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O ECA, nos leva à conclusão lógica (e teleológica) de que nenhuma disposição estatutária pode ser
interpretada e muito menos aplicada em prejuízo de crianças e adolescentes
art 3
Art 4
no art. 227, caput da CF, encerra o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente, que
deve nortear a atuação de todos, em especial do Poder Público, para defesa/ promoção dos direitos
assegurados a crianças e adolescentes
O ECA e 227, caput, da CF, que impõem a todos o dever de colocar crianças e adolescentes a salvo de
qualquer perigo.
precedência do atendimento
Art 5
arts. 18; 70 e 70-A, do ECA, que impõem a todos o dever de velar pelos direitos assegurados a
crianças e adolescentes, auxiliando no combate a todas as formas de violência, negligência ou
opressão. As disposições relativas à prevenção e ao combate à violência contra crianças e
adolescentes contidas no ECA são complementadas por outras normas, como a Lei nº 13.431/2017,
que instituiu o “Sistema de Garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de
violência”
Art 15
Art 16
I–
seja colhida por meio de profissionais qualificados, inclusive como forma de evitar a chamada
“revitimização”.
Art 18 A lei, com base na Constituição Federal, impõe a todos a obrigação de respeitar e fazer
respeitar os direitos de crianças e adolescentes, tendo cada cidadão o dever de agir em sua defesa,
diante de qualquer ameaça ou violação. sendo exigível de toda pessoa que toma conhecimento de
ameaça ou violação ao direito de uma ou mais crianças e/ou adolescentes, no mínimo, a
comunicação do fato (ainda que se trate de mera suspeita), aos órgãos e autoridades competentes.
valendo mencionar que este último define “violência institucional” como sendo a “violência
praticada por agente público no desempenho de função pública, em instituição de qualquer
natureza, por meio de atos comissivos ou omissivos que prejudiquem o atendimento à criança ou ao
adolescente...”, e “revitimização” como o “discurso ou prática institucional que submeta crianças e
adolescentes a procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que levem as vítimas ou
testemunhas a reviver a situação de violência ou outras situações que gerem sofrimento,
estigmatização ou exposição de sua imagem”
Em outras palavras, tanto a omissão quanto uma atuação equivocada, inclusive por parte dos órgãos
e agentes que deveriam, em tese, atuar na defesa/ promoção de direitos infantojuvenis, podem
gerar uma nova violação de direitos, razão pela qual é fundamental a formação continuada, o diálogo
e o planejamento das abordagens e intervenções estatais, junto aos profissionais que atuam tanto na
“rede de proteção” à criança e ao adolescente.
As medidas aqui relacionadas já eram contempladas, em especial, pelo art. 129, incisos I, III, IV, VI e
VII, do ECA, porém sua aplicação é mais abrangente, posto que também podem atingir outros
agentes autores de violência contra crianças e adolescentes. Interessante observar que as “medidas”
aqui previstas não são de cunho “punitivo”, mas sim “corretivo”, visando a não repetição do ato, a
partir da orientação e/ou tratamento devidos, mas sim “corretivo”, visando a não repetição do ato, a
partir da orientação e/ou tratamento devidos.
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem
prejuízo de outras providências legais
Tal intervenção também gera a necessidade de organização e qualificação da atuação dos membros
do Conselho Tutelar, que precisam saber como se portar diante de Parte Geral 35 tais situações
(muitas vezes conflituosas e/ou de elevada complexidade), de modo a evitar o agravamento do
problema e/ou a exposição da criança/ adolescente atendida a um constrangimento ainda maior do
que o até então suportado.
Art 19
Acrescido pela Lei nº 12.010, de 03/08/2009 e com a redação alterada pela Lei nº 13.257, de
08/03/2016. Vide arts. 23, caput e par. único; 100, caput e par. único, incisos IX e X; 101, incisos I a IV
e 129, incisos I a IV, do ECA; arts. 18 e 19, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de
1989 e arts. 13 e 14, da Lei nº 13.257/2016. Trata-se de um verdadeiro princípio, a ser perseguido
quando da intervenção estatal (nos moldes do também previsto no art. 100, par. único, inciso X do
ECA), que deve ser voltada ao fortalecimento ou do restabelecimento do convívio familiar.
Art 19- A
§ 3º. A busca à família extensa, conforme definida nos termos do parágrafo único do art. 25 desta
Lei, respeitará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período
Art 24
Vide art. 5º, incisos LIV e LV, da CF; art. 9º, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de
1989 e arts. 101, §2º; 136, inciso XI e par. único e 155 a 163 do ECA. O “procedimento contraditório”
a que se refere o dispositivo, é aquele previsto nos arts. 155 a 163, do ECA, tendo por pressuposto
elementar o respeito aos princípios constitucionais da ampla defesa e do devido processo legal. (falta
a ampla defesa da mãe)
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes (deve ser dada preferência à permanência da criança ou adolescente em sua família
natural, sendo sua transferência para uma família substituta (prevista no art. 28 e seguintes do ECA),
medida de caráter excepcional.)
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei
A avaliação de qual das modalidades aqui prevista é a mais adequada para o caso em concreto
demanda a realização de uma avaliação técnica criteriosa, que leve em conta, dentre outros fatores,
a opinião da própria criança/adolescente que se pretende inserir em família substituta. A medida
Possui também um caráter excepcional, pois a preocupação primeira, inclusive em respeito ao
disposto no art. 226, da CF e arts. 19, caput, primeira parte e §3º e 100, par. único, incisos IX e X, do
ECA, deve ser a manutenção da criança ou adolescente em sua família de origem.
§ 1º. Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe
interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento Parte Geral 60 e grau de compreensão
sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada
Vale lembrar que no caso de colocação de adolescente em família substituta não basta a mera
“oitiva” deste, sendo necessário colher também o seu consentimento com a medida, sem o que não
poderá ser efetivada.
Não mais é admissível, portanto, pura e simplesmente invocar, de forma vaga e vazia de conteúdo,
que se está agindo no “melhor interesse do menor” (sic.) , como quando da vigência do “Código de
Menores”, mas sim é necessário colher elementos idôneos, inclusive junto à própria criança ou
adolescente, para que se tenha o máximo de garantias de que tal solução é, de fato, a mais
adequada. A participação da criança na tomada de decisões que irão lhe afetar diretamente,
ademais, decorre do princípio da dignidade da pessoa humana, servindo o contido no presente
dispositivo, que tem respaldo no art. 12, da Convenção da ONU Sobre os Direitos da Criança, de
1989, de parâmetro para a aplicação de todas as demais medidas de proteção previstas no ECA (vide
o princípio expressamente consignado no art. 100, par. único, inciso I, do ECA)
§ 2º. Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido
em audiência
Acrescido pela Lei nº 12.010, de 03/08/2009. Vide arts. 45, §2º e 100, par. único, inciso XII, do ECA. O
dispositivo torna obrigatória a realização de “audiência” para a coleta do consentimento do
adolescente com sua colocação em família substituta, em qualquer das suas modalidades. De modo a
evitar maiores constrangimentos ao adolescente, seria interessante que essa “audiência” fosse
realizada com observância dos parâmetros estabelecidos pela Lei nº 13.431/2017, evitando, se
possível, que a oitiva seja realizada diretamente perante o Juiz (a menos que o próprio adolescente
assim o deseje).
Valem aqui as mesmas observações feitas ao parágrafo anterior, razão pela qual a intervenção de
uma equipe interprofissional, que por força do disposto nos arts. 150 e 151, do ECA, deve estar à
disposição do Juízo, se torna imprescindível. Uma colocação familiar que não contemple as
expectativas da criança/adolescente pode ter um efeito contrário ao desejado, sendo fonte de
sofrimento, conflitos e graves prejuízos de ordem emocional sobretudo para os destinatários da
medida.
O direito de visitas aos filhos colocados sob a guarda de terceiros (direito este que, a rigor, também
pertence aos filhos) somente pode ser restrito ou suprimido mediante decisão judicial
fundamentada, em sede de procedimento contencioso, no qual seja assegurado aos pais o exercício
do contraditório e da ampla defesa (vide restrição ao uso do procedimento previsto no art. 153, do
ECA para tal finalidade, por força do disposto no parágrafo único do citado dispositivo). A Lei nº
12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental, é também aplicável aos guardiães (assim como
aos dirigentes das entidades de acolhimento, a estes equiparados), que podem perder a guarda e/ou
sofrer outras sanções caso criem obstáculos ao exercício do direito de visitas pelos pais ou pratiquem
outras condutas descritas no art. 2º, do mencionado Diploma Legal, destinadas a impedir a
manutenção/fortalecimento de vínculos da criança/ adolescente com sua família de origem. E a
alienação parental, nunca é demais lembrar, constitui-se numa das formas de violência previstas na
Lei nº 13.431/2017, reclamando ações de prevenção e enfrentamento à altura.
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado,
ouvido o Ministério Público
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente.
A inércia, em tais casos, pode mesmo levar à responsabilização daquele que se omitiu (valendo neste
sentido observar o disposto no art. 5°, in fine, do ECA), sendo exigível de toda pessoa que toma
conhecimento de ameaça ou violação ao direito de uma ou mais crianças e/ou adolescentes, no
mínimo, a comunicação do fato (ainda que se trate de mera suspeita), aos órgãos e autoridades
competentes.
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.
A retirada da criança ou do adolescente de sua família de origem, no entanto, ainda que constatada
omissão ou abuso dos pais ou responsável, somente deve ocorrer em situações extremas, sendo a
família, por força de lei e do art. 226, da CF, destinatária de “especial proteção”, que compreende
orientação e assistência, por parte do Poder Público.
Importante mencionar que crianças e adolescentes, nos termos da aludida Convenção Internacional
e à luz do contido no próprio ECA (cf. art. 100, par. único, inciso I), não podem ser vistos ou tratados
como meros “objetos (ou destinatários) de medidas de proteção”, mas sim devem ser reconhecidos
como titulares (sujeitos) de direitos fundamentais, dotados de autonomia e identidade próprias, aos
quais deve ser facultada a participação na tomada das decisões que lhe afetarão diretamente. A
aplicação das medidas de proteção, portanto, não pode ficar ao puro arbítrio da autoridade estatal
competente, mas sim deve observar uma série de normas, parâmetros e cautelas, dentre as quais
(em respeito, inclusive, ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana), se encontra a
obrigatoriedade de ouvir e de levar em consideração a “opinião informada” da criança ou
adolescente a ser por aquelas atingido (salvo quando estes não tiverem condições ou não quiserem
exprimir sua vontade ou ainda quando, em casos mais sensíveis, se entenda - justificadamente - que
tal consulta, ainda que realizada por intermédio de órgãos técnicos, lhe será de qualquer modo
prejudicial), ex vi do disposto no art. 100, par. único, incisos XI e XII, do ECA.
§ 2º. Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou
abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou
adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na
deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento
judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório
e da ampla defesa [526]. 526 Acrescido pela Lei nº 12.010, de 03/08/2009. Vide art. 9º, da
Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de 1989 e arts. 136, inciso XI e par. único, 153, par.
único e 212, do ECA. O dispositivo visa impedir que crianças e adolescentes sejam afastados de suas
famílias por simples decisão administrativa do Conselho Tutelar, ou mesmo por decisão judicial
tomada nos famigerados “procedimentos de verificação de situação de risco”/”para aplicação de
medida de proteção” (instaurados com fundamento no art. 153, do ECA, que não têm forma
predefinida e têm o “péssimo hábito” de jamais terem fim)
Art 131, CT
Art 136
É preciso ter também em mente que o Conselho Tutelar não foi criado para promover o afastamento
de crianças e adolescentes de suas famílias, mas sim para zelar pela efetivação de todos os direitos
infantojuvenis (cf. art. 131, do ECA), dentre os quais se inclui o direito à convivência familiar,
devendo sua intervenção ser voltada ao fortalecimento dos vínculos familiares e à orientação dos
pais ou responsáveis legais, de modo que estes assumam suas responsabilidades em relação a seus
filhos e pupilos (cf. arts. 100, caput e par. único, inciso IX, c/c 136, inciso II, do ECA)
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar,
após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família
natural;
Redação alterada pela Lei nº 12.010, de 03/08/2009. Vide arts. 22; 101, §2º; 129, inciso X; 155 a 163
e 201, inciso III, do ECA e arts. 1637 e 1638, do CC. Providência a ser adotada apenas em situações
extremas, depois de esgotadas as tentativas de orientação, apoio e “resgate” sociofamiliar, que deve
ser a preocupação primeira do Conselho Tutelar, em nome da preservação do direito à convivência
familiar do qual a criança/adolescente é titular e, em respeito ao direito à proteção especial do qual
cada um dos integrantes da família é titular (cf. art. 226 e §8º, da CF).
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o
afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-
lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação,
o apoio e a promoção social da família.
Acrescido pela Lei nº 12.010, de 03/08/2009. Vide arts. 101, §2º; 130 e 220, do ECA e art. 19, inciso
IV, da Lei nº 13.431/2017. Não é dado ao Conselho Tutelar, por mera decisão administrativa,
promover o afastamento de criança ou adolescente de sua família (ressalvada a existência de
flagrante de vitimização, nos moldes do previsto nos arts. 101, §2º, primeira parte e 130, do ECA,
sem prejuízo, mesmo em tal caso, da imediata comunicação do fato à autoridade judiciária).
Digiácomo, Murillo José, 1968- Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado / Murillo
José Digiácomo e Ildeara Amorim Digiácomo.- Curitiba .. Ministério Público do Estado do Paraná.
Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2020. 8ª Edição. 1.
Direitos da criança - legislação - Brasil 2. Direitos da criança - jurisprudência - Brasil I. Digiácomo,
Ildeara Amorim CDU 347.63(81)(094.46)
Jamais podemos perder de vista a condição de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, e
não meros “objetos” de intervenção estatal. Assim sendo, antes de aplicar qualquer medida de
proteção deve o Conselho Tutelar ouvir (ainda que por meio do competente órgão da “rede de
proteção” local, na forma prevista pelo art. 7º, da Lei nº 13.431/2017) e considerar a opinião da
criança ou adolescente que será atingida pela medida (desde que, é claro, ela tenha condições de
exprimir sua vontade), observando ainda os demais princípios relacionados pelo art. 100, caput e
par. único, do ECA e nos comentários ali efetuados.
Art. 8º-A. Sempre que necessário o depoimento ou a oitiva de crianças e de adolescentes em casos
de alienação parental, eles serão realizados obrigatoriamente nos termos da Lei nº 13.431, de 4 de
abril de 2017, sob pena de nulidade processual. (Incluído pela Lei nº 14.340, de 2022)