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Graus de retroatividade:
1. Grau máximo:
Total retroatividade da LN- a LN não respeita as situações definitivamente
decididas por sentença transitada em julgado ou por qualquer outro título equivalente
(sentença arbitral homologada, transação, etc.) ou aquelas causas em que o direito de
ação havia já caducado. A LN não respeita sequer as causas finitas ou semelhantes.
O desrespeito pelo caso julgado anterior poderá ser inconstitucional, na medida em
que viola o princípio da separação de poderes (art.114º, CRP).
2. Grau “médio”:
A LN respeita as causas finitas mas não respeita (tem caráter retroativo) quanto
aos efeitos jurídicos já produzidos no passado não cobertos ou consolidados por
um título equivalente- art.13º,n.º1, CC
3. Grau normal:
A LN não atinge, ficam ressalvados, os efeitos de direito já produzidos antes da
sua entrada em vigor- art.12º,n.º1 2ªa parte, CC
Para o professor Baptista Machado a teoria do facto passado devia ser formulada nos
seguintes termos:
A LN não se aplica a factos constitutivos (modificativos ou extintivos) verificados antes
do seu IV; a LN será retroativa sempre que se aplique a factos passados anteriores ao
seu IV por ela definidos como factos constitutivos, modificativos ou extintivos de SJ.
À constituição das situações jurídicas (requisitos de validade substancial e formal,
factos constitutivos) aplica-se a lei do momento em que essa constituição se verifica;
ao conteúdo das situações jurídicas que subsistam à data do início de vigência da LN
aplica-se imediatamente esta lei.
Isto implica que a LN não se aplique a factos constitutivos (modificativos e extintivos)
verificados antes do seu início de vigência- no sentido de que será retroativa sempre
que tal acontecer.
Lei aplicável às situações jurídicas contratuais (“estatuto do contrato”):
Os contratos estão submetidos, em princípio, à lei vigente no momento da sua
conclusão, sendo a lei competente para os reger até à extinção da relação contratual.
Neste caso, haveria um contraste com o princípio da aplicação imediata da LN a
relações em curso: a contratos que se concluíram ao abrigo da LA e que se prolongam
para o início da vigência da LN, aplicar-se-ia a LA.
Doutrina tradicional:
Mediante o surgimento de uma LN, aplica-se a LA (sem se falar em sobrevigência) pois
se se aplicasse a LN estava-se a atentar contra o princípio da autonomia privada: as
partes concluíram o contrato segundo as suas vontades e o legislador não deve
posteriormente intervir e anular o que elas pretendiam com a celebração do contrato.
Estaria a afetar-se a segurança jurídica.
A legislação posterior, a LN que incidisse sobre um contrato, devia ter natureza
supletiva ou interpretativa.
*Contratos em que se verifique um grande desequilíbrio entre as partes, em que uma parte impõe cláusulas à outra,
limitando-se a outra a aceitar como contratos realizados com fornecedores de bens essenciais
Retroatividade in mitius:
A retroatividade in mitius é sempre inspirada na ideia de favorecer os interesses dos
particulares, quando um tal favor não ponha em causa a segurança jurídica, ou seja,
não afetando aquele interesse que o princípio da não retroatividade pretende tutelar.
No Direito Penal vigora o princípio da retroatividade in mitius: aplicam-se
retroativamente as leis penais de conteúdo mais favorável ao arguido (art.29º,n.º4,
CRP e art.4º, CP).
Este princípio pode também ser alargado a outros domínios
Baptista Machado:
Há retroatividade in mitius tácita quando a LN for mais favorável aos interesses do
particular sem prejuízo do interesse de uma contraparte ou de terceiros
MTS:
Se o ato jurídico não estiver a produzir quaisquer efeitos no momento da entrada em
vigor da LN, há que aplicar o disposto no art.12º,n.º2, 1ª parte, CC não se verifica
qualquer retroatividade in mitius da LN.
No entanto, se o ato jurídico (inválido na vigência da LA) estiver a produzir efeitos no
momento do IV da LN , há que entender que esta lei produz um efeito confirmativo do
ato inválido e verifica-se uma retroatividade in mitius da LN.
Retroconexão:
A LN regula factos presentes ponderando factos passados, usando como elementos de
previsão factos passados
O seu âmbito de aplicação reporta-se a factos anteriores antes do IV da LN, abstraindo
do título constitutivo, com o objetivo de definir o presente
Factos pressupostos:
A LN atende a factos passados sem que se possa falar em retroatividade da lei, ou seja,
pode atender a factos que são pressupostos da constituição de situações jurídicas: são
factos anteriores a um facto constitutivo, modificativo ou extintivo a verificar-se no
período de vigência da LN.
Estes podem ser impeditivos, não permitindo a constituição de uma nova SJ pois é
inválida, ou desimpeditivos, permitindo a constituição e validade da SJ.
Um facto pressuposto é, assim, um facto que é usado pela lei como ponto de referência
para definir o regime jurídico de uma situação que durante a sua vigência é criada;
consideram-se os factos passados para se determinar a validade de factos
constitutivos, modificativos ou extintivos presentes.
NOTA: estes factos não podem ter um valor constitutivo; não está em causa a
validade ou os efeitos do facto passado está sim a definição da amplitude de um
efeito presente
Leis interpretativas
No entanto, nos casos em que esteja excluída a retroatividade não pode haver lei
interpretativa retroativa.
A retroatividade da lei interpretativa não atinge todos os efeitos e factos passados
antes do seu IV, art.13º,n.º1, CC.
A lei pode ser qualificada pelo legislador como interpretativa e vir a verificar-se que,
afinal, ela tem um conteúdo inovador. Nesta hipótese, a lei é falsamente interpretativa
(lei inovadora), onde para o professor Baptista Machado há um disfarce da
retroatividade da LN.
No entanto, salvo questões de inconstitucionalidade, deve-lhe ser atribuída a
retroatividade estabelecida no art.13º,n.º1, CC.
Restrições
MTS:
O art. 297/1 e 2 CC não é aplicável aos prazos definidos pelas partes ou quando estas
não tenham estipulado quaisquer prazos e tenham aceite os prazos legais supletivos
(ex: 453/1 e 929/1 CC). Aí aplica-se a LA: o conteúdo das situações decorrentes de
negócios jurídicos não abstrai do respetivo título constitutivo, sendo aplicável o
art.12º, n.º2, 2ª parte, CC (sobrevigência da LA).
Baptista Machado:
Se a LN estabelecer pela primeira vez um prazo este só deve ser contado a partir do
seu IV.
O art.297º CC só se aplica a factos constitutivos, excluindo-se os factos pressupostos e
as presunções legais