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Apontamentos Contencioso do Poder Público

Constitucional

Sindicabilidade judicial

1. Reporta ao modelo de controlo da atividade dos poderes públicos.

A justiça Constitucional

1. Quando falamos em justiça constitucional colocamos norma como objeto do controlo da


constitucionalidade.
2. Quando falamos das normas como objeto de controlo da constitucionalidade reportamo-nos, por isso,
na larguíssima maioria das vezes a normas constantes de preceitos normativos escritos, tendo por isso
na sua expressão, consequências no controlo da constitucionalidade.
3. As consequências da sua inconstitucionalidade são diversas consoante nos encontremos em sede de
fiscalização preventiva ou de fiscalização sucessiva da constitucionalidade.
4. As limitações formais existentes no acesso à Justiça Constitucional levam a que, por vezes, seja
necessário proceder à demarcação de zonas de fronteira com um detalhe formal muito acentuado.
5. Como por exemplo: a regra que não permite a apreciação da constitucionalidade de decisões judiciais,
mas apenas da constitucionalidade das normas por elas aplicadas e, em muitas situações, das
normas tal como foram por elas aplicadas (interpretadas).
6. A apreciação de constitucionalidade de norma criada pelo julgador para preenchimento de uma lacuna
é o exemplo paradigmático do formalismo (do rigor formal, se se preferir) que pode estar subjacente à
decisão sobre a admissibilidade do recurso para o Tribunal Constitucional ou da sua inadmissibilidade.
7. A sensibilidade do tema resulta do facto de, não podendo o Tribunal Constitucional apreciar o acerto ou
desacerto da decisão judicial impugnada, (reafirme-se), a apreciação “incidental” da constitucionalidade
de uma norma, por reporte à forma como foi concretamente interpretada e aplicada, aproxima-se
inevitavelmente do juízo que está vedado.
8. O controlo de constitucionalidade não se aplica apenas à norma, mas aos atos concretos dos poderes
públicos, sendo esses políticos, administrativos ou judiciais, não sendo esse controlo feito pelo TC.
Tendo em conta que o controlo de cada um desse tipo de atos estará sujeito aos seus mecanismos
próprios.
9. Diferentemente nos atos administrativos o controlo da sua constitucionalidade coloca-se nos mesmos
termos que se coloca o controlo da sua legalidade em geral.

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Objetos possíveis de controlo da jurisdição constitucional

1. Normas constitucionais introduzidas por revisão constitucional;


2. Atos legislativos (Leis, Decretos-Lei, Decretos-Legislativos Regionais);
3. Atos normativos da Assembleia da República sem forma de lei – v.g. Resoluções da AR de suspensão ou
cessação de Decretos-lei ou Decretos Legislativos Regionais, autorizados;

4. Decretos-normativos do Presidente da República (v.g. Decreto de declaração do estado de sítio ou do


estado de emergência, Decreto de declaração de guerra, etc.);
5. Regimentos das Assembleias e demais órgãos colegiais do Estado, das Regiões Autónomas e do poder
local;
6. Atos normativos da Administração Pública, quando violem diretamente a constituição, incluindo as
emitidas por concessionárias no exercício de poderes públicos;
7. Estatutos e normas reguladoras dos Partidos Políticos.
8. Ficam de fora do controlo de constitucionalidade as normas de entes privados.

Porque ficam de fora do controlo de constitucionalidade as normas de entes privados?

1. A questão do controlo da constitucionalidade de normas de entidades privadas é muito discutível, e tem


sido objeto de decisões contraditórias pelo próprio Tribunal Constitucional.
2. O critério que é normalmente invocado para justificar a posição de controlo pelo Tribunal
Constitucional prende-se com a invocada heteronomia das normas, na perspetiva de que a intervenção
do Tribunal Constitucional se justifica sempre que a imperatividade normativa afasta a autonomia
privada.

Inconstitucionalidade

1. Inconstitucionalidade num sentido mais amplo consiste num comportamento que infringe uma
normal constitucional.
2. Envolvendo uma relação cujo primeiro termo é a norma constitucional.
3. Ex: não a constituição em bloco, mas uma determinada norma; uma norma seja ela uma regra ou um princípio (204º, 277º

1, 290º 2); uma norma que resulte da DUDH (16º 2), etc.

4. O segundo termo já reporta a um comportamento do poder público.


5. Ex: um comportamento tanto positivo como negativo (ação ou omissão), um comportamento infraconstitucional, um

comportamento político, etc.

6. Essa relação pode ser direta porque se traduz numa infração direta com a norma constitucional ou com
a própria constituição.

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7. É necessário que o ato concreto contradiga uma norma constitucional de fundo, de competência,
de forma, que contradiga essa norma e não uma norma interposta situada entre a constituição e esse
ato.
8. Inconstitucionalidade verdadeira e própria só pode ser inconstitucionalidade específica ou direta.
9. Uma relação de desconformidade e não de incompatibilidade. Uma relação de descorrespondência
de inadequação.
10. Essa relação de desconformidade acarreta, em virtude da especial posição hierárquica das normas
constitucionais no nosso sistema jurídico e da especial função que as mesmas desempenham, a violação
de normas constitucionais por atos ou regulamentos administrativos gera a respetiva nulidade. Por força
dessa nulidade tais atos ou regulamentos não têm a aptidão de produzir efeitos jurídicos, legitimando o
exercício do direito de resistência pacífica.
11. Só vamos considerar 3 tipos de inconstitucionalidade, material, formal e orgânica.
12. Material reporta-se ao conteúdo, ou seja, uma norma constitucional de fundo, formal à formação ou à
forma do ato jurídico-público e orgânica quando se trata de competência.

Garantia

1. Não é a garantia, antes a virtualidade de garantia que integra o conceito de norma jurídica.
2. É à efetividade da norma que se liga a garantia, ou seja, os conteúdos da norma não se garantem per
si, garantem-se através do conteúdo e do sentido de outra ou outras normas.
3. As garantias da constitucionalidade como da inconstitucionalidade aferem-se perante cada
comportamento de órgãos do poder político ou perante cada relação ou situação subordinada à
Constituição.
4. Importa separar o conceito de garantias da constituição no seu conjunto que consistem nas formas de
defesa da constituição e por outro lado as sanções constitucionais.
5. Como formas de defesa ou garantia preventivas, o juramento de titulares de cargos públicos, a vedação
de associações ou partidos contrários à Constituição, o estado de necessidade, etc.
6. Já as sanções constitucionais atingem os titulares de órgãos de poder pela prática de atos ilícitos ou
inconstitucionais, ou ilegais, como a perda do cargo de presidente, perda do mandato de deputado, etc.

Fiscalização

1. O conceito de fiscalização surge em Direito constitucional ora aproximando-se ora afastando-se do


conceito de garantia. “A garantia é mais que a fiscalização, assim como a fiscalização existe mais
do que para a garantia.”

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2. Ou seja, existe fiscalização ao serviço da garantia, que é a fiscalização da constitucionalidade e há
uma fiscalização dependente da garantia, que é a fiscalização de um órgão sobre o outro (como do
PR e AR relativamente ao Governo).
3. A fiscalização da constitucionalidade recai sobre atos ou sobre omissões, sobre comportamentos
certos e individualizados ou individualizáveis.

Critérios substantivos de fiscalização

1. A fiscalização da constitucionalidade define-se, em primeiro lugar, pelo objeto sobre que incide – pelo
tipo de comportamento, positivo ou negativo, sujeito a apreciação no confronto da Constituição ou
(quando se trate de inconstitucionalidade por ação) pelos elementos ou vícios do ato de que se cura.
2. Por conseguinte, fiscalização de atos ou só normas, fiscalização de diplomas na sua globalidade ou de
normas uma a uma, fiscalização de inconstitucionalidade material, orgânica e formal ou fiscalização só
de inconstitucionalidade material, de inconstitucionalidade orgânica ou de inconstitucionalidade
formal.
3. Quanto aos órgãos (ou sujeitos) da fiscalização, há que apontar três grandes classificações:
fiscalização por órgãos comuns e por órgãos especiais; fiscalização por órgãos políticos e por órgãos
jurisdicionais ou, eventualmente, por órgãos políticos, por órgãos jurisdicionais e por órgãos
administrativos; fiscalização difusa e concentrada. Na fiscalização por órgãos comuns, são órgãos
definidos por competências diversas das de garantia, ou, não especificamente, de garantia (o
Parlamento, os tribunais comuns, judiciais ou administrativos, porventura o Rei ou o Presidente da
República) que recebem também competências de fiscalização da constitucionalidade. Na fiscalização
por órgãos especiais, são órgãos ex professo criados para isso (júris, comissões, conselhos, tribunais
constitucionais), ainda que, muitas vezes, com consequências complementares.
4. A fiscalização é política, jurisdicional ou, eventualmente, também administrativa, consoante efetuada
por órgãos políticos, por tribunais e por órgãos administrativos – quer dizer, por órgãos correspondentes
às três funções fundamentais do Estado, os quais possuem formas próprias de intervir e se orientarem
segundo critérios bem diferenciados.
5. Fiscalização difusa é a que compete a uma pluralidade de órgãos dispersos. Nesta o poder de apreciar
a inconstitucionalidade distribui-se por todos esses órgãos. Dá-se também quando todos os tribunais
recebem o poder de conhecimento da inconstitucionalidade.
6. Fiscalização concentrada compete a um só órgão (ou a um número muito reduzido). Esta é confiada
quer a um órgão constitucional, quer a um órgão político.
7. Os órgãos da administração não devem ser chamados à fiscalização, pela diferença de natureza
jurisdicional e da função administrativa e pela estrutura da administração direta.

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8. Fiscalização preventiva é quando se exerce antes de concluído o procedimento de formação ou antes
do momento de consumação da obrigatoriedade ou da executoriedade do ato.
9. É sucessiva quando se exerce sobre comportamentos ou atos, já perfeitos ou eficazes. Ex: quando se
trate de atos normativos o ponto de separação é na publicação e não na entrada em vigor das normas .
10. É fiscalização concreta quando surge a prepósito da aplicação de normas ou quaisquer atos a casos
concretos.
11. É abstrata quando se dirige aos comportamentos dos órgãos do poder público ou às normas em si, por
aquilo que significam na ordem jurídica, independente da sua incidência ou relações da vida.

Critérios processuais de fiscalização

1. Diz-se subjetiva quando se prende a um interesse direto e pessoal de alguém, ofendendo a lei
fundamental nas esferas jurídicas de certas pessoas, ou seja, quando há lesão ou ameaça de lesão.
2. Diz-se objetiva quando, à margem de tal interesse, tem em vista a preservação ou a restauração da
constitucionalidade objetiva, a conformidade de comportamento, dos atos e das normas com as normas
constitucionais.
3. Apresenta-se como incidental a fiscalização inserida em processo que converge para outro resultado
que não a garantia da Constituição; e nele a inconstitucionalidade é questão prejudicial, ou seja, questão
de direito substantivo de que depende a decisão final a tomar no processo.
4. A exceção é uma iniciativa enxertada num processo já em curso, seja um meio de defesa indireta
propiciado ao réu (ou ao autor reconvinte) para obter a improcedência do pedido (ou a reconvenção),
seja (ainda, de certa sorte) um instrumento ao dispor do Ministério Público; a ação lato sensu é a
tradução processual do direito ou do poder de desencadear um processo com vista a determinado fim.
5. A separação entre inconstitucionalidade originária e superveniente concerne o diverso momento de
edição das normas constitucionais. Se na vigência de certa norma constitucional se emite um ato (ou
um comportamento omissivo) que a viola, dá-se inconstitucionalidade originária. Se uma nova norma
constitucional surge e com ela se torna desconforme uma norma preexistente, dá -se
inconstitucionalidade supervivente (que é só inconstitucionalidade material).

As decisões de fiscalização

Juízo de inconstitucionalidade e decisões dos tribunais

1. Suscitada de qualquer forma a questão de inconstitucionalidade por ação, o resultado pode ser positivo
ou negativo, pode traduzir-se num juízo de inconstitucionalidade ou num juízo de não
inconstitucionalidade (constitucionalidade).

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2. Decisões de natureza diversa consoante se trate de fiscalização concreta ou de fiscalização abstrata: Na
fiscalização concreta, decisão de não aplicação (desaplicação ou recursa de aplicação) de normas
inconstitucionais ou, inversamente, de aplicação com base em juízo de não inconstitucionalidade; Na
fiscalização abstrata, declaração de inconstitucionalidade, não declaração de inconstitucionalidade
e, anomalamente, declaração de constitucionalidade.
3. Mas outras espécies de decisões ou de efeitos das decisões existem quando se trate de Tribunais
Constitucionais ou de órgãos homólogos, previstas, por vezes, desde logo pelas Constituições ou pelas
leis ou, mais frequentemente, surgidas a partir da sua prática. Embora conexas com o juízo de
inconstitucionalidade.
4. Elas escapam àquela contraposição fundamental. Tais decisões reconduzem-se, no essencial, a três
situações:
5. Podem ser decisões interpretativas – ou de fixação de uma interpretação (vinculativa ou não para os
restantes tribunais), de uma interpretação conforme com a Constituição que evite o juízo de
inconstitucionalidade;
6. Podem ser decisões limitativas – limitativas de efeitos da decisão de inconstitucionalidade ou até da
própria inconstitucionalidade;
7. Podem ser decisões aditivas ou modificativas, quando, considerando inconstitucional o entendimento
da norma seu objeto só com certo conteúdo ou alcance, lhe acrescentam (e, por consequente,
modificam-na) um segmento que permite a sua subsistência à luz da Constituição.
8. Na fiscalização concreta e na fiscalização preventiva, as decisões exaurem os seus efeitos nos
respetivos processos e procedimentos.
9. Na fiscalização sucessiva abstrata, eles são necessariamente extraprocedimentais.
10. A fiscalização da inconstitucionalidade por omissão conduz só a dois tipos de decisões, sempre
meramente declarativas: de verificação da existência de omissão e de não verificação da existência de
omissão.

As decisões em fiscalização concreta

1. O sistema atual de fiscalização concreta pode ser definido como, um modelo que assenta na
fiscalização difusa de base, relativamente à qual, é sobreposto um elemento de concentração, por
existência de um tribunal com competência específica, o Tribunal Constitucional, ao qual cabe decidir,
em recurso, as questões de natureza jurídico-constitucional, de acordo com o artigo 221.º da CRP.
2. A fiscalização concreta pressupõe três poderes: o de determinar à norma aplicável ao caso, o de
apreciar a sua conformidade com a Constituição e, como consequência, o de não a aplicar quando
desconforme.

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3. Mas, como os juízes não podem deixar de julgar, este poder acha-se, de ordinário coenvolvido com o
poder positivo: o de aplicar a norma anterior quando se esteja diante de inconstitucionalidade originária;
e, na falta de norma aplicável o poder de preencher a lacuna através dos critérios gerais de integração.
Só em matéria penal, por causa do princípio da aplicação da lei mais favorável (29º/4º CRP), poderá
não ser assim.
4. Dissociação entre a não aplicação da norma inconstitucional e a aplicação de outra norma só se
verifica, quando a decisão caiba a tribunal para o qual haja recurso restritivo à questão de
inconstitucionalidade (280º/6º CRP), por então haver de ser o tribunal recorrido a encontrar a norma de
decisão em causa.
5. Em princípio, a eficácia da decisão – consoante os sistemas – decisão do tribunal do caso, decisão do
Tribunal Constitucional ou de órgão homólogo ou decisão do último tribunal de recurso – apresenta-se
restrita, pois:
a) Esgota-se no caso;
b) É eficácia apenas inter partes, não erga omnes;
c) Só aí faz caso julgado (caso julgado formal, só é vinculativo no processo em que foi proferida
a decisão).
6. Todavia, também consoante os sistemas, pode suceder:
a) Que, conexa com a decisão do caso, haja uma decisão de fiscalização abstrata (provocada,
portanto, pela fiscalização concreta) – é o sistema dominante nos países com Tribunal
Constitucional;
b) Ou que a decisão de inconstitucionalidade propicie, se seguida de outras com idêntico sentido,
a passagem à fiscalização abstrata – é o atual sistema português.

Regime atual de fiscalização no Direito Português

Inconstitucionalidade, garantia e fiscalização no texto constitucional

1. Não são os tribunais os únicos órgãos de garantia da constitucionalidade existentes entre nós. À
Assembleia da República – na linha dos Parlamentos das Constituições anteriores – é conferido o poder
de vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis, 162º/a). 281º.
2. Por outro lado, no processo de fiscalização inserem-se outros órgãos: aqueles, a começar pelo PR, com
legitimidade para desencadear fiscalização abstrata – preventiva, sucessiva e de inconstitucionalidade
por omissão (278º, 281º e 283º). Trata-se de órgãos de iniciativa, e não de decisão.

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A fiscalização das decisões do Tribunal Constitucional

1. O Tribunal Constitucional é o órgão específico, o último órgão, o órgão supremo de fiscalização da


constitucionalidade. Das suas decisões não cabe recurso para mais nenhum órgão.
2. O sentido de qualquer decisão do Tribunal Constitucional é insindicável.
3. É lícito ao juiz, conforme se lê do CPC (613º/2º), retificar erros materiais, suprir nulidades, esclarecer
dúvidas existentes na sentença e reformá-la. E esta regra vale aqui com as devidas adaptações.

A fiscalização concreta

O sistema português de fiscalização concreta

1. Há quatro estatutos possíveis dos tribunais frente às questões de inconstitucionalidade:


a) Incompetência para conhecer e, para decidir;
b) Competência para conhecer e para decidir;
c) Competência para conhecer, mas não para decidir;
d) Competência para conhecer e decidir, com recurso possível ou necessário para um tribunal
situado fora da ordem judicial.
2. Não obsta à relevância da decisão do Tribunal Constitucional porque cabe recurso da decisão de
qualquer tribunal que aplique norma anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo
Tribunal Constitucional (280º/5º e 2º) porque quando o Tribunal julga três vezes inconstitucional ou
ilegal a mesma norma, pode, de seguida, ser desencadeado um processo (de fiscalização abstrata) com
vista à declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória geral (281º/3º).

A apreciação da inconstitucionalidade pelos tribunais em geral

1. O artigo 204º da CRP é, o ponto de partida necessário da fiscalização concreta da constitucionalidade e


significa que:

a) Todos os tribunais, seja qual for a sua categoria (209º) exercem fiscalização;

b) A fiscalização dá-se nos feitos submetidos a julgamento, nos processos em curso em tribunal,
incidentalmente, não a título principal;

c) Ninguém pode dirigir-se a tribunal a pedir a declaração de inconstitucionalidade de uma


norma, mas é admissível que alguém se lhe dirija propondo uma ação tendente à declaração
ou à realização de um seu direito ou interesse, cuja procedência depende de uma decisão
positiva de inconstitucionalidade;

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d) A questão de inconstitucionalidade só pode e só deve ser conhecida e decidida na medida em
que haja um nexo incindível entre ela e a questão principal objeto do processo, entre ela e o
feito submetido a julgamento;

e) Trata-se de questão prejudicial imprópria, porque questão que se cumula com a questão
objeto do processo e cujo julgamento cabe ao mesmo tribunal, não se devolve para outro
processo ou para outro tribunal. Questão prejudicial própria só se verifica, quando haja recurso
para o Tribunal Constitucional;

f) O juiz conhece da questão em qualquer fase do processo e, por conseguinte, a sua decisão
pode não ser uma decisão final;

g) A questão tanto pode ser suscitada na primeira instância como em recurso;

h) De todo o modo, a questão tem de ser suscitada antes e esgotado o poder jurisdicional do juiz
sobre a matéria em causa; não pode sê-lo apena nas alegações de eventual recurso para o
Tribunal Constitucional.

2. A fiscalização concreta da constitucionalidade revela-se indissociável da função jurisdicional –


pela natureza das coisas e porque o artigo 204º a refere expressamente a feitos submetidos a
julgamento.
3. O que seja função jurisdicional pode ser tomado em sentido lato – aliás, propiciado pelo 202º/2º -
considerando os elementos formais característicos dos seus atos, 1409º do CPC.
4. O Tribunal Constitucional entre também no âmbito do artigo 204º. Pode conhecer incidentalmente da
inconstitucionalidade quando tiver de exercer qualquer das suas competências jurisdicionais (fora da
fiscalização da constitucionalidade e da legalidade de normas jurídicas) previstas na Constituição e na
lei, e pode conhecê-la no próprio exercício de competências de fiscalização, quanto às respetivas normas
processuais e quando arguida apenas a ilegalidade da norma sub judice.

Sentido da apreciação oficiosa pelo juiz

1. A apreciação oficiosa – ligue-se ou não ao princípio jura novit curia (o tribunal conhece a lei, ou seja, que
as partes de uma disputa legal não precisam alegar ou provar a lei que se aplica ao seu caso ) – implica o seguinte:
a) O juiz não tem de aplicar normas que repute inconstitucionalidade;
b) A inconstitucionalidade não fica à mercê das partes;
c) O juiz não fica na situação de, no decorrer de um processo, até certa altura estar a aplicar uma
lei;
d) O juiz não fica na situação de, em certo processo, aplicar uma lei e noutro não, reconhecendo-
a sempre inconstitucional;

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e) Na hipótese de uma das partes invocar a inconstitucionalidade, sem especificar qualquer norma,
o juiz não tem de rejeitar a pretensão e declara-se incompetente;
f) O juiz não tem de se confinar à norma constitucional invocada como parâmetro;
g) Tão pouco tem de se confinar ao vício alegado, pode conhecer de qualquer outro vício ou tipo
de inconstitucionalidade;
h) A não aplicação da norma julgada inconstitucional implica a aplicação de norma anterior que
aquela haja revogado; e, na sua falta a necessidade de integrar a lacuna de acordo com os
critérios gerais (8º/1º e 10º CC).

Decisões recorríveis para o Tribunal Constitucional

1. Somente há recurso para o Tribunal Constitucional de decisões dos tribunais – 280º, não de decisões de
outros órgãos que conheçam da inconstitucionalidade de normas que tenham de aplicar.
2. São três os tipos de decisões de que cabe recurso:
a) Decisões que recusem a aplicação, de certa norma com fundamento em inconstitucionalidade
ou em ilegalidade (280º/1º/a) e nº2, alíneas a), b) e c) da CRP) ou em contradição com uma
convenção internacional (70º/1º, i), da Lei nº28/82);
b) Decisões que apliquem norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido
suscitada durante o processo (280º/1º/b) e nº2 alínea d));
c) Decisões que apliquem norma anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo
próprio Tribunal Constitucional (280º/5º), ou anteriormente julgada inconstitucional pela
Comissão Constitucional (70º/1º/b) da lei de 28/82; ou que apliquem norma legislativa em
desconformidade com o anteriormente decido pelo Tribunal (70º/1º/i), 2º parte da mesma lei).

Objeto do recurso

1. Objeto do recurso é sempre a constitucionalidade ou a legalidade de uma norma, não a


constitucionalidade ou a legalidade de uma decisão judicial.
2. A fixação do objeto do recurso não se opera em função do decidido pelo juiz a quo – não é a decisão
que se critica – mas sim em razão das normas ou dos princípios constitucionais nela aplicados ou
desaplicados. E, por conseguinte, nele não entram nem a matéria de facto, nem a sua subsunção, mas
normas infraconstitucionais.
3. O recurso é restrito à questão de inconstitucionalidade ou de ilegalidade, conforme os casos (280º/6º
da CRP) ou, tratando-se de contrariedade de ato legislativo com convenção internacional, às questões

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de natureza jurídicoconstitucional e jurídico-internacional implicadas na decisão recorrida (71º/2º da lei
orgânica). Não abrange a questão principal discutida no tribunal a quo.
4. O Tribunal só pode julgar inconstitucional ou ilegal a norma que a decisão recorrida, conforme os casos,
tenha aplicado ou a que haja recusado aplicação (79º-C, 1º parte, da lei orgânica).
5. Pode, todavia, o Tribunal Constitucional fazê-lo com fundamento na violação de normas ou princípios
constitucionais ou legais diversos daquela cuja violação foi invocada (79º -C, 2º parte) – o que é
manifestação do princípio jura novit curia.
6. Se o tribunal a quo fizer interpretação conforme com a Constituição, nem por isso fica vedado o recurso
para o Tribunal Constitucional, porque tal interpretação traduz a escolha de um sentido em detrimento
de outro tipo como inconstitucional e, portanto, nessa medida, envolve a recusa de aplicação da norma
com este último sentido.

Interposição dos recursos

1. Os recursos de decisões do primeiro e do terceiro tipo podem ser recursos diretos para o Tribunal
Constitucional e são-no necessariamente quando o recurso é obrigatório para o Tribunal
Constitucional.
2. Não é, contudo, admitido recurso para o Tribunal Constitucional de decisões sujeitas a recurso
ordinário obrigatório nos termos da respetiva lei processual (70º/5º da lei orgânica); e, se a decisão
admitir recurso ordinário, a não interposição de recurso para o Tribunal Constitucional não faz precludir
o direito de interpô-lo de ulterior decisão que confirme a primeira (70º/6º).
3. Os recursos de decisões do segundo tipo postulam a exaustão dos recursos ordinários – por necessidade
de filtragem e para se evitar a sobrecarga do Tribunal Constitucional.
4. Apenas cabem de decisões que não admitam recurso ordinário, por a lei o não prever ou por já haverem
sido esgotados os que no caso cabiam, salvo os destinados à uniformização (70º/2º), ou por a utilização
estar precludida pelo decurso dos prazos. Podem não ser decisões finais, mas têm de ser decisões
definitivas; e são rejeitadas quando manifestamente infundados (76º/2º, in fine), o que parece exigir
um juízo de viabilidade ou de razoabilidade pelo tribunal a quo de grau diferente do que ele faz na
admissão dos demais recursos.
5. Em caso de recurso, a questão de inconstitucionalidade tem de ser suscitada perante o tribunal que
tiver proferido a decisão de que recorre, não sendo suficiente que ela haja sido suscitada perante o
tribunal hierarquicamente inferior. A exigência do artigo 280º/1º/b) da CRP, deve entender-se não num
sentido puramente formal, mas no sentido funcional.
6. Pode, contudo, suceder que o interessado não disponha de oportunidade processual de arguir a
inconstitucionalidade, por não poder ou não lhe ser exigível prever a aplicação da norma. E, em tais

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casos excecionais, o Tribunal Constitucional, em jurisprudência constante tem admitido o recurso,
dispensando o recorrente de ónus da suscitação prévia.
7. Problema algo difícil consiste em saber se é decisão definitiva a decisão de uma questão de
inconstitucionalidade suscitada em providência cautelar.
8. Porque aqui o tribunal não formula um juízo definitivo, e tão só um juízo sobre a probabilidade
séria de ocorrência de inconstitucionalidade, deste juízo provisório não cabe recurso para o Tribunal
Constitucional.
9. Em contrapartida, quando esteja em causa não uma norma que diga respeito ao direito ou interesse em
causa, mas uma norma atinente ao próprio regime da providência cautelar já o recurso deve ter-se
por admissível. Quando um recurso se tenha tornado inútil ou desnecessário, não há que tomar dele
conhecimento.

Pressupostos Processuais específicos:

1.Legitimidade para recorrer

1. Podem recorrer para o Tribunal Constitucional o Ministério Público e as pessoas que, de acordo com
a lei reguladora do processo em que a decisão foi proferida, tenham legitimidade para dela interpor
recurso (72º/1º/ da lei orgânica).
2. Para lá do poder oficioso de cada juiz de apreciar a inconstitucionalidade, a atribuição ao Ministério
Público de legitimidade confere ao recurso para o Tribunal Constitucional um carácter misto. O recurso
não tem somente uma finalidade subjetiva de defesa de direitos e interesses das pessoas, tem também
uma finalidade objetiva de defesa da integridade da ordem jurídica; e tal fica ainda reforçado quando
se torna obrigatório (280º/3º da CRP).
3. O pendor subjetivista fica realçado quando se trate de recursos de decisões que apliquem normas cuja
inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido suscitada durante o processo. Aqui só pode recorrer a
parte que a haja suscitado (280º/4º da CRP e 70º/2º da lei orgânica), e isso aplica -se ao próprio
Ministério Público.
4. Vem ainda na linha do sentido objetivo do instituto a irrenunciabilidade do direito de recorrer para o
Tribunal Constitucional (73º da lei orgânica). Em processo civil o princípio é o inverso e até se admite
renúncia antecipada, quando proveniente de ambas as partes (681º CPC).
5. Todavia, como o recurso só é obrigatório para o Ministério Público, e em alguns casos, e como para os
particulares há, sim, um direito de recorrer, nada obsta a que estes desistam de recurso que tenham
interposto.
6. O recurso interposto pelo Ministério Público aproveita a todos os que tenham legitimidade para recorrer
(74º/1º da lei orgânica). O recurso interposto por um interessado aproveita aos restantes interessados
(74º/2º); mas, no caso de recurso de decisão que aplique norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade

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tenha sido suscitada, nos termos e nos limites estabelecidos na lei reguladora do processo em que a
decisão tenha sido proferida (74º/3º).

Os casos de recurso obrigatório para o Ministério Público (pressuposto da legitimidade)

1. O recurso é obrigatório para o Ministério Público:

a) Quando a norma cuja aplicação tenha sido recusada conste de convecção internacional. De
ato legislativo ou de decreto regulamentar (280º/3º CRP e 72º/3º da lei orgânica).

b) Quando seja aplicada norma anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pela Comissão
Constitucional (72º/3º) ou norma anteriormente julgada contrária a convenção internacional
pelo Tribunal Constitucional (mesmo 72º/3º, após 1989).

2. Mas o Ministério Público pode abster-se de interpor recurso de decisões conformes com a orientação
que se encontre já estabelecida, a respeito da questão em causa, na jurisprudência do Tribunal
Constitucional (72º/4º).

c) Por maioria de razão, quando seja aplicada norma declarada inconstitucional com força
obrigatória geral pelo Tribunal Constitucional – aqui, recurso atípico.

2.A necessidade de suscitação prévia (artigo 72.º, n.º 2 da LOTC)

1. A interposição de recurso para o Tribunal Constitucional, com fundamento na alínea b) do n.º 1 do


artigo 70.º da LOTC dependente da prévia suscitação da questão no processo judicial onde foi
proferida a decisão de que se pretende recorrer.
2. Na apreciação deste pressuposto o Tribunal Constitucional tem colocado um grande rigor em relação á
apreciação da forma como a questão foi suscitada no processo.
3. Com efeito, o Tribunal Constitucional exige não só que a questão de constitucionalidade tenha sido
suscitada, como o tenha sido suscitada corretamente, ou seja, cumprindo os exatos padrões de suscitação
que legitimam a intervenção do Tribunal Constitucional.
4. Isto é, não basta a invocação genérica da existência de uma qualquer inconstitucionalidade é necessário
que seja explicitada qual a norma inconstitucional e qual a norma constitucional que serviu de parâmetro
para alcançar o juízo de inconstitucionalidade.
a) Não podendo o Tribunal Constitucional apreciar a constitucionalidade de decisões judiciais,
mas apenas a constitucionalidade de normas, a suscitação prévia, tem de ser feita
necessariamente por reporte a uma norma legal ou regulamentar.

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b) Por outro lado, a suscitação prévia da inconstitucionalidade ter de ser feita na instância em que
foi proferida a decisão objeto de recurso, em termos que obrigasse ao seu conhecimento nessa
decisão. Isto é, não basta ter suscitado a questão num qualquer momento pretérito do processo,
antes sendo necessário suscitar a questão em termos tais que a questão tivesse de ser conhecida
na decisão recorrida.
c) Acresce que não é suficiente uma mera suscitação formal, sendo antes exigível uma suscitação
funcional, ou seja, num momento processual em que o Tribunal deva apreciar a questão – este
“pormenor” leva ao afastamento da admissibilidade do recurso nas situações em que a questão
de inconstitucionalidade da norma foi realizada num pedido de aclaração, de arguição de
nulidade ou de reforma da sentença ou do acórdão.
5. Assim, se a questão de constitucionalidade diz respeito a questão jurídica que foi resolvida pela
aplicação de norma, cuja constitucionalidade se suscita, numa sentença que foi objeto de pedido de
reforça por razões relativas a uma outra questão, não se poderá impugnar a decisão proferida a propósito
da reforma por aí não ter lugar a aplicação de norma (in)constitucional.
6. Já se estiver em causa a inconstitucionalidade da norma reguladora do próprio pedido de reforma de
decisão judicial, por, v.g., conter elementos restritivos que a parte entende que violarem o seu direito à
tutela jurisdicional efetiva, consagrado no artigo 20.º da Constituição, poderá a questão ser
especificamente suscitada no pedido de reforma e a decisão aí proferida ser objeto de recurso para o
Tribunal Constitucional.
7. Questão diversa é a da inconstitucionalidade que surge em momento em que já não era possível à parte
suscitá-la.
8. Quando tal suceda e não obstante a inconstitucionalidade da norma não ter sido suscitada, o Tribunal
Constitucional tem admitido a possibilidade de interposição do recurso, porquanto a parte não pode
ficar prejudicada pelo facto de não ter tido momento processual para suscitar a questão no processo
judicial.
9. A possibilidade de recurso neste tipo de casos só pode ocorrer quando o interessado não teve
oportunidade de intervir no processo antes da decisão; tendo intervindo a questão de
inconstitucionalidade só pode colocar-se perante um circunstancialismo ocorrido já após a sua última
intervenção processual e antes da decisão; e ao interessado não era exigível que antevisse a possibilidade
de aplicação da norma ao caso concreto, em termos que lhe impunha ser ele a suscitar a questão.
10. O Tribunal Constitucional tem tido, no entanto, um entendimento restritivo na admissão de recursos
nestas situações.

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3.A relevância lógico-jurídica da aplicação da norma como fundamento determinante da decisão
do processo

1. Um outro pressuposto processual específico do recurso para o Tribunal Constitucional prende-se com
a salvaguarda da utilidade prático-jurídica do juízo de constitucionalidade que é pedido.
2. Por força deste pressuposto, a inadmissibilidade do recurso para o Tribunal Constitucional depende de
o juízo de constitucionalidade decorrer necessariamente a reformulação do juízo decisório do Tribunal
a quo.
3. A questão da inconstitucionalidade, na fiscalização concreta, é sempre “instrumental” em relação à
questão que se coloca no processo. Por isso, se a questão de constitucionalidade, mesmo que apreciada
no sentido pedido pelo recorrente, não implica, necessariamente, a reformulação da decisão judicial
objeto do recurso, não deverá ser admitido o recurso.
4. A questão coloca-se, por exemplo, quando o processo foi decidido com fundamento na resposta dada a
várias questões jurídicas, em que cada uma delas por si, ou seja, isoladamente, conduzia ao mesmo
resultado. Nesta situação, mesmo que a norma viesse a ser julgada inconstitucional a decisão judicial
mantinha-se, pois, os restantes fundamentos invocados eram suficientes para a alcançar.

4.A particularidade das providências cautelares

1. Por força da natureza provisória das decisões que são proferidas nas providências cautelares, a questão
do controlo da constitucionalidade assume contornos específicos.
2. Na verdade, dada essa natureza, se a questão de constitucionalidade se colocar relativamente à
apreciação do fumus boni iuris, da apreciação feita não cabe recurso para o Tribunal Constitucional,
pois a decisão não é definitiva.
3. O nosso Tribunal Constitucional tem entendido que, quando está em causa um mero juízo perfunctório
não cabe recurso para o Tribunal Constitucional, pois este Tribunal só deve intervir quando esteja
esgotada a intervenção dos outros tribunais.
4. Trata-se, no fundo, da aplicação às providências cautelares da regra que impede a interposição de
recurso para o Tribunal Constitucional das decisões que ainda admitam recurso ordinário, mas
convertido à especificidade das providências.
5. No caso dos recursos ordinários está em causa a falta de definitividade da decisão judicial;
6. Nas providências cautelares está em causa a falta de provisoriedade de juízo de constitucionalidade
formulado, mesmo que por decisão que já não admita recurso.
7. A situação será, porém, diversa se estiver em causa a constitucionalidade de norma relativa à regulação
da própria providência cautelar.
8. Neste caso, já cabe recurso dessa decisão para o Tribunal Constitucional, pois nessa questão em
concreto, a decisão proferida já será definitiva.

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Admissão dos recursos

1. Compete ao tribunal que tenha proferido a decisão recorrida apreciar a admissão do recurso (76º/1º da
lei orgânica).
2. Mas a decisão que admita o recurso ou que lhe determine o efeito não vincula o Tribunal Constitucional
e as partes só podem impugná-la nas suas alegações (76º/3º). Do despacho que indefira o
requerimento de interposi ção do recurso cabe reclamação para o Tribunal Constitucional (76º/4º e
77º/1º).
3. A decisão do Tribunal Constitucional não pode ser impugnada e, se revogar o despacho de
indeferimento, fará caso julgado quanto à admissibilidade do recurso (77º/4º).

Tramitação dos recursos

1. À tramitação dos recursos para o Tribunal Constitucional são subsidiariamente aplicáveis as normas do
CPC, em especial as respeitantes ao recurso de apelação (69º da lei orgânica).
2. Prazo – 10 dias (artigo 75.º LOTC).
3. Apresentação – No processo no Tribunal a quo.
4. Requisitos formais (artigo 75.º A da LOTC):
a. A indicação da alínea do artigo 70.º, n.º 1 ao abrigo da qual o recurso é interposto;
b. A norma cuja constitucionalidade se pretende ver apreciada;
c. A norma constitucional ou legal que se considera ter sido violada (norma parâmetro)
d. A indicação da peça processual em que a questão de inconstitucionalidade foi suscitada (nos
casos dos recursos da alínea b) do artigo 70.º da LOTC) ou a invocação da razão pela qual não
era possível tal suscitação ter ocorrido
e. No caso dos recursos das alíneas g) e h) do artigo 70.º da LOTC, é necessária a indicação da
decisão do Tribunal Constitucional ou da Comissão Constitucional que julgou inconstitucional
ou ilegal a norma aplicada na decisão recorrida.
5. Na falta de cumprimento de algum dos requisitos formais deverá haver lugar a convite para suprir a
falta. Este convite deve ser feito, ainda, pelo Tribunal a quo, mas se tal não suceder, pode ser feito
pelo juiz relator no Tribunal Constitucional. (A omissão de resposta ao convite de aperfeiçoamento
determina a deserção – artigo 75.ºA, n.º 7 da LOTC).

A apreciação da admissibilidade do recurso

1. Primeiro momento: no Tribunal a quo:

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a. Despacho de admissão pelo Tribunal a quo, ainda que esse despacho não vincule o Tribunal
Constitucional quer quanto à admissão quer quanto ao efeito que fixar para o recurso.
b. Esse despacho faz um primeiro juízo de viabilidade ou razoabilidade de acordo com os
critérios definidos no artigo 76.º da LOTC:
i. O recurso não ser admissível;
ii. Intempestividade;
iii. Ilegitimidade processual ativa;
iv. Manifesta falta de fundamento.
2. Em caso de não admissão do recurso pelo Tribunal a quo, existe a possibilidade de reclamação para o
Tribunal Constitucional da rejeição ou retenção do recurso (Art.77.º LOTC)
3. Reclamação:
a. O Relator pode levar a reclamação diretamente para que seja proferido Acórdão, caso entenda
que deve ser proferida decisão sumária;
b. Assim não sendo, a reclamação pode ser apreciada e decidida:
i. Pela Conferência (composta pelo Presidente, Vice-Presidente, Relator e mais um juiz
da Secção), caso haja unanimidade; ou
ii. Pelo Pleno da Secção, caso não exista unanimidade entre os juízes que compõem a
Conferência.
4. A decisão definitiva, quando no sentido da admissibilidade do recurso, fixa os respetivos efeitos (artigo
78.º LOTC).

Apreciação da constitucionalidade da norma

1. Decisão sumária (artigo 78.º-A LOTC):


a. Competência: Relator.
b. Critério de admissibilidade: Simplicidade da questão por manifesta falta de fundamento ou
por a questão já ter sido, em momento, anterior, objeto de decisão pelo Tribunal Constitucional.
c. Meio de reação: Possibilidade de reclamação para a Conferência que decidirá, se existir
unanimidade entre os seus membros ou sujeitará a decisão pelo Pleno da Secção, caso não exista
unanimidade.
2. Alegações:
a. Necessidade da existência de notificação para o efeito (artigo 78.º -A, n.º 5 LOTC);
b. Prazo 30 dias, com exceção dos processos previstos no artigo 43.º, n.ºs 3 e 5 LOTC que dizem
respeito a situações específicas de recursos em matéria penal (artigo 79.º LOTC)
c. Forma: Escrita.

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d. Estrutura: Aproximação à estrutura de uma sentença e o relevo das conclusões como elemento
delimitador do objeto do recurso – questões a decidir.
3. Julgamento:
a. Julgamento:
i. Por uma das (três) secções.
ii. Pelo Plenário, por decisão do Presidente.
b. Intervenção do Plenário:
i. A possibilidade de o Presidente do Tribunal Constitucional determinar a intervenção
do plenário no julgamento de questões em que existem divergências entre as secções
ou quando a complexidade ou sensibilidade da questão o justifique.
ii. A relevância do momento em que tal sucede, em processo penal, por força da
importância acrescida que o princípio do juiz natural comporta, neste tipo de processos.
c. Julgamento em Sessão (artigo 79.º-B LOTC):
i. Apresentação, pelo Relator, de memorando ou projeto de acórdão para discussão;
ii. Discussão e votação;
iii. Se a posição do Relator tiver vencimento, é incumbido de elaborar o acórdão (se a
discussão tiver sido com base, apenas, em memorando);
iv. Se o relator ficar vencido, é designado outro juiz, de entre os que defenderam a
posição maioritária, para elaborarem acórdão.
d. A decisão (artigo 79.º-C LOTC)
i. A decisão está limitada ao juízo sobre a constitucionalidade de determinada ou
determinadas normas, mas o fundamento da eventual inconstitucionalidade pode ser
diverso do que tiver sido invocado como fundamento do recurso.
e. Recurso para o Plenário (artigo 79.º-D LOTC)
i. Apenas cabe recurso para o Plenário do Tribunal Constitucional se a decisão proferida
pela Secção estiver em divergência com anterior decisão proferida pelo Tribunal
Constitucional.
f. Efeitos da decisão:
i. Efeito de caso julgado;
ii. Efeito constitutivo:
1. O Tribunal a quo fica obrigado a reformar a sua decisão de acordo com o juízo de
inconstitucionalidade feito pelo Tribunal Constitucional ou a ordenar a baixa do
processo para esse efeito, caso de acordo com os critérios de competência da jurisdição
em causa não lhe incumba a ele reformular o juízo (nomeadamente, por essa
reformulação implicar reabrir a fase de instrução do processo);
2. Quando esteja em causa juízo de constitucionalidade sobre uma norma com uma
determinada interpretação, a obrigação do Tribunal a quo tem de atender às

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interpretações da norma que o Tribunal Constitucional entendeu proibidas e as que
entendeu constitucionalmente possíveis ou viáveis.

Questões Práticas

O TC declara ou pronuncia-se pela inconstitucionalidade?

1. O TC pronuncia-se, não declara. A declaração é para a fiscalização sucessiva, na fiscalização


preventiva o tribunal pronuncia-se (Art. 279º).
2. O efeito da pronúncia é que é devolvido ao presidente o diploma ou o representante da república, e a
AR pode ultrapassar o decreto.
3. Imaginando que o diploma era do Governo, este não pode confirmar a norma. Não tem a mesma
legitimidade, pois não tem legitimidade democrática direta, mas sim indireta, ao contrário da AR.

Suponha que António, autor numa ação administrativa, veio nas alegações de Direito, responder
à contestação, dizendo que a norma legal invocada pela Entidade Demandada contrariava uma
convenção internacional. Na sentença, porém, o juiz do tribunal administrativo, entendeu que
não havia qualquer desconformidade entre a norma legal e a referida convenção, aplicando-a.
a.) António pode recorrer desta decisão para o TC?

1. Art.72º, nº2.
2. Trata-se de uma desconformidade entre uma lei e uma lei de valor superior, logo, falamos de ilegalidade,
e não em inconstitucionalidade.
3. Esta questão tem a ver com a legalidade sus generis que resulta de a proibição das normas
hierarquicamente inferiores violarem normas hierarquicamente superiores (Art.115º).
4. Uma violação na visão da constituição visa suspender, revogar… (Art.112º, nº5).
5. O juiz pode considerar que há desconformidade, pois o Art.204º permite a qualquer juiz desaplicar
qualquer norma que considere contrária à lei ou à constituição e seus princípios. Um dos princípios é
que o direito internacional tem primazia sobre o direito interno, portanto, nesse sentido o tribunal
poderia desaplicar a norma.

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6. No caso, tem de invocar no 1º momento processual e ele vem suscitar a questão da inconstitucionalidade
por violação de norma de valor reforçado. O tribunal não lhe deu razão.
7. António invocou esta questão nas alegações de direito, ou seja, já depois dos articulados. Trata-se de
ilegalidade suis generis, o tribunal pode conhecer desta ilegalidade, a questão é se do ponto de vista da
competência pode conhecer.
8. Não pode recorrer desta decisão para o TC imediatamente, tem de esgotar o recurso.

b.) Quais os pressupostos processuais que, neste caso, António precisaria de preencher para
poder aceder ao contencioso constitucional?

1. António seria a pessoa com legitimidade, mas não é apenas a legitimidade que tem de se aferir.
2. Estamos a falar de uma ação administrativa que está a correr em 1ª instância e de acordo com o Art.72º,
nº2, António tinha suscitada a questão da ilegalidade e tem legitimidade porque foi ele que suscitou
a questão. Mas tem de suscitar de modo adequado, ou seja, no 1º elemento processual em que a norma
é suscetível de ser aplicada.
3. Ou seja, no 1º momento em que António intervém no processo e é potencialmente aplicada a norma em
causa, ele tem de suscitar a inconstitucionalidade da norma.
4. Se ele identificou a aplicação da norma na petição inicial e não disse nada, não pode vir depois nas
alegações dizer que a norma é inconstitucional.
5. Tem de suscitar que a norma invocada pela parte demandada foi a primeira vez que fez, porque senão
não preenche esse requisito processual.
6. Isso tem de ser logo, porque é isso que o tribunal considera como o modo processual adequado. Isso
tem de ficar logo dito no primeiro momento, se não preenche este pressuposto processual específico,
perde-se o recurso.
7. António teria de ter perdido para poder recorrer.
8. Mas, ainda tinha de recorrer até não ser mais possível recorrer da decisão, esgotar a via contenciosa
antes de aceder ao recurso do TC, porque neste caso, o tribunal não lhe deu razão. Só tem de esgotar a
via contenciosa quando o tribunal não dá razão. Depois, tem de esgotar a via do recurso, há apenas um
grau de recurso e só excecionalmente é que há duplo grau de recurso.

c.) O TC poderá conhecer do fundo de causa submetido ao Tribunal Administrativo?

1. O TC apenas conhece da questão incidental, não pode conhecer da questão de fundo. Não.
2. A decisão que vai proferir é apenas em relação ao aspeto incidental da constitucionalidade/legalidade
da norma e não conhece do fundo da causa.

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Imagine que o Tribunal administrativo de Círculo aplicou norma cuja aplicação foi recusada
pelo Supremo tribunal administrativo com fundamento na sua inconstitucionalidade. O MP é
obrigado a recorrer desta decisão?

1. Art.72º, nº3 LOTC.


2. Não é obrigatório, da decisão do supremo é preciso recurso obrigatório, mas do tribunal
administrativo não.
3. Só era obrigatório recurso da decisão do Supremo (recurso direto).

E se tivesse sido o TC a reconhecer a inconstitucionalidade da norma em causa?

1. Se o tribunal tivesse conhecido, o MP era obrigado a recorrer.


2. Em 1ª instância, um particular suscitou a inconstitucionalidade de uma norma, cuja desaplicação pediu.
3. Art.70, nº2 só se não caber recurso ordinário.

Comente a seguinte afirmação: A fiscalização concreta da constitucionalidade é instrumental em


relação à resolução de litígios.

1. Não concordo, dizer que é instrumental significa afirmar que a fiscalização concreta da
constitucionalidade auxilia na ação, servindo como instrumento à resolução de litígios.
2. A suscitação da fiscalização concreta de uma norma surge quando, no decorrer de uma ação proposta
nos tribunais comuns, para defesa de um direito ou interesse de um particular, é suscitada a
inconstitucionalidade de uma norma aplicável ao caso concreto .
3. Assim, a questão da inconstitucionalidade apresenta-se como uma questão prejudicial, que depende
da ação principal e que é suscitada incidentalmente num processo relativo a questão diversa.
4. Não existindo no nosso sistema uma ação de inconstitucionalidade, na qual, o objeto seja, pura e
simplesmente, a avaliação da inconstitucionalidade de normas.
5. Prof. Jorge Miranda “A questão de inconstitucionalidade só pode e só deve ser conhecida e decidida
na medida em que haja um nexo incindível entre ela e a questão principal objeto do processo, entre ela
e o feito submetido a julgamento”.
6. Já o Professor Blanco de Morais, define o processo de fiscalização constitucionalidade, como tendo
por objeto uma questão prejudicial heterogénea, desprovida de carácter devolutivo e que emerge a título
incidental, no âmbito de um processo principal.

21
Em que consiste o pressuposto processual específico da suscitação prévia nos processos de
fiscalização concreta da constitucionalidade e quais são as suas particularidades de regime?

1. Constitui pressuposto processual do recurso previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 70.º da LTC a
observância, pelo recorrente, do ónus de suscitação, traduzindo-se no dever de enunciação prévia,
pela forma processualmente adequada, perante o tribunal que proferiu a decisão recorrida, da questão
de constitucionalidade que constitui objeto do recurso (artigo 72º, n.º 2, da LTC).
2. Com efeito, o TC não só exige que a questão seja suscitada, como que o seja corretamente,
cumprindo todos os padrões de suscitação.
3. A suscitação prévia tem de ser feita necessariamente por reporte a uma norma legal ou regulamentar,
porque o TC não pode apreciar a constitucionalidade de decisões, mas apenas de normas.
4. Tem de ser feita na instância que foi proferida a decisão objeto de recurso e nos termos que obrigue
ao seu reconhecimento, ou seja, não em qualquer fase do processo.
5. Por fim não é suficiente a mera suscitação formal, mas também funcional, ou seja, num momento
em que o Tribunal deva apreciar a questão.
6. Contudo, pode suceder que o interessado não disponha de oportunidade processual de arguir a
inconstitucionalidade, por não poder ou não lhe ser exigível prever a aplicação da norma. E, em tais
casos excecionais, o Tribunal Constitucional, em jurisprudência constante tem admitido o recurso,
dispensando o recorrente de ónus da suscitação prévia. Problema algo difícil consiste em saber se é
decisão definitiva a decisão de uma questão de inconstitucionalidade suscitada em providência cautelar.

O Tribunal Constitucional pode conhecer de questão de constitucionalidade diversa da que lhe


foi colocada?

1. Ao contrário do modelo kelseniano, o modelo português, atribuiu aos tribunais em geral, o poder de
decidir a questão da inconstitucionalidade.
2. Atendendo ou não ao princípio jura novit curia – o tribunal conhece a lei, ou seja, no sentido que as
partes não precisam alegar ou provar a lei que se aplica ao seu caso.
3. Dessa forma a inconstitucionalidade não fica à mercê das partes.
4. O juiz não tem de se confinar à norma constitucional invocada como parâmetro.
5. Tão pouco tem de se confinar ao vício alegado, pode conhecer de qualquer outro vício ou tipo de
inconstitucionalidade.
6. Com efeito, nada impede que o juiz considere que não a norma legal não viola a norma constitucional
que a parte invoca, mas conclua em seguida que viola uma outra norma constitucional e, como tal
conclua pela sua desaplicação.

22
Pode o Tribunal Constitucional determinar o conteúdo da decisão que vai ser proferida pelo
Tribunal a quo?

1. Se o tribunal a quo fizer interpretação conforme com a Constituição, nem por isso fica vedado o recurso
para o Tribunal Constitucional, porque tal interpretação traduz a escolha de um sentido em detrimento
de outro tipo como inconstitucional.
2. Esta especificidade do sistema de fiscalização da constitucionalidade português, que prevê que, todo e
qualquer tribunal, tenha competência para conhecer e decidir, pela não aplicação de uma norma que
considere inconstitucional, mas sujeitando-o sempre à possibilidade de interposição de recurso para o
Tribunal Constitucional e de uma decisão que ordene a reforma da sentença do tribunal a quo, o
que potencia a contradição e conflito de decisões e jurisdições.
3. Dessa forma no modelo misto português podemos encontrar alguns choques entre as duas jurisdições
devido às “interpretações autónomas realizadas pelo Tribunal Constitucional, sobre a relação de
significado de direito ordinário aplicado ao processo principal.
4. O Tribunal Constitucional acaba por assumir um papel preponderante na ordem jurídica, como guardião
superior da Constituição e Tribunal dos tribunais, dada a sua natureza especializada e a sua posição
privilegiada para a resolução dos conflitos jurídico constitucionais.
5. Diz Carlos Blanco de Morais, através da letra do Ac. n.º 279/00, “Não compete (...) ao Tribunal
Constitucional sindicar a aplicação de direito infraconstitucional, a menos que tal sindicabilidade seja
indispensável para a resolução de uma questão de constitucionalidade suscitada nos autos”.

É possível impugnar, junto do Tribunal Constitucional, um ato administrativo que desaplicou


uma norma com fundamento na sua inconstitucionalidade?

1. Não é possível, nunca se pode impugnar um ato administrativo junto do Tribunal Constitucional. De
acordo com o artigo 70º LOFTC e o artigo 280º CRP.
2. Os atos administrativos só podem ser impugnados nos tribunais de jurisdição administrativa.
3. Uma questão que pode ser levantada, será a de se estamos perante uma inconstitucionalidade de
norma ou inconstitucionalidade de decisão. Sendo que se fosse de decisão não caberia recurso desta
decisão.
4. Significando que a única forma, seria de impugnar o ato administrativo nos tribunais administrativos
com fundamento na sua ilegalidade da violação de uma norma com base num juízo de
inconstitucionalidade que a Administração não poderia fazer.

23
5. Com efeito, o Tribunal Constitucional poderia entender que a norma era inconstitucional e estaria bem
desaplicada dando razão à administração, aí seria possível recorrer, fazendo o caminho possível dos
recursos.
6. A não aplicação de uma norma que se considere inconstitucional está sempre sujeita à possibilidade de
interposição de recurso para o TC e de uma decisão que ordene a reforma da sentença do tribunal a quo,
o que potencia a contradição e conflito de decisões e jurisdições.

Quais os efeitos dos acórdãos do Tribunal Constitucional proferidos em sede de processo de


fiscalização concreta de constitucionalidade?

1. A eficácia das decisões é uma forma de controlar o cumprimento dos acórdãos do Tribunal
Constitucional.
2. Esta eficácia das decisões esgota-se apenas ao caso. É eficácia inter partes e não erga omnes.
3. As decisões do Tribunal Constitucional nos processos de fiscalização concreta podem ser de provimento
(ordenam a reformulação da decisão recorrida) ou de não provimento (confirmam a decisão
recorrida), cabendo ao tribunal recorrido aplicar, na decisão do caso, as conclusões que o acórdão do
Tribunal Constitucional imponha.
4. No caso de provimento (total ou parcial), os autos baixam ao tribunal a quo para que este reformule
ou mande reformular a decisão, de acordo com o julgamento do Tribunal Constitucional sobre a
questão da inconstitucionalidade (artigo 80º, nº 2, da LTC).
5. Quando a decisão seja de não provimento, a decisão recorrida torna-se definitiva no que diz respeito
à questão da inconstitucionalidade (artigo 80º, nº 4, da LTC).
6. No caso de o Tribunal Constitucional fixar uma interpretação da norma que a decisão recorrida tiver
aplicado ou que recusou aplicar, de forma a evitar que haja inconstitucionalidade, a norma deve ser
aplicada com essa interpretação no processo em causa, vinculando o tribunal recorrido (artigo 80º,
nº 3, da LTC).
7. Em qualquer das situações possíveis — seja recurso de decisão que não aplicou uma norma por julgá-
la inconstitucional ou recurso de decisão que não atendeu a impugnação da constitucionalidade de uma
norma e a aplicou —, a decisão do Tribunal Constitucional não tem força obrigatória geral, ou seja,
só vale no processo judicial em que é proferida (artigo 80º, nº 1, LTC).
8. Caso o Tribunal Constitucional venha a julgar inconstitucional a mesma norma em três casos
concretos diferentes, fica aberta a possibilidade de vir a apreciá-la em processo de fiscalização
abstrata, normalmente a requerimento do Ministério Público (artigos 281º, nº 3, da Constituição, e
82º da LTC), e a decisão que aí declare a inconstitucionalidade dessa norma tem força obrigatória geral.

24
O Ministério Público tem legitimidade para interpor recurso para o Tribunal Constitucional?

1. A regra, no regime jurídico português previsto pelo artigo 280º da CRP e pela LOFTC artigo 72º, é a
de que o recurso para o Tribunal Constitucional é um recurso meramente facultativo, ficando na
disponibilidade das partes (particulares ou Ministério Público quando intervenha como parte
principal) a possibilidade de lançar mão da questão perante o Tribunal Constitucional.
2. Num sistema que não é puramente subjetivista, contendo elementos de objetividade como o
conhecimento oficioso da inconstitucionalidade, existe também a a obrigatoriedade de recurso para o
TC por parte do MP nestas situações:
3. Na primeira situação o MP é obrigado a recorrer da decisão tomada em tribunal comum, que decida
pela inconstitucionalidade de uma norma prevista, numa convenção internacional, ato legislativo ou
decreto regulamentar (280.º nº3 CRP).
4. No segundo caso, a obrigação de 43 recorrer recai sobre a decisão de tribunal comum que venha a
aplicar norma anteriormente julgada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional (280.º nº5 CRP).
5. A obrigatoriedade destes recursos é afastada, pelo n º4 do mesmo artigo quando, a questão de
inconstitucionalidade tenha já sido apreciada pelo Tribunal Constitucional, e a decisão do tribunal a quo
seja conforme orientação de jurisprudência constante do Tribunal Constitucional.
6. Nas palavras do Professor Blanco de Morais, o Ministério Público não dispõe de autonomia
processual, como tal, recorre não por ter ficado vencido no processo, mas, por a Constituição e a Lei
do Tribunal do Constitucional, assim o determinarem.
7. Podemos aqui, equacionar se não se deveria introduzir uma terceira possibilidade, conferindo ao
Ministério Público, no âmbito das suas atribuições, enquanto defensor da legalidade, o poder/dever de
suscitar a fiscalização abstrata, com efeitos erga omnes, nos termos do art. 281, nº 3 da CRP., aquando
se verificassem três casos concretos de declaração de inconstitucionalidade da mesma norma,
complementando assim, o poder já atribuído ao conhecimento oficioso pelo Tribunal Constitucional
nestas situações.

O Tribunal Constitucional pode dar ordens aos outros Tribunais sobre a forma como devem
decidir as ações?

1. Sim pode, mas apenas no sentido de ordenar a reformulação da decisão recorrida, ou seja, nas situações
em que as decisões sejam de provimento.
2. Nesse caso, os autos baixam ao tribunal a quo, para que este reformule ou mande reformular a decisão,
de acordo com o julgamento do Tribunal Constitucional sobre a questão de constitucionalidade. Artigo
80º 2 LTC.

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É possível invocar, no requerimento de interposição de recurso para o Tribunal Constitucional,
inconstitucionalidade que não tenha sido previamente discutida e decidida no processo?

1. A legitimidade das partes em recorrer advém, diretamente, de ter sido trazido ao processo, por estas,
a questão da inconstitucionalidade, tendo de o fazer, adequadamente e atempadamente.
2. Isto é, a questão tem de ser apresentada ao tribunal que decida a causa, de forma clara, expressa e
explícita, antes de esgotado o poder jurisdicional deste, ou seja, antes da prolação da decisão que se
pretende impugnar em fiscalização concreta, para que este possa decidir sobre a inconstitucionalidade.
3. A parte que suscitar a questão da inconstitucionalidade na 1ª instância, deve recolocar a questão na
instância de recurso, caso interponha recurso ordinário, sob pena de o recurso ulterior, enviado para o
Tribunal Constitucional, não ser admitido por abandono da questão da inconstitucionalidade.
4. Contudo existem exceções, sendo permitido ao recorrente suscitar a questão da inconstitucionalidade
depois, de esgotado o poder jurisdicional.
5. Se o interessado não teve a possibilidade de suscitar a questão, ou tendo o interessado intervindo no
processo, a questão da constitucionalidade só pôde colocar-se perante um circunstancialismo ocorrido,
já após a sua última intervenção processual e antes da decisão; ou ao interessado não foi exigido pelo
Tribunal Constitucional que antevisse a possibilidade de aplicação da norma ao caso concreto, de modo
a impor-lhe a obrigação de suscitar a questão antes da decisão. Podendo, nestes casos, ser trazida a
questão apenas em recurso para o Tribunal Constitucional.

Assim, tem-se entendido que o recurso para o Tribunal Constitucional tanto pode recair sobre
normas como sobre interpretações normativas.

1. Concordo com esta afirmação, o recurso tem de ter objeto normativo, devendo incidir não só sobre
normas, mas também por interpretações normativas, relevantes no caso concreto, e não sobre
decisões judiciais concretas.
2. O TC admite fiscalização de interpretações normativas, tal como previsto pelo artigo 80º 3 LOFTC.
3. A fiscalização incide na interpretação judicial da norma, no sentido que a norma é tomada, relativamente
ao caso concreto e não em sentido genérico e abstrato que lhe é dado pelo preceito legal.
4. Ou seja, essa norma que é tida como inconstitucional, na medida que viola princípios ou preceitos
constitucionais.
5. No entanto é preciso ter cuidado para que não se resvale numa sindicabilidade do puro ato de
julgamento.
6. O prof. Gomes Canotilho defende que essa fiscalização interpretativa é apenas o levantamento da
dúvida da constitucionalidade e não que a norma em absoluto seja considerada inconstitucional.
7. Nesse sentido tem vindo o TC a decidir, admitindo o recurso nos termos da al. a) do 280º CRP.

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8. É um juízo de inaplicabilidade de uma interpretação, lançado o tribunal mão da interpretação conforme
à Constituição.

A fiscalização concreta da constitucionalidade afigura-se essencial para a efetividade do


princípio da tutela jurisdicional?

1. O princípio da tutela jurisdicional efetiva é um direito fundamental previsto na Constituição da


República Portuguesa (CRP) que implica, em primeiro lugar, o direito de acesso aos tribunais para
defesa de direitos individuais, não podendo as normas que modelam este acesso obstaculizá-lo ao ponto
de o tornar impossível ou dificultá-lo de forma não objetivamente exigível.
2. O sistema de justiça constitucional deve sempre proporcionar aos cidadãos uma tutela jurisdicional
efetiva, e a mesma passa pela possibilidade de recorrer seja em jurisdição comum, seja na jurisdição
constitucional, devendo manter-se em Portugal o sistema de fiscalização difusa na base e concentrada
no topo.
3. Eu percebo que situações como esta que tem um caracter excecional da questão da inconstitucionalidade
ser suscitada nas alegações de recurso, prendem-se com o princípio da tutela jurisdicional efetiva e
também da segurança jurídica.
4. Contudo não vejo outras situações em que possamos abordar perante o tema da fiscalização concreta,
fazendo com que esta se torne ferramenta essencial para a efetividade deste princípio.

Em que medida a operatividade da Justiça Constitucional, no âmbito dos processos de


fiscalização concreta da constitucionalidade, depende do caracter determinante da sua
intervenção na resolução de litígios específicos?

1. Numa medida muito reduzida, num sentido mais prático de expor esta situação, a fiscalização concreta
de uma norma surge aquando, no decorrer de uma ação proposta nos tribunais comuns, para defesa de
um direito ou interesse de um particular, é suscitada a inconstitucionalidade de uma norma aplicável ao
caso concreto.
2. Assim, a questão da inconstitucionalidade apresenta-se como uma questão prejudicial, a questão
incidental, que dependente da ação principal e que é suscitada incidentalmente num processo relativo
a questão diversa.
3. Não existindo no nosso sistema uma ação de inconstitucionalidade, na qual o objeto seja, pura e
simplesmente, a avaliação da inconstitucionalidade de normas.
4. Como ensina o Professor Jorge Miranda “A questão de inconstitucionalidade só pode e só deve ser
conhecida e decidida na medida em que haja um nexo incindível entre ela e a questão principal objeto
do processo, entre ela e o feito submetido a julgamento”.

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5. Dessa forma temos uma questão de direito substantivo à parte, que levantou o problema e de que vai
depender a decisão a tomar no final do processo.

Em que medida a provisoriedade da decisão judicial pode condicionar o recurso para o Tribunal
Constitucional?

1. Em larga medida, visto que não é admissível recurso de decisões provisórias.


2. Para que seja permitido acesso ao Tribunal Constitucional é necessário, que tenha havido uma decisão
definitiva e jurisdicional, quanto à constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma.
3. A decisão de uma providência cautelar, ou de um despacho de pronuncia, ou despacho de expediente
com caracter meramente informativo que é uma decisão provisória não permite o recurso.
4. Carlos Lopes do Rego pede para fazer a distinção entre decisão provisória e decisão precária, porque
nas provisórias, estas ainda detém alguma autonomia e produzem efeitos, como é o caso das
providências cautelares.
5. Nessa linha o critério a ter em conta para que seja admissível recurso ao TC deverá ser o da utilidade
da decisão, que se viesse a proferir em recurso.
6. Dessa forma, por força da natureza provisória, sendo colocada questão da constitucionalidade, não cabe
recurso para o TC, não só pelo facto da decisão não ser definitiva, mas consequentemente porque a
intervenção deste Tribuna exige que esteja esgotada a intervenção dos outros tribunais.

Benedita, agricultora na zona de Coimbra, no passado sai 4 de outubro de 2021 surpreendeu,


num terreno de que é proprietária, três escavadoras que iniciavam obras de construção de troço
de estrada municipal.

Os trabalhos que estavam a ser realizados danificaram grande parte das plantações existentes e
impediram a normal continuação da atividade agrícola de Benedita.

Benedita requereu uma intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias contra a
Câmara Municipal de Coimbra.

No seu requerimento de intimação, invocou a violação do seu direito de propriedade,


constitucionalmente protegido no artigo 62º 1 da Lei Fundamental.

O Tribunal julgou, no entanto, improcedente o requerimento de intimação apresentado por


Benedita, invocando que o nº 2 do mesmo artigo 62º da Constituição revela que a proteção

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constitucional do direito de propriedade não é absoluta e que, por força do artigo 4º do CPA o
interesse Público deve prevalecer sobre aquele direito subjetivo.

Benedita está inconsolável e pretende saber:

a) Se pode interpor recurso daquela decisão para o Tribunal Constitucional?

Não. Tendo em conta que o Tribunal Constitucional é um órgão específico, o último órgão, o órgão supremo de
fiscalização de constitucionalidade, o objeto do recurso terá sempre de ser a constitucionalidade ou a legalidade
da norma, não a constitucionalidade ou legalidade de uma decisão judicial.

Não é a decisão que se critica, mas a razão das normas ou dos princípios nela aplicados ou desaplicados.

b) Em caso de resposta negativa à questão anterior, o que poderá fazer para tornar esse
recurso viável?

Sendo o artigo 204º da CRP, o ponto de partida necessário da fiscalização concreta da constitucionalidade, esta
só se pode dar nos feitos submetidos nos processos em curso em tribunal, incidentalmente e não a título
principal.

Não sendo possível pedir a declaração de inconstitucionalidade, Benedita poderia propor uma ação tendente à
declaração ou à realização de um direito seu ou de um seu interesse, cuja procedência depende de uma decisão
positiva de inconstitucionalidade.

c) Qual o objeto de eventual recurso para o Tribunal Constitucional?

Como supramencionado, o objeto do recurso é sempre a constitucionalidade ou a legalidade de uma norma, não
a constitucionalidade ou a legalidade de uma decisão judicial.

O recurso é restrito à questão de inconstitucionalidade ou de ilegalidade, conforme os casos (280º/6º da CRP)


ou, tratando-se de contrariedade de ato legislativo com convenção internacional, às questões de natureza
jurídicoconstitucional e jurídicointernacional implicadas na decisão recorrida (71º/2º da lei orgânica). Não
abrange a questão principal discutida no tribunal a quo.

Pode, todavia, o Tribunal Constitucional fazê-lo com fundamento na violação de normas ou princípios
constitucionais ou legais diversos daquela cuja violação foi invocada (79ºC, 2º parte) – o que é manifestação do
princípio jura novit curia

d) Em que termos poderá o eventual recurso ser configurado?

Primeiramente no requerimento teria de ser indicado a al. do artigo 70º 1 ao abrigo do qual é interposto recurso.

Deveria constar também, a norma que se pretende ver apreciada.

De seguida a norma constitucional ou legal que se considera ter sido violada.

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A indicação da peça processual em que a questão de inconstitucionalidade foi suscitada, para os casos da al. b).

Em caso de recursos, seria necessário a indicação da decisão do Tribunal Constitucional.

Esta teria 10 dias para poder interpor recurso, sendo a sua apresentação no Tribunal à quo.

e) Quais os pressupostos que terão de estar reunidos para que o recurso seja admitido?

Objeto + Legitimidade + Necessidade de suscitação prévia + Relevância lógico jurídica da aplicação da norma
como fundamento determinante da decisão do processo.

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