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03 Tema: Dos Conselhos Tutelares. Visão Geral. Estrutura. Escolha dos Conselheiros e
Impedimentos. Atribuição e Limite territorial de atuação. Competência. Controle. Aplicação de
medidas específicas do artigo 101, I a VII do ECA. Atendimento e Aconselhamento de pais e
responsáveis e medidas previstas no artigo 129, I a VII do ECA. Encaminhamento ao Ministério
Público e Autoridade Judiciária. Assessoramento ao Poder Executivo. Representação prevista no
artigo 220, §3º, II da CRFB. Fiscalização das Entidades de Atendimento. Fundo da Infância e
Adolescência.
1ª QUESTÃO:
É possível a aplicação de medida protetiva de acolhimento institucional pelo Conselho Tutelar?
Resposta objetivamente fundamentada.
RESPOSTA:
SUGESTÃO DE GABARITO FORNECIDO PELA BANCA:
Conforme o disposto no art. 101, §2º da Lei 8.069/90 (ECA), o afastamento da criança ou adolescente
do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária. Assim, em regra, o
Conselho Tutelar não pode aplicar a medida protetiva de acolhimento institucional sem prévia decisão
do juízo competente, cabendo-lhe, nos termos do art. 136, parágrafo único do ECA, comunicar ao
Ministério Público os casos em que considerar tal medida necessária, visando à deflagração de
procedimento judicial contencioso. No entanto, em caráter excepcional e de urgência, o art. 93 do
ECA prevê que as entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão acolher
crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, fazendo comunicação do
fato em até 24 horas ao juiz da infância e juventude, possibilidade que se estende ao Conselho
Tutelar, segundo entendimento dominante.
COMPLEMENTAÇÃO DO GABARITO:
"44. Medidas emergenciais: como regra, o afastamento da criança ou adolescente de seu núcleo
familiar natural é da competência exclusiva da autoridade judiciária, mas, como exceção, qualquer
autoridade (Conselho Tutelar, MP, Delegado de Polícia) pode salvaguardar interesse imediato do
menor, quando vítima de violência ou abuso sexual (e outras formas de maus-tratos graves), levando-
a para um abrigo, que o recepciona e comunica, em 24 horas, ao juiz (art. 93, ECA)."
(NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: em busca da
Constituição Federal das Crianças e dos Adolescentes. 2 ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro:
Forense, 2015, pág. 345).
"a) A aplicação das medidas específicas de proteção constantes do art. 101, I a VII
A primeira atribuição assinalada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 136, I) consiste no
atendimento da população infantojuvenil, nas hipóteses dos arts. 98 e 105, por meio da aplicação das
medidas protetivas elencadas no art. 101, I a VII, da mesma lei.
Pode-se afirmar, resumidamente, que aplicar medida de proteção significa "tomar providências, em
nome da Constituição e do Estatuto, para que cessem a ameaça ou violação de direitos da criança e do
adolescente". Daí por que, na qualidade de órgão responsável pela salvaguarda dos direitos
infantojuvenis, no caso concreto, é o conselho tutelar, por excelência, quem deverá aplicar a maioria
das medidas protetivas vislumbradas pelo legislador.
As medidas específicas de proteção elencadas no art. 101 do ECA, cuja atribuição primeira é do
conselho tutelar, são: I -encaminhamento aspais ou responsável, mediante t
datranscrição).
Assim, se no exercício de suas atribuições o conselho tutelar entender necessário o afastamento de
determinada criança ou adolescente do convívio de sua família - repita-se, natural ou extensa -, não
poderá fazê-lo por conta própria. Deverá proceder a imediata comunicação ao Ministério Público,
fazendo acompanhar desta comunicação o elenco de motivos que justificam tal entendimento e as
providências tomadas para orientação, o apoio e a promoção da família (art. 136, parágrafo único, do
ECA). São exceções a esta regra as situações de crimes em flagrante ou de risco iminente à vida ou à
integridade física de criança ou adolescente, caso em que qualquer do povo pode afastá-los do convívio
familiar e, com muito mais autoridade, o conselho tutelar."
(MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de direito da criança e do adolescente:
aspectos teóricos e práticos - 6 ed. rev. e atual. conforme Leis n. 12.010/2009 e 12.594/2012 - São
Paulo: Saraiva, 2013 - pág. 487-489).
Neste sentido, merecem destaque algumas decisões dos Tribunais de Justiça do país:
2ª QUESTÃO:
Pergunta-se: Conselho Tutelar pode acolher emergencialmente uma criança/adolescente, conforme
prevê o art. 93 da Lei 8.069/90, devendo notificar a autoridade judiciária em até 24h. Será que ele
pode, ao invés de acolher, entregar a alguém da família extensa?
RESPOSTA:
Enunciado 04 do Fonajup: “O Conselho Tutelar, em respeito ao princípio do melhor interesse da
criança e do adolescente e em analogia ao artigo 93 do ECA, poderá deixar crianças ou adolescentes
encontrados em situação emergencial de risco aos cuidados da família extensa, a fim de evitar o
acolhimento, comunicando em 24 horas à autoridade judiciária e ao Ministério Público, devendo
também iniciar procedimento administrativo para acompanhamento do caso e, no ato da entrega,
notificar, por escrito, sobre a necessidade de busca imediata de advogado ou defensoria pública para
eventual regularização da guarda.”
(Enunciados Consolidados do Fórum Nacional da Justiça Protetiva - Fonajup).
1ª QUESTÃO:
Com base no sistema especial de proteção à infância, pensado pelo legislador constituinte, o Brasil
adotou no texto constitucional de 1988 a chamada doutrina da proteção integral, estatuindo-a em seu
art. 227. É possível, com base em referida doutrina e no princípio da prioridade absoluta, com assento
constitucional, inclusive, declarar a validade de interceptação telefônica obtida sem autorização
judicial em ação de destituição de poder familiar?
Justifique sua resposta, explicando a forma pela qual poderá suposto conflito ser resolvido, dado o
quanto previsto no art. 5º, LVI, da CF. Conceitue também em sua resposta a doutrina da proteção
integral sem repetir o texto legal/constitucional atinente à espécie, trazendo ainda seus conhecimentos
sobre a evolução e/ou antecedentes históricos do instituto no Brasil.
RESPOSTA:
CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS PARA INGRESSO NA CARREIRA DA
MAGISTRATURA DO ESTADO DE MATO GROSSO
No sistema de proteção dos direitos da criança e do adolescente, a questão das provas ilícitas deve
receber tratamento diferenciado em relação aos demais ramos do Direito, pois a inadmissibilidade das
provas ilícitas, se pensada como algo absoluto e que não comporta qualquer flexibilização, faz com
que em alguns casos, como, v.g., numa ação de destituição de poder familiar, não se vislumbre outro
meio que permita salvaguardar um direito fundamental de maior relevância.
De fato, a possibilidade de se valer de uma interceptação telefônica obtida sem autorização judicial,
mas com o intuito de dela se valer para comprovação de práticas indevidas por parte de um dos
genitores, ou até a prática de pedofilia, que resultará em alterações no processo de desenvolvimento
psíquico, intelectual, emocional por toda a vida da criança/adolescente, viabiliza a concretização da
chamada proteção integral, que tem como fundamento a concepção de que crianças e adolescentes são
sujeitos de direitos, frente à família, à sociedade e ao Estado.
A doutrina da proteção integral rompe com a ideia de que crianças e adolescentes sejam simples
objetos de intervenção no mundo adulto, colocando-os, pois, como titulares de direitos comuns a toda
e qualquer pessoa, bem como de direitos especiais decorrentes da condição peculiar de pessoas em
processo de desenvolvimento.
A esse respeito, anote-se, pois, que, anteriormente à doutrina da proteção integral adotada no ECA,
vigorava, no antigo Código de Menores (Lei 6.697/79), a chamada doutrina da situação irregular, que,
em apertada síntese, não tratava as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, mas sim como
objeto de medidas judiciais.
É o princípio da proporcionalidade que permitirá o sopesamento de princípios e direitos e, no caso em
questão, malgrado haja posicionamentos contrários, considera-se que nenhum direito pode ter caráter
absoluto, razão por que é possível sim considerar-se como válida interceptação telefônica sem
autorização judicial em ação de destituição de poder familiar, o que se admite em defesa e em nome
dos que realmente necessitam de proteção, como é o caso das crianças e adolescentes, indivíduos
desprotegidos, a quem se dedica proteção integral e prioridade absoluta, segundo o sistema de
proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Na doutrina, cumpre destacar as lições trazidas pela Promotora de Justiça Dra. Andréa
Rodrigues Amin, constante na obra organizada pela Promotora de Justiça Dra. Kátia Regina
Ferreira Lobo Andrade Maciel, intitulada Curso de Direito da Criança e do Adolescente:
situação irregular.
Em resumo, a situação irregular era uma doutrina não universal, restrita, de forma quase absoluta, a um
limitado público infantojuvenil.
Segundo José Ricardo Cunha, "os menores considerados em situação irregular passam a ser identificados
por um rosto muito concreto: são os filhos das famílias empobrecidas, geralmente negros ou pardos,
vindos do interior e das periferias".
Não era uma doutrina garantista, até porque não enunciava direitos, mas apenas predefinia situações e
determinava uma atuação de resultados. Agia-se apenas na consequência e não na causa do problema,
"apagando-se incêndios". Era um Direito do Menor, ou seja, que agia sobre ele, como objeto de proteção
e não como sujeito de direitos. Daí a grande dificuldade de, por exemplo, exigir do Poder Público
construção de escolas, atendimento pré-natal, transporte escolar, direitos fundamentais que, por não
encontrarem previsão no código menorista, não sendo titularizados por sujeitos de direitos - já que a esse
tempo ainda não se reconhecia às crianças e adolescentes esse status -, esbarravam na ausência de tutela
jurídica.
A doutrina da proteção integral, por outro lado, rompe o padrão preestabelecido e absorve os valores
insculpidos na Convenção dos Direitos da Criança. Pela primeira vez, crianças e adolescentes titularizam
direitos fundamentais, como qualquer ser humano cuja dignidade é passível de proteção como valor em
si. Passamos, dessa forma, a ter um Direito da Criança e do Adolescente amplo, abrangente, universal e,
principalmente, exigível, em substituição ao Direito do Menor.
A conjuntura político-social vivida nos anos 1980, de resgate da democracia e busca veemente por
direitos humanos, acrescida da pressão de organismos sociais nacionais e internacionais, levou o
legislador constituinte a promulgar a "Constituição Cidadã", e nela foi assegurado com absoluta
prioridade às crianças, adolescentes e ao jovem o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.
A responsabilidade de assegurar o exercício e o respeito a esses direitos foi diluída solidariamente entre
família, sociedade e Estado, em uma perfeita cogestão e corresponsabilidade.
Apesar de o art. 227 da Constituição da República ser definidor, em seu caput, de direitos fundamentais e,
portanto, ser de aplicação imediata, coube ao Estatuto da Criança e do Adolescente a construção sistêmica
da doutrina da proteção integral.
A nova lei, como não poderia deixar de ser ab initio, estendeu seu alcance a todas as crianças e
adolescentes, indistintamente, respeitada sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Para fins protetivos, foi levado, em linha de conta, eventual risco social, situação predefinida no art. 98 da
Lei n. 8.069/90, e não mais a situação irregular. Trata-se de um tipo aberto, conforme a melhor técnica
legislativa, que permite ao juiz e a operadores da rede maior liberdade na análise dos casos que ensejam
medidas de proteção. O art.98 não é uma norma limitadora da aplicação
do ECA, mas delimitadora, principalmente, do campo de atuação do Juiz da Infância na área não
infracional.
Com o fim de dar efetividade à doutrina da proteção integral, a nova lei previu um conjunto de medidas
governamentais aos três entes federativos, por meio de políticas sociais básicas, políticas e programas de
assistência social, serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de
negligência, maus-tratos e abuso, e proteção jurídico-social por entidades da sociedade civil.
Adotou-se o princípio da descentralização político-administrativa, materializando-o na esfera municipal
pela participação direta da comunidade por meio do Conselho Municipal de Direitos e do Conselho
Tutelar. A responsabilidade pela causa da infância ultrapassa a esfera do poder familiar e recai sobre a
comunidade da criança ou do adolescente e sobre o poder público, principalmente o municipal, executor
da política de atendimento, de acordo com o art. 88, I, do ECA.
Ao Juiz coube a função que lhe é própria: julgar. A atuação ex officio é exceção. Não está elencada nos
arts. 148 e 149 da legislação estatutária, mas apenas restrita à função judicante e normativa. Agora é a
própria sociedade, por meio do Conselho Tutelar, que atua, diretamente, na proteção de suas crianças e
adolescentes, encaminhando à autoridade judiciária os casos de sua competência e ao Ministério Público
notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos infantojuvenis.
A atuação do Ministério Público no sistema garantista do ECA foi sobremaneira ampliada seguindo a
tendência preconizada pela Constituição Federal, que promove o Parquet a agente de transformação
social. Às atribuições listadas no art. 210 somam-se as ferramentas que lhe permitem exercê-las de forma
plena, sem prejuízo das prerrogativas que também lhe são asseguradas nas leis que dispõem sobre o
Parquet em nível estadual ou federal.
...
Em resumo, resta por demais claro que no campo formal a doutrina da proteção integral está
perfeitamente delineada e dotada dos instrumentos necessários para garantir os direitos fundamentais a
crianças e adolescentes. O desafio, contudo, é tornar a doutrina real, efetiva, palpável; é romper a cultura
da situação irregular, da doutrina menorista, da criança objeto, do não sujeito, daquele sobre o qual pais e
Estado intervêm diretamente por acreditar na completa incapacidade do ser criança. A tarefa não é
simples. Muito ao revés. Exige conhecimento aprofundado da nova ordem, capacitação constante, sem
deixar esquecer as lições e experiências do passado. Mais. Exige comprometimento de todos os atores -
Judiciário, Ministério Público, Executivo, técnicos, sociedade civil, família, comunidade - em querer
mudar e adequar o cotidiano infantojuvenil a um sistema garantista. Exige vontade política. Exige
respeito pelos vulneráveis. Exige um grau de cidadania elevado de toda a sociedade."
(MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso deDireito da Criança e
do Adolescente: Aspectos Teóricos e Práticos - 14 ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022 - pág. 26-28).
2ª QUESTÃO:
Qual foi a primeira normativa internacional a garantir direitos e uma proteção especial a crianças e
adolescentes?
RESPOSTA:
"2. Documentos internacionais
Aspectos Teóricos e Práticos - 14 ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022 - pág. 25-26).