A partir do governo do general Ernesto Geisel, com a aprovação da Lei


da Anistia para os exilados políticos, o processo de abertura política tornara-se
irreversível, sendo fortalecido durante o governo do general João Figueiredo, com a
convocação de eleições via Colégio Eleitoral, após a rejeição da emenda
constitucional que procurava restabelecer eleições diretas no Brasil. Promulgada em 5
de outubro de 1988 pela Assembleia Nacional Constituinte eleita em 1987, a nova
Constituição veio consolidar a transição do Regime Militar para a Nova República,
após 20 anos de repressão e direitos individuais tolhidos em nome do interesse do
Estado.

A nova Constituição é considerada uma das mais modernas, complexas


e extensas do mundo – são 250 artigos, 99 emendas constitucionais e outras seis
emendas de revisão promulgadas em 1993. O texto elenca direitos individuais e
coletivos e consagra a proteção ao meio ambiente, à família, aos direitos humanos, à
cultura, educação, saúde e, de forma inédita na legislação brasileira, traz um capítulo
especial dedicado à ciência e à tecnologia.

O texto também procura se autopreservar, impedindo a aprovação de


emenda constitucional tendente a abolir as chamadas cláusulas pétreas – regime
federativo, separação de Poderes, direitos e garantias individuais e voto direto, secreto
e universal e periódico. Ela permite o exercício direto da cidadania também por meio
de projetos de lei de iniciativa popular e consagra os princípios de garantia dos direitos
adquiridos, dos atos jurídicos perfeitos e da coisa julgada.

Assim, considerada muito analítica por uns ou ainda inacabada por


outros, a Constituição Federal de 1988 chega aos seus 30 anos tendo por guardião o
Supremo Tribunal Federal – função por ela mesma estabelecida em seu artigo 102.

OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS FUNDAMENTAIS

Os princípios fundamentais da Constituição Federal são os pilares que


estabelecem os valores e diretrizes básicas do ordenamento jurídico do Brasil.

Quais são os 5 princípios do direito constitucional?

Princípios do direito constitucional:

• Supremacia da Constituição;
• Separação dos Poderes;
• Legalidade;
• Igualdade;
• Direitos e Garantias Fundamentais.

Eles orientam a aplicação da lei, garantem a independência dos


poderes, asseguram tratamento justo e igualitário, e protegem os direitos individuais e
coletivos dos cidadãos.

Estado Democrático de Direito, Soberania Popular, Soberania,


Cidadania, Dignidade da Pessoa Humana, Valorização do Trabalho, Livre iniciativa e
Pluralismo Político. Eis os pilares que sustentam todos os demais direitos
constitucionais.

PRINCÍPIO REPUBLICANO

O Princípio Republicano orienta todo o ordenamento jurídico a partir da


premissa de que, em qualquer situação jurídica, deve sempre prevalecer o Interesse
da Maioria; O Princípio Republicano é confundido com outros princípios,
principalmente com o da Temporalidade dos Mandatos Eletivos.

PRINCÍPIO DO ESTADO DEMOCRÁTICO

Baseia-se no princípio da soberania popular, pelo qual o povo é titular


do poder constituinte, é o ente que legitima todo o poder político. Configura-se, assim,
a exigência que todas e cada uma das pessoas participem de forma ativa na vida
política do país.

PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O princípio da dignidade humana reconhece o valor intrínseco de cada


indivíduo e estabelece que todas as pessoas devem ser tratadas com respeito,
igualdade e liberdade. Ele orienta a proteção dos direitos humanos e busca uma
sociedade justa e inclusiva, independentemente de características pessoais.

PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES

O princípio da separação de poderes está consagrado no art. 2.º da


Carta de 88, verbis: "Art. 2. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
sí, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário."

PRINCÍPIO DO PLURALISMO POLÍTICO

Pluralismo é, num sentido amplo, o reconhecimento da diversidade. O


conceito é usado, frequentemente de modos diversos, numa ampla gama de questões.
Em política, é o reconhecimento de que vários partidos possuem igual direito ao
exercício do poder político segundo procedimentos eleitorais claramente definidos.

PRINCÍPIO DA ISONOMIA

O princípio da isonomia, dentro do direito, nada mais é do que a


equalização das normas e dos procedimentos jurídicos entre os indivíduos, garantindo
que a lei será aplicada de forma igualitária entre as pessoas, levando em consideração
suas desigualdades para a aplicação dessas normas.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

(CF art.279) trata-se de “Princípio de ordem Constitucional, segundo o


qual “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei” (art. 5º, II- CF).

A legalidade estabelece a necessidade de lei elaborada, conforme as


regras constitucionais do processo legislativo, a fim de que possa impor
comportamentos forçados.

O princípio da legalidade pode ser dividido em quatro subprincípios,


comumente definidos por uma expressão em latim:

• Legalidade escrita (nullum crimen, nulla poena sine lege scripta),


• Legalidade estrita (nullum crimen, nulla poena sine lege stricta),
• Anterioridade (nullum crimen, nulla poena sine lege praevia) e
• Taxatividade (nullum crimen, nulla poena sine lege certa).

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Os direitos e garantias fundamentais são instrumentos de proteção do


indivíduo frente à atuação do Estado. Eles estão baseados no princípio da dignidade
da pessoa humana, e são potestativos. Ou seja, garantem o mínimo necessário para
que o indivíduo exista.

Além disso, os direitos fundamentais estão previstos no título II da


Constituição Federal de 1988. Na prática, eles buscam estabelecer formas de fazer
com que cada indivíduo tenha seus direitos assegurados pelo Estado que administra a
sociedade onde esse mesmo vive, dando ao mesmo autonomia e proteção.

Assim, os direitos fundamentais são inalienáveis do contrato social feito


entre o indivíduo e o Estado, uma vez que a aplicação dos direitos fundamentais do
cidadão brasileiro não pode ser ignorada pelo Poder Estatal.

Os direitos fundamentais são direitos protetivos, que garantem o mínimo


necessário para que um indivíduo exista de forma digna dentro de uma sociedade
administrada pelo Poder Estatal. Conheça os principais direitos e garantias
fundamentais, de acordo com o princípio da dignidade da pessoa humana.
Estão previstas na Constituição Federal de 1988, no título II da mesma.

Os artigos 5º ao 17 da Carta Magna estipulam quais são os direitos fundamentais e


garantias que o indivíduo brasileiro e a sociedade desfrutam de forma contínua.

Os direitos e garantias fundamentais estão divididos na Constituição Federal por


temas específicos. São eles: direitos individuais e coletivos (artigo 5º da CF), direitos
sociais (do artigo 6º ao artigo 11 da CF), direitos de nacionalidade (artigos 12 e 13 da
CF) e direitos políticos (artigos 14 ao 17 da CF).

Direitos Fundamentais na CF X Direitos Humanos

Como podemos ver, os direitos e garantias fundamentais presentes na


Constituição Federal possuem um laço muito próximo dos direitos humanos. A relação
próxima entre ambos pode fazer com que seja difícil perceber a diferença entre
direitos fundamentais e direitos humanos.

A diferença entre os direitos fundamentais e os direitos humanos não


está tão explícita no conteúdo dos dois, mas sim na amplitude de seu alcance e na
natureza prática de ambos.

Os direitos humanos, quando tratados de forma genérica, fazem alusão


à Declaração dos Direitos Humanos de 1948 que, por sua vez, é baseada na
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.

Isso quer dizer que os direitos humanos são normas de caráter


internacional, baseadas em acordos, tratados e declarações.

Já os direitos fundamentais, por sua vez, estão presentes na


Constituição Federal. Isso quer dizer que, por estarem presentes no ordenamento
jurídico brasileiro, são garantias formais, estabelecidas dentro dos limites do Estado
brasileiro.

Embora os direitos e garantias fundamentais presentes na Constituição


Federal de 1988 sejam fortemente baseados na Declaração dos Direitos Humanos da
Organização das Nações Unidas (ONU), sua amplitude e sua aplicação na vida da
sociedade brasileira se dá de forma completamente diferente.

Direitos fundamentais da CF X garantias fundamentais

Uma vez que os direitos e garantias fundamentais, que dão a


possibilidade do indivíduo viver com dignidade sua vida em sociedade, estão sempre
juntos, algumas pessoas tendem a assumir que ambos trabalham como sinônimos.

Entretanto, há diferença entre os direitos fundamentais e as garantias


fundamentais previstas na Constituição Cidadã brasileira.

Os direitos fundamentais são disposições declaratórias, o que significa


que são prerrogativas reconhecidas pelo Estado como válidas. Isso quer dizer que o
direito fundamental é uma norma, com vantagens previstas no texto constitucional.

As garantias fundamentais, no entanto, são instrumentos que existem


com o objetivo de assegurar que o texto constitucional (suas normas e direitos
previstos) seja universalmente aplicado dentro do território do Estado.
Os remédios constitucionais, por exemplo, podem ser utilizados como
exemplos de garantias fundamentais, pois são ferramentas, criadas pela própria
Constituição Federal, que têm por objetivo garantir a aplicação dos direitos previstos
na mesma.

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Os direitos individuais foram os primeiros a serem reconhecidos na


Constituição e envolve direito à vida, direito à privacidade, à igualdade e direito à
liberdade. Por fim, os Direitos Coletivos são aqueles que surgem do fato de estarmos
reunidos em sociedade e poder praticar atos de forma coletiva.

DIREITOS SOCIAIS

Os direitos sociais visam resguardar direitos mínimos de qualidade de


vida dos indivíduos. São direitos sociais: educação, saúde, alimentação, trabalho,
moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à
infância e assistência aos desamparados.

DIREITOS DE NACIONALIDADE

O direito de nacionalidade, ou seja, a possibilidade do indivíduo estar


inserido em um Estado significa a ligação, de caráter jurídico e político, que une a
pessoa a este Estado determinado colocando-a dentro da sua dimensão pessoal, lhe
conferindo os direitos de proteção e impondo-lhe os deveres advindos desta ordem
estatal.

DIREITO DE CIDADANIA (OU DIREITOS POLÍTICOS)

A cidadania é o conjunto dos direitos políticos, que lhe permitem intervir


na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo direto ou indireto
na formação do governo e na sua administração, seja ao votar (participação direta),
seja ao concorrer a cargo público (participação indireta).

Quais são os direitos de cidadania? Ser cidadão é ter direito à vida, à


liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: ter direitos civis. É também
participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos.

Consoante SAMPAIO DÓRIA, "são políticos os direitos de participar na


constituição e no exercício do poder. São, pelo menos dois, irredutíveis: o de votar e o
de ser votado, o sufrágio e a elegibilidade". Para PONTES DE MIRANDA "direito
político é o direito de participar da organização e funcionamento do Estado''.

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