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As normas jurídicas nascem, mas não vivem indefinidamente, elas são mortais ou podem
sofrer transformações no decurso da sua existência e um momento chega em que morrem. Se
é a norma exinta é de regra que outra a suceda, trava-se um coflito entre as duas, no tocante a
regulamentação de factos ou relações que se encontram seus confins temporais, aquelas
situações de transição que não se sabe bem se continuam sujeitas ao império da lei antiga ou
se entram já na órbita da lei nova.
O estado ao promulgar as leis, faz para que elas tenham uma duração indefinida e continuem
a vigorar até que ele próprio venha a declará-las suprimidas no todo ou em parte. A norma
jurídica não é necessariamente afectada pelo desaparecimento dos motivos ou circunstâncias
que determinam a sua criação ou pela sua contraditoriedade com novas exigências sociais.
Para que se dê a extinção da norma legal é necessário uma das duas coisas: ou que a própria
lei contenha em si um limite a sua vigência ou que seja revogada por uma lei posterior, o que
se dá o nome de caducidade da lei. Nesse caso a lei é temporária nasce com seu fim previsto
e quando chega o termo assinalado deixa de vigorar automatimente.
A exitição duma lei resulta do aparecimento duma posterior, assim duas leis que se sucedem
no tempo: a posterior que atinge a anterior, a revoga. A ordem de prioridade não se define
pela entrada em vigor mas sim pela publicação, sendo a mais antiga há que primeiro foi
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publicada embro tenha entrado em vigor depois, a lei posterior é que foi publicada em
segundo lugar conquanto tenha entrado em vigor primeiro.
A revogação pode ser ser total ou parcial: é total ou abrogação, quando atinge todo o
conteúdo da lei revogada, parcial ou derrogação, quando só atinge uma parte desse conteúdo,
deixando de vigorar alguma ou algumas disposições e continuando de pé as restantes.
As dificuldades surgem quando as duas leis tem âmbitos de diferentes, porque uma é geral e a
outra especial, uma aplica-se na generalidade de situações e a outra numa categoria
particular. A lei especial posterior não revoga a lei geral anterior, elas podem coexistir. A lei
especial subtrai a regulamentação precedente aquela categoria de casos particulares para que
é formulada, nesse caso há derrogação e não abrogação.
Uma lei tem normalmente duração indefinida, salvo quando se derem eventos, continua a
aplicar-se ainda que se mostre antiguada. A extinção da lei pode revestir se de duas formas: a
primeira por caducidade e a regunda por revogação.
A revogação é a extinção de uma lei por outra posterior. Pode ser expessa, quando resulta de
uma manifestação explicíta da vontade do legislador e tácita quando provém dum regime
jurídico posterior com o qual a lei precedente não pode coexistir. Só há revogação tácita
desde que entre as duas leis exista, e na medida em que exista incompactibilidade absoluta,
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mas a revogação tácita pode produzir-se também sem essa absoluta incompatibilidade,
quando um sistema jurídico seja substituido por outro.
Perante duas leis que se sudecem no tempo, deve ser aplicada considerando quatro
momentos:
Primeiro momento: saber se a lei se situa em domíneo em que seja interdita a sua
rectroactividade ou seja a produção de efeitos para o passado. É necessário recorrer a
constituição, pois há domíneos em que a rectroactividade da lei é constituicionalmente
proibida. O no 1 do Artigo 8, do Código Penal, interdita a aplicação ao passado da lei que
qualifica certa conduta humana como crime ou que aplique pena ou medida de segurança
mais graves.
Se a lei não contiver as disposições transitórias sua interpretação é sempre global e não
literal. Se da interpretação resultar que a lei é rectroactiva mesmo na ausência duma
disposição específica então a lei é retroactiva. A disposição é aparente. Ex: Artigo 5 do
Código Civil.
Terceiro momento: Supondo que da interpretação da lei nada se concluiu sobre a aplicação
no tempo, saber se algum ou alguns critérios específicos existem para o domíneo ou em que
essa lei se insere. No direito penal, a lei de conteúdo mais favorável ao arguido tem aplicação
rectroactiva. Se por exemplo, António foi incriminado pela prática de crime X, punível pela
lei M, com uma pena de oito à doze anos. Se a lei M, for revogada pela lei N, esta aplica se ao
António em duas situações:
1- Se reduzir a medida da pena aplicável ao X, para por exemplo quatro à seis anos de prisão.
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2 – Se considerar que não existe mais razões para sensurar e punir o factor X,e assim deixar
de o considerar crime.
Quarto momento: Se a lei nada diz sobre a sua aplicação no tempo e o que respeita o ramo
ou domíneo no qual não existe qualquer critério constituicional ou legal que esclareça ou
resolva o problema nesse caso a lei aplica se para o futuro.
O Artigo 12, no 1 do Código Civil contém um princípio geral que vale para o direito
Moçambicano no seu conjunto. Qual a ideia subjaz esse dispor para o futuro. Três respostas
são possíveis através das teorias que regulam os direitos adquiridos, teoria dos factos
passados e teoria da relação legal entre os factos e os seus efeitos jurídicos.
Princípio da irretroactividade
Após a publicação uma lei que revoga uma anterior, põe-se o problema da eficácia da lei
nova, que só se projecta sobre futuro deixando incólume o passado. A lei nova encontra
diante de si factos ou situações que ocorreram ou ate provavelmente se esgotam no passado
ou que dalgum modo se prolongam no presente. Isto pode por limites imediatos da aplicação
da lei nova, para não perturbar a necessária estabilidade daquelas situações ou factos. Daí que
a possível sobrevivência do direito anterior, que continuará a aplicar-se para além do
momento em que foi revogado.
A coordenação entre os dois regimes que se sucedem é tão complexa, que o legislador
considera oportuno estabelecer critérios específicos de resolução de conflitos que orientarão o
julgador, na passagem de uma legislação para a outra. Esses critérios ou directrizes dizem se
disposições transitórias (acompanham as leis sob a forma de introdução ou apêndice ou
através de preceitos por elas espalhados) e assumem carácter mais ou menos vasto, consoante
sejam aplicados à generalidade das matérias ou a certa matéria em particular.
As disposições transitórias, não bastam, nem sempre existem, e quando existem ou como
desvio ao princípio gerais ou como sua explicitação, obviamente pressupõe-nos. É, nesses
princípios gerais e fundamentais, eles constituem a forma de orientação que nos guia e
recorremos caso não haja disposições transitórias ou essas sejam insuficientes.
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A lei só regula os factos futuros, não se aplicando aos factos passados. Quando falamos de
factos, temos em vista também, por via de regra, as situações por elas geradas; quando
falamos de situações, temos em vista também, por via de regra, os factos que as
desencadeiam.
O Estado, a quem compete criar o Direito, mas a quem compete, do mesmo modo zelar pela
sua observância, não deve por se em contradição consigo próprio. Formulou uma lei donde
decorreram direitos, à sombra dos quais se criaram certezas ou se estabilizaram relações,
negando direitos que antes concedera aos indivíduos ou impondo-lhes obrigações de que
antes os considerara isentos. É esse chamado o princípio de irretroactividade das leis. Tem
alcance geral, extensivo como é a todos os ramos do Direito, desde o Civil ao Constitucional.
Se esse princípio não for respeitado, diz-se a lei nova é retroactiva.
Ressuscita o passado findo, que se anima juridicamente a luz de disciplina nova, fazendo
surgir preteritamente direitos que não existiam, ou impondo preteritamente obrigações que
não existiam também. Essa é a forma extrema e mais grave.
A teoria dos direitos adquiridos, diz que os direitos adquiridos à sombra de uma lei têm de ser
respeitado pelas leis posteriores, que serão retroactivas se procurarem aplicar-se-lhes; sujeitas
às leis novas só estão as meras expectativas.
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A celebra um contrato com o B, constituindo-se seu credor. A adquire em face de B um
direito, cujo conteúdo está demarcado na lei vigente. Esse direito goza de estabilidade,
mantendo-se intacto, ainda que leis novas apareçam a imprimir à matéria regulamentação
diferente; se tais leis quiserem atingi-la, haverá ai retroactividade.
C é parente de D numa relação que lhe dá a esperança de vir a ser herdeiro de D caso esse
faleça sem testamento. C tem uma simples expectativa desprovida de tutela legal, não tem
ainda um direito, que só adquirirá, eventualmente, no momento da morte do D. Aquela
expectativa não goza de estabilidade, pode ser atingida por uma lei que se publique antes do
óbito do dono dos bens e que altere a ordem da sucessão legal, preferindo aos sucessíveis da
categoria a que C pertence, outro ou outros diversos.
A aplicação da lei nova, desde que seja publicada antes do decesso do autor da herança, não
implica retroactividade, visto não afectar um direito já adquirido, mas uma simples
esperança.
Na sua lógica dá a lei antiga uma sobrevivência excessiva que contraria o bom senso.
Apresenta-se em termos tais que os seus próprios adeptos não poderiam evidentemente levá-
la às últimas consequências.
Surgiu na primeira metade do século XX, a teoria das situações jurídicas subjectivas, foi
criada pela Escola realista francesa do Direito Político e chefiada pelo constitucionalista Léon
Duguit.
Considerou o conceito de direito subjectivo, uma inutilidade metafísica, esta escola procurou
substituir por situação jurídica, que distinguia em duas espécies ou categorias: as situações
jurídicas subjectivas (resultam para os indivíduos de manifestarem a sua vontade, em
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harmonia com a lei, e que se tornam subjectivas por terem conteúdo puramente individual ou
particular). e as situações jurídicas objectivas (todas as situações consistentes em meros
poderes legais atribuídos pela lei às pessoas em virtude da ocorrência de certos factos).
Se um indivíduo se encontra numa situação jurídica cujo conteúdo ele determinou livremente,
essa situação é subjectiva; se, porém, se encontra numa situação jurídica com um conteúdo
fixado imperativamente pela lei, ela é objectiva.
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O princípio da irretroactividade, segundo essa teoria, significa que, não só subsistem
intactos os efeitos já produzidos ou que se estão produzindo à data da entrada em vigor da lei
nova, mas também continuaram a regular-se pela lei precedente os efeitos que vierem a
desenvolver-se mais tarde.
Há distinguir três ordens de efeitos: extintos, pendentes e futuros.
Efeitos Extintos são os que já realizados, totalmente sobre o império da lei anterior. Ex.:
celebrou-se um contrato de que nasceu uma divida que se mostra paga ao tempo da mudança
legislativa.
Efeitos Pendentes são os que esta em curso, em desenvolvimento, quando a nova lei
aparece. Ex.: celebrou-se um contrato de que nasceu uma divida que não foi por ora satisfeita.
Efeitos Futuros são os ainda não produzidos, mas que podem ocorrer ou virão a ocorrer
como consequência, mais ou menos longínqua de um facto passado. Ex.: celebrou se um
contrato sujeito a condição suspensiva, como se alguém doou a outrem um prédio para a
hipótese de ao donatário, vir a nascer um filho. A doação não produz logo os seus efeitos, que
ficam em suspenso; só virá a produzi-los futura e eventualmente, se se der a condição
prevista que pode ocorrer já no domínio de uma lei nova. Essa condição é um elemento
secundário, que se limita a desencadear os efeitos potenciais do facto principal anterior, a que
tais efeitos se reconduzem, entrando na orbita da lei que o regula.
Numa palavra, e sempre segundo a teoria do facto pretérito, o princípio da
irretroactividade deixa incólumes os efeitos extintos e pendentes, e inclusive, sujeita também
os efeitos futuros a lei de facto que os girou. Todos são desenvolvimento de um facto com a
sua sede temporal no passado e todos, portanto, devem reger-se pela lei vigente à data desse
facto, porque “tempus regit factum”.
A teoria, como se vem, é de formulação muito simples. Determina-se a data de facto
(embora nesse ponto possam surgir algumas dúvidas); determinam-se também os efeitos
deles provenientes; factos e efeitos, tudo fica sobre a alçada da lei antiga; sob pena de
retroactividade.
A teoria (repetimos) é de formulação muito simples, mas afigura-se-nos excessivas nas
suas aplicações, a semelhança do que se passa, segundo já foi exposto e fundamentado, com a
teoria dos direitos adquiridos.
Seria exagerado manter todos efeitos de um facto submetidos à lei antiga – ainda mesmo
aqueles que se prolongam duradouramente através do tempo.
Dos factos jurídicos nascem muitas vezes situações que perduram longamente e que se
compreenderiam continuassem nas suas manifestações futuras, entregues a regulamentação
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de uma legislação ultrapassada, que pode ser muito velha. Não existe razão forte justificativa
de tal solução. Pense se na constituição de proprietário, que se constitui para durar
indefinidamente, ou na conjugues, que subsiste enquanto o casamento não se dissolver, ou na
de funcionário vitalício que perdura enquanto não morrer ou não for afastado do serviço.
Seria inconveniente e até injusto em certos aspectos, manter essas situações,
permanentemente ligadas à legislação da época em que ocorreu o facto que as originou. Facto
que pode – no tocante a propriedade – situar-se até muitos séculos ou milénios atrás.
Desde sempre defendemos critérios diversos dos acabados de expor e de cuja aplicação,
como havemos de ver, não se afasta afinal, grandemente, a solução adoptada no Código Civil
actual.
Tal critério assenta na distinção entre situações jurídicas de execução duradoura e
situações jurídicas de execução instantânea.
Comecemos por estas últimas.
Caracterizam-se pelo facto de a sua realização se esgotar em dado momento, não se
protraindo por lapso de tempo mais ou menos longo.
Ex.: celebra-se uma compra e venda; o vendedor fica obrigado a entregar ao comprador a
coisa e este a pagar aquele preço. Essas obrigações podem não ser compridas logo, mas só
mais tarde, e isto possibilita o aparecimento de um conflito de leis num tempo, como
sucederá se no intervalo entre a constituição das referidas obrigações e a data do seu
cumprimento mudar a lei sobre a compra e venda. O problema consiste em saber se as
obrigações das partes nascidas quando vigorava uma lei mas a efectivar quando já vigora a
outra, encontra a sua regulamentação na primeira ou na segunda.
Pensamos que se deve manter aqui o respeito da lei antiga, sob pena de retroactividade. É
compreensível que seja assim, precisamente por que se trata de situações de erecção
instantânea, como as qualificamos situações que, embora vindas de traz, se resolve de um
momento para o ouro mediante um acto isolado: a entrega da coisa, o pagamento do preço
(embora este se possa desdobrar e prestações, como simples parcelas de uma dívida
unitária).
Não há perturbação pelo facto de se manter o império da lei revogada, porque estas
situações vêm a desaparecer mais cedo ou mais tarde, estão condenadas a morte, que pode
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ser, e normalmente será, próxima. Perturbação haverá se se iludisse a normal previsão dos
contraentes, impondo-lhes uma regulamentação jurídica com que não contava quando
fizeram o juramento.
Em condições diversas se encontram as situações de execução duradoura. As primárias
surgem para morrer; estas para viver mais ou menos indefinidamente. É o caso das situações
do proprietário, de conjugue, de funcionário público, ou das que derivam para as partes do
contrato de locação. O proprietário este investido de poderes que vai excedendo dia a dia mas
que não se esgotam pelo facto desse exercício, antes tem vitalidade permanente. Durante
todo tempo de arrendamento, o senhorio tem de, continuamente, proporcionar ao
arrendatário, por meio de acções e abstenções, o gozo do prédio que o arrendou, e o
arrendatário tem de, periodicamente, pagar ao senhorio a renda convencionada.
Estas situações – que são, pela sua própria natureza, as que mais frequentemente suscitam
problemas de aplicação da lei no tempo - podem prolongar-se anos, e nalguns casos até
séculos, e entre tanto a legislação vai sofrendo modificações. Poderia acaso pretender-se que
tais situações ficassem indefinidamente ligadas à legislação de facto que lhes deu origem,
como querem, na pureza dos seus princípios, a teoria dos direitos adquiridos e a teoria do
facto preteriu? Parece-nos bem que não.
Há que abrir na vida situações jurídicas duradouras – seja continuadas ou periódicas –
uma separação entre o passado e o futuro. Essa separação é dada pelo momento da entrada
em vigor da nova lei, e o que nela há de passado pertence ao domínio da lei antiga, e o que é
futuro pertence a órbita da lei nova. Aplicar essa ultima lei a tais situações, nas suas
manifestações actuais e na sua projecção sobre o futuro, não é cometer o pecado jurídico da
retroactividade, como será no tocante às situações de execução instantânea.
Eis o ponto de vista que sempre defendemos. Fomos levado a formula-lo por nos parecer
realista, como expressão da doutrina que, sem complicações desnecessária ou inconvenientes,
melhor estabelece o equilíbrio entre os interesses em jogo e melhor realiza o ideal de
segurança e da Justiça.
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2a – exceptua-se a lei interpretativa, a qual é aplicada a retroactivamente;
3a – salvo se dessa aplicação resulta ofensa de direito adquiridos.
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a) A lei só dispõe para o futuro (art. 12.o, n.o1,1.a parte)
Formula-se aqui um principio geral, digamos programático, mas um tanto vago, através
do qual se pretende significar que a lei em regra, não é nem deve ser retroactiva, incidindo
que apenas sobre o futuro e respeitando, pois, o passado.
b) A lei pode, no entanto ser atribuída eficácia retroactiva (art. 12.o, n.o 1,2.a parte “in
initio”).
c) Mesmo que o legislador atribua eficácia retroactiva à lei, presume-se que ficam
ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei destina a regular (art. 12.o, n.o
1,2.a parte “in fine”).
Quando o legislador atribui a lei eficácia retroactiva, presume-se que ele visa uma
retroactividade mitigada, traduzida apenas na aplicação da lei aos efeitos pendentes, e não
aos efeitos extintos (ou esgotados) na vigência da lei revogada, e por maioria de razão,
embora o artigo não o diga expressamente, com ressalva dos próprios factos geradores de
todos esses efeitos. A retroactividade só assumirá um cariz mais agressivo ou violento,
consiste em sujeitar inclusive à regulação da lei nova os factos pretéritos ou os efeitos
também pretéritos, se o legislador manifestar inequivocamente essa sua vontade, afastando a
aludida presunção. Seria por ex. retroactiva neste sentido, a lei que, inovado quanto aos
pressupostos de aquisição por acessão, se declarasse aplicável aos factos aquisitivos
anteriores, ou a lei que, baixando a taxa de juro, dissesse abranger inclusivamente os juros já
vencidos.
d) Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de
quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se em cada de dúvida, que só visa aos
factos novos (atr. 12.o, n.o 2, 2a parte).
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efeitos: o que não é mais do que repetição o desenvolvimento do estatuído no n. o 1.
Esclarece-se que, sendo o facto pretérito ou facto voluntario, isto é, um acto jurídico, como
um empréstimo, haverá retroactividade se a lei nova estabelecer para ele novas condições de
validade substancial ou formal, como se por ex. faz depende de escritura pública até aí não
exigida, os empréstimos anteriores.
e) Não há, toda via, retroactividade se a lei dispuser directamente sobre o conteúdo de
sertãs relações ou situações publicas, abstraindo dos factos que lhes deram origem, pois a lei
abranja então as próprias relações ou situações já constituídas a data da sua entrada em
vigor (art. 12.o, 2a ,parte).
Esse critério legal não é inteiramente conclusivo, cabe a ele ainda perguntar que relações ou
situações são essas que devem ser encaradas em si próprias, desligadas das sua géneses, ao
definir a regulamentação que é lhes aplicáveis.
A resposta contem se no que se explanou atrás no n. o 78. Tais relações ou situações, são as de
execução duradoura, ou mais concretamente, de execução continuada, ou periódica como as
relativas ao direito de propriedade ou outros direitos reais v. g. usufruto ou servidão, ou as
relativas ao estado das pessoas, v. g. o estado de casado ou estado de filho, as quais se
desprendem da sua fonte geradora e se vão sujeitando as mutações legislativas, estando em
cada momento sob o império da disciplina legal vigente, sem que isso implique
retroactividade.
f) Em resumo:
A lei só dispõe para o futuro, não tendo eficácia retroactiva;
Esta determinação obriga tão-somente o executor ou aplicador da lei, não
vinculado o próprio legislador, pode, em princípio, fazer leis retroactivas;
Quando, porem, o legislador faça uma lei retroactiva, presume-se que
pretende abranger exclusivamente, a lei dos factos e efeitos futuros, os efeitos
pendentes, não se estendendo aos factos e efeitos passados;
Nomeadamente, se o facto ou pretérito for um acto jurídico, a sua validade
substancial ou formal não fica dependente de si terem observado, na sua
celebração, nas condições requeridas pela lei nova;
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Quando se trata de uma relação ou situação duradoura, oriunda de facto
anterior a lei nova, esta aplica-se a tal relação ou situação, na sua existência
futura, não havendo aí retroactividade.
Já dissemos atrás, nos números 64, 66, o que deve entender-se por lei interpretativa e qual
seu regime.
Resumindo o ai explanado diremos que a lei interpretativa como é próprio da sua
natureza, tem efeito retroactivo integrando-se na lei interpretada, com que fica constituindo
um todo único; mas que a essa retroactividade, escapam os efeitos já produzidos por sentença
passada em julgado (conforme também resultava o Código de 1867, devidamente
interpretado), bem como os já produzidos pelo comprimento da obrigação, transacção, ainda
que não homologava, ou por actos de análoga natureza, estendendo se por actos de análoga
natureza os que importem o reconhecimento do direito.
Como precedentemente vimos, o legislador não está impedido de fazer leis retroactivas,
embora seja, o mais das vezes, censurável.
a) As leis restritivas de direito, liberdade e garantia (constituição art. 18.o n.o 3);
b) As leis criminais mas desfavoráveis ao arguido (art. 29.o).
c) E ainda, segundo a jurisprudência do Tribunal Constitucional, qualquer outra lei
quando deva entender-se que a sua retroactividade envolve concretamente violação de
alguma norma ou princípio constitucional.
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Referências bibliograficas:
SOUSA, Marcelo Rebelo De, GALVÃO, Sofia, Introdução ao Estudo do Direito, 5a Edição,
Lisboa, Editora Lex, 2000.
TELLS, Inocêncio Galvão, Introdução ao Estudo do Direito, 11a Edição, Lisboa, Coimbra
Editora, 1999.
TELLS, Inocêncio Galvão, Introdução ao Estudo do Direito, 10a Edição, Lisboa, Coimbra
Editora, 1998. Volume I
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