A Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/41) é uma lei publicada
na forma extinta de decreto-lei, a qual prevê disposições sobre as contravenções penais, que são consideradas uma espécie do gênero infração penal. Insta salientar que tal lei foi publicada no ano de 1941, quando vigorava o Estado Novo, governo ditatorial de Getúlio Vargas, sob a égide da Constituição Federal de 1937, a qual foi outorgada quando o então Presidente da República aplicou o golpe de Estado. Com o decorrer do tempo, o Brasil passou por períodos ditatoriais e democráticos, até chegar à Constituição atual de 1988, sendo que, as leis anteriores a ela têm que ser recepcionadas, ou seja, analisadas se compatibilizam ou não com a Carta Magna. Com isso, a Lei das Contravenções Penais não se compatibiliza com a Constituição Federal atual, ou seja, não foi recepcionada materialmente, por ser proveniente de um período autoritário e cerceia várias liberdades individuais e fere os princípios do Direito Penal Mínimo Para isso, utiliza-se de leis, geralmente sistematizadas em um modelo codificado, denominado Código Penal, para descrever condutas proibidas e impor as respectivas sanções quando um indivíduo realiza a conduta típica. Ou seja, há o preceito primário, a conduta proibida e logo em seguida há o preceito secundário, a respectiva sanção cominada abstratamente. Com isso, os indivíduos têm ciência de que tal conduta é vedada e, devido ao caráter intimidatório da pena, buscarão se abster de realizar tais atos. Assim, o Direito Penal tem uma grande função preventiva, podendo ser geral quando inibe pessoas de realizar as condutas descritas nos tipos penais e específica, quando aplica a pena abstrata a indivíduo concretamente. Insta salientar que o Direito Penal moderno é guiado por certos princípios norteadores, os quais visam a evitar a inflação legislativa penal e conter o natural ímpeto legislativo de controlar todos os fatos sociais com sanções penais. Dentre eles, há o Princípio da Intervenção Mínima, Princípio da Lesividade ou Ofensividade e o Princípio da Adequação Social, que serão analisados oportunamente. Assim, ao analisar toda a legislação penal, deve-se observar se o diploma legal está em consonância com estes princípios básicos. No presente caso, a lei em enfoque é a Lei de Contravenções Penais (Decreto-lei nº 3.688 de 3 de outubro de 1941). A doutrina costumeiramente divide as infrações penais em crimes e contravenções penais, sendo que aos primeiros são cominadas as penas de detenção e reclusão e às segundas as penas de multa e prisão simples. Logo, não há distinção ontológica entre crime e contravenção, pois a diferenciação reside basicamente na pena em que é cominada. Porém, ao analisar as contravenções em si, percebe-se que se trata de infrações penais de menor gravidade e, consequentemente, com pena reduzida. Aliás, ao analisá-las, percebe-se seu reduzidíssimo grau de reprovabilidade, de modo que poderia ser tutelado por outros ramos do Direito menos invasivos à pessoa. Portanto, é de se notar que a Lei de Contravenções Penais não está em consonância com os princípios do Direito Penal, o que será aprofundado na monografia. Ademais, como o referido diploma legal é anterior à atual Constituição, quando esta foi promulgada, ocorreu o fenômeno da recepção das leis anteriores que se coadunam com a nova ordem constitucional. Para que haja a recepção, é necessário que a lei seja formalmente válida à luz da Constituição em que ela foi feita e seja materialmente válida de acordo com a Lei Maior. Posto isso, o tema abordado será a não recepção da Lei de Contravenções Penais à luz da Constituição da República Federativa do Brasil. Ou seja, será abordado que tal diploma legal não se coaduna com o sistema legal vigente, considerando os princípios que norteiam o Direito Penal atual. Assim, na monografia será defendida a tese de que a Lei de Contravenções Penais não foi recepcionada pela nova Constituição, por estar materialmente contrária a esta, sendo este um dos requisitos para a recepção. Ou seja, por violar os princípios inerentes à Constituição, positivados nela ou de caráter supralegal, a Lei de Contravenções Penais não foi recepcionada, quedando-se inconstitucional no ordenamento jurídico vigente Ademais, o presente trabalho se justifica porque a criminalidade é um problema que assola a sociedade brasileira, assim, deve-se elaborar uma política criminal eficaz, que atenda às demandas sociais. Com isso, dada a importância social das leis penais, deve-se sempre ponderar se estas estão em consonância com a lei maior, a Constituição Federal. No caso das contravenções penais, estas colidem frontalmente com os princípios constitucionais, além de ter condutas aceitas socialmente e por isso necessita ser repensadas, revogando-se as condutas aceitáveis atualmente e tutelar de maneira administrativa condutas pouco lesivas aos bens jurídicos. Além disso, o presente trabalho tem por objetivo geral demonstrar que a Lei de Contravenções Penais se manifesta inconstitucional (não recepcionada). E, para tal fim se buscará analisar em qual contexto histórico do país a norma foi criada, esclarecer quais são os requisitos da recepção de uma norma à luz de uma nova Constituição, apontar os princípios do Direito Penal moderno, além de propor meios alternativos de tutelar bens jurídicos de forma menos invasiva. Para a realização desta monografia, foram feitas pesquisas bibliográficas, de forma a buscar respaldo teórico e acadêmico nos grandes pensadores do Direito que eternizam suas teorias e ponderações nas suas clássicas obras doutrinárias.