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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANA

CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PUBLICA


1º ANO

TEMA: A inconstitucionalidade da Lei em Moçambique

Nome do estudante: Carimo João Saide

Beira, Agosto 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANA

CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

TEMA: A inconstitucionalidade da Lei em Moçambique

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura
em Administração Publica da UnISCED.

Tutor:

Nome do Estudante: Carimo João Saide

Beira, Agosto 2023


ÍNDICE
1.INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 4

1.1.Objectivos......................................................................................................................... 4

1.1.1.Geral: ......................................................................................................................... 4

1.1.2. Específicos: ............................................................................................................... 4

1.2.Metodologias .................................................................................................................... 4

2. Contextualização .................................................................................................................... 5

2.1. Conceito de inconstitucionalidade da Lei ....................................................................... 6

2.2. Efeitos da revogação de normas jurídicas ....................................................................... 6

2.3. Efeitos da inconstitucionalidade (por caducidade ou por declaração expressa de


inconstitucionalidade) ............................................................................................................ 7

3. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 10

4. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 11
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1.INTRODUÇÃO
O presente trabalho da cadeira de Direito Constitucional, aborda sobre a inconstitucionalidade
da Lei em Moçambique e tem como objectivo análise da inconstitucionalidade da Lei em
Moçambique. A s normas constitucionais ocupam uma posição de primariedade e supremacia
em relação a todas outras normas legais. Assim, sempre que estas não se conformam com
aquelas, está-se em presença do vício da inconstitucionalidade. O vício de
inconstitucionalidade material refere-se ao conteúdo da lei ou norma. A
inconstitucionalidade ocorre devido à matéria tratada contrariar os princípios ou violar os
direitos e garantias fundamentais assegurados pela Constituição.
1.1.Objectivos
1.1.1.Geral:
 Análise da inconstitucionalidade da Lei em Moçambique.
1.1.2. Específicos:
 Contextualizar a inconstitucionalidade da Lei em Moçambique;
 Conceituar a inconstitucionalidade da Lei;
 Falar dos efeitos da revogação de normas jurídicas;
 Descrever os efeitos da inconstitucionalidade por caducidade ou por declaração
expressa de inconstitucionalidade.
1.2.Metodologias
O presente trabalho realizou se com base nas regras de publicações de trabalhos científicos da
Unisced. Para realização do tema em questão, recorreu se a leitura de varias obras literárias,
artigos e manuais que aborda sobre assunto relacionados com o tema.
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2. Contextualização
A doutrina distingue entre vícios formais e vícios materiais. São vícios formais aqueles que
incidem sobre o acto normativo em si, independentemente do seu conteúdo, mas atendendo
apenas ao processo seguido para a sua expressão externa. Está-se em presença destes quando
os procedimentos adoptados para a elaboração de um acto se chocam com a Constituição. São
vícios materiais aqueles que dizem respeito ao conteúdo do acto, quando este conteúdo é
contrário à chamada Lei-Mãe.
Há autores que defendem que em matéria constitucional, se pode distinguir entre a inexistência
relativamente aos actos para os quais faltem os requisitos considerados essenciais pela
Constituição, e nulidade ipso jure no que respeita aos actos que contradigam formal ou
substancialmente a Constituição, quando essa contradição não resulte da falta de um requisito
próprio da existência do acto. Sem entrar na discussão doutrinária profunda sobre a matéria,
pode dizer-se que a consequência necessária da inconstitucionalidade das leis é a nulidade
absoluta, pois é princípio fundamental na maioria das legislações, incluindo a moçambicana, a
prevalência das normas hierarquicamente superiores sobre as inferiores.
A regra geral estabelecida no nº 1 do artigo 66 da Lei nº 6/2006 de 2 de Agosto (Lei Orgânica
do Conselho constitucional) é que a declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade produz
efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucionalou ilegal e determina a
repristinação das normas revogadas.
Contudo, uma excepção importante é a do nº 4 deste dispositivo legal que permite que o
Conselho Constitucional fixe aos efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade
alcance mais restritivo, desde que assim o exijam a segurança jurídica, razões de equidade ou
de interesse público.
Esta prerrogativa foi usada pelo Conselho Constitucional no caso CCLJ que adiante se
descreve.
A inconstitucionalidade pode também dividir-se em inconstitucionalidade por acção, quando
se pratica um acto contrário à Constituição e por omissão, quando o poder político deixa de pôr
em vigor uma norma exigida por aquela.
A inconstitucionalidade pode ser total ou parcial, originária (quando a norma é oposta à
Constituição vigente), ou superveniente, quando o acto normativo era constitucional, mas a
alteração da Constituição tornou aquela incompatível com esta.
No que respeita aos sistemas de controlo da constitucionalidade, normalmente há referência ao
controlo judicial, quando é feito pelo judiciário, controlo político e controlo misto. O sistema
moçambicano aproxima-se do controle judiciário.
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Nos sistemas de controlo judiciário distinguem-se o controle difuso, em que vários órgãos
realizam esse controlo e o controlo concentrado, em que um ou poucos órgãos têm
competências relativas à constitucionalidade dos actos. Moçambique segue o modelo do
controlo concentrado.
Quanto ao momento de controlo, este pode ser preventivo, quando se pretende evitar que
determinada norma inconstitucional entre para o ordenamento jurídico, e repressivo, quando
se pretende verificar se uma norma, já em vigor, está ou não de acordo com a Constituição.
2.1. Conceito de inconstitucionalidade da Lei
A s normas constitucionais ocupam uma posição de primariedade e supremacia em relação a
todas outras normas legais. Assim, sempre que estas não se conformam com aquelas, está-se
em presença do vício da inconstitucionalidade.
Segundo Miranda (2022), O vício de inconstitucionalidade material refere-se ao conteúdo da
lei ou norma. A inconstitucionalidade ocorre devido à matéria tratada contrariar os princípios
ou violar os direitos e garantias fundamentais assegurados pela Constituição.
2.2. Efeitos da revogação de normas jurídicas
A partir da publicação dos actos normativos, independentemente da sua entrada em vigor,
sempre que a referida norma ofenda a Constituição, pode, nos termos legais, ser pedida a
declaração da sua inconstitucionalidade.
Segundo Prata (2008), afirma que:
“É imperioso frisar que há diferença entre o momento em que é pedida a fiscalização
da constitucionalidade da norma (apresentação do pedido) e o momento a partir do qual
podem-se produzir os efeitos da declaração de inconstitucionalidade (início da
verificação das consequências da eliminação da norma no ordenamento jurídico). Uma
norma em vacatio legis, apenas está sob termo – que é a subordinação da produção dos
seus efeitos a partir da data definida para a sua entrada em vigor”.

A revogação de normas jurídicas verifica-se quando a autoridade legislativa – Assembleia da


República ou Conselho de Ministros, conforme a natureza da norma jurídica em causa,
apresenta nova manifestação legislativa em sentido diverso ao da norma anterior, podendo ser
total ou parcial (derrogação) ou ainda nos casos em que simplesmente é eliminada a norma
anterior e não é introduzida uma nova norma sobre a matéria, como ainda nos casos em que é
introduzida uma norma no ordenamento jurídico que é contrária às anteriores e,
consequentemente, criar uma situação de incompatibilidade entre as normas anteriores e as
novas ou da circunstância de a nova lei regular toda a matéria da lei anterior (Cfr. Artigo 7º do
Código Civil).
Portanto, quando há revogação da lei, a lei revogada, no que diz respeito à sua aplicação
às situações que ela regulava, deixa de poder ser aplicada, passando a aplicar-se a nova
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lei que regula a matéria ou passando a observar-se as estipulações da lei nova. Nos
casos em que a revogação implica a eliminação completa da norma anterior sem a
criação de outra que regule a matéria, ou quando se trate de normas temporárias não
substituídas por outras, as cominações da norma anterior deixam de existir e uma
eventual obrigação que era estabelecida em lei anterior deixa de ser exigida (Cfr. Artigo
7º do Código Civil).

Portanto, a revogação, em regra, tem efeito “ex-nunc” – desde agora, significando que produz-
se a partir do momento em que o acto é praticado ou em que a revogação produz efeitos ou nos
casos em que a nova norma começa a produzir efeitos em alteração da norma anterior. As
excepções se verificam nos casos em que a nova lei estabelece disposições transitórias, nas
quais a norma que revoga a anterior estabelece a aplicabilidade das referidas normas anteriores
durante certo período de tempo para situações constituídas na vigência da norma anterior.
Exemplo claro desses casos, é a situação das disposições transitórias sobre o cálculo de
indemnização no artigo 270º da Lei nº 23/2007, de 1 de Agosto.

2.3. Efeitos da inconstitucionalidade (por caducidade ou por declaração expressa de


inconstitucionalidade)
Ao abrigo do artigo 70º da Lei n.º 2/2022, de 21 de Janeiro, Lei Orgânica do Conselho
Constitucional, a declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória
geral produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e
determina a repristinação das normas revogadas.
Nos casos em que a inconstitucionalidade ou ilegalidade é declarada por infracção a uma norma
constitucional ou legal posterior, a declaração de inconstitucionalidade só produz efeitos desde
a entrada em vigor da norma posterior que ditou a alteração que dá lugar à inconstitucionalidade
ou ilegalidade. É o que estabelece o n.º 2 do artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho
Constitucional.
Neste caso, a nova norma é que torna caduca a anterior por inconstitucionalidade ou ilegalidade
com a entrada da nova, razão de os efeitos da inconstitucionalidade ou ilegalidade apenas se
retrotraírem até à entrada em vigor dessa norma.
Para as situações em que a nova norma torna caduca a anterior, sempre devem ser ressalvadas
situações de leis especiais e leis temporárias, em relação às quais, nos termos do artigo 7º do
Código Civil, não dão lugar à caducidade ou derrogação das leis anteriores sobre a mesma
matéria regulada. Mas nos casos de declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade de leis
especiais ou temporárias, os efeitos já serão fixados nos termos gerais do nº 1 do artigo 70º da
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Lei Orgânica do Conselho Constitucional o que, no nosso entender, dá lugar à aplicação do


regime geral que era regulado pela norma especial.
Contudo, a grande ressalva que é feita é para os casos julgados, conforme resulta do nº 3 do
artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho Constitucional. Portanto, todos os casos julgados ficam
ressalvados, o que implica que, nos casos de fiscalização sucessiva e abstracta da
inconstitucionalidade ou de ilegalidade, mesmo se sabendo que houve casos em que foram
aplicadas normas inconstitucionais ou ilegais, tais destinatários dessas decisões devem se
conformar com elas desde que tenham transitado em julgado.
Mas, a norma também comporta excepção que, no nosso entender, é problemática. O nº 3 do
artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho Constitucional, estabelece que “ficam ressalvados os
casos julgados, salvo decisão em contrário do Conselho Constitucional, quando a norma
respeitar a matéria penal ou disciplinar e for de conteúdo menos favorável ao arguido”.
Ora, é princípio constitucional, conforme resulta do nº 2 do artigo 60º da Constituição da
República de Moçambique, sempre que houver uma alteração legal – o que inclui a declaração
de inconstitucionalidade – e dela resultar benefício para o arguido, tal situação deve ser
obrigatoriamente aplicada em benefício do arguido.
De acordo com Artigo 252º da Constituição da República definição dos efeitos da
inconstitucionalidade, se razões de segurança jurídica o justificarem, fundamentando, o
Conselho Constitucional pode fixar os efeitos de inconstitucionalidade com efeito mais
restritiva. Portanto, nesse caso, se o fundamento para a fixação do efeito mais restritivo da
inconstitucionalidade, o Conselho Constitucional deverá sempre indicar a razão ou qual é a
lógica ou em que termos se pretende garantir a segurança jurídica nessa matéria específica. A
fundamentação consiste na exposição clara e expressa das razões de facto e de direito que
justificam a decisão.
Segundo De Vasconcelos et al (2019), A equidade consiste na “adaptação da regra existente à
situação concreta, observando-se os critérios de justiça. Pode-se dizer, então, que a equidade
adapta a regra a um caso específico, a fim de deixá-la mais justa”. À equidade estão adjacentes
dois princípios essenciais do Direito: a paridade e a equivalência.
Por sua vez, o interesse público é definido como a necessidade de uma actuação tendente à
satisfação das necessidades da colectividade, do desenvolvimento económico e social, da
estabilidade, convivência e tranquilidade sociais (artigo 5º da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto;
artigos 18º e 20º, ambos da Lei nº 7/2012, de 08 de Fevereiro).
Conforme Miranda (2022), a declaração de inconstitucionalidade, ainda que em termos
perfunctórios, pode representar a inexistência jurídica – o que implica que o acto
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inconstitucional não produz nenhuns efeitos desde a origem, sem necessidade de declaração
por qualquer órgão; Nulidade – o acto inconstitucional não produz efeitos desde a origem ou
desde que o seu conteúdo colida com a norma constitucional, é insanável, não se pode
convalidar, mas torna-se necessária uma decisão pelo órgão de fiscalização para a sua
declaração; Anulabilidade – o acto inconstitucional produz efeitos até à anulação pelo órgão
de fiscalização, e Irregularidade – quando a inconstitucionalidade não prejudica a produção dos
efeitos pelo acto, podendo, porém, trazer algumas consequências ou sanções.
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3. CONCLUSÃO
Feito o presente trabalho percebemos que a declaração de inconstitucionalidade, ainda que em
termos perfunctórios, pode representar a inexistência jurídica – o que implica que o acto
inconstitucional não produz nenhuns efeitos desde a origem, sem necessidade de declaração
por qualquer órgão; Nulidade – o acto inconstitucional não produz efeitos desde a origem ou
desde que o seu conteúdo colida com a norma constitucional, é insanável, não se pode
convalidar, mas torna-se necessária uma decisão pelo órgão de fiscalização para a sua
declaração; Anulabilidade – o acto inconstitucional produz efeitos até à anulação pelo órgão
de fiscalização, e Irregularidade – quando a inconstitucionalidade não prejudica a produção dos
efeitos pelo acto, podendo, porém, trazer algumas consequências ou sanções.
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4. BIBLIOGRAFIA

Artigo 252º da Constituição da República, artigo 158º do Código de Processo Civil e artigo
122º da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto.
Artigo 5º da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto; artigos 18º e 20º, ambos da Lei nº 7/2012, de 08
de Fevereiro.
De Vasconcelos, P. P. Et al (2019). Teoria Geral do Direito Civil. 9ª Edição, Almedina, págs.
25 e 26
Miranda, J. (1988). Manual de Direito Constitucional. Tomo II: Introdução à Teoria Geral da
Constituição, 2ª Edição Revista, Coimbra. Pág. 312
Miranda, J. (2022). A Fiscalização da Constitucionalidade. 2ª Edição Revista e Actualizada,
Almedina, págs. 99 a 104.
Prata, A. (2008). Dicionário Jurídico. 5ª Edição, Almedina. Págs. 1399 e 1497

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