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FACULDADE DE DIREITO

APOSTILA DE TEORIA GERAL DA RELAÇÃO


JURÍDICA I

1º PERÍODO

PROF. THERCIUS ANTONIO GABRIEL NEIVA REZENDE

GUARAPUAVA - 2023
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APRESENTAÇÃO

A presente obra tem por finalidade servir de meio norteador dos ensinamentos da
disciplina de Teoria Geral da Relação JurídicaI, através de noções gerais e básicas do
Direito Civil, ministrada ao 1º período do curso de Direito das Faculdades Guarapuava,
servindo de amparo ao magistério do professor e do aprendizado do acadêmico.

Como dito, inexiste qualquer pretensão de se esgotar a amplitude dos temas e


conteúdo das Disciplinas Abarcadas, a presente apostila deve servir tão somente como meio
de base de estudo. E, por isso, dependendo sempre de aprofundamento pelas exposições
do professor nas presenciais e do estudo das obras doutrinárias, filosóficas, como da
legislação pátria pelo aluno.

Esperamos que a mesma torne-se de grande proveito, de forma a guiar os


primeiros passos do acadêmico no aprendizado e sedimentação dos conhecimentos da
Disciplina e do Direito, servindo-lhe de instrumento de rápida consulta norteadora dos
conceitos elementares da matéria.

Desejando assim um bom aproveitamento nos estudos, e a certeza de nossa


dedicação em demonstrar os caminhos de aprendizagem do Direito.

Bom Estudo !!!

Thercius Antonio Gabriel Neiva Rezende

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“O direito é o trabalho sem descanso e
não somente o trabalho dos poderes
públicos, como também de todo o povo. Se
abraçarmos em um momento dado toda
sua história, ele nos apresentará nada
menos do que o espetáculo de toda uma
nação, desenvolvendo sem cessar, para
defender seu direito, tão penosos esforços
quanto os que emprega para o
desenvolvimento de sua atividade na
esfera da produção econômica e
intelectual.”
JHERING “A Luta pelo Direito”

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I – LEI DE INTRODUÇÃO AS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

1 – LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL – Conteúdo e Função

Para Wilson de Campos Batalha, a Lei de Introdução ao Código Civil – LICC – “é um conjunto de
normas sobre normas” (Batalha, 1959 in Diniz), isto porque disciplina as próprias normas jurídicas,
assinalando-lhes a maneira de aplicação e entendimento, predeterminando as fontes do direito positivo,
indicando-lhes as dimensões espácio-temporais. Isso significa que essa lei ultrapassa o âmbito do
direito civil, vinculando o direito privado como um todo e alcançando o direito público, atingindo
apenas indiretamente as relações jurídicas. A LICC contém, portanto, normas de sobredireito ou de
apoio que disciplinam a atuação da ordem jurídica.

Não está incluído na Parte Geral, uma vez que o art. 1º do Código Civil – CC, peremptoriamente,
circunscreve a sua matéria às relações de ordem privada. Além disso a fixação de normas desse teor,
em uma Lei Especial, tem a vantagem de permitir ulteriores modificações, independentemente das
transformações que se operarem nos institutos civis.

A LICC é aplicável a toda ordenação jurídica, já que tem as funções de:

 Regular a vigência e a eficácia das normas jurídicas, apresentando soluções ao conflito


de normas no tempo e no espaço;
 Fornecer critérios de hermenêutica;
 Estabelecer mecanismos de integração de normas, quando houver lacunas (art. 4);
 Garantir não só a eficácia global da ordem jurídica, não admitindo o erro de direito (art.
3); que a comprometeria, mas também a certeza, segurança e estabilidade do
ordenamento, preservando as situações consolidadas em que o interesse individual
prevalece (art. 6).

Portanto, estudaremos alguns pontos dos problemas regulados pela LICC, indispensáveis para a
compreensão das matérias concernentes ao Dto. Civil.

2 – APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

O momento da aplicação da norma é característico do direito positivo. Isto porque as normas positivas
existem, fundamentalmente, para serem aplicadas.

A norma contém, em si, uma generalidade, procede por abstração, fixando tipos, referindo-se a uma
série de casos indefinidos e não a pessoas determinadas ou relações individualmente consideradas, ou
seja, a casos concretos. Essa abstração de normas, em virtude de seu processo generalizante, implica
seu afastamento da realidade, surgindo uma oposição entre normas jurídicas e fatos. Entretanto, essa
oposição não é um intervalo insanável, porque os fatos individuais apresentam o geral determinado no
conceito abstrato, em outras palavras, uma “nota de tipicidade”, a qual permite que sejam enquadrados
nos conceitos normativos.

Assim, a norma jurídica só se movimenta ante um fato concreto, pela ação do magistrado, que é o
intermediário entre a norma e a vida ou o instrumento pelo qual a norma abstrata se transforma numa
disposição concreta, regendo uma determinada situação individual. Para entender, quando o o
dispositivo do CC que estabelece a proteção possessória, garantindo o possuidor, permanece como
norma abstrata, até o momento em que o possuidor, alegando uma turbação na posse, pede ao órgão
jurisdicional a aplicação da norma protetora.

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Esclarecendo que, quando um fato individual é submetido em um conceito abstrato normativo, ele não
é apreendido em sua totalidade, pois esse fato é, tão somente, um geral determinado coincidente com o
equivalente que está previsto no conceito; os demais caracteres desse fato não abrangidos pelo
conceito são tidos como indiferentes para a subsunção, que é a aplicação do direito. O conceito
normativo contém uma potencialidade, que possibilita a subsunção dos objetos individuais por ele
contidos, excluindo os que não são por ele alcançados. A subsunção revela a perseverança do juiz em
se aproximar mais da realidade fática, completando o pensamento abstrativo contido na norma.

A norma de direito é um modelo funcional, que contém, em si, o fato, pois, sendo um tipo geral oposto
à individualidade concreta, pode ser adaptada a esta última. Logo, o tipo contido no preceito normativo
tem dupla função: é meio de designação dos elementos da hipótese de fato e forma de apreensão e
exposição de relações jurídicas.

Na determinação do direito que deve prevalecer no caso concreto, o magistrado deve verificar se o
direito existe, qual o sentido exato da norma aplicável e se esta norma aplica-se ao caso sub judice.
Portanto, para a aplicação do direito é necessário uma correta interpretação para determinar a
qualificação jurídica da matéria fática sobre a qual deve incidir uma norma geral.

E, quando, ao aplicar a norma ao caso, o magistrado não encontrar norma que a esse seja aplicável, não
podendo subsumir o fato a nenhuma norma, porque há falta de conhecimento sobre um status jurídico
de um certo comportamento, devido a um defeito da ordem normativa que pode consistir na ausência
de uma solução, estamos diante do problema da lacuna da lei.

Como o elaborador de normas jurídicas, legislador, constrói preceitos para o futuro, que não é
previsível, dada a complexidade da vida moderna, submetida a mutações constantes, e não consegue
abarcar em suas fórmulas todas as hipóteses possíveis de comportamento, o juiz encontra-se algumas
vezes, de fato, ante a questão problemática de decidir casos não previstos em norma jurídica.

Pelo que surge a importância do artigo 4 da LICC, que dá ao magistrado, impedido de furtar-se a uma
decisão, a possibilidade de integrar a lacuna, de forma que possa chegar a uma solução adequada. Tal
situação trata-se do fenômeno da Integração Normativa, o qual estudaremos logo adiante.

3 – VIGÊNCIA E OBRIGATORIEDADE DA LEI

Não se confunde a Existência da lei com a Vigência da mesma.

A Existência de uma lei começa a partir de sua publicação, enquanto a Vigência significa o começo da
obrigatoriedade dessa lei. Entre as duas etapas – entre a publicação da lei (existência) e a sua
obrigatoriedade (vigência) – tem-se o período denominado de Vacatio Legis.

Destacamos, que como previsto na Lei Complementar 95/98, artigo 8, a vigência de uma lei nova deve
ser indicada de modo expresso em seu próprio texto.

Há, portanto, dois princípios basilares, em relação à vigência das leis em geral, o Princípio da
Obrigatoriedade das leis e o Princípio da Continuidade das leis.

O Princípio da Obrigatoriedade das Leis – é aquele segundo o qual a lei que está em vigor a todos
obriga, não se admitindo que alguém alegue desconhecer a lei para poder justificar o seu
descumprimento (art. 3 da LICC). No entanto, convém observar que esse princípio não é absoluto, e
tanto assim que o CC expressamente admite a possibilidade do Erro de Direito (art. 139, III CC), que
nada mais é do que o desconhecimento ou a compreensão incorreta da lei em vigor.

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O Princípio da Continuidade das Leis – é aquele segundo o qual uma lei, se não foi estipulado qu sua
vigência seria temporária, estará em vigor até que uma outra (Lei Nova) venha a modificá-la ou
revogá-la (art. 2 da LICC), não havendo a perda da vigência pelo simples fato de ter decorrido longo
tempo desde o início da vigência. Exemplo: A Consolidação das Lis do Trabalho – CLT, entrou em
vigor em 1943, há mais de 60 anos, e no entanto continua em pleno vigor até hoje.

Quando uma Lei nova vem a modificar a lei antiga ou retirar-lhe a vigência, fala-se em Revogação. Na
verdade Revogação é gênero, do qual são espécies a Ab-Rogação – quando toda a lei antiga perde a
vigência. E a Derrogação – quando apenas alguns artigos da lei antiga são afetados pela lei nova.

Ainda a Revogação de uma lei pode ser Expressa ou Tácita.


Expressa – quando a lei nova declara explicitamente que determinada lei anterior, ou
alguns artigos da mesma, está revogado.
Tácita – por sua vez, ocorre quando há incompatibilidade entre a lei velha e a lei nova, ou
quando esta regula por inteiro o assunto que era tratado pela lei anterior.

Já que falamos em leis incompatíveis, devemos esclarecer e observar que o principal critério para a
solução de antinomias (normas conflitantes entre si) é o hierárquico, ou seja, a norma superior sempre
prevalece sobre a norma inferior. Mas, se as duas normas forem de mesma hierarquia, então o critério
a ser aplicado, em princípio, é o cronológico, ou seja, a lei mais nova prevalecerá sobre a mais antiga.

Esclarece ainda o artigo 2, § 2 da LICC que a lei especial convive com a geral, cada uma na sua órbita
de atuação, e por isso nenhuma delas revoga a outra. Exemplo: As disposições do Código Civil, acerca
dos contratos, convive com as disposições do Código de Defesa do Consumidor – CDC, uma vez que
esse último se aplica especialmente às relações de consumo, enquanto o CC é aplicável aos contratos
em geral, prevalecendo o CDC em relação aos contratos que sejam relações de consumo.

Ainda no que se refere à Revogação das Leis, cabe observar que não há, em nosso direito, Efeito
Repristinatório Automático, ou seja, se uma lei “A” foi revogada por uma lei “B”, o fato de a lei “B”
também vir a ser revogada por uma lei “C” não faz com que a lei “A” volte a entrar em vigor (art. 2, §
3 LICC). È interessante observar, que não ocorre Repristinação Automática, mas também não se
proíbe que a mesma venha a ocorrer, desde que expressamente determinada.

Assim no exemplo acima: a lei “A” foi revogada pela lei “B”, sendo esta posteriormente, foi revogada
pela lei “C”. Não há qualquer proibição de que a lei “C” determine que a lei “A” voltará a viger. Não
haverá essa vigência de modo automático, ou seja, se a lei “C” silenciar sobre o assunto, a lei “A”
continuará revogada. Mas se a lei “C” o disser expressamente, a lei “A” poderá voltar a viger.
Obviamente, em tal caso, deverão ser respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.

4 – LACUNA DA LEI – INTEGRAÇÃO: ANALOGIA, COSTUMES, PRINCÍPIOS GERAIS


DE DIREITO, EQUIDADE.

Nos casos em que a lei for omissa, ou seja, nos casos em que não se encontra, nas normas legais, a
solução para uma situação específica, deve o interprete fazer a chamada integração do ordenamento
jurídico, uma vez que é expressamente proibido o non liquet, ou seja, proíbe-se o juiz de deixar de
decidir alegando a inexistência de norma legal (artigo 126 do Código de Processo Civil – CPC).

Em tal caso, determina o art. 4 da LICC, que o juiz deverá se valer da analogia, dos costumes e dos
princípios gerais do direito. Em relação aos costumes, não é demais desde já recordar que não se
aceita, entre nós, a aplicação de costumes contra legem, ou seja, daqueles que contrariam texto
expresso de lei. Igualmente, convém lembrar, também, que o juiz não é livre para se valer da equidade,
só podendo fazê-lo nos casos em que a lei expressamente o permitir (art. 127 do CPC).

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Lembramos, portanto, que o Direito é uma realidade dinâmica, que está em perpétuo movimento,
acompanhando as relações humanas, modificando-as, adaptando-as às novas exigências e necessidades
da vida, inserindo-se na história, brotando do contexto cultural. A evolução da vida social traz em si
novos fatos e conflitos, de modo que o legislador, diariamente, passa a elaborar novas leis; juizes e
tribunais de forma constante estabelecem novos precedentes e os próprios valores sofrem mutações,
devido ao grande e peculiar dinamismo da vida.

O direito é um dado que abrange experiências históricas, sociológicas, axiológicas, que se completam.
Logo as normas, por mais completas que sejam, são apenas uma parte do direito, não podendo
identificar-se com ele.

Isso nos leva a crer que o sistema jurídico é composto de vários subsistemas. Na Tridimensionalidade
jurídica de Miguel Reale encontramos a noção de que tal sistema se compõem de três subsistemas
isomórficos: o de normas, o de fatos e o de valores. Logo, os elementos do sistema estão vinculados
entre si por uma relação, sendo interdependentes. De forma que quando houver uma incongruência ou
alteração entre eles temos a lacuna e a quebra da isomorfia. Havendo, portanto, inadequação entre os
subsistemas em razão de sua própria evolução interna, pode ocasionar uma situação indesejável em
que a norma e o fato que lhe corresponde entre em conflito com o valor que os informa, ou que o fato,
devido a uma modificação social, não mais atenda aos ditames axiológicos, contradizendo-se assim
com a norma. O Direito é lacunoso, sobre o prisma dinâmico, já que se encontra em constante
mutação, pois vive com a sociedade, sofre com ela, recebendo a cada momento o influxo de novos
fatos; não há possibilidade lógica de conter, em si, prescrições normativas para todos os casos. As
normas são sempre insuficientes para solucionar os infinitos problemas da vida. O legislador por mais
hábil que seja não consegue reduzir os comando normativos às necessidades do momento, abrangendo
todos os casos emergentes da constante elaboração da vida social que vem pedir garantia ao direito,
por mais que este dilate seu alcance e significado. As lacunas jurídicas podem ser colmatadas,
passando-se de um sistema a outro. De modo que elas são sempre provisórias.

Se não se admitisse o caráter lacunoso do direito, sob o prisma dinâmico, o poder legislativo, num
dado momento, não mais teria qualquer função, pois todas as condutas já estariam prescritas, em
virtude do princípio “ tudo o que não está proibido está permitido”. E além disso se se afirmar que não
há lacunas por que há juizes que, com base no artigo 4 da LICC, vão eliminando as lacunas, conduziria
a uma falsa realidade, pois os magistrados apenas as colmatam. O juiz cria norma jurídica individual
que só vale para cada caso concreto, pondo fim ao conflito, sem dissolver a lacuna, pois o caso sub
judice por ele resolvido não pode generalizar a solução para outros casos, mesmo que sejam idênticos.
A norma individual ´so poderá ascender a norma jurídica geral após um posterior processo de recepção
por uma lei. A instauração de um modelo jurídico geral cabe ao poder legislativo, bem como as
modificações e correções da norma, procurando novas formas que atendam e satisfação as
necessidades sociais.

Logo, a teoria das lacunas tem dois objetivos: fixar os limites para as decisões do órgão judicante e
justificar a função do poder legislativo. Entretanto, reconhecemos a possibilidade de existir no
ordenamento jurídico princípios e norma latentes, capazes de solucionar situações não previstas,
expressamente, pelo legislador.

Com isso queremos dizer que o direito apresenta lacunas, porém é, concomitantemente, sem lacunas, o
que poderia parecer paradoxal se se captasse o direito estaticamente. Ele é lacunoso por que a vida
social apresenta nuanças infinitas nas condutas humanas, problemas surgem, mudam-se as
necessidades com o progresso, o que torna impossível a regulamentação de todo comportamento por
normas jurídicas. Mas, é sem lacunas, porque o seu próprio dinamismo apresenta solução para
qualquer caso sub judice, dado pelo poder judiciário ou legislativos. O próprio direito supre seus
espaços vazios, mediante a aplicação e criação de normas. De forma que o sistema jurídico não é
completo, mas completável.

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Admitida a existência de lacuna jurídica, surge o problema de sua constatação e preenchimento, que só
pode ser resolvido com o empregos dos meios indicados nos artigos 4 LICC e 126 do CPC, ou seja,
analogia, costume, princípios gerais de direito, etc.

Assim podemos resumir e definir tais institutos pelo quadro abaixo.

Integração – Conceito: é o preenchimento de lacunas, mediante aplicação e criação de


normas individuais, atendendo ao espírito do sistema jurídico.

Meios de Integração:

Analogia – Conceito: consiste em aplicar a um caso não previsto diretamente por norma
jurídica uma norma prevista para hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado.

Espécies: Legis – que consiste na aplicação de norma existente destinada a reger


caso semelhante ao previsto.

Júris – que se estriba num conjunto de normas para extrair elementos


que possibilitem sua aplicação ao caso concreto não previsto mas similar.

Costume – Conceito: é a prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato


com a convicção de sua necessidade jurídica.

Condições: Continuidade, uniformidade, diuturnidade, moralidade e


obrigatoriedade.

Espécies: Secundum Legem – é o que está previsto em lei.

Praeter Legem – é o que tem caráter supletivo, suprindo a lei nos


casos omissos. Exemplo: art. 4 LICC, art. 126 CPC.

Contra Legem – é o que se forma em sentido contrario à lei, por


exemplo: consuetudo abrogatoria, ou desuso.

Princípios Gerais de Direito – Conceito: são normas de valor genérico que orientam a
compreensão do sistema jurídico em sua aplicação e integração. Exemplo: art. 3 LICC; Proibição do
Locupletamento ilícito; ninguém pode transferir mais direitos do que tem, etc.

Natureza Múltipla: decorrem dos subsistemas normativos.


Originam-se de idéias políticas, sociais, e jurídicas
vigentes.
São reconhecidos pelas nações civilizadas os que tiverem
substratum comum a todos os povos ou a algum deles em dada época histórica.

Roteiro de sua Aplicação pelo Magistrado: O Juiz, empregando dedução,


indução e juízos valorativos deve: - Buscar os princípios da instituição a que se refere o caso; - Sendo
isso inócuo, os que informam o livro ou parte do diploma onde se insere a instituição, depois o do
diploma onde se encontra o livro, em seguida o da disciplina a que corresponde o diploma, até chegar
aos princípios gerais de todo o direito escrito, de todo regime jurídico-político e da sociedade das
Nações; - Procurar princípios de direito costumeiro; - Recorrer ao direito comparado; - Invocar
elementos de Justiça, entrando na seara da filosofia do direito.

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Equidade – Acepções: - Latíssima – seria a suprema regra da justiça a que os homens
devem obedecer.
- Lata – confunde-se com os princípios gerais de direito e com o
direito natural.
- Restrita – seria o ideal de justiça aplicado na interpretação,
integração, individualização jurídica.

Espécies: Legal – quando está contida no texto normativo. Exemplo: Lei n.


6.515, de 1977 – art. 10, § 1 e 2; LICC, artigos 4 e 5.

Judicial – quando o legislador implícita ou explicitamente incumbe


ao juiz a decisão, por equidade, do caso concreto. Exemplo: CPC, art. 127, Lei 6.515/77, art. 13.

Requisitos: - o objeto, embora determinado legalmente, deve ser defeituoso ou


obscuro;
- só se aplica em caso de lacuna depois de esgotado os recursos
integrativos do artigo 4 da LICC;
- deve estar em harmonia com o espírito que rege o sistema e com os
princípios que informam o instituto, objeto da decisão.

5 – INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS

Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Devido a ambigüidade do texto,


imperfeição e falta de terminologia técnica, má redação, o aplicador do direito, a todo instante, está
interpretando a norma, pesquisando seu verdadeiro significado. Interpretar é, portanto, explicar,
esclarecer; dar o sentido do vocábulo, atitude ou comportamento; reproduzir, por outra palavras, um
pensamento exteriorizado; mostrar o verdadeiro significado de uma expressão, assinalando, o que é
decisivo para a vida jurídica; extrair da norma tudo o que ela contém.

È a hermenêutica que contém regras bem ordenadas que fixam os critérios e princípios que deverão
nortear a interpretação. A hermenêutica é a teoria cientifica da arte de interpretar.

Para orientar a tarefa interpretativa do aplicador várias técnicas existem:

Interpretação Gramatical – que se funda em regras da lingüística, examina o aplicador


cada termo do texto normativo, isolada ou sintaticamente, atendendo à pontuação, colocação dos
vocábulos, origem etimológica, etc.

Interpretação Lógica – o que se pretende é desvendar o sentido e o alcance da norma,


mediante seu estudo, por meio de raciocínios lógicos, analisando os períodos da lei e combinando-os
entre si, com o escopo de atingir perfeita compatibilidade.

Interpretação Sistemática – é a que considera o sistema em que se insere a norma,


relacionando-a com outras concernentes ao mesmo objeto. Isto é assim porque o sistema jurídico não
se compõem de um só sistema de normas, mas de vários, que constituem um conjunto harmônico e
interdependente, embora cada qual esteja fixado em seu lugar próprio.

Interpretação Histórica – oriunda das obras de Savigny e Puchta, cujas idéias foram
compartilhadas por Espínola, Gabba, Holder, Biermann, etc., baseia-se na averiguação dos
antecedentes da norma. Refere-se ao histórico do processo legislativo, desde o projeto de lei, sua
justificativa ou exposição de motivos, emendas, aprovação e promulgação, ou às circunstancias fáticas
que a precederam e que lhe deram origem, ás causas ou necessidades que induziram o órgão a elaborá-
la, ou seja, às condições culturais ou psicológicas sob as quais o preceito normativo surgiu (occassio

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legis). Como a maior parte das normas constitui a continuidade ou modificação das disposições
precedentes, é bastante útil que o aplicador investigue o desenvolvimento histórico das instituições
jurídicas, a fim de captar o exato significado das normas, tendo sempre em vista a razão delas (ratio
Legis), ou seja, os resultados que visam atingir.

Interpretação Sociológica ou Teleológica Objetiva – como que Ihering, adaptar o


sentido ou finalidade da norma às novas exigências sociais, adaptação esta prevista pelo art. 5 da
LICC, que assim reza: “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum”. A interpretação, como nos diz Ferrara, não é a pura arte dialética, não se
desenvolve como método geométrico num circulo de abstrações, mas perscruta as necessidades
práticas da vida e a realidade social. O aplicador, nas palavras de Henri de Page, não deverá quedar-se
surdo às exigências da vida, porque o fim da norma não deve ser a imobilização ou a cristalização da
vida, e sim manter contato intimo com ela, segui-la em sua evolução e adaptar-se a ela. Daí resulta,
que a norma se destina a um fim social, de que o juiz deve participar ao interpretar o preceito
normativo.

Desta forma o intérprete ao compreender a norma jurídica, descobrindo seu alcance e significado, refaz
o caminho da “fórmula normativa” ao “ato normativo”; tendo presentes os fatos e valores dos quais a
norma advém, bem como os fatos e valores supervenientes, ele a compreende, a fim de aplicar em toda
sua plenitude o “significado nela objetivado”.

6 – CONFLITOS DAS LEIS NO TEMPO E EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO E NO TEMPO.

Em relação à eficácia da lei NO ESPAÇO, deve ser observado, como regra, o princípio da
territorialidade, ou seja, a lei brasileira aplica-se no Brasil, a lei portuguesa aplica-se em Portugal, e
assim por diante. No entanto, cabe a extraterritorialidade (aplicação da lei de outro país) em algumas
situações específicas:

Em relação às obrigações, deve ser aplicada a lei do país em que as mesmas se constituíram (LICC,
3.1t. 9.°), sendo que, nas obrigações internacionais, considera-se o país da constituição como sendo o
da residência do proponente (art. 9.°, II).

Quanto à sucessão causa mortis, deve ser aplicada a lei do último domicílio do de cujus (art. 10),
pouco importando a nacionalidade ou o local do óbito. No entanto, havendo filhos ou cônjuge
brasileiros, poderá ser aplicada a nossa lei, quando a mesma se mostrar mais favorável aos filhos ou ao
cônjuge brasileiros (CF, art. 5.°,XXXI).

Mas convém recordar que a competência será sempre do judiciário brasileiro, com exclusão de
qualquer outro, para o processamento do inventário dos bens localizados no Brasil (CPC, art. 89,II).

Assim, por exemplo, é perfeitamente possível que o inventário seja processado no Brasil, mas a lei a
ser aplicada seja a colombiana, se o de cujus era domiciliado na Colômbia, mas deixou bens no Brasil.

Também é a lei do país do domicílio da pessoa que deverá ser aplicada para a determinação de começo
e do fim da personalidade, nome, capacidade e os direitos de família (LICC, art. 7.°).

Em relação aos bens, sua qualificação e as relações a eles concernentes obedecerão às leis do país em
que estiverem situados (LICC, art. 8.°).

Quanto à eficácia das leis NO TEMPO, as leis dispõem para o futuro, ou seja, em princípio a lei não
retroage. No entanto, cabe observar que se trata de mera opção de política legislativa, pois a aplicação
da lei pode retroagir, se houver determinação expressa nesse sentido e desde que sejam respeitados o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

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7 – DIREITO CIVIL.

7.1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS.

O conceito do direito civil passou por uma evolução histórica. No direito romano era o direito da
cidade que regia a vida dos cidadãos independentes, abrangendo todo o direito vigente, contendo
normas de direito penal, administrativo, processual etc.

Na era medieval, o direito civil identificou-se com O direito romano, contido no Corpus juris civilis,
sofrendo concorrência do direito canônico, devido à autoridade legislativa da Igreja, que, por sua vez,
constantemente, invocava os princípios gerais do direito romano. Na Idade Moderna, no direito
angloamericano, a expressão civil law correspondia ao direito moderno, e as matérias relativas ao
nosso direito civil eram designadas como private law.

Passou a ser um dos ramos do direito privado, o mais importante por ter sido a primeira
regulamentação das relações entre particulares. A partir do século XIX toma um sentido mais estrito
para designar as instituições disciplinadas no Código Civil.

Por influência de Savigny, contém O Código Civil duas partes: a geral, que, com base nos elementos
do direito subjetivo, apresenta normas concernentes às pessoas, aos bens, aos fatos jurídicos, atos e
negócios jurídicos, desenvolvendo a teoria das nulidades e princípios reguladores da prescrição, e a
especial, com normas atinentes ao "direito de família", normas relativas ao casamento, às relações
entre os cônjuges, às de parentesco e à proteção de menores e incapazes; ao "direito das coisas",
referente à posse, à propriedade, aos direitos reais sobre coisas alheias, de gozo, de garantia e de
aquisição; ao "direito das obrigações", tendo como fulcro o poder de constituir relações obrigacionais
para a consecução de fins econômicos ou civis, disciplinando os contratos e as obrigações oriundas de
declaração unilateral de vontade e de atos ilícitos, e ao "direito das sucessões", formulando normas
sobre a transferência de bens por força de herança e sobre o inventário e partilha.

O direito civil é, pois, o ramo do direito privado destinado a reger relações familiares, patrimoniais e
obrigacionais que se formam entre indivíduos encarados como tais, ou seja, enquanto membros da
sociedade.

É o direito comum a todas as pessoas, por disciplinar o seu modo de ser e de agir, sem quaisquer
referências às condições sociais ou culturais. Rege as relações mais simples da vida cotidiana, atendo-
se às pessoas garantidamente situadas, com direitos e deveres, na sua qualidade de marido e mulher,
pai ou filho, credor ou devedor, alienante ou adquirente, proprietário ou possuidor, condômino ou
vizinho, testador ou herdeiro.

Como se vê, toda a vida social está impregnada do direito civil, que regula as ocorrências do dia a dia,
pois, como exemplifica Ferrara, a simples aquisição de uma carteira de notas é contrato de compra e
venda; a esmola que se dá a um pedinte é doação; o uso de um ônibus é contrato de transporte; o
valer-se de restaurante automático no qual se introduz uma moeda para obter alimento é aceitação de
oferta ao público

7.2 – PRINCÍPIOS

Os princípios basilares que norteiam todo conteúdo do direito civil são:

- o da personalidade, ao aceitar a idéia de que todo ser humano é sujeito de direitos e obrigações, pelo
simples fato de ser homem;

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- o da autonomia da vontade, pelo reconhecimento de que a capacidade jurídica da pessoa humana lhe
confere o poder de praticar ou abster-se de certos atos, conforme sua vontade;

- o da liberdade de estipulação negocial, devido à permissão de outorgar direitos e de aceitar deveres,


nos limites legais, dando origem a negócios jurídicos;

- o da propriedade individual, pela idéia assente de que o homem pelo seu trabalho ou pelas formas
admitidas em lei pode exteriorizar a sua personalidade em bens móveis ou imóveis que passam a
constituir o seu patrimônio;

- o da intangibilidade familiar, ao reconhecer a família como uma expressão imediata de seu ser
pessoal;

- o da legitimidade da herança e do direito de testar, pela aceitação de que, entre os poderes que as
pessoas têm sobre seus bens, se inclui o de poder transmiti-Los, total ou parcialmente, a seus herdeiros;

- o da solidariedade social, ante a função social da propriedade e dos negócios jurídicos, a fim de
conciliar as exigências da coletividade com os interesses particulares.

Os demais ramos do direito privado destacaram-se do direito civil por força da especialização de
interesses, sujeitando-se à regulamentação de atividades decorrentes do exercício de profissões, pois o
direito civil disciplina direitos e deveres de todas as pessoas enquanto pessoas e não na condição
especial de comerciante ou empregado. Recordamos que com o advento da Lei n. 10.406 de
10/01/2002, o “Novo Código Civil”, novamente incorpora em seu corpo, Parte Especial – Livro II - o
Direito de Empresa, ou Direito Empresarial, até então chamado Direito Comercial o qual possuía
codificação própria e independente, passando novamente vigorar como parte do Direito Civil.

7.2 CONTEÚDO DO DIREITO CIVIL

Parte Geral
Apresenta normas sobre pessoas, bens e fatos jurídicos em sentido amplo.

Parte Especial
Regula o direito de família; o direito das coisas; o direito das obrigações; o direito das sucessões; O
direito de Empresas

7.3 - CODIFICAÇÃO

Difícil é a tarefa de codificar o direito, pois não é uma simples reunião de preceitos normativos
relativos a certo tema. É preciso coordenar e classificar metodicamente as normas concernentes às
relações jurídicas de uma só natureza, criando princípios harmônicos, dotados de uma unidade
sistemática; para tanto deve-se eleger um critério objetivo, lógico e racional.

A idéia de codificar o direito surgiu entre nós com a proclamação da independência política em 1822.
Ante o fato de não termos leis próprias, a Assembléia Constituinte, baixou a Lei de 20 de outubro de
1823, determinando que continuassem a vigorar, em nosso território, as Ordenações Filipinas, de
Portugal, embora alteradas por leis e decretos extravagantes, principalmente na seara cível, até que se
elaborasse o nosso Código.

A Constituição Imperial de 1824 determinou a organização do Código Civil e Criminal, que viria
consolidar a unidade política do país e das províncias.

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Carvalho Moreira, em 1845, foi quem primeiro se preocupou com a matéria ao apresentar um estudo
sobre a revisão e codificação das leis civis.

Em 1855, o governo imperial entendeu que antes da codificação seria preciso tentar uma consolidação
das leis civis, que se encontravam esparsas, e para tanto encarregou Teixeira de Freitas, que, em 1858,
obteve a aprovação de sua Consolidação das Leis Civis.

Contratou-se, então, Teixeira de Freitas para elaborar o projeto de Código Civil, que não foi aceito por
ter unificado o direito civil com o direito comercial. Entretanto, o Esboço de Teixeira de Freitas
exerceu grande influência na feitura do Código Civil Argentino.

Após rescindir o contrato com Teixeira de Freitas, o ministro da Justiça, Nabuco de Araújo, incumbiu-
se de elaborar um novo projeto, porém devido a sua morte não pôde levar até o fim sua missão.

Em 1881, Felício dos Santos apresentou um projeto denominado Apontamentos, que recebeu parecer
contrário da comissão nomeada para examiná-lo. Essa mesma comissão, composta de juristas
renomados como Lafayette Rodrigues Pereira, Ribas, Justiniano de Andrade, Coelho Rodrigues,
Ferreira Viana e Felício dos Santos, fez uma tentativa de codificação, mas a comissão, com a perda de
Justiniano e Ribas e com o afastamento de Lafayette, logo se dissolveu.

Em 1889, pouco antes da proclamação da República, o ministro da Justiça, Cândido de Oliveira,


nomeou uma comissão, que com o advento da República não chegou a apresentar nenhum projeto de
codificação.

Ante as tentativas infrutíferas das comissões, o ministro da Justiça, Campos Sales, incumbiu Coelho
Rodrigues da feitura de projeto, que também não conseguiu ser transformado em lei. Contudo, ao
ocupar a Presidência da República, Campos Sales, por indicação de seu ministro Epitácio Pessoa,
nomeou, em 1899, Clóvis Beviláqua para esta árdua tarefa. No final desse ano apresentou ele um
projeto, que após dezesseis anos de debates transformou-se no anterior Código Civil, promulgado em 1
de janeiro de 1916, e vigente a partir de 1 de janeiro de 1917.

Com novas alterações introduzidas pelas reformas desde então, em 1984 foi publicado no Diário do
Congresso Nacional a redação final do projeto de lei n. 634-B, de 1975, que, constituindo o PLC n.
118/84, recebeu inúmeras emendas em razão da nova Carta Magna, Constituição de 1988,
introduzindo muitas novidades oriundas da evolução social, chegando após 26 anos de tramitação no
Senado e na Câmara dos Deputados a sua redação definitiva, contando com o subsídios de entidades
jurídicas e de juristas e dando maior ênfase ao social. Aprovado por ela e pelo Senado em 2001, e
publicado em 2002, revogou o Código Civil de 1916, a primeira parte do Código Comercial de 1850,
bem como toda a legislação civil e comercial que lhe for incompatível (CC, art. 2.045). Lei n. 10.406
de 10/01/2002.

O código passa a ter um aspecto mais paritário e socialista, atendendo aos reclamos da nova realidade
social, abolindo instituições moldadas em matrizes obsoletas, albergando institutos dotados de certa
estabilidade, apresentando desapego a formas jurídicas superadas, tendo um senso operacional à luz do
princípio da realizabilidade, traçando, tão somente, normas gerais definidoras de instituições e de suas
finalidades, reservando os pormenores às leis especiais, e eliminando, ainda, normas processuais ao
admitir apenas as intimamente ligadas ao direito material.

8 - PESSOAS NATURAIS

CONCEITO DE PESSOA – Para a doutrina tradicional, “Pessoa” é o ente físico ou coletivo


suscetível de direitos e obrigações, sendo sinônimo de sujeito de direito.

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8.1 – PERSONALIDADE JURÍDICA
Começo da Personalidade

A personalidade civil da pessoa natural começa a partir do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo,
desde a concepção, os direitos do nascituro (CC, art. 2.°). Encontram-se, na doutrina, duas teorias, a
concepcionista e a natalista. A primeira sustenta que a personalidade começa desde o momento da
concepção, enquanto a segunda aponta que a personalidade se inicia a partir do nascimento com vida.

A segunda, ou seja, a teoria natalista, claramente foi a adotada pelo nosso Código Civil. Os direitos
que a lei reserva para o nascituro, portanto, são direitos condicionais, sujeitos ao implemento de uma
condição suspensiva: o nascimento com vida.

8.2 – CAPACIDADE

Em relação à capacidade, esta pode ser de direito ou de fato. A capacidade de direito (ou de gozo)
significa a possibilidade de ser titular de direitos e obrigações, e toda pessoa a tem, pois até mesmo um
recém-nascido pode ser o titular, por exemplo, do direito de propriedade sobre um imóvel.

A capacidade de fato (ou de exercício), no entanto, significa a possibilidade de exercer pessoalmente


os direitos dos quais se é titular, e esta não é atribuída indistintamente a todas as pessoas, podendo a
mesma sofrer restrições. Havendo estas restrições, diz-se que há incapacidade, que pode ser absoluta
ou relativa.

Convém observar que só existe incapacidade nos casos em que a lei prevê, ou seja, não se admite que
as partes possam criar novas hipóteses de incapacidade, diferentes daquelas que existem no texto legal.
São absolutamente incapazes, nos termos do artigo 3.°, do Código Civil:

- os menores de 16 anos;
- os que por enfermidade ou deficiência mental não têm discernimento;
- os que não podem exprimir a vontade, ainda que por causa transitória.

A incapacidade absoluta impede a prática pessoal de todos os atos da vida civil, e haverá nulidade
absoluta (ato nulo) caso o incapaz venha a praticá-los pessoalmente. O incapaz absoluto deve ser
representado nos atos da vida civil, ou seja, só o representante é quem participa de tais atos.

Por sua vez, são relativamente incapazes, conforme o artigo 4.°, do Código Civil:

- os que têm entre 16 e 18 anos;


- os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, em virtude de deficiência mental, têm o
discernimento reduzido;
- os excepcionais, que não têm desenvolvimento mental completo;
- os pródigos.

A incapacidade relativa não impede a prática pessoal de todos os atos da vida civil, mas apenas certos
atos, pois já existem alguns que o incapaz relativo pode praticar pessoalmente. Nos casos em que há o
impedimento, se o incapaz relativo praticar pessoalmente o ato, haverá nulidade relativa (ato
anulável). O incapaz relativo deve ser assistido, ou seja, participará pessoalmente da prática dos atos,
em conjunto com o seu representante.

Em relação aos pródigos, convém observar que o atual Código Civil previu a incapacidade como
proteção para ele mesmo (o antigo Código Civil se preocupava em proteger os familiares do pródigo, e
não o pródigo em si mesmo), e tanto assim que permitiu que a interdição possa ser pedida por qualquer

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parente e mesmo pelo Ministério Público, se não houver parentes ou se estes se omitirem (CC, art.
1.768).

8.3 – CESSAÇÃO DE INCAPACIDADE

8.3.1 - EMANCIPAÇÃO

A emancipação pode ser voluntária, judicial e legal.

A voluntária é aquela concedida pelos próprios pais, em relação aos filhos menores que estão sob o
poder familiar. A concessão é feita por escritura pública, não dependendo de homologação judicial,
exigindo-se que o menor já tenha pelo menos 16 anos completos. O ato concessivo deverá ser
registrado no registro público (CC, art. 9.°, II). Ambos os pais devem concordar, e se houver
divergência entre eles, qualquer um poderá requerer ao juiz que a solucione (art. 1.631, parágrafo
único).

A emancipação judicial é requerida pelo próprio menor, quando este se encontra sob tutela, e deferida
(se for ocaso) por sentença judicial, devendo ser ouvidos o tutor e o Ministério Público. A sentença
concessiva também deverá ser registrada no Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais (CC, art.
9.°, II).Também se exige, aqui, que o menor tenha 16 anos completos.

Os demais casos previstos no art. 5.°,parágrafo único, do Código Civil, são chamados de emancipação
legal. Destaca-se, como novidade, a possibilidade de emancipação em virtude da existência de relação
de emprego, desde que, em função da mesma, o menor, com pelo menos 16 anos, já tenha economia
própria.

8.4 – EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL: MORTE REAL E PRESUMIDA.

TÉRMINO DA PERSONALIDADE
A existência da pessoa natural termina com a morte, que pode ser real ou presumida.

A morte presumida, por sua vez, pode ocorrer no processo de declaração de ausência (CC, art.
6.°:presume-se a morte no momento em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva) ou sem
que haja decretação da ausência (CC, art. 7.°), neste último caso em relação aos que se encontravam
em perigo de vida ou aos que foram feitos prisioneiros ou desapareceram em campanha, não tendo sido
encontrados até dois anos após o término da guerra.

Quando a morte é presumida fora do processo de ausência, só poderá ser requerida depois de esgotadas
as buscas e averiguações, e a sentença deverá fixar a data provável do falecimento.

No caso da decretação da ausência, a morte presumida tem o efeito de dissolver o casamento (art.
1.571, § 1), o que não ocorre na morte presumida em que não houve decretação de ausência.

Comoriência é a morte conjunta (na mesma ocasião) de dois ou mais indivíduos: se não for possível
aferir quem morreu em primeiro lugar, presumir-se-ão simultaneamente mortos. O grande interesse
prático da comoriência é o fato de que não há sucessão causa mortis entre os comorientes, nem
sucessão legítima e nem testamentária.

REGISTRO E AVERBAÇÃO

Todos os fatos marcantes da vida da pessoa natural (nascimento, casamento, interdição, anulação de
casamento etc.) devem ser anotados no registro público, através do registro ou averbação (arts. 9.° e
10).

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Tem-se o registro quando é anotado um fato novo, que ainda não constava de qualquer assento
público. A averbação, por sua vez, ocorre quando já existe um registro anterior, e trata-se de uma
anotação feita à margem desse registro já existente, em virtude do fato que o modifica. Assim, por
exemplo, faz-se o registro do casamento e, se os cônjuges vierem a se divorciar, à margem desse
registro do casamento será feita a anotação (averbação) da sentença que decretou o divórcio.

A averbação, por se tratar de alteração de um registro já existente, deverá ser sempre precedida da
manifestação do Ministério Público, conforme determina a Lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos),
artigo 97.

8.5 – MODOS DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL E DIREITOS DA


PERSONALIDADE.

Salvo nos casos previstos em lei, são intransmissíveis e irrenunciáveis (CC, art. 11).

Além disso, são também imprescritíveis.

São proibidos os atos de disposição do próprio corpo, salvo se houver exigência médica, admitindo-se,
contudo a disposição para fins de transplante (art. 13). As disposições acerca do transplante de órgãos
se encontram na Lei 9.434/97.

É válida, também, a disposição gratuita do próprio corpo, post mortem, com objetivos científicos ou
altruísticos (art. 14).

O Código Civil também dispôs sobre a proteção ao nome, esclarecendo que a mesma abrange o
prenome e o sobrenome (art. 16), assim como o pseudônimo usado para atividades lícitas (art. 19). A
regra básica é a de que o nome da pessoa não pode ser usado por outra em publicações que exponham
ao desprezo público, assim como não poderá ser usado, sem autorização, em propaganda comercial
(arts. 17 e 18).

Além disso, as regras do Código Civil são complementadas pelas que se encontram nos artigos 55 a
58, da Lei 6.015/73, e que podem ser assim resumidas:

O oficial do registro não está obrigado a registrar prenome que possa expor seu portador ao ridículo.
Se os pais insistirem, deverá a questão ser encaminhada ao juiz.

A pessoa pode requerer, independentemente de justificativa, no primeiro ano após atingir maioridade
(esse prazo é de natureza decadencial), a alteração do seu nome, desde que isso não afete a sua
identificação. Geralmente essa alteração, na prática, é feita para a inclusão do sobrenome da família
materna. Passado esse prazo, a alteração poderá ser pedida, a qualquer tempo, motivadamente e
ouvido o Ministério Público, sendo decidida por sentença.Seria o caso, por exemplo, da pessoa que foi
registrada com nome que a expõe ao ridículo.

Em relação ao prenome, admite-se a sua substituição por apelido público notório (ou seja, a pessoa
pode escolher por fazer prevalecer aquele nome com o qual é identificada no meio onde vive, quando
tal nome diverge do que consta do registro) ou quando se tratar de pessoa incluída no programa de
proteção a testemunha de crime.

Não se considera alteração quando se trata de mera correção de erro gráfico. Seria o caso, por
exemplo, da pessoa que teve seu nome grafado como Jozé, e agora pretende alterá-lo.

No Código Civil, também encontramos algumas hipóteses de alteração do nome:

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O cônjuge declarado culpado perde o direito de usar o sobrenome do outro, devendo voltar a usar o
sobrenome de solteiro, se assim o requerer o inocente (art. 1.578).

Na separação judicial ou no divórcio, o cônjuge que adotou o sobrenome do outro poderá sempre optar
entre conservar o sobrenome de casado ou voltar a usar o de solteiro (art. 1.578, § 2.°).

Na adoção, a sentença que a defere deve atribuir ao adotado o sobrenome do adotante, e poderá
também determinar a modificação do seu prenome, se o adotado for menor e se ele ou o adotante
tiverem requerido (art. 1.628).

AUSÊNCIA

Poderá ser decretada a ausência no caso de desaparecimento de uma pessoa, sem que dela se tenha
notícias e se não deixou quem administrasse o seu patrimônio.

A ausência pode ser decretada a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público: juiz
decreta ausência e manda arrecadar os bens, sendo publicados editais de chamamento do ausente.

Um ano depois da arrecadação dos bens do ausente, os interessados podem requerer abertura da
sucessão provisória. Os efeitos da sentença, que determina a abertura da sucessão provisória, serão
produzidos 180 dias depois de ter sido publicada pela imprensa.

Os herdeiros receberão, provisoriamente, seus quinhões hereditários, mas para isso terão que prestar
garantia, para que possam devolver o que receberam, no caso de retorno do ausente. Foram
dispensados de prestar garantia os descendentes, os ascendentes e o cônjuge (art. 30, § 2.°), uma vez
provada a sua qualidade de herdeiros.

Dez anos depois da sentença que abriu sucessão provisória, os interessados podem requerer abertura da
sucessão definitiva. Pode-se, também, requerê-la provando-se que o ausente já tem 80 anos de idade e
que as últimas notícias sobre ele já têm cinco anos.

Se o ausente voltar nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou se surgir algum
descendente ou ascendente, ainda terá direito ao recebimento do patrimônio, mas no estado em que
este se encontrar.

9 – PESSOAS JURÍDICAS

9.1- CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

As pessoas jurídicas podem ser de direito público, interno ou externo, ou de direito privado (art. 40).

São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e as pessoas regidas pelo
Direito Internacional Público (ONU, OIT, OMC etc.) (art. 42).

São pessoas de direito público interno a União, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios, os
Municípios, as autarquias e as demais entidades de caráter público, criadas por lei, por exemplo as
fundações públicas (art. 41).

São pessoas de direito privado as sociedades, as associações, as fundações, as organizações religiosas


e os partidos políticos (art. 44). São livres a criação, a organização e o funcionamento das associações
religiosas, sendo proibido ao poder público negar-lhes o reconhecimento ou o registro.

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Os partidos políticos não são regulados pelo Código Civil, mas sim pelo disposto em sua lei específica
(Lei 9.096, de 19.9.1995).

9.2 – REQUISITOS PARA CONSTITUIÇÃO E COMEÇO DA EXISTENCIA LEGAL

O começo da pessoa jurídica de direito privado se dá a partir do registro do seu ato constitutivo,
devendo tal registro ser precedido da autorização do Governo, nos casos em que esta é necessária (art.
45).

Em relação à responsabilidade da pessoa jurídica de direito privado, haverá responsabilidade


contratua1 quando o representante tiver agido dentro dos limites de seus poderes, assumindo
obrigações em nome da pessoa jurídica (art. 47). A responsabilidade extracontratual, por sua vez, é
objetiva, respondendo a pessoa jurídica pelos danos causados de qualquer pessoa que esteja aos seus
serviços (arts. 932 e 933).

9.3 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E EXTINÇÃO

Poderá ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica no caso de abuso dessa personalidade,


caracterizando-se tal abuso quando houver desvio de finalidade ou confusão patrimonial. A
desconsideração da personalidade jurídica põe fim à separação entre a pessoa jurídica e as pessoas dos
sócios, ou seja, os bens da pessoa jurídica e os dos sócios ou administradores se confundem, e todos
respondem por aquela obrigação.

Mas veja-se que a desconsideração da personalidade jurídica não se confunde com a extinção da
mesma, pois é decretada em um processo judicial, a requerimento da parte ou do Ministério Público, e
só vale especificamente para aquele processo onde foi decretada, continuando a existir a pessoa
jurídica nas demais relações jurídicas das quais faz parte.

Observa-se, por último, que aplica-se às pessoas jurídicas a proteção aos direitos da personalidade,
naquilo em que se mostrar cabível (art. 52).

ASSOCIAÇÕES

União de pessoas que se organizam para fins não econômicos. Veja-se que a associação pode exercer
atividade econômica e pode perseguir o lucro. O que não pode é distribuir os lucros entre os
associados, devendo ser reinvestidos na própria associação.

Mas é válida, no entanto, a previsão de restituição das contribuições, atualizadas, aos associados, em
caso de dissolução da associação e se houver patrimônio remanescente (art. 61, § 1.0).

A qualidade de associado é personalíssima, ou seja, é intransmissível, salvo se o estatuto disser o


contrário (art. 56).

A exclusão de um associado só é possível por justa causa, e mesmo assim sempre será permitido o
recurso à assembléia (art. 57).

FUNDAÇÕES

A criação de uma fundação deve ser feita por escritura pública ou testamento: o fundador faz a
dotação de bens livres, com especificação do fim e, se quiser, estabelecendo o modo de administrar.

A fundação não pode ser criada para qualquer finalidade, mas apenas para finalidades especificas:
religiosas, morais, culturais ou de assistência.

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A fiscalização das fundações é feita pelo Ministério Público do Estado, e, se estiver instalada em mais
de um Estado, em cada um deles será fiscalizada pelo MP do respectivo Estado.

10. DO DOMICÍLIO E DOS BENS

10.1. DOMICILIO

O domicílio pode ser voluntário, legal (ou necessário) e convencional. O domicílio voluntário da
pessoa natural é o lugar onde ela fixa sua residência (elemento objetivo) com ânimo definitivo
(elemento subjetivo) (art. 70).

Nosso Código Civil admite a pluralidade de domicílios:

Quando a pessoa tiver diversas residências, onde alternadamente viva;


Quando exercer sua profissão em lugares diversos. Nesses dois casos, não se trata de escolher qual dos
locais será o domicílio: todos os lugares o são.

Considera-se como domicílio da pessoa que não tem residência habitual o lugar onde a mesma for
encontrada (domicílio aparente).

Quanto à pessoa jurídica de direito privado, o domicílio é o do lugar da administração ou onde o


estatuto designar. No entanto, se a pessoa jurídica tiver diversos estabelecimentos em lugares
diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados (art. 75, § 1; Súmula
363, do STF).

O domicílio legal (ou necessário) é aquele que não é escolhido pela pessoa, mas determinado pela lei
(art. 76). Têm domicílio necessário:

- o incapaz (o domicílio do seu representante ou assistente);


- o servidor público (onde exerce permanentemente as funções);
- o militar (onde servir), e, sendo da marinha ou aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
subordinado;
- o marítimo (onde o navio estiver matriculado);
- o preso (onde cumprir a sentença).

O domicílio convencional (ou foro de eleição), por último, pode ser ajustado entre as partes nos
contratos escritos, sendo, no entanto, que não será válido o foro de eleição que prejudicar o
consumidor ou o aderente (nos contratos de adesão). O domicílio convencional só vale para as
obrigações daquele contrato específico (domicílio especial).

10.2. DOS BENS

São as coisas dotadas de valor econômico, havendo diferentes classes previstas no Código Civil.

IMÓVEIS

O solo (imóvel por natureza) e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente (por acessão
natural ou artificial) (art. 79), tais como as construções, plantações etc. O dono do solo também o é do
subsolo e do espaço aéreo, na altura e na profundidade úteis (art. 1.230). Excetuam-se, contudo, as
jazidas, minas e recursos minerais, potenciais de energia hidráulica e monumentos arqueológicos, que
se destacam do solo e não pertencem ao proprietário deste, mas sim à União.

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Há, ainda, os imóveis por determinação legal:

- os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;


- o direito à sucessão aberta; neste caso, mesmo que o patrimônio deixado pelo de cujus seja formado
apenas por bens móveis, ou mesmo que em tal patrimônio só existam bens imateriais (direitos, por
exemplo).
- edificações removidas integralmente para outro local;
- materiais separados provisoriamente do prédio.

MÓVEIS

São os bens suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia, sem alteração da
substância ou destruição (art. 82). A lei também considera como móveis as energias com valor
econômico, os direitos reais sobre móveis e os direitos pessoais de cunho patrimonial (art. 83).

Também são considerados como móveis os materiais provenientes da demolição de alguma


construção, assim como os que sejam destinados a construções, mas que ainda não tenham sido usados
com tal finalidade (art. 84).

FUNGÍVEIS, INFUNGÍVEIS, CONSUMÍVEIS E NÃO-CONSUMÍVEIS

Fungíveis são os bens que podem ser substituídos sem que haja diferença para o credor, e infungíveis
são os que não podem.

Consumíveis são aqueles cujo uso importa destruição imediata, sendo também considerados como tal
os bens destinados à alienação (consuntibilidade legal).

DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS

Divisível é o bem que pode ser fracionado sem que ocorra alteração da substância, perda considerável
(desproporcional) de valor ou prejuízo do uso normal.

A indivisibilidade pode ser natural (a que decorre das próprias características físicas da coisa), legal
(quando a lei a determina - ex.: art. 1.386) ou convencional (ajustada pelas partes, nas obrigações
contratuais).

SINULARES E COLETIVOS

Singulares são os bens considerados individualmente, deper si, ainda que reunidos com outros (art.
89). Coletivos são os bens que se consideram em conjunto (ex.: uma coleção de livros).

Considera-se como universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que pertencem à mesma
pessoa e têm destinação unitária (ex.: os bens usados em uma via férrea). Cada um dos bens que
constituem a universalidade de fato pode ser objeto de relação jurídica própria.

A universalidade de direito é aquela definida como tal pela norma jurídica, como ocorre com a
herança (art. 1.791).

PRINCIPAIS E ACESSORIOS

Principal é o bem que existe por si mesmo, independente da existência de outro. O acessório, por sua
vez, é aquele cuja existência pressupõe a existência do principal. Assim, por exemplo, a hipoteca é um

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instituto acessório, pois jamais existirá por si mesma, só existindo se houver uma dívida (o principal),
que será por ela garantida.

As pertenças são os bens que, não se constituindo em partes integrantes, destinam- se de modo
duradouro ao uso, serviço ou ao aformoseamento de outro (art. 94).

O negócio referente ao principal não abrange as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da
vontade ou das circunstâncias.

Dentre os bens acessórios, destacam-se as benfeitorias, que podem ser voluptuárias (mero deleite ou
recreio, não aumentando o uso habitual do bem), úteis (as que aumentam ou facilitam o uso do bem)
ou necessárias (as que se destinam a conservar o bem ou evitar que se deteriore). Mas é importante
destacar que só se considera benfeitoria quando o melhoramento da coisa decorreu de intervenção
humana.

PÚBLICOS

São públicos os bens que pertencem às pessoas de direito público interno.

Todos os demais bens são particulares, não interessando a quem pertençam. Os bens públicos podem
ser:

- uso comum do povo;

- uso especial (no serviço público ou outra finalidade pública);

- dominicais (ou dominiais).

Os bens de uso comum e os de uso especial são afetados, e são inalienáveis enquanto não forem
desafetados. Formam o chamado patrimônio público indisponível. Os dominicais, por sua vez, podem
ser alienados, na forma da lei, formando o patrimônio público disponível.

Todos eles são imprescritíveis (inusucapíveis) e impenhoráveis.

O uso comum dos bens pode ser gratuito ou remunerado (por exemplo, em uma estrada na qual se
cobra pedágio).

Dentre os bens dominiais, destacam-se as terras devolutas, que podem integrar o patrimônio da União,
dos Estados ou dos Municípios.

São bens da União (CF, art. 20), dentre outros:

- terras devolutas na faixa de fronteira (faixa de 150 km, paralela à fronteira com outros países);

- rios que banhem mais de um Estado, sirvam de fronteira nacional ou avancem por território
estrangeiro;

- terrenos de marinha (terrenos que sofrem influência das marés) e seus acrescidos;

- as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

São bens do Estado (CF, art. 26), dentre outros:

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- os rios situados apenas em seu território;
- os terrenos reservados.

Veja-se que existem bens que, conforme a situação, podem pertencer ao Estado ou à União, como
ocorre com os rios e com as ilhas fluviais, lacustres e oceânicas.

BEM DE FAMÍLIA

O bem de família pode ser legal (Lei 8.009/90) ou voluntário (Código Civil, arts. 1.711 e seguintes).

O bem de família legal não depende de qualquer providência, basta que se trate do único imóvel
pertencente à família e no qual ela resida. Será o de menor valor se a família tiver mais de um e neles
residir, de modo alternado.

A impenhorabilidade do bem de família abrange não apenas o imóvel, mas também os móveis que o
guarnecem. Se o imóvel estiver locado, serão impenhoráveis os móveis do inquilino que estejam
quitados.

Mas a impenhorabilidade não abrange os veículos de transporte, as obras de arte e os adornos


suntuosos. Além disso, há algumas exceções, ou seja, situações nas quais a impenhorabilidade é
afastada:

- dívidas trabalhistas e previdenciárias relativas aos trabalhadores da própria residência;


- dívida referente ao financiamento do próprio imóvel;
- tributos e taxas incidentes sobre o imóvel (inclusive taxa de condomínio);
- pensão alimentícia;
- fiança locatícia;
- imóvel adquirido com o produto de crime;
- quando a própria família tiver oferecido o imóvel em hipoteca.

O bem de família voluntário é criado pelos cônjuges, pela entidade familiar ou por terceiro, através de
escritura pública, testamento ou doação (neste último caso, é indispensável que haja aceitação expressa
pelos beneficiários).

O bem de família se constitui em prédio residencial, urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios,
não podendo ultrapassar um terço do patrimônio líquido ao tempo da instituição. Pode abranger
valores imobiliários (para conservação do imóvel e para o sustento da família), mas estes não podem
superar o valor do prédio, ao tempo da instituição.

Constitui-se o bem de família pelo registro público do instrumento usado para instituí-lo, sendo
evidente que não haverá efeitos erga omnes da impenhorabilidade, enquanto tal registro não tiver sido
feito.

Valem, aqui, as mesmas regras sobre a impenhorabilidade vistas para o bem de família legal, com a
ressalva de que a impenhorabilidade só prevalece em relação às dividas que sejam posteriores à sua
instituição.

A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família. Este só se extinguirá com a morte
de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, e mesmo assim se nenhum destes estiver sujeito à
curatela.

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BENS FORA DO COMÉRCIO

Os bens Alienáveis, disponíveis ou no comércio, são os que se encontram livres de quaisquer restrições
que impossibilitem sua transferência ou apropriação, podendo, portanto, passar, gratuita ou
onerosamente, de um patrimônio a outro, quer por sua natureza, quer por disposição legal, que permite,
por exemplo: a venda de bem público.

Washington de Barros Monteiro esclarece que o termo “comércio” designa a possibilidade de compra
e venda, liberdade de circulação, poder de movimentação dos bens, logo o bem que está no comércio
pode ser comprado, vendido, trocado, doado, alugado, emprestado, o mesmo não acontece com os bens
fora do comércio que não podem ser objeto de relações jurídicas desse tipo.

Assim, os bens inalienáveis ou fora do comércio são os que não podem ser transferidos de um acervo
patrimonial a outro ou insuscetíveis de apropriação.

Espécies de Bens Inalienáveis:

a) Os Inapropriáveis por sua Natureza – como os bens de uso inexaurível. Exemplo: o ar, mar
alto, luz solar, porém a captação, por meio de aparelhamento, do ar atmosférico ou da água do
mar para extrair certos elementos com a finalidade de atender determinadas situações, pode ser
objeto do comércio; bem como, os direitos da personalidade, como à vida, à honra, à liberdade,
ao nome, ao estado, à capacidade da pessoa natural ou jurídica.
b) Os legalmente inalienáveis – são os que apesar de suscetíveis de apropriação pelo homem,
tem sua comercialização excluída pela lei, para atender aos interesses econômico-sociais, à
defesa social e à proteção de determinadas pessoas. Todavia, poderão ser alienados, por
autorização legal, apenas em certas circunstancias e mediante determinadas formalidades.
Exemplos: 1-Os Bens Públicos; 2- Os Bens Dotais, que são os destinados especialmente a
proporcionar recursos à vida do casal; 3- Os Bens das Fundações, em atenção ao seu destino
certo e determinado; 4- Os Bens dos Menores, a fim de proteger os incapazes; 5- O Bem de
Família; 6- Os Móveis e Imóveis Tombados, cuja conservação seja de interresse público, quer
por seus excepcional valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico, artístico e cultural; 7- As
terras ocupadas pelos Índios.
c) Os Inalienáveis por Vontade Humana – são os que lhes impõem cláusula de inalienabilidade,
temporária ou vitalícia, nos casos e formas previstos em lei, por ato inter vivos ou causa mortis.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. 27 Ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 22 Ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
BETIOLI, Antonio Bento. Introdução ao Direito. São Paulo: Saraiva, 2011.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Parte Geral. Vol. I. 8ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil: Parte
Geral. Vol. I. 12ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 1: Parte Geral. 34ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2004.
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol 1. 22ª Edição. Rio de Janeiro:
Forense, 2007.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. Vol. I. 10ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010.

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