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Inconstitucionalidade em geral
O acto político positivo (por acção) é um acto que ou é praticado quando não devia ser
praticado, ou é praticado contra uma norma constitucional.
Acto negativo (omissão), traduz-se na omissão (falta) de prática de um acto cuja prática
era imposta por uma norma constitucional. Trata-se da inércia do poder político nos
casos em que uma norma constitucional mandava praticar um acto.
De acordo com Jorge Miranda, nos casos que o acto público contrariasse toda a
constituição, não estaríamos perante uma inconstitucionalidade, mas diante de uma
revolução ou uma anticonstitucionalidade.
a) uma relação directa: é aquela que afecta um acto ou uma omissão, ou uma norma que
esteja em relação directa com a Constituição, ou que venha a estar em relação directa com
ela; ou seja, uma relação directa, porque o acto público do Estado (praticado no exercício
do poder político, administrativo ou jurisdicional) ou uma norma provém de um órgão
constitucional, ou porque a sua formação fundou-se na constituição. Dito doutro modo,
estabelece-se uma relação directa quando um acto funda-se na constituição, por possuir
os seus pressupostos definidos na constituição.
b) há também relação directa, quando um acto público viola directamente uma norma
constitucional, nomeadamente, esteja em contradição com as regras de fundo, de
competência ou de forma definidas por uma 147 Acórdão nº02/CC/2007, de 20 de
junho, Processo nº 06/CC/07. A norma constitucional (não se trata de um acto público
que viola as regras de uma norma que, por sua vez, funda-se na norma constitucional,
pois neste caso seria uma violação indirecta da constituição).
É óbvio que uma norma constitucional originária pode dispor de forma contrária ao
espírito e aos princípios tendencialmente concebidos pelas restantes normas
constitucionais originárias, mas isso não origina a inconstitucionalidade da norma
constitucional originária, poderá suscitar uma interpretação ou correctiva ou ab-rogante,
por incompatibilidade. Pode efectivamente suceder que determinada norma
constitucional originária seja contrária ao princípio da justiça, mas neste caso, o problema
será o da injustiça da norma e não da inconstitucionalidade da mesma. Questão diferente
é a de saber se o juiz pode ou não apreciar a injustiça dessa lei, nomeadamente, os juízes
podem se recusar a aplicar essa norma constitucional ao abrigo do artigo 214 da CRM?
Entendemos que não cabe no artigo 214 a possibilidade dos juízes se recusarem a aplicar
uma norma constitucional, pois neste preceito impõe-se apenas o dever de os tribunais
não aplicarem normas que ofendem a constituição, que não é o caso. Podem sim, os
tribunais se recusarem de aplicar essa norma, invocando os princípios gerais
supraconstitucionais.
Inconstitucionalidade e ilegalidade
O termo legalidade pode-se usar para referir ao mérito ou conformidade do poder com o
Direito a que esse poder se subordina. É o que pode resultar do artigo 3 da CRM onde
se refere que a República de Moçambique é um Estado de Direito, baseado no
pluralismo de expressão, na organização política democrática, no respeito e garantia dos
direitos e liberdades fundamentais do Homem”, para significar que a legalidade do Estado
seria a vinculação deste ao regime do Estado dedireito democrático, que implica, dentre
outros, a submissão aos princípios democrático, de legalidade (stricto sensu), etc.
Pode-se falar outros sim em legalidade para referir à relação de conformidade que se
estabelece entre um acto público com uma norma do direito ordinário. E no caso de
desconformidade com o direito ordinário resultaria a ilegalidade do acto contrário. Já a
inconstitucionalidade seria a desconformidade das leis ordinárias com as normas
constitucionais, sendo a constitucionalidade, a conformidade da norma ordinária com a
constituição. É este o sentido que aqui interessa.
Assim, o acto do poder pode ofender tanto a constituição, passando a ser inconstitucional,
quanto uma norma ordinária, o que se designa por ilegalidade. Será inconstitucional o
acto do poder que, encontrando os seus pressupostos directamente da Constituição, viole
esses pressupostos.
Será ilegal o acto do poder que, baseando a sua validade numa norma ordinária, viole
essa norma. As dificuldades de qualificação, se o acto do poder é inconstitucional ou
ilegal, podem se colocar nos casos em que esse acto encontre fundamento, em parte na
Constituição (exemplo quanto à competência e forma) e em parte na lei ordinária
(exemplo, quanto ao conteúdo que a norma deve ter). Trata-se das situações em que, por
exemplo, estabelecendo a constituição que certo acto do poder deva subordinar-se a uma
norma inconstitucional, esse acto viole a lei ordinária, o que vai significar
consequentemente a violação da própria constituição.
2ª) A norma legal é constitucional, a norma regulamentar é ilegal: neste caso, prevalece
a norma legal, decretando-se a ilegalidade da norma regulamentar.
3ª) A norma legal é inconstitucional, a norma regulamentar é legal: neste caso, a norma
legal é que é ofensiva à constituição, entretanto, a norma regulamentar não ofende
nenhuma norma da constituição. Para Jorge Miranda, ainda que a norma regulamentar
não ofenda a constituição, a mesma não poderá subsistir, devido ao seu carácter de
acessoriedade em relação à norma legal, contudo, a norma regulamentar não poderá ser
impugnada, na medida em que atacar o regulamento equivale a atacar a norma legal.
Entretanto, sendo declarada a inconstitucionalidade da lei ordinária, a norma
regulamentar, ainda que não ofensiva à constituição, fica sem base, à menos que seja um
regulamento autónomo (e não simples regulamento executivo)
4ª) A norma legal é inconstitucional, a norma regulamentar é ilegal: não se pode cogitar
que sendo declarada a inconstitucionalidade da norma legal inconstitucional, a norma
regulamentar ilegal passará automaticamente a ser constitucional. Entretanto, se for um
regulamento autónomo ou constitucionalmente independente: regulamentos que se
baseiam directamente na constituição e não por via de lei ordinária, não se colocam
quaisquer problemas, pois se forem contrários à constituição serão inconstitucionais.
Inconstitucionalidade e hierarquia
“Apesar de todo o esforço e cuidado postos na sua elaboração, este guia é susceptível de conter
possíveis falhas, pelo que apelo para a compreensão e costumada benevolência do estudante,
neste sentido aconselho os colegas a confrontarem com outros livros”.