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FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Curso Preparatório para o 5º Programa de


Residência Jurídica da DPERJ
Direito da Criança e do Adolescente

Professor (a) Tadeu Valverde


DIREITO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

Criança e adolescente:

Distinção: Artigo 2º da Lei 8069/90

“Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre
doze e dezoito anos de idade.”

# Medidas aplicáveis a crianças e adolescentes

No procedimento para apuração de ato infracional, a 3ª Seção do STJ decidiu que o adolescente deve ser ouvido ao final da
instrução processual e a audiência de apresentação deve ser realizada, de forma análoga a audiência de custódia.
Procedimento para apuração de ato infracional (arts. 171 e seg, da Lei 8069/90):

1) Oferecimento da representação: O MP oferecerá a representação quando estiverem presentes indícios de autoria e de materialidade. Ao
receber a representação o juiz designará audiência de apresentação, decidindo se o adolescente ficará liberado ou internado provisoriamente.

2) Audiência de apresentação: O juiz ouve o adolescente e seus responsáveis. É possível a prolação de sentença absolutória nesta audiência,
desde que existam elementos para tal. Caso inexistam elementos para a prolação de sentença absolutória, o juiz poderá liberar provisoriamente
o adolescente ou interná-lo provisoriamente.

• Segundo o STJ, na audiência de apresentação o adolescente deve ser ouvido de forma semelhante a audiência de custódia, apenas com a
finalidade de verificar a prática de violência contra o apreendido, a necessidade ou não de privação de liberdade e o cabimento da remissão.

3) Defesa prévia: Deverá ser oferecida na audiência de apresentação ou no prazo de 3 dias, contados a partir da aludida audiência. A defesa
prévia deverá conter rol de testemunhas.

4) Audiência de continuação: É uma audiência que tem o objetivo de produzir provas da acusação e da defesa. Após a produção de provas o MP
e a defesa terão 20 minutos para alegações finais orais, tal prazo pode ser estendido por mais 10 minutos, pelo juiz. Após as alegações finais o
juiz proferirá sentença.

• De acordo com o STJ, na audiência de continuação o adolescente deve ser ouvido ao final, após as testemunhas da acusação e da defesa.

Súmula 342 STJ: “No procedimento para aplicação de medida socioeducativa, é nula a desistência de outras provas em face da confissão do
adolescente.”
CONTAGEM DOS PRAZOS NA LEI 8069/90:

Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação
processual pertinente.

§1º...

§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia do
começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público.
# Defensor Publico possui prazo em dobro?

Fundamento Constitucional do Estatuto da Criança e do Adolescente:

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)”
Princípio da proteção integral: É norteador do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), que dispõe em seu artigo 1º:

“Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.”

Trilogia da proteção integral: É formada pelos direitos à liberdade, ao respeito e a dignidade. Tais direitos estão previstos no
artigo 15 da Lei 8069/90. Curiosamente o legislador primeiro tratou do direito à vida e à saúde (artigo 7º e seguintes ECA), depois dos
direitos à liberdade, ao respeito e a dignidade (artigo 15 e seguintes ECA), e depois do direito à convivência familiar e comunitária
(artigo 19 e seguintes ECA).
Princípios no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90): Estão elencados no artigo 100, PÚ, da Lei 8069/90.

Artigo 100...

Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:

I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos nesta e em
outras Leis, bem como na Constituição Federal;

II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção
integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são titulares;

III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta
Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três)
esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não
governamentais;

IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do
adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no
caso concreto;

V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à
imagem e reserva da sua vida privada;
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida;

VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à
efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente;

VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o adolescente
se encontram no momento em que a decisão é tomada;

IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e o
adolescente;

X - prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os
mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua integração em família substituta;

XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus
pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa;

XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si
indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos
direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ 1o e 2o
do art. 28 desta Lei.
ASPECTO PRÁTICO DA PRIORIDADE ABSOLUTA (artigo 4º da Lei 8069/90):

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;


b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
Medidas de proteção aplicáveis à criança e ao adolescente (artigo 101 da Lei 8069/90):

# O rol do artigo 101 da Lei 8069/90 é taxativo?

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes
medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;


II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em programa oficial ou comunitário de proteção, apoio e promoção da família da criança e ao adolescente; (Redação da
Lei 13.257/16)
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para
reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o
art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e
importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual
se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional,
governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará,
dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência

II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Acolhimento: Consiste na inserção da criança ou adolescente em instituição ou em outra família previamente
qualificada, é medida provisória e excepcional, aplicável apenas em casos extremos, pois configura violação do direito
à convivência familiar.

Institucional (101, VII/8069/90)


Espécies
Familiar (101, VIII, 8069/90)

Prazo de duração: No máximo 18 meses.

Periodicidade da reavaliação: No máximo a cada 3 meses


# O prazo de duração é prorrogável?

# O prazo de reavaliação é prorrogável?

# Qual a natureza jurídica do acolhimento?

# Quem é a autoridade competente para efetuar o acolhimento?

# O que são “audiências concentradas”? Quando e onde elas devem ser realizadas?

# Rose é acolhida aos 14 anos, sendo mãe de Felipe, com 6 meses de idade. A genitora e a criança são encaminhadas para
entidades diversas. Pode a mãe pleitear a visitação ao seu filho?
Cabimento ou não do HC com o fim de retirar criança do acolhimento:

# Solange e Fred, casados, estão cuidando de Vanessa, com 2 anos de idade, desde o seu nascimento. A mãe entregou a criança ao casal por
conhecê-los e saber que são pessoas idôneas e afeiçoadas a crianças. O casal ajuizou ação de adoção consensual, ou seja, com a anuência
materna. O Ministério Público requereu a busca e apreensão da criança e o encaminhamento para uma família integrante do CNA (Cadastro
Nacional de Adoção). O Juiz da VIJ (Vara de Infância e Juventude) defere a expedição de MBA (mandado de busca e apreensão), sendo a
criança inserida em acolhimento. Podem os autores da ação de adoção impetrar Habeas Corpus em favor de Vanessa, buscando a sua retirada do
acolhimento e consequente reinserção familiar?

“Habeas Corpus assegura permanência provisória de bebê com família que fez adoção irregular:

Em decisão unânime, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu habeas corpus para que um bebê voltasse à família na
qual conviveu desde os seus primeiros dias de vida até ser levado a um abrigo. A ordem judicial que determinou a internação da criança
afirmou que houve desrespeito ao Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

A turma constatou inversão da ordem legal imposta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), segundo a qual a opção de
institucionalização deve ser a última, e não a primeira. Além disso, não foram encontrados indícios que desabonassem o ambiente familiar.

O caso diz respeito a uma criança que foi entregue pela mãe biológica a um casal dias depois do nascimento. O bebê permaneceu até os dez
meses de idade com o casal. A decisão de transferi-lo para um abrigo, em razão da burla ao CNA, foi mantida pelo Tribunal de Justiça do
Ceará.”
Direito ao sigilo sobre o nascimento: O artigo 19-A, §9º da Lei 8069/90 confere a mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento.
# O direito ao sigilo sobre o nascimento, titularizado pela genitora é absoluto?

Consentimento com o encaminhamento do filho para adoção:

# Podem os pais consentir com o encaminhamento do seu filho para adoção?


# Distinga desistência ou retratação do consentimento para a adoção de arrependimento.

Apadrinhamento (19-B da Lei 8069/90): É modalidade de convivência familiar e comunitária, consistente em estabelecer vínculos externos
ao acolhimento, com pessoas que se comprometem a auxiliar o desenvolvimento social, moral, físico, educacional, cognitivo e financeiro da
criança e do adolescente.

# Aplica-se ao acolhimento institucional e familiar?


# Pessoas jurídicas podem apadrinhar ou apenas pessoas naturais?
# Qual é o perfil prioritário das crianças e adolescentes a serem apadrinhados?
# Parentes podem apadrinhar?

Artigo 19-B...

§ 2o Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas maiores de 18 (dezoito) anos não inscritas nos cadastros de adoção, desde que cumpram os
requisitos exigidos pelo programa de apadrinhamento de que fazem parte. (VETO DERRUBADO)
Medidas pertinentes aos pais ou responsável (artigo 129 da Lei 8069/90):

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:

I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família; (Redação da Lei
13.257/16)
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
X - suspensão ou destituição do poder familiar.

Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.

# As medidas aplicáveis aos pais ou responsável são punitivas ou de apoio?


Afastamento do agressor da moradia da criança ou adolescente (artigo 130 da Lei 8069/90):

Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a
autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.

Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou
o adolescente dependentes do agressor. (Incluído pela Lei nº 12.415, de 2011)

# Em caso de violência doméstica contra criança, aplica-se a Lei 11.340/06 ou a Lei 8069/90?

# O que é depoimento especial ou depoimento sem dano de crianças e adolescentes?

# VIJ pode julgar crimes contra crianças e adolescentes?

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