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Índice

Introdução...................................................................................................................................................2
Objectivos do Estudo...................................................................................................................................2
Efeito da declaração da inconstitucionalidade.............................................................................................3
Contextualização do Tema......................................................................................................................3
Efeitos da inconstitucionalidade (por caducidade ou por declaração expressa de inconstitucionalidade. 4
Efeitos objectivos da declaração da inconstitucionalidade..........................................................................5
Efeito repristinatório da declaração da inconstitucionalidade..................................................................6
Órgão responsável pela declaração da inconstitucionalidade.......................................................................6
Conclusão....................................................................................................................................................8
Referência bibliográfica..............................................................................................................................9
Introdução
A declaração de inconstitucionalidade de uma norma ou de uma lei é um dos momentos mais
significativos no sistema jurídico de um país, pois marca o reconhecimento oficial de que uma
legislação viola os princípios e preceitos fundamentais estabelecidos pela Constituição. Esse
pronunciamento, proferido por tribunais constitucionais ou órgãos judiciais com competência
equivalente, tem uma série de efeitos que transcendem o caso específico em questão, impactando
directamente o ordenamento jurídico e a protecção dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Objectivos do Estudo
Diante desse contexto, este estudo tem como objectivo analisar os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade no cenário jurídico moçambicano, investigando suas implicações no
sistema jurídico, na protecção dos direitos individuais e na relação entre os poderes constituídos.
Serão examinados os diversos impactos desse pronunciamento, desde sua influência sobre a
validade das leis até suas consequências para a ordem constitucional como um todo.

2
Efeito da declaração da inconstitucionalidade

Contextualização do Tema

A declaração de inconstitucionalidade é uma manifestação do princípio da supremacia da


Constituição, que estabelece que a lei fundamental de um Estado está acima de todas as demais
normas jurídicas e que qualquer legislação que contrarie seus preceitos deve ser considerada
inválida. Esse princípio é essencial para a manutenção do Estado de Direito e para garantir a
protecção dos direitos individuais contra eventuais excessos ou arbitrariedades do poder
legislativo1.

Compreender os efeitos da declaração de inconstitucionalidade é crucial não apenas para juristas


e estudiosos do Direito Constitucional, mas também para a sociedade como um todo. Isso porque
essa decisão judicial tem repercussões significativas sobre a segurança jurídica, a estabilidade
institucional e a protecção dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Pode dizer-se que a consequência necessária da inconstitucionalidade das leis é a nulidade


absoluta, pois é princípio fundamental na maioria das legislações, incluindo a moçambicana, a
prevalência das normas hierarquicamente superiores sobre as inferiores. A regra geral
estabelecida no nº 1 do artigo 66 da Lei nº 6/2006 de 2 de Agosto (Lei Orgânica do Conselho
constitucional) é que a declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade produz efeitos desde a
entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e determina a repristinação das
normas revogadas. Contudo, uma excepção importante é a do nº 4 deste dispositivo legal que
permite que o Conselho Constitucional fixe aos efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou
ilegalidade alcance mais restritivo, desde que assim o exijam a segurança jurídica, razões de
equidade ou de interesse público2.

A inconstitucionalidade pode também dividir-se em inconstitucionalidade por acção, quando se


pratica um acto contrário à Constituição e por omissão, quando o poder político deixa de pôr em
vigor uma norma exigida por aquela. A inconstitucionalidade pode ser total ou parcial, originária
1
MIRANDA, Jorge (2022). A Fiscalização da Constitucionalidade, 2ª Edição Revista e Actualizada, Almedina, pág. 99.
2
https://www.asg.co.mz/a-fiscalizacao-da-constitucionalidade-e-da-legalidade-de-normas-revogadas/

3
(quando a norma é oposta à Constituição vigente), ou superveniente, quando o acto normativo
era constitucional, mas a alteração da Constituição tornou aquela incompatível com esta 3.

No que respeita aos sistemas de controlo da constitucionalidade, normalmente há referência ao


controlo judicial, quando é feito pelo judiciário, controlo político e controlo misto. O sistema
moçambicano aproxima-se do controle judiciário. Nos sistemas de controlo judiciário
distinguem-se o controle difuso, em que vários órgãos realizam esse controlo e o contro lo
concentrado, em que um ou poucos órgãos têm competências relativas à constitucionalidade dos
actos. Moçambique segue o modelo do controlo concentrado. Quanto ao momento de controlo,
este pode ser preventivo, quando se pretende evitar que determinada norma inconstitucional
entre para o ordenamento jurídico, e repressivo, quando se pretende verificar se uma norma, já
em vigor, está ou não de acordo com a Constituição4.

Efeitos da inconstitucionalidade (por caducidade ou por declaração expressa de


inconstitucionalidade)

Ao abrigo do artigo 70º da Lei n.º 2/2022, de 21 de Janeiro, Lei Orgânica do Conselho
Constitucional, a declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória
geral produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e
determina a repristinação das normas revogadas.

Nos casos em que a inconstitucionalidade ou ilegalidade é declarada por infracção a uma norma
constitucional ou legal posterior, a declaração de inconstitucionalidade só produz efeitos desde a
entrada em vigor da norma posterior que ditou a alteração que dá lugar à inconstitucionalidade
ou ilegalidade.

É o que estabelece o n.º 2 do artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho Constitucional5.

Nada mais cristalino e justo. É que se o que dá lugar à inconstitucionalidade ou ilegalidade é uma
norma que surgiu posteriormente àquela que é objecto de escrutínio, implica que antes da entrada
3
Ibidem
4
GOUVEIA, Jorge Bacelar (2005). Manual de Direito Constitucional, Apud António Chuva, et al. (2012). Estudos de
Direito Constitucional Moçambicano – Contributos para a reflexão. CFJJ-FDUEM-ISCTEM, Maputo, pág. 467
5
CANOTILHO, José Joaquim Gomes (2003). Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 7ª Edição,
págs. 890 – 891.

4
em vigor da norma que justifica a inconstitucionalidade ou ilegalidade, a norma ilegal era
incólume, por isso, não há espaço para que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou
de ilegalidade da norma se retrotraiam a um período em que a norma que justifica a
inconstitucionalidade ou ilegalidade não existia. Neste caso, a nova norma é que torna caduca a
anterior por inconstitucionalidade ou ilegalidade com a entrada da nova, razão de os efeitos da
inconstitucionalidade ou ilegalidade apenas se retrotraírem até à entrada em vigor dessa norma 6.

É claro que para as situações em que a nova norma torna caduca a anterior, sempre devem ser
ressalvadas situações de leis especiais e leis temporárias, em relação às quais, nos termos do
artigo 7º do Código Civil, não dão lugar à caducidade ou derrogação das leis anteriores sobre a
mesma matéria regulada. Mas nos casos de declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade de
leis especiais ou temporárias, os efeitos já serão fixados nos termos gerais do nº 1 do artigo 70º
da Lei Orgânica do Conselho Constitucional o que, no nosso entender, dá lugar à aplicação do
regime geral que era regulado pela norma especial7.

Contudo, a grande ressalva que é feita é para os casos julgados, conforme resulta do nº 3 do
artigo 70º da Lei Orgânica do Conselho Constitucional. Portanto, todos os casos julgados ficam
ressalvados, o que implica que, nos casos de fiscalização sucessiva e abstracta da
inconstitucionalidade ou de ilegalidade, mesmo se sabendo que houve casos em que foram
aplicadas normas inconstitucionais ou ilegais, tais destinatários dessas decisões devem se
conformar com elas desde que tenham transitado em julgado8.

Efeitos objectivos da declaração da inconstitucionalidade

A decisão que reconhece a inconstitucionalidade, conforme estudado, possui natureza


declaratória, reconhecendo e dando certeza jurídica a situação preexistente de invalidade
da norma por vício de inconstitucionalidade. A inconstitucionalidade, que afecta
directamente o plano da validade da norma, repercute no plano da eficácia, afinal, lei ou
ato nulo não podem produzir efeitos.

6
MIRANDA, Jorge (1988). Manual de Direito Constitucional. Tomo II: Introdução à Teoria Geral da Constituição, 2ª
Edição Revista, Coimbra. Pág. 312
7
ibidem
8
https://www.asg.co.mz/a-fiscalizacao-da-constitucionalidade-e-da-legalidade-de-normas-revogadas/

5
Observamos, portanto, que o plano da existência da norma não é afectado formalmente.
Apesar disso, considerando que a vigência da norma é a soma de sua existência com sua
eficácia, concluímos que a lei declarada inconstitucional deixa de vigorar9
Contudo, é válido aqui mencionar o posicionamento de Teoria Zavascki10 segundo o qual o
vício de inconstitucionalidade, ao acarretar a nulidade da norma, a exclui do ordenamento
jurídico.

Outro efeito objectivo da declaração de inconstitucionalidade é o efeito repristinatório.


Esse efeito faz com que a declaração de inconstitucionalidade de uma norma repercuta na
legislação anterior por ela revogada. Explica Barroso se a lei revogadora vier a ser
declarada inconstitucional, não deverá produzir efeitos válidos, impondo o princípio da
Supremacia da Constituição que a situação jurídica volte ao status quo ante.

Efeito repristinatório da declaração da inconstitucionalidade

Ao ser declarada a inconstitucionalidade de uma norma, restaura-se a norma anterior por ela
revogada. Se fosse diferente, estar-se-ia admitindo que a norma inconstitucional, inválida,
produziu efeitos. Não obstante, pode a Suprema Corte dispor expressamente em contrário, em
juízo de conveniência e oportunidade ou por entender que a norma a ser restaurada também
padece do vício de inconstitucionalidade.

Órgão responsável pela declaração da inconstitucionalidade


De acordo com a Constituição da Republica de Moçambique (CRM), o Conselho Constitucional
tem como competências, entre outras, apreciar e declarar, com força obrigatória geral, a
inconstitucionalidade das leis e a ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado. O Nº 2
do artigo 244 da CRM estabelece quem pode solicitar a declaração de inconstitucionalidade das
leis e ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado, permitindo-o, entre outros, a dois
mil cidadãos. Seguem alguns exemplos de apreciação de inconstitucionalidade e ilegalidade,
trazendo um caso em que foi negado provimento ao pedido de declaração de

9
BARROSO, Luís Roberto. Op. cit., p. 228-229.
10
ZAVASCKI, Teori Albino. Op. cit., p. 62.

6
inconstitucionalidade, outro em que esse pedido foi aceite, e um terceiro em que foi reconhecido
haver ilegalidade, mas não inconstitucionalidade11.

11
file:///C:/Users/Dell/Downloads/InconstitucionalidadeMocambicana.pdf

7
Conclusão
O efeito da declaração de inconstitucionalidade é multifacetado e pode variar dependendo do
contexto e das circunstâncias específicas. No entanto, é um instrumento fundamental para
garantir a supremacia da Constituição e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos em um
Estado democrático de Direito. O efeito da declaração de inconstitucionalidade é amplamente
influenciada pelo contexto específico em que ocorre, bem como pelas implicações legais e sociais
resultantes dessa declaração. O efeito primário da declaração de inconstitucionalidade é a
invalidação da lei ou ato normativo em questão. Isso significa que a norma em questão é
considerada nula desde a sua origem, perdendo qualquer eficácia jurídica.

A invalidação da lei pode ter ramificações significativas para casos individuais, processos
judiciais e para a sociedade como um todo. Pode resultar na revisão ou revogação de decisões
judiciais baseadas na lei inconstitucional, bem como na necessidade de revisão ou substituição da
legislação para garantir conformidade constitucional.

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Referência bibliográfica

MIRANDA, Jorge (2022). A Fiscalização da Constitucionalidade, 2ª Edição Revista e


Actualizada, Almedina, pág. 99.

GOUVEIA, Jorge Bacelar (2005). Manual de Direito Constitucional, Apud António Chuva, et
al. (2012). Estudos de Direito Constitucional Moçambicano – Contributos para a reflexão. CFJJ-
FDUEM-ISCTEM, Maputo.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes (2003). Direito Constitucional e Teoria da Constituição,


Almedina, 7ª Edição.

MIRANDA, Jorge (1988). Manual de Direito Constitucional. Tomo II: Introdução à Teoria Geral
da Constituição, 2ª Edição Revista, Coimbra. Pág. 312

https://www.asg.co.mz/a-fiscalizacao-da-constitucionalidade-e-da-legalidade-de-normas-
revogadas/

file:///C:/Users/Dell/Downloads/InconstitucionalidadeMocambicana.pdf

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