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CURSO: Direito

DISCIPLINA: PROCESSO CONSTITUCIONAL (CCJ0230)

PROFESSOR: Bruno Henrique Andrade Alvarenga


1. Normas de eficácia plena
As normas de eficácia plena são aquelas que, com a entrada em vigor da constituição, passam a
produzir todos os seus efeitos imediatamente. Tais normas só podem deixar de ser aplicadas caso
sejam modificadas ou revogadas.

São características das normas de eficácia plena:

1.Autoaplicáveis: com a entrada em vigor da constituição, as normas de eficácia plena não precisam
que seja editada uma lei regulamentando o alcance e o sentido de seus efeitos, pois estes são
produzidos de imediato;

2.Não restringíveis: caso haja a criação de uma lei que trate de norma de eficácia plena, os efeitos
dessa não podem ser limitados;

3.Possuem aplicabilidade direta, imediata e ilimitada: ou seja, não precisam que uma norma seja
criada para regular seus efeitos; produzem efeitos a partir da promulgação da constituição; e não
podem ter seus efeitos limitados ou restringidos.

Ex: Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.
2. Normas de eficácia contida

As normas de eficácia contida, são muito parecidas com as normas de eficácia


plena. A propósito, com a entrada em vigor da constituição, aquelas comportam-se
exatamente como estas. Contudo, os efeitos das normas de eficácia contida
podem ser restringidos pela legislação infraconstitucional.
Um dos exemplos mais conhecidos de norma de eficácia contida é o expresso no
inciso XIII do artigo 5° da Constituição Federal:

Art. 5°. [...] XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

Pela leitura do dispositivo, entende-se de maneira clara que todo trabalho, ofício ou
profissão pode ser exercido livremente, ou seja, com a entrada em vigor da
constituição, não há óbice ao exercício destes. Todavia, caso seja criada lei
estabelecendo uma qualificação profissional, há imposição de restrição em face do
inciso pela via infraconstitucional.
Logo, as normas de eficácia contida são:

1.Autoaplicáveis: produzem seus efeitos imediatamente com a entrada em vigor da


constituição;

2.Restringíveis: suas normas podem sofrer restrições não só por outros dispositivos
constitucionais, como também por normas legais;

3.Aplicabilidade direta, imediata e não integral: ou seja, não precisam que uma
norma seja criada para regular seus efeitos; produzem efeitos a partir da promulgação
da constituição; mas estão sujeitas a restrições ou limitações.
3. Normas de eficácia limitada

As normas de eficácia limitada são aquelas que dependem de uma


regulamentação futura para que possam produzir todos os efeitos que pretendem.
Ou seja, como toda norma constitucional, elas possuem eficácia, mas não aptidão
para produção geral de seus efeitos.

Um dos exemplos mais conhecidos de norma de eficácia limitada é o prescrito no


inciso VII do artigo 37 da Constituição Federal:

Art. 37. [...] VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica;

(No caso em questão, diante da omissão do legislador em criar uma norma para
disciplinar o direito de greve dos servidores públicos, o Supremo Tribunal Federal,
no julgamento dos Mandados de Injunção 670, 708 e 712, determinou que se
aplica a Lei n.: 7.783/89, que trata da greve dos funcionários da iniciativa privada,
para amparar esse direito, no que for compatível).
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO
Prevista no artigo 103, § 2º, da Constituição Federal e disciplinada pela lei
nº 12.063/09 possui como escopo sanar problemas relativos à efetivação de
direitos constitucionais em função da inatividade do Poder Público.
Não cabe confundi-la aqui com o Mandado de Injunção, remédio constitucional
(subjetivo) que veremos posteriormente, haja vista tratar-se de uma das formas de
controle de constitucionalidade que deve ser utilizado para apontar a omissão
legislativa quanto a determinada norma constitucional de eficácia limitada, ou seja,
norma que não foi editada, apesar de determinação constitucional, inviabilizando a
concretização de direitos.

Art. 103.
§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar
efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a
adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão
administrativo, para fazê-lo em trinta dias.
Finalidade
A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão é uma inovação da Constituição
Federal de 1988, o instituto instituído no Brasil inspirou-se na norma do art. 283, da
Constituição da República Portuguesa. Nesse sentido, a função precípua da ADO é a
de consagrar a ideia de que não é inconstitucional somente a norma que contraria o
texto da Constituição, mas também a ausência de norma prevista para que a
Constituição possa se tornar real e efetiva. É uma violação negativa (por omissão) da
Constituição.
Com a ADO, busca-se combater a "síndrome da inefetividade das normas
constitucionais". Ou seja, aquelas normas que necessitam de leis para regulamentá-
las e produzir seus efeitos jurídicos. Afinal, o fundamento da impugnação da ADO é
justamente o comportamento omissivo por parte do Poder Público.
Portanto, para que seja proposta ação direta de inconstitucionalidade por omissão,
pressupõe-se que o Poder Público competente para legislar em determinado caso
não cumpriu o seu dever. Ou seja, não editou norma advinda de uma determinação
constitucional específica.
Espécies de Omissão
A ação direta de inconstitucionalidade por omissão pode ser total ou parcial.
A omissão total (ou absoluta) ocorre quando não há qualquer cumprimento do
dever de normatizar uma medida que torne efetiva a norma constitucional. Como
exemplo, pode ser citado o artigo 37, inciso VII, da CF:

Art. 37
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica;

Há que se destacar que a Lei específica regulamentando o direito de greve do


servidor público até hoje não foi editada, portanto, percebe-se uma nítida omissão
do Poder Público no sentido de que deveria ter editado uma norma
regulamentando tal direito previsto pela Constituição Federal.
Já a omissão parcial é aquela que ocorre quando há uma normatização
infraconstitucional, mas de forma deficiente. Ou seja, quando existe um ato normativo
regulamentador, mas que não conseguiu atender totalmente o que a ordem
constitucional lhe reservou. Divide-se, ainda, em omissão parcial propriamente
dita ou omissão parcial relativa.
A omissão parcial propriamente dita ocorre quando o ato normativo, mesmo
existente, regula de forma insuficiente o texto constitucional. Por exemplo, no que
tange ao artigo 7º, inciso IV, da CF, que prevê sobre o direito ao salário mínimo, foi
editada lei fixando o seu valor, mas tal regulamentação foi feita de forma não
satisfatória, tendo em vista que o valor previsto é muito inferior ao considerado
razoável para que a garantia contida na norma constitucional seja cumprida. (IV -
salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim).
Por sua vez, a omissão parcial relativa é aquela que ocorre quando o ato normativo
existe e prevê determinado benefício a uma categoria, mas deixa de outorgá-lo a
outra categoria, que também deveria ter sido apreciada pela norma.
Procedimento:
Por se tratar de Ação Direta de Inconstitucionalidade (controle concentrado), os
legitimados para a sua propositura são exatamente os mesmos para a ADI e ADC,
ou seja, aqueles tratados pelo art. 103, da Constituição Federal, inclusive havendo
a mesma divisão entre os legitimados universais e os legitimados especiais
(pertinência temática).
Por se tratar de uma espécie de Ação Direta de Inconstitucionalidade, o
procedimento é exatamente o mesmo já estudado para a ADI comum. Há a
participação do PGR que manifesta-se em 15 (quinze) dias e posteriormente do
AGU, que também terá 15 (quinze) dias para se manifestar.
Assim como nas demais ações de controle concentrado de constitucionalidade, a
participação do amicus curiae também é admitida.
É admitido também a a concessão de medida cautelar em sede de ADO, conforme
previsão da Lei n.º: 9.868/99.
Efeitos da Decisão proferida em ADO:
Importante destacar o artigo 12-H, da Lei n.º: 9.868/99, acerca dos efeitos da
decisão proferida pelo STF em controle de constitucionalidade:

Art. 12-H. Declarada a inconstitucionalidade por omissão, com observância


do disposto no art. 22, será dada ciência ao Poder competente para a adoção
das providências necessárias.
§ 1o Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências
deverão ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser
estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias
específicas do caso e o interesse público envolvido.

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