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DIREITO CIVIL

@dicasexconcurseira 1
MÓDULO I
LINDB (Aula 01)....................................................................................................................................................................................3
Introdução ao Direito Civil (Aula 02)...................................................................................................................................................8
Direitos da Personalidade (Aulas 03 e 04) ........................................................................................................................................11
Pessoal Natural (Aula 05) ..................................................................................................................................................................22
Pessoa Jurídica (Aula 06) ..................................................................................................................................................................30
Teoria dos Fatos Jurídicos (Aulas 07 e 08) ........................................................................................................................................36
Nova Teoria dos Atos Ilícitos (Aula 09) .............................................................................................................................................46
Prescrição e Decadência (Aula 10) ....................................................................................................................................................49
Responsabilidade Civil (Aulas 11 a 13) .............................................................................................................................................55
Teoria Geral dos Contratos (Aulas 14 a 16) ......................................................................................................................................69
Direito das Obrigações (Aulas 17 a 19) .............................................................................................................................................86

MÓDULO II
Posse (Aulas 01 e 02) ......................................................................................................................................................................105
Propriedade (Aulas 04 e 04) ...........................................................................................................................................................118
Condomínio geral e edilício (Aula 05) .............................................................................................................................................132
Introdução ao Direito de Familia (Aula 06) .....................................................................................................................................139
Casamento e União Estável (Aulas 07 a 10) ....................................................................................................................................143
Regime de Bens (Aula 11)................................................................................................................................................................169
Alimentos (Aula 12) ........................................................................................................................................................................181
Direitos das Sucessões (Aulas 13 a 17)............................................................................................................................................195
Filiação (Aula 18) ............................................................................................................................................................................231
Bem de Família, Direito de Laje e Cobrança em Compra e Venda (Aula 19)..................................................................................240

Esse material foi realizado com base no material de aula do curso de direito civil
de Cristiano Chaves (CERS) do ano de 2016 + jurisprudência do Dizer o Direito.

@dicasexconcurseira 2
Módulo I

Aula 01

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB

Estrutura da LINDB:
i) Vigência das normas (arts.1º e 2º);
ii) Obrigatoriedade das normas (art.3º);
iii) Integração das normas (art.4º);
iv) Interpretação das normas (art.5º);
v) Aplicação da norma no tempo (art.6º);
vi) Aplicação da norma no espaço (arts.7º a 18 - direito internacional privado).

Vigência da norma legal

Qual é o momento existencial de uma norma? A partir da sua PROMULGAÇÃO, a lei EXISTE, mas ainda não tem
aplicabilidade. Depois, vem a sua PUBLICAÇÃO, quando será conhecida. E, depois, VACATIO LEGIS (período de tempo para que
as pessoas se adaptem/preparem para o cumprimento da norma). A VIGÊNCIA da lei só é alcançada depois de cumprida a
vacatio legis.
LC 95/98: Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável (VACATIO
LEGIS) para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis
de pequena repercussão.
Mas, algumas leis trazem uma cláusula em que se diz “esta lei entra em vigor na data de sua publicação”. Somente as
leis de pequena repercussão podem possuir essa cláusula.
Toda lei indica o tempo de vacatio legis e este período é contado em número de dias.
LC 95/98, art.8º, §2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor
após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’.
O CC/02 e o NCPC violam este dispositivo, pois dizem que a vacatio legis é de 1 ano.
Caso o legislador esqueça de estabelecer a vacatio legis, será ela de 45 dias.
LINBD: Art.1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente publicada.
§1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 meses depois de
oficialmente publicada.
Como se conta o prazo de vacatio? Ordinariamente, os prazos no direito são computados de acordo com o art.132 do
CC:
prazo em mês/ano à data a data;
prazo em dias à dia a dia, excluindo o 1º dia e incluindo o último dia;
meado do mês à sempre o dia 15.

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do
vencimento.
§1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
§2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.
§4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

Resumo:

PROMULGAÇÃO PUBLICAÇÃO VACATIO LEGIS VIGÊNCIA

Existência da lei Conhecimento da lei Adaptação à lei Aplicabilidade da lei

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Prazo específico para a contagem da VACATIO LEGIS:
LC 95/98, Art.8º, §1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á
com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia SUBSEQUENTE à sua consumação
integral.
Este critério do §1º do art.8º só serve para a contagem da vacatio em número de dias. Mas e se o prazo estiver
estipulado em mês ou em ano? A polêmica reina (é justamente o problema pelo qual passou o NCPC): aplica-se o §1º do art.8º
ou o art.132 do CC? O que vem se entendendo (a maioria) é que se conta de data a data —> NCPC: de 13 de janeiro de 2015 e
entrou em vigor em 13 de janeiro de 2016.
Se durante a vacatio legis (antes da vigência e depois da sua existência), uma lei tiver que ser alterada, precisa de outra
lei? Sim, pois uma lei em vacatio já existe e, para ser alterada, é necessária outra lei.

LINDB, Art.1º, §3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo
deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
Recomeça o período de vacatio apenas para a parte modificada. As demais disposições cumprem o prazo da vacatio
legis originária.

LINDB, Art.1º, §4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Republicação à para corrigir erros materiais, recomeçando a vacatio somente para a parte modificada. Se em periodo
de vacatio e quiser alterar o conteúdo da lei, somente através de lei nova.
Mas, se a lei já está em vigor (se já cumpriu a vacatio), somente através de lei nova se pode corrigir erro material ou
alterar o conteúdo.
Uma vez em vigor, uma lei se mantém vigente até quando? O nosso sistema adota o princípio da continuidade das
normas (art.2º, LINDB). Salvo as lei de vigencia temporaria, toda lei permanece em vigor até que outra a modifique ou revogue,
expressa ou tacitamente.
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. —> Vedação à
repristinação. Mas é possível efeitos repristinatórios quando houver expressa disposição em contrário. Este parágrafo também
se aplica aos testamentos. OBS: temos efeitos repristinatório do controle de constitucionalidade concentrado.

REPRISTINAÇÃO ABSOLUTAMENTE VEDADA

Quando a lei dispuser que é possível

POSSIBILIDADE DE EFEITO Testamentos


REPRISTINATÓRIO

Controle concentrado de constitucionalidade

LC 95/98, Art. 9º A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas.
Preferencialmente, a revogação deve ser expressa.

Revogação total da lei —> ab-rogação.


Revogação parcial da lei —> derrogação.

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Se quiser corrigie ERRO MATERIAL --> REPUBLICA a lei,
recomeçando o período de vacatio para a parte corrigida.
DURANTE O PERÍODO DE
VACATIO LEGIS

Se quiser alterar o CONTEÚDO DA LEI --> através de LEI NOVA

Lei já EM VIGOR --> corrigir ERRO MATERIAL ou


Através de LEI NOVA
alterar CONTEÚDO DA LEI

Obrigatoriedade da lei

LINDB, Art.3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Esta presunção é relativa. É possível alegar erro de direito, como no direito penal. No direito civil, não é frequente
alegar erro de direito; mas o exemplo mais comum é o do art.1561 do CC que trata do casamento putativo. Com a putatividade,
o juiz empresta efeitos a um casamento que seria nulo/anulável (ex: sobrenome, partilha dos bens).
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes
como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.

A grande novidade de erro de direito é o art.139, CC:


Art. 139. O erro é substancial quando:
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. - ex: uma
pessoa comprou um terreno em Petrópolis/RJ para construir uma casa; o comprador, depois de comprar, pede um alvará de
construção, mas este é negado porque havia uma lei petropolitana que dizia que naquele local não se podia construir. O
comprador entra com uma ação anulatória, alegando que só comprou o terreno porque achava que podia construir, ou seja, não
sabia da existência da lei. O TJ/RJ anulou a compra e venda.

Todos devem cumprir a lei. Umas leis são cogentes (de ordem pública), a exemplo dos impedimentos matrimoniais;
outras leis são dispositivas (permitem que as partes alterem seu conteúdo) a exemplo do art.490, CC, que trata das despesas no
contrato de compra e venda.
Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as
da tradição.

Leis de ordem pública (ex: impedimento matrimoniais). Não


Leis Cogentes
podem ser alteradas pelas partes

Possibilidade de as partes alterarem seu conteúdo.


Leis Dispositivas
Privilegia-se a autonomia da vontade.

Integração da norma jurídica

Integrar é colmatar, ou seja, preencher as lacunas da lei. Nosso sistema veda o non liquet: o juiz não pode deixar de
julgar alegando ausência da lei ou o desconhecimento da lei. O NCPC, no art.373, diz que o juiz não é obrigado a conhecer da lei
municipal, estadual, estrangeira (com exceção dos países integrantes do MERCOSUL) ou consuetudinária.

LINDB, Art.4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito. à nesta ordem.

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Analogia é método de integração por meio da comparação. Pode haver analogia legis e analogia juris. Analogia legis:
compara-se uma situação não tratada em lei com uma situação tratada em uma lei especifica; analogia juris: compara-se uma
situação não tratada em lei com o sistema jurídico como um todo.
Costumes: usos prolongados em um determinado lugar. Os costumes podem se apresentar de 3 formas:
i. Costume secundum legem — quando a própria lei manda aplicar o costume. Aqui há simples aplicação da lei. Não há
integração da norma, porque a lei já manda aplicar o costume. Ex: §2º do art.445, CC — §2º Tratando-se de venda de animais, os
prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o
disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.

ii. Costume contra legem — quando o costume desafia a lei. Significa abuso do direito e não pode ser aplicado.

iii. Costuma praeter legem — quando o costume é utilizado como mecanismo de integração da norma.

DE OLHO NA JURIS! É possível que o cassino cobre no Brasil por dívidas de jogo contraídas no exterior
A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente no exterior é juridicamente possível e
não ofende a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional. STJ. 3ª Turma. REsp 1628974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas
BôasCueva, julgado em 13/6/2017 (Info 610).

Princípios gerais de direito são:


i. não lesar a ninguém;
ii. dar a cada um o que é seu;
iii. viver honestamente.
Não se confundem os princípios gerais de direito (meramente informativos) com os princípios fundamentais (são
norma jurídica).

Equidade como meio de integração. Equidade é conceito muito subjetivo: é o bom, o justo, o razoável e que, segundo
Aristoteles, é aquilo que está no meio. Por ser tão subjetiva, a equidade só é possível de ser utilizada se a lei autorizar
expressamente. Este é o entendimento do STJ. O NCPC permite o uso da equidade nos procedimentos de jurisdição voluntária.

CC: Art. 944. A INDENIZAÇÃO mede-se pela extensão do dano.


Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente,
a indenização.

CC: Art. 413. A PENALIDADE/MULTA CONTRATUAL/CLÁUSULA PENAL deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a
obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em
vista a natureza e a finalidade do negócio.

DE OLHO NA JURIS! Possibilidade de redução de ofício da cláusula penal manifestamente excessiva


Constatado o caráter manifestamente excessivo da cláusula penal contratada, o magistrado deverá, independentemente de
requerimento do devedor, proceder à sua redução. Fundamento: CC/Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente
pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo,
tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.247-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 19/04/2018 (Info 627).

VEDAÇÃO AO NON LIQUET Exceções (CPC/15) – O juiz pode alegar deconhecimento da lei:
a. Lei municipal;
b. Lei estadual;
c. Lei estrangeira;
d. Norma consuetudinária
O juiz não pode deixar de julgar
alegando ausência de lei ou
desconhecimento da lei.

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Interpretação da norma jurídica

LINDB, Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

O resultado da interpretação da norma pode ser: ampliativo (amplia o sentido da norma; ex: interpretação dos direitos
fundamentais), restritivo (diminui o alcance da norma; ex: aval, fiança) ou declaratório (ex: direito administrativo).

Aplicação da norma no tempo

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral (princípio da irretroatividade da lei*), respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
* A lei nova se aplica aos fatos pendentes e futuros. Mas nada impede que a lei disponha em sentido contrário e retroaja para
alcançar fatos pretéritos, desde que respeite o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
§1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

§2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do
exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
STF: não há direito adquirido em face do direito constituinte originário ou derivado; uma nova ordem constitucional
pode modificar os direitos adquiridos.
OBS: a noção de direito adquirido se refere a direitos patrimoniais (e não existenciais).

§3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
STF e STJ: mitigam a coisa julgada nas ações filiatórias (ex: investigação de paternidade, que pode ser reproposta se
houver prova nova).

CC: Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao
disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos
dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.

Em uma relação jurídica continuativa (ex: casamento):


quanto à existência e validade: norma da época em que foi celebrado o negócio;
quanto à eficácia: norma atualmente em vigor.

O NCPC permite a mudança do regime de bens. As pessoas que já eram casadas pelo CPC/73, que não permitia
mudança, pode fazer mudança? A mudança de regime de bens está no plano da eficácia; dessa forma, as pessoas que já eram
casadas podem alterar o regime de bens.

Aplicação da norma no espaço

Quanto à aplicação da norma no espaço:


Regra geral: territorialidade (no território brasileiro, só se aplica a lei brasileira)
Exceções (territorialidade mitigada): é possivel aplicar a lei brasileira fora do Brasil, ou se pode aplicar a lei estrangeira
no Brasil.
As autoridades consulares do Brasil no exterior podem celebrar divorcios ou separações consensuais de brasileiros, por
mero registro, desde que não haja interesse de incapaz e que as partes estejam assistidas por advogados.
Há hipóteses de aplicação da lei estrangeira no Brasil:
i. Estatuto Pessoal: norma do domicílio da pessoa à alguém que está domiciliada no exterior será considerada estrangeira e
terá a aplicação a norma do seu domicilio, que é seu Estatuto Pessoal. O Estatuto Pessoal será aplicado nos casos: nome,
capacidade civil, personalidade e direito de família. A aplicação do estatuto pessoal pressupõe uma filtragem constitucional para
respeitar a soberania brasileira.

ii. Exceções especificas: hipóteses que fogem a regra da lei do domicilio da pessoa:
quanto aos bens imóveis: aplica-se a lei do lugar onde estiver situado o imóvel;
quanto aos bens móveis que a pessoa traz consigo e penhor: aplica-se a lei do domicilio do titular;
quanto ao lugar dos contratos:o art.9º, §2º da LINDB — os contratos internacionais, salvo disposição contrario, tem
como lugar do contrato a residência do proponente.
quanto à lei sucessória mais favorável: em favor de herdeiro brasileiro, aplica-se a lei sucessória mais favorável.

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Para que uma decisão judicial ou carta rogatória estrangeira seja aplicada no brasil, é preciso a exequatur do STJ, se:
provado o transito em julgado no estrangeiro (S.320, STJ) + o atendimento das formalidades exigidas pelo NCPC nos art.960 a
965 + compatibilidade da decisão judicial/carta rogatória com o ordenamento jurídico brasileiro (filtragem constitucional). Tais
decisões serão executadas pelos juízes federais de primeira instância. Este mesmo procedimento se aplica ao laudo arbitral
estrangeiro, já que o laudo arbitral no Brasil tem natureza de título executivo judicial.
OBS: dívida de jogo contraída no estrangeiro pode ser executada no Brasil.

DE OLHO NA JURIS! É possível que o cassino cobre no Brasil por dívidas de jogo contraídas no exterior
A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente no exterior é juridicamente possível e
não ofende a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional. STJ. 3ª Turma. REsp 1628974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas
BôasCueva, julgado em 13/6/2017 (Info 610).

Aula 02

Introdução ao Direito Civil

Quadro evolutivo do Direito Civil

O direito civil tem diferentes momentos para a sua interpretação.


No direito romano, o Direito era dividido em civil e penal, de modo que tudo o que não era penal pertencia ao direito
civil. Dentro do direito civil estava o direito administrativo, assim, dentro do direito civil morava os interesses do Estado.
Com a Revolução Francesa, Napoleão tomou o poder com apoio da burguesia, caiu o absolutismo, ascendendo a
burguesia; liberalismo econômico. Propriedade privada + pacta sunt servanda —> eram duas petições da burguesia. Napoleão
cumpriu o compromisso assumido com a burguesia e elaborou o Code de France de 1804, primeiro grande código da era
moderna, que reestruturou a ciência jurídica: direito público x direito privado, e concebeu a ideia da supremacia do interesse
público sobre o interesse privado (mas onde não houver o interesse público, vigem as regras privadas).
Em 1896, veio o Código Alemão (“BGB”).
Os dois valores fundamentais destes dois códigos (francês e alemão) eram o individualismo e patrimonialismo. O direito
civil nasceu baseado nestes valores. A primeira constituição brasileira foi a do Império, de 1824; em 1855, contratou o jurista
baiano Augusto Texeira de Freitas para elaborar o primeiro código civil brasileiro; em 1862, ele entregou o seu rascunho de
código. O governo da época rejeitou este rascunho. A Argentina foi quem utilizou este rascunho. Em abril de 1899, foi
contratado um cearense - Clóvis Beviláqua -, que ensinava na faculdade de Olinda. Em outubro de 1899, apresentou seu projeto
de código ao Congresso, inspirado nos códigos francês e alemão. Em 1916, tivemos nosso primeiro código. O CC/16 era
individualista e patrimonialista.
O direito civil brasileiro era dividido em:
i. parte geral: elementos gerais de uma relação jurídica = sujeito (pessoas), objeto (bens) e vínculo jurídico (fatos
jurídicos).
ii. parte especial = trânsito jurídico (circulação de riquezas —> direito obrigacional: teoria geral das obrigações +
obrigações em espécie + responsabilidade civil), titularidades (relações apropriativas —> direitos reais) e afetividade (relações
afetivas —> direito de família).
Todas as constituições brasileiras ignoravam o direito civil, exatamente porque o direito civil era de direito privado.

Em 1975, Orlando Gomes escreveu uma obra chamada “novíssimos temas de direito civil”, dizendo que o CC/16 tinha
sido superado. Era necessário uma norma superior para fazer uma reunificação do Direito civi —> constitucionalização do direito
civil ou direito civil constitucional.

O Direito CIvil-Constitucional ou Constitucionalização do Direito Civil

Esse movimento começou na Itália.


Através do movimento de constitucionalização, o direito civil ganhou uma nova estrutura. O direito civil passou a
constar na Constituição. O eixo fundamental do direito civil deixou de ser o código civil e passou a ser a Constituição. Até 1988,
todas as constituições eram neutras e indiferentes quanto ao direito civil.
A CF/88 tratou do público e do privado; com isso, o contrato, a propriedade e a família passaram a ser tratados na
Constituição.
Constitucionalização do direito civil x Publicização do direito civil: a constitucionalização do direito civil é a
interpretação dos institutos do direito civil conforme a Constituição; a publicização do direito civil ou dirigismo contratual é a
presença do Estado numa relação privada com vistas a assegurar a igualdade entre as partes. Ex: atuação das agências
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regulamentadoras. Numa mesma situação jurídica, podemos ter a constitucionalização do direito civil e o dirigismo contratual,
como no direito do consumidor.
Os valores da Constituição - tábua axiológica da CF/88: dignidade da pessoa humana, liberdade, igualdade substancial
(isonomia) e solidariedade social.
O direito civil atual vive o movimento de repersonalização, preocupado com a pessoa humana (e não com o
patrimônio).

CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL/DIRIGISMO CONTRATUAL


Interpretação dos institutos do direito civil conforme a CF. É a presença do Estado numa relação privada, com vistas a
assegurar a igualdade entre as partes.

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

TÁBUA AXIOLÓGICA DA CF/88 LIBERDADE

IGUALDADE SUBSTANCIAL (ISONOMIA)

SOLIDARIEDADE SOCIAL

O Código Civil de 2002 e os seus paradigmas/diretrizes/valores: eticidade, operabilidade e socialidade (BOBBIO, Da estrutura
à função)

O CC/02 foi garantir ao direito civil uma compatibilidade com a Constituição, adequando as relações privadas a um
novo ambiente constitucional.
Socialidade = função social.
Eticidade = comportamento ético, boa-fé
Operabilidade = facilidade da utilização dos institutos jurídicos, os direitos devem ser facilmente exercidos.
O direito civil é direito privado e está, historicamente, baseado na autonomia. Mas a autonomia pode ser limitada pelos
direitos e garantias fundamentais da Constituição?
ETICIDADE

VALORES DO CC/02 OPERABILIDADE

SOCIALIDADE

A incidência direta dos direitos fundamentais nas relações privadas. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais (o caso da
associação dos compositores).

O STF se manifestou no sentido de que os direitos e garantias fundamentais incidem também nas relações privadas. É a
chamada eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Exs: art.1336, §2º e art.1337, CC —> aplicação de multa ao condômino
anti-social. Esta multa depende do devido processo legal, a partir de uma interpretação conforme a Constituição.

A aplicação direta dos direitos sociais nas relações privadas. Eficácia horizontal dos direitos sociais.

Os direitos sociais também devem ser aplicados às relações privadas.


No âmbito trabalhista, já se fala em eficacia transversal/diagonal dos direitos fundamentais, pois a relação de trabalho
não é de igualdade (horizontal), nem de hierarquia (relação de hierarquia dá-se entre o Estado e os particulares).

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S. 302, STJ: É abusiva (e, portanto, nula) a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação
hospitalar do segurado. à direito social à saúde.
S. 356, STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas
solteiras, separadas e viúvas. à direito social à moradia.

A incidência direta dos tratados e convenções internacionais sobre as relações privadas. O controle de convencionalidade do
Direito Civil (Convencionalização do Direito Civil).

A eficácia dos tratados internacionais sobre o direito privado pode se dá em 3 diferentes níveis:
i. Tratados internacionais que não versam sobre direitos humanos: serão incorporados como norma infraconstitucional.
Ex: Convenção de Varsóvia, que disciplina transportes aéreos. O STJ decidiu pelo afastamento da Convenção de Varsóvia para a
aplicação do CDC, quanto à indenização em relação à perda de bagagem.

ii. Tratados internacionais que versam sobre direitos humanos e que foram incorporados na forma da EC 45/04 (art.5º,
§3º, C - 2 turnos de votação e com maioria de 3/5): são incorporados como norma constitucional. Ex: Convenção de Nova Iorque
(incorporada pelo Decreto Legislativo 186/2008), que versa sobre a proteção das pessoas com deficiência. Esta Convenção deu
origem ao Estatuto da Pessoa com Deficiência.

iii. Tratados que versam sobre direitos humanos, mas que não foram incorporados na forma da EC 45/04: serão
incorporados com status supralegal (acima das leis, mas abaixo da CF). Ex: tratados e convenções internacionais que já existiam
antes da EC 45/04, como o Pacto de San José da Costa Rica (ou Convenção Interamericano de Direitos Humanos, CADH). A
questão da prisão do depositário infiel. A prisão civil do depositário infiel é constitucional; mas a CF diz que esta prisão se dará
na forma da lei. O CC, no art.652, diz que pode ser preso por prazo de até 1 ano; porém, acima do CC está a CADH e esta permite
apenas a prisão civil daquele que não paga pensão alimentícia, revogando a legislação ordinária. SV nº 25: é ILÍCITA (é
constitucional, porém ilícita, pois não tem lei a sustentá-la) a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.

A interpretação das normas do Direito Civil (normas gerais) e a possibilidade de diálogo das fontes (diálogo de conexão ou
complementaridade). Afastamento episódico da prevalência da especialidade.

Em regra, a norma especial afasta a norma geral, pois protege melhor o ramo que disciplina. Porém, com o CC/02, que
trouxe os valores da CF/88, pode haver, no CC, uma norma mais favorável ao sujeito do que a lei especial. Exs: direito do
consumidor e direito do trabalho. Daí, afasta-se, episodicamente, o principio da especialidade e garante-se a aplicação da norma
mais protetiva. A isso se dá o nome de diálogo das fontes: a aplicação da norma mais protetiva ao sujeito de direito, mesmo que
ela esteja na norma geral (CC) e não na norma especial (CDC). Ex: para a reclamação de vícios redibitórios, os arts.26 e 27
estabelecem o prazo de 30 (bens não duráveis) ou 90 dias (bens duráveis); contudo, o CC, no art.445, §1º, estabelece que esse
prazo pode ser de ate 180 dias, se móvel; e 1 ano, se imóvel. Se o vício redibitório for de difícil constatação, o prazo do CC pode
ser mais favorável do que o prazo do CDC. Daí, utiliza-se o prazo do CC (diálogo das fontes).
A teoria do diálogo das fontes foi idealizada na Alemanha pelo jurista Erik Jayme, professor da Universidade de
Heidelberg e trazida ao Brasil por Claudia Lima Marques profes- sora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A teoria
surge para fomentar a ideia de que o Direito deve ser interpretado como um todo de forma sistemática e coordenada.
Por ela, deve-se buscar a aplicação, tanto quanto possível, de todas as normas que tratem do tema, gerais ou especiais,
de modo a garantir a tutela mais efetiva ao grupo vulne- rável protegido pela lei, o que pode levar, por exemplo, à aplicação do
Código Civil em detri- mento do Código de Defesa do Consumidor quando o primeiro for mais favorável.
A aludida teoria concebe três espécies de diálogos, a saber: diálogo de coerência, diálogo de complementaridade e
diálogo de coordenação. O diálogo de coerência prescreve a aplicação simultânea de duas leis para o mesmo caso concreto. Já
no diálogo de comple- mentaridade, há uma aplicação coordenada de duas leis de modo que uma vem completar a outra de
forma subsidiária naquilo que lhe faltar. Por fim, o diálogo de coordenação e adap- tação sistemática pressupõe troca de
influências recíprocas de modo que o sistema especial influencia o geral e o sistema geral influencia o especial.

Interpretação do Direito Civil: regras e princípios

Norma jurídica = norma-princípio + norma-regra.


Colisão entre regra e princípio —> aplica-se a regra, pois esta é específica, salvo se for incompatível com o princípio (aí
já seria um controle de validade da regra; afinal, toda regra é fruto de um princípio).
Colisão entre norma-princípio e norma-princípio —> aplica-se a técnica da ponderação de interesses
(proporcionalidade como técnica).

@dicasexconcurseira 10
S.309, STJ: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as 3 prestações anteriores
ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

Colisão entre norma-regra e norma-regra: norma especial afasta norma geral, salvo a hipótese do diálogo das fontes;
norma superior afasta norma inferior; e norma posterior afasta norma anterior.

Derrotabilidade: uma norma pode deixar de ser aplicada num caso concreto, quando a sua aplicação impuser a violação
dos princípios do sistema. Ex: irmãos casados há 14 anos, com 4 filhos e que descobrem que são irmãos. Aplicar a regra de
impedimento matrimonial (que é válida e está em consonância com os valores constitucionais) seria desproteger a família. Casos
em que a força normativa da vida/dos fatos é maior que a força do direito. Esta técnica é expecionalíssima.

Aula 03

Direitos da Personalidade - Parte I

Personalidade x capacidade

Historicamente, estes conceitos foram vistos de forma indevida, pois eram tidas como relações complementares. A
capacidade era, de certo modo, a medida da personalidade. Com a proteção dos direitos da personalidade, esta noção se altera.
No CC/16, que tinha uma visão patrimonialista, toda pessoa tinha personalidade jurídica. Esta era a aptidão para ser
sujeito de direito (titularizar relações jurídicas). A capacidade jurídica - presa ao conceito de personalidade - era a medida da
personalidade (capacidade absoluta, capacidade relativa).
Pontes de Miranda, na década de 60, criticou essa compreensão de que a personalidade estaria atrelada à capacidade.
Como explicar o caso dos entes despersonalizados (que titulariam relações jurídicas, mas não possuem personalidade
jurídica)…?
CC/02 —> repersonalização. Toda pessoa tem personalidade jurídica; quem possui personalidade jurídica merece uma
proteção fundamental, que se apresenta através dos direitos da personalidade. Quem tem capacidade jurídica é quem tem
aptidão para ser sujeito de direito, para titularizar relações jurídicas.
Capacidade jurídica —> relações patrimoniais.
Personalidade jurídica —> relações existenciais.
Quem tem personalidade jurídica também tem capacidade jurídica, mas nem todos que tem capacidade jurídica
possuem personalidade jurídica (a exemplo dos entes despersonalizados).

PERSONALIDADE JURÍDICA Toda pessoa possui; é protegida pelos direitos da personalidade

CAPACIDADE JURÍDICA Aptidão para ser sujeito de direito, para titularizar relações jurídicas

Os direitos da personalidade são subjetivos, extrapatrimoniais, caracterizando uma relação existencial e garantindo a
existência de uma vida digna nas relações privadas.
No âmbito público, temos os direitos fundamentais. No âmbito privado, temos os direitos da personalidade. Mas é
claro que temos pontos de interseção entre estes direitos (alguns dos direitos fundamentais também são direitos da
personalidade).

Âmbito público Direitos fundamentais OBS: Alguns direitos


fundamentais também são
Âmbito privado Direitos da personalidade direitos da personalidade

É preciso lembrar da tese da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (aplicação direta dos direitos fundamentais
nas relações privadas) —> os direitos fundamentais são aplicados tanto do âmbito público quanto no âmbito privado,
enriquecendo, assim, a proteção à pessoa humana.

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A cláusula geral de proteção da personalidade (não taxatividade dos direitos da personalidade)

Os direitos da personalidade constituem um rol exemplificativo.


A cláusula geral de proteção da personalidade está inserta no art.1º, III da CF/88 e é a dignidade da pessoa humana.
Enunciado 274, JDC: Os direitos da personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo CC, são expressões da
cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art.1º, III, da CF.
Conteúdo mínimo/núcleo duro do princípio da dignidade da pessoa humana, pelos constitucionalistas:
i. Integridade física e psíquica (Lei 11.346/06, que consagra o direito à alimentação adequada);
ii. Liberdade e igualdade (ex: união homoafetiva com natureza familiar);
iii. Mínimo existencial/patrimônio mínimo (ex: bem de família, impenhorabilidade no processo de execução). NCPC e
STJ: só é possível penhorar bem móvel de elevado valor (e não bem imóvel); os imóveis de elevado valor são sempre
impenhoráveis. Doutrina minoritária (Didier, Marinoni, Cristiano Chaves): é possível penhorar imóvel de elevado valor.

Direitos da personalidade x liberdades públicas

Os direitos da personalidade constituem tudo aquilo necessário para ter dignidade numa relação privada. Todavia, o
exercício de certos direitos da personalidade exige comportamentos do Estado. As liberdades públicas se apresentam como
obrigações positivas ou negativas impostas ao Poder Público para garantir o exercício de direitos da personalidade. Ex: direito de
locomoção e habeas corpus.

Momento aquisitivo dos direitos da personalidade

É a concepção. O natimorto tem direitos da personalidade, pois foi concebido (ex: direito ao nome, à imagem).
Enunciado 1, JDC: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da
personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.
A aquisição dos direitos patrimoniais dá-se a partir do nascimento com vida.
STJ: legitimidade do nascituro para promover ações de conteúdo patrimonial; agora, receber o dinheiro apenas a partir
do nascimento com vida. Legitimidade dos pais a uma indenização por danos pessoais causados pela morte do nascituro.
A tutela do embrião laboratorial não é tratada pelo CC, mas sim por lei própria (Lei 11.105/05, Lei de Biossegurança). O
art.5º da Lei 11.105 diz que o embrião de laboratório pode ficar guardado por, no máximo, 3 anos. Depois desses 3 anos, ou o
casal implanta o embrião para fins reprodutivos ou descarta o embrião por meio do encaminhamento para pesquisas de células-
tronco. O embrião laboratorial não possui direitos da personalidade; se tivesse, ele não poderia ser descartado. OBS: o STF
confirmou a constitucionalidade do art.5º da Lei de Biossegurança —> possibilidade de pesquisas com células-tronco e a
inaplicabilidade dos direitos da personalidade aos embriões congelados.
Lei 11.804/08 - lei que regulamenta os alimentos gravídicos. Possibilidade de o nascituro ajuizar ação exigindo pensão
alimentícia. O art.1º desta lei afirma que a legitimidade para cobrar os alimentos gravídicos seria da gestante. A legitimidade
ativa para a acao é da gestante. A controvérsia surge porque o art.6º da Lei afirma que fixada a pensão, sobrevindo o
nascimento sem impugnarão, há a conversa automática dos alimentos gravídicos em pensão alimentícia para o menor. Desta
forma, os alimentos gravídicos foram concedidos para o nascituro (e não para a mãe). A jurisprudência tem sido flexível,
permitindo na titularidade dos alimentos gravidicos tanto a gestante, quanto o nascituro.

Art.1º Esta Lei disciplina o direito de alimentos da mulher gestante e a forma como será exercido.

Art.6º Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento
da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré.
Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do
menor até que uma das partes solicite a sua revisão.

Momento extintivo dos direitos da personalidade

É a morte.
Existe a possibilidade de proteção jurídica mesmo após a morte. No direito penal, por exemplo, o art.212, CP (crime de
vilipêndio ao cadáver), a legitimidade dos familiares vivos para requerer revisão criminal (art.623, CPP). No direito civil, há 3
situações jurídicas envolvendo pessoas mortas:
1. Sucessão processual (art.110, CPC/15): ocorre quando a parte falece no curso de um procedimento. Os herdeiros se
habilitam no processo para dar continuidade.
2. Transmissão do direito de requerer indenização (art.943, CC): O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la
transmitem-se com a herança.
@dicasexconcurseira 12
3. Lesados indiretos (art.12, p.u., CC): são as pessoas atingidas indiretamente pela lesão dirigida diretamente a alguém
que já morreu. São os lesados indiretos: cônjuge sobrevivente (+ companheiro), qualquer parente em linha reta (ascendente ou
descendente) e colateral até o 4º grau. Os lesados indiretos agem em nome próprio requerendo direito próprio; não se trata de
substituição processual. Todos os lesados indiretos são legitimados, provando o seu dano. Não há que se falar na ordem de
vocação hereditária. Para o professor Cristiano Chaves, esse rol dos lesados indiretos é exemplificativo.
CUIDADO! Violação do direito de imagem, art.20, p.u., CC: os lesados indiretos são apenas cônjuge, ascendente ou descendente.
Assim, os colaterais não são legitimados.

Fontes dos direitos da personalidade: jusnaturalistas x positivistas (direito da personalidade como direitos inatos)

Fonte é de onde vem, de onde se originam os direitos da personalidade.


Prevalece, no Brasil, o entendimento de que a fonte dos direitos da personalidade é o jusnaturalismo, ou seja, os
direitos da personalidade são inatos/inerentes à condição humana. Os direitos da personalidade são reconhecidos por uma
ordem pré-concebida (anterior) ao Direito.
Cristiano Chaves se alinha ao pensamento de Pontes de Miranda, segundo o qual os direitos da personalidade são
positivados, pois são uma opção cultural do ornamento jurídico. Se tais direitos fossem naturais, eles seriam universais. Mas
como explicar, por exemplo, a pena de morte admitida nos EUA?
Exemplo: o direito autoral passou a ser considerado um direito da personalidade pela lei 9610/98.

Os direitos da personalidade e a pessoa jurídica

Os direitos da personalidade estão baseados na dignidade da pessoa humana. E, assim, direitos da personalidade não
podem ser reconhecidos às pessoas jurídicas.
Enunciado 286, JDC: Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de
sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.
Porém, o art.52 do CC, utilizando a técnica jurídica de elastecimento, diz: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber,
a PROTEÇÃO dos direitos da personalidade.
Súmula 227, STJ: A pessoa jurídica pode sofrer da moral. Ex: dano moral por protesto indevido de duplicata — REsp
433.954.
ATENÇÃO! O STJ, em posição recente, entendeu que pessoa jurídica de direito público NÃO pode sofrer dano moral. A súmula
227 somente se aplica às pessoas jurídicas de direito privado.

DE OLHO NA JURIS! Ente público e direito à imagem


A pessoa jurídica de direito público não tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou da
imagem. Não é possível pessoa jurídica de direito público pleitear, contra particular, indenização por dano moral relacionado à
violação da honra ou da imagem. STJ. 4ª Turma. REsp 1258389-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/12/2013 (Info
534).

Possibilidade de colisão entre os direitos da personalidade e a liberdade de comunicação social (liberdade de expressão +
liberdade de imprensa)

Liberdade de comunicação social = liberdade de expressão e pensamento + liberdade de imprensa.


Como se dirimir o conflito entre tais direitos? Técnica da ponderação de interesses.
Súmula 221, STJ: São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa,
tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
Súmula 281, STJ: A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.
STF: a lei de imprensa não foi recepcionada pela CF/88.
O direito brasileiro não admite a liberdade de expressão/de imprensa de forma absoluta. Não se admite o hate speech
(manifestações de ódio, desprezo, intolerância).
Direito ao esquecimento (REsp 1.335.153/RJ): em ponderação de interesses, pode se reconhecer o direito ao
esquecimento. O direito ao esquecimento é o direito que alguém tem de impedir que um fato pretérito - que já exauriu seus
efeitos - continue a ser explorado.

DE OLHO NA JURIS! Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão


Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária a autorização prévia do indivíduo biografado, das demais pessoas
retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade
de expressão consagrada pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes: “É inexigível o consentimento de pessoa
biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas
@dicasexconcurseira 13
retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes”. Caso o biografado ou qualquer
outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que
poderá ser feita não apenas por meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a publicação de
ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc. STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 10/6/2015 (Info 789).

Os direitos da personalidade e as pessoas públicas (celebridades)

Pessoas públicas sofrem relativização dos direitos da personalidade.


Se pessoa pública participa de campanha publicitária assegurando qualidade do produto ou que coloca o seu nome no
produto, responderá solidariamente pela qualidade do produto. Art.7º, p.u., CDC.

Aula 04

Direitos da personalidade - Parte II

Características dos direitos da personalidade. Indisponibilidade relativa (intransmissibilidade e irrenunciabilidade)

Duas características essenciais dos direitos da personalidade: art.11, CC.

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo
o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Intransmissíveis e irrenunciáveis são espécies do gênero “indisponível”.


Esta indisponibilidade é absoluta ou relativa? A própria redação do art.11, CC responde: “com exceção dos casos
previstos em lei”. Ex: uma pessoa pode doar sangue, sêmen, medula, óvulos, ou seja, pode dispor da sua integridade física; a
pessoa também pode doar órgãos duplos ou regeneráveis. A pessoa pode ceder sua imagem, como nos realitys shows.
Os atos de disposição do direito da personalidade possuem limites. Enunciado 4, JDC: O exercício dos direitos d
personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral.
A Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/98) diz que o prazo máximo de cessão de imagens é de 5 anos, renováveis.
Enunciado 139, JDC: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em
lei (ou seja, por meio da autonomia privada), não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à
boa-fé objetiva e aos bons costumes.

INTRANSMISSÍVEIS
DIREITOS DA PERSONALIDADE INDISPONÍVEIS
(relativamente)

IRRENUNCIÁVEIS

Outras características:
i. Absolutos: oponíveis erga omnes;
ii. Extrapatrimoniais: não tem um valor; não tem como mensurar o valor de um direito da personalidade. Mas, uma vez
violados, importam em uma indenização;
iii. Impenhoráveis, já que não tem conteúdo patrimonial;
iv. Inatos: inerentes à condição humana;
v. Imprescritíveis: é imprescritível a proteção do direito da personalidade. Todavia, o efeito patrimonial indenizatório
tem prazo prescricional sim, e é de 3 anos (art.206, §3º, CC).
CUIDADO! Para o STJ, as indenizações decorrentes de tortura da época do regime militar são imprescritíveis.

Proteção jurídica

Art.12. Pode-se exigir que cesse (PREVENÇÃO) a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar (COMPENSAÇÃO)
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

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PROTEÇÃO À DIREITO DA PERSONALIDADE IMPRESCRITÍVEL

INDENIZAÇÃO POR VIOLAÇÃO A DIREITO DA PERSONALIDADE PRESCREVE EM 3 ANOS

Pode ser concedida de ofício

Princípio da Pode se qualquer medida


TUTELA ESPECÍFICA
Prevenção
Despatrimonializa a proteoção aos
Art.12 CC: TUTELA GERAL DA e/ou
direitos da personalidade
PERSONALIDADE
É preferível à tutela
Princípio da patrimonial/perdas e danos
Reparação Integral
dos Danos

Historicamente: Lesão à direito da personalidade —> sanção (perdas e danos).


Este modelo protetivo clássico dos direitos da personalidade mostrou-se insuficiente, daí veio o art.12, CC = proteção
PREVENTIVA e/ou proteção REPARATÓRIA.

Sob o ponto de vista processual, a proteção preventiva se dá através dos mecanismos de TUTELA ESPECÍFICA. O que é
tutela específica? É a solução jurisdicional adequada para um conflito concreto em específico (ao invés da tutela genérica de
perdas e danos). A tutela específica despatrimonializa a proteção dos direitos da personalidade. Não sendo possível a tutela
preventiva, decorrerá a tutela patrimonial/perdas e danos. Assim, as perdas e danos tem caráter subsidiário.

O art.498, CPC/15 c/c arts.536 e 537 do CPC/15 à o juiz pode, de ofício ou a requerimento, conceder tutela específica
(pode conceder, ampliar, reduzir, substituir ou revogar).
O que o juiz pode fazer a título de tutela específica? Pode tomar qualquer providência para a obtenção do resultado
prático equivalente.
Enunciado 140, JC: A primeira parte do art.12 do CC refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício,
enunciadas no art.461 do CPC/73 (art.498 c/c art.536-7 CPC/15), devendo ser interpretada com resultado extensivo.

A Lei Maria da Penha - art.22 - permite a fixação de mandado de distanciamento, nas hipóteses de violência familiar.
Esta lei é aplicável inclusive nos relacionamentos de namoro, eterno ou homoafetivas.

Nas ações de separação de corpos (visa impedir a convivência), o mandado de distanciamento é de suma importância.
Não adianta apenas decretar a separação de corpos; às vezes, é necessário estabelecer mandado de distanciamento.

Caberia tutela específica para impedir a publicação de uma biografia não autorizada? ADIn 4815/DF = é possível
publicar biografia não autorizada e, por isso, NÃO cabe tutela específica para impedir sua publicação.

Caberia prisão civil como meio de tutela específica? Não, porque a CF, no art.5º, LXVII, indica que somente cabe prisão
civil por dívida de alimentos (a outra hipótese - do infiel depositário - foi afastada pelo CADH). Mas dois importantes professores
defendem o contrário (Didier e Marinoni): cabimento de prisão civil por descumprimento de tutela específica.

A tutela reparatória se caracteriza pela indenização por danos morais. O dano moral não é dor, vergonha, humilhação,
dissabor, sentimento negativo; o dano moral é a violação a direitos da personalidade. A prova do dano moral é in re ipsa, nos
casos de violação de direito da personalidade: o que importa é a prova da violação do direito da personalidade, e não a prova da
dor/humilhação/etc.

S. 37, STJ: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.

S. 387, STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

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Súmula 403, STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa
com fins econômicos ou comerciais.

Dano moral à violação da personalidade: i. honra; ii. imagem; iii. integridade física; etc. Violação da honra = dano
moral strictu sensu; violação da imagem = dano à imagem; violação da integridade física = dano estético. A cada bem jurídico
violado há de corresponder uma indenização.

HONRA Dano moral stricto sensu

DANO MORAL Violação da personalidade IMAGEM Dano à imagem

INTEGRIDADE
Dano estético
FÍSICA

“Punitive damages” à no Brasil, o dano moral não tem natureza sancionatória/punitiva (sua natureza compensatória).
Mas o STJ vem dizendo que pode ser utilizado como meio educativo.
O STJ diz que é possível usar o recurso especial para revisão do quantum indenizatório, excepcionando a Súmula 7 do
STJ.
O STJ vem admitindo dano moral contratual (REsp 202.564): o dano moral contratual é um dano moral decorrente da
violação do contrato. A violação do contrato por si só não caracteriza dano moral. O descumprimento de um contrato pode vir a
violar um direito da personalidade.
No Brasil, é admitido o dano moral coletivo/difuso, previsto no art.1º da LACP (Lei 7.347/86 e art.6º, VI do CDC). Dano
moral ambiental ou decorrente de improbidade administrativa = dano moral difuso; dano moral a uma categoria = dano moral
coletivo. Em ambos os casos, o dano moral vai para um Fundo (e não para as pessoas).
O dano moral não pode ser concedido de ofício pelo juiz.
O MP só pode requerer dano moral se se tratar de dano moral difuso ou coletivo (não pode requerer dano moral
individual, nem mesmo se se tratar de incapaz).
Agora, o MP tem legitimidade para entrar com ação civil ex delicto quando a vítima for pobre e, neste caso, poderá
requerer dano material e moral.

Direito da personalidade à integridade física à direito ao corpo vivo

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da
integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.

“Wannabe" - grupo de pessoas que tem uma necessidade atávica de amputar um órgão. Não possuem o direito de
amputar o órgão, pois importaria em diminuição permanente da integridade física.
Cirurgia de transgenitalização (Resolução 1.957/10 do Conselho Federal de Medicina): é reconhecido o caráter
patológico da transgenitalização. A cirurgia de mudança de sexo tem natureza terapêutica para o transexual. O transexual
operado tem direito a alterar o nome e o sexo em seu registro civil, não devendo constar o motivo da mudança de modo a
preservar a privacidade do transexual.
Tese de Maria Berenice Dias: possibilidade de que o transexual não operado altere o nome e o estado sexual, com
fundamento no fato de que o transexual pode optar por não fazer a cirurgia.
O direito à integridade física abrange também as partes separadas do corpo vivo (ex: sêmen, óvulo, órgãos, placenta).
A violação da integridade física caracteriza dano estético.
STJ: a caracterização do dano estético se dá independentemente de sequelas permanentes.

Direito da personalidade ao corpo morto (direito ao cadáver)

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois
da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

E se for ato disposição do cadáver para fins de transplante? No Brasil, o CC não se aplica para fins de transplante. Quem
regula a matéria é a Lei 9.434/97. Esta lei diz que se a doação é em vida, só é possível doar os órgãos dúplices ou regeneráveis,
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gratuitamente e o beneficiário deve ser pessoa da mesma família (se não for da mesma família, é preciso autorização judicial),
com intervenção do MP (o MP do domicílio do beneficiário deve ser ouvido). Na doação post mortem, exige-se prévia
autorização dos familiares e o beneficiário não pode ser escolhido. Para os transplantes post mortem, o que vale é a autorização
da família (se a pessoa queria doar, mas a família não permitir, não será possível o transplante; se a pessoa não queria doar, mas
a família permite, será possível o transplante). Mas será que essa é a melhor solução? Cristiano Chaves acredita que não… E olhe
o enunciado 227, JDC:
Enunciado 277, JDC: O art.14 do CC, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com o objetivo
científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece
sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art.4º da Lei nº 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do
potencial doador.
A questão da disposição do corpo para depois da morte/testamento vital (living will)/diretrizes antecipadas - Resolução
CFM 1.995/10: a pessoa pode dizer que se em um determinado dia ela se encontrar em coma (por ex), ela não quer se submeter
a determinado tipo de tratamento. Tanto o médico quanto os familiares estão vinculados a esta disposição da vontade. É o
direito à morte digna.

DE OLHO NA JURIS! Não se exige que o indivíduo tenha deixado um documento escrito dizendo que desejava ser submetido à
criogenia, podendo essa vontade ser provada por outros meios, como a declaração do familiar mais próximo
Não há exigência de formalidade específica acerca da manifestação de última vontade do indivíduo sobre a destinação de seu
corpo após a morte, sendo possível a submissão do cadáver ao procedimento de criogenia em atenção à vontade manifestada
em vida. A criogenia (ou criopreservação) é a técnica de congelamento do corpo humano após a morte, em baixíssima
temperatura, a fim de conservá-lo, com o intuito de reanimação futura da pessoa caso sobrevenha alguma importante
descoberta científica que possibilite o seu retorno à vida. Em outras palavras, a criogenia consiste no congelamento de
cadáveres a baixas temperaturas, com a finalidade de que, com os possíveis avanços da ciência, sejam, um dia, ressuscitados.
STJ. 3ª Turma. REsp 1693718-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/03/2019 (Info 645).

Direito da personalidade ao livre consentimento informado (autonomia do paciente)

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

No Brasil, é impossível a internação forçada, salvo hipótese autorizada pela própria lei. O STJ vem entendendo que é
possível internação forçada a título de internação antecipada, em ação de curatela.
Responsabilidade civil do médico por violação do dever de informação.

Direito ao nome civil

Os pais indicam o nome do filho, mas a escolha do nome é direito do titular.


Os arts.56 a 58 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73) prevêem que, no primeiro ano após a aquisição da
maioridade civil (dos 18 aos 19 anos; ou um ano da emancipação), o titular tem direito à mudança imotivada do seu nome.
Os pais podem indicar o nome que quiser para o seu filho? Sim, com exceção de nomes que violem a dignidade do filho.
O procedimento de dúvida cabe sempre que o interessado discorda do ato do oficial do cartório. Por esse
procedimento, o oficial encaminha ao juiz a situacao para que este decida. Se o oficial não encaminhar, o particular pode
encaminhar (é a chamada “dúvida inversa”). Esta questão é decidida por sentença, contra a qual cabe apelação (por parte do
MP ou pelo interessado; o oficial de registro não tem legitimidade para interpor apelação, pois ele apenas queria dirimir a
dúvida).
Elementos componentes do nome: art.16, CC - nome = prenome (indicativo da pessoa) + sobrenome/patronímico
(origem familiar). Gêmeos registrados com mesmo prenome precisam ter prenome duplo distintivo (ex: João Pedro e João
Paulo).
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.

É possível ter o agnome (ex: Jr., Neto, Filho), partícula diferenciadora (para pessoas da mesma família que tenham o
mesmo nome).
O pseudônimo não integra o nome. É o nome utilizado para atividades profissionais. Ex: Suzana Vieira, Sílvio Santos. O
pseudônimo merece proteção - art.19, CC: Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao
nome.
Hipocorístico é o apelido, que designa alguém profissional e pessoalmente. Ex: Lula, Xuxa e Pelé. O hipocorístico pode
ser acrescido e pode, até, substituir o nome.

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NOME PRENOME + SOBRENOME PSEUDÔNIMO Não integra o nome, mas merece a mesma
proteção qu esse dá ao nome. É utilizado nas
atividades profissionais. Ex: Suzana Vieira,
Indicativo Origem Silvio Santos.
da pessoa familiar

AGNOME Partícula diferenciadora para pessoas da mesma família


que tenham o mesmo nome. Exs: Jr., Neto, Filho.

HIPOCORÍSTICO Apelido que designa alguém pessoal e profissionalmente. Pode ser acrescido ao nome e, até
mesmo, substituí-lo. Ex: Lula, Xuxa, Pelé.

Hipóteses de mudança de nome. Nosso ordenamento adota o princípio da inalterabilidade relativa do nome. A
mudança do nome é possível:
i. Nos casos previstos em lei. Ex: Lei 11.924/09 (Lei Clodovil) - mudar o nome para acrescentar o sobrenome de
padastro/madrasta; neste caso, não haverá nenhum efeito sucessório. Ex: casamento e união estável (no divórcio e na
dissolução, a pessoa decide se mantém ou não o sobrenome). Ex: adoção (se o adotado tiver mais de 12 anos, só é possível
alterar o seu prenome com o seu consentimento). Ex: lei de programa de proteção à testemunha.
ii. Por decisão judicial quando houver justa causa. Ex: abandono afetivo (o filho tem o direito de tirar o sobrenome de
pai que abandona o filho).
Quando for necessário decisão judicial para alterar o nome, o procedimento está previsto da Lei de Registros Públicos
no art.109.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo
público, ainda quando não haja intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

DE OLHO NA JURIS! Imutabilidade relativa do nome


Em regra, o nome é imutável. É o chamado princípio da imutabilidade relativa do nome civil. A regra da inalterabilidade relativa
do nome civil preconiza que o nome (prenome e sobrenome), estabelecido por ocasião do nascimento, reveste-se de
definitividade, admitindo-se sua modificação, excepcionalmente, nas hipóteses expressamente previstas em lei ou reconhecidas
como excepcionais por decisão judicial (art. 57 da Lei nº 6.015/75), exigindo-se, para tanto, justo motivo e ausência de prejuízo
a terceiros. STJ. 4ª Turma. REsp 1138103/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 06/09/2011.

Transgênero pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo sem fazer cirurgia de transgenitalização e mesmo sem
autorização judicial
O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no registro civil,
não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá exercer tal faculdade tanto
pela via judicial como diretamente pela via administrativa. Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de
nascimento, vedada a inclusão do termo “transgênero”. Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a
origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por
determinação judicial. Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a
requerimento do interessado a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou
privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos. STF. Plenário. RE 670422/RS, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 15/8/2018 (repercussão geral) (Info 911). Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da
cirurgia de transgenitalização, ou da realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, possuem o direito à alteração do
prenome e do gênero (sexo) diretamente no registro civil. O direito à igualdade sem discriminações abrange a identidade ou
expressão de gênero. A identidade de gênero é manifestação da própria personalidade da pessoa humana e, como tal, cabe ao
Estado apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la. A pessoa transgênero que comprove sua identidade de gênero
dissonante daquela que lhe foi designada ao nascer por autoidentificação firmada em declaração escrita desta sua vontade
dispõe do direito fundamental subjetivo à alteração do prenome e da classificação de gênero no registro civil pela via
administrativa ou judicial, independentemente de procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se tratar de tema relativo

@dicasexconcurseira 18
ao direito fundamental ao livre desenvolvimento da personalidade. STF. Plenário. ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28/2 e 1º/3/2018 (Info 892).

O mero desejo pessoal não é motivo justificável para a alteração do prenome


A regra no ordenamento jurídico é a imutabilidade do prenome (art. 58 da Lei nº 6.015/73). Todavia, sendo o nome civil um
direito da personalidade, por se tratar de elemento que designa o indivíduo e o identifica perante a sociedade, revela-se
possível, nas hipóteses previstas em lei, bem como em determinados casos admitidos pela jurisprudência, a modificação do
prenome. Para que haja, contudo, a retificação de registro civil é necessário que exista uma circunstância excepcional apta a
justificar a alteração do prenome. Ex: nome que gere constrangimento. Caso concreto: mulher ingressou com ação pedindo para
trocar seu nome de Tatiane para Tatiana, sob a alegação de que é “popularmente” conhecida como Tatiana. O STJ não aceitou e
disse que isso não é suficiente para afastar o princípio da imutabilidade do prenome, sob pena de se transformar a exceção em
regra. STJ. 3ª Turma. REsp 1728039/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/06/2018.

Homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil


É inadmissível a homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil de menor em juízo sem a observância dos
requisitos e procedimento legalmente instituído para essa finalidade. Ex: Sandro namorava Letícia, que ficou grávida. Ao nascer
a criança, Sandro a registrou como sua filha. Alguns anos depois, por meio de um exame de DNA feito em uma clínica particular,
descobre-se que o pai biológico da menor é, na verdade, João. Diante disso, o pai registral, o pai biológico e a criança,
representada por sua mãe, celebraram um acordo extrajudicial de anulação de assento civil.Por intermédio deste instrumento,
as referidas partes acordaram que haveria a retificação do registro civil da menor para que houvesse a substituição do nome de
seu pai registral pelo pai biológico.As partes ingressam com pedido para que o juiz homologasse esse acordo. O pedido deverá
ser negado. STJ. 3ª Turma. REsp 1698717-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Possibilidade de voltar o nome de solteira após a morte do marido


É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução do vínculo conjugal pelo falecimento do cônjuge.
Ex: Maria Pimentel da Costa casou-se com João Ferreira. Com o casamento, ela incorporou o patronímico do marido e passou a
chamar-se Maria da Costa Ferreira. Alguns anos mais tarde, João faleceu. Maria poderá voltar a usar o nome de solteira (Maria
Pimentel da Costa), excluindo o patronímico do falecido marido? Sim. Vale ressaltar que não há previsão legal para a retomada
do nome de solteira em caso de morte do marido. A lei somente prevê a possibilidade de o homem ou a mulher voltarem a usar
o nome de solteiro (a) em caso de divórcio (art. 1.571, § 2º, do CC). Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido. A
viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de ser: a dissolução do vínculo conjugal. Logo,
não há justificativa plausível para que se trate de modo diferenciado as referidas situações. STJ. 3ª Turma. REsp 1724718-MG,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018 (Info 627).

Excepcionalmente, é possível que o Judiciário determine o rompimento do vínculo estabelecido por sites de busca entre o nome
da pessoa, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia desabonadora apontada nos resultados
Determinada pessoa se envolveu em uma suspeita de fraude há mais muitos anos, tendo sido inocentada das acusações. Ocorre
que todas as vezes que digita seu nome completo no Google e demais provedores de busca, os primeiros resultados que
aparecem até hoje são de páginas na internet que trazem reportagens sobre seu suposto envolvimento com a fraude. Diante
disso, ela ingressou com ação de obrigação de fazer contra o Google pedindo a desindexação, nos resultados das aplicações de
busca mantida pela empresa, de notícias relacionadas às suspeitas de fraude no referido concurso. Invocou, como fundamento,
o direito ao esquecimento. O STJ afirmou o seguinte: em regra, os provedores de busca da internet (ex: Google) não têm
responsabilidade pelos resultados de busca apresentados. Em outras palavras, não se pode atribuir a eles a função de censor,
obrigando que eles filtrem os resultados das buscas, considerado que eles apenas espelham o conteúdo que existe na internet.
A pessoa prejudicada deverá direcionar sua pretensão contra os provedores de conteúdo (ex: sites de notícia), responsáveis pela
disponibilização do conteúdo indevido na internet. Há, todavia, circunstâncias excepcionalíssimas em que é necessária a
intervenção pontual do Poder Judiciário para fazer cessar o vínculo criado, nos bancos de dados dos provedores de busca, entre
dados pessoais e resultados da busca, que não guardam relevância para interesse público à informação, seja pelo conteúdo
eminentemente privado, seja pelo decurso do tempo. Nessas situações excepcionais, o direito à intimidade e ao esquecimento,
bem como a proteção aos dados pessoais deverá preponderar, a fim de permitir que as pessoas envolvidas sigam suas vidas com
razoável anonimato, não sendo o fato desabonador corriqueiramente rememorado e perenizado por sistemas automatizados de
busca. No caso concreto, o STJ determinou que deveria haver a desvinculação da pesquisa com base no nome completo da
autora com resultados que levassem às notícias sobre a fraude. Em outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: o Google não
precisa retirar de seus resultados as notícias da autora relacionadas com a suposta fraude no concurso. Mas para que esses
resultados apareçam será necessário que o usuário faça uma pesquisa específica com palavras-chaves que remetam à fraude.
Por outro lado, se a pessoa digitar unicamente o nome completo da autora, sem qualquer outro termo de pesquisa que remete
à suspeita de fraude, não se deve mais aparecer os resultados relacionados com este fato desabonador. Assim, podemos dizer
que é possível determinar o rompimento do vínculo estabelecido por provedores de aplicação de busca na internet entre o
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nome de prejudicado, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia apontada nos resultados. O rompimento do referido
vínculo sem a exclusão da notícia compatibiliza também os interesses individual do titular dos dados pessoais e coletivo de
acesso à informação, na medida em que viabiliza a localização das notícias àqueles que direcionem sua pesquisa fornecendo
argumentos de pesquisa relacionados ao fato noticiado, mas não àqueles que buscam exclusivamente pelos dados pessoais do
indivíduo protegido. STJ. 3ª Turma. REsp 1660168-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
08/05/2018 (Info 628).

Alteração de registro civil após aquisição de dupla cidadania


O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro civil do Brasil, desde que isso não cause
prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer transtornos no exercício da cidadania por força da apresentação de documentos
estrangeiros com sobrenome imposto por lei estrangeira e diferente do que consta em seus documentos brasileiros. STJ. 3ª
Turma. REsp 1310088-M

Direito de a pessoa retificar seu patronímico no registro de nascimento de seu filho após divórcio
Se a genitora, ao se divorciar, volta a usar seu nome de solteira, é possível que o registro de nascimento dos filhos seja retificado
para constar na filiação o nome atual da mãe. É direito subjetivo da pessoa retificar seu patronímico no registro de nascimento
de seus filhos após divórcio. A averbação do patronímico no registro de nascimento do filho em decorrência do casamento atrai,
à luz do princípio da simetria, a aplicação da mesma norma à hipótese inversa, qual seja, em decorrência do divórcio, um dos
genitores deixa de utilizar o nome de casado (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 8.560/1992). Em razão do princípio da segurança
jurídica e da necessidade de preservação dos atos jurídicos até então praticados, o nome de casada não deve ser suprimido dos
assentamentos, procedendo-se, tão somente, a averbação da alteração requerida após o divórcio. STJ. 3ª Turma. REsp 1279952-
MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

Exclusão dos sobrenomes paternos em razão do abandono pelo genitor


Imagine que determinado indivíduo foi abandonado pelo pai quando era ainda criança, tendo sido criado apenas pela mãe.
Quando completou 18 anos, esse rapaz decidiu que desejava que fosse excluído o nome de seu pai de seu assento de
nascimento e que o patronímico de seu pai fosse retirado de seu nome, incluindo-se o outro sobrenome da mãe. O STJ decidiu
que esse pedido pode ser deferido e que pode ser excluído completamente do nome civil do interessado os sobrenomes de seu
pai, que o abandonou em tenra idade. A jurisprudência tem adotado posicionamento mais flexível acerca da imutabilidade ou
definitividade do nome civil. O princípio da imutabilidade do nome não é absoluto no sistema jurídico brasileiro. Além disso, a
referida flexibilização se justifica pelo próprio papel que o nome desempenha na formação e consolidação da personalidade de
uma pessoa. Desse modo, o direito da pessoa de portar um nome que não lhe remeta às angústias decorrentes do abandono
paterno e, especialmente, corresponda à sua realidade familiar, sobrepõe-se ao interesse público de imutabilidade do nome, já
excepcionado pela própria Lei de Registros Públicos. Sendo assim, nos moldes preconizados pelo STJ, considerando que o nome
é elemento da personalidade, identificador e individualizador da pessoa na sociedade e no âmbito familiar, conclui-se que o
abandono pelo genitor caracteriza o justo motivo de o interessado requerer a alteração de seu nome civil, com a respectiva
exclusão completa dos sobrenomes paternos. STJ. 3ª Turma. REsp 1304718-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
18/12/2014 (Info 555).

Direito à imagem

Possui 3 dimensões: art.5º, V, X e XXVIII, a, e art.20, CC)


i. Imagem-retrato: é o pôster da pessoa; as características físicas. Ex: nariz grande.
ii. Imagem-atributo: características psíquicas. Ex: pessoa alegre.
iii. Imagem-voz: timbre sonoro identificador.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de
escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas,
a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou
se se destinarem a fins comerciais. — a proteção da imagem no CC está condicionado à ofensa à honra ou a exploração
comercial. Mas a CF não exige isso, pois a proteção do direito à imagem é autônoma.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os
ascendentes ou os descendentes.

Relativização do direito à imagem:


i. Função social da imagem: primeira parte do art.20, CC — quando for necessária à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a imagem da pessoa pode ser utilizada sem sua autorização. Ex: programa linha direta (foragidos
da justiça).
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ii. Cessão expressa ou tácita do titular.
iii. Imagem de pessoas públicas.

A imagem como um direito de arena (imagem como direito autoral, art.7º, Lei 9610/98).

DE OLHO NA JURIS! Inexistência do direito à indenização em razão da divulgação, no jornal, de imagem do cadáver morto em
via pública
Jornal divulgou a foto do cadáver de um indivíduo morto em tiroteio ocorrido em via pública. Os familiares do morto ajuizaram
ação de indenização por danos morais contra o jornal alegando que houve violação aos direitos de imagem. O STF julgou a ação
improcedente argumentando que condenar o jornal seria uma forma de censura, o que afronta a liberdade de informação
jornalística. STF. 2ª Turma. ARE 892127 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Lucro da intervenção e caso Giovanna Antonelli


Determinada “farmácia de manipulação” utilizou o nome e a imagem da atriz Giovanna Antonelli, sem a sua autorização, em
propagandas de um remédio para emagrecer. O STJ afirmou que, além da indenização por danos morais e materiais, a atriz
também tinha direito à restituição de todos os benefícios econômicos que a ré obteve na venda de seus produtos (restituição do
“lucro da intervenção”). Lucro da intervenção é uma vantagem patrimonial obtida indevidamente com base na exploração ou
aproveitamento, de forma não autorizada, de um direito alheio. Dever de restituição do lucro da intervenção é o dever que o
indivíduo possui de pagar aquilo que foi auferido mediante indevida interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa.
A obrigação de restituir o lucro da intervenção é baseada na vedação do enriquecimento sem causa (art. 884 do CC). A ação de
enriquecimento sem causa é subsidiária. Apesar disso, nada impede que a pessoa prejudicada ingresse com ação cumulando os
pedidos de reparação dos danos (responsabilidade civil) e de restituição do indevidamente auferido (lucro da intervenção). Para
a configuração do enriquecimento sem causa por intervenção, não se faz imprescindível a existência de deslocamento
patrimonial, com o empobrecimento do titular do direito violado, bastando a demonstração de que houve enriquecimento do
interventor. O critério mais adequado para se fazer a quantificação do lucro da intervenção é o do enriquecimento patrimonial
(lucro patrimonial). A quantificação do lucro da intervenção deverá ser feita por meio de perícia realizada na fase de liquidação
de sentença, devendo o perito observar os seguintes critérios: a) apuração do quantum debeatur com base no denominado
lucro patrimonial; b) delimitação do cálculo ao período no qual se verificou a indevida intervenção no direito de imagem da
autora; c) aferição do grau de contribuição de cada uma das partes e d) distribuição do lucro obtido com a intervenção
proporcionalmente à contribuição de cada partícipe da relação jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1698701-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 02/10/2018 (Info 634).

A Súmula 403 do STJ é inaplicável para representação da imagem de pessoa como coadjuvante em documentário que tem por
objeto a história profissional de terceiro
Ação de indenização proposta por ex-goleiro do Santos em virtude da veiculação indireta de sua imagem (por ator profissional
contratado), sem prévia autorização, em cenas do documentário “Pelé Eterno”. O autor alegou que a simples utilização não
autorizada de sua imagem, ainda que de forma indireta, geraria direito a indenização por danos morais, independentemente de
efetivo prejuízo. O STJ não concordou. A representação cênica de episódio histórico em obra audiovisual biográfica não depende
da concessão de prévia autorização de terceiros ali representados como coadjuvantes. O STF, no julgamento da ADI 4.815/DF,
afirmou que é inexigível a autorização de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais bem
como desnecessária a autorização de pessoas nelas retratadas como coadjuvantes. A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses
de representação da imagem de pessoa como coadjuvante em obra biográfica audiovisual que tem por objeto a história
profissional de terceiro. STJ. 3ª Turma.REsp 1454016-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 12/12/2017 (Info 621).

Utilização indevida da imagem da pessoa em propaganda político-eleitoral


Configura dano moral indenizável a divulgação não autorizada da imagem de alguém em material impresso de propaganda
político-eleitoral, independentemente da comprovação de prejuízo. STJ. 3ª Turma. REsp 1217422-MG, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 23/9/2014 (Info 549).

Uso de imagem de pessoa em local público por sociedade empresária


O uso, por sociedade empresária, de imagem de pessoa física fotografada isoladamente em local público, em meio a cenário
destacado, configura dano moral mesmo que não tenha havido nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa na divulgação. O
dano moral é decorrente tão somente do fato de ter sido usada a imagem da pessoa sem a sua autorização. Assim, é cabível
compensação por dano moral decorrente da simples utilização de imagem de pessoa física, em campanha publicitária, sem
autorização do fotografado. Aplica-se aqui o raciocínio da Súmula 403 do STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela
publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. STJ. 4ª Turma. REsp 1307366-RJ, Rel. Min.
Raul Araújo, julgado em 3/6/2014 (Info 546).
@dicasexconcurseira 21
Direito à vida privada

Teorias dos círculos concêntricos: vida privada —> privacidade/segredo/sigilo —> intimidade.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.

Nos processos que se discutem a violação da vida privada, não se admite a exceção da verdade, pois seria nova violação
da privacidade.
Vida Privada

Privacidade/segredo/sigilo

Intimidade

Aula 05

Pessoa Natural (Pessoa Física)

Generalidades: origens e conceitos sobre a pessoa humana. Crítica à conceituação em relação a uma origem apenas biológica.

Pessoa natural é a pessoa humana/pessoa física. Pode ser concebido de forma natural ou artificial (feritilização
medicamente assistida). A fertilização pode ser in vitro/na proveta (o embrião é preparado no laboratório e depois implantado
no corpo da mulher) ou por inseminação artificial (o médico trabalha somente com o sêmen e depois o implanta no corpo da
mulher). A pessoa humana é dotada de estrutura biopsicológica.
O CC não disciplinou a fertilização assistida, mas previu efeitos, ao tratar da presunção de paternidade:

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:


I - nascidos 180 dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação
do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.

Concepção natural
PESSOA NATURAL
In vitro/na proventa
Concepção artificial
Inseminação artificial

Início da pessoa natural e a natureza jurídica do nascituro e do embrião laboratorial

Art.2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida*; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos*
do nascituro.

* Dosimásia hidrostática de galeno - técnica utilizada para se verificar se existe ar nos pulmões. Existindo ar nos
pulmões, diz-se que nasceu com vida.
* Direitos hereditários do nascituro se nascer com vida (art.1798, CC) + direito de receber doação (art.542, CC).

“Legitimam-se a suceder as pessoas já concebidas..." “A doação feita ao nascituro valerá, sendo


aceita pelo seu representante legal”.
@dicasexconcurseira 22
O nascituro não tem personalidade, mas tem direitos? Polêmica, daí surgiram 3 teorias:
i. Teoria natalista (Sílvio Rodrigues): a personalidade só é adquirida pelo nascimento com vida. Mas, e seus direitos?
Esta teoria diz que o nascituro tem apenas expectativa de direitos.

ii. Teoria concepcionista (Pablo Stolze, Flávio Tartuce, Cristiano Chaves): a personalidade é adquirida pela concepção
uterina. Por isso, o nascituro titulariza direitos da personalidade, mas os direitos patrimoniais ficam condicionados ao
nascimento com vida.

iii. Teoria condicionalista (Maria Helena Diniz): a personalidade do nascituro é meramente formal, porque
condicionada ao nascimento com vida. Os direitos patrimoniais do nascituro estão condicionados ao nascimento com vida,
malgrado já disponha de direitos da personalidade.
A segunda e terceira teorias dizem a mesma coisa, segundo a professora Silmara Juny Chinelato. A diferença entre elas
é de adjetivação.
Direitos da personalidade do natimorto — Enunciado 1, JDC: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o
natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.
STJ: legitimidade do nascituro para promover ações reclamando direitos existenciais ou patrimoniais (requerer herança,
indenização pela morte do pai, por exemplo).
STJ: direito dos pais de receber indenização por danos pessoais causados pela morte do nascituro. Afinal de contas, o
nascituro já tinha direitos da personalidade.
Possibilidade de responsabilidade civil da gestante por danos causados ao nascituro durante a gestação. Ex: mãe que
ingere substância tóxicas. No Canadá e nos EUA já há precedentes a respeito disto. No Brasil, ainda não temos precedentes, mas
já se defende esta tese. Esta ação pode ser ajuizada pessoalmente - por meio de representante ou assistente - ou por curador
especial.
Lei dos alimentos gravídicos (Lei 11.804/08): possibilidade de alimentos para o nascituro. Alimentos são direitos
patrimoniais. Cristiano Chaves: neste caso, defendo que seria uma exceção e que o nascituro já titularizaria direito patrimonial à
pensão alimentícia. No entanto, esta lei apresenta um conflito entre os arts.1º e 6º. Art.1º: o credor dos alimentos gravidicos é a
gestante (a legitimidade, portanto, seria da gestante); art.6º: fixados os gravidicos e sobrevindo o nascimento com vida, sem
impugnação da paternidade, os gravídicos se convertem automaticamente em pensão alimentícia ao nascituro. Daí se poder
concluir que os alimentos gravídicos seriam para o nascituro. A jurisprudência tem aceitado a legitimidade tanto da gestante
quanto do nascituro.
Os direitos do nascituro alcançam o embrião laboratorial/criogenizado? Não. A lei de biossegurança (Lei 11.105/05), em
seu art.5º, foi declarado constitucional pelo STF (ADIn 3510). Este artigo diz que o embrião congelado ficará guardado pelo prazo
máximo de 3 anos; findo este prazo, ou o casal tem interesse em uma nova reprodução ou será descartado pelo
encaminhamento do embrião à pesquisa com células-tronco. Se ele pode ser encaminhado à pesquisa, não possui direitos da
personalidade.
Possibilidade de aborto de feto anencefálico reconhecida pelo STF.

ATENÇÃO! O embrião de laboratório não possui direitos da personalidade, mas o art.1798 permite a participação do embrião de
laboratório em sucessão legítima ou testamentária, se vier a nascer com vida durante o prazo prescricional da petição de
herança (que é de 10 anos).

A capacidade civil

Os conceitos de personalidade, capacidade jurídica e legitimação: noções gerais

Personalidade é o reconhecimento de uma proteção mínima/fundamental. Toda pessoa tem personalidade. Quem
dispõe de personalidade merece uma proteção mínima, deferida pelos direitos da personalidade. Quem tem personalidade
pode também ter capacidade.
Capacidade jurídica é a possibilidade de titularizar atos jurídicos, ser sujeito de direito. Capacidade jurídica é uma
consequência da personalidade. A capacidade jurídica pode ser: de direito/de gozo ou de fato/de exercício (titulariza ato jurídico
pessoalmente). Todo aquele que tem personalidade tem capacidade jurídica, mas a recíproca não é verdade (como os entes
despersonalizados: possuem capacidade jurídica, mas não personalidade jurídica). Capacidade jurídica de direito + de fato =
capacidade jurídica geral/plena.
Legitimação é um plus na capacidade jurídica; é um requisito específico exigido das pessoas capazes para a prática de
atos específicos. Ex: pessoa casada, quando quiser vender bem imóvel, deve ter o consentimento do cônjuge, exceto se casado
no regime de separação absoluta. Ex 2: alienação de bem imóvel pertencente a incapaz precisa de autorização judicial com
oitiva do MP.

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De direito/de gozo Todos que tem personalidade jurídica também tem capacidade de direito.
CAPACIDADE
JURÍDICA
De fato/de exercício Titulariza ato jurídico pessoalmente. A teoria das incapacidades incide
sobre a capacidade de fato!

CAPACIDADE JURÍDICA
GERAL/PLENA

Teoria das incapacidades: capacidade de fato e capacidade de direito

A capacidade de direito/gozo é titularidade para praticar atos jurídicos. Todos que tem personalidade jurídica tem
capacidade de direito.
Quem tem capacidade de direito pode ou não ter capacidade de fato, podendo ou não praticar os atos jurídicos
pessoalmente.
A teoria das incapacidades incide sobre a capacidade de fato/exercício.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência mudou tudo o que você já aprender sobre este assunto.

Art.3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

Art.4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:


I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV - os pródigos. - aquele que dilapida o patrimônio ao ponto de comprometer a própria dignidade.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.

Quem defende os indios é a FUNAI, na defesa individual do índio; e o MPF, na defesa coletiva dos índios.

A questão da responsabilidade civil do incapaz

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou
não dispuserem de meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz
ou as pessoas que dele dependem.

Sua responsabilidade é subsidiária (só responde se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação ou não
puderem responder) e condicionada (desde que não comprometa sua própria subsistência).
A emancipação ou maioridade civil não implica na exoneração automática de alimentos.
Súmula 358 STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial,
mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

DE OLHO NA JURIS! A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é SUBSIDIÁRIA, CONDICIONAL, MITIGADA e
EQUITATIVA. Os incapazes (ex: filhos menores), quando praticarem atos que causem prejuízos, terão responsabilidade
subsidiária, condicional, mitigada e equitativa, nos termos do art.928 do CC.
SUBSIDIÁRIA: porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima.
CONDICIONAL E MITIGADA: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante.
EQUITATIVA: tendo em vista que a indenização não deverá ser equânime, sem a privação do mínimo necessário para a
sobrevivência digna do incapaz.
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será SUBSTITUTIVA, EXCLUSIVA e NÃO SOLIDÁRIA.
STJ, 4ª Turma. REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017.

A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o pai do garoto não sendo necessário incluir
o adolescente no polo passivoo
A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o pai do garoto não sendo necessário incluir
o adolescente no polo passivo Em ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há litisconsórcio necessário entre o genitor
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responsável pela reparação (art. 932, I, do CC) e o menor causador do dano. É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e
liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito, intente ação
contra ambos – pai e filho –, formando-se um litisconsórcio facultativo e simples. Ex: Lucas, 15 anos de idade, brincava com a
arma de fogo de seu pai e, por imprudência, acabou acertando um tiro em Vítor, que ficou ferido, mas sobreviveu. Vítor ajuizou
ação de indenização por danos morais e materiais contra João (pai de Lucas). Não era necessário que Vítor propusesse a ação
contra João e Lucas, em litisconsórcio. Vale a pena esclarecer, no entanto, que seria plenamente possível que o autor (vítima)
tivesse, por sua opção e liberalidade, ajuizado a ação contra ambos (pai e filho). Neste caso, teríamos uma hipótese de
litisconsórcio: facultativo e simples. STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info
599).

Espécies de incapacidade: a incapacidade etária e incapacidade psíquica. Critérios determinantes do CC/02

Etária: menor de 16 anos (absolutamente incapaz) + maior de 16 e menor de 18 anos (relativamente incapaz).
Psíquica: aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade
No primeiro segundo do dia que você nasceu, você faz aniversário/muda de idade (é irrelevante o horário).
O critério psíquico não é objetivo; daí se exigir decisão judicial, com perícia médica obrigatória. Esta decisão se dará no
procedimento especial de curatela (em procedimento de jurisdição voluntária). Este procedimento foi alterado
substancialmente pelo NCPC e pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Legitimidade para a curatela:


NCPC: Art. 747. A interdição pode ser promovida:
I - pelo cônjuge ou companheiro;
II - pelos parentes ou tutores;
III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando (MELHOR USAR O TERMO “CURATELANDO”);
IV - pelo Ministério Público.
+ ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA (EPCD): própria pessoa a ser curatelada;
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência foi publicado depois do NCPC e prevê como legitimado para requerer a curatela a
própria pessoa a ser curatelada.

NCPC: Art. 748. O Ministério Público SÓ promoverá interdição em caso de doença mental grave:
I - se as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não existirem ou não promoverem a interdição;
II - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas nos incisos I e II do art. 747.

CC, Art. 1.769. O Ministério Público somente promoverá o processo que define os termos da curatela:
I - nos casos de deficiência mental ou intelectual;
II - se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas designadas nos incisos I e II do artigo antecedente;
III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pessoas mencionadas no inciso II.
Este artigo foi revogado pelo NCPC, mas o Estatuto da Pessoa com Deficiência alterou este artigo e daí impôs uma nova
legitimidade.
O despacho do juíz cita o curatelando para ser entrevistado. Esta entrevista é obrigatória.

DE OLHO NA JURIS! Nulidade do processo de interdição pela não realização do interrogatório (entrevista)
Necessidade de nomear curador especial ao interditando mesmo que o MP esteja atuando como fiscal da ordem jurídica O
CPC/1973 previa que quando a interdição fosse requerida pelo Ministério Público, o juiz deveria nomear ao interditando curador
à lide. Assim, em caso de ação de interdição proposta pelo MP não havia dúvida, o juiz deveria obrigatoriamente nomear
curador à lide (curador especial). E no caso de ação de interdição proposta por outro legitimado (diferente do MP)? Nesta
situação era necessário nomear curador à lide?
1ª corrente: NÃO. Não seria necessária a nomeação de curador à lide porque o próprio MP já iria ser o responsável pela defesa
dos interesses do interditando. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
2/12/2014 (Info 553).
2ª corrente: SIM. A participação do MP como custos legis não supre a ausência de nomeação de curador à lide. Mesmo a ação
tendo sido proposta por outro legitimado, seria necessária a nomeação de curador à lide. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp
1.686.161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/9/2017 (Info 611).
Com o CPC/2015, não importa, para fins de curador especial, se a ação foi proposta ou não pelo MP. Se o interditando não
apresentar advogado, o juiz deverá, obrigatoriamente, nomear curador especial mesmo que o autor da ação não tenha sido o
MP e mesmo que o Promotor de Justiça esteja atuando nos autos como fiscal da ordem jurídica. Nulidade do processo de
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interdição pela não realização do interrogatório (entrevista) O juiz poderá dispensar o interrogatório do interditando
(atualmente chamado de “entrevista”) argumentando que este é desnecessário diante das conclusões do laudo médico? NÃO.A
ausência de realização do interrogatório do interditando (atual “entrevista”) acarreta a nulidade do processo de interdição. O
interrogatório (entrevista) do interditando é medida que garante o contraditório e a ampla defesa de pessoa que se encontra
em presumido estado de vulnerabilidade. STJ. 3ª Turma.REsp 1686161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/9/2017 (Info
611).

CC, Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe multidisciplinar,
entrevistará pessoalmente o interditando.

NCPC, Art. 751. O interditando (CURATELANDO) será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o
entrevistará minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o
que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser
reduzidas a termo as perguntas e respostas.
§1º Não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde estiver.
§2º A entrevista poderá ser acompanhada por especialista.
§3º Durante a entrevista, é assegurado o emprego de recursos tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o interditando a
expressar suas vontades e preferências e a responder às perguntas formuladas.
§4º A critério do juiz, poderá ser requisitada a oitiva de parentes e de pessoas próximas.

Concluída a entrevista, abre o prazo de 15 dias para a resposta/impugnação do curatelando, que tem natureza de
contestação. Se não constituir advogado e se defender, deve ser nomeado curador especial. A curadoria especial se dá pela
Defensoria Pública (art.4º, XVI, LC 80/94). Nada impede que os parentes intervenham como assistentes.
NCPC, Art. 752. Dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da entrevista, o interditando poderá impugnar o pedido.
§1º O Ministério Público intervirá como fiscal da ordem jurídica.
§2º O interditando poderá constituir advogado, e, caso não o faça, deverá ser nomeado curador especial.
§3º Caso o interditando não constitua advogado, o seu cônjuge, companheiro ou qualquer parente sucessível poderá intervir
como assistente.

O curador especial pode contestar por negativa geral.


Depois, é realizado laudo médico obrigatório (art.1.771, CC e art.753, CPC/15).
Depois, é realizada prova oral, se necessário.
Concluída a produção de prova, intervenção do MP como fiscal da ordem jurídica (se não tiver sido o autor da ação de
curatela).
Após o parecer do MP, vem a prolação da sentença.

NCPC, Art. 755. Na sentença que decretar a interdição, o juiz:


I - nomeará curador, que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o estado e o
desenvolvimento mental do interdito;
II - considerará as características pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências.
§1º A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado.
§2º Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a
quem melhor puder atender aos interesses do interdito e do incapaz.
§3º A sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas naturais e imediatamente publicada na rede mundial de
computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça,
onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de
10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo
total a interdição, os atos que o interdito poderá praticar autonomamente.

CC, Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialidades da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às restrições
constantes do art. 1.782, e indicará curador.

CC, Art. 1.778. A autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens dos filhos do curatelado, observado o art. 5º.

CC, Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando
interdito.

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§1º Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar
mais apto.
§2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.
§3º Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador.

CC, Art. 1.775-A. Na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a
mais de uma pessoa.

REPRESENTANTE
CURADOR A depender das
ou
potencialidades do curatelado
ASSISTENTE

Esta sentença nomeia o curador e estabelece os limites da curatela, podendo gerar a nomeação de um representante
ou de um assistente, a depender das potencialidades do curatelado.
TSE, Resolução 21.920: o alisamento e o voto do curatelando é facultativo.

DE OLHO NA JURIS! Situações nas quais o magistrado deverá decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador
O art. 1.783 do CC prevê que se o curador for o cônjuge do curatelado e eles forem casados sob o regime da comunhão
universal, em regra, ele não será obrigado à prestação de contas dos bens administrados durante a curatela, “salvo
determinação judicial” que o obrigue a prestar. O STJ identificou duas situações nas quais o juiz poderá determinar a prestação
de contas. Assim, o magistrado poderá (deverá) decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse
prevalente do curatelado e a proteção especial do interdito quando: a) houver qualquer indício ou dúvida de malversação dos
bens do incapaz, com a periclitação de prejuízo ou desvio de seu patrimônio, no caso de bens comuns; e b) se tratarem de bens
incomunicáveis, excluídos da comunhão, ressalvadas situações excepcionais. STJ. 4ª Turma. REsp 1515701-RS, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 637).

Contra a decisão que fixa a curatela, cabe apelação, mas a sentença produz efeitos desde logo. Portanto, a apelação
terá efeito meramente devolutivo.

CC, Art. 1.773. A sentença que declara a interdição produz efeitos desde logo, embora sujeita a recurso.

Validade dos atos praticados pelo curatelado antes da sentença de curatela. STJ: se o ato foi praticado com terceiro
de boa-fé e não causou prejuízo ao incapaz, o ato é válido. Só se invalida o ato se o ato foi praticado de má-fé e produziu
prejuízo.
Na sentença de curatela, o juiz deve estabelecer a extensão da curatela. Tudo o que não estiver na sentença, o
curatelando poderá fazer.
A curatela pode ser levantada.
NCPC, Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou.
§1º O pedido de levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público e será
apensado aos autos da interdição.
§2º O juiz nomeará perito ou equipe multidisciplinar para proceder ao exame do interdito e designará audiência de instrução e
julgamento após a apresentação do laudo.
§3º Acolhido o pedido, o juiz decretará o levantamento da interdição e determinará a publicação da sentença, após o trânsito em
julgado, na forma do art. 755, § 3o, ou, não sendo possível, na imprensa local e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo
de 10 (dez) dias, seguindo-se a averbação no registro de pessoas naturais.
§4º A interdição poderá ser levantada parcialmente quando demonstrada a capacidade do interdito para praticar alguns atos da
vida civil.

DE OLHO NA JURIS! O rol de legitimados para propor a ação de levantamento de curatela, previsto no art. 756, § 1º do CPC/2015,
não é taxativo
O motivo que levou o juiz a decretar a curatela pode deixar de existir. Neste caso, deverá ser ajuizada uma ação para
levantamento da curatela. É o que prevê o art. 756 do Código Civil: Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que
a determinou. § 1º O pedido de levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público
e será apensado aos autos da interdição. O rol de legitimados para propor a ação de levantamento de curatela, previsto no art.
756, § 1º do CPC/2015, não é taxativo. Exemplo: João foi atropelado por um veículo conduzido por funcionário da empresa “X”.
Em razão das sequelas sofridas, João foi interditado. Em ação de indenização movida por João contra a empresa, a ré foi
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condenada a pagar pensão mensal vitalícia em virtude de, supostamente, o autor não poder mais trabalhar. Passados alguns
anos, a empresa “X” ajuizou ação de levantamento da curatela em face de João ao fundamento de que há prova, posterior à
sentença de interdição, que atestaria que o interdito não possui mais a enfermidade que justificou a sua interdição. Por
entender que existem elementos probatórios suficientes para demonstrar que o interdito não possui mais a patologia que
resultou em sua interdição, o que poderia gerar também a cessação da pensão vitalícia, o STJ concluiu que a empresa, mesmo
não estando no rol do art. 756, § 1º do CPC/2015, possui legitimidade para o ajuizamento da ação de levantamento da curatela.
STJ. 3ª Turma. REsp 1735668-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018 (Info 640).

Há diferentes tratamentos para pessoas com deficiência física, mental ou intelectual. Em regra, a pessoa com
deficiência tem capacidade plena. Excepcionalmente, a pessoas com deficiência pode se encaixar na hipótese de incapacidade
relativa, podendo ser curatelada, com nomeação de representante ou assistente.
Tomada de decisão apoiada (TDA): entre a curatela e plena capacidade - art.1783-A, CC: é um procedimento de
jurisdição voluntaria, pelo qual (apenas) própria pessoa requerer a ajuda de duas pessoas que lhe são próximas. O ato praticado
sem o apoiador é válido. O apoiador não é assistente nem representante. O apoiador é aquele que acompanha aquele que é
plenamente capaz, mas que, por conta de alguma deficiência, precisa de um apoio. Para a nomeação do apoiador, deve ser
ouvido uma equipe interdisciplinar e o MP.

PLENA CAPACIDADE

TOMADA DE DECISÃO APOIADA (TDA)

CURATELA

DE OLHO NA JURIS! Morte do interditando não acarreta, por si só, a extinção da ação de exigir contas ajuizada por ele
A morte do interditando no curso de ação de interdição não implica, por si só, a extinção do processo sem resolução de mérito
da ação de exigir contas por ele ajuizada mediante seu curador provisório, tendo o espólio legitimidade para prosseguir com a
ação de exigir de contas. STJ. 3ª Turma. REsp 1444677-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/5/2016 (Info 583).

A ordem de legitimados para o ajuizamento de ação de interdição NÃO é preferencial


Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um processo judicial, de jurisdição voluntária, regulado pelos
arts. 1.177 a 1.186 do CPC 1973 (arts. 747 a 758 do CPC 2015). Esse processo é iniciado por meio de uma ação de interdição. O rol
dos legitimados para propor ação de interdição está descrito no art. 1.177 do CPC 1973 (art. 747 do CPC 2015). Esse rol é
preferencial? NÃO. A ordem de legitimados para o ajuizamento de ação de interdição NÃO é preferencial. O inciso II do art. 1.177
do CPC 1973 (art. 747 do CPC 2015) fala em “parente”. Isso abrange também os parentes por afinidade? SIM. Qualquer pessoa
que se enquadre no conceito de parente do Código Civil é parte legítima para propor ação de interdição. Como afinidade gera
relação de parentesco (art. 1.595 do CC), nada impede que os afins requeiram a interdição e exerçam a curatela. STJ. 3ª Turma.
REsp 1346013-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/10/2015 (Info 571).

Internação compulsória para pessoa que já cumpriu medida socioeducativa


É possível determinar, no âmbito de ação de interdição, a internação compulsória de quem tenha acabado de cumprir medida
socioeducativa de internação, desde que comprovado o preenchimento dos requisitos para a aplicação da medida mediante laudo
médico circunstanciado, diante da efetiva demonstração da insuficiência dos recursos extra-hospitalares. STJ. 3ª Turma. HC
135271-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17/12/2013 (Info 533). STJ. 4ª Turma. HC 169172-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 10/12/2013 (Info 533).

Cessação de incapacidade e emancipação

A incapacidade cessa pela cessação da causa que a originou. Se a incapacidade era baseada em causa etária, cessará
aos 18 anos. Se por motivo psicólogico, cessa com o levantamento da curatela.
O ordenamento preve a hipótese de emancipação, que é a antecipação da plena capacidade, em determinados casos.
A emancipação pode ser: à CAI MUITO EM PROVA!
i. Voluntária/por outorga: concedida pelo pai e mãe, por um só se o outro for morto/ausente, por escritura PÚBLICA,
INDEPENDENTE de homologação judicial, e registrada em cartório. Se for celebrado por ato particular, é nula a emancipação.
Esta emancipação voluntária exige que o emancipado tenha, ao menos, 16 anos.

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ii. Judicial: quando houver conflito entre os pais quanto à emancipação ou quando o menor estiver sob tutela. O menor
deve ter, ao menos, 16 anos.

iii. Legal: decorre da prática de em ato previsto em lei como incompatível com a condição de incapaz. Praticado o ato,
estará automaticamente emancipado. São os atos: casamento; exercício de emprego público efetivo; colação de grau em nível
superior; estabelecimento civil/comercial ou relação de emprego gerando economia própria.
A emancipação não é intermitente, ou seja, aquele que foi emancipado não volta a ser incapaz pela cessação do ato
que gerou a sua emancipação. Ex: quem emancipou pelo casamento aos 16 anos, se se divorciar aos 17 anos, não retorna à
incapacidade.
Se o casamento for nulo ou anulável, volta a ser incapaz? Se for nulo, nunca produziu efeitos e, portanto, não houve
emancipação, SALVO na hipótese de casamento putativo (art.1561, que é o casamento de boa-fé); para quem estiver de boa-fé,
vale a emancipacao. Se for anulavel, produz efeitos até a anulação; o casamento anulável emancipa, porque produziu efeitos.
Responsabilidade civil do menor emancipado. O CC silenciou sobre o tema. Vai depender do tipo de emancipação. Se a
emancipação foi voluntária ou por decisão judicial, os pais continuam respondendo solidariamente com o emancipado; se a
emancipação foi lega, cessa a responsabilidade dos pais.

CC, Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida
civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com
dezesseis anos completos tenha economia própria.

Fim da pessoa natural: a morte

Critério jurídico da morte, segundo a lei de transplantes (Lei 9.434/97): morte encefálica.
Com a morte, decorrem efeitos jurídicos:
i. no campo processual, art.313, CPC/15 - morte da parte, representante, assistente ou advogado —> suspensão
automática do processo e dos prazos, independentemente de decisão judicial.
ii. no CP, art.107 —> a morte gera a extinção da punibilidade.
iii. no direito civil, dissolve o casamento, abre a sucessão, extingue os contratos personalíssimos, cessa o poder familiar,
por ex.
Como se detecta que alguém morreu? Para efeitos civis, a detecção da morte tem uma regra geral e duas exceções.
Regra geral: morte real, aquela declarada por um médico a luz de um cadáver. A declaração do médico gera a certidão
de óbito. Para aqueles que são enterrados em casa (mais comum no interior), a lei prevê o procedimento de justificação do
óbito, que ocorre quando alguém foi sepultada sem a certidão de óbito. Este procedimento se dá perante o juiz de registros
públicos.
Exceção 1: morte presumida sem ausência - é uma morte sem cadáver. Arts.88 da Lei de Registros Públicos e art.7º do
CC.
Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; - ex: tsunami, world trade center.
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até 2 anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e
averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

Exceção 2: morte presumida por ausência, que se dá por meio do procedimento trifásico de declaração de ausência.
Fases:
i. Fase declaratória: declaração de ausência (independe de prazo), que se dá por sentença. O juiz visa proteger os
interesses do ausente.
NCPC, Art. 744. Declarada a ausência nos casos previstos em lei, o juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear-lhes-á
curador na forma estabelecida na Seção VI, observando-se o disposto em lei.

ii. Sucessão provisória: pode ser requerida 1 ano contado da data da sentença que declarou a ausência, por qualquer
interessado ou MP. Por sentença, o juiz declara aberta a sucessão provisória. Nesta sentença, o juiz partilha o patrimônio
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arrecadado do ausente entre os seus sucessores. Se o ausente deixou procurador, será depois de 3 anos da data da ausência. A
transmissão do patrimônio se dá em caráter precário, não podendo praticar ato de disposição, salvo com autorização judicial. Só
se pode receber a herança em caráter precário se prestada caução. Esta caução é dispensada se se tratar de herdeiro necessário
(ascendentes, descendentes e cônjuge).
Sumula 331, STF: nessa transmissao precária, incide ITCMD.

iii. Sucessão definitiva: depois de 10 anos contados da sentença que determinou a sucessão provisória. O juiz manda
restituir a caução. Já se pode praticar ato de disposição. Mais 10 anos depois de declarada a sentença que abriu a sucessão
definitiva, profere-se nova sentença extinguindo o procedimento de ausência.
Este procedimento todo possui quatro sentenças e dura, pelo menos, 21 anos.
O art.1571, CC estabelece que, declarada a ausência, dissolve-se o casamento do ausente.
O art.6º do CC diz que os efeitos da ausência se dão através da sucessão definitiva.
O eventual retorno do ausente não se restabelece o casamento.
E se o ausente voltar, quais os efeitos ocorrem? Se na primeira fase, nada acontece, pois esta fase é protetiva. Apenas
cessa a nomeação do curador. Se na sucessão provisória, o ausente em direito aos bens no estado em que deixou; se houve
depreciação, tem direito à caução pelo que se deteriorar. Se voltou na última fase, tem direito aos bens no estado em que
deixou ou no que se sub-rogou em seu lugar. Se voltar depois da extinção, o ausente não tem direito a mais nada.

Resuminho:
• DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA à independe de prazo;
• SUCESSÃO PROVISÓRIA à pode ser requerida após 1 ano da declaração de ausência;
• SUCESSÃO DEFINITIVA à depois de 10 anos da decretação da sucessão provisória;
• EXTINÇÃO DO PROCEDIMENTO DE AUSÊNCIA à depois de 10 anos da decretação da sucessão definitiva.

Comoriência: presunção de simultaneidade de óbitos. Refere-se à tempo, e não a lugar. Com a comoriência, cessa a
transferencia de direitos entre os comorientes. Se os comoventes forem pai e filho, o neto receberá no lugar do filho.
CC, Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes
precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Aula 06

PESSOA JURÍDICA

A pessoa jurídica e a função social da empresa: empresarialidade responsável

A função social da empresa é um desdobramento da função social da propriedade, afinal, a empresa é uma
propriedade.
Função social interna e externa da pessoa jurídica. Externa: empresas que atuam no campo cultural precisam respeitar
a meia entrada de estudantes; toda e qualquer PJ precisa garantir a acessibilidade da pessoa com deficiência. Interna: empresas
que garantem participação nos lucros aos empregados.
TJ/SP: dissolução da Gaviões da Fiel Torcida Organizada, como punição por descumprir sua função social.

Noções conceituais

Pessoa jurídica é um grupo de pessoas (corporação) ou uma destinação patrimonial (fundação), tendente a uma
finalidade específica, e constituída na forma da lei.
Uma vez constituída a PJ, ela ganha autonomia.

CC: Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo
registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em 3 anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato
respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.

@dicasexconcurseira 30
Teoria da independência/autonomia

A PJ tem autonomia, personalidade e patrimônios próprios, distintos dos seus sócios.

CC, Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.

O NCPC incorporou, em seus art.98 e 99, entendimento jurisprudencial de que há a possibilidade de a PJ requerer a
gratuidade judiciária, devendo, para tanto, provar a impossibilidade de custear o processo sem o comprometimento de suas
atividades.
A separação de patrimônio dos sócios e da empresa ocorre depois do registro. Antes do registro, temos entes
despersonalizados (sociedade de fato). A responsabilidade civil dos entes despersonalizados é pessoal, solidária e ilimitada entre
seus componentes (não incide a teoria da separação patrimonial). Embora a lei não diga, os Enunciados 58 e 59, JDC admitem a
aplicação do benefício de ordem aos entes despersonalizados.

Classificação

i. Quanto à nacionalidade: leva em conta o local em que a PJ foi registrada.


a) Nacionais
b) Estrangeiras

A CF, ao tratar da ordem econômica, no art.176, estabelece certas atividades que só podem ser realizadas por PJ
brasileiras; ex: atividade de mineração.

ii. Quanto à função exercida: tudo o que não for de direito público, será de direito privado (critério de exclusão).
a) De direito público: externo ou interno.
b) De direito privado.

CC, Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:


I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.

Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito
privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público.

As sociedades de economia mista e empresas públicas, malgrado tenham a maioria do capital nas mãos do Estado, são
pessoas jurídicas de direito privado.

CC, Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: - rol exemplificativo
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas;
V - os partidos políticos.
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada - EIRELI.

O Brasil, vencendo o preconceito e enganação, forçando o empresário a formar uma sociedade por quotas fictícia, criou
a EIRELI. A EIRELI é a possibilidade de uma PJ ser composta por uma única pessoa, compondo uma empresa individual de
responsabilidade limitada. A EIRELI é exclusiva de pessoa física. Seu capital social mínimo é de, no mínimo, 100 salários mínimos,
não podendo utilizar seus direitos da personalidade para integralizar o capital social. Uma EIRELI pode funcionar como
microempresa ou empresa de pequeno porte (LC 123/06). Também é possível a desconsideração da personalidade jurídica da
EIRELI. A razão social deve trazer em seu nome “EIRELI" ou “empresa individual”. Não havendo esta referência, a
responsabilidade será pessoal e ilimitadamente.
@dicasexconcurseira 31
A Lei 13.247/2016 possibilitou a EIRELI no campo da advocacia, alterando o Estatuto da OAB. Uma empresa advocatícia
pode ser composta por um único sócio. Esta EIRELI é chamada de sociedade unipessoal, cuja estrutura é exatamente a mesma
da EIRELI. Mantém-se a proibição de que um mesmo advogado participe de duas sociedades de advogado ao mesmo tempo.
EIRELI no campo da advocacia à sociedade unipessoal (Lei 13.247/2016).

iii. Quanto a sua estrutura interna:


a) Destinação de patrimônio: universitas bonorum - fundações.
b) Agrupamento de pessoas: universitas personarum - corporações. As corporações se dividem em: sociedades (visam
obtenção de lucro, a ser repartido entre os sócios) e associações (atividades não lucrativas; o lucro é revertido para a própria
associação). As sociedades podem ser: simples (a presença do sócio é necessária; ex: dentista, arquiteto) ou empresárias (a
presença do sócio é irrelevante; ex: livraria, posto de gasolina).

Na nossa aula, abordaremos as associações e fundações. As sociedades simples e empresárias são estudadas pelo
direito empresarial.

As associações

Grupo de pessoas humanas com finalidade social. As associações defendem interesses comuns dos associados ou
interesses de alcance coletivo. As associações não repartem lucro entre os associados; o dinheiro apurado é reinvestido na
associação. Todos os associados tem direitos, mas nada impedem que tenham vantagens diferenciadas. Não pode haver
associado sem nenhum tipo de direito.
A qualidade de associado é personalíssima e intransmissível, salvo disposição em contrário do próprio estatuto da
associação.
Os dois pontos mais importantes sobre as associações:
i. Um associado pode ser excluído da associação: CC, Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa
causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.
ii. O patrimônio residual de uma associação vai para onde? Primeiro, deve-se lembrar que um associado, às vezes, para
se associar, deve pagar um valor (jóia ou fração ideal, que é a taxa de adesão; e que não se confunde com a taxa de
manutenção). Se houve pagamento de taxa de adesão, quando o associado sair, for excluído ou se a associação se extingue,
deve ser devolvida a fração ideal. O que fazer com o patrimônio remanescente? i) O patrimônio residual fica para entidade não
lucrativa prevista no estatuto; ou ii) silente o estatuto, para uma outra associação de finalidade igual ou semelhante indicada
pela assembléia de associados; ou iii) não existindo associação de finalidade igual ou semelhante, destina-se à fazenda pública
do Estado, DF ou União.

CC, Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou
frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no
estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou
semelhantes.
§1º Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do
remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado
ao patrimônio da associação.
§2º Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas
condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou
da União.

DE OLHO NA JURIS! O art. 1.023 do CC, que trata da responsabilidade subsidiária dos sócios da sociedade simples, não se aplica
às associações civis
O Código Civil, ao tratar sobre a responsabilidade das sociedades simples, estabelece o seguinte: Art. 1.023. Se os bens da
sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo
cláusula de responsabilidade solidária. Esse dispositivo NÃO se aplica às associações civis. As associações civis são caracterizadas
pela união de pessoas que se organizam para a execução de atividades sem fins lucrativos. Sociedades simples são formas de
execução de atividade empresária, com finalidade lucrativa. STJ. 3ª Turma.REsp 1.398.438-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 4/4/2017 (Info 602).

As fundações à CAI BASTANTE EM CONCURSO PARA MP!


São destinações de patrimônio a uma certa finalidade. Toda fundação deve ser constituída sem finalidade lucrativa,
porque toda ela deve cumprir uma finalidade social.
O instituidor é obrigado a indicar a sua finalidade e, se quiser, o modo de administrá-la.
@dicasexconcurseira 32
Só pode ser criada por escritura pública ou testamento (particular ou público) e sua finalidade é vinculante (a finalidade
indicada no estatuto não pode ser alterada nunca).

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres,
especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: - CUIDADO! Doutrina: rol exemplificativo. No TJ/BA,
exigiu-se esse conhecimento e a alternativa correta era de que o rol era taxativo, devido à expressão "somente".
I – assistência social;
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III – educação;
IV – saúde;
V – segurança alimentar e nutricional;
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e
divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos;
VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos;
IX – atividades religiosas; e
X – (VETADO).

As 4 fases de uma fundação:


1. Fase de instituição/criação: o instituidor (titular do patrimônio) separa/afeta seu patrimônio para uma determinada
finalidade. OBS: art.548, CC - é nula a doação que comprometa a subsistência (doação universal) ou viole a legítima (art.549). Se
o patrimônio constituído for insuficiente, o patrimônio seguirá o caminho indicado pelo instituidor.
CC, Art.63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o
instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.
Quando o instituidor afeta o patrimônio, mas não o transfere:
CC, Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou
outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela, por mandado judicial. -
transferência forçada do patrimônio, por meio de tutela específica, requerida por qualquer interessado ou MP.

2. Fase de elaboração do estatuto: a elaboração do estatuto é de competência do próprio instituidor (elaboração


estatutária direta); mas o instituidor pode conferir a uma terceiro a elaboração do estatuto, no prazo assinalado (ou, não
havendo prazo assinalado, em 180 dias) - elaboração indireta/fiduciária. Se o terceiro não fizer, o MP pode elaborar o estatuto.

3. Fase de aprovação do estatuto: é o MP quem aprova o estatuto. Não há prazo para a aprovação. Nada impede, por
conta da Lei 13.151/2015, que alterou a redação do art.67, III, que se faça uma interpretação sistêmica e diga que o MP teria o
prazo de 45 dias sobre a aprovação do estatuto. Se quem elaborou o estatuto foi o MP, que vai aprová-lo é o Poder Judiciário,
por meio de jurisdição voluntária.
Se o MP negar aprovação ao estatuto, cabe impugnar no Judiciário.

4. Fase de registro: no cartório de pessoas jurídicas.

Uma vez criada a fundação, ela passa a tocar o interesse coletivo. Por isso, quem deverá fiscalizá-la é o MP. Quem
fiscaliza é o MP onde funcione a fundação (independentemente de onde a fundação tenha sido registrada). Se a fundação
funcionar em vários lugares, o MP de cada lugar é quem irá fiscalizar.
O Estatuto pode ser modificado - requisitos: aprovação de 2/3 dos componentes competentes para gerir a fundação +
não pode ser alterada a sua finalidade + aprovação pelo MP, no prazo de 45 dias (denegada a aprovação ou silente, é possível o
suprimento judicial).

CC, Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o
órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo
disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual
ou semelhante.

Se uma fundação privada receber dinheiro público, seus gestores podem responder perante a lei de improbidade.
Uma fundação pode ser cotista de uma sociedade empresarial, desde que pegue o lucro e reinvestido na própria
finalidade da fundação.

@dicasexconcurseira 33
Teoria da aparência e pessoa jurídica. A questão da citação.

A finalidade da teoria da aparência é proteger terceiros de boa-fé. É válida a citação da PJ na pessoa de quem
aparentemente detém poderes. Ex: no condomínio edilício, é válida a citação feita na pessoa do porteiro.
Responsabilidade civil pelos atos ultra vires (atos praticados com excesso de poder; ex: o diretor da empresa que
pratica um ato transbordando seus poderes): pela teoria da aparencia, a PJ responde pelos atos ultra vires, pois terceiros
acreditaram no gestor, no representante, no preposto. A PJ, depois, tem direito de regresso contra quem efetivamente causou o
dano.

Responsabilidade civil e penal da pessoa jurídica

No Brasil, há uma única hipótese de responsabilidade penal de PJ, que está na Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais).
Lembrando que não há mais a necessidade de se aplicar a teoria da dupla imputação. Hoje, há a desnecessidade de
demonstração do dolo através da presença simultânea do sócio da empresa no polo passivo da demanda penal.
Para PJ não cabe HC, mas sim o uso de MS.

As PJ’s de direito público respondem objetivamente (art.37, §6º, CF), enquanto que as PJ’s de direito privado
respondem, em regra, subjetivamente. O prazo prescricional para a PJ de direito privado ser responsabilizada é de 3 anos
(art.206, §3º, CC). Mas há casos em que pessoas jurídicas de direito privado respondem objetivamente - exs: dano ambiental,
dano ao consumidor.
ATENÇÃO! A Lei 12.846/13 que estabelece responsabilidade objetiva civil e administrativa às PJ’s pela prática de atos
contrários à Administração Pública, nacional ou estrangeira. Ex: fraude, suborno, propina. Esta responsabilidade pode ser
requerida pelo próprio Poder Público e pelo MP. As sanções que decorrem dessa responsabilidade objetiva pode ser: multa,
restituição de bens e valores, suspensão de atividades e até dissolução compulsória da PJ.
OBS: a responsabilidade objetiva também alcança as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público,
no que diz respeito à prestação de serviço público, conforme STF.
O STJ não admite a denunciação da lide pela PJ de direito público em relação ao agente causador do dano, pois, se
permitida fosse, estar-se-ia introduzindo o elemento subjetivo (culpa) indevidamente, atrasando a demanda.
O prazo prescricional para cobrar indenizações contra o Poder Público é de 5 anos.

PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO RESPONSABILIDADE OBJETIVA

+ PJ de direito privado prestadoras de serviço público, no que disser respeito ao serviço público (STJ)

PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO RESPONSABILIDADE SUBJETIVA à Prazo decadencial: 3 anos

Exceções (hipóteses de responsabilidade objetiva): dano ambiental e dano ao consumidor.

Desconsideração da personalidade jurídica ou teoria do disregard theory

CC, Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial,
pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa
jurídica. — TEORIA MAIOR OBJETIVA.

TEORIA MAIOR OBJETIVA (CC) Abuso da personalidade jurídica PJ como sendo obstáculo ao
ressarcimento dos prejuízos causados

desvio de Confusão
finalidade patrimonial

@dicasexconcurseira 34
Teoria maior x Teoria menor.
Para a teoria menor, toda e qualquer atribuição de responsabilidade ao sócio caracteriza desconsideração. Ex: o art.2º
da CLT (que fala de responsabilidade solidaria do sócio por dívida trabalhista da empresa) ou do art.134 do CTN são casos de
desconsideração da personalidade jurídica.
Para a teoria maior, só há desconsideração se se atende a um elemento específico previsto em lei, que pode ser o
elemento “culpa” (teoria maior subjetiva) ou sem ser culpa (teoria maior objetiva).
Art.28, §5º CDC: teoria menor - §5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade
for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.
STJ: a simples prática de ato ultra vires (excesso de mandato ou poder) não justifica, por si só, a desconsideração da
personalidade jurídica, mas viola a boa-fé e gera responsabilidade da empresa.
Desconsideração inversa da personalidade jurídica: desconsidera a pessoa do sócio para responsabilizar a pessoa
jurídica. Ex: pai que esconde seu patrimônio na empresa para prejudicar a pensão alimentícia do filho.
NCPC, Art.133, §2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica.

O pedido de desconsideração da personalidade jurídica é um incidente processual (arts.133 a 137, CPC/15). A


desconsideração não pode ser decretada de ofício. A desconsideração pode ser requerida pela própria PJ. A desconsideração da
personalidade jurídica pode ser requerida a qualquer tempo.
MARINONI: no CDC, a desconsideração pode se dar ex oficio.

CAI MUITO EM
CAPÍTULO IV
PROVA!
DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado A PEDIDO da parte ou do Ministério Público,
quando lhe couber intervir no processo.
§1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei.
§2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de
sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
§1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.
§2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial,
hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.
§3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do §2º.
§4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da
personalidade jurídica.

Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no
prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz
em relação ao requerente.

DE OLHO NA JURIS! A instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica não exige prova de inexistência
de bens do devedor
Nas causas em que a relação jurídica for cível-empresarial, a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica será regulada
pelo art. 50 do Código Civil. A inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não é condição para a desconsideração
da personalidade jurídica. O que se exige é a demonstração da prática de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial (art.
50 do CC). Assim, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica pode ser instaurado mesmo nos casos em que não
for comprovada a inexistência de bens do devedor. STJ. 4ª Turma. REsp 1729554/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
08/05/2018.

@dicasexconcurseira 35
Em caso de divórcio no qual se pede a desconsideração inversa da personalidade jurídica, deve-se incluir no polo passivo a
pessoa que teria participado do conluio com o cônjuge
A sócia da empresa, cuja personalidade jurídica se pretende desconsiderar, que teria sido beneficiada por suposta transferência
fraudulenta de cotas sociais por um dos cônjuges, tem legitimidade passiva para integrar a ação de divórcio cumulada com
partilha de bens, no bojo da qual se requereu a declaração de ineficácia do negócio jurídico que teve por propósito transferir a
participação do sócio/ex-marido à sócia remanescente, dias antes da consecução da separação de fato. STJ. 3ª Turma. REsp
1522142-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/6/2017 (Info 606).

Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica no Código Civil


O encerramento das atividades ou dissolução da sociedade, ainda que irregulares, não é causa, por si só, para a desconsideração
da personalidade jurídica prevista no Código Civil. STJ. 2ª Seção. EREsp 1306553-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
10/12/2014 (Info 554).

(I)legitimidade da pessoa jurídica para recorrer contra a decisão que determina a desconsideração
Em uma execução proposta pelo credor contra a empresa devedora, se o juiz determinar a desconsideração da personalidade
jurídica e a penhora dos bens dos sócios, a pessoa jurídica tem legitimidade para recorrer contra essa decisão, desde que o
recurso seja interposto com o objetivo de defender a sua autonomia patrimonial, isto é, a proteção da sua personalidade. No
recurso, a pessoa jurídica não pode se imiscuir indevidamente na esfera de direitos dos sócios ou administradores incluídos no
polo passivo por força da desconsideração. STJ. 3ª Turma. REsp 1421464-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2014
(Info 544).

Desconsideração inversa da personalidade jurídica


Se o sócio controlador de sociedade empresária transferir parte de seus bens à pessoa jurídica controlada com o intuito de
fraudar partilha em dissolução de união estável, a companheira prejudicada, ainda que integre a sociedade empresária na
condição de sócia minoritária, terá legitimidade para requerer a desconsideração inversa da personalidade jurídica, de modo a
resguardar sua meação. É possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica sempre que o cônjuge ou companheiro
empresário valer-se de pessoa jurídica por ele controlada, ou de interposta pessoa física, a fim de subtrair do outro cônjuge ou
companheiro direitos oriundos da sociedade afetiva. A legitimidade para requerer essa desconsideração é daquele que foi
lesado por essas manobras, ou seja, do outro cônjuge ou companheiro, sendo irrelevante o fato deste ser sócio da empresa. STJ.
3ª Turma. REsp 1236916-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2013 (Info 533).

Aula 07

Teoria dos Fatos Jurídicos (Parte I)

Os acontecimentos jurídicos

O que é o fato jurídico? É um acontecimento como outro qualquer e que é relevante para o mundo jurídico. Os fatos
que não interessam ao mundo jurídico são chamados de fatos ajurídicos.

A lógica do mundo jurídico: a fórmula para juridicização dos acontecimentos relevantes para o Direito

O que faz um acontecimento ser fato jurídico é a previsão normativa daquele fato: 1 - previsão normativa; 2 -
concreção; 3 - incidência; 4 - juridicização.
Previsão normativa
Norma Jurídica
Concepção

Suporte Fático Fato Jurídico


(acontecimentos) Incidência

Juridicização

@dicasexconcurseira 36
Definição do fato jurídico

"São acontecimento em virtude dos quais começa, se modificam ou se extinguem as relações jurídicas” (Caio Mário).
“São os acontecimentos de que decorrem o nascimento, a subsistência e a perda dos direitos contemplados em lei”
(Washington).
Pontes de Miranda desafiou ambos os conceitos anteriores. Para ele, fato jurídico não necessariamente produz efeitos,
a exemplo do testamento revogado. O testamento é um fato jurídico e, mesmo que ele seja revogado/não produza efeitos, ele
não deixa de ser um fato jurídico. Stolze, Tartuce, Cristiano Chaves: o fato jurídico não é aquilo que produz efeitos, mas aquilo
que pode produzir efeitos.
“São os fatos, ou complexos de fatos, sobre os quais incidiu a regra jurídica; portanto, o fato de que dimana, agora, ou
talvez mais tarde, talvez condicionamento, ou talvez nunca dimane eficácia jurídica” (Pontes de Miranda).

Os diferentes planos do mundo jurídico: existência, validade e eficácia - Escada Ponteana

O plano da existência —> plano do ser (ontológico).


O plano de validade —> plano normativo (legalidade).
O plano de eficácia —> plano de controle de efeitos (projeção da vontade sobre os efeitos).

No plano da existência, temos os pressupostos (elementos estruturais).


No plano da validade, temos os requisitos (elementos essenciais). Os defeitos do negócio jurídico estão neste plano.
No plano da eficácia, temos os fatores de controle (elementos acidentais). Ex: condição, termo.

EXISTÊNCIA SER (ontológico) PRESSUPOSTOS


(elementos estruturais)

VALIDADE NORMA JURÍDICA REQUISITOS


ESCADA PONTEANA (legalidade) (elementos essenciais)

CONTROLE DE EFEITOS FATORES DE


EFICÁCIA (projção da vontade sobre CONTROLE (elementos
os efeitos) acidentais)

ACONTECIMENTOS DA - Não passam pelo plano da validade


NATUREZA - Ocorrendo, passam logo para o plano da eficácia

Estes planos são autônomos e independentes. Em regra, para ter efeitos, é preciso existir e ser válido. Sem o plano da
existência, nada feito. Tendo existência, o acontecimento pode ter eficácia independentemente de ter validade, ex: pagamento
putativo (art.309, CC) - pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido e produz efeitos; neste caso, a boa-fé atuou no
plano da validade. O ordenamento confere validade a este pagamento. Ex 2: art.1561, CC - casamento putativo: o casamento
nulo ou anulável, celebrado de boa-fé, pode produzir efeitos. O casamento é existente, inválido, mas, se eu estiver de boa-fé, ele
produzirá efeitos. O ordenamento confere eficácia a este casamento (ele continua sendo inválido).
O negócio inexistente é um nada jurídico.
Os acontecimentos da natureza, tendo existência, não passam pelo crivo da validade, indo direto para o plano da
eficácia.

@dicasexconcurseira 37
A classificação dos fatos jurídicos e a controvérsia doutrinária

FATOS JURÍDICOS FATOS AJURÍDICOS


interessam ao ordenamento não interessam ao ordenamento

FATOS LÍCITOS FATOS ILÍCITOS


(civis e penais)

Ordinários
Fatos Humanos (Atos Fatos Naturais (Fatos
Jurídicos Lato Sensu) Jurídicos Strictu Sensu)
Extraordinários

Atos Jurídicos Negócio Jurídico


Strictu Sensu Amplo poder de criar
efeitos jurídicos
adesão a efeitos previstos na
norma. Ex: reconhecimento
São atos ou comportamentos humanos em que não houve vontade, ou, se
de paternidade Atos-Fatos Jurídicos (Pontes
houve, o dreito não a considerou.
de Miranda) Também conhecidos como “ato real”. Ex: doce comprado por uma criança.

Voluntários Involuntários

Classificação de Maria Helena Diniz

Para a maioria da doutrina, somente os atos humanos é que poderiam ser classificados em lícitos ou ilícitos. Os fatos da natureza
não poderiam ser classificados em lícitos e ilícitos. Mas Pontes de Miranda discorda e aponta como exemplo de ilícito decorrente
da natureza a avulsão (art.1.521, CC).
Segundo Pontes de Mirante, todo ato jurídico strictu sensu decorre da vontade humana (não existe ato jurídico stricto sensu
involuntário). Para o autor, os acontecimentos frutos do comportamento humano e cujos efeitos independem da vontade
humana são chamados de atos-fatos jurídicos.

Pontes de Miranda: ex de ilícito civil decorrente da natureza = avulsão (Art.1251, CC).


Para a maioria da doutrina, somente os atos humanos é que poderiam ser classificados em lícitos e ilícitos. Os fatos da
natureza não podem ser classificados em lícitos e ilícitos.
Fatos Humanos = atos jurídicos lato sensu.
Fatos naturais = fatos jurídicos sctricto sensu.

Fatos Humanos: atos jurídicos stricto sensu (adesão a efeitos previstos na norma jurídica) e negócios jurídicos (amplo
poder de criar efeitos jurídicos).

Pontes de Miranda: existem acontecimento que vem do comportamento humano e cujos efeitos são produzidos
independentemente da vontade do homem. A maioria dos autores posicionam estes acontecimentos dentro dos atos jurídicos
stricto sensu, subclassificando-os em voluntários e involuntários. Para Pontes de Miranda, esta classificação é errônea, pois todo
ato jurídico strictu sensu surge da vontade humana (não existe ato jurídico stricto sensu sem vontade). Daí Pontes de Miranda
criou a categoria dos Atos-fatos jurídicos.
Instituto da descoberta (encontrar coisa móvel alheia perdida): o CC diz que, independentemente da vontade do
descobridor, ele fará jus a uma recompensa (chamada de “achádego”). E se o descobridor não quiser essa recompensa? Poderá
renunciar ao achádego; assim, estarei renunciado um crédito; se eu for devedor, eu poderei estar fraudando credores.

@dicasexconcurseira 38
Classificação de cada categoria jurídica

Ato ilícito: estudaremos em uma aula exclusiva.


Fato jurídico strictu sensu, que são os fatos da natureza: aquele cujo suporte fático é um acontecimento da natureza,
sem a intervenção do homem. Ex: nascimento, morte. Estes fatos podem ser ordinários (esperados) ou extraordinários
(inusitados - ex: caso fortuito e força maior).
CC, Art. 734. O transportador responde (OBJETIVAMENTE) pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,
salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.
Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite da indenização.

CC, Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

Ato jurídico strictu sensu, que são acontecimentos que emanam do homem e que produzem efeitos desejados e
previstos em lei e que tais efeitos não podem ser modificados. Ex: reconhecimento de filho (a pessoa não pode reconhecer e
dizer que o filho não será seu herdeiro, não terá direito a alimentos, etc; afinal, os efeitos decorrentes da paternidade já estão
previstos em lei). A vontade é aderente, não criativa. O CC dedicou apenas um artigo ao ato jurídico strictu sensu.
CC, Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos (ATOS JURÍDICOS STRICTU SENSU), aplicam-se, no que
couber, as disposições do Título anterior (DO NEGÓCIO JURÍDICO).

O ato jurídico stricto sensu é irrevogável e irretratável, porque os efeitos estão na norma. Contudo, é anulável (nas
mesmas hipóteses de anulação de um negócio, é possível anular o ato jurídico stricto sensu). Posso ajuizar uma ação anulatória
por coação, por exemplo, para anular o reconhecimento de paternidade.
Ato-fato jurídico (classificação de Pontes de Miranda): decorre da conduta do homem, mas que produz efeitos
independentemente da vontade do homem. Maria Helena Diniz chama isso de ato jurídico strictu sensu involuntário (Pontes de
Miranda diz que não pode haver ato jurídico stricto sensu sem vontade). O exemplo de ato-fato jurídico é o
achádego/recompensa da descoberta.
Negócio jurídico: as partes podem escolher seus efeitos (autonomia da vontade).

O negócio jurídico

A autonomia da vontade correspondia a uma compreensão absolutista da vontade (a vontade era absoluta e ilimitada =
pacta sunt servanda). A autonomia da vontade evoluiu para AUTONOMIA PRIVADA, que encontra limites na boa-fé objetiva e na
função social do contrato.

AUTONOMIA DA VONTADE AUTONOMIA PRIVADA


Pacta sunt servanda Encontra limites na boa-fé objetiva e na função social do
contrato.

Regras de interpretação (art.109 - 116, CC): regra principal/de ouro e regras acessórias/combinantes à CAI MUITO!

Regra principal: a boa-fé objetiva.


CC, Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Boa-fé objetiva: comportamento, é o princípio da boa-fé, é cláusula aberta, norma de interpretação.


Boa-fé subjetiva: conhecimento, estado psicológico.
Proibição de alegação da própria torpeza é variável da boa-fé subjetiva
Venire contra factum proprium é variável da boa-fé objetiva.

Regras acessórias/combinantes:
i) Negócios formais/solenes (e imobiliários): a regra é que os negócios sejam consensuais, que se formam pela simples
declaração de vontade. Entretanto, em certos casos, a lei exige solenidade ou as próprias partes optam pela solenidade. Neste
caso, a solenidade integra a substância do ato, sob pena de nulidade.
CC, Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato.
Os negócios jurídicos imobiliários precisam ser celebrados por escritura pública. Exceção (art.108): não precisa ser por
escritura pública se o valor do imóvel não excede 30 salários mínimos. De qualquer forma, o instrumento particular deve ser
registrado no cartório para que se tenha a aquisição da propriedade do imóvel.

@dicasexconcurseira 39
CC, Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à
constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior
salário mínimo vigente no País.

ii) Negócios com reserva mental: é o propósito secreto/obscuro de não cumprir o que se está prometendo.
CC, Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que
manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
Este “salvo" é porque, neste caso, há simulação entre as partes e o negócio é nulo.

iii) Negócios celebrados pelo silêncio:


CC, Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração
de vontade expressa.
Silêncio pode produzir efeito: usos e circunstâncias autorizem + não se exija forma expressa. Ex: não se pode doar por
silêncio, mas é possível recebê-la pelo silêncio. Quando o silencio for admitido como manifestação de vontade, ele é chamado
de “silêncio eloquente”.

iv) Manifestação de vontade nos negócios:


CC, Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
linguagem.
v) Interpretação restritiva de negócios:
CC Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. + fiança, aval e negócios sancionatórios.

Súmula 214, STJ: O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.
A lei de locações (Lei 8.245/91, art.39) diz que o fiador fica vinculado até a efetiva devolução das chaves, mesmo
havendo prorrogação automática do contrato de locação.

vi) Interpretação do autocontrato (contrato consigo mesmo): quando a mesma pessoa figura em ambos os polos da
relação negocial: em um polo, em nome próprio; no outro polo, em nome alheio, por força de representação. Ex: quero vender
meu carro, mas estou sem tempo e concedo procuração a João para que este venda meu carro. João vende meu carro para ele
mesmo. Anulabilidade do autocontrato celebrado com prejuízo para o representado. Se a cláusula de autocontrato decorrer de
contrato de adesão ou de consumo, esse contrato será nulo.
Súmula 60, STJ: É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mútuario vinculado ao mutuante, no exclusivo
interesse deste.
CC Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por
conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os
poderes houverem sido subestabelecidos.

O NCPC e os negócios jurídicos processuais (art.190 e 191, CPC/15)

Historicamente sempre se admitiu os negócios jurodicos processuais, devido à autonomia privada e a atipicidade dos
negocios juridicos.

CC: Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.

CPC/15: Art.190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes
estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes
aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre
em manifesta situação de vulnerabilidade.
Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso.
§1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais,
devidamente justificados.
§2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido
designadas no calendário.

@dicasexconcurseira 40
Cabimento dos negócios jurídicos processuais, a partir da autonomia privada (direito ao autorregramento da vontade
no processo).
Exemplos de negócios jurídicos processuais bilaterais: calendário processual, acordo de suspensão do processo, escolha
de arbitramento como técnica de liquidação, convenção sobre o ônus da prova, escolha consensual do perito.
Exemplos de negócios jurídicos unilaterais: desistência de recurso, renúncia de prazo.
Exemplos de negócios jurídicos tácitos: prorrogação de competência do juízo relativamente incompetente, preclusão
(ato incompatível com a vontade de recorrer).
Exemplos de negócios jurídicos processual plurilaterais: sucessão processual voluntária.
Tudo isso sempre foi possível, mas hoje temos uma cláusula geral de negócios processuais atípicos, que está no art.190,
CPC/15.

Aula 08

Teoria do Fato Jurídico - Parte II

Os planos do negócio jurídico: existência, validade e eficácia

A existência está pressuposta na validade.


Pressupostos do plano da existência: agente, objeto, forma e vontade externada.
O Código é norma, é lei; então, o plano da norma é o da validade. O CC não trata do plano da existência. Razão pela
qual o plano da existência traz pressupostos para validade; olhando para a validade, pressupõe-se a existência.

Plano da validade e seus requisitos

São os pressupostos da existência adjetivados:

CC, Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
+ vontade externada livre e desembaraçada.

PLANO DA VALIDADE
PLANO DA EXISTÊNCIA
Agente CAPAZ
Agente
Objeto LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO ou
Objeto
DETERMINÁVEL
Forma
Forma PRESCRITA ou NÃO DEFESA EM LEI
Vontade externada
Vontade externada LIVRE E DESEMBARAÇADA

A invalidade do negócio jurídico

Resulta da violação de um dos requisitos de validade. O CC adotou o sistema binário/dualista de invalidade; de acordo
com esse sistema temos: a invalidade absoluta (nulidade) e a invalidade relativa (anulabilidade).

Nulidade (invalidade absoluta) Anulabilidade (invalidade relativa)

Por força de lei (ope leis) Por decisão judicial (ope judicis)

Não produz qualquer efeito jurídico Produz efeitos jurídicos até que sobrevenha a decisão
judicial anulatória

Interesse público Interesse privado

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Pode o juiz conhecer de ofício e o MP suscitar (quando Não pode ser conhecida de ofício pelo juiz ou provocada
participar do processo - art.178, CPC/15: interesse de pelo MP
incapaz ou conflito coletivo de posse de terra)

Não admite convalidação (embora admita conversão Admite convalidação pelos interessados pelos
substancial) interessados

Ação meramente declaratória Ação (des)constitutiva - ação anulatória

Imprescritível Prazos decadenciais para a propositura da ação


anulatória

Hipóteses de cabimento: arts.166 e 167, CC Hipóteses de cabimento: art.171, CC

Dica: as hipóteses de anulabilidade são duas: incapacidade relativa do agente e defeito do negócio jurídico. As demais
hipóteses são de nulidade.

CC, Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é ANULÁVEL o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. — defeitos do negócios
jurídicos.
Incapacidade relativa do agente
ANULABILIDADE/INVALIDADE
DO NEGÓCIO JURÍDICO Erro/ignorância

Defeitos do negócio jurídico Dolo

Coação

Estado de perigo

Lesão

Fraude contra credores/fraude pauliana

CC, Art. 166. É NULO o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

CC, Art. 167. É NULO o negócio jurídico SIMULADO, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Qualquer que seja o tipo de simulação (absoluta ou relativa; inocente/não danosa ou nocente/danosa) gera nulidade
sempre. Na simulação relativa, declara-se a vontade para produzir outro efeito; na simulação absoluta, declara-se a vontade
para não produzir nenhum efeito.

@dicasexconcurseira 42
DE OLHO NA JURIS! Simulação alegada pelo réu em sede de contestação
É nulo o compromisso de compra e venda que, em realidade, traduz-se como instrumento para o credor ficar com o bem dado
em garantia em relação a obrigações decorrentes de contrato de mútuo usurário, se estas não forem adimplidas. Trata-se de
simulação. Essa simulação poderá ser alegada pelo contratante/réu como matéria de defesa, em contestação, por se tratar de
nulidade absoluta. A alegação dessa simulação em contestação vale mesmo que o negócio jurídico tenha sido celebrado sob a
égide do Código Civil de 1916. STJ. 4ª Turma. REsp 1076571-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/3/2014 (Info 538).

Prazos decadenciais para as ações anulatória (invalidade relativa: incapacidade relativa do agente e defeitos do negócio
jurídico)

CC, Art. 178. É de 4 anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; OBS: na coação para casamento, o prazo de 4 anos começa a fluir da data da
celebração do casamento.
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

CC, Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser ANULADA pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros
necessários, até 2 anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.
Se estiver separado de fato, a doação é válida.

CC, Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este
de 2 anos, a contar da data da conclusão do ato.

Ex: CC, Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante
expressamente houverem consentido.

DE OLHO NA JURIS! Se a pessoa somente foi reconhecida como filha após a alienação ter acontecido, ela não poderá pleitear a
anulação com base no art. 496 do Código Civil
O reconhecimento de paternidade post mortem não invalida a alteração de contrato social com a transferência de todas as
cotas societárias realizada pelo genitor a outro descendente. STJ. 4ª Turma. REsp 1356431-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 8/8/2017 (Info 611).

Prazos decadenciais para anulação:


Regra 1: para as duas hipóteses genéricas —> 4 anos.
Regra 2: casos previstos em lei —> prazo em lei (ex: art.550 CC)
Regra 3: casos previstos em lei sem prazo —> 2 anos.

Aproveitamento da vontade (princípio da conservação): ratificação (art.172, CC), redução parcial (art.184, CC) e conversão
substancial (art,170, CC)

CC, Art.172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro. à RATIFICAÇÃO – nulidade relativa

CC, Art.184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se
esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da
obrigação principal. à REDUÇÃO PARCIAL – aplica-se a nulidade relativa ou absoluta.

ATENÇÃO! A redução parcial é possível nos negócios nulos e anuláveis.


S. 302, STJ: É nula a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

CC, Art.170. Se, porém, o negócio jurídico nulo (POR VICIO DE FORMA OU OBJETO) contiver os requisitos de outro, subsistirá este
quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

ATENÇÃO! Somente os negócios nulos admitem a conversão substancial/recategorização, em caso de vício de forma ou
vício de objeto.
A conversão substancial será possível se:
i) Requisito subjetivo: existência de vontade válida manifestada em negócio nulo por vício na forma ou no objeto;

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ii) Requisito objetivo: existência outra categoria jurídica - válida na forma e no objeto - idônea ao recebimento da
vontade.
Ex: testamento público nulo pela forma, mas que tem uma vontade clara de deixar o bem para determinada pessoa à
conversão substancial/recategorização para “testamento particular”. A conversão substancial depende, sempre, de decisão
judicial e depende de provocação.

Defeitos do negócio jurídico à CAI EM PROVA! DECORE OS ARTIGOS DA LEI!

Erro ou ignorância.
O CC trata ambos de modos iguais: é a falsa percepção ou a falta de percepção. Alguém analisa mal os elementos
fundamentais de um negócio jurídico. No erro, a pessoa se engana sozinho.
Caracterização do erro - requisitos:
i. O erro deve ser principal/essencial/substancial/direto (deve recair sobre os elementos essenciais do negócio; ex:
pessoa compra relógio de bronze pensando que era de ouro) obs: o erro acidental não torna o negócio anulável; +
ii. Erro real: do erro deve decorrer prejuízo (econômico, jurídico, contratual);
iii. Erro escusável/descupável: à luz da boa-fé objetiva.

Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. - se o motivo/causa for
ilícito, é causa de nulidade.

Art. 139. O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído
nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.

Dolo.
É o erro provocado.
O dolo deve recair sobre as circunstâncias elementares da contratação (dolo direto/principal), de modo que, se ele não
recair sobre as circunstâncias essenciais, será chamado de dolo/acidental ou indireto (que pode gerar perdas e danos, e não a
anulabilidade) + o dolo deve ser real (do dolo deve decorrer prejuízo).

CC, Art.150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.

Dolo por omissão/reticência/dolo negativo: quando um contratante se omite a dar informações a outro, induzindo-o a
erro.

CC, Art.148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou
devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e
danos da parte a quem ludibriou.

Art.149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do
proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por
perdas e danos.

Coação.
Pode se apresentar de dois modos: coação física (vis absoluta) e coação psíquica (vis compulsiva). A coação física - ex:
alguém que tem a sua mão tomada para assinar um contrato - é causa de inexistência do ato jurídico (há ausência de vontade).
A coação psíquica é causa de anulabilidade.
A coação é uma ameaça, temor, de um mal atual ou iminente, sério, idôneo, dirigido contra o próprio declarante, o seu
patrimônio ou alguém de sua família. Para caracterização da coação, o juiz deve levar em consideração as condições pessoais do
coagido.
CC, Art.152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas
as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

CC, Art.153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.
@dicasexconcurseira 44
CC, Art.154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que
aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.

CC, Art.155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou
devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.
Na coação, seja representante legal ou convencional, o efeito será sempre a responsabilidade solidária. O legislador
considerou ser a coação mais grave do que o dolo, por isso atribui sempre responsabilidade solidária entre o representante e o
beneficiário da coação.

Lesão.
A pessoa celebra um negócio jurídico, assumindo uma prestação excessivamente onerosa, somente pela premente
inexperiência ou por necessidade.
Requisito objetivo: onerosidade excessiva.
Requisito subjetivo: premente necessidade ou inexperiência.

CC, Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a
redução do proveito.

STJ: o juiz, ao detectar a lesão, pode, ao invés anular o contrato, revisioná-lo para reduzir o proveito.
OBS: no CDC, a lesão gera nulidade e basta o requisito objetivo (onerosidade excessiva).

Estado de perigo.
Alguém assume uma prestação excessivamente onerosa para salvar a si ou a pessoa de sua família, de uma situação de
risco conhecida da parte contrária.
Elemento objetivo: onerosidade excessiva.
Elementos subjetivo: premente necessidade de salvar a si ou a pessoa de sua família de uma situação de risco
conhecida da parte contrária (dolo de aproveitamento).
No CDC, basta o elemento objetivo e é causa de nulidade.

CC, Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família,
de grave dano conhecido pela outra parte (DOLO DE APROVEITAMENTO), assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.

Fraude contra credores ou Fraude pauliana.


Quando alguém celebra um contrato com outrem com a intenção de prejudicar os credores de uma das partes, através
de seu esvaziamento patrimonial.
Elemento objetivo: eventus damini - é o esvaziamento patrimonial de uma das partes.
Elemento subjetivo: consilium fraudis - é o conluio fraudatório (a intenção de prejudicar credores).

Presunção de conluio fraudatório:


CC, Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por
eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus
direitos.
§1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.

STJ, S.195: Em embargos de terceiro não se anula o ato jurídico, por fraude contra credores. —> pois é necessária uma
ação anulatória.

A fraude à execução gera ineficácia do negocio em relação ao processo.


STJ: “Inexistindo registro de penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus da prova de que o terceiro adquirente
tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à insolvência”.
S.375, STJ: O reconhecimento de fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de
ma-fé do terceiro adquirente.

@dicasexconcurseira 45
Não precisa anular o negocio; o juiz autoriza a penhora onde estiver a coisa.
A fraude à execução pode caracterizar ato atentatório à dignidade da justiça.

DE OLHO NA JURIS! Requisitos para a fraude contra credores


A ocorrência de fraude contra credores exige: a) a anterioridade do crédito; b) a comprovação de prejuízo ao credor (eventus
damni); c) que o ato jurídico praticado tenha levado o devedor à insolvência e d) o conhecimento, pelo terceiro adquirente, do
estado de insolvência do devedor (scientia fraudis). 2. Agravo interno parcialmente provido. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp
1294462/GO, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado em 20/03/2018.

Fraude contra credores e requisito da anterioridade do crédito


Não é suficiente para afastar a anterioridade do crédito que se busca garantir (requisito exigido para a caracterização de fraude
contra credores) a assinatura de contrato particular de promessa de compra e venda de imóvel não registrado e
desacompanhado de qualquer outro elemento que possa evidenciar, perante terceiros, a realização prévia desse negócio
jurídico. Em outras palavras, para que haja a fraude contra credores, a dívida deve ser anterior à alienação realizada pelo
devedor. Caso esta alienação tenha sido feita por meio de instrumento particular, a data que será considerada como sendo a da
alienação não é aquela constante do contrato (porque seria muito fácil de falsificar), mas sim a data na qual este negócio
jurídico foi registrado no Cartório. Isso porque é com o registro da promessa de compra e venda no Cartório de Registro de
Imóveis que o direito do promissário comprador alcança terceiros estranhos à relação contratual originária. STJ. 3ª Turma. REsp
1217593-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/3/2013 (Info 518).

Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução para a pessoa
física
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do sócio devedor,
quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1391830-
SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015? Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC,
não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem
como marco a data da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração: Art. 792 (...) § 3º Nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se
pretende desconsiderar.

Impossibilidade de convalidação de negócio jurídico celebrado mediante a falsificação de assinatura de sócio


Não são convalidáveis os negócios jurídicos celebrados com o intuito de alterar o quadro societário de sociedade empresária por
meio da falsificação de assinatura de sócio, ainda que o próprio sócio prejudicado pelo falso tenha, por escritura pública,
concedido ampla, geral e irrevogável quitação, a fim de ratificar os negócios jurídicos. STJ. 3ª Turma. REsp 1368960-RJ, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 7/6/2016 (Info 585).

Fraude contra credores, alienações sucessivas e boa-fé do último adquirente


Em uma ação pauliana, se ficar comprovado que o bem foi sucessivamente alienado fraudulentamente para diversas pessoas,
mas que, ao final, o atual adquirente estava de boa-fé, neste caso deverá o juiz reconhecer que é eficaz o negócio jurídico por
meio do qual o último proprietário adquiriu o bem, devendo-se condenar os réus que agiram de má-fé a indenizar o autor da
pauliana, pagando o valor do bem que foi adquirido fraudulentamente. STJ. 4ª Turma. REsp 1100525-RS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 16/4/2013 (Info 521).

Aula 09

Nova Teoria dos Atos Ilícitos

A nova modelagem do ato ilícito no Código Civil

No CC/02, o ato ilícito está tratado nos art.186 a 188 (parte geral); e a responsabilidade civil (obrigação de indenizar) é
tratada no art.927 e segs.
Ato ilícito é a prática de um ato em desconformidade com a norma.
O efeito do ato ilícito não necessariamente é a responsabilidade civil.
No CC/02, temos dois tipos de ato ilícito: ato ilícito subjetivo (ou ato ilícito - art.186) e ato ilícito subjetivo (abuso do
direito - art.187). Esta divisão representa duas categorias de ilicitude.

@dicasexconcurseira 46
Quais efeitos decorrem do ato ilícito? (Desconstruindo a correlação entre o ato ilícito e responsabilidade civil). A
responsabilidade civil pode emanar de condutas lícitas, como nos casos de responsabilidade civil objetiva (por dano ambiental,
por dano nuclear, por ex). Assim como nem todo ato ilícito gera responsabilidade civil.
O ato ilícito pode produzir diferentes efeitos e isso vai depender da norma (é a norma que vai dizer qual é o efeito):
efeito indenizante, efeito invalidante (ex: contrato de transporte de substância entorpecente - afinal, é nulo o contrato cujo
objeto seja ilícito), efeito caducificante (quando a prática do ilícito gera a perda do direito - ex: pai que pratica castigos
imoderados em seu filho menor —> o pai pode sofrer a perda ou suspensão do poder familiar), efeito autorizante (ex: art.557,
CC possibilita a revogação da doação por ingratidão), etc.
É possível responsabilidade civil decorrente de ato ilícito. Ex: ato praticado em estado de necessidade —> é ato lícito,
mas se desse ato gerar um sacrifício de um bem jurídico pertencente a terceiro, que não tenha sido o causador do estado de
necessidade, haverá o dever de indenizar esse terceiro, com direito regressivo contra o causador do estado de necessidade. Se o
bem jurídico sacrificado pertencer ao próprio causador do estado de necessidade, não haverá o dever de indenizar.

Excludentes de ilicitude civil: pode ser objetiva ou subjetiva.


CC, Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. - estado de necessidade.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente
necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

OBS: A legítima defesa civil é somente a própria (não se admite a legítima defesa de terceiro, nem legítima defesa civil putativa).

ATENÇÃO! Dessas 3 causas excludentes de ilicitude, somente o estado de necessidade pode gerar responsabilidade civil. A
legítima defesa própria e o exercício regular de um direito sempre excluem a ilicitude e a responsabilidade civil.

O ato ilícito subjetivo (ou ato ilícito)

CC, Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência (culpa lato sensu = culpa + dolo), violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Ato ilícito subjetivo: violação culposa da norma jurídica = conduta + violação da norma + culpa + dano.

O dano é pressuposto do ato ilícito.


Premissa 1: o dano é elemento da ilicitude civil.
Premissa 2: nem todo ato ilícito produz responsabilidade civil.
Conclusão: nem todo dano é indenizável. Ex: STJ - cabe indenização por violação do dever de cuidado, mas não cabe
indenização por abandono afetivo. Mas o abandono afetivo pode caracterizar um ato ilícito, uma vez que o art.227, CF diz que
os pais devem dar aos filhos assistência moral e material.

O novo conceito de ato ilícito: o abuso do direito (ou ato ilícito objetivo)

CC, Art.187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Abuso do direito = exercício irregular de um direito + com manifesta violação da boa-fé objetiva, da função social/econômica ou
dos bons costumes.

O conceito de abuso do direito é objetivo: NÃO SE DISCUTE CULPA! O abuso do direito se atrela à confiança, à boa-fé
objetiva. A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito é OBJETIVA.
Jornada 37, JDC: A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente
no critério objetivo-finalístico.

Figuras parcelares do abuso do direito à CAI MUITO!

1. Venire contra factum proprium (proibição de comportamento contraditório ou teoria dos atos próprios)
Caracteriza-se por uma sequencia de dois atos: o primeiro ato pode ser comissivo ou omissivo; o segundo ato
necessariamente é comissivo. Há desconformidade entre os dois atos, violando a confiança e a expectativa da parte contrária. É
quando alguém pratica um ato depois de ter gerado a confiança de que não o faria.
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Ex: STJ, REsp 1.365.418/SP - o devedor voluntariamente oferece seu bem de família à penhora; depois de passar todo o
processo de execução, vem a alegar que é bem de família e que, portanto, o bem é impenhorável. Há abuso de direito por
proibição de comportamento contraditório.
STJ - aplica-se o venire contra factum proprium no âmbito do direito ambiental, como exigência de comportamento
probo da Administração Pública.
CUIDADO! Não se confunde vender contra fartum proprium com proibição de alegação da própria torpeza: nesta, opera
a boa-fé subjetiva. A pessoa sabe que teve um comportamento torpe e não pode dele se valer.

2. Supressio (Verwirkung) e Surrectio (Erwirkung)


Há sequência de dois atos: o primeiro é necessariamente omissivo, e o segundo ato é comissivo. Entre os atos há um
lapso temporal qualificado, gerando a expectativa que aquela segunda conduta não seria praticada; é uma omissão qualificada
no tempo. A supressio é a supressão da possibilidade de exercer um direito por conta de uma omissão qualificada no tempo. Ex:
CC, Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no
contrato.

STJ - caso dos condomínios edilícios: utilização de área comum (supressio para o condomínio e surrectio para o
condômino).

3. Tu quoque (ou estoppel)


Essa expressão vem da fala “Até tu, Brutus”, quando Julio César descobriu que seu filho, Brutus, participava de um
plano contra ele.
Caracteriza-se por uma sequência de dois atos: o primeiro é um ato ilícito subjetivo, e o segundo é um ato que seria
lícito, se não fosse antecedido pelo ilícito anterior.
Ex: a cláusula de exceção do contrato não cumprido (exceptio non adimplente contractus). Um dos contratantes não
cumpre a sua obrigação (pratica ato ilícito subjetivo) e depois vem exigir que a outra parte cumpra as suas obrigações.
Ex: arts.589 e 589, CC — senatus consulto macedoniano.
Art.588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do
mutuário, nem de seus fiadores.

Art.589. Cessa a disposição do artigo antecedente: (é possível cobrar o emprestimo ao menor)


V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente. (quando o menor omitiu sua idade).

4. Duty to mitigate the loss (o dever do credor de mitigar as próprias perdas)


É o abuso do direito de ser credor.
Ex: S.309, STJ: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentaste é o que compreende as 3 prestações
anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo. = art.528, NCPC.
Arts.536 e 537 do CPC/15 permitem ao juiz reduzir a multa diária fixada (astreintes) de ofício, para que essa multa não
se torne abusiva.

5. Substancial perfomance (adimplemento substancial ou inadimplemento mínimo)


Abuso do direito de requerer a resolução do contrato, no caso de a obrigação ter sido substancialmente cumprida.

6. Violação positiva de contrato (ou adimplemento fraco/ruim)


É o abuso do direito no cumprimento de um contrato, por decorrência do descumprimento dos deveres anexos pelo
credor decorrentes da boa-fé objetiva.
Ex: vender tv plasma sem informar que não seria possível transmitir o jogo em modo digital.

@dicasexconcurseira 48
Aula 10

Prescrição e Decadência

O tempo e o Direito
O tempo é um fenômeno jurídico relevante, porque pode servir para consolidar ou extinguir relações jurídicas. Quando
consolida relações jurídicas, chamamos de “usucapião”; quando serve para extingui-las, chamamos de “prescrição" ou
“decadência”. Aplicam-se à usucapião as regras da prescrição extintiva. Ex: as regras de suspensão e interrupção de prescrição
se aplicam à usucapião; assim, se não corre prescrição também não corre o prazo da usucapião; ex: não corre prescrição contra
o absolutamente incapaz e contra ele também não flui prazos de usucapião. Ex: não corre prescrição entre pai e filho durante o
poder familiar e, da mesma forma, o pai não pode usucapikr bem imóvel de filho durante o poder familiar.
OBS - EXCEÇÃO: existe uma hipótese em que corre a usucapião, apesar de não correr prescrição. Não corre a prescrição
entre cônjuges (+ companheiros) na constância do casamento (art.198); porém, o art.1240-A admite o usucapião familiar
(usucapião conjugal), que é a possibilidade de um dos cônjuges usucapir o imóvel urbano do outro, se houver abandono
familiar. Tecnicamente, é usucapião de meação.

Extingue relações jurídicas Prescrição e Decadência


TEMPO

Consolida relações jurídicas Usucapião

A correlação entre a prescrição e a decadência e as diferentes origens dos Direitos (direito subjetivo e direito potestativo)

Direito subjetivo —> confere ao titular a possibilidade de exigir de alguém um comportamento. Se este
comportamento tem conteúdo econômico, temos o direito subjetivo patrimonial; caso contrário, “direito subjetivo
extrapatrimonial”. Se este comportamento for exigido de uma pessoa certa e determinada, temos o direito subjetivo relativo;
mas, se exigível da coletividade, “direito subjetivo absoluto”. Se a pessoa de quem eu posso exigir um comportamento não
prestar este comportamento voluntariamente, surge, para mim, a pretensão de exigir judicialmente este comportamento.
Direitos potestativos —> confere ao titular o poder de produzir efeitos pela simples declaração de vontade. Assim, o
direito potestativo não admite violação, porque só depende do titular. Alguns direitos potestativos possuem prazo previsto em
lei para o seu exercício, outros não possuem.
Ex 1: crédito —> direito subjetivo, patrimonial e relativo.
Ex 2: propriedade —> direito subjetivo, patrimonial e absoluto.
Ex 3: direitos da personalidade —> direito subjetivo, extrapatrimonial e absoluto.
Ex 4: direito que o mandante tem de revogar o mandato, direito do cônjuge casado ao divórcio —> direito potestativo.
De acordo com o art.189, CC, prescrição é a perda de uma pretensão de exigir de alguém (pessoa certa e determinada)
um comportamento. Prescrição se refere a direitos subjetivos, patrimoniais e relativos. Os direitos subjetivos extrapatrimoniais
e absolutos não se submetem à prescrição.
A decadência somente se refere a direitos potestativos que tenha prazo em lei, pois é a perda de um direito que não foi
exercido no tempo.

Prescrição Perda de uma pretensão Direitos subjetivos, Interesse meramente


patrimoniais e relativos particular

Decadência ou caducidade Perda de um direito que Direitos potestativos com Interesse público subjetivo
não foi exercido no tempo prazo previsto para o seu
previsto exercício

Prescrição não é a perda do direito de ação; é a perda da pretensão. Se eu ajuízo uma ação de cobrança de dívida já
prescrita, o juiz vai extinguir o processo com resolução de mérito.
Decadência é a perda do próprio direito que não foi exercido no tempo e que a lei exige tempo para ser exercido.

Prescrição e a sua estrutura

É a perda de uma pretensão, que se refere a direitos subjetivos, patrimoniais e relativos.

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Características:
a) Admissibilidade de renúncia. Mas o sistema jurídico estabelece limites à renúncia da prescrição, quais sejam: i.
impossibilidade de prejudicar credores; ii. capacidade do renunciante; e iii. inadmissibilidade de renúncia antecipada (ninguém
pode renunciar aquilo que não tem).

CC, Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a
prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.

Renúncia tácita - ex: pagamento de dívida prescrita.


ATENCÃO! O juiz pode reconhecer a prescrição de ofício. Enunciado 295, JDC: a possibilidade de reconhecer prescrição
de ofício não afeta a possibilidade de renúncia.
Toda cláusula contratual prevendo renuncia antecipada de prescrição é nula, pois só é possível renuncia de prescrição
depois que esta é consumada.

b) Prazo de ordem pública


CC, Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.
Se a prescrição diz respeito a interesses particulares, por que as partes não podem alterar o prazo de prescrição?
Porque isso produziria, como consequência, uma renúncia antecipada de prescrição, para uma parte ou outra.

CC, Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os
arts. 205 e 206.
O cômputo do prazo prescricional começa com a violação do direito. Entretanto, há muito já se percebeu que esse
critério ignora que, em muitos casos, o conhecimento do titular sobre a violação do direito não surgiu no momento em que esse
direito foi violado. Foi assim que se construiu a teoria da actio nata: o prazo começa a fluir na data do conhecimento da violação
do direito. Neste sentido, o art.27 do CDC: Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por
fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do
dano e de sua autoria.
O STJ vem aplicando a teoria da actio nata, inclusive no âmbito do direito tributário.
Súmula 278, STJ: O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenizacoa, é a data em que o segurado teve
ciência inequívoca da incapacitade laboral.
Súmula 229, STJ: O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o
segurado tenha ciência da decisão.

c) Alegação a qualquer tempo ou grau de jurisdição


Só existe dois graus de jurisdição: órgão monocrático e órgão colegiado. Em sede de REsp, RExt ou recurso de revista,
só é possível discutir a prescrição se houver prequestionamento. Se as partes ainda não tinham alegado a prescrição, será
possível discuti-la em sede de REsp ou RExt? Em linha de princípio, não. Todavia, durante muito tempo o STJ terminou
admitindo a discussão de prescrição, mesmo sem prequestionamento, por força do efeito translativo do recurso (ou efeito
devolutivo profundo). Quando o REsp é admitido, abre-se uma instancia e aí poderia ser possível discutir tudo o que o juiz
poderia conhecer de ofício. Depois, o STJ mudou de opinião e passou a não admitir o efeito translativo (posição majoritária do
STJ) para discutir prescrição e decadência.

1ª Corrente: só é possível discutir a prescrição se houver prequestionamento.


Em sede de
REsp/RExt
2ª Corrente: pode discutir, mesmo sem prequestionamento, em razão do efeito translativo
(efeito devolutivo profundo)

d) Suspensão e interrupção do prazo.


Na suspensão, o prazo é paralisado e volta a correr de onde parou.
Na interrupção, haverá uma paralização, mas o prazo volta a fluir do zero.
Causas de suspensão —> arts.197, 198 e 199, CC (9 causas). Todas as causas de suspensão são extrajudiciais.
Causas de interrupção —> art.202, CC (7 causas). As causas interativas são judiciais.

CC, Art. 197. Não corre a prescrição: à CAUSAS SUSPENSIVAS


I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
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III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

Art. 198. Também não corre a prescrição:


I - contra os incapazes de que trata o art. 3º; à ABSOLUTAMENTE INCAPAZES
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:


I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.
CC, Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei
processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.

DE OLHO NA JURIS! Pedido do devedor de prazo para analisar se existe mesmo o débito não pode ser considerado como ato
que interrompe a prescrição (art. 202, VI, do CC)
O pedido de concessão de prazo para analisar documentos com o fim de verificar a existência de débito não tem o condão de
interromper a prescrição. STJ. 3ª Turma.REsp 1677895-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619).

Protesto cambial e confissão de dívida: embora estas causas sejam extrajudiciais, haverá interrupção da prescrição.
O rol de suspensão e interrupção da prescrição, segundo doutrina e jurisprudência, não é taxativo, em razão da regra
do contra non valentem agere non currit praescriptio (possibilidade de suspensão/interrupção da prescrição por caso fortuito ou
força maior, quando o titular não pode atuar, ex: ACV, coma, pessoas com deficiência mental sob curatela).
Qual é o momento em que se retoma a fluência da contagem do prazo de prescrição?
Se a causa é suspensiva —> quando cessada a causa que suspendeu.
Se a causa é interruptiva —> quando da prática do último ato do processo (que é a coisa julgada). Daí a S.150, STJ:
Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.
Se a causa é interruptiva mas não judicial (protesto cambial e confissão de dívida) —> a partir do dia seguinte à prática
do ato.

CPC/15, Art.240, §1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.

CAUSA INTERRUPTIVA à DESPACHO QUE ORDENA A CITAÇÃO;


MARCO INTERRUPTIVO à DATA DA PROPOSITURA DA AÇÃO.

S.106, STJ: Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da
justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.

CC, Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
E se o processo for extinto sem resolução do mérito? A propositura de uma nova demanda não interromperia
novamente a prescrição? Aqui, precisamos harmonizar o sistema. Esta regra do caput do art.202 só se aplica às causas não
judiciais interruptivas de prescrição (protesto cambial e confissão de dívida). As demais hipóteses judiciais interruptivas vão
interromper a prescrição tantas vezes quantas permitem a legislação processual, que é até 3 vezes (quando se dá a perempção).
É possível prescrição intercorrente no direito civil? A regra geral é a inadmissibilidade da prescrição intercorrente, pois
o titular do direito é o privado e quem demorou para julgar foi o Estado (seria injusto possibilitar a prescrição intercorrente).
Exceção: art.40 da Lei de Execuções Fiscais (aqui, o direito é do Estado e ele mesmo está demorando para julgar).

e) Conhecimento de ofício pelo juiz (art.487, II, CPC/15). Somente para direitos indisponíveis?
CPC/15, Art.487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;
@dicasexconcurseira 51
O STJ vem estabelecendo que o juiz pode conhecer a prescrição/decadência de ofício se, antes, intimar as partes. Este
entendimento se harmoniza com o art.10 do CPC/15.
Didier: o juiz só pode conhecer de ofício a prescrição, se se tratar de direito indisponível.

Prescrição e exceção substancial (art.190, CC). A prescrição como espada e a exceção substancial como escudo.
CC, Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.

A decadência e a sua estrutura

A decadência diz respeito a direitos potestativos que tem prazo em lei para seu exercício.
Características:
a) Impossibilidade de renúncia: pois é de interesse público.
b) Prazos de ordem pública e impossibilidade de sua modificação.
c) Pode ser alegada em qualquer tempo ou grau de jurisdição, nas instâncias ordinárias. Nas instâncias extraordinárias,
só é possível se houver prequestionamento.
d) Impossibilidade de suspensão ou interrupção. Exceção: art.208 - os prazos de decadência se suspendem em favor do
absolutamente incapaz. Os arts.26 e 27 do CDC preveem a possibilidade de suspensão de prazo decadencial quando o
consumidor reclama do vício na assistência técnica.
e) Deve ser conhecida de ofício pelo juiz. Com o CPC/15, o art.10 não permite ao juiz conhecer nenhuma matéria -
sequer aquelas conhecíveis de ofício - sem a prévia intimação das partes.

Decadência convencional/ decadência contratual ou decadência voluntária: é aquela decadência estipulada pelas
partes. Ex: prazo de garantia. Esta decadência não pode ser conhecida de ofício pelo juiz e admite renúncia.
CC, Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o
juiz não pode suprir a alegação.

Havendo decadência convencional, a decadência legal só começa a fluir quando concluído o prazo de decadência
convencional.
CC, Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve
denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência.

Prescrição e decadência e os diferentes tipos de ação (declaratória, constitutiva e condenatória)

Ações declaratórias: imprescritíveis.


Ações constitutivas: prazos decadenciais, quando previstos.
Ações condenatórias: prazos prescricionais.

Ações meramente declamatórias Não se extinguem (sem decadência Exs: investigação de paternidade e
ou prescrição) usucapião

Ações constitutivas Prazos decadenciais, se existirem. Ex: anulação de negócio jurídico (tem
Não havendo prazo, não se prazo decadencial) e divórcio (não
extinguem. tem prazo).

Ações condenatórias Prazos prescricionais. Ex: cobrança, indenizatórias e


execução de alimentos.

Súmula 149, STF: É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança.

CC, Art. 205. A prescrição ocorre em 10 anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

DE OLHO NA JURIS! Prazo prescricional para a repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços de
telefonia fixa não contratados: 10 anos
A ação de repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços não contratados de telefonia fixa tem
prazo prescricional de 10 (dez) anos. STJ. Corte Especial. EAREsp 738991-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/02/2019
(Info 651).

@dicasexconcurseira 52
Prazo prescricional na responsabilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontratual é de 3 anos
É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual. É adequada
a distinção dos prazos prescricionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.
Nas controvérsias relacionadas à responsabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de
prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do
CC/2002, com prazo de 3 anos. Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma
restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.
Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:
• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).
• Responsabilidade contratual (inadimplemento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1280825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

Prazos prescricionais (ações condenatórias) - art.206, CC.


Prazo de 1 ano Ex: cobrança de seguro

Prazo de 2 anos Ex: execução de alimentos

Prazo de 3 anos Ex: ações indenizatórias, por danos morais ou materiais

Prazo de 4 anos Ex: ações de prestações de contas contra tutor ou


curador

Prazo de 5 anos Ex: ações de cobrança, em geral

Prazo de 10 anos Ex: ações de petição de herança ou de sonegados

CUIDADO! CC, Art. 745. Em caso de informação inexata ou falsa descrição no documento a que se refere o artigo antecedente,
será o transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação respectiva ser ajuizada no prazo de 120 dias, a contar
daquele ato, sob pena de decadência. é prazo prescricional, pois é condenatória!

DE OLHO NA JURIS! Prazo prescricional da repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural
Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural?
• Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos.
• Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos. O termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento (efetiva
lesão). STJ. 2ª Seção. REsp 1361730-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 592).

Prazo de 3 anos para pretensão de entidade de previdência privada complementar de reaver verbas relativas a benefício
indevidamente apropriadas por terceiro
É de 3 anos o prazo prescricional de ação proposta por entidade de previdência privada complementar contra terceiro que se
apropriou indevidamente de verbas relativas a benefício previdenciário. Não há previsão específica para este caso na LC
109/2001, razão pela qual se aplica o art. 206, § 3º, IV, do Código Civil (pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem
causa). Ex: o segurado morreu e, como a entidade de previdência não foi informada, continuou a depositar, todos os meses, o
valor da aposentadoria; tais quantias foram sacadas indevidamente da conta bancária por uma sobrinha do falecido; a entidade
terá o prazo de 3 anos para reaver os valores. STJ. 4ª Turma. REsp 1334442-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão
Min. Raul Araújo, julgado em 7/6/2016 (Info 588).

Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner: 1 ano


É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do segurado, de indenização pela
deterioração de carga em navio por falha em contêiner. Aplica-se, neste caso, o art. 8º do Decreto-Lei 116/1967, que trata sobre
o prazo prescricional envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga. Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC
considerando que se trata de norma geral e, por isso, não revogou o art. 8º do DL nº 116/1967, que é considerado norma
especial. Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua vigente: Súmula 151-STF: Prescreve
em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio. STJ.
4ª Turma. REsp 1278722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/5/2016 (Info 586).

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Prazo prescricional da pretensão de cobrança de serviço de conserto de veículo por mecânico
Prescreve em 10 anos (art. 205 do CC) a pretensão de cobrar dívida decorrente de conserto de automóvel por mecânico que não
tenha conhecimento técnico e formação intelectual suficiente para ser qualificado como profissional liberal. Considera-se
profissional liberal aquela pessoa que exerce atividade especializada de prestação de serviços de natureza predominantemente
intelectual e técnica, normalmente com formação universitária, em caráter permanente e autônomo, sem qualquer vínculo de
subordinação. Na categoria dos profissionais liberais, incluem-se médicos, dentistas, advogados, engenheiros, arquitetos,
psicólogos, veterinários, agrônomo, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, economistas, contabilistas,
administradores, enfermeiros, professores etc. O mecânico não apresenta a necessária formação técnica especializada para que
incida o prazo prescricional quinquenal. STJ. 3ª Turma. REsp 1546114-ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
17/11/2015 (Info 574).

Prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha ação de indenização contra empresa de ônibus: 5
anos
É de 5 anos o prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha ação de indenização contra
concessionária de serviço público de transporte coletivo (empresa de ônibus). O fundamento legal para esse prazo está no art.
1º-C da Lei 9.494/97 e também no art. 14 c/c art. 27, do CDC. STJ. 3ª Turma. REsp 1277724-PR, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 26/5/2015 (Info 563).

Prescrição da pretensão de cobrança, entre advogados, de honorários advocatícios


Prescreve em 10 anos o prazo para que um advogado autônomo possa cobrar de outro advogado o valor correspondente à
divisão de honorários advocatícios contratuais e de sucumbência referentes a ação judicial na qual ambos trabalharam em
parceria. STJ. 3ª Turma. REsp 1504969-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/3/2015 (Info 557).

Pretensão de sociedade seguradora em face de ressegurador baseada em contrato de resseguro: 1 ano


Prescreve em 1 ano a pretensão de sociedade seguradora em face de ressegurador baseada em contrato de resseguro. STJ. 3ª
Turma. REsp 1170057-MG, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 17/12/2013 (Info 535).

Danos morais decorrentes de tortura no regime militar: imprescritível


As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar de exceção são
imprescritíveis. Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932. STJ. 2ª Turma. REsp
1374376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013. STJ. 1ª Turma. AgInt-REsp 1.524.498-PE. Rel. Min. Gurgel de
Faria, DJE 20/02/2019.

Plano de saúde recusou-se a custear tratamento do paciente e este foi obrigado a pagar o procedimento. Prazo para que o
paciente exija o ressarcimento
O plano de saúde recusou-se a custear o tratamento do paciente e este foi obrigado a pagar o procedimento. De quanto é o
prazo prescricional para que este paciente exija do plano de saúde o ressarcimento pelos valores pagos? R: 10 anos Não há
previsão específica de prazo prescricional para este caso. Logo, aplica-se a regra geral de 10 anos prevista no art. 205 do CC. STJ.
3ª Turma. REsp 1176320-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 19/2/2013 (Info 514).

Cobrança de anuidades pela OAB: 5 anos


Após a entrada em vigor do CC/2002, é de 5 (CINCO) anos o prazo de prescrição da pretensão de cobrança de anuidades pela
OAB. STJ. 2ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1267721-PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 11/12/2012 (Info 513).

Só se aplica o art. 200 do CC se houver IP ou ação penal


O Código Civil prevê a suspensão do prazo prescricional para a ação de reparação civil (ação de indenização) se o fato estiver
sendo apurado no juízo criminal. Veja: Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não
correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. Segundo a jurisprudência do STJ, só deve ser aplicado o art. 200 do
CC se já foi instaurado inquérito policial ou proposta ação penal. Se o fato não será apurado no juízo criminal, não há sentido do
prazo prescricional da ação cível ficar suspenso, até mesmo porque ficaria para sempre suspenso, já que, se não há ação penal,
não haverá nunca sentença penal. STJ. 3ª Turma. REsp 1180237-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
19/6/2012 (Info 500).

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Aula 11

Responsabilidade Civil (Parte I)


Assunto extremamente cobrado em provas! A jurisprudência
colacionada se refere aos anos de 2017 a 2019.

Distinções fundamentais entre ato ilícito e responsabilidade civil

Há uma correlação histórica, mas indevida, entre ato ilícito e responsabilidade civil. Isso porque o art.159, CC/16 dizia
que ato ilícito e responsabilidade civil teriam uma relação implicacional: todo ato ilícito gerava responsabilidade civil, e toda
responsabilidade civil era originada de um ato ilícito. O CC/02 desatrelou os conceitos de ato ilícito (art.186 e 187) e
responsabilidade civil (art.927) que, como se vê, estão topologicamente em locais distintos.
O ato ilícito nao necessariamente produz responsabilidade civil; ele pode produzir outros efeitos (caducificante,
invalidante, etc). Ao mesmo tempo, a indenização pode emanar de um ato lícito, como no estado de necessidade, quando a
coisa destruída da coisa for de coisa pertencente a terceiro que não o causador do estado de necessidade (arts.929 e 930, CC),
com direito regressivo contra o causador do perigo.
Tendências do Direito Civil a partir da nova tábua axiológica imposta pela CF/88 (arts.1º, III, 3º e 5º): a responsabilidade civil
como mecanismo de reparação de danos
O eixo central da responsabilidade civil saiu da culpa e passou para a reparação de danos. Na Argentina, a
responsabilidade civil é chamada de “direito dos danos”. Muito mais importante do que discutir a culpa é reparar o dano,
protegendo a pessoa humana.
Efeitos dessa nova visão: aumento das hipóteses de responsabilidade objetiva, flexibilização do nexo causal,
reconhecimento de novas categorias de danos indenizáveis.
A culpa sempre foi o elemento central da responsabilidade civil. A constitucionalização da responsabilidade civil fez
com que o elemento central saísse da "culpa" para a "reparação do dano”.

Conceito contemporâneo de responsabilidade civil

Conceito clássico: responsabilidade civil é a obrigação de reparar o dano causado ao patrimônio de outrem, por ato
próprio culposo (René Savatier).
Este conceito é insuficiente: a obrigação pode ser de prevenir o dano; o dano não é apenas patrimonial; o ato pode ser
de terceiro ou da coisa; o ato não necessariamente é culposo.
Conceito moderno: é o conjunto de medidas - preventivas e/ou reparatórias -, tendentes a evitar ou reparar um
prejuízo causado a outrem - patrimonial ou extrapatrimonial -, por ato próprio, fato de coisa que pertença ao devedor ou fato
de um terceiro, com base na culpa ou no risco da atividade exercida.

Espécies de responsabilidade

1. Responsabilidade contratual/negocial (arts.389 e 395, CC) e Responsabilidade extracontratual/aquiliana (arts.186 e 187,


CC)
A diferença está no dever jurídico violado. Se o dever jurídico violado foi assumido voluntariamente por um contrato,
trata-se de responsabilidade contratual. Se o dever jurídico violado foi imposto por lei, trata-se de responsabilidade
extracontratual/aquiliana. Qual das duas responsabilidades é mais grave? Qual é a que tem o maior desvalor? É mais grave
desrespeitar a lei ou aquilo que voluntariamente disse que ia cumprir? O desvalor maior é o da responsabilidade contratual, pois
descumpre o que a própria pessoa prometeu. É por isso que, no CC, a responsabilidade contratual se baseia em culpa
presumida. Enquanto que, na responsabilidade extracontratual, a culpa deve ser provada pelo agente.

RESPONSABILIDADE CONTRATUAL à culpa PRESUMIDA;


RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL à culpa DEVE SER PROVADA.

2. Responsabilidade civil do incapaz

CC, Art. 928. O incapaz (ABSOLUTA ou RELATIVAMENTE) responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis
não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. à responsabilidade SUBSIDIÁRIA
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz
ou as pessoas que dele dependem. à responsabilidade CONDICIONADA

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A responsabilidade civil é SUBSIDIÁRIA, porque só responderá se as pessoas por ele responsáveis não tiver obrigação de
fazê-lo (ex: quando o dano decorrer de um ato personalíssimo, como o art.112 c/c 116 do ECA —> medida socioeducativa à
adolescente infrator, como a reparação de danos) ou não dispuserem de meios suficientes (ex: são insolventes) e CONDICIONAL,
porque só se dará se não privar do necessário o próprio incapaz ou as pessoas que dele dependa.
É impossível ajuizar ação diretamente contra o incapaz, pois sua responsabilidade é subsidiaria (primeiro, tem que
demandar o representante ou assistente). Mas seria possível ajuizar a ação contra os dois em conjunto (litisconsórcio passivo
entre o incapaz e o representante/assistente)? A princípio, não, porque a responsabilidade civil é subsidiária (e não solidária).
Mas, e o litisconsórcio eventual/sucessivo…?: juiz, eu quero isto desta pessoa; se você não me der isto desta pessoa, eu continuo
querendo isto, mas agora daquela outra pessoa. Cristiano Chaves: acho que é possível, neste caso, litisconsórcio
eventual/sucessivo.
O art.928 abrange o relativa e o absolutamente incapaz.

DE OLHO NA JURIS! A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional, mitigada e
equitativa
A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional, mitigada e equitativa. Os incapazes
(ex: filhos menores), quando praticarem atos que causem prejuízos, terão responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada e
equitativa, nos termos do art. 928 do CC.
Subsidiária: porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima.
Condicional e mitigada: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante.
Equitativa: tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo necessário para a sobrevivência
digna do incapaz.
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não solidária. STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599).

A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o pai do garoto, não sendo necessário incluir
o adolescente no polo passivo
A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o pai do garoto, não sendo necessário incluir
o adolescente no polo passivo Em ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há litisconsórcio necessário entre o genitor
responsável pela reparação (art. 932, I, do CC) e o menor causador do dano. É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e
liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito, intente ação
contra ambos – pai e filho –, formando-se um litisconsórcio facultativo e simples. Ex: Lucas, 15 anos de idade, brincava com a
arma de fogo de seu pai e, por imprudência, acabou acertando um tiro em Vítor, que ficou ferido, mas sobreviveu. Vítor ajuizou
ação de indenização por danos morais e materiais contra João (pai de Lucas). Não era necessário que Vítor propusesse a ação
contra João e Lucas, em litisconsórcio. Vale a pena esclarecer, no entanto, que seria plenamente possível que o autor (vítima)
tivesse, por sua opção e liberalidade, ajuizado a ação contra ambos (pai e filho). Neste caso, teríamos uma hipótese de
litisconsórcio: facultativo e simples. STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info
599).

Não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente pelo fato de que ele não estava fisicamente ao
lado de seu filho no momento da conduta
Não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente pelo fato de que ele não estava fisicamente ao
lado de seu filho no momento da conduta O art. 932 do CC prevê que os pais são responsáveis pela reparação civil em relação
aos atos praticados por seus filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. O art. 932, I do CC, ao se
referir à autoridade e companhia dos pais em relação aos filhos, quis explicitar o poder familiar (a autoridade parental não se
esgota na guarda), compreendendo um plexo de deveres, como proteção, cuidado, educação, informação, afeto, dentre outros,
independentemente da vigilância investigativa e diária, sendo irrelevante a proximidade física no momento em que os menores
venham a causar danos. Em outras palavras, não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente pelo
fato de que ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no momento da conduta. STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599). Obs: cuidado com o REsp 1232011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 17/12/2015 (Info 575), precedente em sentido um pouco diverso envolvendo uma mãe que morava em outra
cidade.

Responsabilidade civil dos pais por danos causados por filho menor
A responsabilidade dos pais por filho menor (responsabilidade por ato ou fato de terceiro) é objetiva, nos termos do art. 932, I,
do CC, devendo-se comprovar apenas a culpa na prática do ato ilícito daquele pelo qual são os pais responsáveis legalmente (ou
seja, é necessário provar apenas a culpa do filho). Contudo, há uma exceção: os pais só respondem pelo filho incapaz que esteja
sob sua autoridade e em sua companhia; assim, os pais, ou responsável, que não exercem autoridade de fato sobre o filho,
embora ainda detenham o poder familiar, não respondem por ele. Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por
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seu filho menor de idade, residia permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor — sobre quem apenas o
pai exercia autoridade de fato — não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando
que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o filho. STJ. 3ª Turma. REsp 1232011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 17/12/2015 (Info 575).

Responsabilidade civil dos genitores pelos danos causados por filho maior esquizofrênico
Os pais de portador de esquizofrenia paranoide que seja solteiro, maior de idade e more sozinho, têm responsabilidade civil
pelos danos causados durante os recorrentes surtos agressivos de seu filho, no caso em que eles, plenamente cientes dessa
situação, tenham sido omissos na adoção de quaisquer medidas com o propósito de evitar a repetição desses fatos, deixando de
tomar qualquer atitude para interditá-lo ou mantê-lo sob sua guarda e companhia. STJ. 4ª Turma. REsp 1101324-RJ,Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, julgado em 13/10/2015 (Info 573).

Possibilidade de absolutamente incapaz sofrer dano moral


Determinado indivíduo é portador de doença mental grave (demência total e irreversível). Certo dia, a filha desse indivíduo
notou que houve saques indevidos (fraudulentos) que foram feitos de sua conta bancária por um terceiro. Foi proposta ação de
indenização por danos morais contra o banco. O absolutamente incapaz, mesmo sem entender seus atos e os de terceiros, pode
sofrer dano moral? SIM. O absolutamente incapaz, ainda quando impassível de detrimento anímico, pode sofrer dano moral. O
dano moral caracteriza-se por uma ofensa a direitos ou interesses juridicamente protegidos (direitos da personalidade). A dor, o
vexame, o sofrimento e a humilhação podem ser consequências do dano moral, mas não a sua causa. Dano moral: é a ofensa a
determinados direitos ou interesses. Basta isso para caracterizá-lo. Dor, sofrimento, humilhação: são as consequências do dano
moral (não precisam necessariamente ocorrer para que haja a reparação). STJ. 4ª Turma. REsp 1245550-MG, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 17/3/2015 (Info 559).

Pais de menor que causou acidente de trânsito possuem o dever de indenizar a vítima
Um menor, após ingerir bebida alcoólica, pegou o carro que pertencia à empresa de sua família e foi dirigir levando um amigo
no carona. O menor conduzia o automóvel em alta velocidade e, após perder o controle em uma curva, colidiu com um poste,
ocasionando graves lesões no amigo que resultaram, inclusive, na amputação parcial de um de seus braços. O STJ afirmou que
os pais e a empresa proprietária do veículo são responsáveis solidariamente pelo pagamento da indenização à vítima (amigo que
estava no banco do carona). Em regra, a responsabilidade civil é individual de quem, por sua própria conduta, causa dano a
outrem. Porém, em determinadas situações, o ordenamento jurídico atribui a alguém a responsabilidade por ato de outra
pessoa – como no caso em questão, em que cabe aos pais reparar os danos causados pelo filho menor, conforme prevê o art.
932 do Código Civil. Além disso, em matéria de acidente automobilístico, o proprietário do veículo responde objetiva e
solidariamente pelos atos culposos de terceiro que o conduz e que provoca o acidente. Assim, a empresa proprietária do veículo
também tem responsabilidade. A vítima terá que ser indenizada porque o menor agiu com culpa grave, nos termos da Súmula
145 do STJ: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave”. STJ. 3ª Turma. REsp 1637884/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 20/02/2018.

3. Responsabilidade objetiva (art.927, p.u., CC) e Responsabilidade Subjetiva (art.927, caput)

Art.927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem
(DECISÃO JUDICIAL).

A regra é que a responsabilidade seja subjetiva.


A responsabilidade objetiva decorre de lei, que pode estar baseado em dois critérios: risco integral ou risco não-
integral. Risco não integral: risco proveito, risco criado, risco da atividade exercida, risco da administração pública, etc. O CC não
estabeleceu um critério seguro de diferenciação entre risco integral e não integral.
Dica: a diferença entre risco integral e não integral é a eliminação da responsabilidade pelo caso fortuito e pela força
maior. Se o risco é integral, o caso fortuito e a força maior não eliminam a responsabilidade; mas se o risco não é integral, o caso
fortuito e a força maior eliminam a responsabilidade.
A responsabilidade civil objetiva por risco integral admite eliminação da responsabilidade por circunstancias específicas
(que não o caso fortuito e a força maior): ex - terrorista causa explosão; caso sobreviva, não pode requerer danos que
porventura tenha sofrido da própria ação, pois aqui incide a culpa exclusiva da vítima.
STJ: a exclusão da responsabilidade objetiva sem risco integral pelo caso fortuito ou força maior somente se dará se se
tratar de fortuito externo (fortuito que não integra a atividade). Exs; responsabilidade do transportador (que é objetiva); chuva

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forte; água entra no sistema de frenagem; falta freio ao ônibus; é fortuito interno e não se elimina a responsabilidade. Agora, se
alguém joga uma pedra no ônibus, trata-se de fortuito externo e exclui a responsabilidade objetiva.

Casos previstos em lei de responsabilidade objetiva:


Com risco integral Sem risco integral

Dano ambiental Dano ao consumidor*

Dano nuclear Dano causado pela Administração Pública

Perda ou deterioração da coisa pelo possuidor de má-fé Responsabilidade do transportador

Responsabilidade do comodatário em mora Riscos do desenvolvimento•••


* Exceções: art.14, CDC - o profissional liberal responde subjetivamente; e arts.29 e 30, CDC - responsabilidade subjetiva do
veículo de comunicação por publicidade enganosa.

•• STF, adotando a teoria de Celso Antonio Bandeira de Melo: a responsabilidade objetiva do Estado é somente para as
condutas comissivas. Para as condutas omissivas, a responsabilidade é subjetiva. Entretanto, o próprio STF, nos últimos anos,
vem suavizando esta regra e reconhecendo a possibilidade de responsabilidade objetiva para condutas omissivas. Ex: morte de
preso em estabelecimento prisional.

••• Riscos do desenvolvimento: CC, Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as
empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos (ou serviços) em circulação.

A responsabilidade também pode ser objetiva por decisão judicial (2ª parte do p.u. do art.927, CC): "quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.
Quando a atividade desenvolvida pelo agente for habitual e de risco, o juiz pode, inclusive de ofício, tornar objetiva a
responsabilidade que seria subjetiva.
O direito brasileiro passui uma terceira hipótese de responsabilidade objetiva baseada no seguro obrigatório, que é o
caso do DPVAT. O prazo da pretensão para a cobrança do seguro obrigatório é de 3 anos, que começa a contar da data do
conhecimento da recusa do pagamento pelo segurador. A indenização do DPVAT é tabelada. O fato de o DPVAT pagar não
impede que a vítima demande diretamente indenização ao causador do dano. Súmula 246, STJ: O valor do seguro obrigatório
deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada. Afinal, o próprio causador do dano que também custeia o seguro
obrigatório. Esta súmula visa evitar o bis in idem.
Súmula 544, STJ: É válida a utilização de tabela do Conselho Nacional de Seguros Privados para estabelecer a
proporcionalidade da indenização do seguro DPVAT ao grau de invalidez também na hipótese de sinistro anterior a 16/12/2008,
data da entrada em vigor da Medida Provisória 451/2008.
Súmula 544, STJ: A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de forma
proporcional ao grau de invalidez.
Súmula 540, STJ: Na ação de cobrança do seguro DPVAT, constitui faculdade do autor escolher entre os fotos do seu
domicílio, do local do acidente ou ainda do domicílio do réu.
O STF, alterando a jurisprudência do STJ, reconhece a legitimidade do MP para cobrança do DPVAT.

DE OLHO NA JURIS! É cabível indenização do DPVAT por morte do feto em acidente de trânsito
O DPVAT é um seguro obrigatório contra danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a
pessoas, transportadas ou não. Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo
automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os
passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. O art. 3º, I, da Lei 6.194/74 afirma que deverá
ser paga indenização do DPVAT aos herdeiros do falecido no caso de morte no trânsito. O STJ decidiu que, se uma gestante
envolve-se em acidente de carro e, em virtude disso, sofre um aborto, ela terá direito de receber a indenização por morte do
DPVAT, nos termos do art. 3º, I, da Lei 6.194/74. O Ministro Relator afirmou expressamente que, em sua opinião, “o
ordenamento jurídico como um todo — e não apenas o Código Civil de 2002 — alinhou-se mais à teoria concepcionista para a
construção da situação jurídica do nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea”. STJ.
4ª Turma. REsp 1415727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014 (Info 547).

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Associação de defesa do consumidor não tem legitimidade para ajuizar ACP discutindo DPVAT
Uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento de ação civil
pública com a finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT. Isso porque o seguro DPVAT não tem
natureza consumerista, faltando, portanto, pertinência temática. STJ. 2ª Seção. REsp 1091756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel.
Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/12/2017 (Info 618).

Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT


As normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam ao seguro obrigatório (DPVAT). STJ. 3ª Turma. REsp
1635398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017 (Info 614).

Não há indenização DPVAT se a vítima estava praticando um crime com o veículo no momento do acidente
É indevida a indenização relativa ao seguro obrigatório – DPVAT, na hipótese em que o acidente de trânsito que vitimou o
segurado tenha ocorrido no momento de prática de ilícito penal doloso. STJ. 3ª Turma.REsp 1661120-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 9/5/2017 (Info 604).

Sucessores do falecido podem cobrar a indenização DPVAT por invalidez permanente que a vítima deveria ter recebido quando
estava viva
Determinada pessoa sofreu acidente de trânsito que causou sua invalidez permanente. Ela não requereu indenização DPVAT.
Meses depois, ela faleceu por outras razões. Seus herdeiros poderão cobrar a indenização do DPVAT que ela deveria ter
recebido quando estava viva? SIM. Os sucessores da vítima têm legitimidade para ajuizar ação de cobrança de pagamento de
indenização do seguro DPVAT por invalidez permanente ocorrida antes da morte daquela. O direito à indenização do seguro
DPVAT por invalidez permanente integra o patrimônio da vítima e transmite-se aos seus sucessores com o falecimento do
titular. Os sucessores, portanto, têm legitimidade para propor a ação de cobrança da quantia correspondente. STJ. 4ª Turma.
REsp 1185907-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/2/2017 (Info 598).

4. Responsabilidade civil e penal à CAI EM PROVA!

Embora baseadas em pressupostos distintos, ambas podem possuir pontos de interseção. Ex: um crime contra a honra
também pode gerar dano moral.

CC, Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal (regra: autonomia das instâncias), não se podendo questionar
mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal
(exceções: a sentença penal pode influenciar a sentença civil, quando decididas questões sobre a existência do fato e sua
autoria; para isso, é preciso que a sentença penal tenha sido proferida anteriormente e que se analise a autoria e
materialidade; obs: a sentença civil jamais influenciará a sentença penal).

Art.64, CPP e art.313, NCPC —> o juízo cível pode suspender o processo civil pelo prazo máximo de 1 ano, para esperar
a decisão na esfera criminal.
O efeito civil da sentença penal condenatória é a obrigação de reparar o dano. Legitimidade do MP para a ação civil ex
delicto à STF: inconstitucionalidade progressiva/normas em via de inconstitucionalidade.

CC, Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da
respectiva sentença definitiva.
Enquanto não transitar em julgado a sentença penal, não começa a correr o prazo prescricional civil.

Pressupostos da responsabilidade civil

São eles: conduta, culpa, dano e nexo de causalidade. Lembrando que, na responsabilidade objetiva, não se discute a
culpa.
O nexo de causalidade pode ser mitigado, por conta da efetiva preocupação com a reparação do dano.

i. Conduta
É o comportamento humano, comissivo ou omissivo, deflagrador de um dano. A conduta tem que ser consciente.
A conduta pode ser própria/direta ou imprópria/indireta. A conduta própria é ato do próprio agente, podendo ser
comissiva ou omissiva; a conduta imprópria decorre de ato de terceiro ou de fato da coisa, e é sempre omissiva.
Exemplo de responsabilidade por conduta própria: cobrança de divida indevida (aquela já paga, no todo ou em parte,
ou ainda não vencida). Se cobrar divida indevida já paga, o efeito é repetição em dobro; se cobrar divida indevida ainda não
vencida, o efeito é aguardar o vencimento, pagar as custas processuais em dobro e perda dos juros convencionados.
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CC, Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado
a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas
em dobro.

Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do
que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o
equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.

Art. 941. As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o autor desistir da ação antes de contestada a lide,
salvo ao réu o direito de haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.

ATENÇÃO! Para se caracterizar "cobrança indevida de divida”, deve haver a propositura ação judicial.

DE OLHO NA JURIS! Via processual adequada para se requerer sanção por cobrança judicial de dívida já adimplida
A aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 940
do CC 2002) pode ser postulada pelo réu na própria defesa, independendo da propositura de ação autônoma ou do manejo de
reconvenção. STJ. 2ª Seção. REsp 1111270-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 25/11/2015 (recurso repetitivo) (Info 576).

Necessidade de demonstração de má-fé do credor para condenação ao pagamento em dobro


Para que haja a aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC
1916 / art. 940 do CC 2002), é imprescindível a demonstração de má-fé do credor. Permanece válido o entendimento da Súmula
159-STF: Cobrança excessiva, mas de boa fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil (atual art. 940 do CC 2002).
STJ. 2ª Seção. REsp 1111270-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 25/11/2015 (recurso repetitivo) (Info 576).

Responsabilidade por conduta imprópria (ou responsabilidade pelo fato de terceiro): é exemplo de responsabilidade
civil indireta (uma pessoa responde pela conduta de outra, pois foi omissiva). Aquele que responde pelo fato de outrem tem
direito de regresso, salvo se se tratar de pai e filho.
CC, Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se
o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.

Hipóteses de responsabilidade civil pelo fato de outrem - art.932, CC (rol taxativo).

CC, Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em
razão dele*;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação,
pelos seus hóspedes, moradores e educandos••;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

* Não precisa se caracterizar uma relação de emprego; basta que se caracterize subordinação jurídica. Não precisa sequer ser
uma relação onerosa (ex: a diarista vai limpar seu apartamento de graça e deixa cair um vaso, quebrando a janela do vizinho;
você terá que arcar com o prejuízo).

•• Dano que hóspede cause a terceiros: hoteleiro responde com base no CC. Agora, hóspede que causa dano a outro hóspede: o
hoteleiro responde com base no CDC.

CC, Art. 942.


Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932.
CC, Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão
pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. — a responsabilidade pelo fato do terceiro é objetiva; mas a
responsabilidade do terceiro é subjetiva.

Se o filho for emancipado, os pais continuam respondendo? Depende do tipo de emancipação. Se a emancipação for
voluntária ou judicial, a responsabilidade é solidária entre pais e emancipado. Se a emancipação é legal, cessa a
responsabilidade dos pais.
Bullying: responsabilidade do educandário, que responderá pelo bullying de um aluno dirigido a outro.
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NCPC: se o empregado for demandado em nome próprio, não poderá nomear o empregador à autoria; mas poderá
contestar e arguir sua ilegitimidade para a causa (ilegitimidade como preliminar, e não nomeação à autoria, que foi extinta com
o NCPC).
O hoteleiro tem penhor legal sobre os bens móveis dos hóspedes.

Aula 12

Responsabilidade Civil - Parte II

Responsabilidade pelo fato da coisa

É tipo de responsabilidade civil indireta, em que a conduta é imprópria.


A responsabilidade civil pelo fato da coisa é, em regra, subjetiva. Mas há 3 casos de responsabilidade OBJETIVA:
i. Responsabilidade pelo fato do animal: é sem risco integral (pois a força maior exclui a responsabilidade).
STF: há responsabilidade solidária entre a concessionária e o proprietário do animal.
CC, Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

ii. Responsabilidade por ruína de prédio: esta responsabilidade se dá por defeito na estrutura física (não precisa ser
necessariamente “ruína”, que dá ideia de ser uma coisa que está aos pedaços). O proprietário tem direito de regresso contra o
construtor (art.618, CC: durante 5 anos o construtor garante solidez e segurança da obra). Esta responsabilidade é objetiva sem
risco integral.
Esta responsabilidade é solidária entre o construtor e o proprietário.
CC, Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de
reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

CC, Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e
execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos
materiais, como do solo.
Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos
180 dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito.

iii. Responsabilidade pela coisa caída/objeto lançado/effusio et dejectis: responsabilidade por coisas que caem do
apartamento. Esta responsabilidade é objetiva com risco integral (mesmo que a coisa tenha caído por caso fortuito ou força
maior, o proprietário responde).
CC, Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem
lançadas em lugar indevido.

Se cair de um condomínio, quem responde? O proprietário/habitador do imóvel. Se ele não for identificado, responde o
condomínio. O condomínio terá direito regressivo contra o causador do dano. Se o próprio condomínio não identificar de qual
unidade caiu a coisa, terá direito de regresso contra os supostos causadores do dano (ex: direito de regresso contra o bloco A à
tese da causalidade alternativa).

Veículo alugado - S.492, STF: A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos
danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado. —> o STF amplia esta hipótese para empréstimo de veículo. Crítica
da doutrina: a jurisprudência não pode criar hipótese de responsabilidade solidária não prevista em lei.

Culpa (segundo pressuposto da responsabilidade civil)

É o elemento subjetivo.
Não se discute culpa do agente na responsabilidade objetiva, mas nada impede que se discuta a culpa da vítima. É por
isso que culpa exclusiva da vítima e culpa concorrente podem ser discutidas nas hipóteses de responsabilidade objetiva.
Em regra, a culpa deve ser provada pela vítima, salvo os casos previstos em lei de responsabilidade objetiva ou os casos
de presunção de culpa.
A culpa presumida é inversão do ônus da prova: é o agente (e não a vítima) que tem que provar que não atuou
culposamente.
CUIDADO! Responsabilidade objetiva não é responsabilidade com culpa presumida; responsabilidade objetiva é
responsabilidade sem culpa.
@dicasexconcurseira 61
DE OLHO NA JURIS! O fato de o condutor do veículo estar embriagado gera uma presunção de que ele é o culpado pelo acidente
de trânsito
Em ação destinada a apurar a responsabilidade civil decorrente de acidente de trânsito, presume-se culpado o condutor de
veículo automotor que se encontra em estado de embriaguez, cabendo-lhe o ônus de comprovar a ocorrência de alguma
excludente do nexo de causalidade. STJ. 3ª Turma. REsp 1749954-RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/02/2019
(Info 644).

A culpa pode ser exclusiva ou concorrente da vítima. Da culpa concorrente, pode-se haver a redução do quantum
indenizatório. Se a culpa é exclusiva da vítima, haverá exclusão do dever de indenizar.
Para o direito civil, não há medição da culpa. Não existe gradação/categorização da culpa… O que se exige é a culpa, e
não o grau da culpa. Mas há uma exceção: art.944, CC.

CC, Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. à Princípio da Restituição Integral do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente,
a indenização.

O caput do art.944 estabelece o princípio da restituição integral (restitutio in integrum), segundo o qual a indenização
deve ser proporcional à extensão do dano. Mas seu parágrafo único diz que, se a culpa for leve/levíssima, embora o dano seja
extenso, o juiz poderá reduzir equitativamente o quantum indenizatório. O juiz pode reduzir equitativamente essa indenização
de ofício. Esta redução equitativa também pode se dar em relação aos danos morais. A doutrina majoritária só não admite a
redução equitativa nos casos de responsabilidade objetiva, pois não se discute a culpa do agente na responsabilidade objetiva.

“Culpa contra a legalidade” é uma expressão da jurisprudência e significa a presunção da culpa do agente em certas
hipóteses. Quando o comportamento do agente consiste na violação de um dever jurídico expresso em lei (ou seja, violar a
legalidade expressamente), presume-se a sua culpa. Ex: a responsabilidade automobilística —> se não é pra passar 80km/h e a
pessoa está em 120km/h e causa acidente, presume-se a sua culpa.

Nexo de causalidade

CC, Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros
cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

Teoria do nexo de causalidade direto e imediato/teoria da causalidade direta e imediata: só haverá responsabilidade
civil se o dano decorrer de forma direta e imediata da conduta culposa. Desta teoria, temos a subteoria da necessidade, segundo
a qual há a necessidade de se comprovar este nexo.
Hoje, doutrina e jurisprudência colaboram para flexibilizar o nexo de causalidade. São os casos:
i. Perda de uma chance (REsp 788.459/BA): é uma subtração concreta de uma oportunidade futura.

ii. Dano por ricochete/reflexo: é um dano dirigido à vítima, mas que transcende sua esfera jurídico, atingindo terceiros.
Ex: legitimidade do filho de um taxista para requerer pensão alimentícia de pessoa que causou acidente e impediu que seu pai
trabalhasse. Ex contido no art.12, p.u., CC (lesados indiretos): o dano atinge diretamente o falecido, mas atinge indiretamente os
parentes vivos.

iii. Dano indireto: é uma cadeia de prejuízos imposta a mesma pessoa. Há prejuízo causado ao bem jurídico de uma
pessoa, reverberando sobre outros bens jurídicos da mesma pessoa. Ex: pecuarista que adquire um animal adoentado e, depois,
esta patologia acaba por se espalhar a todo o rebanho.

iv. Causalidade alternativa ou responsabilidade coletiva: responsabilidade objetiva do condomínio e regresso contra
prováveis culpados. O dano provém de uma coletividade, mas não se pode indicar com precisão quem causou o dano; neste
caso, a responsabilidade pode recair sobre todos. Esta responsabilidade é alternativa: a pessoa pode entrar com uma ação
contra qualquer um da coletividade e, depois, esta pessoa que responde tem direito regressivo contra os demais da
coletividade.

Concausas (concurso de causas) e suas consequências. São causas novas que aderem a um processo causal em curso,
agravando o resultado. Se a concausa estabelecer um outro resultado, aí não será concausa, e sim uma causa. Só é concausa se
agrava o resultado. Se a concausa é antecedente, é irrelevante; se a concausa é concomitante ou superveniente, haverá
solidariedade.

@dicasexconcurseira 62
Causa real/operante: é uma causa nova (e não concausa), que rompe a causa virtual/hipótetica. Ex: pessoa é
atropelada, mas o dano causado não é suficiente para levá-la à morte. A ambulância sai para o hospital. No caminho, a
ambulância sofre um acidente e, por causa do acidente, a pessoa vem a falecer. O acidente (causa real/operante) rompe a causa
virtual (atropelamento).

Hipóteses de exclusão do nexo de causalidade:


1. Fato de terceiro: o agente não pode responder por um dano que não foi por ele causado. Se o fato decorreu de
terceiro, a responsabilidade é do terceiro. Ex: responsabilidade civil do transportador - este responde objetivamente, mas não
responde por risco integral; assim, se alguém arremessa uma pedra no trem (fortuito externo), rompe-se a responsabilidade do
transportador. Esta responsabilidade objetiva do transportador não se permite que se alegue um fato de terceiro se há conexão
com o transporte, pois aqui haverá fortuito interno.

2. Fato exclusivo da vítima/culpa exclusiva da vítima: pode ser alegada nas hipóteses de responsabilidade objetiva,
como já dito anteriormente.
Exemplos: surfista de trem, pessoa que se embriaga e acaba causando dano a si mesma.

3. Cláusula de não indenizar/cláusula de irresponsabilidade: é cláusula contratual (exclusiva no âmbito dos negócios
jurídicos) estabelecendo que, naquela relação contratual, uma ou ambas as partes estão isentas de indenizar certos
acontecimentos ou todo e qualquer dano. Esta cláusula restringe-se à responsabilidade contratual. Ex: Convenção de Varsóvia -
convenção internacional que estabelece regras de responsabilidade civil do transportador aéreo. O STJ vem entendendo que
estas cláusulas de não indenizar dessa convenção são nulas em relação ao consumidor, pois em relação a este se aplica o CDC
(norma especial derroga norma geral).
Esta cláusula de não indenizar é nula em contrato de consumo ou de adesão. Ex: S.130, STJ: A empresa responde,
perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.
No contrato de construção, o art.618 diz que deve haver um prazo de garantia mínimo de 5 anos; assim, toda e
qualquer cláusula de não indenizar desrespeitando esse prazo de garantia mínimo de 5 anos.
A clausula de não indenizar só será válida se inserida em contrato paritário e desde que haja não haja imposição de lei
(se a lei não impor a responsabilidade a alguém).

4. Caso fortuito/força maior: caso fortuito vem do homem; força maior vem da natureza; ou caso fortuito e força maior
são imprevisíveis, mas a força maior, além de imprevisível, é inevitável. Em sede doutrinária, são encontradas definições com a
intensão de distinguir o caso fortuito e a força maior. O CC trata de ambas as expressões como sinônimas. A análise do caso
fortuito e da força maior depende de prova e, sendo assim, não pode ser novamente analisada em sede de recurso especial ou
extraordinário (Súmula 7, STJ).
A jurisprudência e a doutrina chamam a atenção para um detalhe: o caso fortuito que rompe o nexo de causalidade é o
fortuito externo, ou seja, que não estão vinculados à atividade desenvolvida. Enunciado 443, JDC: O caso fortuito e a força maior
somente serão considerados como excludentes da responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à
atividade desenvolvida.
Assim, o fortuito interno não elimina a responsabilidade.
Súmula 479, STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo
a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
O caso fortuito e a força eliminam a responsabilidade mesmo nos casos de responsabilidade objetiva, mas quando se
tratar de responsabilidade objetiva com risco integral, o caso fortuito e a força maior não eliminam a responsabilidade (MESMO
O FORTUITO EXTERNO!).

5. Legítima defesa, exercício regular de direito e estado de necessidade: a legítima defesa (própria) e o exercício regular
de direito excluem a responsabilidade civil sempre, mas o estado de necessidade tem tratamento diferenciado (arts.929 e 930,
CC) - só irá excluir a responsabilidade se o bem jurídico prejudicado pertencia ao causador do perigo. Se o bem jurídico
prejudicado pertencer a terceiro, embora o ato seja lícito, haverá responsabilidade civil (com direito regressivo).
A legítima defesa e o exercício regular de direito excluem a ilicitude e não haverá nunca responsabilidade. Todavia, o
estado de necessidade exclui sempre a ilicitude, porém só excluirá a responsabilidade civil se o bem jurídico pertencia ao
causador do perigo.

@dicasexconcurseira 63
Aula 13

Responsabilidade Civil - Parte III

O dano como novo referencial da responsabilidade civil (Direito dos Danos)

O estudo do dano é o elemento central da responsabilidade. Mudou-se o referencial da responsabilidade civil: da culpa
para o dano (este deve ser prevenido e/ou reparado), sob influência do movimento de constitucionalização do direito civil.
Desta forma, houve um aumento das hipóteses indenizatórias. Já se fala em reparação por perda de tempo útil,
reparação por frustração de férias, indenização por dano à vida sexual (ex: erro médico que gerou impotência sexual),
indenização por frustração do planejamento familiar.
Dano injusto é a fórmula a ser utilizada para o reconhecimento de novos tipos de danos indenizáveis. O dano deixou de
ser apenas dano material ou dano moral. Estes novos danos, além do dano material ou dano moral, são os danos injustos.
CC, Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros
cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

dano material/patrimonial

DANOS dano moral/extrapatrimonial

danos injustos

O dano patrimonial/material
Espécies: dano emergente (princípio da restituição integral) e lucros cessantes (razoabilidade). Dano emergente é a
perda daquilo que já foi incorporado ao meu patrimônio (juízo de certeza). Lucro cessante é a perda daquilo que iria se
incorporar ao meu patrimônio (juízo de convicção). OBS: Se os lucros cessantes não estiverem baseados num juízo de convicção,
trata-se de uma perda de uma chance.

DANO EMERGENTE Perda daquilo que JÁ FOI Juízo de CERTEZA Princípio da restituição integral
incorporado ao meu patrimônio
LUCROS CESSANTES Perda daquilo que IRIA ser Juízo de CONVICÇÃO Princípio da razoabilidade
incorporado ao meu patrimônio

DE OLHO NA JURIS! Não cabe indenização de lucros cessantes se a atividade empresarial não teve início
Não cabe indenização de lucros cessantes se a atividade empresarial não teve início. Caso concreto: uma empresa pedia
indenização por lucros cessantes, pois o shopping center no qual alugaria uma loja não foi entregue. O STJ entendeu que não é
devida a indenização porque se a atividade empresarial nem sequer teve início, não é possível aferir a probabilidade de que os
lucros reclamados de fato ocorreriam. Não se admite a indenização por lucros cessantes sem comprovação e, por conseguinte,
deve-se rejeitar a indenização com base em lucros hipotéticos, remotos ou presumidos, incluídos nessa categoria aqueles que
supostamente seriam gerados pela rentabilidade de atividade empresarial que sequer foi iniciada. STJ. 3ª Turma. REsp
1750233/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2019.

O dano extrapatrimonial/moral
No CC/16, não se admitia a indenização dos danos morais, pois era imoral indenizar o dano moral. Essa perspectiva
ideológica se manteve até as décadas de 50/60. Dois autores foram pioneiros na introdução da indenizabilidade do dano moral:
Caio Mário da Silva Pereira e Wilson Melo da Silva. Em 1966, o STF - que naquela época detinha competências
infraconstitucionais, pois não existia o STJ - julga o leading case RTJ 39:38-44 e admite a primeira indenização por dano moral. O
dano moral surgiu de um modo substitutivo: só se indenizou o dano moral, no caso, porque não cabia dano material (Súmula
491: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado).
Tudo isso se manteve até a CF/88. A CF, em seu art.5º, V, X, XII e XXVIII, reconheceu expressamente a indenizabilidade
do dano moral, correlacionando o dano moral com os direitos da personalidade (dano moral é a efetiva violação da
@dicasexconcurseira 64
personalidade). E os direitos da personalidade estão baseados na clausula geral da dignidade da pessoa humana. De outro
modo, violada a dignidade humana, caracteriza-se o dano moral.
S. 370, STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
S. 388, STJ: A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
S. 403, STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com
fins econômicos ou comerciais.
Para indenização de dano moral, é necessário a prova da violação do direito da personalidade. Mas, o STJ vem
utilizando muito a prova “in re ipsa”, ou seja, a prova do dano moral está na própria prática do fato/violação do direito.
Apesar de todo o avanço na matéria do dano moral, o STJ ainda vem vacilando… Veja a S. 385 do STJ.
S. 385, STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

Cumulabilidade entre danos morais e materiais


S/ 37, STJ: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
E o dano moral pode ser cumulado com dano moral? Sim, se se atingir direitos da personalidade diversos. Ex: violou a
honra (dano moral stricto sensu), violou a imagem (dano à imagem), violou a integridade física (dano estético), violou a vida
privada (dano à privacidade), etc.
S.387, STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

Prescrição da pretensão reparatória dos danos morais


Art.206, §3º, CC: 3 anos, é o prazo comum das ações reparatórias, para requerer a indenização por qualquer dano. Este
prazo começa a fluir (art.189, CC) da data da ocorrência do dano. Entretanto, a jurisprudência do STJ (exs: Súmulas 278 e 229)
vem adotando a teoria da actio nata e determinando com termo inicial a data do conhecimento do dano. Esta teoria da acto
nata é adotada pelos arts.26 e 27 do CDC.

Lei: a contar da ocorrência do dano

PRAZO DE 3 ANOS
STJ: a contar da data do conhecimento do dano (teoria da actio nata)

Se o fato repercutir em sede civil e sede penal, o art.200 do CC diz que a prescrição da reparação civil só começa a
correr do trânsito em julgado da sentença penal.

CC, Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da
respectiva sentença definitiva.

Em se tratando de reparação por dano moral ou material decorrente de tortura do regime militar, o STJ reconhece a
imprescritibilidade para se requerer a indenização.
O STJ vem entendendo que o transcurso do tempo entre a prática do dano e a propositura da ação deve ser
considerado pelo juiz quando fixar o quantum indenizatório.

DE OLHO NA JURIS! O companheiro que, com seu comportamento, assume o risco de transmissão do vírus HIV à parceira, deve
pagar indenização pelos danos morais e materiais a ela causados
O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento sabidamente temerário (vida promíscua,
utilização de drogas injetáveis, entre outros), e mesmo assim continua normalmente tendo relações sexuais com sua
companheira sem alertá-la para esse fato, assume os riscos de sua conduta e, se ela for contaminada, responde civilmente pelos
danos causados. A negligência, incúria e imprudência mostram-se evidentes quando o cônjuge/companheiro, ciente de sua
possível contaminação, não realiza o exame de HIV, não informa o parceiro sobre a probabilidade de estar infectado nem utiliza
métodos de prevenção. STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 647).

Dano moral e pessoa jurídica (art.52, CC e S.227, STJ)

PJ não possui direitos da personalidade, mas merece a proteção que deles decorre, no que couber. Enunciado 286, JDC:
Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as
pessoas jurídicas titulares de tais direitos.

CC, Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
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Súmula 227, STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

DE OLHO NA JURIS! É possível que o juiz utilize presunções e regras de experiência para a comprovação do dano moral da
pessoa jurídica
Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa, sendo necessária a comprovação nos autos
do prejuízo sofrido. Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a configuração do dano,
mesmo sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará a possibilidade de contraprova pela parte ou de reavaliação
pelo julgador. Ex: caso a pessoa jurídica tenha sido vítima de um protesto indevido de cambial, há uma presunção de que ela
sofreu danos morais. STJ. 3ª Turma. REsp 1564955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). Cuidado:
existem julgados em sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa jurídica pode sofrer dano moral in re ipsa. Nesse sentido:
STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619). STJ. 4ª Turma. AgInt-AREsp
1.328.587/ DF. Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 07/05/2019. STJ. 3ª Turma AgInt-AREsp 1.345.802/ MT. Rel. Min. Moura
Ribeiro, julgado em 25/02/2019.

Fixação do quantum indenizatório. Critérios postos pelo STJ. A inexistência de parametrização pelo sistema legal.

O CC ou lei extravagante não estabelece um critério de fixação para o dano moral. Portanto, a jurisprudência do STJ foi
que parametrizou; são os critérios: condição econômica da vítima e do lesante + extensão do dano e repercussão social do fato.
Não há mais no Brasil tabela em lei para indenização por dano moral. Existia na lei de imprensa. Súmula 281, STJ: A
indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.
STF, ADF 130: não recepção da lei de imprensa.
S.420, STJ: Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais. Esta
impossibilidade é porque os embargos de divergência só são admitidos quando há discrepância de entendimento.

O dano moral punitivo (punitive damages) e o caráter punitivo: controvérsia doutrinária e o caráter pedagógico.

No Brasil, não se admite o dano moral punitivo. Mas o STJ diz que, ao fixar o valor da indenização, o juiz deve levar em
conta a punição do agente (é o que se chama de caráter pedagógico do dano moral).
Existe um único caso de dano moral com natureza punitiva: é o chamado dano moral transindividual (difuso ou
coletivo). Quem prevê o dano moral difuso ou coletivo é o art.6º, VI, CDC e a Lei de Ação Civil Pública em seu art.1º. Difuso é o
dano moral causado a todos e a ninguém (ex: dano a meio ambiente) e dano coletivo é causado a uma categoria específica.
Estes danos revertem a um Fundo de recomposição dos bens jurídicos lesados (e não revertem às vítimas). O mecanismo
processual para requerer dano moral difuso ou coletivo é por meio de ação civil pública.
A ação civil pública também serve para requerer indenização por dano moral individual homogêneo; o dano moral
individual homogêneo também pode ser requerido individualmente por cada interessado.

O dano moral transindividual (difuso e coletivo). Distinção entre dano moral coletivo e dano social.

O dano moral difuso e coletivo é extrapatrimonial a bens de caráter metaindividual (meio ambiente, consumidor). Tem
natureza compensatoria.
O dano social é sanção civil imposta a quem praticou um comportamento gravemente reprovável perante a sociedade.
O dano social tem natureza pedagógica.

O dano moral contratual e a admissibilidade indireta

A violação de um contrato gera, por si só, danos morais? Por si só, não. Pode gerar dano material, que geralmente está
previamente liquidado em cláusula penal. Mas o STJ vem entendendo que é possível que do inadimplemento contratual, é
possível decorrer dano moral, caso viole a dignidade do contratante. Exs: o plano de saúde que nega indevidamente cobertura e
a companhia de energia/água que desliga o fornecimento indevidamente. O dano moral contratual tem natureza
extracontratual; ele não decorre da simples violação do contrato; mas sim do inadimplemento do contrato repercutindo na
personalidade do contratante. Sendo de natureza extracontratual, a indenização por dano moral contratual pode ultrapassar o
valor do contrato.

Abrangência do dano moral nos contratos de seguro por danos pessoais

Quando alguém celebra um contrato de seguro por danos pessoais, esses danos também abarcam os danos morais?
S.402, STJ: O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão.

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S.229, STJ: O pedido de pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado
tenha ciência da decisão. —> utilização da teoria da actio nata —> o prazo de prescrição é de 1 ano.

A questão da transmissibilidade da obrigação de reparar danos (art.943, CC)

O direito de requerer a indenização por dano moral se transmite? Art.943, CC: O direito de requerer a indenização e a
obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança. Se uma pessoa faleceu sem requerer uma indenização, o seu espolio pode
requerer a indenização em seu lugar, desde que não tenha se operado a prescrição, óbvio. O espólio também responde pela
obrigação de reparar o dano, nos limites da herança (art.1792, CC: O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens
herdados).

Sucessão processual (art.110, CPC/15) e STJ: quando a vítima de um dano propõe uma ação e faleceu no curso do
procedimento. Neste caso, não há que se falar em transmissão do direito à indenização; é apenas uma sucessão processual.

Lesados indiretos: art.12, p.u., CC: quando uma pessoa (de cujus) sofre um dano depois de sua morte. Neste caso, o
dano atinge diretamente o morto, mas em relação a ele esse dano não pode produzir nenhum efeito, afinal de contas está
morto. Mas este dano pode reverberar sobre seus familiares vivos, que são atingidos indiretamente. São os lesados indiretos:
cônjuge/companheiro sobrevivente, ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau (estes, exceto quando se tratar do
direito de imagem).

Aspectos processuais da indenização por dano moral

Excepcionalmente, admite-se REsp para discutir o quantum indenizatório do dano moral (mitigação das Súmulas 5 e 7
do STJ), para evitar valores exorbitantes ou ínfimos. Súmula 7, STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial.
Lembre-se que a S.420 do STJ diz que não se pode discutir a quantificação de dano moral em sede de embargos de
divergência.
Possibilidade de fixação do valor do dano moral em salários mínimos. Não se aplica a SV 04, que proíbe a utilização do
salário mínimo como indexador.
O STJ permitia a formulação de pedido genérico de indenização por danos morais. O art.292, CPC/15: Art. 292. O valor
da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o
valor pretendido; —> acabou a possibilidade de pedido genérico de dano moral!
O STJ dizia não haver sucumbência recíproca quando o juiz fixava valor inferior ao pleiteado na inicial. Editou a Súmula
326: Na condenação de indenização por dano moral, a condenação por dano moral, a condenação em montante inferior ao
postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.
A dúvida é: com o advento do CPC/15, o STJ manterá esta súmula? Para Cristiano Chaves, sim. A Súmula parte do
pedido de que o pedido de indenização por dano moral era específico.

Liquidação do dano e repercussões processuais

O dano moral tem natureza compensatória e o art.944, CC consagra a regra da reparação integral (a indenização é
medida pela extensão do dano). O p.u. traz a possibilidade da redução equitativa da indenização, caso o grau da culpa seja leve.
Na quantificação por dano moral, o juiz calculará juros e correção monetária. Os juros incidem a partir do evento
danoso (Súmula 54, STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extrapatrimonial). A
correção monetária ordinariamente incide a partir da data do efetivo prejuízo (Súmula 43, STJ), mas em matéria de dano moral
é diferente: a correção monetária incide a partir da data do arbitramento do valor do dano moral, que é a sentença —> Súmula
362, STJ: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.
S. 498, STJ: Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais. —> pois a indenização por dano moral
tem natureza compensatória.
Art.533, CPC/15: indenização em prestações periódicas.
CPC/15: Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do
exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.
§1º O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais sobre imóveis suscetíveis de alienação,
títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação
do executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação.

@dicasexconcurseira 67
§2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de
notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado
de imediato pelo juiz.
§3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou
aumento da prestação.
§4º A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo.
§5º Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias
prestadas.

DEMAIS JURISPRUDÊNCIAS!
Motorista de caminhão que acertou ciclista durante a realização de conversão para a direita deverá indenizar a vítima
A bicicleta, assim como o caminhão, é considerada pelo CTB como veículo. Dessa forma, respeitadas as peculiaridades contidas
na legislação e ressalvadas as limitações eventualmente impostas pela autoridade competente, o ciclista tem direito de transitar
nas vias terrestres tanto quanto o motorista do caminhão ou dos demais veículos. A ausência de “espaço próprio” para o fluxo
de bicicletas não é tida pelo CTB como circunstância proibitiva ou inibitória de sua circulação na via. Ao contrário. O próprio CTB
afirma, em seu art. 58, que é possível a circulação de bicicletas mesmo que não haja ciclovias. Esse dispositivo prevê, ainda, que
as bicicletas terão preferência em relação aos veículos automotores: A legislação de trânsito exige daquele que deseja realizar
uma manobra que se certifique de que pode executá-la sem perigo para os demais usuários da via que o seguem, precedem ou
vão cruzar com ele, considerando sua posição, sua direção e sua velocidade, e que, durante a mudança de direção, o condutor
ceda passagem aos pedestres e ciclistas, respeitadas as normas de preferência de passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1761956/SP,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/02/2019.

Acidente de carro sem vítimas: danos morais devem ser provados


Os danos decorrentes de acidentes de veículos automotores sem vítimas não caracterizam dano moral in reipsa. Vale ressaltar
que é possível a condenação de danos morais em casos de acidente de trânsito, no entanto, trata-se de situação excepcional,
sendo necessário que a parte demonstre circunstâncias peculiares que indiquem o extrapolamento da esfera exclusivamente
patrimonial. STJ. 3ª Turma. REsp 1653413-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Atraso de voo internacional não gera dano moral in re ipsa


Na hipótese de atraso de voo, não se admite a configuração do dano moral in reipsa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.465-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Livre manifestação do pensamento não possui caráter absoluto e jornal pode ser condenado a indenizar em caso de excesso
nos adjetivos empregados
Os direitos à informação e à livre a manifestação do pensamento não possuem caráter absoluto, encontrando limites na
legislação infraconstitucional e nas garantias constitucionais essenciais à concretização da dignidade da pessoa humana. STJ. 3ª
Turma. REsp 1567988/PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/11/2018.

As agressões praticadas por jogador contra árbitro de futebol, durante final de importante campeonato transmitida para todo
o país, podem gerar indenização por danos morais
Agressões físicas e verbais perpetradas por jogador profissional contra árbitro de futebol, na ocasião de disputa de partida de
futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum, independentemente de eventual punição aplicada na esfera da
Justiça Desportiva. Caso concreto: na final do campeonato paulista de 2015, o jogador do Palmeiras, após ser expulso, empurrou
as costas do árbitro e proferiu xingamentos contra ele. Vale ressaltar que a conclusão acima exposta não é a regra, ou seja, não
é toda agressão em uma partida de futebol que gerará indenização por danos morais. O STJ entendeu, na situação concreta, que
a conduta do jogador transbordouo mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol. Além disso, o evento no qual as
agressões foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos maiores clubes do Brasil, foi
televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme audiência e, em consequência, o número de pessoas que assistiram
o episódio. STJ. 3ª Turma. REsp 1762786-SP, Rel. Min. Ricardo Villas BôasCueva, julgado em 23/10/2018 (Info 637).

É possível a indenização por danos morais em novo processo judicial em razão de descumprimento de ordem judicial em
processo anterior, mesmo que tenha sido fixada multa cominatória
É cabível o pedido de indenização por danos morais em razão de descumprimento de ordem judicial em demanda pretérita
envolvendo as mesmas partes, na qual foi fixada multa cominatória. A multa cominatória tem cabimento nas hipóteses de
descumprimento de ordens judiciais, sendo fixada com o objetivo de compelir a parte ao cumprimento daquela obrigação. Por
outro lado, a indenização visa a reparar o abalo moral sofrido em decorrência da verdadeira agressão ou atentado contra a
dignidade da pessoa humana. Encontra justificativa no princípio da efetividade da tutela jurisdicional e na necessidade de se
assegurar o pronto cumprimento das decisões judiciais cominatórias. Considerando, portanto, que os institutos em questão têm
@dicasexconcurseira 68
natureza jurídica e finalidades distintas, é possível a cumulação. STJ. 3ª Turma. REsp 1689074-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro,
julgado em 16/10/2018 (Info 636).

O dever de indenização por dano à imagem de criança veiculada sem a autorização do representante legal é in re ipsa
Uma revista fez uma reportagem sobre trabalho infantil. Para ilustrar a matéria, a revista utilizou fotos de crianças simulando
como se estivessem trabalhando em minas de talco. Ocorre que os pais das crianças não autorizaram essas imagens. A revista
deve ser condenada a pagar indenização por danos morais pela violação do direito de imagem das crianças que tiveram as fotos
publicadas na reportagem sem a autorização dos pais. O ordenamento pátrio assegura o direito fundamental da dignidade das
crianças (art. 227 do CF/88), cujo melhor interesse deve ser preservado de interesses econômicos de veículos de comunicação.
O dever de indenização por dano à imagem de criança veiculada sem a autorização do representante legal é in re ipsa. STJ. 3ª
Turma. REsp 1628700/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/02/2018.

A Súmula 403 do STJ não se aplica para divulgação de imagem vinculada a fato histórico de repercussão social
A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de repercussão social. Súmula
403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais. Caso concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela Perez, tendo
realizado, inclusive, uma entrevista com Guilherme de Pádua, condenado pelo homicídio. Foram exibidas, sem prévia
autorização da família, fotos da vítima Daniela. O STJ entendeu que, como havia relevância nacional na reportagem, não se
aplica a Súmula 403 do STJ, não havendo direito à indenização. STJ. 3ª Turma.REsp 1631329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/10/2017 (Info 614).

Responsabilidade civil por abandono material do pai em relação ao filho à MUITO IMPORTANTE!!
A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo MATERIAL do filho gera danos morais, passíveis de compensação
pecuniária. O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de prestar assistência MATERIAL
ao filho, não proporcionando aeste condições dignas de sobrevivência e causando danos à sua integridade física, moral,
intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil. STJ. 4ª Turma. REsp 1087561-RS, Rel. Min.
Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609).

Agressões físicas ou verbais praticadas por adulto contra criança geram dano moral in re ipsa
A conduta de um adulto que pratica agressão verbal ou física contra criança ou adolescente configura elemento caracterizador
da espécie do dano moral in re ipsa. STJ. 3ª Turma. REsp 1642318-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/2/2017 (Info 598).

Aula 14

Teoria Geral dos Contratos (Parte I)

Noções gerais sobre os contratos


Historicamente, os contratos foram vistos pelo prisma do pacta sunt servanda (o contrato faz lei entre as partes). O
contrato era um acordo de vontades para efeitos patrimoniais. Os contratos foram concebidos com a ideia de compor interesses
privados de conteúdo econômico. Se sou livre e contratei porque quero, devo me responsabilizar por aquilo que contratei.
Conceito contemporâneo de contrato: o contrato é um acordo de vontades com preocupação n sua repercussão social,
nucleada na solidariedade social.
Hoje, temos uma nova percepção sobre a velha autonomia da vontade; no contrato, não há uma liberdade plena na
contratação (as pessoas, muitas vezes, contratam porque precisam, e não por que querem); não se fala mais em autonomia da
vontade, mas sim em autonomia privada; prova de que a autonomia privada não é absoluta é a tese da eficácia horizontal dos
direitos fundamentais. O contrato se tornou uma relação complexa; o contrato se tornou um processo.
A concepção atual de relação jurídica, em virtude da incidência do princípio da boa-fé, é a de uma ordem cooperação,
em que aluem as posições tradicionais do devedor e do credor - COUTO E SILVA, Clóvis.
Novas possibilidade contratuais (os contratos não são apenas patrimoniais, mas também existenciais): possibilidade de
contratos de direitos da personalidade (cessão de imagem), contratos de direito de família (contrato de convivência, pacto
antenupcial), contratos relacionais/de longa duração/cativos (ex: contrato de plano de saúde, de fornecimento de tv à cabo).
OBS: nos contratos de consumo, o STJ vem adotando a teoria finalista mitigada.

@dicasexconcurseira 69
Contratos e direito intertemporal

CC, Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao
disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos
dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este
Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.

Os contratos podem se configurar como uma relação continuativa, de trato sucessivo.


Quanto à existência e a validade —> regem as normas vigentes à época da celebração.
Quanto à eficácia —> regem as normas atualmente vigentes.
Exemplos de aplicação da regra intertemporal: multa condominial (de 20% para 2%) (plano da eficácia), mudança de
regime de bens para pessoas casadas sob a égide do CC/16 (plano da eficácia) e proibição de sociedades entre pessoas casadas
(veio apenas com o CC/02; plano da validade).

Elementos de validade
CC, Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
+ consentimento livre e desembaraçado.

Capacidade do agente: não se confunde capacidade com personalidade. É possível que entes despersonalizados,
portanto, celebrem contrato.
Em algumas hipóteses, o ordenamento jurídico exige mais do que a capacidade. A isto se dá o nome de “legitimação" -
exs: autorização do cônjuge (outorga uxória ou marital) para negócios jurídicos imobiliários (art.1647, CC), exceto se casado no
regime da separação absoluta; a autorização judicial, ouvido o MP, para que os representantes vendam bem imóvel do incapaz.
A legitimação é um plus na capacidade.

DE OLHO NA JURIS! A outorga uxória é desnecessária nos pactos de arrendamento rural


Não é necessária a outorga uxória para validade e eficácia de contrato de arrendamento rural. Nos termos do Decreto nº
59.566/66, o arrendamento rural é, por definição legal, o contrato mediante o qual uma pessoa se obriga a ceder a outra, por
tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, mediante retribuição. Não há exigência legal de forma especial para a
sua plena validade e eficácia, sendo o arrendamento rural um contrato não solene. STJ. 3ª Turma. REsp 1.764.873-PR, Rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/05/2019 (Info 649).

Às vezes, o ordenamento permite a produção de efeitos por negócios celebrados por incapazes. Ex: senatus consulto
macedoniano.
CC, Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem
do mutuário, nem de seus fiadores.

Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente:


I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente;
II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais;
III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as
forças;
IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor;
V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

A incapacidade do agente conduz à nulidade (se a incapacidade for absoluta) ou anulabilidade (incapacidade relativa).

Licitude do objeto: a ilicitude ou a impossibilidade do objeto conduzem à nulidade. O art.106 do CC estabelece que a
imposibilidade só gera nulidade se for absoluta. A impossibilidade superveniente nunca invalida o negocio; ele pode não
produzir efeitos, mas será ainda válido.
CC, Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a
condição a que ele estiver subordinado.

@dicasexconcurseira 70
O CC proíbe o pacta corvina/pacto sucessório.
CC, Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Exceção: art.2018, CC - é possível a partilha em vida, desde que respeitada a legítima dos herdeiros necessários. A
natureza jurídica deste ato é de doação de ascendente para descendente.

CC, Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a
legítima dos herdeiros necessários.

Formalidade: a regra geral dos contratos é o consenso, basta a manifestação da vontade para seu aperfeiçoamento.
Mas um contrato eventualmente pode ter de cumprir forma prescrita em lei ou estabelecida pela vontade das partes. Quando a
forma for necessário, ela passa a integrar a substância do ato.
CC, Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato.
CC, Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
IV - não revestir a forma prescrita em lei;

Em regra, os contratos imobiliários precisam ter forma de escritura pública. Mas, o art.108, CC estabelece que se o
imóvel for de até 30 salários mínimos, não é necessária a escritura pública, podendo ser celebrado por instrumento particular. O
art.1245 diz que a aquisição de propriedade imóvel depende sempre do registro público (o instrumento particular ou público
deve ser registrado em cartório).

Vontade livre e desembaraçada:

CC, Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração
de vontade expressa.

Na interpretação da vontade, mais importa a intenção do que o sentido literal da linguagem.


CC, Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
linguagem.

Vício/defeito na vontade é causa de anulabilidade.

Regras de interpretação dos contratos

Temos a regra principal/de ouro e regras acessórias/combinantes. A regra principal deve estar sempre presente. A
regra principal/de ouro é a boa-fé objetiva.
CC, Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Regras acessórias/combinantes:
i. Contratos com reserva mental:
CC, Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que
manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.

ii. Contratos e declaração de vontade:


CC, Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
linguagem.

iii. Contratos e interpretação restritiva:


CC, Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. + fiança, aval, contratos sancionatórios.
S.214, STJ: O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.
Lei 8.245/91 (Lei de Locações de Imóveis urbanos), Art.39. Salvo disposição em contrario, qualquer das garantias da
locação se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que prorrogada a locação por prazo indeterminado, por força desta
Lei.
Conciliando a Súmula e a Lei de Locações: a S.214 não colide com o art.39, porque o fiador está obrigado até a
devolução do imóvel, contudo, ele está obrigado de acordo com a extensão prestada na fiança.

@dicasexconcurseira 71
iv. Interpretação do autocontrato:
CC, Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou
por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os
poderes houverem sido subestabelecidos.

Se for em contrato de adesão ou de consumo, o contrato será nulo.

v. Interpretação do contrato de adesão:

CC, Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação
mais favorável ao aderente.

vi. Interpretação das cláusulas que estabelecem renúncia antecipada em contrato de adesão. Ex: cláusula de renúncia
antecipada às benfeitorias e retenção em contrato de locação de imóvel urbano por adesão.

CC, Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito
resultante da natureza do negócio.

S. 335, STJ: Nos contratos de locação (paritários, que não sejam de adesão), é válida a cláusula de renúncia à indenização das
benfeitorias e ao direito de retenção.

vii. Interpretação do contrato aleatório (art.458 a 461, CC): ex - contrato de safra agrícola. Nos contratos aleatórios, não há vício
redibitório e evicção.

EMPTIO SPEI: assume-se o risco de a compra futura não existir (art.458, CC).
CC, Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos
contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha
havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

EMPTIO REI SPERATUR: assume-se o risco apenas em relação à quantidade da coisa futura adquirida.
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer
quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a
coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.

Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá
igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.

Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar
que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.

viii. Contrato preliminar (pré-contrato ou promessa de contrato): é a obrigação de fazer consistente na obrigação de celebrar um
contrato. O contrato preliminar não está subordinado a nenhum outro contrato, que seria o contrato principal.
CC, Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser
celebrado.

S. 239, STJ: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de
imóveis.

@dicasexconcurseira 72
Aula 15

Teoria Geral dos Contratos - Parte II

Princípios fundamentais do Direitos dos Contratos

Generalidades sobre os princípios


Qual é a importância que os princípios possuem hoje no sistema jurídico? Norma jurídica = norma-princípio + norma-
regra. Os princípios também tem força normativa, também vinculam. Os princípios tem tanta importância quanto as regras.
Quanto ao grau de abstração: os princípios são normas abstratas; as regras não possuem grau de abstração, elas
possuem grau de descrição.
Quanto ao grau de determinabilidade: a regra é mais determinável; o princípio, por ser mais abstrato, tem menos
determinabilidade.
Quanto ao grau de fundamentalidade: o princípio é fundamental; a partir dos princípios, as regras são elaboradas.
As regras são relatos descritivos (solução apriorística); e os princípios são relatos valorativos (solução casuística).
As regras são mandados de definição, e os princípios são mandados de otimização.
O sistema de direito positivo possui mais regras do que princípios.
Havendo colisão entre princípios, surge a técnica de ponderação de interesses/balanceamento.

ATENÇÃO! A proporcionalidade pode ser usada como princípio-interpretativo (interpretar as regras —> ganhando o nome de
razoabilidade) ou como técnica de solução de conflitos principiológicos (ganhando o nome de ponderação de interesses).
Exemplo de uso de técnica de ponderação: S.309, STJ: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentaste é o que
compreende as 3 prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo = art.528,
CPC/15.

A colisão de regras se resolve pelas técnicas hermenêuticas: norma especial afasta norma geral; norma superior afasta
norma inferior; norma posterior afasta norma anterior.

Técnica da derrotabilidade (defeasibility): possibilidade de levantamento episódico e casuístico de uma regra válida,
em casos extremos (extreme cases), em razão das forças normativas dos fatos. Ex: casamento entre irmãos, há 14 anos, 4 filhos
saudáveis; para manter o casamento, as regras do arts.1521 c/c 1548 devem ser afastadas.
OBS: easy cases —> regras;
hard cases —> principles
extreme cases —> derrotabilidade.

Princípios contratuais: boa-fé objetiva (arts.113 e 422, CC), função social do contrato (art.421, CC) e equilíbrio economico-
financeiro (arts.478 e 317, CC)

1. Boa-fé objetiva

CC, Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé.

A boa-fé objetiva tem base constitucional.


A boa-fé objetiva é a boa-fé de comportamento, tem natureza principiológica. É o comportamento probo, que se
espera de todos; baseia-se na eticidade.
A boa-fé subjetiva é a boa-fé de conhecimento, psicológica, é uma regra baseada no estado psicológico. É admitida
pontualmente pelo sistema, como, por exemplos, no casamento putativo que produzirá efeitos até a sua anulação, validade do
pagamento feito ao credor putativo se o pagador estava de boa-fé.
Ambas as partes devem se comportar de acordo com a boa-fé objetiva. Ex: o duty to mitigate the loss (figura parcelar
da boa-fé objetiva), que se aplica ao credor, no sentido de que este tem o dever de mitigar a sua perda.
Caso do instituto do superendividamento: dá-se quando o credor colabora para o devedor se endividar. A pessoa deve
dinheiro ao banco no cheque especial; e aí o gerente dá empréstimo, aumenta o limite do cartão de crédito. Neste caso, o
gerente está “dando corda para o devedor se enforcar”. Aqui, se aplica o duty to mitigate the loss —> neste caso, o juiz pode
recalcular os juros.
A boa-fé objetiva nao tem a intenção de corrigir posições contratuais de vantagem ou desvantagem, a boa-fé objetiva
não tem a intenção de proteger o mais fraco. A boa-fé objetiva não pode ser aplicada da mesma forma às relações de consumo e
às relações mercantis ou societárias, pela simples razão de que os standards de comportamento são distintos. Justamente por
@dicasexconcurseira 73
não exigir a proteção aos interesses íntimos e privados da contraparte, mas somente a colaboração para aqueles interesses
objetivamente extaídos da própria realização do negócio, a boa-fé objetiva não importa em sacrifício de posições contratuais
de vantagem.

Tríplice função da boa-fé objetiva: à CAI MUITO EM PROVA!


i. Função interpretativa: a boa-fé objetiva deve ser usada como mecanismo de interpretação dos contratos. CC,
Art.113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

ii. Função integrativa: é a função mais rica de todas. Estabelece os deveres anexos/laterais/implícitos. Ex: dever de
informação. Cumprir um contrato é cumprir os deveres contratuais/negociais e os deveres anexos. Adimplir significará atender a
todos os interesses envolvidos na obrigação, abarcando tanto os deveres ligados à prestação propriamente dita, como àqueles
relacionados à proteção dos contratantes em todo o desenvolvimento do processo obrigacional.
ATENÇÃO! Se a parte deixar de adimplir o dever anexo, ele está incidindo em violação positiva da obrigação contratual
(ou “adimplemento fraco/ruim”).
Os deveres anexos estão presentes desde antes do contrato (responsabilidade civil pré-contratual) e permanecem
depois de sua execução (responsabilidade pós-contratual).
Desta função integrativa é que surgem as funções parcelares da boa-fé objetiva: venire contra factum proprium,
supressio e surrectio, tu quoque, exceptio non adimplenti contractus. à CAI MUITO EM PROVA!

iii. Função limitadora/restritiva/de controle: impede o exercício de direitos contratuais que se mostrem abusivos. É
uma espécie de freio na contratação. Direitos que estão no contrato não podem ser exercidos se se mostrarem abusivos; ex:
teoria do adimplemento substancial/substancial performance, que é um desleal exercício de direitos.
CPC/15: boa-fé processual - art.5º: Art.5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de
acordo com a boa-fé.

2. Função social do contrato

CC, Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

Bobbio: da estrutura à função. Devemos perguntar “para que o Direito?”, e não “o que é o Direito?”.
Exposição de motivos do CC (Miguel Reale): eticidade (boa-fé objetiva), operabilidade (facilidade de usar o sistema) e
socialidade (função social). Exs de socialidade: função social da propriedade, da família, da imagem, da cláusula penal.
A função social é a tutela externa do contrato. O contrato sempre teve uma tutela interna, que é os deveres
contratuais.
A função social do contrato protege o contrato para além do contrato, protegendo-o de condutas anti-éticas das partes
e de terceiros.

Tríplice função da função social do contrato:


i. O contrato entre duas partes não pode prejudicar terceiros; — terceiro ofendido/lesado
ii. O contrato entre duas partes não pode prejudicar a coletividade; — terceiro ofendido/lesado
iii. Terceiros não devem prejudicar o contrato alheio. — terceiro ofensor/lesante/cúmplice

O contrato tem, portanto, uma tutela externa, além da clássica tutela interna.
Exemplo de terceiro ofensor: CC, Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a
outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos.
Exemplo de terceiro ofendido: S.308, STJ: O contrato de hipoteca celebrado entre a construtora e o banco, anterior ou
posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.
Legitimidade processual de terceiros para as ações revisional e resolutiva. Os terceiros lesados passam a ter
legitimidade processual para ajuizar ações de revisão ou resolução de contratos dos quais não são parte. Ex no STJ: As relações
jurídicas oriundas de um contrato de seguro não se encerram entre as partes contratantes, podendo atingir terceiro beneficiário,
como ocorre com os seguros de vida ou de acidentes pessoais, exemplos clássicos apontados pela doutrina.
A função social do contrato carrega consigo uma eficácia externa (terceiro ofensor e terceiro ofendido) e uma eficácia
interna (proteção da dignidade e dos direitos fundamentais dos contratantes). Enunciado 360, JDC: O princípio da função social
dos contratos também pode ter eficácia interna entre as partes contratantes.
Enunciado 542, JDC: A recusa de renovação das apólices de seguro de vida pelas seguradoras em razão da idade do
segurado é discriminatória e atenta contra a função social do contrato.
S. 302, STJ: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

@dicasexconcurseira 74
3. Equilíbrio econômico-financeiro
Historicamente, até 1918, prevaleceu a ideia do pacta sunt servanda. Se o contrato fazia lei entre as partes, significa
que a força obrigatória dos contratos era absoluta. Não se admitia mitigação. No pós-guerra, na França, foi editada a Lei Faillot,
que buscou no direito romano a cláusula “rebus sic stantibus”, para consagrar a famosa teoria da imprevisão, permitindo-se a
revisão de contrato, pela primeira vez na história.
A teoria da imprevisão possuía alguns elementos caracterizadores:
i. Contrato de trato sucessivo;
ii. Evento extraordinário e imprevisível (álea extraordinária);
iii. Onerosidade excessiva (desequilíbrio econômico do contrato);
iv. Inexistência de culpa das partes pela onerosidade excessiva.
O CC/16 não fazia referencia à teoria da imprevisão. No Brasil, somente nas décadas de 40 e 50, a doutrina começou a
fazer alusão à teoria da imprevisão. Arnoldo Medeiros da Fonseca foi o primeiro autor a escrever sobre o assunto, no Rio de
Janeiro (“Teoria da Imprevisão e Caso Fortuito”). A doutrina somente admitiu a teoria da imprevisão em caráter completamente
excepcional (caso fortuito).
Nas décadas de 70 e 80, a matéria chegou na jurisprudência. Os tribunais passaram a ter uma perspectiva diferente da
teoria da imprevisão, em razão do problema da inflação. Inflação, mudança de política econômica do governo, crise cambial…
Nada disso é imprevisível e, portanto, sobre isso não se incide a teoria da imprevisão. A jurisprudência asfixiou a teoria da
imprevisão, sendo esta relegada ao plano da excepcionalidade.
Isso se permaneceu até a edição do CDC, em 1990, que, em seus arts.4º e 6º, tratou do tema. O legislador tinha
consciência de que os juizes não tinham nenhuma simpatia pela teoria da imprevisão. O legislador, ao invés de abraçar a teoria
da imprevisão, adotou a teoria da base objetiva do contrato ou teoria da onerosidade excessiva pura. De acordo com esta
teoria do CDC, é suficiente que exista uma onerosidade excessiva para autorizar a revisão ou a resolução do contrato.
Com o advento do CC, esperava-se que o avanço se mantivesse. Em 2002, com o CC, nos arts.478 e 317, imaginou-se
que o CC manteria o avanço do CDC e acataria a teoria da base objetiva. Mas não foi o que aconteceu. O CC/02 acatou a teoria
da imprevisão; e, pior: adjetivou ela.
CC, Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, COM EXTREMA VANTAGEM PARA OUTRA, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o
devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
A qualificação foi: o desequilíbrio de uma parte deve gerar vantagem para outra parte (“com extrema vantagem para
outra”). Isso é um absurdo, pois a onerosidade excessiva sofrida por um contratante não necessariamente caracteriza vantagem
para a outra parte. O CC tornou a aplicação da teoria da imprevisão ainda mais difícil, em caso de contrato privado (em contrato
de consumo, aplica-se a teoria da base objetiva).
CC, Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do
momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da
prestação.

CONTRATO CONSUMERISTA à Teoria da Base Objetiva ou Teoria da Onerosidade Excessiva Pura.


CONTRATO CIVIL à Teoria da Imprevisão Qualificada.

Como saberei se o contrato é de consumo ou privado? STJ - teoria finalista mitigada - é contrato de consumo quando o
consumidor se apresenta como destinatário final, podendo este ser, inclusive, pessoa jurídica.
A onerosidade excessiva que possibilita a incidência da possibilidade da revisão ou resolução do contrato, pela teoria da
base objetiva, deve ser ulterior/superveniente à formação ao contrato. Se a onerosidade excessiva estiver presente no
momento da formação do contrato, é caso de invalidade do contrato (nulidade, se o contrato é de consumo; anulabilidade, se o
contrato é civil, por lesão ou estado de perigo).

Outros princípios fundamentais orientadores do Direito Contratual:


i. Princípio da interpretação mais favorável ao aderente (art.423, CC)
CC, Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação
mais favorável ao aderente.

CDC, Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

CC, Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito
resultante da natureza do negócio.

ii. Princípio da licitude de formação de contratos atípicos (art.425, CC):


CC, Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
@dicasexconcurseira 75
CC, Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. - SALVO art.2018, CC.

CC, Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a
legítima dos herdeiros necessários.

Aula 16

Teoria Geral dos Contratos - Parte III

A formação dos contratos

Para enxergar a formação dos contratos, normalmente vem se estruturando em 3 diferentes partes: fase das
negociações preliminares (tratativas ou puntuações); fase da proposta (policitação); e a fase da aceitação (oblação).

Negociações preliminares/tratativas/puntuações: são os estudos preliminares sobre a conveniência da formação de


um contrato. Quando celebradas por escrito, as negociações preliminares ganham o nome de “minuta”. Nas tratativas, ainda
não há negócio jurídico. Nesta fase, não se pode falar em responsabilidade contratual, pois ainda não há contrato. Mas nesta
fase já se operam os deveres anexos da boa-fé objetiva. Assim, pode-se falar em responsabilidade civl pré-contratual, em razão
da função integrativa da boa-fé objetiva. Essa natureza pré-contratual tem natureza extracontratual.
A possibilidade de quebra de confiança é chamada de affidamento, pela doutrina italiana.

Proposta/oferta/policitação: é a declaração da vontade de contratar. No mundo contemporâneo, as propostas não


são mais apenas individualizadas, mas predominantemente coletiva (ex: outdoors, internet, televisão. CDC: a oferta feita ao
público obriga o proponente nos mesmos termos de uma proposta individual. Neste ponto, o CC se harmoniza com o CDC.
Quando se tratar de contrato de consumo, a oferta obriga o proponente, mas haverá responsabilidade solidaria entre
fornecedores e propostos, bem como seus representantes autônomos, bem como (STJ) todas as empresas que integram a
cadeia de fornecimento de serviços ou produtos.
CDC, Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação
com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e
integra o contrato que vier a ser celebrado.
CDC, Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes
autônomos.

OFERTA à ao público;
PROPOSTA à ao indivíduo.

Se o contrato não for de consumo:


CC, Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário
resultar das circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta
realizada.

A proposta vincula o proponente e seus sucessores, salvo se o contrario resultar de seus próprios termos ou de sua
natureza.
A parte interessada (que contratou) pode optar pelas perdas e danos ou pela tutela específica (arts.497 e 498, CPC/15 +
art.536 e segs).

Aceitação/oblação: é a declaração de vontade da pessoa a quem se dirigiu a proposta, aderindo os termos desta. É o
consentimento, a anuência. Deve ser séria, plena e integral. Mas pode ser expressa ou tácita. Apenas se admite a aceitação
plena e integral, sob pena de se considerar uma nova proposta (e não aceitação) e o anterior proponente se transforma em
aceitante. Não se admite aceitação parcial, pois ela altera a proposta.
CC, Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.

Aceitação entre presentes: pessoas que estão nas mesmas circunstâncias de tempo ou de espaço. O contrato por
telefone reputa-se entre presentes. Para os contratos entre presentes, é considerado formado o contrato no momento da
aceitação.
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Nos contratos entre ausentes, em qual momento se considera celebrado o contrato? A doutrina sempre propôs que o
melhor critério a se adotar era o da cognição: o contrato entre ausentes seria formado no momento em que chega à
conhecimento do proponente a aceitação. O CC não adotou esta teoria, mas sim a teoria da agnição por expedição: no
momento em que se expediu a aceitação, independentemente desta aceitação ter chegado a conhecimento do proponente.
CC, Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela (A RESPOSTA) não chegar no prazo convencionado.

CC, Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.
No caso de mensagens instantâneas, Enunciado 173, JDC: A formação dos contratos realizados entre ausentes, por meio
eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente.

Lugar dos contratos nos negócios internos e internacionais:

CC, Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto. -> contrato interno

LINDB, Art.9º, §2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente. —> contrato
internacional

OBS: foro de eleição é o lugar escolhido pelos contratantes para dirimir eventuais conflitos decorrentes do contrato. Não se
confunde com lugar do contrato.

CPC/15, Art. 53. É competente o foro:


III - do lugar:
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento;

Esta competência territorial é relativa, podendo as partes alterá-la, por meio de foro de eleição.
O MP, quando intervir como fiscal da ordem jurídica, poderá suscitar incompetência relativa (o juiz não pode conhecer
de incompetência relativa de ofício).
Foro de eleição em contrato de adesão: em contrato de adesão, vale o foro de eleição? Se for favorável ao aderente, é
válida. Mas se for contrário ao aderente, o foro de eleição é nulo. O juiz pode, de oficio, declarar a nulidade e enviar ao foro do
aderente.

CPC/15, Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes
estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes
aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em
manifesta situação de vulnerabilidade.

Intervenção de terceiros nos contratos

O contrato entre duas partes pode atingir terceiros. O CC/02 previu 3 institutos de intervenção de terceiros nos
contratos:
1. Promessa de fato de terceiro: se uma pessoa promete algo que vai ser cumprida por outra; se esta outra não
cumprir, a responsabilidade vai recair sobre o próprio promitente. Exceções (a responsabilidade é do prometido):
i) quando o prometido expressamente houver anuído a promessa;
ii) quando quem prometeu era representante do prometido (neste caso é promessa de fato próprio, e não promessa de fato de
terceiro, afinal o representante atua em nome do representado).
CC, Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar.
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato
a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento (COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS), a indenização, de algum modo,
venha a recair sobre os seus bens. — se quem celebrou a promessa prometeu algo que ia ser cumprido pelo seu cônjuge e o ato
prometido recairia sobre o patrimônio, se não houver cumprimento, não haverá responsabilidade.

2. Estipulação em favor de terceiro: as partes podem celebrar contrato prevendo que seus efeitos benéficos atingirão
terceiros. Ex: contrato de seguro de vida. Apesar de o terceiro não ser parte, ele pode executar o contrato (possibilidade do
@dicasexconcurseira 77
terceiro exigir o cumprimento da obrigação, e o estimulante também, claro). O terceiro não precisa ser solvente, nem capaz,
pois não é parte.
CC, Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito
às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438.

DE OLHO NA JURIS! Correção monetária nos contratos de seguro (Súmula 632 do STJ)
Súmula 632-STJ: Nos contratos de seguro regidos pelo Código Civil, a correção monetária sobre a indenização securitária incide a
partir da contratação até o efetivo pagamento. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/05/2019, DJe 13/05/2019.

Se o estipulante desejar, pode expressamente tirar a legitimidade do terceiro para execução do contrato. Mas se o
contrato não dispuser a respeito, o terceiro pode executar.
CC, Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o
estipulante exonerar o devedor.

CC, Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua
anuência e da do outro contratante.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.

3. Contrato com pessoa a declarar: é um negocio celebrado entre duas partes, contendo uma cláusula
facultando/reservando a um ou a ambos os contratantes o direito de indicar, em determinado prazo, a pessoa que figurará em
seu lugar naquele contrato. A pessoa indicada irá assumir direitos e obrigações retroativamente à celebração do contrato
(figurará no contrato desde o início, ou seja, é como se ela estivesse no contrato desde sempre).
CC, Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve
adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.

CC, Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não
tiver sido estipulado.
Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram para
o contrato.

O terceiro será parte, por isso deve ser capaz, solvente e aceitar a condição que lhe está sendo oferecida. Aceitar,
inclusive, pela mesma forma da celebração do contrato (se o contrato foi celebrado por escritura pública, a aceitação do terceiro
também deverá se dar por escritura pública). Se o terceiro for insolvente, incapaz ou não aceitar, o contrato permanecerá válido
e eficaz entre as partes originárias.
CC, Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações
decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.

Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários:


I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;
II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação.

Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os
contratantes originários.

Vícios redibitórios

São defeitos ocultos/não facilmente perceptíveis na coisa adquirida, tornando a coisa imprópria para o uso ou que
subtraem o seu valor econômico. Esses vícios não se confundem com o erro como vício de vontade. O erro incide sobre os
elementos centrais da contratação. Nos vícios redibitórios, o erro é um defeito sobre o objeto da coisa adquirida. Os vícios
redibitórios constituem um tipo específico de erro.
Vícios redibitórios em coisas adquiridas em conjunto: o defeito sobre uma coisa não autoriza a rejeição de todas as
outras coisas. Esta é a regra do CC. Temperamento: se a coisa foi adquirida em conjunto por conta de sua natureza coletiva
(coisas que atuam em conjunto; ex: coleção), ao professor parece que o defeito existente em uma das coisas permite a rejeição
das demais coisas também.
Ademais, as próprias partes de um contrato podem estabelecer cláusulas excluindo a garantia dos vícios redibitórios
(em contrato paritário!). Porém, se se tratar de contrato de consumo ou de adesão, a cláusula de exclusão da responsabilidade
pelos vícios redibitórios é nula.
@dicasexconcurseira 78
Requisitos dos vícios redibitórios:
i. Contrato oneroso; contrato gratuito não gera vicio redibitório (cavalo dado não se olha os dentes). Exceções: contrato
de doação remuneratória e doação para casamento (doação propter nupcias). A doação remuneratória: você faz a doação a
alguém, com a intenção específica de remunerar um serviço não exigível (ex: flanelinha). A doação para casamento é doação
para que a pessoa que recebe a doação se case com o doador ou com terceiro indicado pelo doador.

DE OLHO NA JURIS! A doação remuneratória deve respeitar a legítima dos herdeiros


A doação remuneratória é aquela na qual a coisa é doada como forma de recompensa por um serviço prestado pelo donatário.
A doação remuneratória deve respeitar os limites impostos pelo legislador. O Código Civil proíbe a doação universal (doação de
todos os bens do doador sem que seja a ele resguardado o mínimo existencial) e a doação inoficiosa (aquela que ocorre em
prejuízo à legítima dos herdeiros necessários). O fato de a doação ser remuneratória não a isenta de respeitar essas limitações.
Assim, a doação remuneratória não pode se constituir em uma doação universal nem em uma doação inoficiosa. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.708.951-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/05/2019 (Info 648).

ii. Existência de defeito oculto, no momento da tradição.

iii. A descoberta do defeito deve ser posterior.

iv. O defeito deve tornar a coisa imprópria para o uso ou diminuir-lhe o valor econômico.

v. Inexistência de cláusula contratual excludente de responsabilidade por vício redibitório.


Ex: touro reprodutor estéril. O pecuarista adquire um touro reprodutor, mas descobre depois que o animal é estéril.
Este vício torna a coisa imprópria para a sua finalidade/uso.

Caracterizado o vício redibitório, o comprador terá direito de reclamação. Como se dá essa reclamação? Se dá através
das chamadas ações edilícias, que possuem diferentes naturezas:
a. Ação redibitória/rescisória: é ação para rejeição da coisa;
b. Ação estimatória/quanti minoris: é ação para obter abatimento do preço;
c. Ação “ex empto”: ação para complementação de área. Somente é possível na compra e venda imobiliária ad
mensuram (a área adquirida é inferior à área paga). Na compra e venda ad corpus, não interessa a dimensão.
CC, Art.500, §1º Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não
exceder de um vigésimo (5%) da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias,
não teria realizado o negócio. —> se comprei um imóvel de 100m2, mas descubro que ele só tem 97m2, não haverá vício
redibitório. Mas há responsabilidade civil contratual e o comprador pode entrar com ação indenizatória para reparar o dano
sofrido.
STJ: é nula a cláusula contratual que exclui a responsabilidade civil do vendedor se a diferença da área do imóvel
comprado for inferior a 5%.

Se a relação for de consumo, além das 3 ações edilícias previstas no CC, há uma quarta ação para substituição do
produto ou do serviço.

Ação redibitória/rescisória: para REJEITAR A COISA.

Ação estimatória/quanti minoris: para obter ABATIMENTO no preço.


AÇÃO PARA
RECLAMAR VÍCIOS AÇÕES EDILÍCIAS
REDIBITÓRIOS Ação ex empto: para COMPLEMENTAÇÃO DE ÁREA.

Ação para substituição do produto/serviço: se o contrato for de consumo.

Ações desconstitutivas
e que se submetem a
prazo decadencial

@dicasexconcurseira 79
As ações edilícias são desconstitutivas (querem desconstituir o vício presente) e, por isso, se submetem a prazo
decadencial.

Prazos decadenciais para a propositura de ação edilícia:


a. Vicio redibitório de facil constatação:
- 30 dias, se móvel, contado da tradição
- 90 dias, se imóvel, contado da tradição
b. Vício de difícil constatação:
- 180 dias, se móvel, contado da descoberta do vício
- 1 ano, se imóvel, contado da descoberta do vício
c. Vícios redibitórios sobre animais: prazo previsto em lei especial (lei federal); esta lei não existe ainda, por isso,
aplicam-se os usos e costumes do local; se não houver usos e costumes no lugar, usa-se o prazo para reclamar vícios de difícil
constatação.

CC, Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for
móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à
metade.
§1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver
ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
§2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta
desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.

O CDC estabelece prazo de 30 ou 90 dias, se o bem não durável ou durável, respectivamente, contados da descoberta
do vício.
Se por acaso o prazo do CC se mostrar mais favorável ao consumidor, pelo meio do diálogo das fontes, aplica-se o CC.

30 DIAS à Bem durável


VÍCIO REDIBITÓRIO Contados da descoberta
NO CDC do vício
90 DIAS à Bem não durável

DE OLHO NA JURIS! Se o vício redibitório foi sanado, o adquirente não tem mais direito ao abatimento do preço
O saneamento de vício redibitório limitador do uso, gozo e fruição da área de terraço na cobertura de imóvel objeto de negócio
jurídico de compra e venda – que garante o seu uso de acordo com a destinação e impede a diminuição do valor –, afasta o
pleito de abatimento do preço. João comprou apartamento no último andar do edifício, estando previsto no contrato que ele
poderia fazer construções na cobertura. Por ter comprado a cobertura, ele pagou 25% a mais.Ocorre que, depois que o prédio
ficou pronto, João não pode realizar nenhuma construção na cobertura porque isso foi negado pelo Município sob o argumento
de que o prédio já teria alcançado o limite máximo de altura previsto para aquela localidade.Diante disso, João ajuizou ação de
abatimento de preço contra a construtora. Três anos após o ajuizamento, houve uma mudança nas regras municipais e o limite
de altura dos prédios naquela localidade aumentou. Com isso, passou a ser permitido que ele construísse na cobertura. João não
terá mais direito ao abatimento do preço. STJ. 4ª Turma.REsp 1478254-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/8/2017
(Info 610).

Evicção
É perda, total ou parcial, da posse ou da propriedade de uma coisa onerosamente adquirida. Se uma pessoa adquire
um imóvel e, depois, descobre que este imóvel não pertencia a quem lhe vendeu, sofrerá a evicção.
Existem 3 diferentes sujeitos: evicto/evencido = quem comprou e perdeu; evictor/evicente = é o terceiro que adquiriu a
coisa e ganhou; alienante = quem vendeu o imóvel, que pode ou não estar de boa-fé. Se está ou não de boa-fé, é irrelevante
para a configuração da evicção.

EVICTO/EVENCIDO: quem havia comprado a coisa e que vem a perdê-la;


EVICTOR/EVICENTE: terceiro que vem a comprar a coisa e que vem a possuí-la;
ALIENANTE: quem vendeu a coisa (pode ou não estar de boa-fé à isto é indiferente para caracterizar a evicção).

A evicção tem natureza de garantia legal para aquele adquire onerosamente uma coisa. É uma responsabilidade que
se impõe a quem vende a coisa. As partes podem excluir a garantia da evicção, pois o contrato é privado.
CC, Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.

@dicasexconcurseira 80
Se for contrato de consumo ou de adesão, a cláusula que exclui ou reduz a garantia legal da evicção é nula de pleno
direito.
O art.449, CC diz que, mesmo nos contratos paritários, a cláusula que exclui a garantia da evicção só terá validade se o
adquirente for expressamente advertido do risco e assumi-lo.
CC, Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço
que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.

Em relação aos vícios redibitórios, as partes podem estipular um prazo de garantia contratual (decadencial
convencional). Ex: compro um aparelho eletrônico e vem com uma garantia contra defeitos de 1 ano. Havendo garantia
contratual, os prazos decadenciais para reclamar os vícios começam a correr depois de extinto o prazo da garantia contratual.

Requisitos da evicção:
i. Contrato oneroso; exceções: doação remuneratória e doação para casamento. OBS: STJ (REsp 4589/PR): mandato
com cláusula em causa própria é contrato oneroso.

ii. Perda total ou parcial da posse ou da propriedade da coisa adquirida. OBS: Pode haver evicção decorrente de
aquisição por hasta pública. Agora, não pode haver evicção quando se tratar de aquisição de coisa alheia ou de coisa litigiosa,
porque em ambas hipóteses está presente a aleatoriedade.

iii. Decisão judicial ou administrativa, reconhecendo direitos de terceiro sobre a coisa. Decisão administrativa: ex -
decisão do DETRAN dizendo que a titularidade da coisa é de determinada pessoa.
DE OLHO NA JURIS! STJ - não há evicção em razão de tombamento, pois este não gera a perda da propriedade, mas tão
somente limitação ao exercício da propriedade.

iv. Inexistência de cláusula excludente da responsabilidade do vendedor por evicção. Esta cláusula será nula em
contrato de consumo ou de adesão. E nos contratos paritários também será nula se o comprador não for expressamente
advertido dos riscos e assumi-los.

v. Reclamação: o comprador deve reclamar a evicção. Essa reclamação passou por uma controvérsia, em razão dos
arts.70, CPC/73 e art.456, CC, que insinuavam que seria obrigatória a denunciação da lide para reclamar a evicção. O STJ já dizia
que esta denunciação da lide era facultativa. O CPC/15, no art.1072, expressamente revogou o art.456 do CC e superou as
divergências. Assim, a denunciação da lide é facultativa. O comprador (que sofreu a evicção) pode, se quiser, denunciar da lide.
Pode reclamar por ação autônoma de regresso ou por denunciação da lide. Com a revogação do art.456 CC, desapareceu do
sistema a possibilidade de denunciação da lide per saltum. Mas é possível uma única denunciação da lide sucessiva.

Qual é o alcance da garantia da evicção? O alcance da responsabilidade civil no caso de evicção é: direito à restituição
integral do preço (com juros e correção) + indenização pelos frutos + ressarcimento das despesas do contrato + honorários e
custas + juros e correção + indenização por perdas e danos. Os primeiros efeitos da evicção independem da boa ou má-fé do
devedor; mas, as perdas e danos só se aplica ao vendedor de má-fé.

Direito à restituição integral do preço


ALCANCE DA GARANTIA
LEGAL DA EVICÇÃO Indenização pelos frutos
(a responsabilidade civil
pela evicção abarca): Ressarcimento das despesas do contrato

Honorários e custas

Juros e correção monetária

Indenização por perdas e


danos (apenas se o
alienante estiver de má-fé)

@dicasexconcurseira 81
DE OLHO NA JURIS! É dever do alienante transmitir ao adquirente o direito sem vícios, de forma que se caracteriza a evicção se
existir um gravame que impede a transferência do bem
Caracteriza-se evicção a inclusão de gravame capaz de impedir a transferência livre e desembaraçada de veículo objeto de
negócio jurídico de compra e venda. Caso concreto: foi vendido um carro, mas, antes que pudesse ser transferido à adquirente,
houve um bloqueio judicial sobre o veículo. Foi necessário o ajuizamento de embargos de terceiro para liberação do automóvel,
sendo, em seguida, desfeito o negócio. Neste caso, caracterizou-se a evicção, gerando o dever do alienante de indenizar a
adquirente pelos prejuízos sofridos. STJ. 3ª Turma. REsp 1713096-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2018 (Info
621).

Prazo prescricional da ação de indenização na eviccção


A pretensão deduzida em demanda baseada na garantia da evicção submete-se ao prazo prescricional de 3 anos. Em outras
palavras, é de 3 anos o prazo prescricional para que o evicto (que perdeu o bem por evicção) proponha ação de indenização
contra o alienante. STJ. 3ª Turma. REsp 1577229-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/11/2016 (Info 593). ATENÇÃO Obs:
esse entendimento tem grandes chances de ser revisto tendo em vista que, posteriormente, o STJ decidiu que o art. 206, § 3º, V,
do CC não se aplica para prescrição decorrente de ilícitos contratuais. Para responsabilidade civil contratual incide o prazo de 10
anos (STJ. 2ª Seção. EREsp 1280825/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018).

JURISPRUDÊNCIAS SOBRE “CONTRATOS”

JURISPRUDÊNCIAS SOBRE O CONTRATO DE LOCAÇÃO


ATENÇÃO! Pessoal, apesar da Lei de Locações não estar trabalhada neste material, ela é muito importante!! Leiam esta lei! Eu
nunca tinha lido, até que me deparo com ela na peça da 2ª fase da DPE/PE e também na prova oral!

É possível que empresa de telefonia celular proponha ação renovatória (art. 51 da Lei nº 8.245/91) para renovar a locação de
imóvel onde está instalada a sua antena (ERB), considerando que isso também compõe seu fundo de comércio
A “estação rádio base” (ERB) instalada em imóvel locado caracteriza fundo de comércio de empresa de telefonia móvel celular, a
conferir-lhe o interesse processual no manejo de ação renovatória fundada no art. 51 da Lei nº 8.245/91. STJ. 3ª Turma. REsp
1790074-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/06/2019 (Info 651).

Notificado o locador ainda no período determinado da locação acerca da pretensão de exoneração dos fiadores, os efeitos
desta exoneração somente serão produzidos após o prazo de 120 dias da data em que se tornou indeterminado o contrato de
locação
O art. 40, X, da Lei nº 8.245/91 prevê o seguinte: Art. 40. O locador poderá exigir novo fiador ou a substituição da modalidade de
garantia, nos seguintes casos: X – prorrogação da locação por prazo indeterminado uma vez notificado o locador pelo fiador de
sua intenção de desoneração, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante 120 (cento e vinte) dias após a notificação
ao locador. Não é necessário que a notificação seja realizada apenas no período da indeterminação do contrato de locação,
podendo, assim, os fiadores, no curso da locação com prazo determinado, notificarem o locador de sua intenção exoneratória,
mas os seus efeitos somente poderão se projetar para o período de indeterminação do contrato. Notificado o locador ainda no
período determinado da locação acerca da pretensão de exoneração dos fiadores, os efeitos desta exoneração somente serão
produzidos após o prazo de 120 dias da data em que se tornou indeterminado o contrato de locação, e não da notificação. STJ.
3ª Turma. REsp 1.798.924-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/05/2019 (Info 650).

Não são exigíveis aluguéis no período compreendido entre o incêndio que destruiu imóvel objeto de locação comercial e a
efetiva entrega das chaves pelo locatário
A locação consiste na cessão do uso ou gozo da coisa em troca de uma retribuição pecuniária, isto é, tem por objeto poderes ou
faculdades inerentes à propriedade. Assim, extinta a propriedade pelo perecimento do bem, também se extingue, a partir desse
momento, a possibilidade de usar, fruir e gozar desse mesmo bem, o que inviabiliza, por conseguinte, a manutenção do contrato
de locação, o que inviabiliza, por conseguinte, a exploração econômica dessas faculdades da propriedade por meio do contrato
de locação. STJ. 3ª Turma. REsp 1707405/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. p/ Acórdão Min. Moura Ribeiro, julgado
em 07/05/2019 (Info 650).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta
ao adquirente
A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta
ao adquirente. É o que prevê a Lei nº 8.245/91: Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá
denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o

@dicasexconcurseira 82
contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp
1669612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

Locatário, ao ajuizar ação renovatória, deverá demonstrar a quitação tributária, sendo suficiente, para tanto, a certidão de
parcelamento fiscal
A certidão de parcelamento fiscal é suficiente para suprir a exigência prevista no inciso III do art. 71 da Lei nº 8.245/91 (Lei de
Locações) para efeito do ajuizamento de ação renovatória de locação empresarial. STJ. 3ª Turma. REsp 1698814-SP, Rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/06/2018 (Info 629).

O prazo de 30 meses previsto no art. 46 da Lei de Inquilinato não pode ser alcançado pela prorrogação de contratos
Se a locação residencial foi celebrada por escrito e com prazo igual ou superior a 30 meses, quando chegar ao fim o prazo
estipulado, termina o contrato e o locador poderá pedir a retomada do imóvel sem a necessidade de apresentar qualquer
justificativa. Diz-se, assim, que o locador pode fazer a chamada “denúncia vazia”. Isso está previsto no art. 46 da Lei nº 8.245/91.
Vale ressaltar, contudo, que não é cabível a denúncia vazia quando o prazo de 30 meses, exigido pelo art. 46 da Lei nº 8.245/91,
é atingido com as sucessivas prorrogações do contrato de locação de imóvel residencial urbano. Em outras palavras, o art. 46 da
Lei nº 8.245/91 somente admite a denúncia vazia se um único instrumento escrito de locação estipular o prazo igual ou superior
a 30 meses, não sendo possível contar as sucessivas prorrogações dos períodos locatícios (accessio temporis) para se atingir esse
prazo de 30 meses. Ex: o contrato de locação foi celebrado por 12 meses; depois foi prorrogado mais duas vezes, totalizando 36
meses; não se aplica o art. 46 porque o período mínimo de 30 meses foi alcançado com prorrogações. STJ. 3ª Turma. REsp
1364668-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/11/2017 (Info 615).

É de 3 anos o prazo para o fiador cobrar do locatário inadimplente o valor que pagou ao locador
É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto de contrato de locaçãopleitear o
ressarcimento dos valores despendidos contra os locatários inadimplentes. O termo inicial deste prazo é a data em que houve o
pagamento do débito pelo fiador, considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação, e, via de consequência, inaugura-se
ao fiador a possibilidade de demandar judicialmente a satisfação de seu direito. STJ. 3ª Turma. REsp 1432999-SP, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/5/2017 (Info 605).

Se o locatário foi à falência, mas não houve denúncia do contrato de locação, o fiador permanece vinculado à obrigação
A decretação de falência do locatário, sem a denúncia da locação, nos termos do art. 119, VII, da Lei nº 11.101/2005, não altera
a responsabilidade dos fiadores junto ao locador. Art. 119. Nas relações contratuais a seguir mencionadas prevalecerão as
seguintes regras: VII – a falência do locador não resolve o contrato de locação e, na falência do locatário, o administrador judicial
pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato; STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.048-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/3/2017 (Info 602).

JURISPRUDÊNCIAS SOBRE CONTRATO DE SEGURO

Súmula 620-STJ
Súmula 620-STJ: A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento da indenização prevista em contrato de
seguro de vida. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe17/12/2018.

É abusiva cláusula prevista em seguro de acidentes pessoais que exclua complicações decorrentes de gravidez, parto, aborto,
intoxicações alimentares, exames e tratamentos
É abusiva a exclusão do seguro de acidentes pessoais em contrato de adesão para as hipóteses de: a) gravidez, parto ou aborto e
suas consequências; b) perturbações e intoxicações alimentares de qualquer espécie; e c) todas as intercorrências ou
complicações consequentes da realização de exames, tratamentos clínicos ou cirúrgicos. STJ. 3ª Turma. REsp 1635238-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018 (Info 640).

Ainda que contrato preveja a exclusão da cobertura em caso de embriaguez do segurado e mesmo que o acidente tenha sido
causado por essa embriaguez, a seguradora será obrigada a indenizar a vítima, já que essa cláusula é ineficaz perante terceiros
No contrato de seguro de automóvel, é lícita a cláusula que exclui a cobertura securitária para o caso de o acidente de trânsito
(sinistro) ter sido causado em decorrência da embriaguez do segurado. No entanto, esta cláusula é ineficaz perante terceiros
(garantia de responsabilidade civil). Isso significa que, mesmo que contrato preveja a exclusão da cobertura em caso de
embriaguez do segurado, a seguradora será obrigada a indenizar a vítima (terceiro) caso o acidente tenha sido causado pelo
segurado embriagado. Em outras palavras, não se pode invocar essa cláusula contra a vítima. Depois de indenizar a vítima, a
seguradora poderá exigir seu direito de regresso contra o segurado (causador do dano). A garantia de responsabilidade civil não
visa apenas proteger o interesse econômico do segurado tendo, também como objetivo preservar o interesse dos terceiros
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prejudicados. O seguro de responsabilidade civil se transmudou após a edição do Código Civil de 2002, de forma que deixou de
ser apenas uma forma de reembolsar as indenizações pagas pelo segurado e passou a ser também um meio de proteção das
vítimas, prestigiando, assim, a sua função social. É inidônea a exclusão da cobertura de responsabilidade civil no seguro de
automóvel quando o motorista dirige em estado de embriaguez, visto que somente prejudicaria a vítima já penalizada, o que
esvaziaria a finalidade e a função social dessa garantia, de proteção dos interesses dos terceiros prejudicados à indenização, ao
lado da proteção patrimonial do segurado. STJ. 3ª Turma. REsp 1738247-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
27/11/2018 (Info 639).

A seguradora não pode se recusar a contratar seguro com o consumidor que tenha restrição de crédito se ele se comprometer
a pagar à vista
A seguradora não pode recusar a contratação de seguro a quem se disponha a pronto pagamento se a justificativa se basear
unicamente na restrição financeira do consumidor junto a órgãos de proteção ao crédito. STJ. 3ª Turma. REsp 1594024-SP, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018 (Info 640).

Atraso no pagamento do prêmio e necessidade de comunicar previamente o segurado


Súmula 616-STJ: A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do segurado acerca do atraso no
pagamento do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro. STJ. 2ª Seção.
Aprovada em 23/05/2018, DJe 28/05/2018.

Seguro de vida não cobre suicídio nos dois primeiros anos de contrato
Súmula 610-STJ: O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito
do beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/04/2018, DJe 07/05/2018
(Info 624).

É vedada a exclusão de cobertura de seguro de vida em razão da embriaguez do segurado


É vedada a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro ou acidente decorrente de atos praticados pelo
segurado em estado de embriaguez. Tal cláusula é abusiva, com base nos arts. 3º, § 2º, e 51, IV, do CDC. STJ. 2ª Seção. EREsp
973725-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado Do TRF 5ª Região), julgado em 25/04/2018 (Info 625).

Doença preexistente e recusa de cobertura securitária


Súmula 609-STJ: A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença preexistente, é ilícita se não houve a exigência de
exames médicos prévios à contratação ou a demonstração de má-fé do segurado. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 11/04/2018, DJe
17/04/2018.

Seguradora não é obrigada a conceder indenização por invalidez total pelo simples fato de o segurado estar recebendo
aposentadoria por invalidez do INSS
A aposentadoria por invalidez permanente concedida pelo INSS não confere ao segurado o direito automático de receber
indenização de seguro contratado com empresa privada, sendo imprescindível a realização de perícia médica para atestar o grau
de incapacidade e o correto enquadramento na cobertura contratada. STJ. 2ª Seção. EREsp 1508190-SC, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 08/11/2017 (Info 616).

Se houve reconhecimento da culpa do segurado e pagamento de parte da indenização pela seguradora ao terceiro, não se aplica
a Súmula 529 do STJ
A vítima de acidente de trânsito pode ajuizar demanda direta e exclusivamente contra a seguradora do causador do dano
quando reconhecida, na esfera administrativa, a responsabilidade deste pela ocorrência do sinistro e quando parte da
indenização securitária já tiver sido paga. Não se aplica, neste caso, a Súmula 529 do STJ. Isso porque, mesmo não havendo
relação contratual entre a seguradora e o terceiro prejudicado, a sucessão dos fatos (apuração administrativa e pagamento de
parte da indenização) faz com que surja uma relação jurídica de direito material envolvendo a vítima e a seguradora. Súmula
529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e
exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano. STJ. 3ª Turma. REsp 1584970-MT, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 24/10/2017 (Info 614).

Embriaguez ao volante e agravamento do risco


No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização securitária se o condutor do
veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado?
• Em regra: NÃO.
• Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar que o acidente ocorreria mesmo
que o condutor não estivesse embriagado. Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de
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automóvel quando o causador do sinistro – preposto da empresa segurada – estiver em estado de embriaguez, salvo se o
segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância. STJ. 3ª Turma. REsp 1485717-SP, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

O atraso do segurado em comunicar o seguro que houve um sinistro com o veículo nem sempre irá gerar a perda da indenização
securitária
O art. 771 do CC determina que o segurado deverá comunicar imediatamente à seguradora quando ocorrer algum sinistro
envolvendo o veículo, já que isso possibilita que esta tome medidas que possam amenizar os prejuízos da realização do risco,
bem como a sua propagação. Esse dispositivo legal prevê que, se não houver esta comunicação imediata, o segurado perderá o
direito à indenização. Vale ressaltar, no entanto, que, para que ocorra a sanção prevista no art. 771 do CC, é necessário que
fique demonstrada a ocorrência de uma omissão dolosa do segurado, que beire a má-fé, ou culpa grave e que, com isso,
prejudique, de forma desproporcional, a atuação da seguradora. Assim, se o segurado demorou três dias para comunicar à
seguradora que o veículo foi roubado porque foi ameaçado pelo criminoso, ele não perderá o direito de ser indenizado já que,
neste caso, não poderia ser dele exigido comportamento diverso. Resumindo: o segurado que, devido às ameaças de morte
feitas pelo criminoso a ele e à sua família, deixou de comunicar prontamente o roubo do seu veículo à seguradora não perde o
direito à indenização securitária (art. 771 do CC). STJ. 3ª Turma. REsp 1404908-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 2/8/2016 (Info 590).

JURISPRUDÊNCIAS SOBRE DEMAIS CONTRATOS

Promessa de compra e venda, mesmo sem registro, gera efeitos que podem atingir terceiros
Nos contratos de compra e venda de imóveis, a falta de registro da incorporação imobiliária não compromete os direitos
transferidos ao promissário comprador, os quais podem ter efeitos perante terceiros. A ausência do registro da incorporação
não torna nulo o contrato de compra e venda. O descumprimento, pela incorporadora, da obrigação prevista no art. 32 da Lei nº
4.591/64, consistente no registro do memorial de incorporação no Cartório de Imóveis e dos demais documentos nele
arrolados, não implica a nulidade ou anulabilidade do contrato de promessa de compra e venda de unidade condominial. Assim,
a promessa de compra e venda, ainda que não registrada, é oponível ao próprio vendedor ou a terceiros, haja vista que tal
efeito não deriva da publicidade do registro, mas da própria lei. STJ. 3ª Turma. REsp 1490802/DF, Rel. Min. Moura Ribeiro,
julgado em 17/04/2018.

Se a parte quiser arguir a nulidade da cláusula arbitral, deverá formular esse pedido, em primeiro lugar, ao próprio árbitro, não
sendo possível que proponha diretamente ação judicial
A previsão contratual de convenção de arbitragem enseja o reconhecimento da competência do Juízo arbitral para decidir com
primazia sobre o Poder Judiciário as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato
que contenha a cláusula compromissória. Ex: a empresa 1 celebrou contrato com a empresa 2; neste contrato há uma cláusula
arbitral; a empresa 2 notificou extrajudicialmente a empresa 1 cobrando o cumprimento do ajuste; a empresa 1 ajuizou ação
declaratória de falsidade alegando que a assinatura constante no contrato é falsa e, portanto, o pacto seria nulo; esta ação
deverá ser extinta sem resolução do mérito (art. 485, VII, do CPC/2015); isso porque, nos termos do art. 8º, parágrafo único, da
Lei nº 9.307/96, a alegação de nulidade da cláusula arbitral, bem como do contrato que a contém, deve ser submetida, em
primeiro lugar, à decisão do próprio árbitro, sendo prematura a apreciação pelo Poder Judiciário. Trata-se da aplicação do
princípio da kompetenz-kompetenz, que confere ao árbitro o poder de decidir sobre a própria competência. STJ. 3ª Turma. REsp
1550260-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/12/2017 (Info 622).

O árbitro e a instituição de arbitragem não têm legitimidade para figurarem no polo passivo de eventual ação anulatória
A instituição arbitral, por ser simples administradora do procedimento arbitral, não possui interesse processual nem
legitimidade para integrar o polo passivo da ação que busca a sua anulação. STJ. 3ª Turma. REsp 1433940-MG, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 26/09/2017 (Info 613).

O STJ não irá homologar a sentença arbitral estrangeira se constatar que o árbitro que participou do procedimento não gozava
de imparcialidade
A prerrogativa de imparcialidade do julgador aplica-se à arbitragem e sua inobservância resulta em ofensa direta à ordem
pública nacional – o que legitima o exame da matéria pelo Superior Tribunal de Justiça, independentemente de decisão
proferida pela Justiça estrangeira acerca do tema. STJ. Corte Especial. SEC 9412-EX, Rel. Min. Felix Fischer, Rel. para acórdão
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/4/2017 (Info 605).

@dicasexconcurseira 85
Aula 17

Direito das Obrigações (Parte I)

1. Introdução. Conceito básico: débito e responsabilidade.

O que significa a palavra “obrigação”? E juridicamente?


A obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada
prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório, cujo objeto consiste
numa prestação economicamente aferível (GONÇALVES, Carlos Roberto).

Deste conceito clássico, é possível extrair os seguintes elementos da relação obrigacional:


a) Carater transitório (pois a obrigação nasce para ser cumprida);
b) O vínculo jurídico com exigibilidade patrimonial;
c) A prestação exigível;
d) A relação existente entre pessoas (credor – devedor).

O vigente Código Civil, em comparação ao anterior, promoveu importante mudança no ramo obrigacional, ao vê-lo
como a parte geral da parte especial (Orlando Gomes).

A clássica relação jurídica obrigacional é erigida sobre dois pilares: débito (schuld) e responsabilidade (haftung).

VONTADE Obrigação
DEVER PRIMITIVO

LEI Dever

RESPONSABILIDADE Se descumprido a obrigação de pagar o A responsabilidade é um


débito, nasce a responsabilidade DEVER SUCESSIVO

O que é o débito? O que é responsabilidade?


A responsabilidade patrimonial é ilimitada? Vejamos o que informa o art.391 do CC:
CC, Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.

Necessidade de realizar uma leiura sistemática do art.391 do CC com os valores constitucionais à Teoria Jurídica do
Patrimônio Mínimo (Luis Edson Fachin) e Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo (Ana Paula Barcelos).

Alguns exemplos de limites:


a) Direito à moradia (art.6º da CF). Bem de família (Lei 8.009/90 e arts.1.711 e segs. do CC);
b) Impenhorabilidade (arts.832 e 833 do CPC/15).

Interpretação sistemática que se impõe na esteira do art.2º, §2º da LINDB (Barbosa Moreira).
LINDB, Art.2º, §2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a
lei anterior.

Melhor intelecção do legislador processualista:


CPC/15, Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo
as restrições estabelecidas em lei.

Se a responsabilidade é patrimonial, cabe prisão civil?


A CF veicula duas hipóteses de prisão civil (art.5º, LXVII):
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel;

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Todavia, haja vista a adoção da tese da supralegalidade da Convenção de Direito Humanos (Pacto São José da Costa
Rica) - que revogou a legislação ordinária sobre a prisão do depositário infiel – não mais é possível a prisão de depositário infiel.
A isto chamam alguns de convencionalização do direito civil. Hoje, a questão está pacificada, persistindo apenas a prisão civil do
devedor de alimentos.

Súmula Vinculate 25: É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
Súmula 419 STJ: Descabe a prisão civil do depositório infiel.

ATENÇÃO! Foi considerada correta uma alternativa de questão de concurso público que dizia que a prisão do depositário infiel
era constitucional (pois estava prevista na CF), porém ilegal!

Sabe-se que a regra geral é que débito e responsabilidade caminhem juntos. Mas seria possível se falar em
responsabilidade sem débito e débito sem responsabilidade? Sim!
O débito sem obrigação à obrigações naturais ou imperfeitas.

Obrigação natural/imperfeita: não possui exigibilidade jurídica. Apesar de ser inexigível, caso o indivíduo cumpra a
obrigação (ex: pague), não poderá cobrar o valor pago de volta. Ex: tenho uma dívida e, se não pagá-la, serei responsabilizado. A
dívida prescreve, porém, mesmo assim, eu pago. A dívida prescrita é obrigação inexigível e irrepetível, pois, uma vez paga, não
se pode cobrar de volta o seu valor.

CC, Art. 564. Não se revogam por ingratidão:


I - as doações puramente remuneratórias;
II - as oneradas com encargo já cumprido;
III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural;
IV - as feitas para determinado casamento.

CC, Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.

Responsabilidade sem débito à relações de garantia. Ex: fiança. O fiador se responsabiliza por débito alheio.

Responsabilidade patrimonial seria patrimonialização? Sim, mas patrimonialização “para o bem”, respeitando a
dignidade da pessoa humana, a boa-fé, o patrimônio mínimo.

O que é responsabilidade executória secundária? É hipótese de responsabilidade por débito alheio. Exs:
desconsideração da personalidade jurídica e dívida contraída por um dos cônjuges para manutenção do lar (o outro cônjuge
também é responsável pelo pagamento).

CPC/15, Art. 795. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei.
§1º O sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da sociedade, tem o direito de exigir que primeiro sejam
excutidos os bens da sociedade.
§2º Incumbe ao sócio que alegar o benefício do § 1º nomear quantos bens da sociedade situados na mesma comarca, livres e
desembargados, bastem para pagar o débito.
§3º O sócio que pagar a dívida poderá executar a sociedade nos autos do mesmo processo.
§4º Para a desconsideração da personalidade jurídica é obrigatória a observância do incidente previsto neste Código.
CC, Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.

CC, Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam solidariamente ambos os cônjuges.

2. A Novel Leitura do Direito Obrigacional. A Relação Jurídica Obrigacional como um PROCESSO.

Hodiernamente, não mais deve ser enxergada a relação jurídica obrigacional com base no débito e na responsabilidade
(antiga e nominada “obrigação simples”). Hoje, há um conceito complexo, funcionalizado (vínculo dinâmico) da obrigação como
um processo.
A obrigação é o conjunto de atividades necessárias à satisfação do interesse do credor.
Não há apenas direitos ao credor. O devedor também os tem, como a constituição daquele em mora. Idem sobre os
deveres. Assim, credor e devedor possuem direitos e deveres.
@dicasexconcurseira 87
A visão que se deve ter é que a obrigação é uma partida de frescol, e não de uma partida de tênis.
Dessa maneita, há novos elementos integrantes da relação jurídica obrigacional:
a) Ordem de cooperação entre as partes;
b) Deveres anexos impostos a ambas as partes;
c) Cumprimento mais largo (não basta adimplir os deveres obrigacionais do contrato).

Importantes marcos de transição da relação jurídica obrigacional clássica para a atual leitura da obrigação como um
processo:
- A liberdade originada da Revoluçõa Francesa e a influência sobre a relação obrigacional. Relações obrigacionais e
pacta sunt servanda;
- A intervenção estatal e sua intensificação (constitucionalização do Direito Civil x publicização do Direito Civil);
- O pepel (re)unificador da CF/88: declínio do individualismo – Novos valores para a relação obrigacional.

Evolução de uma relação obrigacional egoística para uma relação pautada em solidariedade social e dignidade da
pessoa humana (relação colaborativa).
A concepção atual de relação jurídica, em virtude da incidência do princípio da boa-fé, é a de uma ordem de
cooperação, em que aluem as posições tradicionais do devedor e do credor.
Não se quer com isso negar que a relação jurídica obrigacional está destinada à satisfação do interesse do credor, mas
enfatizar a necessidade de que este também deve cooperar na consecução deste fim.
A partir da leitura dinâmica e social, a eticidade (através da boa-fé) e a sociabilidade (mediante a função social) ganham
importante espaço como balizadores da relação jurídica obrigacional.

2.1. A Eticidade Obrigacional. A boa-fé.

A boa-fé objetiva (treu und glauben – lealdade e confiança) como princípio das relações obrigacionais (arts.113 e 422
do CC).
CC, Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

CC, Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé.

a) A base constitucional (arts.1º, III, 3º, III e 5º) e previsão do CDC (arts.4º, III, e 51, IV);

b) Disposição de caráter abstrato e função de flexibilizar o sistema (oportunidade de adequar a decisão judicial no caso
concreto às novas diretrizes do sistema obrigacional);
A boa-fé objetiva não pode ser aplicada da mesma forma às relações de consumo e às relações mercantis ou
societárias, pela simples razão de que os “standars” de comportamento são distintos.

c) A tríplice função da boa-fé objetiva: função INTERPRETATIVA, função INTEGRATIVA e função RESTRITIVA/LIMITADORA à CAI
MUITO EM PROVA!

- Função interpretativa ou de otimização dos contratos (art.113, CC).


CJF, Enunciado 27: Art.422: Na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as
conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos.

- Função integrativa ou de reequilíbrio dos contratos (art.422, CC – deveres de


conduta/anexos/instrumentais/laterais/ acessórios/de proteção ou de tutela).
Adimplir significará atender a todos os interesses envolvidos na obrigação, abarcando tanto os deveres ligados à
prestação propriamente dita, como àqueles relacionados à proteção dos contratantes em todo o desenvolvimento do processo
obrigacional.
Os deveres de conduta são taxativos ou exemplificativos? Exemplificativos.
Classificação de Menezes de Cordeiro a respeito dos deveres de conduta:
a) Deveres de proteção;
b) Deveres de esclarecimento;
c) Deveres de lealdade.

CJF, Enunciado 24: Art.422: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art.422 do CC, a violação aos deveres anexos
constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.
@dicasexconcurseira 88
O descumprimento de tais deveres denomina-se violação positiva do contrato ou adimplemento fraco, sendo
reconhecido pelo STJ na hipótese de não observância do dever de informação.

Recurso especial. Civil. Indenização. Aplicação do princípio da boa-fé contratual. Deveres anexos ao contrato.
O princípio da boa-fé se aplica à relações contratuais regidas pelo CDC, impondo, por conseguinte, a obediência aos deveres
anexos ao contrato, que são decorrência lógica deste princípio.
O dever anexo de cooperação pressupõe ações recíprocas de lealdade dentro da relação contratual.
A violação a qualquer dos deeres anexos implica em inadimplemento contratual de quem lhe tenha dado causa.
A alteração dos vaores arbitrados a título de reparação de danos extrapatrimoniais somente é possível, em sede de Recurso
Especial, nos casos em que o quantum determinado revela-se irrisório ou exagerado.
REsp 595631/SC. Relatora Ministra Nancy Andrighi. 3ª Turma. Julgado em: 8/6/2004.

No mesmo sentido: REsp 1276311/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão. DJe 17.10.2011.

O CJF reconhece como um dos deveres anexos o de mitigação por parte do credor – Duty to Mitigate the Loss, ou o
dever do credor de mitigar as próprias perdas.

CFJ, Enunciado 169: Art.422: O princípio da boa-fé deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo.

Idem sobre o nemo potest venire contra factum proprium.

CFJ, Enunciado 362: A vedação ao comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da
confiança, tal como se extrai dos arts.187 e 422 do Código Civil.

O que são os deveres acessórios/secundários da obrigação principal? Os deveres secundários objetivam indenizar a
mora.

- Função restritiva ou limitadora (art.187, CC): o juiz revisa o contrato para adequá-lo à boa-fé.

CJF, Enunciado 26: Art.422: A cláusula geral contida no art.422 do Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário,
suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes.

Aplicação do pré-contrato ao pós-contrato?

CFJ, Enunciado 25: Art.422: O art.422 do CC não inviabiliza a apllicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-
contratual e pós-contratual.

CJF, Enunciado 170: Art.422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a
execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.

2.2. A Sociabilidade Obrigacional: A Função Social.

O princípio da função social do contrato tem base constitucional, encontrando fundamento no princípio da
solidariedade e na afirmação do valor social da livre iniciativa. O CC apenas consolidou, no ordenamento infraconstitucional, a
ideia de que o contrato deve ser funcionalizado, i.e., elaborado e interpretado sempre de forma a não causar influência negativa
no meio social, bem como observado por terceiros, dos quais se exige que “respeitem as situações jurídicas anteriormente
constituídas”

O tema resta disciplinado no art.421 do CC:

CC, Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato, observado o disposto na
Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. (Redação dada pela Medida Provisória nº 881, de 2019)

Observa-se que a função social mitiga, mas não extingue a autonomia da vontade.

CJF, Enunciado 23: Art.421: A função social do contrato, prevista no art.421 do CC, não ilimina o princípio da autonomia
individual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual
relativo à dignidade da pessoa humana.
@dicasexconcurseira 89
A relativização do alcance estritio das relações obrigacionais: tutela externa e interna do crédito. O terceiro ofendido e
o terceiro ofensor.

O terceiro ofensor ou terceiro cúmplice e o exemplo da prestação de serviços.

CC, Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância
que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante 2 anos.

Outro importante caso do terceiro cúmplice: caso Zeca Pagodinho.


Ainda que a AMBEV não tenha sido signatária do contrato entre Zeca Pagodinho e Schincariol, sua conduta, ao deixar
de observar o pacto de exclusividade nele contido, é potencialmente apta a gerar dano indenizável. (TJ/SP, Ac. Unâm. 7ª Câmara
de Direito Privado. AgInstrum. 346.344.4/8 – São Paulo. Rel. Des. Roberto Mortari. Julg. 3/2/2004).

O terceiro ofendido é o exemplo do seguro. Considerado que o segurado não teria recursos para indenizar a vítima
pelos danos causados, é possível condenar diretamente a seguradora a pagar à vítima o valor da indenização prevista em caso
de sinistro. (STJ, REsp 97.590/RS, Rel. Min. Ruy Rosado Aguiar).

Súmula 529 do STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe ajuizamento de ação pelo terceiro prejudica direta e
exclusivamente* em face da seguradora do apontado causador do dano.
* Tem que colocar o causador do dano no polo passivo da demanda também.

O que seria a equivalência ou justiça contratual? Significa que o contrato dee gerar trocas úteis e justas.

CJF, Enunciado 22: Art.421: A função social do contrato, prevista no art.421 do C, constitui cláusula geral que reforça o princípio
de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas.

Exemplos no Código Civil de busca da justiça contratual:

- CC, Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do
momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da
prestação.

- CC, Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor
pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

Súmulas que se preocupam com o princípio da justiça contratual:

Súmula 297 STJ: O CDC é aplicável às instituições financeiras.

Súmula 302 STJ: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

Súmula 308 STJ: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de
compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.

Boa-fé e funçõa social: retratos de um sistema aberto.

Tese do adimplemento substancial ou inadimplemento mínimo (substancial performance). O que é?


O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar à função social do
contrato e o princípio da boa-fé, balizando a aplicação do art.475.

Cumprimento obrigacional + Perdas e danos


Art.475 do CC - em caso
de inadimplemento:
Resolução da obrigação + Perdas e danos

@dicasexconcurseira 90
A substancial performance significa isto: adimplida quase toda a obrigação, não caberá a extinção do contrato, mas
apenas outros efeitos jurídicos visando sempre a manutenção da avença, como numa “eficácia interna da função social dos
contratos, entre as partes contratantes”.

Também entende a doutrina que para a caracterização do adimplemento substancial se deve levar em conta “tanto os
aspectos quantitativos quanto qualificativos”.
Por isto, “a cobrança de encargos e parcelas indevidas ou abusivas impede a caracterização da mora do devedor”.

Com o assunto é visto no STJ?

Já entendeu o STJ, verbi gratia, que a falta de pagamento de apenas uma prestação no contrato de financiamento não autoriza
busca e apreensão do bem, mas apenas ação de cobrança ante o adimplemento substancial pelo devedor do contrato, sob pena
de ferida a boa-fé objetiva (REsp 272.739-01 MG). Idem sobre o atraso no pagamento da útlima parcela do prêmio, a qual não
permite a seguradora suscitar inadimplemento absoluto do segurado (REsp 293.722-SP).

Alienação Fiduciária. Busca e apreensão. Deferimento liminar. Adimplemento substancial. Não viola a lei a decisão que indefere
o pedido liminar de busca e apreensão considerando o pequeno valor do bem e o fato de que este é essencial à atividade da
devedora. Recurso não conhecido (REsp 469.577/SC).

Encargos excessivos. Ausência de mora. Repetição dos valores. Na linha da jurisprudência firmada na Segunda Seção deste
Tribunal, a cobrança de encargos ilegais e abusivos descaracteriza a mora do devedor. A jurisprudência desta Corte já assentou
que aquele que recebe pagamento indevido deve restituí-lo para impedir o enriquecimento indevido, prescindindo da discussão
a respeito de erro de pagamento. Agravo regimental desprovido. (ArRg no REsp 903.592/RS).

A cobrança de encargos excessivos descaracteriza a mora do devedor, entendimento que tem amparo na jurisprudência
pacificada na Segunda Seção do STJ [...] Agravo improvido. (AgRg no REsp 793.588/RS).

DE OLHO NA JURIS! Teoria do adimplemento substancial


Por meio da teoria do adimplemento substancial, defende-se que, se o adimplemento da obrigação foi muito próximo ao
resultado final, a parte credora não terá direito de pedir a resolução do contrato porque isso violaria a boa-fé objetiva, já que
seria exagerado, desproporcional, iníquo. No caso do adimplemento substancial, a parte devedora não cumpriu tudo, mas quase
tudo, de modo que o credor terá que se contentar em pedir o cumprimento da parte que ficou inadimplida ou então pleitear
indenização pelos prejuízos que sofreu (art. 475, CC). STJ. 3ª Turma. REsp 1200105-AM, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 19/6/2012 (Info 500).

3. Obrigação como Direito Pessoal. Como distingui-la dos direitos da personalidade?

DIREITOS OBRIGACIONAIS DIREITOS DA PERSONALIDADE


Patrimoniais Extrapatrimoniais
Inter partes Erga omnes
Prescritíveis Imprescritíveis
Transmissíveis Intransmissíveis
(inter-vivos ou causa mortis)
Disponíveis Indisponíveis
Penhoráveis Impenhoráveis
Compensáveis Incompensáveis
Transacionáveis Intransacionáveis
Cessíveis Incessíveis
Relativos (inter partes) Absolutos (erga omnes)

4. Obrigação como relação jurídica patrimonial. Como distingui-la dos direitos reais?
Tanto as obrigações, como os direitos reais dizem respeito a direitos patrimoniais/relações patrimoniais.

@dicasexconcurseira 91
O que são relações jurídicas patrimoniais? O CC/02 é monista/unitário ou binário/dualista? É dualista:

DIREITOS REAIS DIREITOS OBRIGACIONAIS


Numerus clausus (rol do art.1225 é taxativo) Numerus apertus (rol exemplificativo; o art.425 prevê
contratos atípicos)
Direito de sequela: reivindicar a coisa onde quer que esteja e Não há sequela. Executa-se o contrato apenas, incidindo
nas mãos de quem quer que seja sanção pelo descumprimento no patrimônio do devedor
Eficácia erga omnes: opõe-se contra todos Eficácia inter partes
Registrabilidade e publicidade (submetem-se a registro) Forma livre, em regra (art.107, CC). Não exigem registro, nem
publicidade
A relação jurídica se estrutura entre uma pessoa e a própria A relação jurídica se estrutura entre pessoas determinadas
coisa (jus in re – direito sobre a coisa) ou determináveis (jus ad rem – direito contra a pessoa)
Direito de preferência Direito quirografário (comum)
Inerência ou aderência: acompanha, adere às mutações da Não inerência. Não acompanha as mutações da coisa, pois
coisa gira em torno da prestação
Encerra direito de gozo, fruição ou garantia sobre a coisa Encerra direito de crédito a uma prestação, entre sujeitos

4.1. Zonas de confluência. Figuras híbridas relativas às relações patrimoniais.

a) Obrigação propter rem: é a obrigação que decorre do direito real e que adere à coisa. Ex: IPTU, IPVA, taxa condominial. A
transferência da obrigação se dá com a transferência da coisa. A obrigação propter rem pode ultrapassar o valor da coisa (ex:
IPTU progressivo no tempo).

DE OLHO NA JURIS! O STJ já entendeu que a obrigação de recuperar área ambiental degradada é do atual proprietário,
independente deste ter sido o autor da degradação, porque isto decorre de uma obrigação propter rem, que adere ao título de
domínio ou posse.

b) Obrigações de ônus real: é aquela que restringe o uso e gozo da coisa. Ex: rendas constituídas sobre imóveis - Fulano doou
um bem imóvel a Sicrano e diz que X% da safra do imóvel deve ser dada a Beltrano.
CC, Art. 803. Pode uma pessoa, pelo contrato de constituição de renda, obrigar-se para com outra a uma prestação periódica, a
título gratuito.

Como as diferenciar da obrigação propter rem? A obrigação de 6onus real tem como limite a própria coisa; enquanto
que a obrigação propter rem pode ir além do valor da coisa.

c) Obrigação de eficácia real: é aquela que, originariamente, teria efeito inter partes, mas que, por conta do registro, passa a ter
eficácia real erga omnes. Ex: art.8º da Lei 8.245/91 (Lei de Locações) – se o contrato de locação estiver averbado no registro
imobiliário, ele ganha eficácia erga omnes.

Lei 8.245/91, Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de
noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em
caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

Aula 18

Direito das Obrigações - Parte II

Classificação das obrigações e a possibilidade de combinação dos diferentes critérios determinativos (Orlando Gomes)
A obrigação pode se submeter a diferentes critérios classificatórios ao mesmo tempo.

1. Quanto ao conteúdo das obrigações:


a. Obrigação de meio: o devedor assume a obrigação de realizar diligencias, ser cauteloso, cuidadoso para a obtenção
do resultado. Mas não se vincula ao resultado. Não advindo o resultado, não há presunção de culpa. Ex: obrigação do advogado
e, regra geral, a obrigação do médico.

@dicasexconcurseira 92
b. Obrigação de resultado: o devedor se vincula a um resultado específico, a alcançar um objetivo certo. Não obtida a
finalidade, presume-se a culpa do devedor, afinal, este se vinculou ao resultado. Ex: obrigação do transportador.
CC, Art. 734. O transportador responde (objetivamente) pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo
motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.
Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite da indenização.

RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR à objetiva com risco integral.

OBRIGAÇÃO DE RESULTADO à presume-se a culpa à mas a responsabilidade é subjetiva.


OBRIGAÇÃO DE MEIO à a culpa deve ser provada.

S.161, STF: Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.


STJ - a obrigação do dentista, seja em tratamento estético ou ortodôntico, é de resultado.
Na obrigação de resultado, presume-se a culpa; na obrigação de meio, é preciso provar a culpa do devedor, já que ela
não é presumida.
OBS: o fato de, na obrigação de resultado, existir uma presunção de culpa, não significa que a responsabilidade seja objetiva. A
responsabilidade na obrigação de resultado é subjetiva.

A distinção de obrigação de meio e de resultado vem sendo arrefecida pela boa-fé objetiva, em razão dos deveres
anexos.
A responsabilidade médica do cirurgião plástico estético baseia-se na boa-fé objetiva.

c. Obrigação de garantia: é a obrigação cujo conteúdo não é um dever vinculado a um resultado ou diligência; é quando
o devedor assume a obrigação de eliminar os riscos impostos à parte contrária. Ex: contrato de seguro; na evicção e nos vícios
redibitórios, temos exemplos de obrigação de garantia.

2. Quanto a liquidez:
a. Obrigação líquida: é a obrigação certa, específica e determinada quanto a sua existência, objeto e valor. Ex:
obrigação de pagar 100 mil reais.

b. Obrigação ilíquida: é a obrigação cujo valor e objeto são indeterminados. Ex: obrigação de indenizar o taxista por
acidente de veículo. Sempre que a obrigação for ilíquida, não se admite compensação, pedido de falência, nem arresto. A
obrigação ilíquida só pode ser executada depois da sua liquidação. O procedimento de liquidação é cognitivo (e não executivo);
afinal, a execução pressupõe um título líquido. A liquidação pode se dar: por cálculo aritmético (art.524, CPC/15 - quando o
próprio credor apresentar os cálculos), por arbitramento (arts.509 e 510 CPC/15; especificação por um perito ou pelo próprio
juiz - ex: na indenização por dano moral, é o juiz quem arbitra) e liquidação por artigos (art.509, II e §4º CPC/15 - é
procedimento comum ordinário; dá-se quando se fizer necessário provar fatos novos).

3. Quanto ao momento de cumprimento das obrigações:


a. Obrigação instantânea/momentâneas: a obrigação cujo inadimplemento é imediato e único. Ex: compra e venda à
vista.

b. Obrigação de trato sucessivo/de execução diferida/de execução continuada: há um prolongamento no tempo da


execução da obrigação. A execução não se exaure em um único ato. Ex: compra e venda à prazo, promessa de compra e venda
(contratos preliminares em geral).
Possibilidade de alegação de onerosidade para fins revisão ou resolução de contratos - art.578 e 317 CC: somente os
contratos de execução continuada admitem a alegação de onerosidade excessiva para fins de resolução ou revisão de contrato.

4. Quanto aos elementos acidentais: condição, termo e encargo.


a. Obrigação pura e simples: obrigação sem qualquer elemento acidental. Desta forma, a obrigação é exigível
imediatamente, pois seus efeitos não foram controlados.
Os elementos acidentais atuam no plano da eficácia e são fatores de controle de eficácia.

b. Obrigação condicionada: condição é evento futuro e incerto. Ex: nascimento com vida (art.542, CC - doação ao
nascituro).

c. Obrigação a termo: o termo é evento futuro e certo/inevitável. Todo termo é inevitável, de ocorrência certa (ex:
prestação de serviço até 30 do mês) ou incerta (ex: morte, não se sabe quando vai morrer).
@dicasexconcurseira 93
d. Obrigação com encargo/modo: o encargo é uma contraprestação imposta ao beneficiário de um negocio gratuito. Ex:
doação, com imposição do encargo de prestar serviços em hospital (doação com encargo - art.540, CC). O descumprimento do
encargo gera execução, mas não gera necessariamente a perda da eficácia da obrigação. Se o encargo estiver expresso sob
forma de condição, seguirá as regras da condição.

Obrigação condicional —> eficácia da obrigação contida (condição suspensiva) ou eficácia extinta (condição resolutiva).

Obrigação a termo —> eficácia da obrigação contida (termo inicial) ou eficácia extinta (termo final).

Obrigação modal/com encargo —> não atinge a eficácia da obrigação, pois o eventual descumprimento do encargo
gera a execução.

Obrigação condicional —> o não implemento da condição suspensiva impede a aquisição e o exercício dos direitos
obrigacionais.

Obrigação a termo —> não advento do termo inicial impede o exercício dos direitos obrigacionais.

Obrigação modal (com encargo) —> não cumprimento do encargo não impede a aquisição e tampo o exercício dos
direitos obrigacionais.

5. Quanto à sua dependência: teoria da gravitação


a. Obrigação principal: tem existência própria. Ex: obrigação do locatário pagar os aluguéis.

b. Obrigação acessória: cuja existência, validade e eficácia estão submetidas a outra obrigação. Ex: obrigação do fiador
locatício - só é responsável se o locatário não pagar.
A eventual invalidade, extinção ou prescrição da obrigação principal afetará a obrigação acessória, mas a recíproca não
é verdadeira.
A estranha situação da possibilidade de penhora do bem de família do fiador locatário (Lei 8.009,90, art.3º, VII): o bem
de família do devedor não pode ser penhorado, mas o bem de família do fiador pode. A obrigação acessória, desta forma, ganha
independência em relação à obrigação principal. O STF entende que este dispositivo é constitucional, malgrado seja uma
obrigação acessória que produz efeitos autônomos.

6. Quanto à pluralidade de objetos:


a. Obrigação cumulativa: haverá cumulação de objetos; é obrigação aditiva; o devedor deve prestar mais de uma coisa.
O cumprimento só ocorrerá quando forem prestados todos os objetos contidos da obrigação. Ex: pensão alimentícia.

b. Obrigação alternativa: há uma disjunção, pois o devedor cumpre a obrigação entregando isto ou aquilo. Ex:
obrigação da loja de automóvel que se compromete a vender o carro para o cliente, se comprometendo a devolver o carro (se
não conseguir vender o carro) ou entregar o dinheiro (se vender). A escolha cabe ao devedor, salvo disposição em contrário.
Promovida a escolha, tem-se a chamada “concentração do débito”, deixando de haver uma obrigação alternativa. Dali em
diante, será tratada como uma obrigação pura e simples. Se porventura a escolha couber ao devedor, o credor tem uma ação
contra ele (para o devedor escolher), sob pena de a escolha passar a caber ao credor - art.800, CPC/15.
Depois da escolha do devedor, haverá concentração a divida e, a partir de então, a obrigação passa a ser pura e
simples. Se o objeto perecer sem culpa, extingue-se a obrigação. Mas, se antes da escolha uma das prestações perecer sem
culpa, a obrigação automaticamente se torna pura e simples. Se a escolha cabia ao credor e este escolher a prestação que
pereceu, a obrigação converte em perdas e danos. Se a escolha cabia ao devedor, este vai a escolher uma das alternativas
restantes (menos a que pereceu por sua culpa, claro).

c. Obrigação facultativa/com faculdade de solução: não está expressa no CC. Doutrina e jurisprudência são consensuais
em admiti-la. Obrigação facultativa não é obrigação alternativa. Na obrigação facultativa, só existe um único objeto a ser
cumprido. E, portanto, o credor só pode exigir aquela determinada prestação. Se esta prestação se perecer sem culpa, extingue-
se a obrigação. Com vistas a facilitar o cumprimento da obrigação, as partes estipulam que o devedor, querendo, pode cumprir a
obrigação entregando coisa diversa (há uma facilidade para o devedor cumprir a obrigação). É uma opção exclusiva do devedor.
Esta faculdade fica numa espécie de stand by.

@dicasexconcurseira 94
7. Quanto à pluralidade de sujeitos:
a. Obrigação simples: quando há apenas um credor e um devedor.

b. Obrigação divisível: há mais de um credor e/ou mais de um devedor, mas o objeto da obrigação pode ser dividido
entre os sujeitos em partes iguais (concursu partes fiunt) sem a perda do seu valor econômico. Ex: obrigação de dar dinheiro.
CC, Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas
obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

c. Obrigação indivisível: quando há pluralidade de sujeitos (mais de um credor e/ou devedor), mas o objeto da
prestação não comporta divisão.
CC, Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por
sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.

OBS: Só há interesse em classificar as obrigações como divisíveis ou indivisíveis quando houver pluralidade de credores e/ou
devedores.

A indivisibilidade decorre da natureza do objeto da prestação. Mas, nada impede que a indivisibilidade decorra da
vontade das partes, da lei ou de decisão judicial (divisibilidade intelectual).
A indivisibilidade com pluralidade de devedores x indivisibilidade com pluralidade de credores. Com pluralidade de
devedores: qualquer devedor pode ser compelido a prestar o todo; o devedor que paga sozinho cobra dos demais a diferença,
proporcionalmente. Com pluralidade de credores: cada um dos co-credores pode exigir o todo. O devedor somente se exonera
se prestar a obrigação conjuntamente ou se pagar a um deles desde que autorizado pelos demais (caução de ratificação, que
autoriza um a receber em nome de todos). Se o devedor pagar a um só sem a autorização dos demais, a obrigação se mantém
em relação aos demais (quem paga mal paga duas vezes). Por outro lado, se o credor tiver autorização dos demais, o pagamento
extingue a obrigação. Aquele que recebeu sozinho a prestação se obriga a repassar a parte dos demais.

CC, Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em
dinheiro a parte que lhe caiba no total.

Remissão (perdão) x remição (pagamento). Remissão:

CC, Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão
exigir, descontada a quota do credor remitente.
Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão.

Perda do objeto nas obrigações indivisíveis. Se o objeto se perdeu sem culpa de qualquer das partes, extingue-se a
obrigação. Se pereceu com culpa de um dos devedores, converte-se-á em perdas e danos, que é obrigação divisível. Mas a
indenização decorrente das perdas e danos serão custeados somente pelo culpado.

d. Obrigação solidária: cria uma massa única de sujeitos. Existe um bloco único de credores e/ou devedores. Eles são
tratados como um bloco único. Há pluralidade de sujeitos e unicidade de objeto. A solidariedade decorre da vontade das partes
ou de lei expressa. Este bloco único de sujeitos está baseado na confiança/fidúcia.
Solidariedade ativa = entre credores; solidariedade passiva = entre devedores.

CC, Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

Por não ser a solidariedade presumida, sua interpretação é restritiva (STJ). Salvo em favor de idoso (art.12 do Estatuto
do Idoso), não há solidariedade em obrigação alimentícia.
A obrigação pode ser solidaria a termo ou sob condição para um sujeito, e solidaria pura e simples para outro sujeito. A
solidariedade só existe externamente, pois internamente a obrigação se reparte em tantas partes quantos sejam os sujeitos.

Credores solidários: o devedor se exonera entregando a qualquer dos credores. O credor que recebeu sozinho
responde em relação aos demais.

CC, Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-
lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles.

É típico exemplo de coisa julgada secundum eventum litis.


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Cada credor solidário pode exigir o todo, independentemente de autorização ou caução de ratificação dos demais
(afinal, os credores solidários sõa tratados como um único bloco).

Solidariedade passiva: pluralidade de devedores é muito mais comum do que a solidariedade ativa. Todos respondem
independentemente de a coisa ser divisível ou indivisível. Na solidariedade passiva, existe o jus variandi para o credor, pois este
escolhe contra quem exerce seu crédito. O ajuizamento de diferentes ações de cobrança contra os devedores constitui abuso
(STJ).
Exemplos de solidariedade passiva decorrente de lei: alimentos em favor de pessoa idosa (Art.12, Estatuto do Idoso),
art.942, p.u., CC (responsabilidade civil pelo fato de terceiro - a vítima pode escolher se cobra do empregador, do empregado ou
dos dois), art.7º, p.u., CDC (solidariedade imperfeita: solidariedade entre todos que participam da relação de consumo, seja o
produtor, o distribuidor ou o fornecedor).
Em se tratando de solidariedade passiva, o credor pode exigir de um ou de todos — litisconsórcio facultativo. Barbosa
Moreira: a vantagem que o CC conferiu ao credor conferiu com a mão direta, o CPC tirou com a mão esquerda.

CPC/15, Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:


III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum.

O devedor solidário que foi demandado sozinho pode chamar os demais ao processo, apesar de o credor ter escolhido
demandar contra apenas um dos devedores.
Havendo pagamento parcial, a solidariedade se mantém em relação ao montante não quitado.
Se um dos codevedores solidarios morrer, os herdeiros respondem pelo todo ou apenas em relação à parte que o de
cujus devia? A obrigação solidaria é personalíssima; assim, os herdeiros respondem apenas pela parte do de cujus. Mas, se a
obrigação, além de solidária, for também indivisível, os herdeiros responderão pelo todo.
Se o perecimento é culposo por um dos codevedores solidários, a obrigação converte em perdas e danos e cada um
responde por sua parte, mas pode ser demandado pelo todo. Mas, a indenização pelas perdas e danos só responde o codevedor
culpado.

8. Quanto ao objeto da obrigação:


a. Obrigação de dar: corresponde à entrega de coisa, certa ou incerta. É a tradição.
CPC/15: desmaterialização das obrigações de dar, sendo possível a tutela específica em caso de inadimplemento.
Enunciado 160, JDC: o depósito de FGTS é obrigação de dar. STJ: depósito de FGTS é obrigação de fazer. Em qualquer
caso, caberá tutela específica.
A obrigação pode ser de dar coisa certa ou incerta. Na de dar coisa certa, o objeto está perfeitamente individualizado.
Na de dar coisa certa, aplica-se a regra da correspondência: o credor não é obrigado a aceitar coisa diversa (ainda que de maior
valor), nem o devedor pode ser compelido a prestar coisa diversa (ainda que de menor valor). Salvo disposição em contrario, a
entrega da coisa presume a entrega dos acessórios. OBS: pertenças e partes integrantes não são acessórios e não se submetem
à teoria da gravitação.
A perda ou deterioração da coisa - a coisa perece para o dono (teoria dos riscos): salvo disposição em contrario, a
responsabilidade é do proprietário. Se a coisa pereceu antes da entrega, a responsabilidade é do devedor. Se pereceu depois da
entrega, a responsabilidade é do credor.
O devedor, contudo, não responde se provar caso fortuito ou força maior, SALVO, o devedor em mora, se houver
previsão de lei ou previsão do contrato.
STJ - obrigação de guarda —> responsabilidade objetiva. Na obrigação de guardar ou de restituir, a responsabilidade é
objetiva.
No caso de obrigação de dar coisa incerta, sabe-se a qualidade, a quantidade e o gênero, mas não se tem a
especificidade do objeto. Ex: dar um carro (qual carro?). A escolha, em regra, é do devedor, salvo disposição em contrário. A
escolha deve se dar pelo valor médio, em respeito à boa-fé objetiva.
Se a parte a quem competir a escolha não o fizer, caberá ação judicial. A partir da escolha, a obrigação se torna de dar
coisa certa.
Na obrigação de dar coisa incerta, não se pode falar em perecimento, pois o gênero não perece. Afinal, não houve a
escolha; a coisa não pereceu porque ela sequer foi escolhida.

b. Obrigação de fazer: preparar algo e entregar ao credor. Conduta humana positiva. Ex: contrato preliminar, promessa
de fato de terceiro, alfaiate a quem se encomendou um terno. Podem ser fungíveis ou infungíveis, a depender da
imprescindibilidade do comportamento do devedor. Se a conduta do devedor for imprescindível, a obrigação será infungível (ex:
pintar um quadro); do contrário (se for prescindível), será fungível (ex: pintar a parede). STJ: permite a tutela específica tanto
para as obrigações de fazer fungíveis quanto para as infungíveis.

@dicasexconcurseira 96
Se o ato se tornar impossível sem culpa do devedor, extingue-se a obrigação. Se por culpa do devedor, perdas e danos +
indenização.
O art.249 CC permite uma autotutela das obrigações de fazer:
CC, Art. 249.Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou
mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

c. Obrigação de não fazer: corresponde a uma abstenção assumida pelo devedor. Ex: cláusula contratual de não
concorrência. Podem ser divisíveis (sequência de condutas) ou indivisíveis (conduta única). A simples prática do ato implica em
inadimplemento.

Possibilidade de autotutela do credor nas obrigações de não fazer.


CC, Art. 251. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de
autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.

Aula 19

Adimplemento e inadimplemento das obrigações

O adimplemento obrigacional (teoria do pagamento)

Pagamento é sinônimo de adimplemento, que é cumprimento espontâneo e integral de uma obrigação (dar, fazer, não
fazer). Não é só o cumprimento de uma prestação pecuniária que significa pagamento.
Toda obrigação é transitória, pois nasce para se extinguir e ser adimplida. Nessa medida, o cumprimento da obrigação é
direito do devedor (para se libertar da obrigação) e direito do credor.
O adimplemento da obrigação precisa estar acobertado de alguns requisitos: exato (integral), lícito e espontâneo. Se o
pagamento é parcial, não houve pagamento; o pagamento é apenas o integral. Uma vez realizado o pagamento, extingue-se a
relação obrigacional.
Depois de muitas discussões, seguindo teoria de Karl Lorenz apregoou que o pagamento é uma execução real (e não
negócio jurídico) da obrigação, pois libera o vínculo e extingue a obrigação. Há uma discussão: mesmo recebendo o pagamento,
se houver a propositura de uma nova ação de cobrança pelo credor? Quem cobra dívida já paga, no todo ou em parte, repete
em dobro (arts.929 e 930, CC - responsabilidade civil por cobrança indevida de dívida); mas, surge uma questão interessante: é
preciso alegar que já houve o pagamento? Se o devedor deixar de alegar que já pagou, o juiz poderia obrigá-lo a pagar de novo.
Qual é o limite dentro do processo para que o devedor demonstre que já pagou? Vedação ao enriquecimento sem causa x
segurança jurídica… Este interessante conflito foi decidido pelo STJ: para o STJ, o limite para alegar que já pagou é a prolação da
sentença. Professor Cristiano Chaves: deveria ser possível até a formação da coisa julgada; até mesmo na impugnação ou
embargos à execução, ou por exceção de pré-executividade…
É uma execução real

PAGAMENTO ADIMPLEMENTO Cumprimento espontâneo e integral de uma obrigação (de dar, fazer, não fazer)

REQUISITOS: EXATO/INTEGRAL
LÍCITO
ESPONTÂNEO

Quem deve pagar (solvens): sujeito ativo do pagamento

É quem realiza o pagamento espontaneamente, e não é necessariamente o devedor.


à Devedor

à Terceiro interessado: CC, Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se
opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Terceiro interessado é aquele que pode ser atingido pelos efeitos do inadimplemento do devedor. Ex: sublocatário (se o
locatário não pagar ao locador, o sublocatário pode ter sua esfera atingida), o fiador ou avalista (podem ser executados, caso o
devedor seja inadimplemente). O pagamento realizado pelo terceiro interessado era sub-rogação, ou seja, o terceiro
interessado que pagou se subrroga no crédito e passa a poder cobrá-lo (o devedor passa a ser devedor do terceiro interessado).
@dicasexconcurseira 97
DE OLHO NA JURIS! A interrupção do prazo prescricional operada contra o devedor principal prejudica o fiador
A interrupção do prazo prescricional operada contra o devedor principal prejudica o fiador. Em regra, o ato interruptivo da
prescrição apresenta caráter pessoal e somente aproveitará a quem o promover ou prejudicará aquele contra quem for dirigido
(persona ad personam non fit interruptio). Isso está previsto no art. 204 do CC. Exceção a esta regra: interrompida a prescrição
contra o devedor afiançado, por via de consequência, estará interrompida a prescrição contra o fiador em razão do princípio da
gravitação jurídica (o acessório segue o principal), nos termos do art. 204, § 3º, do CC: § 3º A interrupção produzida contra o
principal devedor prejudica o fiador. A interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não prejudica o devedor
afiançado, salvo nas hipóteses em que os devedores sejam solidários Como regra, a interrupção operada contra o fiador não
prejudica o devedor afiançado. Isso porque o principal não segue a sorte do acessório. Existe, no entanto, uma exceção: a
interrupção em face do fiador poderá, sim, excepcionalmente, acabar prejudicando o devedor principal nas hipóteses em que a
referida relação for reconhecida como de devedores solidários, ou seja, caso o fiador tenha renunciado ao benefício ou se
obrigue como principal pagador ou devedor solidário. STJ. 4ª Turma.STJ. 4ª Turma. REsp 1.276.778-MS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 28/3/2017 (Info 602).

à Terceiro não interessado:

CC. Art.304, Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo
oposição deste.

CCArt. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas
não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

O terceiro não interessado não tem sua esfera de interesses comprometida em razão do inadimplemento do devedor.
Ex: pai do devedor, irmão do devedor…
O terceiro não interessado que pagar em nome próprio tem direito de reembolso, e não de sub-rogação (que gera
direito de regresso). O direito de reembolso dá-se por ação de conhecimento (actio in rem verso), devendo provar que o
pagamento reverteu em benefício do devedor. Como não há sub-rogação, ele não pode entrar logo com uma ação executiva,
tendo que entrar com ação de conhecimento. O terceiro não interessado pode entrar com ação (para reembolso) contra o
devedor originário e também contra o terceiro causador do dano.
Se o terceiro não interessado paga em nome do devedor significa doação, não havendo direito de regresso nem de
reembolso.
Existem dois casos em que o pagamento feito pelo terceiro não interessado gera direto à sub-rogação (e não
reembolso):
i. Se houver sub-rogação convencional, ou seja, por expressa disposição das partes;
ii. Em caso de alienação fiduciária em garantia. Ex: você adquire um carro em alienação fiduciária, o banco é seu credor
fiduciário (é proprietário do bem); ai você vai em outro banco tomar dinheiro emprestado para pagar a divida; este banco passa
a ser o credor.
CC, Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele
que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

Se o credor não receber voluntariamente o pagamento, cabe consignação em pagamento, mesmo em caso de
pagamento por terceiro interessado ou não interessado.

à Representante legal ou convencional do devedor.


Seja quem for que pague, tem direito à quitação. Recusando a quitação, cabe a consignação em pagamento.
CPC/15, Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e
os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.

STJ: Havendo negativa à quitação, é caso de retenção de pagamento, além do direito à consignação.

A quem se deve pagar (accipiens): sujeito passivo do pagamento


Em regra, o accipiens é o credor.

à Credor capaz de dar a quitação (obs: a excepcional validade do pagamento feito ao credor incapaz)
CC, Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele
ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. — o pagamento feito à incapaz é válido, quando for ratificado por seu

@dicasexconcurseira 98
representante/assistente ou quando provar que converteu em proveito do incapaz.

à Representante legal (no caso de incapacidade)

à Representante convencional ou judicial

à Credor putativo: é aquele que se apresenta aos olhos de todos como credor (teoria da aparência).
CC, Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.

STJ: é válido o pagamento feito ao credor putativo, tendo sido o devedor diligente, cuidadoso, em razão da boa-fé e da
teoria da aparência.
Aquele que recebeu na qualidade de credor putativo é obrigado a restituir ao credor original, para evitar
enriquecimento sem causa.

à Mandatário tácito: é aquele que porta a quitação.


CC, Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a
presunção daí resultante.

OBS: Se o pagamento é feito a um credor solidário, extingue a obrigação. Os demais credores solidários cobrarão daquele que
recebeu o pagamento. Na obrigação indivisivel, com co-credores, aquele credor que recebeu precisa ter caução de ratificação
dos demais credores, ou o pagamento será feito a todos os credores juntos de uma só vez.

Havendo dúvida acerca de quem seja o legítimo credor, é caso de consignação em pagamento. O devedor deve ter esse
cuidado, porque quem paga mal paga duas vezes.

Objeto do pagamento

O que deve ser pago? Aqui incide o princípio da identidade física da prestação obrigacional, que significa que o
pagamento deve corresponder exatamente ao objeto da obrigação, de modo que qualquer mudança na prestação depende de
convenção das partes.
CC, Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

Dação em pagamento: após o descumprimento da obrigação, o devedor oferece ao credor voluntariamente algo
diverso e este algo é aceito. As partes ajustam o recebimento de algo diverso. Na dação em pagamento, não há que se falar na
violação da identidade física.

DE OLHO NA JURIS! Determinada empresa deu ao credor um terreno como pagamento da dívida (dação em pagamento); se
não foi feita nenhuma ressalva, presume-se que a transferência do imóvel incluiu a plantação ali existente
Na dação em pagamento de imóvel sem cláusula que disponha sobre a propriedade das árvores de reflorestamento, a
transferência do imóvel inclui a plantação. STJ. 4ª Turma. REsp 1567479-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/06/2019 (Info
651).

Moratória legal: é uma permissão do CPC ao devedor, no cumprimento de sentença ou execução, de requerer ao juiz,
na impugnação ou embargos, o parcelamento da dívida em 6x, com o depósito inicial de 30% do valor do pagamento. O juiz
defere a moratória e, assim, o pagamento será feito parceladamente. Não se trata de violação ao princípio da identidade.
No caso das obrigações facultativas, em que o devedor pode adimplir a única prestação devida de uma forma diversa.
Ex: o devedor se obrigou a entregar safra de feijão; mas, considerando que o clima pode ser desfavorável, o contrato lhe
permite se desonerar entregando uma safra de soja. O devedor, se quiser, pode entregar soja, ao invés do feijão. Neste caso,
não viola o princípio da identidade física, pois o próprio contrato permite a prestação de forma diversa.

Teoria do adimplemento substancial: se porventura o cumprimento da obrigação foi substancial, retira-se do credor o
direito de requerer a resolução do contrato permitida pelo art.475, CC. O credor pode executar o contrato, entrar com ação de
cobrança; o credor só não poderá requerer a resolução.

Pagamento em dinheiro

CC, Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o
disposto nos artigos subseqüentes. — Princípio do nominalismo
@dicasexconcurseira 99
Valor nominal presume-se com ou sem correção monetária? O valor nominal pressupõe atualização monetária (mas
não abrange juros), SALVO disposição em contrário das partes. Os juros só serão devidos como remuneração (juros
remuneratórios) se expressamente previstos ou pela natureza do negócio (ex: empréstimo bancários).
Qual é o percentual dos juros? Não há mais limitação constitucional de juros (havia; não era possível cobrar juros acima
de 1% ao mês, o que limitava a 12% ao ano). O STJ, com a alteração do texto constitucional, editou a S.382: A estipulação de
juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.
A questão que se apresenta é: os juros acima de 12% ao ano não apresentam abusividade, mas qual será o percentual
dos juros? É aquele estabelecido pelas partes. Evidentemente se as partes estipularem um percentual abusivo, o STJ admite que
o juiz poderá controlar, com base na boa-fé objetiva.
Mas, e se no silêncio das partes, ou seja, se as partes previram juros remuneratórios, mas não indicaram o percentual?
O art.405, CC, com uma redação imprecisa, terminou gerando um grande conflito doutrinária. Seria a taxa SELIC ou seria a taxa
do art.161, §1º do CTN? Cristiano Chaves adere ao entendimento majoritário, que foi sedimentado no Enunciado 20 da JDC: A
taxa de juros moratórios (aplicando-se também aos juros remuneratórios) a que se refere o art.406 é a do art.161, §1º do CTN
— portanto, a taxa será de 1% ao mês (por uma questão de isonomia: tanto quando a Fazenda fosse credora ou devedora, se
utilizaria a mesma taxa). MAS O STJ DIZ QUE É POSSÍVEL AO JUIZ UTILIZAR A TAXA SELIC. CUIDADO! No cálculo da taxa SELIC,
está embutida a correção monetária. Desta forma, o uso da taxa SELIC não pode vir acompanhada da correção monetária, sob
pena de bis in idem.

DE OLHO NA JURIS! Na taxa SELIC já está embutida a correção monetária


Em caso de mora, é possível que o credor exija do devedor o pagamento da taxa SELIC (como juros legais moratórios) e mais a
correção monetária? NÃO. No cálculo da SELIC, além de um percentual a título de juros moratórios, já é embutida a taxa de
inflação estimada para o período. Em outras palavras, a SELIC já engloba a correção monetária. Logo, se o credor, no caso de
inadimplemento do devedor, exigir a dívida principal acrescida da SELIC e mais a correção monetária, ele estará cobrando duas
vezes a correção monetária, o que configura bis in idem. STJ. 2ª Seção. EDcl no REsp 1025298/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 28/11/2012. A fixação da taxa dos juros moratórios, a partir da entrada em vigor do art. 406 do Código Civil
de 2002, deve ser com base na taxa Selic, sem cumulação de correção monetária. STJ. 3ª Turma. REsp 1403005/MG, Rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 06/04/2017.

Réu foi condenado a pagar indenização acrescida de juros até o efetivo pagamento. O fato de o seu patrimônio ter sido
bloqueado em outra ação judicial que trata sobre fatos conexos não significa que os juros de mora devem deixar de ser
computados naquele
A mera notícia de decisão judicial determinando a indisponibilidade forçada dos bens do réu, no cerne de outro processo, com
objeto e partes distintas, não possui o condão de interromper a incidência dos juros moratórios. STJ. 3ª Turma. REsp 1740260-
RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/06/2018 (Info 629).

Capitalização dos juros: os juros podem ser capitalizados? Em regra, é vedada a capitalização dos juros (S.121, STJ: É
vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada). São os chamados juros compostos ou juros sobre
juros ou anatocismo. No entanto, essa regra não se aplica às instituições financeiras (STJ, REsp 915.572/RS). Afinal de contas, as
instituições financeiras vivem de capitalização. S.93, STJ: A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial
admite o pacto de capitalização de juros. CUIDADO! Em se tratando de empréstimo ligado ao Sistema Financeira de Habitação,
não se admite a capitalização.

DE OLHO NA JURIS! A capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade, somente será considerada válida se estiver
expressamente pactuada no contrato
A cobrança de juros capitalizados nos contratos de mútuo é permitida quando houver expressa pactuação. Isso significa que a
capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade (anual, semestral, mensal), somente será considerada válida se estiver
expressamente pactuada no contrato. A pactuação da capitalização dos juros é sempre exigida, inclusive para a periodicidade
anual. O art. 591 do Código Civil permite a capitalização anual, mas não determina a sua aplicação automaticamente. Não é
possível a incidência da capitalização sem previsão no contrato. STJ. 2ª Seção. REsp 1388972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado
em 8/2/2017 (recurso repetitivo) (Info 599).

Principais conclusões do STJ sobre a capitalização de juros


Quatro conclusões importantes do STJ sobre o tema:
I — A capitalização de juros, também chamada de anatocismo, ocorre quando os juros são calculados sobre os próprios juros
devidos.
II — A capitalização ANUAL de juros é permitida, seja para contratos bancários ou não-bancários.

@dicasexconcurseira 100
III — A capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano, em regra, é vedada. Exceção: é permitida a capitalização de
juros com periodicidade inferior a um ano em contratos BANCÁRIOS celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação
da MP 1.963-17/2000 (atual MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.
IV — A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. Para isso, basta
que, no contrato, esteja prevista a taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal. Os bancos não precisam dizer
expressamente no contrato que estão adotando a “capitalização de juros”, bastando explicitar com clareza as taxas cobradas.
STJ. 2ª Seção. REsp 973827-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado
em 27/6/2012 (Info 500).

Previsão contratual de comissão de permanência: esta comissão é uma taxa prevista no contrato somando todos os
encargos financeiros (juros, correção, despesas, registro, etc). Se há previsão contratual de comissão de permanência, o STJ diz
que está proibida a incidência de juros e correção monetária; afinal, no calculo da comissão de permanência, já está embutido
juros, correção monetária, etc (proibição ao bis in idem).

Pagamento em moeda estrangeira: o sistema jurídico brasileiro veda a cláusula ouro, ou seja, veda o pagamento em
moeda estrangeira ou em ouro, sob pena de nulidade, para garantir a soberania nacional (valorização da moeda, garantia das
regras de política econômica, soberania brasileira). “Sob pena de nulidade" de que? Nulidade do contrato? Não se pode invocar
uma suposta nulidade do contrato, porque implicaria em enriquecimento sem causa. Neste caso, vamos nos valer da figura do
art.184, CC —> redução parcial da invalidade: se porventura um negocio jurídico contiver uma cláusula nula ou anulável, a
invalidade atingirá somente esta cláusula, aproveitando-se todas as demais disposições do negócio. Cristiano Chaves chama isso
de “isolamento da invalidade”.

Exceções ao pagamento feito em moeda estrangeira - Decreto-lei 857/69:


i. Obrigação assumida no exterior;
ii. Obrigação decorrente de importação.

Para facilitar a vida do comércio exterior brasileiro, o STJ passou a admitir a validade da contratação em moeda
estrangeira, se houver previsão para conversão para “real”. É possível que os contratos indiquem que o valor irá se submeter a
bolsa de valores, taxas de mercado, índices econômicos.

Lugar do pagamento

CC, Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor (obrigação quesível ou querable), SALVO se as partes
convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.

Pagamento feito no domicilio do credor: obrigação portável/portable.


No caso de caso fortuito ou força maior, em regra, exoneram a responsabilidade civil do devedor (salvo no caso de
responsabilidade objetiva com risco integral), podendo fazer o pagamento em local diverso.

CC, Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em
outro, sem prejuízo para o credor.

Hipótese de supressio:

CC, Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no
contrato.

É possível instituir foro de eleição, que é o local escolhido pelas partes para dirimir eventuais conflitos. Havendo
cláusula de foro de eleição em contrato de adesão prejudicial ao aderente, o juiz deve declarar a nulidade da cláusula e remeter
ao foro competente, que é o do domicílio do aderente (não se aplica a Súmula 33 do STJ: A incompetência relativa não pode ser
declarada de ofício).

@dicasexconcurseira 101
O inadimplemento das obrigações e a sua nova compreensão (obrigações complexas e conceito complexo de inadimplemento
obrigacional)

Para o CC, só existem duas espécies de inadimplemento obrigacional (simplório!): inadimplemento absoluto e mora. O
CC esqueceu dos deveres anexos da boa-fé objetiva. Os deveres anexos são fontes autônomas de obrigações. Adimplir a
obrigação não é só cumprir os deveres contratuais, mas também os deveres anexos da boa-fé objetiva.
Adimplir significará atender a todos os interesses envolvidos na obrigação, abarcando tanto os deveres ligados à
prestação propriamente dita (obrigações contratuais), como àqueles relacionados à proteção dos contratante em todo o
desenvolvimento do processo obrigacional (obrigações decorrentes dos deveres anexos da boa-fé objetiva). FARIAS, Cristiano
Chaves.
Novo mecanismo de inadimplemento contratual: a chamada violação positiva de contrato (descumprimento dos
deveres anexos). O STJ já admite a violação positiva do contrato como novo modelo de inadimplemento.

Distinção entre inadimplemento absoluto x mora x violação positiva do contrato:


Inadimplemento absoluto Cessação do interesse do credor no adimplemento da
obrigação

Mora Permanência do interesse, total ou parcial, no


cumprimento da obrigação

Violação positiva do contrato (ou adimplemento fraco) Descumprimento dos deveres anexos, decorrentes da
boa-fé objetiva

O CC diz que o inadimplemento absoluto é o descumprimento total da obrigação; isto não é verdade. O
descumprimento pode ser parcial e haver inadimplemento absoluto. O CC peca na sua definição, pois inadimplemento absoluto
é cessação do interesse do credor em ver a obrigação adimplida.

Inadimplemento absoluto
INADIMPLEMENTO
DA OBRIGAÇÃO Mora

Violação positiva do contrato

DE OLHO NA JURIS! A pretensão indenizatória decorrente do inadimplemento contratual sujeita-se ao prazo prescricional
decenal (art. 205 do Código Civil), se não houver previsão legal de prazo diferenciado.
A pretensão indenizatória decorrente do inadimplemento contratual sujeita-se ao prazo prescricional decenal (art. 205 do
Código Civil), se não houver previsão legal de prazo diferenciado. STJ. Corte Especial. EREsp 1.281.594-SP, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Rel. Acd. Min. Felix Fischer, julgado em 15/05/2019 (Info 649).

Cláusula penal moratória não pode ser cumulada com indenização por lucros cessantes
A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida em
valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes. STJ. 2ª Seção. REsp 1498484-DF, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso repetitivo) (Info 651).

O inadimplemento obrigacional e as garantias constitucionais de proibição da prisão civil por dívida (eficácia horizontal dos
direitos fundamentais e convencionalização do Direito Civil)

SV nº 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
S.419, STJ: Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel.
Apesar do art.5º, LCVII autorizar a prisão civil do devedor de alimentos e do infiel depositário, não é admitida a prisão
do infiel depositário, em razão da CADH/Pacto São José da Costa Rica ter eficácia supralegal e ter revogado a legislação
infraconstitucional que regulamentava a prisão do depositário infiel (o Pacto de São José da Costa Rica está acima do CC).

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Só é possível a prisão civil do devedor de alimentos. S.309, STJ: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende as 3 prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se venerem no curso do
processo. Esta prisão se dará de 1 a 3 meses, separados dos presos comuns, e em regime fechado.
A S.309, STJ caracteriza o dever do credor de mitigar as próprias perdas (duty to mitigate the loss): embora a prescrição
da pretensão executiva de alimentos seja de 2 anos, o uso da prisão somente se dará em relação aos 3 meses antecedentes,
afinal, o credor não pode colaborar para agravar a situação do devedor.
CPC/15: possibilidade de desconto em folha da dívida vencida, ao invés de pleitear a prisão civil do devedor de
alimentos.
Alguns processualistas, como Didier e Marinoni, admitem o uso da prisão civil como mecanismo processual de tutela
específica: ao invés do juiz determinar multa/astreintes, ele poderá decretar a prisão em situações limítrofes.

CC, Art. 389. Não cumprida a obrigação (= NÃO HAVENDO INTERESSE NA SATISFAÇÃO DA OBRIGAÇÃO), responde o devedor por
perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado. + DIREITO À RESOLUÇÃO DO CONTRATO.

Na realidade: “não havendo interesse na satisfação da obrigação”, responde o devedor…


Somente se pode falar em inadimplemento absoluto se houver culpa do devedor (o inadimplemento absoluto
necessariamente será culposo; daí o caso fortuito e a força maior eliminam a responsabilidade do devedor).
Em 3 hipóteses, o devedor responde pelo inadimplemento absoluto, ainda que havendo caso fortuito ou força maior:
i. Por força de cláusula contratual excludente de responsabilidade;
ii. Nos casos de responsabilidade objetiva com risco integral;
iii. Se o fortuito ocorrer durante a mora.
A consequência do inadimplemento absoluto é: perdas e danos + juros + correção monetária + honorários de advogado
+ custas. Para além destes efeitos, também é efeito do inadimplemento absoluto o direito à resolução do contrato; lembrando
que este direito de resolução do contrato está limitado pela teoria do adimplemento substancial.

Mora é o cumprimento imperfeito da obrigação; mas ainda há viabilidade e interesse no cumprimento da obrigação.

CC, Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar
e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Deste artigo decorre uma consequência: a mora pode ser do devedor ou do credor.
A mora do devedor é chamada de mora solvendi: é o cumprimento imperfeito da obrigação. É claro que a mora
depende de culpa. Não há mora em decorrência de caso fortuito ou força maior. O efeito da mora é a responsabilização do
devedor, que responderá por todos os prejuízos causados ao credor em razão do atraso (perdas e danos, juros, correção,
honorarios e custas).
A mora pode ser ex re, automática, que se dá quando há data para cumprimento da obrigação e independe de
notificação do devedor. A mora ex persona se dá quando não há prazo estipulado para o cumprimento da obrigação,
dependendo de interpelação do devedor judicial ou extrajudicialmente.

ATENÇÃO! Nos contratos de alienação fiduciária e promessa de compra e venda, há prazo para o cumprimento da obrigação.
Assim, a mora deveria ser ex re. No entanto, a lei exige a prévia interpelação do devedor para que o credor possa ajuizar ação —
é uma condição de procedibilidade da ação do credor contra o devedor.

A mora do credor é chamada de mora accipiendi/creditoris e independe de culpa; dá-se quando o credor se recusa a
aceitar o pagamento. O efeito da mora do credor é a isenção de responsabilidade do devedor sobre o perecimento da coisa,
além da obrigação de ressarcir as despesas e aceitar a coisa pelo valor da coisa na data da entrega.
Se a mora for simultânea, uma mora elimina a outra (compensação de moras; pois ninguém pode se valer da própria
torpeza). O efeito será a extinção regular da obrigação.

DE OLHO NA JURIS! A abusividade de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a mora


A abusividade de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a mora. STJ. 2ª Seção. REsp 1639259-SP, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 12/12/2018 (recurso repetitivo) (Info 639). Obs: o reconhecimento da abusividade dos encargos
essenciais exigidos no período da normalidade contratual descarateriza a mora (STJ. 2ª Seção. REsp 1061530/RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 22/10/2008).

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Notificação extrajudicial pode ser usada para constituir donatário em mora em caso de doação com encargo sem prazo
determinado
A inexecução do encargo assumido pelo donatário em face do doador como condição para a celebração da doação onerosa poderá
ensejar a sua revogação. Não previsto prazo determinado para o cumprimento da contraprestação, o doador, mediante
notificação judicial ou extrajudicial, pode constituir em mora o donatário, fixando-lhe prazo para a execução do encargo. Restando
este inerte (“parado”), opera-se a revogação da doação. Apesar do art. 562 do CC falar em notificação judicial, admite-se também
a notificação extrajudicial com base no art. 397, parágrafo único do CC, sendo excesso de formalismo exigir a notificação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1622377/MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/12/2018.

Purgação da mora: possibilidade de emenda/eliminar a mora. É um direito do devedor ou do credor. Esta purgação é
descabível no caso de inadimplemento absoluto. A purgação é possível no caso de locação (para evitar o despejo) e de alienação
fiduciária.

CC, Art. 401. Purga-se a mora:


I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta;
II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data.

MORA DO DEVEDOR à MORA SOLVENDI à DEPENDE DE CULPA.


MORA DO CREDOR à MORA ACCIPIENDI/CREDITORIS à INDEPENDE DE CULPA.
SÚMULAS IMPORTANTES SOBRE O TEMA “OBRIGAÇÕES”

Termo inicial da correção monetária em caso de ato ilícito


Súmula 43-STJ: Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.

Termo inicial da correção monetária em caso de dano moral


Súmula 362-STJ: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.

Termo inicial dos juros moratórios em caso de responsabilidade extracontratual


Súmula 54-STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.

Propositura da ação revisional não descaracteriza a mora


Súmula 380-STJ: A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.

Capitalização de juros e instituições bancárias


Súmula 596-STF: As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas
operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional.

Permissão de capitalização de juros para contratos bancários, desde que expressamente pactuada
Súmula 539-STJ: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições
integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP 1.963-17/00, reeditada como MP 2.170-36/01), desde que
expressamente pactuada.

Taxa de juros nos contratos bancários superior ao duodécuplo da mensal


Súmula 541-STJ: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.

Taxa de juros nos contratos bancários e impossibilidade de comprovar a taxa de juros contratada
Súmula 530-STJ: Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente contratada — por
ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos —, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo
Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor. STJ. 2ª Seção.
Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

Estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% a.a.


Súmula 382-STJ: A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.

Comissão de permanência calculada com base na taxa média de mercado


Súmula 294-STJ: Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de
mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato.
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Módulo II

Aula 01

POSSE

Noções fundamentais sobre a posse, as suas teorias justificadoras e a posição do Código Civil

Durante muito tempo, o estudo da posse ficou subordinado ao estudo da propriedade; a posse era um apêndice da
propriedade. Isto se manteve até o precursor trabalho de Savigny, com a sua obra “teoria da posse”, onde defendeu a
autonomia da posse. A sua teoria da posse era subjetiva, pois, para ele, a posse se desdobrava em dois elementos: corpus
(apreensão, contato físico) + animus rem sibi habendi (a vontade de ser proprietário).
Havia uma imperfeição técnica na teoria subjetiva da posse de Savigny, pois o elemento subjetivo (animus rem sibi
habendi) nem sempre está presente na posse. Ex: o locatário não quer ser proprietário do imóvel necessariamente.
Daí, o discípulo de Savigny, Ihering, construiu a teoria simplificada da posse, em que foi retirado o elemento
subjetivo/intenção. Sua teoria era, portanto, objetiva, exigindo, apenas, o elemento “corpus”.
O CC/16 (e o CC/02 manteve) acolheu, em seu art.485, a teoria objetiva de Ihering. CC/02 à teoria OBJETIVA!
CC, Art.1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.
Poderes inerentes à propriedade (art.1228): uso, gozo/fruição, livre disposição e reivindicação.

CC, Art.1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha.

ATENÇÃO! O CC adota a teoria objetiva de Ihering, mas faz concessões à teoria subjetiva; ex: ao tratar da usucapião, o
CC exige posse com animus domini.
O STJ, indo mais longe, trouxe outro ingrediente: Posse, na visão contemporânea da teoria objetiva, não é,
necessariamente, apreensão física, mas PODER FÍSICO sobre a coisa - REsp 1.158.992/MG. Desta forma, o exercício da posse é
possível por meio de representante, afinal o possuidor não precisa estar em contato direto sobre a coisa.
Possuidor pode ser pessoa física, pessoa jurídica ou ente despersonalizado.
Jornada 492: A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens
para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela.

A mera detenção

Possuidor é quem tem um dos poderes da propriedade.


A mera detenção é a desqualificação da posse: alguém, malgrado tenha contato físico, não será considerada
possuidora.
Os casos de mera detenção devem estar previstos em lei; pois, do contrário, haverá posse.
A mera detenção não gera usucapião, indenização e retenção por benfeitorias ou acessões —> REsp 1.183.266/PR: o
detentor não tem direito ao usucapião e nem a indenização por benfeitorias ou acessões.
E se a ação for dirigida contra o mero detentor (ao invés de ter sido dirigida contra o possuidor ou proprietário)? No
CPC/73, este detentor deveria, processualmente, valer-se da figura da intervenção de terceiros por nomeação à autoria. O NCPC
extinguiu a nomeação à autoria; o detentor deverá alegar preliminar de ilegitimidade passiva para o processo (art.337, XI,
NCPC):

CPC/15, Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;

CPC/15, Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz
facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu
excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, §8º.

CPC/15, Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre
que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da
falta de indicação.

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§1º O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à alteração da petição inicial para a substituição do
réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
§2º No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito
indicado pelo réu.

Quais são os casos de mera detenção previstas em lei? São dois:

1º - Fâmulo/gestor da posse: CC, Art.1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para
com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. - ex: caseiro, veterinário,
adestrador, capataz da fazenda.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa,
presume-se detentor, até que prove o contrário.

2º - Posse injusta: CC, Art.1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância (= POSSE PRECÁRIA) assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
Posse injusta = posse precária + posse violenta + posse clandestina —> estas posses tem natureza de mera detenção,
apesar de chamarmos de “posse” injusta.
A posse precária não convalesce, mas a posse violenta e clandestina convalescem.
Posse PRECÁRIA à não convalesce.
Posse VIOLENTA e CLANDESTINA à convalescem.

Este fenômeno do convalescimento é também chamado de interversão. Convalescer é curar o vício. O convalescimento
se dá i) após o prazo de ano e dia, ou, ii) independentemente de prazo, quando cessada a causa que a originou. Havendo o
convalescimento, cessa a natureza de detenção e passa a ser posse. O prazo da usucapião e demais efeitos da posse passam a
fluir após o convalescimento.
A posse precária não convalesce, como já dito; a precariedade se mantém para sempre como detenção. Porém, a posse
precária pode sofrer uma mutação de sua natureza e se transformar em posse violenta ou posse clandestina, e aí, depois,
poderá convalescer. Ex: comodato —> gera posse precária; o comodatário, enquanto durar o empréstimo, é tratado como mero
detentor; mas, se tinha que restituir a coisa no dia 30 do mês e já estamos no dia 10 do mês seguinte, o comodatário acabou de
cometer esbulho contratual (posse violenta).
Outros dois casos de detenção na jurisprudência do STJ e que vem do direito administrativo: bem público de uso
comum ou especial (REsp 1.003.708/PR) e ocupação irregular de área pública (REsp 556.721/DF).

DE OLHO NA JURIS! Ocupação indevida de bem público (Súmula 619-STJ)


Súmula 619-STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou
indenização por acessões e benfeitorias. STJ. Corte Especial. Aprovada em 24/10/2018, DJe 30/10/2018.

Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público


Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o
domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1134446-MT, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623).

Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público


Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o
domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1134446-MT, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623).

Conversão da ação reintegratória em indenizatória


O terreno do proprietário foi invadido por inúmeras pessoas de baixa renda. O proprietário ingressou com ação de reintegração
de posse, tendo sido concedida a medida liminar, mas nunca cumprida mesmo após vários anos. Vale ressaltar que o Município
e o Estado fizeram toda a infraestrutura para a permanência das pessoas no local. Diante disso, o juiz, de ofício, converteu a
ação reintegratória em indenizatória (desapropriação indireta), determinando a emenda da inicial, a fim de promover a citação
do Município e do Estado para apresentar contestação e, em consequência, incluí-los no polo passivo da demanda. O STJ
afirmou que isso estava correto e que a ação possessória pode ser convertida em indenizatória (desapropriação indireta) - ainda
que ausente pedido explícito nesse sentido - a fim de assegurar tutela alternativa equivalente (indenização) ao particular que
teve suas térreas invadidas. STJ. 1ª Turma.REsp 1442440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 07/12/2017 (Info 619).

Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência no local?
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1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: não é possível. Não terá direito à
proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção.
2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR: terá direito, em tese, à
proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical,
pois entre ambos a disputa será relativa à posse. STJ. 4ª Turma. REsp 1296964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
18/10/2016 (Info 594).

Particular pode ajuizar ação possessória tendo como objeto bem público de uso comum do povo
Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem público de uso
comum do povo) instituída como servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está
invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores locais. Os moradores possuem
legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida
representa uma servidão de passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info
590).
O STJ possui inúmeros julgados afirmando que a ocupação irregular de bem público dominical não caracteriza posse, mas mera
detenção, hipótese que afasta o reconhecimento de direitos em favor do particular com base em alegada boa-fé.
Assim, por exemplo, se o particular invade um bem público que não é utilizado para nada (ex: um terreno baldio), a jurisprudência
entende que ele não é considerado possuidor, mas mero detentor. Logo, não poderá invocar a proteção possessória contra o
Poder Público.
Esse entendimento, porém, não se aplica para o caso de um particular que está defendendo seu direito de usar
um bempúblico de uso comum do povo. Aqui a situação é diferente.
No caso de bens públicos de uso comum do povo, podemos sim falar em posse e o particular poderá defendê-la em juízo. Nesse
sentido: THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Procedimentos Especiais – vol. III, Rio deJaneiro:
Forense, 2014, p.122).
Desse modo, podemos concluir que:
* o ordenamento jurídico não permite a proteção possessória em caso de particular que ocupe bens públicos dominicais, sendo
esta situação caracterizada como mera detenção;
* é possível, no entanto, que particulares exerçam proteção possessória para garantir seu direito de utilizar bens de uso comum
do povo, como é o caso, por exemplo, da tutela possessória para assegurar o direito de uso de uma via pública.

Objeto da posse

Na medida em que a posse é contato físico, possuidor é quem tem contato físico sobre a coisa. Por isso, o objeto da
posse necessariamente é bens corpóreos, materializáveis. Os bens incorpóreos/imateriais não são suscetíveis de posse, mas
podem ser suscetíveis de propriedade (ex: direito autoral, propriedade intelectual).
Descabimento de interdito possesório (ação possessória) para os bens incorpóreos —> Súmula 228, STJ: É inadmissível
o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.
Como os bens incorpóreos são defendidos? Tutela especifica (para fazer cessar o prejuízo) + ação indenizatória (para os
prejuízos que já sofri).
Os bens incorpóreos são insuscetíveis de usucapião. Há uma única exceção, que vem de uma súmula bem antiga:
Súmula 193, STJ: O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião.

Composse/Coposse/Compossessão

É o exercício simultâneo da mesma posse, por duas ou mais pessoas, ao mesmo tempo. Só há composse quando
houver: indivisibilidade da coisa + multiplicidade de sujeitos. Ex: casamento, união estável, herança.
Na composse, cada copossuidor exerce seu direito sobre o todo, independentemente da sua quota (fração ideal). E, por
isso, cada um deles pode defender o todo contra terceiro e, inclusive, uns contra os outros.
Se cada copossuidor pode defender o todo e fruir o todo, um copossuidor pode usucapir a coisa em relação aos
demais? Em regra, não, afinal todos exercem seu poder sobre o todo. Contudo, o STJ estabeleceu uma exceção (REsp
10.978/RJ): o copossuidor pode usucapir a coisa quando estabelecer posse com exclusividade, afastando os demais. Ex: uma
herança e 5 filhos e uma fazenda. Supondo que apenas um filho toma conta da fazenda e arca com todos os ônus e bônus,
nenhum dos outros herdeiros participa da administração… Neste caso, o herdeiro pode usucapir.
Novo efeito processual da composse:

CPC/15, Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário*,
salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
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§2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou
de ato por ambos praticado.
§3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos. — NOVIDADE!

* O consentimento do outro cônjuge só é necessário nas ações reais imobiliárias; mas ação possessória não é ação real, porque
posse não é direito real. Mas aí vem o §2º e diz: SALVO nas hipóteses de compasse —> assim, havendo composse, a participação
do cônjuge é necessária (não pela qualidade de cônjuge, mas pela qualidade de copossuidor).

Discute-se na doutrina sobre a natureza jurídica da posse civil. Quatro são as principais linhas de entendimento:
a) 1ª corrente: a posse é um fato;
b) 2ª corrente: a posse é um direito. Sendo a posse um direito, qual a seria a espécie desse direito? Existem três vertentes: direito
real (Ihering, Maria Helena Diniz), direito pessoal e direito especial ou sui generis (Flávio Tartuce, Carlos Roberto Gonçalves e
Clovis Beviláqua);
c) 3ª corrente: a posse tem natureza dúplice, sendo um fato e um direito. É a linha de entendimento defendida por Savigny
(teoria subjetiva);
d) 4ª corrente: a posse tem natureza tridimensional, podendo ostentar natureza de direito real (posse real), de direito pessoal
(posse obrigacional) ou de fato (posse fática), a depender das circunstâncias do caso concreto. É a linha de entendimento da
teoria tridimensional da posse.
Prevalece na doutrina a orientação de que a posse é um direito, existindo divergência quanto à espécie desse direito
(real, pessoal ou especial).

Função social da posse


CF, Art.5º:
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; à direito fundamental.
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
III - função social da propriedade; à princípio da ordem econômica.

CC, Art.1228, §1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de
modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o
equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

Existiria uma função social da posse? (já que a CF e o CC só falam em função social da propriedade). Hernández Gil
escreveu a obra “teoria sociológica da posse”: muito mais importante do que enquadrar a posse na teoria subjetiva ou objetiva,
é a contribuição social do estudo da posse.
Miguel Reale, ao escrever a exposição de motivos do CC/02, revela que o CC trata implicitamente da função social; ele
chama a função social da posse de “posse trabalho”. Diretrizes do CC: eticidade, operabilidade e socialidade.
Noberto Bobbio escreveu o livro “da estrutura à função”, onde diz que não se deve estudar a estrutura do direito (o
que é o Direito?), mas sim a função do Direito (para que serve o Direito?).
Os institutos do direito civil devem cumprir a função social, em cumprimento à diretriz “socialidade” do CC. A posse
deve ser valorizada pelo “ser”, e não pelo “ter”. A função social da posse é um sucedâneo da função social da propriedade.

Exemplos de função social da posse:


- i. contrato de promessa de compra e venda, que gera o direito real à aquisição, quando a promessa estiver
registrada no cartório de imóveis; mas se a promessa não estive registrada, não haverá direito real; mas, mesmo não estando
registrada e não gerar direito real, haverá direito à adjudicação compulsória (pois o promitente comprador está realizando a
função social da posse): Súmula 239, STJ: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de
compra e venda no cartório de imóveis. Este promitente comprador, ainda, fará jus aos embargos de terceiro. Súmula 84, STJ: É
admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda de compromisso de compra e venda de
imóvel, ainda que desprovido do registro.

CPC/15, Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou
sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de
embargos de terceiro.

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- ii em sede de ação possessória, não se discute propriedade. O juiz julgará a ação possessória em favor do melhor
possuidor, pouco interessando quem seja o proprietário.

Art.1.210, CC, §2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a
coisa.

CPC/15, Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do
domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a
coisa.
Perdeu o objeto a Súmula 487 do STF.

- iii. redução do prazo de usucapião em 5 anos, quando o usucapiente estiver morando ou tiver tornado a terra
produtiva. O juiz pode determinar essa redução de ofício.

CC, Art.1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a
propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de
título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua
moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

CC, Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o
possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no
registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua
moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

- iv. desapropriação judicial indireta. Não é usucapião, pois este é modo originário de aquisição da propriedade e se dá
sem contraprestação, enquanto que a desapropriação judicial indireta se dá mediante justa indenização.

CC, Art.1228, §4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse
ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em
conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
§5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença
como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. — quem paga essa indenização? Os próprios possuidores,
SALVO se for população de baixa renda e no contexto de políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em que quem fará o
pagamento será o Poder Público. Enquanto não for paga a indenização, não haverá registro. Se a indenização não for paga, pode
ocorrer a prescrição. Para que o Poder Público seja obrigado a pagar, este deverá ser citado. Esta ação pode ser autônoma
(“ação de desapropriação judicial indireta”) ou o proprietário ajuiza uma ação reivindicatória e na contestação os possuidores
alegam a posse. Qual ente público paga? Se o imóvel for de zona urbana, paga o Município; se o imóvel for em zona rural, paga
o União. Em ambos os casos, haverá deslocamento de competência para a Justiça Federal (se a União intervir) ou para a Vara da
Fazenda Pública (se o Município intervir). O MP pode ter legitimidade para requerer a desapropriação judicial indireta, quando
houver interesse social relevante. ATENÇÃO! É possível pedir desapropriação judicial indireta de bens públicos, pois não se
trata de usucapião.

Desapropriação judicial indireta (art.1228, §§4º e 5º, Usucapião especial urbano coletivo (Estatuto da Cidade,
CC) 10-12)

Extensa área, em imóvel urbano ou rural Área urbana superior a 250m2

Prazo de 5 anos Prazo de 5 anos

Considerável número de pessoas População em composse

Posse de boa-fé (e indireta) Posse de boa ou de má-fé

Obras e serviços relevantes considerados pelo juiz Finalidade de moradia

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Pagamento de indenização Sem contraprestação

Alegação em ação autônoma ou em matéria de defesa Alegação em ação autônoma ou em matéria de defesa -
S.237, STF (usucapião pode ser arguido em defesa)

Súmula 237, STF: O usucapião pode ser aguido em defesa.

Classificação da posse à CAI EM PROVA!

a) Posse direta e indireta


Aqui há o desmembramento da posse: o titular concede o contato físico a um terceiro, sem perder a qualidade de
possuidor. O desmembramento da posse decorre sempre de negócio jurídico. Só há posse direta quando houver possa indireta,
e vice-versa. Ex: locação, depósito, usufruto. O locatário tem a posse direta e o locador tem a posse indireta. O possuidor
indireto pode exercer os direitos da posse. O imóvel alugado esbulhado pode ser defendido pelo possuidor direto (locatário) e
indireto (locador). ATENÇÃO! Enunciando 76, JDC: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e
este, contra aquele.
O STJ vem entendendo (REsp 881.270/RS) que o possuidor indireto pode ceder a terceiro o seu direito de reclamar a
retomada da coisa.
Possibilidade de sucessivos desdobramentos da posse: o possuidor direto pode promover um novo desdobramento da
posse (ex: sublocação e subcomodato).
Qual dos dois possuidores pode usucapir a coisa: o possuidor direto ou o indireto, ou os dois? (PEGADINHA!) Nenhum
dos dois, pois o possuidor indireto já é proprietário; e o possuidor direto recebeu a coisa por força de contrato e, assim, lhe falta
animus domini.

CC, Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real,
não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

b) Posse justa e injusta


Critério objetivo: o CC adotou uma classificação por exclusão — no art.1.208, previu as posses injustas (precária,
violenta e clandestina); as demais posses são justas.

Enunciando 237, JDC: É cabível a modificação do título da posse - interversio possessionis - na hipótese em que o até
então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a
caracterização do animus domini.

c) Posse de boa-fé e de má-fé

Critério subjetivo: é de boa-fé a posse quando o possuidor não conhece de eventual vício que pesa sobre a coisa; e de
má-fé estará se souber do vício.
Ao possuidor de boa-fé o CC confere efeitos diferenciados/privilegiados. Todavia, não se pode pensar que o possuidor
de má-fé estEeja privado de efeitos. Os efeitos apenas são distintos. Ex: prazo de usucapião —> para o possuidor de boa-fé, o
prazo de usucapião é menor.

d) Posse nova e posse velha

Posse nova: exercida por menos de ano e dia.


Posse velha: exercida por mais de ano e dia.
Lembre-se: a posse violenta e clandestina convalescem depois do prazo de ano e dia.
“Ação de força nova” x ação de força velha: leva-se em conta a data do esbulho ou turbação. Se o esbulho ou turbação
passou do prazo de ano e dia, a ação será de força velha; se ainda não passou do prazo de ano e dia, a ação será de força nova.

e) Posse natural e posse civil (o constituto possessório)

Posse natural: é o contato físico com a coisa. Ordinariamente, a posse é adquirida naturalmente.
Posse civil/posse contratual/posse jurídica/constituto possessório/cláusula constituti: quando a posse é adquirida por
meio de um negócio jurídico, mesmo sem nunca ter tido contato com a coisa. A posse que se pode adquirir por força de um

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contrato é, obviamente, a posse indireta. Ex: alguém compra um imóvel e junto celebra um contrato de locação (dizendo: o
vendedor vai continuar morando na coisa, mas na qualidade de inquilino); neste caso, o comprador comprou a posse indireta.

O mais importante efeito decorrente do constituto possessório é fazer com que a pessoa que adquiriu a posse, por
meio de constituto possessório, possa se valer dos institutos possessórios.

Aula 02

Os efeitos jurídicos decorrentes da posse

Alguns efeitos são materiais e outros processuais (alterados pelo CPC/15); alguns estão no CC, outros não. Há, ainda, a
possibilidade da simultaneidade de efeitos (pode decorrer mais de um efeito, ao mesmo tempo).

A responsabilidade civil do possuidor

O possuidor responde civilmente pela perda ou deterioração da coisa. São dois diferentes níveis de responsabilidade: o
possuidor responde pelo prejuízo causado pela coisa (responsabilidade civil pela coisa; ex: responsabilidade civil pelo animal,
coisa caída, ruína da coisa — arts.936, 937 e 938, CC) e pela perda/deterioração da coisa (quando a própria coisa sofre a
perda/deterioração). Se a coisa se perder ou deteriorar, estando na posse do proprietário, não haverá responsabilidade do
possuidor, afinal de contas “a coisa perece para o dono” (res periti domini). O problema, aqui, é: se a coisa perecer ou deteriorar
nas mãos do possuidor, a responsabilidade é do possuidor. Se este estiver de boa-fé, a responsabilidade será subjetiva (leitura a
contrario sensu do art.1.217):
CC, Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.

Possuidor de BOA-FÉ à responsabilidade SUBJETIVA pela perda/deterioração da coisa.

Não haverá responsabilidade civil do possuidor de boa-fé, pela perda ou deterioração, quando não der causa. Cabe ao
proprietário provar que o possuidor deu causa, agiu culposamente (ônus da prova da vítima).
Se o possuidor é de má-fé, a responsabilidade será objetiva. Responderá, ainda que a perda/deterioração seja
acidental.
CC, Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de
igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.

Possuidor de MÁ-FÉ à responsabilidade OBJETIVA COM RISCO INTEGRAL, salvo se o possuidor provar que a coisa teria
se perdido/deteriorado mesmo estando na posse do proprietário.

A responsabilidade do possuidor de má-fé é OBJETIVA COM RISCO INTEGRAL, respondendo mesmo que a
perda/deterioração decorra de caso fortuito ou força maior. OBS: a responsabilidade objetiva com risco integral tem uma
péssima denominação, afinal de contas, a responsabilidade objetiva com risco integral acaba admitindo algumas hipóteses de
exclusão de responsabilidade; ex: responsabilidade objetiva com risco integral decorrente de dano nuclear admite a exclusão da
responsabilidade por culpa exclusiva da vítima (exclui a responsabilidade do Estado apenas em relação à vítima, e não em
relação a terceiros). No caso da responsabilidade objetiva com risco integral do possuidor de má-fé pode ser excluída se ele
provar que a coisa teria perdido/deteriorado mesmo estando na posse do proprietário.

Regime jurídico dos frutos

Existem alguns bens que o CC trata como “acessórios”:


i. Frutos: são renováveis. Podem ser civis (rendimentos; ex: juros, aluguéis), naturais ou industriais. Se classificam a
depender do momento: colhidos, pendentes (ainda não estão no tempo de ser colhidos), percipiendos (que já deveriam ter sido
colhidos, mas ainda não foram) e estantes (colhidos e armazenados). Esta classificação é importante para saber o regime jurídico
dos frutos.
ii. Produtos: não são renováveis.
iii. Rendimentos (frutos civis);
iv. Benfeitorias;
v. Acessões.

CC, Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
@dicasexconcurseira 111
Parágrafo único. Os frutos pendentes (QUE AINDA NÃO ESTÃO NO TEMPO DE SEREM COLHIDOS) ao tempo em que cessar a boa-
fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio (PARA EVITAR ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA);
devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.

Colhidos/Percebidos
Frutos Civis
Pendentes
Produtos FRUTOS Naturais
Percipiendos
ACESSÓRIOS Rendimentos Não renováveis Industriais
Renováveis
Estantes
Benfeitorias São os frutos civis

Acessões

O possuidor de boa-fé não pode colher os frutos pendentes na data da devolução da coisa. Se colher indevidamente,
deverá ressarcir o prejuízo ou devolver a coisa. Ex: o locatário de uma fazenda deve devolvê-la no dia 30 do mês; nesta fazenda,
há frutos pendentes; ele não poderá recolher; deverá devolver com os frutos pendentes. É injusto, pois foi o possuidor quem
custeou esses frutos ainda pendentes… Na realidade, não, pois o possuidor não poderá colher o fruto pendente, NO ENTANTO,
o possuidor será ressarcido com as despesas que teve com o custeio dos frutos pendentes (para evitar enriquecimento sem
causa).

CC, Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se
percebidos dia por dia.

E o regime jurídico dos frutos do possuidor de má-fé? Este não faz jus ao recebimento de nenhum fruto. Ninguém pode
se valer de sua própria torpeza. Ao possuidor de má-fé não se deve qualquer indenização pelos frutos. Se ele colher, deverá
restituir; e se não for possível restituir? Deverá indenizar. Ainda deve indenizar pelos frutos que, por sua culpa, deixaram de ser
colhidos (lucros cessantes). Se o possuidor de má-fé tiver despesa com produção e custeio dos frutos, deverá ser ressarcido, sob
pena de enriquecimento sem causa do proprietário.

CC, Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua,
deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

Regime jurídico das benfeitorias

Partes integrantes e pertenças NÃO SÃO bens acessórios, daí não podem ser submetidas ao princípio da gravitação
jurídica. As pertenças são bens com finalidade própria e que se acoplam a outros bens, no qual cumprirão a sua finalidade; exs:
ar condicionado da casa, trator da fazenda. As partes integrantes constituem porções/pedaços de um todo essenciais à sua
finalidade (se não fossem as partes integrantes, aquele bem não cumpriria a sua finalidade); ex: pneu do carro, asa do avião,
motor da lancha.

Benfeitorias x acessões SÃO bens acessórios. Ambas são acréscimos/melhoramentos à coisa principal. A diferença
entre uma e outra é útil. Alguns autores sustentam que a diferença estaria no volume de construção: se o acréscimo passa de
50% do total da coisa, é acessão; se for inferior a 50%, é benfeitoria. Para Cristiano Chaves, este não é o melhor critério. Deve-se
levar em conta a finalidade/objetivo: se o acréscimo cumpre um dos objetivos em lei para as benfeitorias, será benfeitoria; mas,
se não se harmonizou em um dos modelos de benfeitorias previstas em lei, será acessão.

As acessões podem ser naturais (avulsão, aluvião, formação de ilhas e abandono de álveo) ou artificias/humanas
(construções e plantações).

As benfeitorias são sempre humanas.

@dicasexconcurseira 112
A distinção há de ser feita, portanto, entre as acessões humanas e benfeitorias. Ex: piscina —> numa academia de
natação, é benfeitoria necessária; numa academia de ginástica, é benfeitoria útil; a piscina na casa de campo, é benfeitoria
voluptuária. A acessão não tem finalidade; ex: puxadinho —> se o dono da casa resolve fazer no puxadinho uma churrasqueira,
será benfeitoria útil; se o puxadinho for um telhado reforçado, será uma benfeitoria necessária; agora, se o puxadinho foi
oferecido a alguém para desencalhar a filha dele, será uma acessão humana (construção), já que não terá nenhuma função em
relação ao bem principal.

Regime jurídico das benfeitorias —> a depender da finalidade: necessária (garante a finalidade da coisa; ex: parede de
uma casa, telhado), útil (gera comodidade/conforto no uso; ex: instalação de sistema de ar condicionado central, de wifi) e
voluptuária/suntuária (gera aformoseamento/embelezamento; ex: chafariz, fonte, adega). O regime das benfeitorias irá variar
de acordo com a boa ou má-fé.

Possuidor de boa-fé Possuidor de má-fé

Benfeitorias necessárias Indenização + direito de retenção Indenização, sem retenção

Benfeitorias úteis Indenização + direito de retenção Sem indenização e sem retenção

Benfeitorias voluntárias Direito de levantamento (retirada), se possível Sem qualquer direito

Direito de retenção = direito de se manter com a coisa até que o valor seja pago.
Não está no CC, mas a jurisprudência construiu um critério para o direito de retenção: só existirá direito de retenção de
benfeitoria útil de possuidor de boa-fé até a data da notificação do possuidor de boa-fé para devolver a coisa; se a benfeitoria
for realizada depois da notificação, gera indenização mas sem retenção. Se a benfeitoria realizada for necessária, mesmo depois
da notificação, terá direito à retenção.
Direito de retenção no processo: o NCPC deixa claro que o direito de retenção deve ser exercido pelo interessado: o
autor, na petição inicial; o réu, na contestação. Mas, se as partes não manifestarem tal direito na petição ou na contestação,
ainda será possível a oposição do direito por meio de embargos de retenção, na fase de cumprimento de sentença (art.917, §5º,
CPC/15):

CPC/15, §5º Nos embargos de retenção por benfeitorias, o exequente poderá requerer a compensação de seu valor com o dos
frutos ou dos danos considerados devidos pelo executado, cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos valores, nomear
perito, observando-se, então, o art. 464.

OBS: o direito de retenção pode ser dirigido contra o proprietário e contra o possuidor (STJ, REsp 345.463/DF).

Ao possuidor de má-fé só lhe cabe indenização pelas benfeitorias necessárias, mas sem direito de retenção, para
impedir enriquecimento sem causa.

Exceções - hipóteses em que o possuidor de boa-fé escapa da regra geral:

i. Locação de imóveis urbanos (art.35, Lei de Locações - Lei 8.245/91): o possuidor de boa-fé (locatário/inquilino) tem
direito à indenização se houver prévia autorização do locador para realizar as benfeitorias. Professor: este artigo se refere às
benfeitorias úteis. Seria válida a cláusula de renuncia prévia pelo inquilino nos contratos de locação? Sumula 335, STJ: Nos
contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção. Mas não se pode
ignorar os arts.423-425, CC, que dizem que é nula a cláusula de renúncia antecipada nos contratos de adesão; motivo pelo qual
se o contrato de locação for de adesão, a cláusula de renúncia antecipada é nula. O campo de incidência da súmula 335 do STJ é
somente quanto aos contratos paritários.

ii. Comodato (art.584, CC): empréstimo gratuito de coisa infungível. No comodato, somente as benfeitorias necessárias
são indenizáveis.

CC, Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa
emprestada.

@dicasexconcurseira 113
iii. Desapropriação (art.26, Decreto-lei 3.365/41): toda e qualquer benfeitoria (necessária, útil e voluptuária) realizada
na coisa deve ser computada no preço da desapropriação. Se a benfeitoria for realizada depois da publicação do decreto
expropriatório e antes da imissão na posse do poder público expropriante, as benfeitorias terão regime próprio: se necessárias,
serão indenizadas; se úteis, só serão indenizadas se houver prévia autorização do poder público; se voluptuária, não será
indenizada.

A proteção penal possessória: o desforço incontinenti ou desforço imediato (a legítima defesa da posse)

CC, Art.1.210, §1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o
faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse (SE FOR
ALÉM DO NECESSÁRIO, CARACTERIZA ABUSO DE DIREITO E A RESPONSABILIDADE PELOS DANOS SERÁ OBJETIVA).

Incidem aqui os elementos da legítima defesa do direito penal: atualidade/iminência do perigo, moderação no uso dos
meios necessários para a repulsa. Isso porque a legítima defesa da posse é a projeção da legítima defesa do direito penal no
campo possessório.
A interpretação deste §1º deve ser restritiva, porque se trata de exceção (toda exceção deve ser interpretada
restritivamente). A expressão “que o faça logo” significa que só é possível o desforço incontinenti se a reação for imediata. Não
há um prazo fixado, irá depender do caso concreto. Enunciado 495, JDC: Exigibilidade de que a atuação de mãos próprias seja de
logo. Não sendo reação imediata, será necessária a propositura de ação.
A jurisprudência pacificamente permite que o desforço incontinente seja exercido com auxílio de terceiros (seus
empregados, funcionários, prepostos, mero detentor). Enunciado 493, JDC: admissibilidade de defesa penal da posse pelo mero
detentor.
No direito penal, a legítima defesa como excludente de ilicitude, há o excesso culposo; no direito civil, também pode
haver excesso culposo por parte do possuidor e terá que responder civilmente (por fato próprio ou por fato de terceiro, se quem
defendeu sua posse foi um empregado seu, por ex). Essa responsabilidade civil (por fato próprio ou por fato de terceiro) será
subjetiva ou objetiva? É OBJETIVA, porque decorre de ABUSO DE DIREITO.

A proteção civil possessória (os interditos possessóriOs ou ações possessórias)

Os interditos possessórios são 3:


i. Reintegração de posse: cabível quando houver esbulho (perda/privação da coisa). O STJ vem enriquecendo o
conceito de esbulho: não se restringe ao ato físico (violência física), podendo ser decorrente uma violência contratual,
inadimplemento contratual (ex: comodatário que não restitui a coisa na data acordada).

DE OLHO NA JURIS! Eficácia subjetiva da coisa julgada de ação reintegratória


Fernando vendeu um imóvel para Pedro. Este, por sua vez, alienou o bem para João. Ocorre que Pedro não pagou Fernando,
razão pela qual este propôs ação de rescisão contratual cumulada com reintegração de posse unicamente contra Pedro. A
sentença foi procedente, determinado a rescisão da venda feita para Pedro e determinado que ele devolvesse a posse do imóvel
para Fernando. Sucede que Pedro não mais reside no imóvel. Quem está na posse do imóvel é João, que assumiu o local antes
de a ação de reintegração ser proposta. Os efeitos da sentença de reintegração de posse estendem-se a João (terceiro de boa-
fé)? NÃO. Não está sujeito aos efeitos de decisão reintegratória de posse proferida em processo do qual não participou o
terceiro de boa-fé que, antes da citação, adquirira do réu o imóvel objeto do litígio. Em regra, a sentença faz coisa julgada
somente para as partes do processo, não beneficiando nem prejudicando terceiros (art. 472 do CPC 1973; art. 506 do CPC 2015).
Também não é caso de aplicar o art. 42, § 3º do CPC 1973 (art. 109, § 3º do CPC 2015) porque João (terceiro) adquiriu o imóvel
ANTES da ação proposta pelo autor. No momento em que ele comprou a coisa, esta ainda não era litigiosa, ou seja, ainda não
havia nenhuma demanda judicial disputando este bem. O bem ou direito somente se torna litigioso com a litispendência, ou
seja, com a lide pendente. A lide é considerada pendente, para o autor, com a propositura da ação, enquanto que, para o réu,
com a citação válida (art. 219 do CPC 1973) (art. 240 do CPC 2015). Se o bem é adquirido por terceiro de boa-fé antes de
configurada a litigiosidade, não há falar em extensão dos efeitos da coisa julgada ao adquirente. STJ. 3ª Turma. REsp 1458741-
GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

ii. Manutenção de posse: cabível quando houver turbação/perturbação/embaraço ao exercício da posse sobre a coisa.

iii. Interdito proibitório: cabível na hipótese de ameaça.


Entre essas 3 ações, aplica-se a fungibilidade (art.554, CPC/15). A fungibilidade é ampla: cabe no caso de propositura
errônea, quanto para a hipótese de mutação do fundamento da propositura (no começo, era ameaça e, depois, no curso do
procedimento, transformou-se em esbulho). O juiz pode conhecer da fungibilidade de ofício.

@dicasexconcurseira 114
CPC/15, Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue
a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.

Não é incomum encontrar na doutrina (ex: Maria Helena Diniz, Tartuce) outras 4 ações possessórias: imissão na posse,
dano infecto, nunciação de obra nova e embargos de terceiros. Os processualistas negam essas 4 ações, seguindo o pensamento
de Pontes de Miranda. Somente as ações possessórias protegem a posse; essas outras ações podem ser propostas pelo
possuidor, mas não por isso se tornam ações possessórias. Vamos estudar por que essas 4 outras ações não são possessórias.

Ações possessórias Proteção preventiva e repressiva da posse

Imissão na posse Conferir a posse a quem não a tem faticamente

Ação de dano infecto Proteção de um imóvel contra obra ou reforma em


prédio vizinho que pode lhe causar dano à é ação
cominatória

Ação de nunciação de obra nova (CPC, art.934, sem Proteção de um prédio para garantir seus direitos de
procedimento especial no NCPC) vizinhança, direitos condominiais e as posturas públicas
OBS: “obra velha” à ação demolitória (direito de construir)

Ação de embargos de terceiros (NCPC, art.674) Proteção do titular contra uma indevida constrição
judicial (decisão)

Súmula 113, STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na posse, calculados sobre o
valor da indenização, corrigido monetariamente.

Súmula 69, STJ: Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na
desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.
OBS: Na prática, a desapropriação indireta é um esbulho feito pelo Poder Público.

Na ação de imissão na posse, não há posse e, por isso, não é ação possessória.

Ação de dano infecto pode ser ajuizada pelo proprietário ou possuidor; é ação cominatória (visa cominar uma sanção,
caso a obra vizinha lhe cause dano), e não ação possessória.

A obra é nova se ainda não chegou no acabamento. Se a obra for velha, a ação será demolitória. A jurisprudência
admite a fungibilidade entre nunciação de obra nova e demolitória.

As ações possessórias podem ser de força nova ou de força velha. Força nova: quando o esbulho ou turbação tiver
menos de ano e dia; força velha: se o esbulho ou turbação tiver mais de ano e dia. O interdito proibitório, por se dá em razão de
ameaça, que se renova cotidiamente, será sempre de força nova.
Art.559, CPC/15: se a ação possessória for de força nova, terá procedimento especial; se a ação possessória for de força
velha, terá procedimento comum. O procedimento especial tem cognição restrita, pois o juízo é meramente possessório; no
procedimento comum, o juízo é petitório e a cognição é mais ampla.

CPC/15: Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo
quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

Nas ações de força nova, é proibida a discussão de propriedade/domínio (proibição de exceptio domini).
CC, Art.1210, §2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a
coisa.

CPC/15, Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do
domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.

@dicasexconcurseira 115
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a
coisa.

Perdeu o objeto a Súmula 487 do STF, que dizia que será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se
com base neste for ela disputada.
A ação possessória de força nova tem procedimento especial e o que a torna especial é a possibilidade de concessão de
liminar.

CPC/15, Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração.

CPC/15, Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída (documentalmente), o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a
expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique
previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência (audiência de justificação de posse) que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem
prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.

Nesta audiência, o réu não pode produzir prova; apenas participará. Depois desta audiência, o juiz decide se defere ou
não a liminar.
Impossibilidade de REsp para discutir ou não o deferimento desta liminar, pois envolveria analise probatória, o que é
vedado em sede de recurso especial (Súmula 7, STJ).
Concedida a liminar, o juiz manda expedir um mandado:

CPC/15, Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração.

Novidade do NCPC:

CPC/15, Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de
idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco)
dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da
parte economicamente hipossuficiente.

CPC/15, Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias
subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que
deferir ou não a medida liminar.

Da citação para frente, ordinariza-se o procedimento (art.566, CPC/15).


Nas ações possessórias de força velha, não há liminar, mas o STJ sempre entendeu a possibilidade de tutela
antecipatória (REsp 555.027/MG).

Cognição restrita (juízo meramente possessório)


Esbulho/turbação há
Força Nova Proibição de discutir domínio
menos de ano e dia

Possibilidade de concessão de liminar


AÇÃO POSSESSÓRIA

Esbulho/turbação há Cognição mais ampla (juízo petitório)


Força Velha
mais de ano e dia
STJ: possibilidade de concessão de
tutela antecipatória

@dicasexconcurseira 116
Novidade nas ações possessórias de força velha: art.565, CPC/15:

Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há
mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar (errata: "de medida antecipatória"),
deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º.
§1º Concedida a liminar (CORRETO: “MEDIDA ANTECIPATÓRIA), se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da
data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§2º a 4º deste artigo.
§2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver
parte beneficiária de gratuidade da justiça.
§3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional.
§4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município
onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no
processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.
§5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.

Nas ações possessórias de força nova:

CPC/15, Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:


I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.

Se o autor quiser cumular algum outro pedido que não esses supracitados, o procedimento será comun.
As ações possessórias tem natureza dúplice (actio duplex), pois a simples improcedência do pedido do autor não
significa proteção para o réu. Se o réu quer proteção, ele precisa formular seu pedido.

CPC/15, Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e
a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.

A ação possessória somente é dúplice se o réu também demandar, na contestação, ação possessória; se assim não
proceder, a declaração de improcedência do pedido do autor não define com autoridade de coisa julgada a posse do réu sobre a
área litigiosa.
Segundo Wambier, “outro ponto que distingue as ações possessórias das demais é o seu caráter dúplice, consistente
em que as posições de autor e réu podem se alternar, sendo lícita a outorga da tutela jurisdicional a qualquer das partes,
independentemente do polo que, inicialmente, tenham assumido. O caráter dúplice afasta a necessidade de reconvenção.
Desta forma, o réu está autorizado, na contestação, a formular pedido em seu favor, independentemente do uso de
expediente formal consistente da reconvenção.

O NCPC traz mais duas novidades para ação possessória de força nova:
i. Intervenção do MP e da DP (art.554, §1º): §1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande
número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos
demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência
econômica, da Defensoria Pública.
ii. Citação em acão possessória coletiva (art.554, §2º): §2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1o, o oficial de
justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.

@dicasexconcurseira 117
Aula 03

Propriedade

O direito de propriedade: noções gerais

O estudo da propriedade gravita ao redor do art.1.228; a propriedade é um direito complexo, pois possui vários
poderes.

CC, Art.1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha.

A propriedade é um direito complexo, é um feixe de poderes —> uso, gozo/fruição, livre disposição e reivindicação.
Além da soma desses 4 poderes, o direito de propriedade exige uma outra característica: a exigência de um título. Assim, esses 4
poderes + título = propriedade. O título é a "tradição" para os bens móveis, e o “registro" para os bens imóveis. É o título
(art.1245, CC) que faz com que a propriedade seja oponível erga omnes. O proprietário exerce seu direito de propriedade
perante toda a coletividade. Se o titular dispuser dos 4 poderes, mas não tiver o título, ele terá o “domínio” (e não a
propriedade). O usucapiente, que ainda não obteve a sentença ou que sequer ajuizou a ação, tem o domínio, mas ainda não é
proprietário. A diferença entre a propriedade e o domínio é a oponibilidade erga omnes.

4 poderes + título = propriedade.


4 poderes - título = domínio (dominador, dono).
O “título” do bem móvel = tradição.
O “título” do bem imóvel = registro.
1 poder (uso ou gozo) = posse.

Perspetiva processual:
A propriedade é protegida por AÇÃO REIVINDICATÓRIA, que tem como pressuposto lógico a prova do título.
O domínio é protegido por meio de AÇÃO PUBLICIANA; o efeito da sentença desta ação é intra partes; durante todo o
CC/16, muitos autores no Brasil usavam a expressão “propriedade" e “domínio" como sinônimas; daí, por muito tempo, não se
falou em “ação publiciana”; esta começou a ser trabalhada depois que se diferenciou propriedade de domínio. A sentença que
julga procedente a ação publiciana pode ser levada pelo autor ao cartório e gerar o registro? NÃO, porque essa sentença declara
o domínio; para que se obtenha o título, deverá ajuizar a AÇÃO DE USUCAPIÃO. A prova da ação publiciana pode ser emprestada
para a ação de usucapião.
E, por fim, se quero defender a posse, utiliza-se as AÇÕES POSSESSÓRIAS/INTERDITOS PROIBITÓRIOS.
Propriedade, domínio e posse não necessariamente vão andar juntos, pois são autônomos. Desses direitos, qual é o
mais complexo? Sem dúvida, o direito de propriedade.

Proteção da PROPRIEDADE à AÇÃO REIVINDICATÓRIA;


Proteção do DOMÍNIO à AÇÃO PUBLICIANA;
Proteção da POSSE à AÇÃO POSSESSÓRIA.

Uso

Gozo/Fruição DIREITOS REAIS SOBRE


EXTENSÃO HORIZONTAL
A COISA ALHEIA
Livre disposição
EXTENSÃO DO DIREITO
DE PROPRIEDADE Reivindicação

Espaço aéreo
EXTENSÃO VERTICAL
Subsolo

@dicasexconcurseira 118
Extensão horizontal: é a possibilidade de o direito de propriedade ser desmembrado em uso, gozo/fruição, livre
disposição e reivindicação. Assim, é possível entregar a alguém o uso e a fruição da propriedade, onde a pessoa terá o usufruto.
Essa possibilidade de desmembramento da propriedade são os "direitos reais sobre a coisa alheia”:

i. Direito real sobre a coisa alheia de gozo/fruição (terceiro utiliza a coisa). São os direitos reais sobre a coisa alheia de
gozo e fruição:
a. Servidão: quando um prédio se vale de uma utilidade gerada por outro prédio (ex: servidão de passagem);

b. Superfície: permite a um terceiro utilizar a superfície de um terreno para plantar ou construir. O superficiário irá
construir ou plantar durante um tempo determinado ou determinável, e depois devolver a propriedade; esse direito pode ser
gratuito ou oneroso;

c. Usufruto: o usufrutuário recebe parcelas do domínio para usar e fruir. Eventualmente, o usufruto pode ser mais
restrito; o CC diz que ele pode ter apenas uma finalidade, e aí ele ganhará o nome de “uso" (o usuário apenas recolhe os frutos e
não pode alterar a destinação da coisa). Se a finalidade do usufruto for a moradia, será chamado de “habitação”. Podemos dizer
que o usufruto, uso e habitação constituem uma única categoria. O uso e a habitação são subespécies de usufruto. O usufruto, o
uso e habitação são personalíssimos: a morte do titular gera a extinção do direito.

Uso
USO É o usufruto mais restrito, de USUFRUTO
apenas uma finalidade Habitação

É o uso com Usufruto, uso e habitação Uma única categoria


HABITAÇÃO
finalidade de moradia
São direitos personalíssimos = morrendo o titular,
extingue-se o direito.

DE OLHO NA JURIS! Instrumentos processuais disponíveis ao usufrutuário


Usufruto é o direito real e temporário de usar e fruir (retirar frutos e utilidades) coisa alheia (bem móvel ou imóvel), de forma
gratuita, sem alterar-lhe a substância ou destinação econômica. O usufrutuário detém a posse direta do bem. Além disso, como
se trata de direito real, ele também possui o poder de sequela, podendo perseguir a coisa aonde quer que ela vá. Como o
usufrutuário detém a posse direta do bem, é óbvio que ele pode se valer das ações possessórias caso esteja sendo ameaçado
em sua posse. No entanto, como o usufruto é um direito real e como o usufrutuário detém poder de sequela, a doutrina e a
jurisprudência também admitem que ele ajuíze ação reivindicatória — de caráter petitório — com o objetivo de fazer prevalecer
o seu direito sobre o bem, seja contra o nu-proprietário, seja contra terceiros. STJ. 3ª Turma. REsp 1202843-PR, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/10/2014 (Info 550).

Penhora da nua propriedade


A nua propriedade é suscetível de constrição judicial, salvo se o imóvel do executado for considerado bem de família. Ex: incide
sobre o imóvel “X” um usufruto. A mãe é a usufrutuária. O filho (“A”) é o nu-proprietário. “A” mora de aluguel em uma outra
casa e neste imóvel “X” quem reside é a sua mãe. O Banco ajuizou execução contra “A” e pleiteou a penhora do imóvel “X”. O
imóvel “X” poderá ser penhorado? Melhor dizendo, como o que “A” possui em relação ao imóvel “X” é apenas a nua
propriedade, o Banco poderá penhorar esse direito (nua propriedade) que pertence ao indivíduo “A”? O STJ decidiu que, em
regra, a nua propriedade é suscetível de constrição judicial, salvo se o imóvel do executado for considerado bem de família.
Assim, em tese, o Banco poderia penhorar a nua propriedade que pertence a “A”. No entanto, no caso concreto, a penhora não
foi admitida porque este imóvel é utilizado como bem de família pela mãe de “A”. Logo, esta protegido pela Lei nº 8.009/90. STJ.
4ª Turma. REsp 950663-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/4/2012 (Info 495).

OBS: Há um sexto direito de direito real de gozo/fruição, que não está no CC/02, pois consta apenas no CC/16: enfiteuse. O
CC/02 estabeleceu que não podem ser instituídas novas enfiteuses ou subenfiteuses; daí, as enfiteuses já existentes
permanecem e permanecem disciplinadas pelo CC/16. Através da enfiteuse, o titular transfere a terceiro (o enfiteuta ou foreiro)
todos os poderes do domínio. E o proprietário? Terá a propriedade nua e é chamado de “senhorio”. O enfiteuta pode dispor do
dominio útil que tem, mas não pode dispor da propriedade (porque não a tem). A enfiteuse, no fundo, não é boa pra ninguém

@dicasexconcurseira 119
(nem para o enfiteuta, nem para o senhorio). Lembrando que existe enfiteuse regulamentada pelo direito administrativo: a
enfiteuse de terra pública e a enfiteuse de terreno de marinha.

ii. Direito real sobre a coisa alheia de garantia: tem a finalidade de assegurar o cumprimento de uma obrigação
preexistente. É mecanismo de garantia do credor. O credor dirá ao devedor “devedor, quero uma garantia que assegure o
cumprimento da obrigação”. Neste caso, o credor exige uma garantia e o devedor oferece o bem como garantia; na realidade, o
devedor oferta ao credor os poderes do domínio de propriedade sua como mecanismo de assegurar o pagamento. Neste caso, o
titular do direito real de garantia pode usar a coisa? Não, o CC proíbe a cláusula comissória (que permitiria ao credor utilizar a
coisa). O direito real de garantia serve exclusivamente como mecanismo que assegure o cumprimento de obrigação. São esses
direitos:
a. Hipoteca: direito real de garantia sobre bens imóveis (+ aeronave + navio);

b. Penhor: direito real de garantia sobre bens móveis;

c. Anticrese: direito real de garantia sobre bem frugífero (bem que produz frutos). Sob o ponto de vista prático, a
anticrese é completamente absurda, pois não consegue atingir o seu objetivo (que é assegurar o cumprimento da obrigação).
Através da anticrese, o credor recebe um bem frugífero (que produz frutos), para que receba os frutos abatendo dos juros. Se
ele vai receber apenas para abater dos juros, em última análise, a anticrese não garante o cumprimento da obrigação (garante
apenas a diminuição do pagamento); garante, portanto, uma remição, um pagamento parcial (e não total). Abatidos os juros, a
outra parte remanesce. A anticrese pode ser constituída juntamente à hipoteca ou penhor, por exemplo, para que a obrigação
seja cumprida integralmente. Primeiro, o credor anticrético recebe os frutos e abate os juros; depois, no vencimento da dívida, a
hipoteca/penhor assegura o pagamento.

d. Alienação fiduciária em garantia: o devedor transfere a propriedade de um bem para o credor, para assegurar o
cumprimento da obrigação. Enquanto a obrigação não for cumprida, o credor terá a propriedade da coisa (a chamada
“propriedade fiduciária”). Quitada a obrigação, extingue-se a propriedade fiduciária automaticamente. Tem que ser a
propriedade do bem que está sendo adquirido? Claro que não. Neste sentido, a Súmula 28 do STJ: O contrato de alienação
fiduciária em garantia pode ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do devedor.

iii. Direitos reais sobre a coisa alheia à aquisição: o terceiro terá a oportunidade de adquirir a propriedade do devedor.
No Brasil, só existe um único direito real sobre a coisa alheia à aquisição: a promessa irretratável de compra e venda. Por meio
desta, o terceiro celebra um contrato de compra e venda dizendo “prometo que vou pagar” e o proprietário diz “prometo que
vou lhe vender, lhe transferir a propriedade, caso você pague integralmente”. Se esse contrato (de promessa de compra e
venda) for registrado no cartório de imóveis, constituirá direito real sobre a coisa alheia e, quando o promitente comprador
quitar a dívida, terá direito à transferência do título, independentemente da vontade do vendedor (este não tem direito ao
arrependimento). O art.1417 CC fala expressamente que deve haver este registro no cartório, de modo que só haverá direito
real sobre a coisa alheia à aquisição decorrente de compra e venda se houver registro.

CC, Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento
público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do
imóvel.

Extensão vertical do direito de propriedade (art.1229, CC). A quem pertence o espaço aéreo e o subsolo? Ao
proprietário do solo (e não à União!!!). Contudo, o proprietário não pode se opor a atividades realizadas por terceiro que não
violem seu legítimo interesse.

CC, Art.1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao
seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou
profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. —> exemplo: avião e metrô.

CC, Art. 1.230. A propriedade do solo NÃO abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia
hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. —> pois pertencem à UNIÃO,
independentemente de onde estiverem (inclusive no subsolo)!!
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil,
desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.

@dicasexconcurseira 120
A descoberta

É encontrar coisa móvel alheia perdida.


Qual é o efeito jurídico decorrente da descoberta? Não se aplica o ditado “achado não é roubado”, pois há obrigação
de restituir ao dono ou legítimo possuidor; e, não o encontrando, à autoridade competente (= autoridade policial). A autoridade
policial encaminhará a coisa ao poder público, que promoverá diligências, publicará edital e, se o proprietário não for
encontrado, o Poder Público ficará com a coisa para si.
Em regra, o descobridor não pode ficar com a coisa para si (a descoberta não gera a aquisição de propriedade), mas há
duas exceções (casos em que o descobridor poderá ficar com a coisa para si): i. se o proprietário, sendo localizado, abandonar a
coisa em favor do descobridor; ou ii. se, não localizado o proprietário, o poder público não tiver interesse na coisa.

CC, Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à
autoridade competente.

O descobridor, que é obrigado a devolver ao proprietário ou à autoridade, terá direito a alguma coisa? Sim, indenização
pelas despesas + recompensa não inferior a 5% do valor da coisa. Esta recompensa é chamada de “achádego”. O direito ao
achádego é adquirido automaticamente, pois a descoberta é ato-fato jurídico, que produz efeitos independentemente da
vontade das partes. O direito à recompensa é desatrelado à vontade do descobridor; se o descobridor abrir mão de
recompensa, estará abrindo mão de patrimônio; esta renúncia pode configurar fraude contra credores ou fraude à execução.

CC, Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não
inferior a 5% do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono
não preferir abandoná-la.
Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para
encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de
ambos.

Não se confunde a descoberta com “ocupação" e com “arrecadação de coisas vagas".


A ocupação é modo originário de aquisição de propriedade móvel; é encontrar coisa móvel sem dono. Ex: caça, pesca.

CC, Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa
por lei.

A arrecadação de coisas vagas é um procedimento de jurisdição voluntária, tendente a regularizar situações de


abandono de bens móveis em oficina, lavanderias, assistência técnica.

CPC/15, Art. 746. Recebendo do descobridor coisa alheia perdida, o juiz mandará lavrar o respectivo auto, do qual constará a
descrição do bem e as declarações do descobridor.
§1º Recebida a coisa por autoridade policial, esta a remeterá em seguida ao juízo competente.
§2º Depositada a coisa, o juiz mandará publicar edital na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver
vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da
comarca, para que o dono ou o legítimo possuidor a reclame, salvo se se tratar de coisa de pequeno valor e não for possível a
publicação no sítio do tribunal, caso em que o edital será apenas afixado no átrio do edifício do fórum.
§3º Observar-se-á, quanto ao mais, o disposto em lei.

Função social da propriedade

Bobbio: da estrutura à função —> é mais importante estudar “para quê o Direito?” do que “o que é o Direito?”. Ou
seja, a função do direito é o mais importante. E esta função é sempre de alcance social.
Na mesma linha de Bobbio, a exposição de motivos do CC/02 escrita por Miguel Reale diz que são diretrizes do CC:
eticidade, operabilidade e sociabilidade. A socialidade é a preocupação com o efeito social dos institutos civis.
A função social da propriedade é a revanche da Grécia contra Roma, nas palavras de Eros Grau. Grécia e Roma brigaram
muito e Roma saiu vencedora. Roma, expansionista, bélica, conquistadora; Grécia, filosófica. Toda a historia do mundo ocidental
foi escrita pelo vencedor (Roma). Portanto, toda a ideia de propriedade do mundo ocidental seguiu o modelo romano. Veio a
CF/88 e falou da função social da propriedade (art.5º, incs.XXII e XXIII, art.170). O direito de propriedade representa o “ter" e
deve ser exercido em respeito ao “ser”. A função social da propriedade é finalística, visando garantir que o seu exercício seja
adequado aos valores existenciais.
@dicasexconcurseira 121
Exemplo de função social da propriedade à a clínica particular é propriedade privada, mas esta não pode sacrificar
valores existenciais à STJ, REsp.27.039/SP: direito do médico de internar e assistir um paciente em hospital privado do qual não
fazia parte.
O proprietário deve dar finalidade à sua propriedade; há uma obrigacionalização do direito de propriedade. O
proprietário, historicamente, era visto sob o ângulo exclusivo dos poderes; agora, exige-se que ele cumpra a função social.
CC, Art.1.228, §1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de
modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o
equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. —> diferentes funções
da função social da propriedade = função econômica + função ambiental + função humana (ex: moradia), etc.
O STF sempre entende que a função social da propriedade deve ser aplicada de forma imediata, independentemente
de lei. Súmula 668, STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da EC 29/2000, alíquotas progressivas
para o IPTU, SALVO se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.
A EC 81/2014 conferiu nova redação ao art.243 da CF e permitiu, pela primeira vez, a possibilidade de haver
desapropriação sem indenização, no caso de plantio de planta psicotrópica ou trabalho escravo.

CF, Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas
psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a
programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei,
observado, no que couber, o disposto no art. 5º.

#DEOLHONAJURIS
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário comprove que não
incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2016 (repercussão geral) (Info 851).

O correto, tecnicamente, não seria falar em “função social da propriedade”, mas sim “função social das propriedadeS”
à função social da propriedade: o parcelamento, edificação e utilização compulsória do solo urbano. Função social da
propriedade rural: desapropriação urbana para fins de reforma agrária. Função social da propriedade intelectual: quebra de
patentes e registro do nome de empresa. Função social da empresa.

A tutela jurídica da propriedade

O direito de propriedade não carrega em si a urgência do direito da posse, pois esta é o contato físico e necessita de
uma liminar. A propriedade exige uma maior cognição e dá-se por meio da AÇÃO REIVINDICATÓRIA. Esta ação dá-se no foro da
situação do imóvel (competência absoluta). Para propor a ação reivindicatória, deve-se fazer prova do título (documento
essencial à petição inicial). Seu procedimento é comum, onde não é possível liminar, mas é possível tutela antecipada.
Há um procedimento especial para a proteção jurídica de propriedade do poder público, que se dará por meio de
AÇÃO DISCRIMINATÓRIA (Lei 6.383/76). Esta ação é conferida à União e aos Estados para separar/estremar as suas
propriedades dos bens particulares. É um procedimento bifásico escalonado:
1º - Fase contenciosa: procedimento sumaríssimo, tendente a reconhecer a titularidade do poder público —>
declaração da titularidade de poder público.
2º - Fase demarcatória: estabelecer divisas. O STJ vem entendendo que a competência para processar e julgar a ação
discriminatória é das turmas de direito público (e não da turma de direito privado) do STJ. A ação discriminatória também pode
ser utilizada no caso de terras devolutas. O Poder Público usa muito a ação discriminatória para demarcar a terra pública e
impedir a usucapião.

OBS: quando se tratar de herança jacente ou vacante, a titularidade só passa a ser do Poder Público após a sentença. Portanto,
antes disso, é possível a usucapião da propriedade.

Propriedade resolúvel

Ordinariamente, toda propriedade é perpétua, é constituída para que o proprietário se mantenha indefinidamente com
ela. No entanto, em alguns casos, a propriedade pode ter um termo final: é a propriedade resolúvel. São os dois casos:
i. Propriedade resolúvel com causa originária (art.1359, CC): quando o motivo da sua extinção consta do próprio título
aquisitivo. Ex: alienação fiduciária; retrovenda (art.505, CC - o vendedor garante a si o direito potestativo de retomar a coisa
(desfazer o negocio, devolvendo o valor do dinheiro etc) no prazo máximo de 3 anos; fideicomisso (um testamento que

@dicasexconcurseira 122
beneficia o filho que alguém vai ter - concepturo -, mas enquanto a pessoa não concebe o filho, nomeia-se um substituto; este
recebe o bem enquanto não se conceber a pessoa).
Nenhum terceiro pode alegar boa-fé, porque no próprio título já consta a causa de extinção. Ex: compro um imóvel
com cláusula de retrovenda. Dentro de 3 anos, eu tenho a propriedade resolúvel. Nesse período, ofereço o bem como garantia
hipotecária à João; este sabe que esse imóvel é de propriedade resolúvel. Se dentro dos 3 anos o vendedor desfizer o negócio e
retomar a propriedade, extingue-se os interesses de João. Todo e qualquer direito constituído na pendência de propriedade
resolúvel com causa originária extingue-se com a resolução da propriedade. Nenhum terceiro pode alegar boa-fé se a
propriedade for resolúvel com causa originária.

CC, Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos
os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do
poder de quem a possua ou detenha.

ii. Propriedade resolúvel com causa superveniente (art.1360, CC): a propriedade foi constituída para ser perpétua, mas
se tornou resolúvel por evento superveniente; ou seja, no título não consta nenhuma causa de extinção. Ex: revogação de
doação por ingratidão do donatário.
Neste caso, pode haver interesses de terceiro de boa-fé, que acreditava que a propriedade era perpétua. Extinta a
propriedade, preservam-se os interesses de terceiros. O legítimo proprietário exerce direito regressivo contra o proprietário
resolúvel.

CC, Art.1.360. Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que a tiver adquirido por título anterior
à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução, ação contra
aquele cuja propriedade se resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor.

Aula 04

Modos aquisitivos de propriedade: acessões, registro público e usucapião

As diferentes formas de aquisição de propriedade

O CC contemplou dois diferentes tipos de aquisição de propriedade: originária (quando o adquirente não tem qualquer
relação com o anterior proprietário) ou derivada (existe uma prévia relação jurídica que envolve o adquirente e o anterior
proprietário). Quem adquire a propriedade de modo originário, não há translatividade, transferencia; na aquisição derivada,
existe transferencia/translatividade. Esta distinção é relevante: se for de modo originário, o novo proprietário recebe a coisa
livre e desembaraçada, sem qualquer gravame; se for de modo derivado, existe transferência e há uma regra que não pode ser
esquecida “ninguém pode dar mais do que tem”, assim, a coisa é recebida com todos os vícios e gravame. Exemplo: em se
tratando de modo originário de aquisição de propriedade, caso alguém venha usucapir a coisa, ela adquirirá a coisa sem
gravame. Se a pessoa compra um imóvel via contrato, que havia sido hipotecado, por exemplo, o imóvel será adquirido com a
eventual hipoteca que incida sobre ele.
Modos aquisitivos da propriedade:
i. Derivado: registro no cartório de imóveis;
ii. Originários: a. acessões; e b. usucapião.

O registro no cartório de imóveis (Lei nº 6.015/73 - Lei de Registros Públicos)

Esta lei facilita o estudo da matéria sob o prisma da nomenclatura. Em nosso sistema jurídico, todo imóvel precisa ser
registrado, procurando conferir garantia/segurança.
Mas a lei prevê 3 diferentes atos que podem ser praticados diretamente no cartório de imóveis: registro, averbação e
matrícula. O registro é o ato de escrituração do imóvel, ou seja, é o ato que faz constar no cartório os atos de aquisição de
propriedade ou de direitos reais sobre a coisa. A averbação é ato de escrituração em razão de modificações no registro (ex:
retificação do nome do proprietário). A matricula é o primeiro ato de registro praticado; é o ato de individualização do imóvel,
ela abre o registro; a partir dela, os próximos atos serão enquadrados como registro ou como averbação.
No Brasil, o negócio jurídico não é suficiente para a aquisição de propriedade, devendo haver o registro. O ato para
aquisição de propriedade é complexo: negócio jurídico celebrado por escritura pública (lavrada em cartório) + registro no
cartório de imóveis. É o princípio da obrigatoriedade do registro.

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OBS: art.108, CC - se o valor do imóvel não exceder 30 salários mínimos, dispensa-se a celebração do negocio jurídico por
escritura pública; ele poderá ser celebrado por instrumento particular; contudo, continua sendo obrigatório o registro. Assim,
registra-se o instrumento particular.

ATO PARA AQUISIÇÃO Negócio jurídico Registro no


ATO COMPLEXO celebrado por Cartório de Imóveis
DA PROPRIEDADE
escritura pública

OBS: Imóvel de até 30 salários-


mínimos não precisa de escritura
pública (pode ser por instrumento
particular, mas este precisa ser
registrado no Cartório de Imóveis).

Até que se lavre o registro, o imóvel continua em nome do alienante. De qualquer maneira, o STJ vem entendendo que,
quando se tratar de promessa de compra e venda na qual o promitente adquirente não registrou, mas o promitente comprador
já está na posse, ele poderá se valer de embargos de terceiro, no caso de o juiz eventualmente decretar a penhora sobre o
imóvel. Isso porque os embargos de terceiro são baseados também em posse. Súmula 84, STJ (art.674, CPC/15): É admissível a
oposição de embargos de terceiros fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel,
ainda que desprovido de registro.
Se todo imóvel precisa de registro para aquisição da propriedade, é curioso pensar no regime jurídico da garagem. A
garagem só precisará de registro se for uma unidade autônoma em si mesma. A garagem pode ser uma unidade autônoma ou
acessória do apartamento. Se ela for acessória, integra o apartamento e aí não terá registro público autônomo. Se ela for
autônoma em si mesma, será necessário o registro público especifico. Se esta garagem é autônoma, não constitui bem de
família e pode ser penhorada. S.449, STJ: A vaga de garagem que possui matricula própria no registro de imóveis não constitui
bem de família para efeito de penhora.
Presunção decorrente de registro público: é absoluta ou relativa? O art.1245, CC diz que a presunção é RELATIVA, e o
STF confirma este entendimento. Esta presunção é relativa, exatamente por conta dos efeitos do registro (ex: possibilidade de
usucapião). No Brasil, só existe uma possibilidade de presunção ABSOLUTA decorrente de registro público: Registro Torrens
(arts.277 a 288, LRP) —> é exclusivo dos imóveis rurais; para sua constituição exige-se procedimento judicial, com intervenção
do MP como fiscal da ordem jurídica; são publicados editais, realiza-se perícia, por fim, o juiz manda criar o registro torrens.
Se o registro público gera presunção relativa, é possível que ocorra evicção, apesar do registro. Evicção é a perda da
coisa adquirida onerosamente. O STF entende que se a evicção de algum modo decorreu da atuação do tabelião (que atuou
culposamente, dolosamente, com fraude, etc) é possível falar em responsabilidade OBJETIVA do Estado (RE 175.739/SP).
Por conta desse caráter de presunção relativa do registro público, consagrou-se a ideia da função social registral:
terceiros de boa-fé podem acreditar no registro; este terceiro de boa-fé merece proteção? O STJ (REsp 675.361/CE e Súmula 375
STJ) diz que este terceiro de boa-fé que confia no registro merece proteção; se um imóvel foi alienado a terceiro sem qualquer
gravame sobre ele, não há que se falar em fraude à execução, salvo se houver registro da penhora sobre o bem no cartório ou
ficar provada a má-fé de terceiro.
S. 375, STJ: O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de
má-fé do terceiro adquirente.
Há a possibilidade de erros no registro e daí a necessidade de retificação de registro (arts.212 e 213, LRP).

Retificação em cartório Procedimento administrativo (não Quando não houver interesse de terceiros
precisa de advogado)

Retificação em Vara de Procedimento especial de jurisdição Quando há interesse de terceiros, mas


Registros Públicos voluntária não há ampliação da área do imóvel

Retificação em Vara Cível Procedimento comum ordinário Quando há interesse de terceiros e,


também, há ampliação da área do imóvel

Usucapião tabular (art.214, §6º, LRP), sinônimo de “convalescensa registral”: é a possibilidade de o réu, numa ação
em que se discute a validade ou falsidade de um registro público, alegar, em seu favor, a usucapião. O réu diz: "juiz, este registro
pode até ser falso/nulo, mas eu já preencho os requisitos da usucapião; e aí, caso seja julgado procedente o pedido do autor,
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quero aproveitar esta mesma sentença para também reconhecer minha usucapião”. O proprietário deixa de ter propriedade
adquirida de modo derivado (porque o registro será invalidado) e passará a ter a propriedade adquirida de modo originário
(decorrente da usucapião).

CAUSA NATURAL Avulsão, aluvião, formação de ilhas e abandono de álveo


ACESSÕES
CAUSA ARTIFICIAL/HUMANA Construções e Plantações

É o aumento da propriedade. Pode decorrer de uma causa natural (avulsão, aluvião, formação de ilhas e abandono de
álveo) ou artificial/humana (construção/plantação). As acessões se submetem à teoria da gravitação. Qual é a diferença entre
acessões e as benfeitorias? Maria Helena diz que as benfeitorias vêm do homem, e as acessos vem da natureza. Mas também
existem as acessões humanas… A dúvida persiste: e benfeitorias x acessões artificiais? Pablo Stolze utiliza critério quantitativo:
se o acréscimo passa da metade do volume da coisa, seria acessão; mas se este acréscimo não excede 50%, seria benfeitora.
Para Cristiano Chaves, o melhor critério é o finalístico: se o acréscimo tem uma finalidade necessária, útil ou voluptuária, será
benfeitoria; agora, se não tem nenhuma finalidade especifica em relação a coisa, será uma acessão.

Exceção - inversão da teoria da gravitação do acessório em relação à coisa: no caso de construção/plantações, a teoria
da gravitação pode sofrer uma inversão no caso do parágrafo único do art.1255 = se o valor da construção ou plantação excede
consideravelmente o valor do terreno e foi realizada de boa-fé, o dono do acessório adquire o terreno, indenizando o
proprietário do terreno.

CC, Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e
construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou
ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.

Avulsão Desprendimento abrupto e repentino de terras (direito ressarcitório para evitar


enriquecimento sem causa). Prazo decadencial: 1 ano.

Aluvião Desprendimento lento e gradual de terras (sem qualquer ressarcimento)

Formação de ilhas Acréscimo de terras pelos proprietários ribeirinhos, na proporção de suas testadas

Abandono de álveo Acréscimo de terras pelos proprietários ribeirinhos correspondentes, proporcionalmente

OBS: Se a ilha for formada em mares ou rios navegáveis, pertencerá à União.

Álveo é a superfície do rio que normalmente está submersa. No entanto, por exemplo, em razão de uma seca, o álveo
aparece. Este álveo (pedaço de terra do rio) pertence a quem? Aos proprietários ribeirinhos respectivos, na proporção de suas
testadas.
A quem pertence o álveo abandonado de rios navegáveis? O que pertence à União é o rio navegável; se o rio secou, ele
deixou de ser navegável; e o álveo só aparece quando o rio seca. Resposta: o álveo pertencerá aos proprietários ribeirinhos, na
proporção de suas testadas.

DE OLHO NA JURIS! Responsabilidade do proprietário do solo pelas despesas havidas com a construção realizada em seu terreno
O construtor proprietário dos materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida pela construção, quando
não puder havê-la do contratante. Ex: a empresa "A" contratou uma construtora para fazer um centro comercial no terreno
pertencente à empresa "B". A empresa "B", mesmo não tendo participado do contrato, poderá ser responsabilizada
subsidiariamente caso a construção seja realizada e a construtora não seja paga. Aplica-se, ao caso, o parágrafo único do art.
1.257: "O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando
não puder havê-la do plantador ou construtor." STJ. 4ª Turma. REsp 963199-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/10/2016
(Info 593).

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Usucapião

É modo originário de aquisição de propriedade por meio da posse. A sentença de usucapião é declaratória da aquisição
da propriedade e constitutiva do título de propriedade. O usucapiente não paga qualquer tributo de transmissão de
propriedade, afinal não há ato de transmissão (é modo originário). O NCPC não repete o que constava no art.945 do CPC/73,
que dizia que “somente será registrada a sentença que julgou procedente a usucapião, após recolhidos os tributos”. E que
tributos eram esse? Gerava confusão. Este tributo era o imposto de titularidade (IPTU ou ITR), e não de transmissão.
O fundamento da usucapião é a segurança jurídica das relações sociais.
A usucapião é a prescrição aquisitiva. Por isso, o art.1.244, CC diz que incidem na usucapião as regras da prescrição. De
modo que, se não corre prescrição, também não corre usucapião.
CC, Art.1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem
a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.

Não corre prescrição entre conjuges e companheiros na constância do casamento/união estável. Da mesma forma, não
poderá haver usucapião entre cônjuges na constância do casamento. Exceção: art.1240-A, CC: usucapião conjugal no caso de
abandono de lar, que, tecnicamente, é usucapião de meação.
Usualmente, diz-se que a usucapião é modo originário de aquisição de propriedade e DE OUTROS DIREITOS REAIS
SOBRE A COISA ALHEIA (também!). É possível usucapir a servidão, por exemplo, a depender do animus do usucapiente.
ATENÇÃO! Todos sabem que não se admite usucapião de bens públicos, mas o STJ admite a usucapião de direitos
reais na coisa alheia de bens públicos (ex: enfiteuse). Neste caso, o usucapiente não vai adquirir a propriedade do bem público,
por isso que não viola a CF; ele vai adquirir direito real sobre a coisa alheia de bem público. O usucapiente será titular da
enfiteuse, da superfície, da servidão.

Requisitos da usucapião: obrigatórios + facultativos.


Requisitos obrigatórios:
i. Posse qualificada: posse mansa, pacífica, ininterrupta e com animus domini.
É possível haver soma de posses, que pode se dar por ato inter vivos (acessio possessionis - alguém compra a posse da
outra) ou causa mortis (sucessio possessionis). Só não é possível soma de posses na usucapião especial urbana e usucapião
especial rural.
Lembrando que, se a pessoa estiver na posse de um imóvel em razão de um negócio jurídico, esta posse não terá
animus domini, e não será possível haver usucapião.
O usucapiente não precisa estar na posse no momento da propositura da ação de usucapião, mas é preciso que tenha
estado na posse anteriormente. Caso o usucapiente não esteja na posse, é óbvio que será necessária a citação do atual
possuidor, na ação de usucapião.
S.263, STF: O possuidor deve ser citado pessoalmente para a ação de usucapião.
A propositura de uma ação contra o usucapiente faz com que a sua posse deixe de ser mansa e pacífica? Não. O STJ
entende que se a ação possessória foi julgada improcedente, não interrompe a contagem do prazo. Agora, se a ação for julgada
procedente, aí interrompe a contagem e impede a usucapião.

ii. Coisa hábil a ser usucapida: algumas coisas não podem se usucapidas, ex: bens públicos. Os bens pertencentes a
empresas publicas e sociedades de economia mista admitem usucapião (STJ).
Antes da sentença de vacância (herança jacente ou vacante), o STJ permite a usucapião, pois o bem ainda não foi
adquirido pelo poder público. Também não se admite a usucapião de bem condominial, pois todos tem a posse e uso da coisa
(lembrar que o STJ admite a usucapião por um condômino quando este estabelecer posse com exclusividade). O STJ também
admite a usucapião de bem de família e de bem gravado com cláusula restritiva (cláusula de inalienabilidade,
impenhorabilidade).
Em todas as hipóteses em que não se admite a usucapião, o STJ admite a supressio (limitação do exercício de direitos).

iii. Lapso temporal: irá variar se se der com ou sem boa-fé e justo título. Há distinção entre os prazos de usucapião de
bem móvel e imóvel.
Bem móvel: 3 anos, se com justo título e boa-fé.
5 anos, sem justo título e com boa-fé.
Bem imóvel: trataremos logo adiante.
O STJ, ao ver de Cristianos Chaves, equivocadamente, diz que não é possível completar o prazo da usucapião, depois do
ajuizamento da ação.

@dicasexconcurseira 126
DE OLHO NA JURIS! É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal no
curso da demanda
É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se complete no curso do processo judicial, conforme a
previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado contestação. Em março de 2017, João ajuizou ação
pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos do art. 1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem
oposição por 5 anos). Em abril de 2017, o proprietário apresentou contestação pedindo a improcedência da demanda. As
testemunhas e as provas documentais atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012, ou seja, quando o autor
deu entrada na ação, ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para
sentença. O magistrado deverá julgar o pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para a usucapião se
completou no curso do processo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
05/06/2018 (Info 630).

A decretação da falência do proprietário do imóvel interrompe o prazo para que o possuidor possa adquirir este bem por
usucapião
O curso da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida é interrompido com a decretação da
falência. Ex: João é possuidor, há 4 anos e 6 meses, de uma área urbana de 200m2, que utiliza para a sua própria moradia. Ele
não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há todos esses anos sem oposição de ninguém. Imagine que foi
decretada a falência da empresa que é proprietária desse imóvel. Isso significa que, neste instante, o prazo para João adquirir o
bem por usucapião vai ser interrompido, ou seja, vai recomeçar do zero. STJ. 3ª Turma.REsp 1680357-RJ, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 10/10/2017 (Info 613).

Indivíduo que comprou e tem a posse de veículo pode propor usucapião se o automóvel estiver registrado em nome de terceiro
O indivíduo que tem a propriedade de um veículo que, no entanto, está registrado em nome de um terceiro no DETRAN, possui
interesse de agir para propor ação de usucapião extraordinária (art. 1.261 do CC) já que, com a sentença favorável, poderá
regularizar o bem no órgão de trânsito. STJ. 3ª Turma. REsp 1582177-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/10/2016 (Info
593).

Requisitos facultativos:
i. Justo título: a expressão “justo título” significa um instrumento, público ou particular, que seria idôneo para a
transferência da propriedade se não fosse algum vício/defeito que pese sobre ele. Ex: promessa de compra e venda não
registrada. O justo título faz presumir a boa-fé. A presença dos requisitos facultativos reduz o prazo da usucapião.

ii. Boa-fé: é possível usucapião de res furtiva, pois a boa-fé não é elemento essencial à usucapião. Se bem que é muito
improvável que o ladrão entre com uma ação de usucapião.

Posse qualificada

OBRIGATÓRIOS Coisa hábil a ser usucapida

REQUISITOS DA Lapso temporal


USUCAPIÃO

Justo título
FACULTATIVOS
Boa-fé

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Espécies de usucapião
Usucapião extraordinário Requisitos obrigatórios apenas. Prazo de 15 anos. OBS: Art.1238, p.u.: O prazo
(art.1238, CC) estabelecido neste artigo reduzir-se-á a 10 anos se o possuidor houver estabelecido
Imóvel urbano ou rural no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter
produtivo.

Usucapião ordinário (art.1242, Requisitos obrigatórios e requisitos facultativos. Prazo de 10 anos. OBS: Art.1242,
CC) p.u.: Será de 5 anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido,
Imóvel urbano ou rural onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia,
ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

Usucapião tabular ou Requisitos do usucapião ordinário em ação de invalidade (nulidade ou anulação) de


“convalescença registral” registros públicos

Usucapião especial urbano Prazo de 5 anos; imóvel urbanos não superior a 250m2; inexistência de
individual* (art.183, CF e propriedade de outro imóvel (rural ou urbano); fixação de moradia; uma única
art.1240, CC) possibilidade; inadmissibilidade por pessoa jurídica.

Usucapião especial urbano Prazo de 5 anos; imóvel urbano superior a 250m2; inexistência de outra
coletivo (arts.10-12, Estatuto propriedade (rural ou urbana); fixação de moradia; população de baixa renda; uma
da Cidade*) única possibilidade.
CUIDADO! Os arts.10-12 do Estatuto da Cidade sofreram alteração em 2017.
Então, verifique os requisitos!

Usucapião conjugal ou Prazo de 2 anos de abandono de lar, no casamento ou união estável (hetero ou
familiar (art.1240-A, CC) homoafetiva); imóvel urbano integrante da meação do casal e não superior a
250m2; inexistência de outra propriedade (rural ou urbana); fixação de moradia;
uma única possibilidade; inadmissibilidade por PJ.

Usucapião especial rural* Prazo de 5 anos; imóvel rural não superior a 50 hectares; inexistência de outra
(art.191, CF) propriedade (rural ou urbana); fixação de moradia ou produtividade da terra; mais
de uma possibilidade; inadmissibilidade por PJ; impossibilidade de fracionamento
da área imobiliária.

Usucapião como matéria de Todos os diferentes tipos podem ser alegados como matéria de defesa. A questão
defesa (S.237, STF) da impossibilidade registral, EXCETO a usucapião urbano (Art.13, Estatuto da
Cidade) e rural (art.7º, Lei 6.969/81).

A sentença que julgou procedente a usucapião como mataria de defesa pode ser levada à registro no cartório? Em
regra, não (STJ), SALVO no caso da usucapião especial urbano ou usucapião especial rural.

* DE OLHO NA JURIS! O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que o autor da ação de
usucapião especial urbana é hipossuficiente
O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê que "o autor terá os benefícios da justiça e da
assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis." Isso significa que o autor da ação de
usucapião especial urbana gozará sempre da gratuidade da justiça? Há uma presunção absoluta de que este autor não tem
recursos suficientes para pagar as custas? NÃO. O art. 12, § 2º da Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) estabelece uma
presunção relativa de que o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente. Isso significa que essa presunção
pode ser ilidida (refutada) a partir da comprovação inequívoca de que o autor não é considerado "necessitado". STJ. 3ª Turma.
REsp 1517822-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2017 (Info 599).

* Usucapião especial urbana e possibilidade de a área do imóvel ser inferior ao "módulo urbano"
Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial urbana, prevista no art. 183 da CF/88.
Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que o plano diretor da cidade proíbe a existência de imóveis urbanos registrados
com metragem inferior a 100m2. Em outras palavras, fixou que o módulo mínimo dos lotes urbanos naquele Município seria de
100m2 e, como a área ocupada pela pessoa seria menor que isso, ela não poderia registrar o imóvel em seu nome. A decisão do

@dicasexconcurseira 128
magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a pessoa tenha direito à usucapião especial
urbana? NÃO. Se forem preenchidos os requisitos do art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial urbana e o
fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação local para a respectiva área
(dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, que tem índole constitucional. Para que seja deferido o
direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento dos requisitos exigidos pelo texto constitucional, de modo que não
se pode impor obstáculos, de índole infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o modo
originário de aquisição de propriedade. STF. Plenário. RE 422349/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/4/2015 (repercussão
geral) (Info 783). STJ. 3ª Turma. REsp 1360017-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 584).

* Usucapião especial rural e área do imóvel inferior ao módulo rural


Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial rural, prevista no art. 191 da CF/88.
Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que a área usucapienda era muito inferior ao mínimo legal permitido para
desmembramento ou divisão de gleba rural. Em outras palavras, o magistrado argumentou, que apesar de o autor preencher os
requisitos constitucionais, a legislação não permite que uma área tão pequena seja desmembrada e se torne um imóvel com
matrícula própria. A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na legislação infraconstitucional impede
que a pessoa tenha direito à usucapião especial rural? NÃO. Presentes os requisitos exigidos no art. 191 da CF/88, o imóvel rural
cuja área seja inferior ao "módulo rural" estabelecido para a região poderá ser adquirido por meio de usucapião especial rural. A
CF/88, ao instituir a usucapião rural, prescreveu um limite máximo de área a ser usucapida, sem impor um tamanho mínimo.
Assim, estando presentes todos os requisitos exigidos pelo texto constitucional, não se pode negar a usucapião alegando que o
imóvel é inferior ao módulo rural previsto para a região. STJ. 4ª Turma. REsp 1040296-ES, Rel. originário Min. Marco Buzzi, Rel.
para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Info 566).

Hipóteses especiais de usucapião:


i. Usucapião indígena (art.33, Lei 6.001/73): prazo de 10 anos; imóvel inferior a 50 hectares, ocupado por índio integrado ou não.
É raro acontecer isso, já que a CF confere ao índio o usufruto de terras tradicionalmente por ele ocupada.

ii. Usucapião especial imobiliária administrativa (art.60, Lei 11.977/09 - Programa Minha Casa, Minha Vida): prazo de 5 anos;
detentor do título de posse de imóvel, não beneficiário do Programa Minha Casa Minha Vida nem de nenhum outro programa
governamental; requerimento ao oficial do cartório (desjudicialização).

iii. Usucapião em cartório (administrativo), art.1.071 CPC/15:

Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será
processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a
requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com:
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas
circunstâncias;
II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade
técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou
averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes;
III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente;
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais
como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.
§1º O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido.
§2º Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou
averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, esse será notificado pelo registrador
competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar seu consentimento expresso em 15
(quinze) dias, interpretado o seu silêncio como discordância.
§3º O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município, pessoalmente, por
intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de recebimento, para que se manifestem, em
15 (quinze) dias, sobre o pedido.
§4º O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência
de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias.
§5º Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de registro de
imóveis.
§6º Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência de diligências na forma do § 5º deste artigo e
achando-se em ordem a documentação, com inclusão da concordância expressa dos titulares de direitos reais e de outros
direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, o oficial de
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registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se
for o caso.
§7º Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei.
§8º Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido.
§9º A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião.
§10. Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos
titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos
imóveis confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá os
autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequá-la
ao procedimento comum.

Aspectos processuais

A ação de usucapião, com o CPC/15, passou a ter procedimento comum ordinário (e não mais procedimento especial).
Há apenas uma fase de citação diferenciada: citação de todos os confinantes (vizinhos contíguos), da pessoa em cujo nome está
registrado o imóvel, do atual possuidor (pessoalmente, se houver, ou seja, se for diferente daquele que propõe a ação), das 3
fazendas públicas e da coletividade (por meio de editais).
Se qualquer das pessoas for citada por edital ou hora certa, terá curador especial.
O MP só intervirá na ação de usucapião quando esta se referir a conflito coletivo.
S. 99, STJ: O MP tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja
recurso da parte.
Competência para ação de usucapião:
Bem móvel —> domicilio do réu (competência relativa);
Bem imóvel —> foro da situação da coisa (competência absoluta).

OBS: Súmula 11, STJ: A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a
competência do foro da situação do imóvel.

Procedimento comum ordinário (não é mais procedimento especial)

Citação de todos os confinantes (vizinhos contíguos)


AÇÃO DE USUCAPIÃO
NO NCPC Citação da pessoa em cujo nome está registro o imóvel

Fase de citação diferenciada Citação do atual possuidor pessoalmente (se for pessoa
diversa da que propôs a ação)

Citação das 3 Fazendas Públicas

Citação da coletividade, por meio de editais

JURISPRUDÊNCIAS SOBRE USUCAPIÃO

Ausência de citação dos confinantes gera nulidade relativa


Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes, ou seja, dos vizinhos que fazem fronteira
com o imóvel que ele almeja. E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá nulidade absoluta do processo?
Não. Apesar de amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes não acarretará, por si, ou seja, obrigatoriamente, a
nulidade da sentença que declara a usucapião. Não há que se falar em nulidade absoluta, no caso. A ausência de citação dos
confinantes e respectivos cônjuges na ação de usucapião é considerada hipótese de nulidade relativa, somente gerando a nulidade
do processo caso se constate o efetivo prejuízo. STJ. 4ª Turma.REsp 1432579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/10/2017 (Info 616).

Não cabe oposição em ação de usucapião


Não cabe oposição em ação de usucapião. O indivíduo não tem interesse processual para oferecer oposição na ação de
usucapião porque, estando tal ação incluída nos chamados juízos universais (em que são convocados a integrar o polo passivo
@dicasexconcurseira 130
por meio de edital toda a universalidade de eventuais interessados), sua pretensão poderia ser deduzida por meio de
contestação. Como a lei exige a convocação de todos os interessados para ingressarem no polo passivo da ação de usucapião, se
assim desejarem, isso significa que neste procedimento não há a figura do terceiro. STJ. 3ª Turma. REsp 1726292/CE, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019.

Se o juízo criminal decretou a perda do imóvel que está sendo pleiteado em ação de usucapião, esta decisão produzirá efeitos
no juízo cível, devendo a ação ser extinta por perda do objeto
Há perda de objeto da ação de usucapião proposta em juízo cível na hipótese em que juízo criminal decreta a perda do imóvel
usucapiendo em razão de ter sido adquirido com proventos de crime. João praticou um crime.Com o dinheiro obtido com o
delito, ele comprou uma casa. No processo criminal, o juiz decretou, em março/2012, o sequestro da casa comprada. João fugiu
e abandonou o imóvel. Em abril/2012, Pedro invadiu a casa e passou a morar lá.Em maio/2017, após mais de 5 anos morando
no imóvel, Pedro ajuizou ação de usucapião (art. 1.240 do CC). A ação de usucapião estava tramitando até que, em
outubro/2017, transitou em julgado a sentença do juiz condenando João pela prática do crime. Como efeito da condenação, o
magistrado determinou o confisco da casa (art. 91, II, “b”, do CP).A ação de usucapião perde o objeto, considerando que este
tema foi definido no juízo criminal. STJ. 3ª Turma.REsp 1471563-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
26/09/2017 (Info 613).

Impossibilidade de declaração de ofício da usucapião


Alguns autores afirmam que a USUCAPIÃO também pode ser chamada de prescrição aquisitiva. Assim, existiriam em nosso
ordenamento jurídico, duas formas de prescrição: a) Prescrição extintiva (prescrição propriamente dita). b) Prescrição aquisitiva
(usucapião). O § 5º do art. 219 do CPC 1973 prevê que “o juiz pronunciará, de ofício, a prescrição”. Essa regra do art. 219, § 5º do
CPC 1973 aplica-se apenas para a prescrição extintiva ou também para a prescrição aquisitiva (usucapião)? O juiz pode reconhecer,
de ofício, a usucapião? Ex: Pedro, mesmo sem ser proprietário, está morando em um imóvel há mais de 20 anos sem ser
incomodado por ninguém; determinado dia, João (que figura no registro de imóveis como proprietário do bem) ajuíza ação de
reintegração de posse; o juiz, mesmo sem que Pedro alegue, poderá declarar que houve usucapião (prescrição aquisitiva)? NÃO.
O § 5º do art. 219 do CPC 1973 não autoriza a declaração, de ofício, da usucapião. Em outras palavras, o juiz não pode reconhecer
a usucapião a não ser que haja requerimento da parte. Não se aplica o § 5º do art. 219 do CPC 1973 à usucapião. O disposto no §
5º do art. 219 está intimamente ligado às causas extintivas, conforme expressamente dispõe o art. 220. Além disso, a prescrição
extintiva e a usucapião são institutos diferentes, sendo inadequada a aplicação da disciplina de um deles frente ao outro, uma vez
que a expressão “prescrição aquisitiva” como sinônima de usucapião, tem razões mais ligadas a motivos fáticos/históricos. Essa
conclusão acima exposta persiste com o CPC 2015? SIM. Mesmo com o novo CPC, o juiz continuará sem poder declarar de ofício
a usucapião. STJ. 4ª Turma. REsp 1106809-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Marco Buzzi, julgado
em 3/3/2015 (Info 560).

@dicasexconcurseira 131
Aula 05

O Condomínio Geral e o Condomínio Edilício

Noções gerais

O condomínio afeta ou não a ideia exclusiva de propriedade? O condomínio é uma pluralidade de sujeitos exercendo o
mesmo direito de propriedade sobre a mesma coisa (pluralidade de sujeitos + unicidade de objeto). Este conceito não afeta a
ideia da propriedade plena, pois os múltiplos sujeitos exercem o mesmo direito sobre a mesma coisa.
A ideia de um condomínio é qualitativamente igual, embora quantitativamente diferente: todos os condôminos tem a
mesma qualidade (a qualidade de coproprietário), malgrado disponham de quotas diferentes (fração ideal diferente).
Condomínio = comunhão de sujeitos + indivisão de objeto.
É grande a probabilidade de conflitos dentro de um condomínio. O CC parte da ideia de que o condomínio é uma fonte
de conflitos.
No direito brasileiro, há duas espécies de condomínio:

Condomínio comum/tradicional Propriedade comum, sem qualquer Ex: casamento, união estável,
parte individualizada herança

Condomínio edilício/por unidades Mix de propriedades comum e Ex: edifício de apartamentos, edifício
autônomas unidades autônomas comum, vilas de casas

O condomínio comum/tradicional
É o exercício do mesmo direito de propriedade sobre a mesma coisa por dois ou mais sujeitos; eventualmente, podem
ter quotas diferentes.

Direitos dos condôminos:


i. Direitos de uso e fruição da coisa exercidos sobre toda a coisa, independentemente da cota-parte de cada
condômino, sem impedir que os demais também o façam (teoria da propriedade integral).
CC, Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com
a indivisão (…).

Cabe usucapião entre condôminos? Em regra, não, pois cada um dos condomínios exerce seus direitos sobre o todo.
Porém, lembre-se da exceção aberta pelo STJ (REsp 10.978/RJ): possibilidade de usucapião, quando o condomínio/usucapiente
exerceu posse com exclusividade, afastando a posse dos demais. Ex: fazenda cujo proprietário morreu e deixou 5 filhos; um dos
filhos cuida da fazenda, sozinho, sem qualquer ajuda financeira ou de qualquer tipo por parte dos demais herdeiros

ii. Direito de defesa da coisa, possibilidade de ajuizar ações possessórias e reivindicatórias contra terceiros (e somente
possessórias contra os demais comunheiros) + autodefesa da posse. A ação reivindicatória só é cabível contra terceiros (e não
contra outro comunheiro).

iii. Direito de alienar a coisa ou dar em garantia, desde que tenha o consentimento de TODOS os demais condôminos,
afinal, todos são proprietários. Se algum condômino se recusar imotivadamente a consentir, admite-se o suprimento judicial,
para evitar abuso do direito.
CC, Art.1420, §2º A coisa comum a dois ou mais proprietários não pode ser dada em garantia real, na sua totalidade, sem o
consentimento de todos; mas cada um pode individualmente dar em garantia real a parte que tiver.

iv. Direito de preferência: se um condômino pretende alienar a sua quota onerosamente [“vender” – este
entendimento não se aplica à alienação gratuita = doação], deverá dar direito de preferencia aos demais condôminos em
comprar a sua quota parte. Como se formaliza o direito de preferencia? O CC não dispõe sobre; por analogia, aplica-se a lei de
locações de imóveis urbanos (art.27): dá-se por meio de notificação, judicial ou extrajudicial, com antecedência mínima de 30
dias, para que os demais condôminos digam se querem ou não exercer a preferência. Se mais de um condômino exercer o
direito de preferencia, se dará preferencia àquele que realizou o maior número de benfeitorias; se o volume de benfeitorias for
igual, se dará a preferencia a quem tiver o maior quinhão; se todos tiverem o mesmo quinhão, os condôminos adquirirão
proporcionalmente.

@dicasexconcurseira 132
Se não for observado o direito de preferencia, a venda será ineficaz em relação ao condômino prejudicado; este terá o
prazo decadencial de 180 dias para ajuizar ação de adjudicação compulsória, depositando o dinheiro. Nesta ação, haverá
litisconsórcio passivo, necessário e unitário entre o condômino alienante e o terceiro adquirente. O terceiro não pode alegar
boa-fé, porque ele deveria ter exigido a apresentação da notificação aos demais condôminos.

OBS: o direito de preferência só existe no condomínio tradicional (e não no condomínio edifício).

DE OLHO NA JURIS! Inaplicabilidade do direito de preferência em contrato de compra e venda celebrado entre condôminos
O direito de preferência previsto no art. 504 do CC aplica-se ao contrato de compra e venda celebrado entre condômino e
terceiro, e não àquele ajustado entre condôminos. Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a
estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,
depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de
decadência. STJ. 4ª Turma. REsp 1137176-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/2/2016 (Info 577).

CC, Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por
tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a
estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de 133ecadencia.

v. Direito de voto, se estiver em dia com as cotas condominiais.

vi. Direito de preferência para o aluguel da coisa, caso assim seja deliberado.

Deveres dos condôminos:

i. Respeitar a finalidade do bem, conforme a sua destinação (pode, porém, praticar atos conservatórios)

ii. Não dar posse, uso ou gozo do bem a terceiros, sem o consentimento dos demais.

iii. Dividir as despesas comuns proporcionalmente às frações ideais (obrigação propter tem).

CC, Art. 1.315. O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas de conservação ou divisão da
coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita.
Parágrafo único. Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos.

A natureza da taxa condominial é propter rem, ou seja, adere à coisa. Caso a coisa seja vendida, o comprador deverá
eventual taxa não paga.

Possibilidade de renúncia à fração ideal (art.1316, CC) para eximir do rateio:

CC, Art. 1.316. Pode o condômino eximir-se do pagamento das despesas e dívidas, renunciando à parte ideal.
§1º Se os demais condôminos assumem as despesas e as dívidas, a renúncia lhes aproveita, adquirindo a parte ideal de quem
renunciou, na proporção dos pagamentos que fizerem.
§2º Se não há condômino que faça os pagamentos, a coisa comum será dividida.

iv. Responsabilidade pelo rateio das despesas comuns, no limite da cota de cada comunheiro - a obrigação NÃO é
solidária.
CC, Art. 1.317. Quando a dívida houver sido contraída por todos os condôminos, sem se discriminar a parte de cada um na
obrigação, nem se estipular solidariedade, entende-se que cada qual se obrigou proporcionalmente ao seu quinhão na coisa
comum.

v. Responsabilidade pelos frutos recebidos isoladamente. Cada condômino pode usar e fruir a coisa como um todo e,
daí, pode colher individualmente frutos. Neste caso, ele precisará rateá-lo com os demais comunheiros. Se não o fizer, terá que
indenizar.

CC, Art. 1.319. Cada condômino responde aos outros pelos frutos que percebeu da coisa e pelo dano que lhe causou.

A administração do condomínio comum/tradicional. O administrador é eleito pela maioria das frações ideias (critério
econômico); em caso de empate, o juiz decide. A minoria vencida pode se habilitar ao juiz e apresentar argumentos no sentido
@dicasexconcurseira 133
de defender que a administração deve ser exercida pelo condômino “X”. O administrador pode ou não ser um condômino. Seja
quem for, estará obrigado a prestar contas e, óbvio, os condôminos podem exigir contas.

Teoria do “mandatário tácito”: quando um condômino termina por assumir a administração com a aquiescência de
todos, embora não tenha sido eleita administradora formalmente. O mandatário tácito incorpora a teoria da aparência. Se o
mandatário tácito celebrar negócios com terceiros, o condomínio responde, com base na teoria da aparência (óbvio, com direito
de regresso).

Espécies de condominio comum:


Condomínio legal Forçado ou fortuito Imposição pela norma ou pela natureza da coisa

Condomínio voluntário Espontâneo Vontade dos interessados (ex: regime de bens)

Exemplo de condomínio fortuito: sucessão hereditária.


Exemplo de condomínio forçado: muros, cercas, paredes, pastos (chamado de compáscuo). Cada vizinho terá o direito
de estremar: CC, Art. 1.328. O proprietário que tiver direito a estremar um imóvel com paredes, cercas, muros, valas ou valados,
tê-lo-á igualmente a adquirir meação na parede, muro, valado ou cerca do vizinho, embolsando-lhe metade do que atualmente
valer a obra e o terreno por ela ocupado (art. 1.297).
As despesas por força de lei são comuns.

CC, Art. 1.329. Não convindo os dois no preço da obra, será este arbitrado por peritos, a expensas de ambos os confinantes.

Todo condomínio comum/tradicional irá se extinguir. A qualquer tempo, todo e qualquer condômino pode exigir a
divisão da coisa comum. Entretanto, o CC permite aos condôminos estabeleçam um prazo de indivisibilidade, que será no
máximo de 5 anos, renovável uma única vez. Não se poderá renovar a indivisibilidade se o condomínio se formou por herança
ou doação.

CC, Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela
sua parte nas despesas da divisão.
§1º Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo não maior de cinco anos, suscetível de
prorrogação ulterior.
§2º Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida pelo doador ou pelo testador.
§3º A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o aconselharem, pode o juiz determinar a divisão da coisa
comum antes do prazo.

Esta divisão é feita pela “ação de divisão” (art.569, CPC/15), que é ação de procedimento especial, em que se aplicam,
conforme art.1321, CC, as regras da partilha hereditária.

CC, Art. 1.321. Aplicam-se à divisão do condomínio, no que couber, as regras de partilha de herança (arts. 2.013 a 2.022).

Se o bem for indivisível, não cabe ação de divisão, mas sim “ação de alienação judicial de coisa comum”. O STJ diz que
só cabe a alienação se não for possível a divisão (STJ, em razão da diretriz da socialidade).

CC, Art. 1.322. Quando a coisa for indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, será
vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e entre os
condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior.
Parágrafo único. Se nenhum dos condôminos tem benfeitorias na coisa comum e participam todos do condomínio em partes
iguais, realizar-se-á licitação entre estranhos e, antes de adjudicada a coisa àquele que ofereceu maior lanço, proceder-se-á à
licitação entre os condôminos, a fim de que a coisa seja adjudicada a quem afinal oferecer melhor lanço, preferindo, em
condições iguais, o condômino ao estranho.

O condomínio edilício

É um regime especial de condomínio, porque ele é simbiose orgânica: congrega regras de propriedade individual e de
propriedade coletiva.
O STJ pacificou o entendimento de que não se aplica as regras do condomínio edifício ao condomínio de fato
[condomínio de fato é a rua fechada; tem despesas comuns (vigia, higiene, etc)].
@dicasexconcurseira 134
É possível disciplinar horário de funcionamento de utilização de condomínio, segundo o STJ; isto não diminui a
propriedade privada de cada condômino.

Questões polêmicas:
i. Impossibilidade de usucapião de áreas comuns em condomínio edifício (piscina, hall social).

ii. Legitimidade de todos os condôminos para o manejo de tutela possessória e de autodefesa, na hipótese de algum
condômino estabelecer posse com exclusividade de área comum (justamente para impedir que se alegue, futuramente, a
supressio).

iii. Impossibilidade de ocorrência de encravamento de unidade autônoma. Não é possível que uma unidade fique sem
acesso à via pública.
CC, Art.1331, §4º Nenhuma unidade imobiliária pode ser privada do acesso ao logradouro público.

iv. Terraço ou cobertura pertence ao condomínio - é, pois, área comum -, salvo disposição em contrário. Se for área
comum, é possível que um dos condôminos o adquira, desde que com consentimento de todos. Caso pertença a um condômino,
não é possível aumentar os limites de construção (o condomínio não gera direito de sobrelevação).

v. A questão das garagens/abrigo de veículos. A quem pertence? Depende do regime jurídico. No Brasil, há 3 diferentes
regimes jurídicos para as garanges:
1. Garagem como área comum: se não houver especificação de uso por unidade autônoma;
2. Garagem como parte integrante da unidade autônoma;
3. Garagem como unidade autônoma em si mesma: quando a garagem tiver matrícula própria no cartório de imóveis.

Súmula 449, STJ: A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito
de penhora.

CC, Art.1.331, §1º As partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritórios, salas, lojas e sobrelojas,
com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a propriedade exclusiva, podendo ser
alienadas e gravadas livremente por seus proprietários, exceto os abrigos para veículos, que não poderão ser alienados ou
alugados a pessoas estranhas ao condomínio, salvo autorização expressa na convenção de condomínio.

CC, Art. 1.338. Resolvendo o condômino alugar área no abrigo para veículos, preferir-se-á, em condições iguais, qualquer dos
condôminos a estranhos, e, entre todos, os possuidores.

Natureza jurídica do condomínio: muitos autores (ex: Flávio Tartuce) sustentam que a natureza jurídica do condomínio
deveria ser pessoa jurídica (Cristiano Chaves adere à reflexão). No entanto, para concurso público, é mais seguro tramitar de
acordo com a lei: no Brasil, o condomínio edifício é ente despersonalizado.
Enunciado 246, JDC: Deve ser reconhecida a personalidade do condomínio nas relações inerentes ao seu interesse.
STJ: para fins de contribuição previdenciária e eventualmente de contribuições fiscais, é possível reconhecer a
personalidade jurídica do condomínio.
Sendo ente despersonalizado, lhe retira personalidade; mas, mesmo assim, o condomínio edilício tem capacidade.
Art.75, XI, CPC/15 - legitimidade processual do condomínio, que será representado pelo síndico.
O condomínio pode adquirir unidades autônomas e outros bens em nome próprio.
O imóvel que serve para o condomínio não é acessório em relação ao terreno - Súmula 309, STJ: A hipoteca firmada
entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia
perante os adquirentes do imóvel.

Time sharing (multipropriedade imobiliária): um novo tipo de condomínio edilício, em que há compartilhamento do
condomínio no tempo. A pessoa adquire o direito de ser proprietário de determinada unidade por 30 dias, por exemplo. O CDC
é aplicado ao time sharing hoteleiro, pois a relação é de consumo (e não de condomínio).

DE OLHO NA JURIS! Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time-sharing


É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de multipropriedade (time-sharing) em decorrência de
dívida de condomínio de responsabilidade do organizador do compartilhamento. A multipropriedade imobiliária, mesmo não
efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito real, harmonizando-se com os institutos constantes do rol previsto
no art. 1.225 do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp 1546165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 589).
@dicasexconcurseira 135
Elementos constitutivos do condomínio:
i. Ato de instituição/criação;
ii. Convenção do condomínio;
iii. Regime interno do condomínio.

O ato de instituição pode ser inter vivos (registrado no cartório de imóveis; ex: incorporação imobiliária) ou causa
mortis (o testamento pode ser particular ou público).

CC, Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis,
devendo constar daquele ato, além do disposto em lei especial:
I - a discriminação e individualização das unidades de propriedade exclusiva, estremadas uma das outras e das partes comuns;
II - a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade, relativamente ao terreno e partes comuns;
III - o fim a que as unidades se destinam.

As matérias instituídas no ato de instituição só podem ser alteradas por decisão de unanimidade dos condôminos.

A convenção do condomínio é uma verdadeira constituição interna, que disporá sobre direitos e deveres dos
condôminos e precisa ser aprovada por maioria de 2/3 das frações ideais e registrada no cartório de imóveis para ser oponível a
terceiros (para vincular os próprios condôminos, não precisa de registro - Súmula 260, STJ: A convenção de condomínio
aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular as relações entre os condôminos. A convenção de condomínio tem
natureza estatutária.

CC, Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo, 2/3 das frações
ideais e torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham
posse ou detenção.
Parágrafo único. Para ser oponível contra terceiros, a convenção do condomínio deverá ser registrada no Cartório de Registro
de Imóveis.

DE OLHO NA JURIS! Alteração de cláusula irrevogável e irretratável da convenção de condomínio


Os condôminos, pelo voto de 2/3, poderão alterar cláusula da convenção original de condomínio, mesmo sendo ela prevista
como irrevogável e irretratável. No caso concreto, a convenção original determinou que a divisão das despesas do condomínio
seria feita em partes iguais. Pelo voto de 2/3, alterou-se a forma de rateio para que as expensas sejam suportadas na proporção
das frações ideais. STJ. 3ª Turma. REsp 1447223-RS, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014 (Info 554).

A convenção deve conter 5 matérias obrigatórias:

CC, Art. 1.334. Além das cláusulas referidas no art. 1.332 e das que os interessados houverem por bem estipular, a convenção
determinará:
I - a quota proporcional e o modo de pagamento das contribuições dos condôminos para atender às despesas ordinárias e
extraordinárias do condomínio;
II - sua forma de administração;
III - a competência das assembléias, forma de sua convocação e quorum exigido para as deliberações;
IV - as sanções a que estão sujeitos os condôminos, ou possuidores;
V - o regimento interno.
§1º A convenção poderá ser feita por escritura pública ou por instrumento particular.
§2º São equiparados aos proprietários, para os fins deste artigo, salvo disposição em contrário, os promitentes compradores e os
cessionários de direitos relativos às unidades autônomas.

Multas ao condômino antissocial:

CC, Art. 1.336, §2º O condômino, que não cumprir qualquer dos deveres estabelecidos nos incisos II a IV, pagará a multa prevista
no ato constitutivo ou na convenção, não podendo ela ser superior a 5 vezes o valor de suas contribuições mensais,
independentemente das perdas e danos que se apurarem; não havendo disposição expressa, caberá à assembléia geral, por 2/3
no mínimo dos condôminos restantes, deliberar sobre a cobrança da multa.

CC, Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o condomínio poderá,
por deliberação de 3/4 dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor
@dicasexconcurseira 136
atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente
das perdas e danos que se apurem.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento anti-social, gerar incompatibilidade de
convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do
valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembléia.

Nada impede que a convenção de condomínio estipule outras multas a condôminos antissociais.
Para aplicação de qualquer multa ao condômino antissocial, exige-se o respeito ao devido processo legal.
A reiteração de faltas graves por condômino antissocial pode gerar a expulsão do condômino, por decisão judicial, em
razão da cláusula geral que veda o abuso do direito.

DE OLHO NA JURIS! Aplicação de multas sancionatória e moratória por inadimplência condominial contumaz
Se o condômino descumpre reiteradamente o dever de contribuir para as despesas do condomínio (inciso I do art. 1.336 do CC),
o condomínio poderá aplicar contra ele, além da multa moratória (§ 1º do art. 1.336 do CC), multa sancionatória em razão de
comportamento "antissocial" ou "nocivo" (art. 1.337 do CC). Assim, o condômino que deixar de adimplir reiteradamente a
importância devida a título de cotas condominiais poderá, desde que aprovada a sanção em assembleia por deliberação de 3/4
(três quartos) dos condôminos, ser obrigado a pagar multa em até o quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as
despesas condominiais, conforme a gravidade da falta e a sua reiteração. STJ. 4ª Turma. REsp 1247020-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 15/10/2015 (Info 573).

Aplicação de multa a condômino antissocial e direito de defesa


O Código Civil prevê que, se o condômino apresentar reiterado comportamento antissocial, poderá ser punido com multa (art.
1.337, parágrafo único). Essa sanção para o comportamento antissocial reiterado de condômino só poderá ser aplicada se antes
foram conferidas ao condômino as garantias da ampla defesa e do contraditório. Enunciado 92-CJF: Art. 1.337: As sanções do art.
1.337 do novo Código Civil não podem ser aplicadas sem que se garanta direito de defesa ao condômino nocivo. STJ. 4ª Turma.
REsp 1365279-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/8/2015 (Info 570).

A taxa condominial tem natureza de obrigação propter rem (obrigação ambulatória), exigível do atual possuidor ou
proprietário.
O cálculo da taxa de condomínio deve ser proporcional às frações ideais e à utilização das áreas comuns.
Eventualmente, o condômino pode inadimplir a taxa condominial e, neste caso, poderá lhe ser cobrada multa e juros.
Os juros devem ser de 1%, salvo estipulação diferente em convenção condominial. Correção monetária só incide se houver
cobrança judicial. A multa (cláusula penal moratória) é de até 2% ao mês (obs: o CC/16 dizia que ela era de até 20%; os
condomínios que já existiam se submeteM ao novo limite de 2%? STJ: sim; o STJ foi além: inclusive para as cobranças que já
estavam em curso). Eventual inadimplemento da taxa condominial não impede o oferecimento de serviços essenciais (elevador,
coleta de lixo); mas, se for serviço não essencial, pode ser impedido o fornecimento.

OBS: o inadimplemento de taxa condominial pode levar à penhora do bem de família (STJ).

Os condôminos rateiam o seguro obrigatório.

CC, Art. 1.346. É obrigatório o seguro de toda a edificação contra o risco de incêndio ou destruição, total ou parcial.

O regime interno é uma espécie de manual de instrução do condômino; é aprovado e modificável por maioria simples.

Questões polêmicas:
a. A questão relativa à proibição absoluta ou permissividade total da manutenção de animal em condomínio. Direitos
protegidos pelo direito de vizinhança: segurança, sossego e saúde.
CC, Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança,
ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as
normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança.

DE OLHO NA JURIS! É possível a criação de animais nas unidades autônomas do condomínio?


Acerca da regulamentação da criação de animais pela convenção condominial, podem surgir três situações: a) Se a convenção
não regular a matéria: o condômino pode criar animais em sua unidade autônoma, desde que não viole os deveres previstos no
art. 1.336, IV, do CC e no art. 19 da Lei nº 4.591/64. b) Se a convenção veda apenas a permanência de animais causadores de
@dicasexconcurseira 137
incômodos aos demais moradores: essa norma condominial é válida (não apresenta nenhuma ilegalidade). c) Se a convenção
proíbe a criação e a guarda de quaisquer espécies de animais: essa restrição se mostra desarrazoada, considerando que
determinados animais não apresentam risco à incolumidade e à tranquilidade dos demais moradores e dos frequentadores
ocasionais do condomínio. O impedimento de criar animais em partes exclusivas (unidades autônomas) somente se justifica
para a preservação da segurança, da higiene, da saúde e do sossego. Se tais aspectos não estão em risco, não há motivo para a
proibição. Assim, é ilegítima a restrição genérica contida em convenção condominial que proíbe a criação e guarda de animais
de quaisquer espécies em unidades autônomas STJ. 3ª Turma. REsp 1.783.076-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 14/05/2019 (Info 649).

b. Recebimento de visitas e abuso do direito. Impossibilidade de limitação ao recebimento de visitas, sob pena de
afetação do direito de propriedade.

c. A possibilidade de realização de cultos religiosos nas unidades autônomas.

d. A questão de furto ou roubo em área comum. O condomínio responde? Depende, só responderá se houver previsão
na convenção condominial ou se houver taxa de segurança. Agora, se o furto ou roubo for feito por parte de empregado do
condomínio, este responderá (responsabilidade pelo fato de terceiro).

e. Impossibilidade de o locatário participar das assembléias, mesmo quitada a cota, salvo como procurador.

f. Alteração de fachada para embelezamento se dá por maioria de 2/3 das frações ideiais.

CC, Art. 1.341. A realização de obras no condomínio depende:


I - se voluptuárias, de voto de 2/3 dos condôminos;

Se a mudança da fachada for completa/estrutural, deverá haver unanimidade, pois altera a área comum.
Se a mudança da fachada for para manutenção, deverá haver maioria simples.
Cada condômino pode realizar alterações insignificantes na fachada (ex: rede de proteção para crianças).
Se algum condômino estiver alterando a fachada ou a área comum, cabe ação de nunciação de obra nova, que deixou
de ter procedimento especial (caso a obra tenha acabo, cabe ação demolitória).

JURISPRUDÊNCIAS
Alteração de fachada sem autorização da totalidade dos condôminos
O condômino não pode, sem a anuência de todos os condôminos, alterar a cor das esquadrias externas de seu apartamento
para padrão distinto do empregado no restante da fachada do edifício, ainda que a modificação esteja posicionada em recuo,
não acarrete prejuízo direto ao valor dos demais imóveis e não possa ser vista do térreo, mas apenas de andares
correspondentes de prédios vizinhos. STJ. 3ª Turma. REsp 1483733-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
25/8/2015 (Info 568).

Condôminos podem ser chamados a responder pelas dívidas do condomínio, sendo permitida, inclusive, a penhora do
apartamento que é bem de família
É possível a penhora de bem de família de condômino, na proporção de sua fração ideal, se inexistente patrimônio próprio do
condomínio para responder por dívida oriunda de danos a terceiros. Ex: um pedestre foi ferido por conta de um pedaço da
fachada que nele caiu. Essa vítima terá que propor a ação contra o condomínio. Se o condomínio não tiver patrimônio próprio
para satisfazer o débito, os condôminos podem ser chamados a responder pela dívida, na proporção de sua fração ideal. Mesmo
que um condômino tenha comprado um apartamento neste prédio depois do fato, ele ainda assim poderá ser obrigado a pagar
porque as despesas de condomínio são obrigações propter rem. O juiz poderá determinar a penhora dos apartamentos para
pagamento da dívida mesmo que se trate de bem de família, considerando que as dívidas decorrentes de despesas condominiais
são consideradas como exceção à impenhorabilidade do bem de família, nos termos do art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90. STJ. 4ª
Turma. REsp 1473484-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018 (Info 631).

Prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais: 5 anos


Na vigência do Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que o condomínio geral ou edilício (vertical ou
horizontal) exercite a pretensão de cobrança de taxa condominial ordinária ou extraordinária, constante em instrumento
público ou particular, a contar do dia seguinte ao vencimento da prestação. STJ. 2ª Seção. REsp 1483930-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 596).

@dicasexconcurseira 138
Não se pode proibir o condômino inadimplente de usar as áreas comuns do condomínio
O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode proibir, em razão de inadimplência,
condômino e seus familiares de usar áreas comuns, ainda que destinadas apenas a lazer. Assim, é ilícita a disposição
condominial que proíbe a utilização de áreas comuns do edifício por condômino inadimplente e seus familiares como medida
coercitiva para obrigar o adimplemento das taxas condominiais. STJ. 3ª Turma. REsp 1564030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 9/8/2016 (Info 588). STJ. 4ª Turma. REsp 1699022-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/05/2019
(Info 651).

Aula 06

Introdução ao Direito de Família

A família e a sua evolução natural

O conceito de família é cultural, e não biológica. Família, portanto, não é um conceito dado, e sim construído.

A família e os seus paradigmas

A família no CC/16 A família na CF, arts.226-227 e no CC/02

Matrimonializada apenas (família era apenas o Plural (multiplicidade de entidades familiares)


casamento)

Patriarcal (homem chefiando a família) Democrática (homem e mulher são iguais em direitos e
deveres)

Hierarquizada (filhos deviam, apenas, obediência aos Igualitária (igualdade substancial, impondo tratamento
pais) distinto para quem estiver em posição distinta)

Necessariamente heteroparental (só havia família pelo Hetero ou homoparental (a família pode ser formada por
casamento) pessoas do mesmo sexo - ex: famalia monoparental)

Exclusivamente biológica (adoção não produzia efeitos Biológica ou socioafetiva (a afetividade também é fonte
jurídicos) da relação familiar)

Família institucionalizada (a família era tratada como Família como um instrumento, onde se procura o
uma instituição de interesse social) desenvolvimento da personalidade das pessoas que a
compõe

Novos elementos da família: afeto, ética, dignidade


humana e solidariedade.

Caráter instrumental da família

A família é um meio, um mecanismo de proteção de pessoas, e não um fim em si mesma. Sua finalidade é a realização
pessoal dos seus componentes.
Família eudemonista: família vocacionada à busca da felicidade dos seus componentes. STJ, REsp 1.281.236/SP —> o
objetivo central do núcleo familiar é a busca do direito à felicidade. Ex de aplicação da “família eudemonista”: proteção do bem
de família da pessoa sozinha (single) —> S.364, STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o
imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. Esta súmula que dizer que embora a pessoa sozinha não seja família
de si mesma, ela merece a proteção, pois é a pessoa que compõe a família que deve ser protegida, e não a família em si mesma.

O Direito de Família mínimo/intervenção mínima do Estado

O direito de família mínimo tem o mesmo fundamento ideológico do direito penal mínimo, e significa a intervenção
mínima do Estado nas questões referentes ao direito de família, valorizando a autonomia privada.

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CC, Art.1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família.
è função social da família.

A intervenção na família só se dará quando necessário para assegurar direitos e garantias fundamentais.
STJ — responsabilidade civil da amante à luz da função social da família e da não intervenção na família à o amante
deve indenizar o cônjuge traído? O STJ decidiu, no REsp 922.462/SP, que o dever de fidelidade é intra partes (e não oponível
erga omnes), assim o terceiro não deve indenizar. Poder-se-ia falar em indenização do cônjuge que traiu em relação ao cônjuge
traído, mas não há responsabilidade civil do(a) amante em relação ao cônjuge traído.
O Estado só deve intervir quando necessário para garantir direitos fundamentais, mas nem sempre o Estado toma esse
cuidado. O art.1641 é exemplo de violação à intervenção mínima do Estado, ao impor o regime de separação obrigatória àquele
maior de 70 anos que for casar. Por outro lado, o art.1639 permite a mudança do regime de bens do casamento.
Exemplos de intervenção do Estado para assegurar direitos fundamentais: legitimação do MP para ação de alimentos e
de investigação de paternidade.
Já se aplica o direito de família mínimo no ECA: art.28, ECA, que diz que a criança/adolescente, com mais de 12 anos,
deve concordar com a sua colocação em família substituta (busca-se valorizar a vontade do adolescente); se tiver menos de 12
anos, deve ser ouvido e sua opinião dever ser levada em consideração; art.47, que trata da mudança de nome na adoção, sendo
possível alterar o prenome do adotado (se este tiver mais de 12 anos de idade, a alteração do seu prenome deve preceder de
sua autorização).

Incidência dos direitos e garantias fundamentais nas relações de família (eficácia horizontal dos direitos fundamentais - RE
201.819/RJ)

Nas relações privadas, o respeito aos direitos fundamentais é a regra. A relação familiar é a ais privada de todas; daí, a
relação familiar precisa respeitar direitos e garantias fundamentais.
A relação familiar está parametrizada pela autonomia privada, mas não é possível violar direitos e garantias
fundamentais; dai, o Estado deve intervir na relação familiar que não respeite direitos e garantias fundamentais. Ex: ADIn
4277/DF - união homoafetiva tem natureza familiar.

CC, Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. à interpretação conforme a
Constituição sem redução de texto à “a união estável entre homem e mulher” = união estável entre pessoas humanas.

Incidência dos princípios gerais do CC/02 (socialidade, eticidade e operabilidade) nas relações de família

As diretrizes do CC, naturalmente, alcançam as relações familiares.


Eticidade à boa-fé objetiva: ética mínima que se espera das partes em uma relação. Ex: STJ (REsp 555.771/SP) — a
simples separação de fato, independentemente de prazo, é suficiente para cessar o regime de bens da relação conjugal. Esse
entendimento é importante porque o art.1642, V, CC estabelece que o regime de bens no casamento se mantém até 5 longos
anos de separação de fato; malgrado este artigo diga isso, o STJ diz que a simples separação de fato, independentemente de
prazo, faz cessar o regime de bens. Este entendimento está baseado na boa-fé objetiva.
Exemplo de socialidade: função social da família (art.1513, CC).
Exemplo de operabilidade: Lei 12.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que impede que uma pessoa seja
enquadrada no conceito de incapaz, pelo simples fato de ter alguma deficiência. Por meio deste estatuto, a teoria das
incapacidades foi alterada.

Princípios constitucionais do Direito de Família (art.226, CF). A família na visão constitucional

Há um consenso entre os constitucionalistas, no mundo inteiro, de que há normas jurídicas de dois tipos: normas-
regras e normas-princípios. Os princípios são normas de conteúdo aberto e de soluções casuísticas, e com alto grau de
densidade. Enquanto que as normas-regras são de conteúdo fechado, de solução apriorística e de baixa densidade normativa.
Conflito entre princípios —> técnica de ponderação de interesses/de balanceamento/proporcionalidade.
Proporcionalidade é gênero, que pode ser usada como um princípio de interpretação de normas (quando será chamada
de razoabilidade) ou usada como técnica de solução de princípios (quando será chamada de ponderação de interesses).
Ponderação de interesses como técnica para solução de conflitos — ex: a antiga Súmula 301, STJ: Em ação
investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.
Outro exemplo de ponderação de interesses em direito de família: admissibilidade excepcional de prova ilícita no
direito de família.

@dicasexconcurseira 140
a. Princípio das entidades familiares. Caráter inclusivo do rol constitucional

CF, Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
Este dispositivo não se refere a um tipo de família específico. O artigo fala “A família”, seja qual for o seu tipo. Este
artigo, portanto, consagra a pluralidade das entidades familiares. Paulo Lobo diz que este art.226 é uma cláusula geral de
inclusão.
O art.226 da CF alude a 3 famílias: família matrimonializada (§§1º e 2º do art.226), família convivencial (§3º, art.226) e
familia monoparental (§4º, art.226).
Como vimos, estes 3 tipos de familia constituem um rol exemplificativo. Há outras entidades familiares:
Família anaparental: família composta por irmãos.
Família avuncular: tio + sobrinho.
Família avoenga: avô + neto.

ECA, Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação
jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
3 tipos de família:
Natural: pais + prole;
Ampliada: pais + prole + parentes;
Substituta: guarda, tutela ou adoção.

Já se fala até em i-phamily (família cibernética).

à A questão das uniões homoafetivas e os seus múltiplos efeitos jurídicos reconhecidos doutrinária e jurisprudencialmente:
bem de família, meação, habitação, pensão previdenciária, inelegibilidade eleitoral etc.
Não se questiona mais sobre os efeitos jurídicos das uniões homoafetivas. Discussão ultrapassada.
O STF, na ADIn 4277/DF, declarou a natureza familiar da união homoafetiva.
O STJ se posicionou, no REsp 1.183.378/RS, pela possibilidade de casamento homoafetivo; e, no REsp 827.962/RS, pela
aplicação da Lei Maria da Penha nas relações homoafetivas.

à O concubinato e a união estável putativa (boa-fé objetiva e subjetiva)


O concubinato tem natureza familiar? CC + STF + STJ: o concubinato NÃO é família.

CC, Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.

STJ: não produz, sequer, direito à indenização pelos serviços prestados.


Os conflitos concubinários devem ser resolvidos pela vara CÍVEL, pois não é entidade familiar.
Alguns tribunais (TJ/MG, TJ/RS) vem reconhecendo a natureza familiar do concubinato de boa-fé (a chamada união
estável putativa); neste caso, não haveria uma meação, mas sim “triação”.
O STJ admite a concomitancia de bens de familia para fins de proteção do bem de família - ex: pessoa que tem filho de
um casamento e que tem outro casamento. Ambos os apartamentos - onde mora o filho do primeiro casamento e o outro
imóvel onde mora com a esposa do segundo casamento - são protegidos pela lei de impenhorabilidade de bem de familia.

S.380, STF: Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha
do patrimônio adquirido pelo esforço comum. à essa ação corre em vara cível.

à Famílias reconstituídas/recompostas (ensambladas)/família mosaico


Merecem proteção do direito de família? Família reconstituída: uma pessoa que foi casada e que tem filhos e, depois,
casa de novo e tem outro filho. Haveria um vínculo entre essas duas famílias? Na psicologia, chama-se de família mosaico.
O CC estabelece que a família recomposta produziria um único nível de efeito jurídico (art.1525): o parentesco por
afinidade. Este, por sua vez, produz um único efeito: impedimento matrimonial.

Mas há efeitos admitidos por leis extravagantes e pela jurisprudência:


i. Lei 11.924/09 (Lei Clodovil): possibilidade de acréscimo de sobrenome de padrasto e madrasta pelo enteado/enteada.
Deve haver decisão judicial e autorização expressa do padrasto/madrasta, com oitiva do MP. Os pais biológicos não precisam
consentir, pois nome é direito de personalidade. Detalhe: não é necessário consentimento expresso dos pais biológicos, mas se
o enteado for menor de 18 anos, os pais estão no exercício do poder familiar e aí estes serão citados. O acréscimo do
sobrenome não produz efeitos previdenciário ou sucessório.

@dicasexconcurseira 141
ii. Lei 8.112/90, art.217 (Estatuto do Servidor Público Civil da União): permite efeitos previdenciários.

iii. STJ, REsp 26.265/MG: a retomada de imóvel alugado (Lei 8.245/90, Lei de Locações) para moradia de pessoa família.
Esta família abrange a família por afinidade.

b. Princípio da igualdade entre homem e mulher (art.53, CPC/15 e art.1736, CC)

CF, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

A regra da guarda compartilhada como generalidade na dissolução do casamento.

CC, Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:


I - mulheres casadas;

E os homens casados não? As responsabilidades materiais não seriam as mesmas do homem casado? A matéria deve
ser interpretada conforme à Constituição à entenda-se “homens casados também podem se escusar da tutela”.

CPC/15, Art. 53. É competente o foro:


I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;

S.383, STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do
detentor de sua guarda.

c. Princípio da igualdade entre os filhos

É dualista: igualdade patrimonial + igualdade existencial.

CC, Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem. — ex: parentesco por
socioafetividade.

d. Princípio da facilitação da dissolução do casamento

No CC/16, o casamento era indissolúvel. Este regime se manteve até a Lei 6.515/77, Lei do Divórcio, que admitiu a
indissolubilidade excepcional. Pare se divorciar, a pessoa tinha que ter pelo menos 5 anos de separação, e a pessoa só podia se
divorciar uma única vez. Isso se manteve até o art.226, §6º da CF, que resolveu facilitar o divórcio —> o prazo do divorcio caiu
de 5 para 1 ano de separação de fato e cessou a regra do divorcio único. O texto do art.226, §6º foi aprimorada pela EC 66/10:
§6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

Efeitos jurídicos decorrentes da EC 66/10

Eliminação dos prazos para divórcio;

Abolição da necessidade de indicação da causa do divórcio;

Afastamento da discussão sobre a culpa

Eliminação do instituto da separação (?) à Com o CPC/15, o STF afirmou que ainda existe o instituto da separação

A culpa pode ser discutida para fins indenizatórios, pois a regra geral é a responsabilidade subjetiva. E a culpa também
pode ser discutida para saber a natureza dos alimentos (art.1704, CC).

@dicasexconcurseira 142
O CPC/15, nos arts.693 (litígio) e 731 (consenso), expressamente fala em “separação”, alterando o histórico
entendimento de que a separação judicial tinha sido abolida pela EC 66/10. E aí? Voltou a existir a ação de separação? Pelo
CPC/15, sim. Devemos aguardar o posicionamento do STF.

Não se discute para dar direito ao divórcio

CULPA NO
É discutível para fins de indenização
DIVÓRCIO

É discutível para saber a natureza dos alimentos

e. Princípio da filiação responsável e planejamento familiar

A Lei 9.263/96 diz que a esterilização só pode ser feita por pessoa com mais de 25 anos, com dois ou mais filhos vivos e
com intervalo mínimo de 60 dias entre a manifestação de vontade e a intervenção cirúrgica.
Em se tratando de incapazes, só é possível a esterilização com autorização judicial, ouvido o MP.
Este princípio significa que os pais tem responsabilidade material e moral com seus filhos.
Esta responsabilidade não afasta a possibilidade do parto anônimo (arts.8º e 13, ECA): direito que a mulher tem de,
sem identificação, entregar seu filho à vara da infância para adoção.
Este princípio permite a responsabilidade civil por abandono afetivo, por si só? Depois de muitas controvérsias, o STJ
fixou o entendimento de que é possível o dano moral afetivo (violação do dever de cuidado), no REsp 1.159/242, 3ª Turma. Mas
a 4ª Turma não admite o dano moral afetivo, por inefabilidade jurídica do afeto - REsp 757.411/MG. Foram interpostos
embargos de divergência no primeiro REsp, e a segunda seção disse que é possível indenização por violação do dever de
cuidado, mas não é possível indenização por abandono afetivo. O STJ diz que afeto (sentimental) e cuidado (material) são coisas
distintas.

DE OLHO NA JURIS! Abandono afetivo e dano moral


O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui elemento suficiente para
caracterizar dano moral compensável? Há um dever jurídico de cuidar afetivamente?
* SIM. Nos julgamentos da 3º Turma prevalece o entendimento de que, em hipóteses excepcionais, de gravíssimo descaso em
relação ao filho, é cabível a indenização por abandono afetivo. Esta conclusão foi extraída da compreensão de que o
ordenamento jurídico prevê o "dever de cuidado", o qual compreeende a obrigação de convivência e "um núcleo mínimo de
cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições
para uma adequada formação psicológica e inserção social." STJ. 3ª Turma. REsp 1159242-SP, Relª Minª Nancy Andrighi, julgado
em 24/4/2012 (Info 496). STJ. 3ª Turma. REsp 1.557.978-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 03/11/2015.
* NÃO. Nas hipóteses julgadas pela 4ª Turma, entende-se que não cabe indenizar o abandono afetivo, por maior que tenha sido
o sofrimento do filho. O Direito de Família é regido por princípios próprios, que afastam a responsabilidade civil extracontratual
decorrente de ato ilícito. No plano material, a obrigação jurídica dos pais consiste na prestação de alimentos. No caso de
descumprimento dos deveres de sustento, guarda e educação dos filhos, a legislação prevê como punição a perda do poder
familiar, antigo pátrio-poder. STJ. 4ª Turma. REsp 1.579.021-RS, Relª Minª Isabel Gallotti, julgado em 19/10/2017.

Aula 07

CASAMENTO

O casamento em ótica civil-constitucional

Durante toda a vigência do CC/16, só existia família pelo casamento, entre pessoas de diferentes sexos, pois o
casamento tinha finalidade procriativa, para transmitir seu patrimônio. O casamento era indissolúvel. Esta feição do casamento
como entidade familiar única tinha a finalidade de segurança na transmissão patrimonial.
Essa situação perdurou até 1988. Com a CF/88, o art.226 terminou por consagrar o princípio da pluralidade das
entidades familiares: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

@dicasexconcurseira 143
Noções conceituais sobre o casamento

O casamento é uma entidade familiar formal e solene, exigindo registro, com efeito erga omnes. É o registro que
distingue o casamento das demais formas de constituição de família.
Casamento: entidade familiar formada entre pessoas humanas, com solenidades, para produzir efeitos erga omnes.
O CC/02 adotou um conceito mais objetivo de casamento:

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

STF e STJ reconhecem a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo, alterando o histórico entendimento
sobre a matéria (de que o casamento só era possível entre pessoas do mesmo sexo). O CNJ regulamentou a matéria,
estabelecendo, em normas dirigida aos notários do Brasil, que eles devem processar regularmente habilitações para casamento
homoafetivo.

Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família. à
função social da família. Este artigo é, a toda evidencia, dirigida ao Estado, que não deve interferir no casamento, salvo para
salvaguardar direitos fundamentais.

STJ: este art.1513 não se aplica ao amante, pois os deveres conjugais são devidos entre as partes, e não erga omnes.
Assim, não há responsabilidade civil por parte do amante em razão do adultério.

Natureza jurídica do casamento

Durante muitos anos, especialmente sob a égide do CC/16, o casamento era visto como uma instituição jurídica e
social. Prova disso era que o casamento era indissolúvel (dissolver o casamento seria dissolver a própria família).
Até 1977, com a Lei do Divórcio, vigeu esse regime. Com esta lei, o divórcio era possível excepcionalmente (uma única
vez + prazo de 5 anos de separação + direito ao divórcio), e o casamento passou a ter natureza mista (instituição + contrato).
Com a CF/88 (art.226, §6º), facilitou-se o divórcio e, com a EC 66/10, facilitou-se ainda mais o divórcio; o casamento
passou a ter natureza contratualista. O casamento é estabelecido pela vontade das partes e seu desfazimento também se dá
pela vontade das partes.
A Lei 11.441/07 permite o divórcio em cartório, quando não houver interesses de incapazes e houver consenso.

Prova do casamento

O casamento emancipa, altera o status civil e produz efeitos sociais e patrimoniais. Neste sentido, é importante a prova
do casamento.
Prova direta: por se tratar de um ato formal e solene, celebrado em cartório, é natural que sua prova seja forma e
solene.
Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se (PROVA DIRETA) pela certidão do registro.

Por diversos motivos, é possível que o registro do casamento seja extraviado. Nesse caso, o CC diz que é possível a
prova indireta/supletória. Esta prova deve ser feita em juízo, em ação de justificação de casamento, na vara da família, em
procedimento de jurisdição voluntária. Um dos meios de prova permitidos: posse do estado de casado.

Art.1543, Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de prova (PROVA
INDIRETA).

Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar vontade, ou tenham falecido,
não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão do Registro Civil que prove que já era casada
alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado.

Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento se
impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados. à in dubio pro casamento.

Essas regras de prova do casamento se aplicam à união estável? Não, pois a prova indireta do casamento tem como
finalidade demonstrar que o casamento existiu e, assim permitir a produção dos efeitos do casamento. A sentença que julga
procedente a ação de justificação do casamento produz efeitos retroativos. O que se permite é a conversão da união estável em
casamento, em procedimento dirigido ao juiz.
@dicasexconcurseira 144
Casamento celebrado no estrangeiro.

Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros,
deverá ser registrado em 180 dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo
domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir.

Isso é condição de validade do casamento celebrado no estrangeiro? Alguns autores entendem que sim. A norma do
art.1544 CC não é de validade nem de eficácia, mas sim probatória. O registro, mencionado no art.1544, é questão probatório
(STJ, REsp 280.197/RJ). O art.7º, LINDB (Estatuto Pessoal): direito de familia, nome, capacidade e personalidade ficam
submetidos à lei do domicílio. Se a pessoa estiver domiciliada no estrangeiro e se casar no estrangeiro, esse casamento é válido
e eficaz. Mas, para fazer prova deste casamento no Brasil, deve ser feito o registro no cartório brasileiro. Para que provar esse
casamento aqui no Brasil? Para se divorciar, por exemplo. O art.18, LINDB, permite que os brasileiros possam praticar atos de
casamento e de separação e divorcio, sem interesse de menor, perante autoridades brasileiras.

Esponsais ou promessas de casamento

É a assunção de obrigações para o casamento (ex: aquisição de imóvel, distribuição de convites); não é apenas uma
declaração de vontade de casar no futuro.
Os esponsais não constituem instituto de direito de família; os noivos não se submetem a nenhuma regra do direito de
família. Não incide deveres conjugais entre os noivos, nem relação de parentesco.
Os esponsais (promessa de casamento) podem gerar obrigações morais e sociais. A ruptura indevida dos esponsais
pode gerar responsabilidade em decorrência de eventuais prejuízos (morais ou patrimoniais) sofridas.
Não se admite a incidência da teoria da perda de uma chance, porque esta teoria é a subtração de uma oportunidade
de vantagem futura. Casamento não é uma vantagem futura.
O noivado, por si só, não caracteriza união estável, pois não necessariamente as pessoas já estão vivendo como se
casadas fossem. O noivado pode ser, quando muito, um “namoro qualificado”: por mais sério que seja o noivado, as pessoas
querem casar no futuro, mas não querem viver como se casadas já estivessem. Querer casar e estar vivendo como se casados
fossem são coisas bem distintas.

O direito brasileiro não reconhece efeito jurídico aos esponsais, ainda que estabelecido o noivado com um certo grau de
estabilidade. No noivado não comparecem os pressupostos da união estável, que se caracteriza pela convivência diária,
prolongada, com dedicação recíproca e colaboração de ambos os companheiros no sustento do lar. - TJ/DF,

Modalidades de casamento

Existem diferentes sistemas matrimoniais:


i. Casamento civil e religioso com o mesmo valor (ex: EUA; filme - “se beber não case")

ii. Casamento religioso, apenas. Ex: países orientais.

iii. Casamento religioso, para a religião oficial; e as demais religiões ficam submetidas ao casamento civil. Ex: Espanha.

iv. Casamento civil, apenas. Só se admite casamento civil. O casamento somente na igreja (casamento eclesiástico) não
produz efeitos civis. Ex: quase todos os países da América do Sul + Europa ocidental + Brasil.

Art.1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração.


Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas,
para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei.

O casamento é exclusivamente civil; mas a cerimônia de casamento pode ser civil ou religiosa. O casamento na Igreja é
precedido de uma habilitação junto ao cartório. A jurisprudência diz que esta celebração religiosa pode se dar em qualquer
igreja.
A cerimônia civil, sempre gratuita, é celebrada pelo juiz (de direito ou de paz).
“Pobre na forma da lei” à CPC/15, arts.98 e 99: basta declarar a pobreza, independentemente de comprovação. OBS:
prova de pobreza é prova negativa absoluta. Prova negativa absoluta não admite prova (pois é prova diabólica).

É possível casamento religioso com efeitos civis posteriores. A pessoa casa com cerimônia religiosa e, depois, no prazo
de 90 dias, deve registrar a ata do casamento religioso no cartório.
@dicasexconcurseira 145
Se passados os 90 dias (prazo decadencial) sem posterior registro ou se o casamento religioso for celebrado sem prévia
habilitação (casamento eclesiástico), os arts.1515 e 1516 garantem o casamento religioso com eficácia civil posterior. A pessoa
prova a existência do casamento eclesiástico e requerem ao juiz a dispensa de nova cerimonia. É possível requerer ao juiz
eficácia civil posterior retroativa à data da celebração do casamento eclesiástico. Para que o juiz defira esses efeitos civis
posteriores retroativamente, deve-se provar a inexistência de impedimento matrimonial.

Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde
que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração.

Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil.
§1º O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de 90 dias de sua realização, mediante comunicação do
celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a
habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação.
§2º O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal,
for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o
prazo do art. 1.532.
§3º Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver contraído com outrem
casamento civil.

Casamento consular: é o casamento de co-nacionais (pessoas da mesma nacionalidade) celebrado perante a


autoridade consular do respectivo país. Ex: dois brasileiros apresentam documentos, de acordo com a lei do Brasil, perante o
cônsul do Brasil, na Alemanha. É como se fosse um casamento celebrado no Brasil. A certidão desse casamento deverá ser
registrada no Brasil, no prazo de 180 dias, da data que os noivos voltarem para o Brasil.

Impedimentos matrimoniais

Remanescem a priscas eras, da mitologia grega. Questões de ordem eugênica, social e moral. Os impedimentos
matrimoniais são de ordem pública, podendo ser alegados a qualquer tempo e por qualquer pessoa. Qual é o momento que se
pode alegar o impedimento e qual é o efeito dele decorrente? Até o momento da celebração do casamento, por qualquer
pessoa, suspendendo-se a habilitação para o casamento ou a suspensão da cerimônia.
Apesar de ser matéria de ordem publica, se determinado impedimento matrimonial for violado, qual é a consequência
jurídica?

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: II - por infringência de impedimento. à única hipótese de nulidade do casamento.

Se um dos cônjuges estiver de boa-fé, o casamento poderá produzir efeitos (casamento putativo: emprestar efeitos ao
casamento nulo ou anulável, quando um ou ambos os cônjuges estiverem de boa-fé).

Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz.
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a
declará-lo.

O art.1723, §1º determina a incidência dos impedimentos matrimoniais na união estável = só será tratado como
união estável aquilo que pode ser casamento. Exceção: o separado judicialmente ou separado de fato independentemente de
qualquer prazo, embora impedimento matrimonial ainda exista, já pode estar em união estável. Cessada a base afetiva da união
familiar, supera-se o impedimento.

Art.1723, §1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do
inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

A interpretação dos impedimentos matrimoniais previstos no art.1521 é restritiva, e não se admite impedimento por
analogia.
Enteados podem casar.
Declarada a sucessão definitiva do ausente, anula-se o casamento.

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
@dicasexconcurseira 146
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

Podem ser resumidos em 4 grupos:


1 - Os ascendentes com os descendentes, qualquer que seja o tipo de parentesco, mesmo depois que cessado o
casamento que gerou o impedimento; ex: woody allen casou com ex enteada. No Brasil, esse casamento seria nulo.
2 - Os colaterais, até o 3º grau (tio-sobrinho), qualquer que seja o tipo de parentesco - excetuado exame pré-nupcial de
compatibilidade sanguínea. Primos podem casar.

3 - As pessoas já casadas (proibição de bigamia).

4 - O cônjuge sobrevivente não pode casar com quem foi condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o
falecido cônjuge.

Causas suspensivas

Não afetam a validade, nem a eficácia de um casamento.


O casamento celebrado violando uma causa suspensiva não é nulo, nem anulável; é válido e eficaz.
Para que servem as causas suspensivas? O interesse do sistema jurídico é a proteção patrimonial de terceiros.
O efeito que decorre do descumprimento de causa suspensiva é a imposição do regime da separação obrigatória de
bens.
As causas suspensivas são de interesse particular.

Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser argüidas pelos parentes em linha reta de um dos
nubentes, sejam consangüíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau (irmãos), sejam também consangüíneos ou afins
(cunhados).

As causas suspensivas NÃO incidem na união estável (art.1723, §2º): §2º As causas suspensivas do art. 1.523 não
impedirão a caracterização da união estável.

IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS à INCIDEM NA UNIÃO ESTÁVEL;


CAUSAS SUSPENSIVAS PARA CASAR à NÃO INCIDEM NA UNIÃO ESTÁVEL.

Art. 1.523. Não devem casar (MAS PODEM SE CASAR):


I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos
herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou
da dissolução da sociedade conjugal; à turbatio sanguinis: o filho será presumido do ex-marido.
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; - Súmula 197, STJ: o divórcio
direto pode ser concedido sem que haja prévia partilha dos bens.
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou
curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos
incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para
a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez,
na fluência do prazo.

Art.1639, §2º É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os
cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.

@dicasexconcurseira 147
Aula 08

Habilitação para o casamento

A habilitação para o casamento é procedimento administrativo, com a presença do MP (curiosamente) e, se preciso,


deliberado pelo juiz. Por ser procedimento administrativo, tramita perante o cartório do domicílio dos noivos. E se os noivos
tiverem domicílios distintos? O art.67 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73) diz que o procedimento poderá tramitar em
qualquer dos dois domicílios; mas os editais de proclamas serão publicados em ambos os domicílios.
Sua finalidade é a verificação da existência ou não de impedimentos matrimoniais. Se não houver impedimento, os
noivos estarão habilitados para casar.
O procedimento se inicia a requerimento dos interessados e se concluirá com a expedição de certidão, indicando que
os noivos podem casar.
Caminho para a habilitação ao casamento: art.1525, CC.

Procedimento administrativo de habilitação para o casamento (art.1525, CC)

Requerimento formulado pelos noivos, pessoalmente ou por procurador, com a apresentação os documentos
exigidos (art.1525, CC). Esta procuração se dá por escritura pública e com poderes especiais. Prazo máximo de
validade dessa procuração é de 90 dias.

Publicação dos proclamas na Imprensa Oficial, onde houver, e no cartório, e audição do MP (eventual deliberação
judicial, quando houver impugnação). Os proclamas serão publicadas pelo prazo de 15 dias. OBS: Art. 1.527. Estando
em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante 15 dias nas circunscrições do Registro
Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver.
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação.
Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do Ministério
Público.
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação será submetida
ao juiz.
O juiz só atua se houver impugnação pelo MP ou terceiro interessado.

Registro e expedição de certidão de habilitação para casamento (validade de 90 dias, sob pena de caducidade).
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o certificado.
Durante o prazo de 90 dias, os noivos podem contactar a autoridade competente para, efetivamente, celebrar o
casamento. Ultrapassado os 90 dias, os noivos só poderão casar se habilitando novamente.

Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu
pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos:
I - certidão de nascimento ou documento equivalente; - para que se comprove a idade núbil (16 anos de idade). Exceção:
art.1520, CC à é possível ao juiz autorizar o casamento do menor de 16 anos nos casos de gravidez e para evitar sanção penal.
Comentários: no caso de gravidez, é justificável. Mas, no caso do “evitar sanção penal”, houve modificação no art.107 do CP,
não mais constando no rol de extinção de punibilidade o casamento da vítima com o agressor. OBS: o mecanismo processual,
para tanto, é procedimento de jurisdição voluntária chamado de “suprimento de idade”.

II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; — se o menor tem
entre 16 e 18 anos de idade, é necessário o consentimento dos pais. OBS: Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os
pais ou tutores revogar a autorização.
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz. — em ação de jurisdição voluntária
chamada de “suprimento de consentimento”.

III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento
que os iniba de casar;
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos;

@dicasexconcurseira 148
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em
julgado, ou do registro da sentença de divórcio.

É durante a habilitação para o casamento que os noivos deverão dizer se querem ou não acrescer o sobrenome do
outro. Tal acréscimo é facultativo: Art.1565, §1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do
outro. Lembrando que o STJ permite a supressão de sobrenome, para que as pessoas não fiquem com o nome muito grande.
Assim, é possível suprimir um sobrenome para acrescer o sobrenome do outro. Afinal, o nome é direito da personalidade. Se
sobrevir posterior divórcio, a manutenção ou não o sobrenome de casado dependerá apenas da vontade de quem alterou,
sendo irrelevante a vontade da parte contrária.

Celebração do casamento

É formal, solene.
De posse da certidão de habilitação para o casamento, os noivos tem 90 dias para casar. A autoridade que irá celebrar o
casamento pode ser civil ou religiosa. Se a cerimônia for civil, ela será gratuita. Se a cerimonia é religiosa, o oficial do cartório
não comparecerá e, por isso, os noivos deverão registrar a ata da celebração da cerimonia religiosa dentro de 90 dias, no
cartório.
Pode casar em qualquer data, podendo ser em feriado. Pode ser em qualquer horário, desde que a autoridade se
predisponha a celebrar. E também pode ser em qualquer local (prédio publico ou particular). Se for em prédio particular, ele
terá que estar de portas abertas, para dar publicidade ao ato:

CC, Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos
duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as partes e consentindo a autoridade celebrante, noutro
edifício público ou particular.

Se o casamento for celebrado em prédio particular ou se um dos noivos for analfabeto, o número de testemunhas é
dobrado: de 2 para 4 testemunhas. Essas testemunhas podem ser parentes dos noivos.
Quantas pessoas são necessárias para dar inicio à cerimônia do casamento? 6.

Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do
registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade,
declarará efetuado o casamento, nestes termos: "De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos
receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados.”

Se por procurador, cada noivo deve ter o seu procurador, sob pena de se configurar autocontrato (art.107, CC).
Se o casamento for com cerimônia religiosa, o oficial não estará presente e o numero de instalação cai para 5.

Instalação da cerimonia (presença mínima de 6 pessoas), dentro do prazo de 90 dias da expedição da certidão de
habilitação à declaração de vontade (expressão afirmativa, sem gracejo, dúvida ou hesitação) à leitura da fórmula
sacramental: momento existencial do casamento (art.1535 e 1.514).

Art. 1.514. O casamento se realiza (existe) no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade
de estabelecer vínculo conjugal, E o juiz os declara casados.

Superação da proibição de utilizar a ata da cerimonia do casamento para reconhecer filho, por revogação tácita, na
opinião de Cristiano Chaves. Mas o artigo que proíbe esse reconhecimento não foi revogado.

Possibilidade de relativizar as formalidades para celebrar o casamento:

i. Casamento por moléstia grave. Aqui, os noivos já haviam se habilitado.

Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido,
sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever.
§1º A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos
legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato.
§2º O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas
testemunhas, ficando arquivado.

@dicasexconcurseira 149
ii. Casamento nuncupativo (iminente risco de morte/in extremis vitae). Aqui, os noivos não haviam se habilitado.

Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual
incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de 6 testemunhas, que com os
nubentes NÃO tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau.

Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em 10
dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de: à este prazo é impróprio/de preclusão fraca = após os 10 dias, ainda
será possível a homologação do casamento ao juiz. Dentre os interessados, estão os próprios noivos, se sobreviverem. Este
casamento se dará sob regime da separação obrigatória, pois necessitou de homologação judicial.
I - que foram convocadas por parte do enfermo;
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e mulher.
§1º Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes
podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, dentro em quinze dias.
§2º Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário
às partes.
§3º Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la
no livro do Registro dos Casamentos.
§4º O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração.
§5º Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento na
presença da autoridade competente e do oficial do registro.

Planos jurídicos do casamento

De acordo com a escada ponteana, os planos jurídicos são: existência, validade e eficácia.
O casamento não admite controle de eficácia. Portanto, no casamento não se admite condição, termo ou encargo.
No plano da existência do casamento, exige-se a declaração de vontade + celebração do casamento (cerimônia, civil ou
religiosa).
STJ, REsp 1.183.378/RS —> admissibilidade do casamento homoafetivo.
Quanto ao plano da validade, o CC optou por uma compreensão negativa, indicando as hipóteses de invalidade do
casamento.
Art.1548 à hipóteses de casamento nulo.
Art.1550 à hipóteses de casamento anulável.

Casamento nulo Casamento anulável

Fundamenta-se em razoes de ordem pública Fundamenta-se em razões de ordem privada

Pode ser declarada pelo juiz, a requerimento do MP, ou Somente poderá ser invocada por aquele a quem
de qualquer interessado (em ação própria - art.1549 - aproveite, não podendo ser reconhecida de ofício.
impossibilidade de conhecimento de ofício pelo juiz).
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos
motivos previstos no artigo antecedente, pode ser
promovida mediante ação direta, por qualquer
interessado, ou pelo Ministério Público.

Não é suscetível de confirmação. É suscetível de confirmação ou redução.

Não convalesce pelo passar do tempo Submete-se a prazos decadenciais

Não produz efeitos Produz efeitos, enquanto não for anulado

Reconhecido através de ação meramente declaratória Reconhecido através de ação desconstitutiva, sujeita a
prazo decadencial

Admite conversão substancial Admite sanação pelas próprias partes


@dicasexconcurseira 150
Hipóteses de nulidade do casamento (art.1548) Hipóteses de anulabilidade do casamento (art.1550)

Impedimentos matrimoniais (art.1521, CC) Defeito de idade núbil (falta de idade núbil) - exceção:
Art. 1.551. Não se anulará, por motivo de idade, o
casamento de que resultou gravidez.

Incapacidade do agente, por causa psicológica -> Falta de consentimento dos responsáveis (quando os
revogado pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência noivos tiverem enrte 16 e 18 anos)

Erro essencial* ou coação (vício de consentimento)

Incapacidade relativa por causa psicológica

Revogação do mandato

Incompetência da autoridade celebrante

Hipóteses caracterizadoras do erro* sobre a pessoa do cônjuge, tornando o casamento anulável (art.1557, CC)

Erro sobre a identidade do cônjuge

Ignorância de crime infamante anterior ao casamento, tornando insuportável a vida conjugal

Ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave e transmissível, anteriores ao casamento —> com o
Estatuto da Pessoa com Deficiência, esse defeito físico irremediável não pode caracterizar deficiência

Ignorância de doença mental grave que torne o casamento insuportável existente antes do casamento -> revogado
pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência

CC, Art.1550, §2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua
vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.

Hipóteses de Anulação do Casamento Prazo decadencial (art.1560, CC)

Defeito de idade (inc.I) 180 dias

Falta de consentimento (inc.II) 180 dias

Erro essencial (inc.III) 3 anos

Coação (inc.III) 4 anos

Incapacidade relativa por causa psíquica (inc.IV) 180 dias

Revogação de mandato (inc.V) 180 dias

Incompetência da autoridade celebrante (inc.VI) 2 anos

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:


I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
II - por infringência de impedimento.

Art. 1.550. É anulável o casamento:


I - de quem não completou a idade mínima para casar;
@dicasexconcurseira 151
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts.1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, E não sobrevindo
coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:


I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e
transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
IV - (Revogado).

O juiz reconhece efeitos a um casamento nulo ou anulável, inclusive de ofício

Casamento putativo
É casamento existente, inválido, porém eficaz

O juiz pode conhecer da putatividade de oficio. Para fins de putatividade, admite-se tanto o erro de fato quanto o erro
de direito (arrefecendo o art.3º LINDB).
O juiz reconhece efeitos civis a um casamento nulo ou anulável. O casamento será existente, inválido, porém eficaz. O
juiz indicará, nos casos concretos, quais os efeitos foram produzidos.

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes
como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.
§2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

Efeitos jurídicos do casamento

Podem ser pessoais (efeitos em relação às pessoas dos cônjuges), sociais e patrimonial (regime de bens do casamento)

Efeitos pessoais do casamento

Estabelecimento de uma comunhão de vida: Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base
na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

Fixação do domicílio conjugal: Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro
podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a
interesses particulares relevantes à pode haver pluralidade de domicílios, se cada um tiver domicílio em locais
diferentes.

Contribuição proporcional para a manutenção do lar conjugal, independentemente do regime de bens: Art. 1.568.
Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento
da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial.

Possibilidade de acréscimo de sobrenome (facultatividade). STJ: possibilidade de retificação do registro dos filhos,
na hipótese de mudança do sobrenome da mãe, quando do divórcio.

Imposição de deveres recíprocos (fidelidade, coabitação, assistência recíproca, guarda, sustento e educação da
prole, respeito e consideração)

Exercício conjunto da direção da sociedade conjugal (em caso de divergência, deliberação judicial)

@dicasexconcurseira 152
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
Incidem apenas no casamento
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos; Incidem no casamento e na união estável
V - respeito e consideração mútuos.

Efeitos sociais do casamento

Constituição de uma entidade familiar

Emancipação do cônjuge incapaz (sem retorno ao status quo ante, no caso de dissolução do casamento)

Presunção de paternidade dos filhos nascidos na constância do casamento (presunção pater is est): art.1597, CC.
Esta presunção também se aplica à união estável (STJ)*.

Mudança do estado civil

Estabelecimento do parentesco por afinidade entre cada cônjuge e os parentes do outro: art.1595, CC. Este é o
único efeito que também se estende à união estável, de acordo com o CC.

* DE OLHO NA JURIS! Presunção de paternidade aplica-se à união estável


A presunção de concepção dos filhos na constância do casamento prevista no art. 1.597, II, do CC se estende à união estável.
STJ. 3ª Turma. REsp 1194059-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 6/11/2012.

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:


I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e
anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.
§1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
§2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

Aula 09

UNIÃO ESTÁVEL

Perspectiva histórica: da família-casamentária (CC/16) para a família plural. A evolução do concubinato de união ilegal e
ilegítima para a caracterização como entidade familiar. Proibição do concubinato no CC/16.

No CC/16, só existia família pelo casamento, chamada de “família legítima”. Fora do casamento, as relações eram
chamadas de “concubinato”, que significa, etimologicamente comunhão de leitos (união entre homem e mulher, sem
casamento). O concubinato era ilegal, ilícito, proibido pelo CC/16.
A doutrina dividiu o concubinato em: puro ou impuro. O concubinato puro era formado por pessoas que podiam, mas
não queriam casar; o concubinato impuro era formado por pessoas que não podiam casar.
A jurisprudência, observando que muitas pessoas viviam em concubinato, começou a dar efeitos jurídicos ao
concubinato. Tais efeitos estavam foram do direito de família, afinal só existia família pelo casamento; estavam no direito
obrigacional. A competência para julgar conflitos concubinários era da vara cível. O fundamento para emprestar efeitos ao
concubinato era a proibição de enriquecimento sem causa.

@dicasexconcurseira 153
Súmula 380, STF: Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a
partilha do patrimônio adquirido pelo esfôrço comum. à Aquilo que teve colaboração de ambas as partes gerará a partilha do
patrimônio adquirido pelo esforço comum. O esforço comum deveria ser provado pelo interessado.

Concubinato à é sociedade de fato à direito à partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum, sob pena de
enriquecimento ilícito.

Súmula 382, STF: A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do concubinato. à
Permitiu a caracterização do concubinato independentemente de as partes morar sob o mesto teto.

Na década de 70, foram editados dois diplomas legais conferindo efeitos ao concubinato: a Lei de Registros Públicos,
que estabeleceu a possibilidade de aquisição de sobrenome pela concubina pura; e a Lei de Previdência Social (já revogada), que
previa beneficio previdenciário para a concubina pura.

Com a CF/88, em seu art.226, §3º, o concubinato teve sua natureza jurídica alterada: o concubinato puro passou a
ser chamado de união estável (curiosidade: a expressão “união estável” era usada no texto do antigo testamento como
sinônimo de casamento), e o concubinato impuro passou a ser chamado simplesmente de “concubinato”. A união estável foi
tratada pelo constituinte como entidade familiar, enquanto que o concubinato continua como mera sociedade de fato. O único
efeito advindo do concubinato é a partilha dos bens adquiridos pelo esforço comum, desde que este seja provado, em ação de
competência da vara cível.
CF, Art.226, §3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Concubinato PURO = UNIÃO ESTÁVEL à entidade familiar


CF/88
Concubinato IMPURO = CONCUBINATO à sociedade de fato

União estável, concubinato e união livre. O concubinato enquanto sociedade de fato (art.1727) e a união estável putativa

A união estável é entidade familiar: Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no
caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. à Se há impedimento matrimonial, não se caracteriza
união estável, mas, sim, concubinato!
§2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.

Concubinato é sociedade de fato, formada por pessoas que não podem casar. Exceção: parte final do §1º do art.1723
à se uma pessoa, embora ainda casada, esteja separada de fato ou judicialmente, independentemente de prazo, já pode estar
em união estável. Isso porque, se houve separação de fato ou judicial, cessou a base afetiva do casamento.

União livre é o namoro, noivado; é relação puramente obrigacional.


STJ —> a lei maria da penha incide mesmo que a relação seja de namoro ou noivado.

Poliamorismo/poliafetismo: categoria nova, de difícil enquadramento; é uma relação caracterizada entre 3 ou mais
pessoas, independentemente do sexo, e que se correlacionam.

O CC aplicou a teoria do desestímulo ao concubinato - vedações ao concubinato:

i. Proibição de doação para a concubina, sob pena de anulabilidade.


CC, Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge (INCLUSIVE DURANTE A
SOCIEDADE CONJUGAL), ou por seus herdeiros necessários (NO CASO DE A DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE SE DAR PELA MORTE DO
CÔNJUGE TRAÍDO), até 2 anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.

Exceção: a doação feita para a concubina é anulável; mas se o doador já estiver separado de fato, não há concubinato e
a doação é válida; a doação não é mais para a “concubina”, mas sim para a “companheira" (STJ, REsp 408.296/RJ)”.
@dicasexconcurseira 154
ii. Proibição de seguro de vida para a concubina, sob pena de nulidade.

CC, Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado
judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.

iii. Proibição de herança ou legado para a concubina, sob pena de nulidade.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de 5 anos;
Interpretação conjunta do art.1801, I, com o art.1723, §1º: independentemente do prazo de separação de fato, será
válida a disposição de patrimônio (não precisa respeitar esse prazo de 5 anos).

iv. Concubinato não gera benefício previdenciário (STF, RE 397.762/BA). O STF não admite que esposa e concubina
dividam o benefício previdenciário. Esta decisão do STF não tem efeito vinculante, porque foi decisão em recurso extraordinário.
Por isso, muitos juízes dizem que o beneficio previdenciário tem que ser rateado entre esposa e concubina, sob o argumento de
que o beneficio previdenciário tem natureza assistencial, e não familiar.

Concubinato gera indenização? Essa indenização é antiga e era fixada em prestações periódicas. O STJ decidiu
recentemente que não há mais esta indenização por serviços domésticos e sexuais prestados. Do concubinato só pode decorrer
um efeito: a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum (que deve ser provado).

Muitos autores defendem a caracterização de efeitos familiares e sucessórios ao concubinato na chamada união
estável putativa/concubinato de boa-fé. Maria Berenice Dias: o concubinato de boa-fé caracterizaria uma união estável putativa
à quando o concubino/concubina não conhece o impedimento matrimonial. OBS: O STJ não admite a união estável putativa,
em posição refratária.

Requisitos caracterizadores da união estável

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Requisitos caracterizadores da união estável (art.226, §3º, CF e art.1723, CC)

Estabilidade da relação convivencial

Publicidade da relação convivencial

Inexistência de impedimento matrimonial (exceção: separação de fato). Lembrando: Estatuto da Pessoa com
Deficiência e nulidade do casamento somente no caso de impedimento matrimonial

A questão da dualidade de sexos e a interpretação conforme a CF emprestada pelo STF (ADIn 4277/DF)

Inexigiblidade de lapso temporal mínimo ou decorrência de prole

Intuito de constituir família (animus familiae)

STJ: incidência da monogamia na união estável, por conta da incidência dos impedimentos.

As causas suspensivas do casamento não incidem na união estável. Qual é o efeito prático disso? Não haverá a
imposição do regime de separação obrigatória de bens. Este regime incide no casamento em razão do art.1641, que estabelece
a obrigatoriedade deste regime ao maior de 70 anos de idade, por violação das causas suspensivas e quando for necessária
autorização judicial para o casamento. Portanto, em princípio, o regime de separação obrigatória de bens somente se aplica ao
casamento. Porém, o STJ vem tratando o assunto de forma diferente: incide o regime de separação obrigatória de bens na união
estável, se esta união se iniciou após os 70 anos de idade.

@dicasexconcurseira 155
DE OLHO NA JURIS! Regime da separação obrigatória de bens para idosos não se aplica se o casamento foi precedido de união
estável iniciada antes da idade-limite
A proteção matrimonial conferida ao noivo, nos termos do art. 258, parágrafo único, II, do Código Civil de 1916, não se revela
necessária quando o enlace for precedido de longo relacionamento em união estável, que se iniciou quando os cônjuges não
tinham restrição legal à escolha do regime de bens. STJ. 4ª Turma. REsp 1318281-PE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
1/12/2016 (Info 595).

STF: a união estável pode ser homo ou heteroafetiva.


STJ: possibilidade de conversão de união estável homoafetiva em casamento homoafetivo. Possibilidade de adoção
pelo par homoafetivo.
O contrato de namoro obsta a caracterização de união estável? Não.

Efeitos pessoais da união estável (art.1724, CC). Efeitos entre os companheiros: basicamente os mesmos efeitos pessoais de
um casamento.

Deveres conjugais: lealdade e respeito; mútua assistência e guarda, sustento e educação da prole

Possibilidade de acréscimo de sobrenome do outro

Parentesco por afinidade (art.1595)

Inalterabilidade do estado civil e não emancipação

Possibilidade de exercício de curadoria (ausência ou interdição)

A questão da presunção de paternidade (pater is est). O art.1597, CC. Segundo o STJ, essa presunção também incide
na união estável.

Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda,
sustento e educação dos filhos. à efeitos pessoais da UNIÃO ESTÁVEL.

OBS: fidelidade e coabitação só são exigidos no casamento, e não na união estável. Embora a união estável não exija
“fidelidade”, ela exige lealdade, que é gênero, do qual a “fidelidade” é espécie.

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.
§1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
§2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

O art.1597 fala de presunção de paternidade apenas em relação ao casamento. Esta presunção, em regra, não se aplica
à união estável. Mas, o STJ - REsp 23/PR e REsp 1.194.059/SP - mandou aplicar na união estável a presunção de paternidade.

Efeitos patrimoniais da união estável

Efeitos patrimoniais da união estável

Direito à meação (regime de bens da comunhão parcial, salvo disposição contrária - art.1725, CC

Direito à herança (art.1790, CC) à O direito à herança, na união estável, deve obedecer o regramento do art.1829
do CC, pois o STF igualou o regime sucessório do companheiro ao do cônjuge*.

Direito ao benefício previdenciário, nos mesmos moldes do casamento

Direito aos alimentos (art.1694, CC), nos mesmos moldes do casamento

Direito real de habitação, em caso de óbito do companheiro (Lei 9.278/96, art.7º)

Possibilidade de exercício da inventariança (art.616, NCPC) e legitimidade para os embargos de terceiro (art.674,
NCPC)

@dicasexconcurseira 156
* DE OLHO NA JURIS! Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão
causa mortis do cônjuge
O STF fixou a seguinte tese: No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do Código Civil. STF.
Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). O STJ acompanhou o entendimento do Supremo e também
decidiu de forma similar: É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser
aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002. STJ. 3ª Turma. REsp 1332773-MS, Rel. Min.
Ricardo Villas BôasCueva, julgado em 27/6/2017 (Info 609).

CC, Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber,
o regime da comunhão parcial de bens.

Este “contrato escrito” é o contrato de convivência/de união estável, celebrado por instrumento público ou particular,
sem precisar registrar no cartório de imóveis; enquanto que o pacto antenupcial do casamento tem que ser por escritura
pública, sob pena de nulidade, registrada no cartório de imóveis do domicílios dos noivos, sob pena de ineficácia em relação a
terceiros).

DE OLHO NA JURIS! Contrato de convivência não exige escritura pública


É válido, desde que escrito, o pacto de convivência formulado pelo casal no qual se opta pela adoção da regulação patrimonial
da futura relação como símil (igual) ao regime de comunhão universal, ainda que não tenha sido feito por meio de escritura
pública. Em outras palavras, um casal que vive (ou viverá) em união estável pode celebrar contrato de convivência dizendo que
aquela relação será regida por um regime de bens igual ao regime da comunhão universal. Esse contrato, para ser válido, precisa
ser feito por escrito, mas não é necessário que seja realizado por escritura pública. STJ. 3ª Turma. REsp 1459597-SC, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 1/12/2016 (Info 595).

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.
O direito à herança na união estável segue as mesmas regras do casamento? Não. O art.1790 diz que o direito à
herança incidirá sobre os bens adquiridos onerosamente na constância da relação união estável. Curiosamente, sobre esses
bens já incide a meação, devido ao art.1725, CC. Assim, sobre os bens adquiridos onerosamente na constância da união estável,
o companheiro tem direito à meação e à herança. E sobre os bens adquiridos anteriores à união estável ou adquiridos na
constância da união mas a título gratuito? Não terá direito a nada. No casamento, o direito meatório é sobre os bens adquiridos
onerosamente na constância do casamento; e o direito sucessório se dá sobre os bens particulares (sobre os bens que o cônjuge
já tinha antes ou que recebeu na constância do casamento à título gratuito). No casamento, portanto, onde incide meação (bens
comuns) não incide herança (bens particulares). Onde se herda, não se meia. Na união estável, onde há herança também há
meação. Sob o ponto de vista prático, há uma disparidade de tratamento. Caindo no concurso, vá de acordo com o CC.
O STF vai julgar uma demanda em que se discute a constitucionalidade do sistema sucessório da união estável.

Esta parte riscada está desatualizada, tendo em vista o julgamento, pelo STF, igualando o regime sucessório do
companheiro ao do cônjuge + a consideração da inconstitucionalidade do art.1725!

CC, Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver
de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Os alimentos estão submetidos a um trinômio:


i. Necessidade do credor;
ii. Capacidade contributiva do devedor;
iii. Proporcionalidade.

Estes alimentos decorrentes do fim do relacionamento são transitórios, em regra.

@dicasexconcurseira 157
Seção II
Da Legitimidade para Requerer o Inventário
Art. 616. Têm, contudo, legitimidade concorrente:
I - o cônjuge ou companheiro supérstite;

CAPÍTULO VII
DOS EMBARGOS DE TERCEIRO
Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os
quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos
de terceiro.
§2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843;

O CC cuidou do direito real de habitação apenas ao casamento (art.1831). Este direito real de habitação é vitalício e
incondicional (mesmo que o viúvo ou viúva constitua uma nova família, a pessoa terá direito de continuar lá morando).
Entendeu-se que o art.7º da Lei 9.278/96 previa o direito real de habitação à união estavel. O problema é que este
artigo diz que o direito real de habitação na união estável seria vitalício, porém condicionado (se a companheira constituísse
uma nova família, pediria o direito real de habitação). O STJ vem mandando aplicar o direito real de habitação do casamento
para a união estável, por analogia.

CC, Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente (+ COMPRANHEIRO), qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo
da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família,
desde que seja o único daquela natureza a inventariar.

Lei 9.278/96, Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material prevista nesta Lei será prestada por um dos
conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos.
Parágrafo único. Dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação,
enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento (CONDICIONADO), relativamente ao imóvel destinado à residência da
família.

O direito real de habitação independe do regime de bens.

DE OLH NA JURIS! O cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja proprietário de
outros bens
O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não pressupõe a inexistência de
outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. Em outras palavras, mesmo que o cônjuge ou companheiro
sobrevivente possua outros bens, ele terá direito real de habitação. Isso se justifica porque o objetivo da lei é permitir que o
cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não
apenas de concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já que não se
pode negar a existência de vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no
transcurso de sua convivência, constituíram não somente residência, mas um lar. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-RJ, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

União estável alegada em ação de manutenção de posse para assegurar direito real de habitação
Ainda que a companheira supérstite (sobrevivente) não tenha buscado em ação própria o reconhecimento da união estável
antes do falecimento, é admissível que invoque o direito real de habitação em ação possessória, a fim de ser mantida na posse
do imóvel em que residia com o falecido. O direito real de habitação é ex vi legis (por força de lei) decorrente do direito
sucessório e, ao contrário do direito instituído inter vivos, não necessita ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis. Assim
sendo, é plenamente possível a arguição desse direito para fins exclusivamente possessórios, até porque, entender de forma
diversa seria negar proteção justamente à pessoa para o qual o instituto foi desenvolvido e em momento pelo qual ele é o mais
efetivo. STJ. 4ª Turma. REsp 1203144-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/5/2014 (Info 543).

Esposa supérstite não tem direito real de habitação se o imóvel pertencia também aos irmãos do falecido
Segundo decidiu o STJ, a viúva não pode opor o direito real de habitação aos irmãos de seu falecido cônjuge na hipótese em que
eles forem, desde antes da abertura da sucessão, coproprietários do imóvel em que ela residia com o marido. O direito real de
habitação tem como essência a proteção do direito de moradia do cônjuge supérstite, dando aplicação ao princípio da
solidariedade familiar. O legislador entendeu que os filhos devem, em nome da solidariedade familiar, garantir ao seu
ascendente a manutenção do lar. Além disso, entendeu-se que, pela ordem natural da vida, os filhos provavelmente irão vier
@dicasexconcurseira 158
mais anos que o pai/mãe que terá o direito real de habitação. Assim, quando ele/ela morrer, os filhos poderão exercer, na sua
plenitude, os poderes inerentes à propriedade que detêm. Ocorre que, no caso em que o cônjuge sobrevivente residia em
imóvel de copropriedade do cônjuge falecido com os irmãos, adquirida muito antes do óbito, deixa de ter razoabilidade toda a
matriz sociológica e constitucional que justifica a concessão do direito real de habitação ao cônjuge sobrevivente, pois não há
elos de solidariedade entre um cônjuge e os parentes do outro. Além do mais, se fosse admitido que a viúva continuasse a
residir no imóvel estar-se-ia admitindo o direito real de habitação sobre imóvel de terceiros. STJ. 3ª Turma. REsp 1184492-SE,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/4/2014 (Info 541).

Exigência ou não de outorga do companheiro. A outorga do cônjuge é exigida para a pratica de alguns atos; são eles:
fiança, aval, alienação ou oneração de bens imóveis, sob pena de anulabilidade.
CC, Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da
separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.

Seria necessária a autorização do companheiro para a prática desses atos? O CC não exige a outorga do companheiro.
Para o STJ, ordinariamente não se exige outorga do companheiro, pois o art.1646 deve ser interpretado restritivamente.
Exceção dada pelo STJ: salvo se a união estável for notória (REsp 1.424.275/MS). Isso porque a união estável só produz efeitos
inter partes (ainda que tenha contrato registrado em cartório).

O NCPC, em seu art.73, diz:


CPC/15, Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário,
salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
§3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.

Conversão da união estável em casamento. Mandamento constitucional da facilitação da conversão da união estável em
casamento. Duvidosa constitucionalidade do art.1726, CC.

CC, Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no
Registro Civil.

Do jeito que está escrito este artigo, parece que a lei dificultou a conversão, pois, para casar, basta habilitação no
cartório, enquanto que para converter a união estável em casamento deve requerer ao juiz (custas, advogado) e, depois,
assentar no Registro Civil. Mas há aqui uma pegadinha: é que a conversão da união estável em casamento admite efeitos
retroativos, até a data em que se iniciou a união estável. Por conta dessa possibilidade de efeitos retroativos é que se exige a
decisão judicial.

DE OLHO NA JURIS! O casal não é obrigado a formular pedido extrajudicial antes de ingressar com ação judicial pedindo a
conversão da união estável em casamento
O art. 8º da Lei nº 9.278/96 prevê a possibilidade de que a conversão da união estável em casamento seja feita pela via
extrajudicial. No entanto, este dispositivo não impõe a obrigatoriedade de que se formule o pedido de conversão na via
administrativa antes de se ingressar com a ação judicial. O art. 8º da Lei nº 9.278/96 deve ser interpretado como sendo uma
faculdade das partes. Dessa forma, o ordenamento jurídico oferece duas opções ao casal: a) pode fazer a conversão
extrajudicial, nos termos do art. 8º da Lei 9.278/96; ou b) pode optar pela conversão judicial, conforme preconiza o art. 1.726 do
CC. STJ. 3ª Turma.REsp 1685937-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/8/2017 (Info 609).

@dicasexconcurseira 159
Aula 10

DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO

Histórico e evolução da dissolução do casamento

Durante muito tempo, o casamento foi indissolúvel, por uma questão patrimonial (para não dissolver patrimônio;
lembre-se que o CC/16 era essencialmente patrimonialista) e religiosa. Quando muito, cabia o desquite (que significa não estar
quite com suas obrigações conjugais), que não dissolvia o casamento, mas permitia que as pessoas cessassem a convivência. Os
desquitados não podiam casar de novo.
Assim, manteve-se até 1977. Com a EC 9/77, passou a se admitir o divórcio, em caráter excepcional: depois de 5 anos
de separação, admitido apenas uma única vez. Com a CF/88, art.226, §6º, houve a facilitação do divórcio, que foi completada
pela EC 66/10. Após a EC/16 e com o CC/02 e o NCPC, passou a haver novas formas dissolutivas do casamento.

Formas dissolutivas e o sistema dual de dissolução do casamento (art.1.571, CC)

Existem formas terminativas e formas dissolutivas do casamento. Com os mecanismos terminativos do casamento,
cessam os deveres conjugais, mas mantém-se o vínculo (“termina, mas não acaba"). Com as formas dissolutivas, cessam os
deveres e cessa o vínculo.

CC, Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I - pela morte (ou ausência) de um dos cônjuges;
II - pela nulidade ou anulação do casamento;
III - pela separação judicial;
IV - pelo divórcio.
§1º O casamento válido só se dissolve pela morte (ou ausência) de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção
estabelecida neste Código quanto ao ausente.

CF, Art.226, §6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

Cessam os deveres
FORMA TERMINATIVA conjugais, mas
mantém-se o vínculo
(separação judicial) ("termina, mas não
SISTEMA DUAL DE acaba").
DISSOLUIÇÃO DO
CASAMENTO
FORMA DISSOLUTIVA Cessam os deveres
(morte/ausência + conjugais e cessa o
divórcio) vínculo.

DE OLHO NA JURIS! Ao fim de um casamento ou união estável, é possível que o juiz reconheça o direito de visita a animal de
estimação adquirido durante a constância do relacionamento
Na dissolução de entidade familiar, é possível o reconhecimento do direito de visita a animal de estimação adquirido na constância
da união, demonstrada a relação de afeto com o animal. Na dissolução da entidade familiar em que haja algum conflito em relação
ao animal de estimação, independentemente da qualificação jurídica a ser adotada, a resolução deverá buscar atender, sempre a
depender do caso em concreto, aos fins sociais, atentando para a própria evolução da sociedade, com a proteção do ser humano
e do seu vínculo afetivo com o animal. STJ. 4ª Turma. REsp 1713167-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/06/2018
(Info 634).

Na anulação ou nulidade do casamento, não há dissolução, pois o vínculo é mais que dissolvido, mas, sim,
DESCONSTITUÍDO: as partes voltar ao status civil que tinham antes. A pessoa cujo casamento foi anulado irá se casar como se
fosse a primeira vez.
A única forma terminativa pura do casamento é a separação judicial ou em cartório. Depois da EC/66, acabou a
separação? Cristiano Chaves acredita que sim. O problema é que o NCPC expressamente se refere à separação:

NCPC, Art. 693. As normas deste Capítulo aplicam-se aos processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e
extinção de união estável, guarda, visitação e filiação.
@dicasexconcurseira 160
Devemos aguardar um controle de constitucionalidade.

Formas dissolutivas do casamento: divórcio e morte (ou declaração de ausência).


Fases da ausência:
i. Declaração de ausência
ii. Sucessão provisória
iii. Sucessão definitiva

Em que momento de dissolve o casamento do ausente? Art.6º, CC —> quando se declara aberta a sucessão definitiva.

O eventual retorno do ausente, depois de dissolvido o casamento, não afeta a dissolução.


O art.7º do CC praticamente repete a lei de registros públicos. Trata da morte presumida. Nestes casos, morte é real
sem cadáver/morte presumida sem ausência, e não “ausência”. O juiz reconhece a situação e já abre a sucessão definitiva.
O casal pode se separar ou se divorciar sem fazer a partilha dos bens.
Súmula 197, STJ: O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia partilha dos bens. à Nesta hipótese, caso a pessoa
venha a se casar novamente, o novo casamento deve se dar no regime da separação obrigatória de bens.

A separação de fato e seus efeitos jurídicos legais e jurisprudenciais

A separação de fato não está elencada no CC nem como causa terminativa, nem dissolutiva. Diante desse quadro,
poderíamos dizer que a separação de fato não produz efeitos jurídicos. A separação de fato é a ruptura da relação fática,
ruptura da convivência. É a cessação da base afetiva do casamento.
Mas, curiosamente, o próprio CC, a doutrina e a jurisprudência reconhecem efeitos jurídicos decorrentes da separação
de fato.
STJ, REsp 1.065.209/SP: Na data em que se concede a separação de corpos, desfazem-se os deveres conjugais. à A
separação de corpos é um exemplo de separação de fato.

Efeitos previstos no sistema jurídico decorrentes da separação de fato:

i. Possibilidade de caracterização de união estável por conta da cessação dos deveres de fidelidade e coabitação.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no
caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. à Pessoas separadas de fato podem constituir união
estável!

ii. Cessação do regime de bens (STJ. Res. 555.771/SP). É verdade que o CC exige 5 longos anos. Mas, de acordo com a
jurisprudência do STJ, a simples separação de fato, independente de prazo, cessa o regime de bens.

Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente:
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado
que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de 5 anos;

iii. Cessação do direito à herança. Se quando um dos cônjuges falecer, já houver a separação de fato, não há mais
sentido em garantir ao sobrevivente o direito à herança. Para o STJ, a simples separação de fato cessa o regime de bens e o
direito à herança.
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam
separados judicialmente, nem separados de fato há mais de 2 anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara
impossível sem culpa do sobrevivente.

iv. Sub-rogação locatícia: um dos cônjuges celebrou o contrato de locação; houve separação de fato; o que pactuou o
contrato saiu de casa e o outro ficou; o cônjuge que permaneceu no imóvel se sub-roga no contrato.

v. Permissão para a contagem do prazo para usucapião conjugal (art.1240-A, CC).

@dicasexconcurseira 161
A separação judicial litigiosa

É causa terminativa, segundo o CC.


O NCPC, no art.693, contempla a possibilidade de separação litigiosa, nas hipóteses do CC.
A vantagem da separação litigiosa em relação ao divórcio é a possiblidade da retomada de convivência por simples
petição ao juiz. Essa vantagem é falsa, pois o casal divorciado pode retomar a convivência, sem necessidade de nova cerimônia,
se já houve cerimônia civil ou religiosa anterior, desde que feito o pedido ao juiz.
O fim da separação judicial é: o divórcio, a viuvez ou a retomada da relação. A separação judicial não é um fim em si
mesma.

O CC permite a separação litigiosa em 3 hipóteses:


i. Separação-remédio (art.1572, §2º)
Art.1572, §2º O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver acometido de doença mental grave,
manifestada após o casamento, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração de dois
anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável.

ii. Separação-falência (art.1572, §1º)


Art.1572, §1º A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar ruptura da vida em comum há mais de
um ano e a impossibilidade de sua reconstituição.

iii. Separação-sanção (art.1572, caput): é a separação pela culpa; um dos cônjuges aponta que o outro rompeu com os
deveres conjugais. Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao outro qualquer
ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum.

Culpa (grave violação do dever


SEPARAÇÃO-SANÇÃO conjugal) + insuportável a vida em
comum

Ruptura da vida em comum há mais


SEPARAÇÃO LITIGIOSA SEPARAÇÃO-FALÊNCIA de 1 ano + impossibilidade de
reconstituição

Doença mental grave pós casamento


que, após 2 anos, se mostre de cura
SEPARAÇÃO-REMÉDIO
improvável + impossibilidade de
continuação da vida em comum

Para que se impute culpa, é preciso que requeira um dos efeitos da culpa. Na separação, os efeitos da culpa podem ser:
responsabilidade civil (indenização) e mutação da natureza dos alimentos (ao invés de receber pensão alimentícia, receberá
alimentos meramente para a sua sobrevivência).
A culpa previa um outro efeito, que era a perda do uso do sobrenome de casado. Este efeito não decorre mais da culpa,
pois o nome é direito da personalidade. Em razão da culpa, uma pessoa não pode ser sancionada em sua personalidade.
Há muito tempo, o STJ entende que a não comprovação da causa de pedir da culpa não impede que o juiz decrete a
separação. Ex: um cônjuge imputa a culpa ao outro, mas não prova a culpa. O juiz pode julgar procedente o pedido, decretando
a separação judicial, mas sem que se produza os efeitos da culpa.

Responsabilidade civil (indenização)

EFEITOS DA CULPA NA
SEPARAÇÃO JUDICIAL
Mutação da natureza dos alimentos (ao invés de receber pensão alimentícia, receberá apenas
os alimentos necessários à sobrevivência)

@dicasexconcurseira 162
A separação consensual

Sob o ponto de vista processual, se a separação é litigiosa, o procedimento é diferente da separação consensual. Se é
litigiosa, o procedimento é especial (art.693-699) de jurisdição contenciosa. Se a separação é consensual, a jurisdição é
voluntária (art.731, CPC/15).
Na separação consensual, o CC só exige um requisito: o casal deve provar que está casado há mais de 1 ano. O próprio
casal apresenta a proposta de partilha, ouvindo o MP, se houver interesse de incapaz. O acordo de separação consensual é
irretratável unilateralmente depois de ratificado (Súmula 305, STF).

O divórcio e o seu requisito constitucional único à manifestação de vontade (direito potestativo)

Até 1977, o casamento era indissolúvel.


Com a EC 9/77, admitiu-se o casamento excepcional, exigindo 5 anos de prévia separação e só era admitido uma única
vez por pessoa.
O art.226, §6º - redação original - da CF iniciou o processo de facilitação do divórcio, pois acabou com a regra do
divórcio único. No entanto, ainda previa prazos para o divórcio.
Com a EC 66/10, completou-se o processo facilitador de divórcio e surgiu um direito potestativo extintivo ao divórcio.
Foram eliminados os prazos e a causa do divórcio. Para divorciar, basta a manifestação de vontade. A liberdade de casar carrega
consigo a liberdade de se divorciar.

Efeitos jurídicos decorrentes da EC 66/10

Eliminação dos prazos para o divórcio (superação da distinção entre divórcio direto e indireto)

Impossibilidade de discussão sobre a causa do divórcio (afastamento da discussão sobre a culpa)

Abolição do instituto da separação do sistema jurídico brasileiro (ruptura do sistema dualista?)


A posição predominante na jurisprudência e no NCPC: prevalecia, antes do NCPC, que a separação judicial havia sido
extinta. Após o NCPC, até que haja uma manifestação em sede de controle de constitucionalidade concentrado,
chegamos à conclusão de que a separação judicial se mantém.

DE OLHO NA JURIS! A separação judicial continua existindo no ordenamento jurídico mesmo após a EC 66/2010
A EC 66/2010 não revogou, expressa ou tacitamente,a legislação ordinária que trata da separação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp
1431370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas BôasCueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610). STJ. 4ª Turma. REsp 1247098-MS, Rel. Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604).

Espécies de divórcio

i. Divórcio consensual/amigável, em juízo ou em cartório;


ii. Divórcio litigioso.

Há procedimentos específicos para cada um.


Para o divórcio litigioso, temos o procedimento especial de jurisdição contenciosa, previstos nos arts.693 a 699 do
NCPC. A falta de consenso se refere aos efeitos do divórcio, e não ao divórcio em si, que é direito potestativo. Petição inicial;
Citação do réu; o réu é citado para uma audiência obrigatória de mediação; esta audiência pode se desdobrar em tantas sessões
quantas necessárias; nestas audiências, as partes devem estar acompanhadas de seus advogados; o réu é citado sem receber a
cópia da petição inicial, para não diminuir a chance de um acordo; mas, se quiser ter acesso à petição inicial, basta ir ao cartório
(o próprio réu ou seu advogado); frustrada a audiência, recebe a cópia da petição inicial para apresentar defesa; estas
audiências de mediação sobre direito de família são diferentes das do procedimento ordinário; no direito de família, não se
pode abrir mão dessa audiência; frustrado o acordo e intimado o réu para apresentar defesa, o procedimento se ordinária
(art.697, NCPC).
Havendo interesse de incapaz, deve haver a oitiva do MP. Havendo indícios de alienação parental ou de abuso (art.699,
NCPC), o juiz obrigatoriamente deve estar assistido por uma equipe interdisciplinar.

@dicasexconcurseira 163
DE OLHO NA JURIS! Recurso cabível contra a decisão que decide sobre alienação parental
Qual é o recurso cabível contra a decisão que decide sobre alienação parental?
• Se a parte ingressa com pedido incidental e o juiz decide a questão da alienação parental no curso do processo, antes de
resolver o mérito da demanda principal: trata-se de uma decisão interlocutória e o recurso cabível é o agravo de instrumento.
• Se a parte ingressa com pedido incidental e o juiz deixa para decidir a questão da alienação parental na sentença, juntamente
com o mérito da demanda principal: o recurso cabível é a apelação.
• Se a parte ingressa com ação autônoma, o juiz terá que decidir a questão da alienação parental obrigatoriamente por
sentença: o recurso cabível é a apelação. O STJ entende que configura erro grosseiro da parte recorrente se o juiz decide a
questão da alienação parental no curso do processo, de forma incidental, e ela interpõe apelação ao invés de agravo de
instrumento. Vamos aguardar se, com o novo CPC, esse entendimento sobre o erro grosseiro irá se manter. Digo isso porque
agora o prazo do agravo de instrumento, assim como a apelação, é de 15 dias. STJ. 3ª Turma. REsp 1330172/MS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 11/03/2014 (Info 538).

O divórcio consensual pode ser em juízo ou em cartório. Se em juízo, é procedimento especial de jurisdição voluntária,
previsto no art.731, NCPC. Há acordo entre as partes. Pode ou não haver interesse de incapaz. Se há interesse de incapaz ou
nascituro, o divórcio consensual é obrigatoriamente em juízo. Mas, não havendo interesse de incapaz ou nascituro, as partes
optam se fazem em cartório ou em juízo. Este divórcio consensual está submetido o art.731, NCPC.

DE OLHO NA JURIS! Desnecessidade de audiência de conciliação ou ratificação na ação de divórcio direto consensual
O art. 1.122 do CPC 1973 c/c o art. 40, § 2º da Lei 6.515/77 previam a necessidade de ser realizada audiência de conciliação ou
ratificação antes de o juiz decretar o divórcio consensual. Esse dispositivo deve sofrer uma releitura por força da EC 66/2010. A
EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”) alterou a redação do art. 226, § 6º da CF/88, eliminando os prazos para a
concessão do divórcio e afastando a necessidade de que seja discutida culpa, dispensando que sejam debatidas as causas que
geraram o fim da união. Atualmente, se as partes querem se divorciar, não cabe ao juiz convencê-las do contrário. Passa a ter
vez no Direito de Família a figura da intervenção mínima do Estado. O divórcio passou a ser agora efetivamente direto. Por força
da alteração constitucional, a leitura que deve ser feita agora do art. 1.122 do CPC é a seguinte: não será necessária audiência
com os autores do pedido de divórcio consensual quando o magistrado tiver condições de aferir a firme disposição dos cônjuges
em se divorciarem, bem como de atestar que as demais formalidades foram atendidas. Dito de outro modo, só será designada a
audiência de que trata o art. 1.122 do CPC 1973 em caso de dúvida sobre a real intenção das partes de se divorciarem. Não
havendo dúvidas, não tem sentido a realização do ato. A audiência de conciliação ou ratificação passou a ter apenas cunho
eminentemente formal, sem nada produzir, não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir. Obs: seguindo a
linha de raciocínio acima exposta, o CPC 2015 não exige a realização de audiência antes da decretação do divórcio consensual. O
tema é tratado nos arts. 731 a 733. STJ. 3ª Turma. REsp 1483841-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

Cláusulas obrigatórias do acordo de divórcio consensual (art.731, NCPC)

Ajuste sobre a partilha dos bens do casal (possibilidade de manutenção dos bens em condomínio)

Acordo sobre guarda e visitação dos filhos menores ou incapazes

Referência a eventual pensão alimentícia devida entre os cônjuges

Previsão de pensão alimentícia devida aos filhos menores

Acordo sobre o uso de sobrenome?

Art. 731. A homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em
petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão:
I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;
II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos.
Parágrafo único. Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de homologado o divórcio, na
forma estabelecida nos arts. 647 a 658.

@dicasexconcurseira 164
DE OLHO NA JURIS! Mesmo já havendo um acordo homologado sobre a partilha de bens, é possível que seja feito um novo
ajuste posteriormente
A coisa julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes maiores e capazes, versando sobre a partilha de
bens imóveis privados e disponíveis e que fora homologado judicialmente por ocasião de divórcio consensual, não impede que
haja um novo acordo sobre o destino dos referidos bens. STJ. 3ª Turma. REsp 1623475-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
17/04/2018 (Info 624).

Prazo para anular partilha de bens em dissolução de união estável por vício de consentimento é de 4 anos
É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, por vício de consentimento
(coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. Cuidado:
• Prazo para anulação da partilha do direito sucessório (morte): 1 ano.
• Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou dissolução de união estável: 4 anos. STJ. 4ª Turma. REsp 1621610-SP,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/2/2017 (Info 600).

É possível a fixação de astreintes para forçar a genitora que está com a guarda da criança a respeitar o direito de visita do pai
É válida a aplicação de astreintes quando o genitor detentor da guarda da criança descumpre acordo homologado judicialmente
sobre o regime de visitas. A aplicação das astreintes em hipótese de descumprimento do regime de visitas por parte do genitor,
detentor da guarda da criança se mostra como um instrumento eficiente e também, menos drástico para a criança. STJ. 3ª
Turma. REsp 1481531-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/2/2017 (Info 599).

Divórcio consensual em cartório (divórcio administrativo)

Cabe apenas se não houver nascituro ou filhos incapazes.


Em relação à legislação anterior (Lei 11.441/07), esta permitia divorcio em cartório quando não houvesse interesses de
incapazes. O NCPC incluiu o nascituro.
A via cartorária é facultativa. Além disso, só é possível divórcio em cartório se as partes estiverem devidamente
assistidas por advogado.
Não existe regra de competência cartorária. As partes podem se divorciar em qualquer cartório do Brasil.
Não é necessária intervenção do MP, nem homologação judicial.
Também é possível dissolver união estável em cartório.

NCPC, Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável, não havendo nascituro
ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as
disposições de que trata o art. 731.
§1º A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para
levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
§2º O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado ou por defensor público, cuja
qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

NCPC, Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença estrangeira ou a
concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em sentido contrário de lei ou tratado.
§5º A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior
Tribunal de Justiça.

Características das ações de separação e de divórcio

i. Ação personalíssima e possibilidade de representação processual (curador, ascendente ou irmão) e descabimento da


intervenção de terceiros.

CC, Art. 1.582. O pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges.


Parágrafo único. Se o cônjuge for incapaz para propor a ação ou defender-se, poderá fazê-lo o curador, o ascendente ou o
irmão. à não se trata de substituição processual/legitimação extraordinária, mas sim de representação processual: estará em
nome alheio, defendendo interesse alheio.

DE OLHO NA JURIS! A ação de divórcio não pode, em regra, ser ajuizada por curador provisório
Em regra, a ação de dissolução de vínculo conjugal tem natureza personalíssima, de modo que o legitimado ativo para o seu
ajuizamento é, por excelência, o próprio cônjuge. Excepcionalmente, admite-se que o divórcio seja proposto pelo curador, na
@dicasexconcurseira 165
qualidade de representante processual do cônjuge. Justamente por ser excepcional o ajuizamento da ação de dissolução de
vínculo conjugal por terceiro em representação do cônjuge, deve ser restritiva a interpretação da norma jurídica que indica os
representantes processuais habilitados a fazê-lo, não se admitindo, em regra, o ajuizamento da referida ação por quem possui
apenas a curatela provisória. Assim, em regra, a ação de divórcio não pode ser ajuizada por curador provisório. Isso pode ser
admitido em situações excepcionais, quando houver prévia autorização judicial e oitiva do Ministério Público. STJ. 3ª Turma.
REsp 1645612-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018 (Info 637).

ii. Possibilidade de dispensa de prévia partilha. Os divorciados permanecem coproprietários dos bens, podendo
requerer a dissolução do condomínio, a qualquer tempo, pelas regras da partilha hereditária. Caso o divorciado contraia novo
casamento, será imposto o regime da separação obrigatória de bens, pois ainda não foi feita a partilha do casamento anterior.

CC, Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens.
Súmula 197, STJ: O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia partilha dos bens.

DE OLHO NA JURIS! Ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo que decretou o divórcio, mesmo que um dos
ex-cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz
A incapacidade superveniente de uma das partes, após a decretação do divórcio, não tem o condão de alterar a competência
funcional do juízo prevento. Assim, a ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo que decretou o divórcio,
mesmo que um dos ex-cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz. Não se aplica, no caso a regra do art. 50 do
CPC/2015, que prevê a competência do domicílio do incapaz (competência territorial especial). Isso porque a competência
funcional, decorrente da acessoriedade entre as ações de divórcio e partilha, possui natureza absoluta. Por outro lado, a
competência territorial especial conferida ao autor incapaz, apesar de ter como efeito o afastamento das normas gerais
previstas no diploma processual, possui natureza relativa. As regras de competência absoluta preponderam em relação às das
de competência relativa. STJ. 2ª Seção. CC 160329-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/02/2019 (Info 643).

iii. A questão da revelia. Há revelia (que é a contumácia do réu que não contesta), porém esta revelia virá sem seus
efeitos consecutivos, pois o litígio versa sobre direitos indisponíveis. Só há a produção de um único efeito: desnecessidade de
intimação do revel para os atos processuais subsequentes.

NCPC, Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
II – o litígio versar sobre direitos indisponíveis;

DE OLHO NA JURIS! O simples fato de a mulher ter sido revel na ação de divórcio não significa que o pedido de retirada do
patronímico do ex-marido de seu nome tenha que ser deferido
A revelia em ação de divórcio na qual se pretende, também, a exclusão do patronímico adotado por ocasião do casamento não
significa concordância tácita com a modificação do nome civil. Ex: João da Silva Maier casou-se com Gabriela Ferreira. Gabriela
adotou o patronímico de João e passou a se chamar Gabriela Ferreira Maier. O relacionamento chegou ao fim e João ajuizou
ação de divórcio contra Gabriela pedindo: a) que fosse decretado o divórcio; b) que Gabriela fosse condenada a retirar o
patronímico “Maier” de seu nome. Gabriela foi devidamente citada, mas não respondeu a ação. Correta a decisão do juiz que
julga o pedido parcialmente procedente decretando o divórcio, mas mantendo o sobrenome da ré. Principais argumentos: • o
fato de o réu ter sido revel não significa, necessariamente, que o juiz tenha que acolher o pedido do autor; • o nome é
considerado direito indisponível, tendo em vista ser direito da personalidade; • para que houvesse a retirada do sobrenome,
seria necessária a manifestação expressa da vontade da mulher; • a utilização do sobrenome do ex-marido por mais de 30 trinta
anos pela ex-mulher demonstra que há tempo ele está incorporado ao nome dela, de modo que não mais se pode retirá-lo, sem
que cause evidente prejuízo para a sua identificação. STJ. 3ª Turma. REsp 1732807-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
14/08/2018 (Info 631).

iv. Obrigatoriedade da intervenção do Ministério Público, quando houver incapaz.

Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas
hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:
II - interesse de incapaz;

v. Competência judicial (o foro privilegiado da mulher o NCPC). Não há mais a regra do foro privilegiado da mulher!

Súmula 383, STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em principio, do foro do
domicilio do detentor de sua guarda.

@dicasexconcurseira 166
NCPC, Art. 53. É competente o foro:
I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;

Súmula 33, STJ: A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.

NCPC, Art. 65. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação.
Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar.

vi. Guarda compartilhada, como regra. Admissibilidade pelo STJ, mesmo quando se tratar de divórcio litigioso.

CC, Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.


§1º Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por
guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o
mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.
§2º Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai,
sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos:
§3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela que melhor atender aos interesses
dos filhos.
§5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal
supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou
subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos.

A guarda só não será compartilhada se o casal expressamente optar ou se ela não se mostrar recomendável.

DE OLHO NA JURIS! Aplicação obrigatória da guarda compartilhada


REGRA: o CC determina que, quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, o juiz deverá aplicar a
guarda compartilhada (art. 1.584, § 2º).
EXCEÇÕES: Não será aplicada a guarda compartilhada se:
a) um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor;
b) um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar. O § 2º do art. 1.584 afirma que “encontrando-se ambos os
genitores aptos a exercer o poder familiar”, será aplicada a guarda compartilhada. O que significa essa expressão: “genitores
aptos a exercer o poder familiar”? Quando o genitor não estará apto a exercer o poder familiar? A guarda compartilhada
somente deixará de ser aplicada quando houver inaptidão de um dos ascendentes para o exercício do poder familiar, fato que
deverá ser declarado, prévia ou incidentalmente à ação de guarda, por meio de decisão judicial (STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.994-
RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/12/2016. Info 595). O § 2º do art. 1.584 somente admite duas exceções em que não
será aplicada a guarda compartilhada. A interpretação desse dispositivo pode ser relativizada? É possível afastar a guarda
compartilhada com base em peculiaridades do caso concreto mesmo que não previstas no § 2º do art. 1.584 do CC? O STJ está
dividido, havendo decisões em ambos os sentidos:
1ª) NÃO. A guarda compartilhada apresenta força vinculante, devendo ser obrigatoriamente adotada, salvo se um dos genitores
não estiver apto a exercer o poder familiar ou se um deles declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor (STJ. 3ª
Turma. REsp 1626495/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/09/2016).
2ª) SIM. As peculiaridades do caso concreto podem servir como argumento para que não seja implementada a guarda
compartilhada. Ex: se houver dificuldades geográficas (pai mora em uma cidade e mãe em outra, distante). Isso porque deve-se
atentar para o princípio do melhor interesse dos menores. Assim, as partes poderão demonstrar a existência de impedimento
insuperável ao exercício da guarda compartilhada, podendo o juiz aceitar mesmo que não expressamente previsto no art. 1.584,
§ 2º. A aplicação obrigatória da guarda compartilhada pode ser mitigada se ficar constatado que ela será prejudicial ao melhor
interesse do menor (STJ. 3ª Turma. REsp 1605477/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/06/2016). STJ. 3ª
Turma. REsp 1629994-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/12/2016 (Info 595).

vii. Possibilidade de desconsideração inversa da personalidade jurídica, na separação ou no divórcio. Para esta
desconsideração, exige-se o abuso da personalidade jurídica, caracterizada pelo desvio de finalidade ou a confusão patrimonial.

@dicasexconcurseira 167
DE OLHO NA JURIS! Em caso de divórcio no qual se pede a desconsideração inversa da personalidade jurídica, deve-se incluir
no polo passivo a pessoa que teria participado do conluio com o cônjuge
A sócia da empresa, cuja personalidade jurídica se pretende desconsiderar, que teria sido beneficiada por suposta transferência
fraudulenta de cotas sociais por um dos cônjuges, tem legitimidade passiva para integrar a ação de divórcio cumulada com
partilha de bens, no bojo da qual se requereu a declaração de ineficácia do negócio jurídico que teve por propósito transferir a
participação do sócio/ex-marido à sócia remanescente, dias antes da consecução da separação de fato. STJ. 3ª Turma. REsp
1522142-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/6/2017 (Info 606).

viii. A questão da divisão de frutos de coisa comum, quando um dos cônjuges se manteve na posse de bem de uso
comum (condomínio - CC, art.1319). Um cônjuge deve indenizar o outro pelo uso de bem comum, pelo fato de colher frutos de
bem comum. Mesmo que a mulher esteja morando no apartamento com o filho, pois este tem direito à pensão e não à
patrimônio. Esta regra se aplica mesmo que o apartamento tenha sido adquirido com verba do FGTS ou com cotas particulares,
pois os frutos de bens particulares se comunicam.

Nas ações de separação ou de divórcio, admite-se o julgamento antecipado da parcela incontroversa (art.356, NCPC). O
pedido de divórcio se mostra sempre incontroverso, pois é direito potestativo. Nada impede, portanto, que o interessado,
estando o casal litigando sobre os efeitos do divórcio - partilha dos bens, guarda dos filhos, visitas -, requeira ao juiz, desde logo
o julgamento antecipado da parcela incontroversa, pendido ao juiz que decrete logo o divórcio e as demais parcelas
controvertidas serão julgadas depois.

DE OLHO NA JURIS! Ex-cônjuge que está utilizando o bem comum de forma exclusiva poderá ser condenado a indenizar o outro
mesmo que ainda não tenha havido partilha
Na separação e no divórcio, o fato de certo bem comum ainda pertencer indistintamente aos ex-cônjuges, por não ter sido
formalizada a partilha, não representa automático empecilho ao pagamento de indenização pelo uso exclusivo do bem por um
deles, desde que a parte que toca a cada um tenha sido definida por qualquer meio inequívoco. Ex: João e Maria eram casados e
decidiram se divorciar. Maria foi morar com a sua mãe e João continuou no apartamento que pertence ao casal. Vale mencionar
que este é o único bem que o casal tem a partilhar. O juiz determinou o divórcio e afirmou, na sentença, que o imóvel deveria
ser dividido igualmente entre os dois (50% para cada um dos ex-cônjuges). Apesar disso, a partilha formal do bem ainda não foi
feita. Como a partilha ainda não foi realizada, João continuou morando no apartamento. Enquanto a partilha não for
concretizada, João poderá ser condenado a indenizar Maria, pagando a ela, mensalmente, a quantia equivalente a 50% do valor
arbitrado como sendo o aluguel deste apartamento onde ele está morando. Isso ocorre para evitar o enriquecimento sem causa
daquele que está utilizando o bem de forma exclusiva. Suponhamos que o juiz entenda que Maria tem direito à indenização. Ela
terá direito de receber as parcelas pretéritas desde quando? O termo inicial para o ressarcimento deve ser a data da ciência do
pedido da parte contrária, ou seja, será a data da citação (caso seja uma ação proposta unicamente para isso) ou da intimação
(caso a indenização seja requerida em pedido reconvencional feito pelo réu na contestação). O fato de João ter sido condenado
a pagar esta indenização poderá influenciar no valor pago a título de pensão alimentícia? Ele poderá pedir a revisão do valor da
prestação alimentícia? SIM. A indenização pelo uso exclusivo do bem por parte do alimentante pode influir no valor da
prestação de alimentos, pois afeta a renda do obrigado, devendo as obrigações serem reciprocamente consideradas pelo juiz,
sempre atento às peculiaridades do caso concreto. STJ. 2ª Seção. REsp 1250362-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 8/2/2017
(Info 598).

@dicasexconcurseira 168
Aula 11

REGIME DE BENS

1. Os Efeitos Patrimoniais do Casamento (regime de bens)

Qual a natureza jurídica do casamento? É negócio jurídico (contrato).


Há planos do casamento? Sim.
O que seria a eficácia do casamento? A produção de efeitos pessoais, sociais e patrimoniais decorrentes do casamento.

Efeitos pessoais do casamento Fidelidadade, coabitação, assistência recíproca e consideração; guarda, educação e
sustento da prole (art.1566, CC); possibilidade de acréscimo do sobrenome (art.1565,
CC); fixação do domicílio conjugal.
Efeitos sociais do casamento Emancipação; estabelecimento de parentesco por afinidade; mudança do estado civil;
presunção de paternidade dos filhos nascidos na constância do casamento.
Efeitos patrimoniais do casamento Regime de bens do casamento.

O que é o regime de bens do casamento? Trata-se do estatuto patrimonial do casamento, o qual se inicia com o
matrimônio e finda com o término do casamento (seja pela morte ou pelo divórcio).
Necessidade de leitura funcionalizada (patrim6onio buscando a felicidade) e isonômica (igualdade na gestão).

Regime de bens é sinônimo de comunhão de bens? Não. No regime da separação de bens, não há comunhão de bens; e
nem toda comunhão debens decorre do casamento, como no caso do condomínio.

A separação de fato finda o regime de bens?

CC, Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente:
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado
que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de 5 anos;

De acordo com o art.1632, inc.V, do CC, apenas após 5 anos do fim da separação de fato é que se poria o fim no regime
de bens. Mas, o STJ pensa diferente: uma vez comprovada a separação de fato, automaticamente, já se paralisa o regramento
do regime de bens.

[...]
2. Não faz jus à meação os bens havidos pelo marido na qualidade de herdeiro do irmão, o cônjuge que encontrava-se
separado de fato quando transmitida a herança. 3. Tal fato ocasionaria enriquecimento sem causa, porquanto o patrimônio foi
adquirido individualmente, sem qualquer colaboração do cônjuge. 4. A preservação do condomínio patrimonial entre os
cônjuges, após a separação de fato, é incompatível com a orientação do Novo Código Civil, que reconhece a união estável
estabelecida neste período regulado pelo regime da comunhão parcial de bens (Art. 1.725, CC). 5. Assim, em regime de
comunhão universal, a comunicação de bens e dívidas deve cessar com a ruptura da vida em comum, respeitado o direito à
meação do patrimônio adquirido na constância da vida conjugal. (STJ, Ac. Unâm. 4ª Turma. REsp 555.771/SP, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, J. 5.5.09. DJU 18.5.09).

RECUSO ESPECIAL. CIVIL. FAMÍLIA. ANULAÇÃO DE ATOS JURÍDICOS. BENS ADQUIRIDOS APÓS A SEPARAÇÃO DE FATO POR UM
DOS CÔNJUGES. SIMULAÇÃO LESIVA À PARTILHA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. FUNDAMENTO INATACADO. ÓBICE DA
SÚMULA 283/STF. RECURSO NÃO CONHECIDO.
1. O aresto recorrido está em sintonia com a jurisprudência desta Corte, firmada no sentido de que a separação de fato põe fim
ao regime matrimonial de bens. Precedentes.
2. A Corte local entendeu não restar configurada a simulação lesiva, além de não poder ser invocada pela autora, que dela tinha
conhecimento há 9 anos. Contra o último fundamento não se insurge a recorrente, o que atrai o óbice de Súmula 283/STJ. 3.
Recurso especial não conhecido.
REsp 678790/PR. Ministro Raul Araújo. 4ª Turma. DJ 10/06/2014.

@dicasexconcurseira 169
2. Princípios norteadores do regime de bens

Segundo a esmagadora doutrina, a exemplo de Carlos Roberto Gonçalves, são 3 os princípios norteadores do regime de
bens:
a) Princípio da Liberdade de Escolha;
b) Princípio da Variedade;
c) Princípio da Mutabilidade Motivada.

2.1. Princípio da Liberdade de Escolha do regime de bens

Sempre será possível o exercício da liberdade de escolha? Não. Vide art.1641 do CC.

CC, Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: à REGIME DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 anos;
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

Há como afastar a causa suspensiva? Sim. Vide parágrafo único do art.1.523 do CC.

CC, Art. 1.523. Não devem casar:


I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos
herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou
da dissolução da sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou
curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos
incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e
para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo.

A possibilidade de livre escolha do regime de bens pelos interessados funda-se no prolongamento da autonomia
privada sob o casamento (art.1.639, CC).

CC, Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.
§ 1o O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento.

Como se realiza essa escolha? Através do pacto antenupcial (pré-nupcial ou “convenção matrimonial”). Trata-se de um
negócio jurídico acessório, formal e solene (escritura pública, registrado no cartório de imóveis do domicílio dos nubentes), cuja
eficácia fica submetida ao casamento (art.1.653, CC).

CC, Art. 1.653. É nulo (NULIDADE ABSOLTUA) o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e ineficaz se não lhe
seguir o casamento.

CC, Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito perante terceiros senão depois de registradas, em livro especial, pelo
oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

CC, Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha:
I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens;

O menor pode se casar (art.1.517 a 1.520 do CC). Neste caso, como deve ser feito o pacto? Vide art.1.654 do CC.
CC, Art. 1.654. A eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica condicionada à aprovação de seu representante legal,
salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens.

Mas o casamento não emancipa? Sim. No entanto, o pacto é negócio jurídico acessório, que vem antes do casamento.

E se o pacto possuir alguma cláusula contrária à questão de ordem pública? Vide arts.1.655 e 184 do CC.
@dicasexconcurseira 170
CC, Art. 1.655. É NULA a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta de lei. à HAVERÁ REDUÇÃO DO
NEGÓCIO JURÍDICO.

CC, Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se
esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da
obrigação principal.

A invalidade do casamento gera a do pacto? Claro, pois o acessório segue o principal.


E o inverso? Não. O pacto será mantido e vigorará o regime da comunhão parcial de bens.
E na hipótese de casamento putativo? O casamento putativo é inválido, mas seus efeitos serão resguardados àquele
que estiver de boa-fé até a data da sentença anulatória.

CC, Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes
como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.
§2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

É possível regular outros temas através do pacto antenupcial? Sim, como nomeação de tutoe, estabelecimento do
regime de bem de família convencional, doações recíprocas...

A (im)possibilidade de estabelecer regulamentação sobre questões pessoais:


a) Dispensa da fidelidade recíproca à Posição majoritária: NÃO é possível;
b) Cláusula penal pelo término do relacionamento à Posição majoritária: NÃO é possível;
c) Cláusula penal para hipótese de traição à Posição majoritária: NÃO é possível;
d) Cláusula regulando afazeres do lar à Posição majoritária: É possível;
e) Cláusula regulando questões mortuárias à Zeno Veloso diz que não é possível, em razão da proibição à pacta corvina
(art.426, CC).

2.2 Princípio da Variedade do regime de bens

Possibilidade do estabelecimento do regime de bens pelos nubentes, com liberdade, seja optando entre um dos
regimes previstos no sistema, seja estabelecendo novos regimes (regime híbrio ou misto).

E se não houver pacto antenupcial ou se ele for inválido? Nestes casos, vigorará o regime da comunhão parcial de bens
(art.1640 do CC).

CC, Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da
comunhão parcial.
Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula.
Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas
demais escolhas.

E no caso de união estável?

CC, Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros (CONTRATO DE CONVIVÊNCIA), aplica-se às
relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.

A comunhão parcial sempre foi o regime supletivo? Não. Antes da Lei 6.515/77, o regime supletivo era o da
comunhão universal de bens.

Há presunção absoluta de esforço comum na união estável? Sim, mas o STJ vem decidindo que pode ser necessário
prova do esforço comum.

Enunciado 115, CJF – Art.1.725: Há presunção de comunhão dos aquestos na constância da união extramatrimonial mantida
entre os companheiros, sendo desnecessária a prova do esforço comum para se verificar a comunhão de bens.

@dicasexconcurseira 171
E o STJ?
Partilha de bens em união estável no regime de separação obrigatória exige prova de esforço comum.
Na dissolução de união estável mantida sob o regime de separação obrigatória de bens, a divisão daquilo que foi
adquirido onerosamente na constância da relação depende de prova do esforço comum para o incremento patrimonial. A tese
foi firmada pela 2ª Seção do STJ.
Segundo o relator do caso, ministro Raul Araújo, a presunção legal do esforço comum, prevista na lei que regulamentou
a união estável (Lei 9.278/96), não pode ser aplicada sem que se considere a exceção relacionada à convivência de pessoas
idosas, caracterizada pela separação de bens.
O caso analisado diz respeito à partilha em união estável iniciada quando o companheiro já contava com mais de 60
anos e ainda vigia o CC/16 – submetida, portanto, ao regime da separação obrigatória de bens (art.258, I). A regra antiga
também fixava em mais de 50 anos a idade das mulheres para que o regime de separação fosse adotado obrigatoriamente. O
CC/02 estabelece o regime de separação de bens para os maiores de 70 anos (art.1.641, II).
A decisão da Segunda Seção foi tomada no julgamento de embargos de divergência que contestavam acórdão da
Terceira Turma – relativo à meação de bens em união estável de idosos iniciada sob o CC/16 – em face de outro julgado do STJ,
este da Quarta Turma, que havia considerado que o esforço comum deveria ser presumido.

STF:
Ao analisar a questão, o ministro Raul Araújo afirmou que o entendimento segundo o qual a comunhão dos bens
adquiridos durante a união pode ocorrer, desde que comprovado o esforço comum, está em sintonia com o sistema legal de
regime de bens do casamento, confirmado no CC/02. Essa posição prestigia a eficácia do regime da separação legal de bens,
declarou o relator.
O ministro observou que cabe ao interessado comprovar que teve efetiva e relevante participação (ainda que não
financeira) no esforço para a aquisição onerosa de determinado bem a ser partilhado no fim da união (prova positiva).
A Súmula 377 do STF que diz “no regime da separação legal de bens, comunicam-se os bens adquiridos na constância
do casamento” à Segundo o ministro Raul Araújo, a súmula tem levado a jurisprudência a considerar que pertencem a ambos
os cônjuges – metade a cada um – os bens adquiridos durante a união com o produto do trabalho e da economia de ambos.
Assim, a Súmula 377 do STF, isoladamente, não confere ao companheiro o direito à meação dos bens adquiridos
durante o período de união estável, sem que seja demonstrado o esforço omum, explicou o relator.
Para o ministro, a ideia de que o esforço comum deva ser sempre presumido (por ser a regra da lei da união estável)
conduziria à ineficácia do regime da separação obrigatória (ou legal) de bens, pois, para afastar a presunção, o interessado
precisaria fazer prova negativa, comprovar que o ex-companheiro em nada contribuiu para a aquisição onerosa de
determinado bem, embora ele tenha sido adquirido na constância da união. Tornaria, portanto, praticamente impossível a
separação do patrimônio.
Em suma, concluiu Raul Araújo: “sob o regime do CC/16, na união estável de pessoas com mais de 50 anos (se mulher)
ou 60 anos (se homem), à semelhança do que ocorre com o casamento, também é obrigatória a adoção do regime de separação
de bens”.
Ele citou o precedente da 4ª Turma, para o qual não seria razoável que, a pretexto de regular a união de pessoas não
casadas, o ordenamento jurídico estabelecesse mais direitos aos conviventes em união estável do que aos cônjuges.
Acompanharam o relator os ministros Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira, Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro. Votou de forma divergente o ministro Paulo de Tarso Sanseverino.
O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial.

DE OLHO NA JURIS! No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde
que comprovado o esforço comum para sua aquisição
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que comprovado o
esforço comum para sua aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser comprovado. O regime de separação
legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil. STJ. 2ª Seção.
EREsp 1623858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado em 23/05/2018
(recurso repetitivo) (Info 628).

2.3. Princípio da Mutabilidade Motivada do regime de bens (art.1.639, §2º)

A regra é a imutabilidade. No entanto, o CC prevê a possibilidade de alteração:

CC, Art.1.639, § 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os
cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.

@dicasexconcurseira 172
Assim, são requisitos para alterar o regime de bens:

a. Pedido conjunto e motivado de ambos os cônjuges;


b. Procedimento de jurisdição voluntária (não pode haver lide);
c. O juízo competente é o juízo de família;
d. Não pode vir a prejudicar terceiros. Por isso, deve-se publicar editais e a decisão terá efeitos ex nunc (não retroativos).

Enunciado 113, CJF – Art.1.639: É admissível a alteração do regime de bens entre os cônjuges, quando então o pedido,
devidamente motivado e assinado por ambos os cônjuges, será objeto de autorização judicial, com ressalva dos direitos de
terceiros, inclusive dos entes públicos, após perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza, exigida ampla
publicidade.

Há como a mudança do regime de bens ter efeitos retroativos? De acordo com a maioria da doutrina, não.

Motivos usuais para alteração do regime de bens:

a) Desejo de contratar sociedade (art.977, CC);

CC, Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da
comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.

b) Quando cessar a causa suspensiva (arts.1.523 e 1.641);

CC, Art. 1.523. Não devem casar:


I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos
herdeiros;

CC, Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;

Enunciado 262, CJF – Arts.1.641 e 1.639: A obrigatoriedade da separação de bens, nas hipóteses previstas nos incs.I e III do
art.1.641 do CC, não impede a alteração do regime, desde que superada a causa que o impôs.

É possível a mudança daqueles regimes refentes a casamentos celebrados na vigência do CC/16? De acordo com o STJ,
sim.

CC, Art. 2.039. O regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do Código Civil anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de
1916, é o por ele estabelecido.

O STJ tem decidido no sentido da possibilidade da mudança do regime de bens anteriores em mais de uma
oportunidade, asseverando que o art.2.039 se refere, em verdade, apenas ao regime supletivo.
Dois são os argumentos: a) isonomia; e b) art.2.035 do CC.
Este é o entendimento majoritário.

CC, Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao
disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos
dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.

O regime de bens está no plano da eficácia do casamento. Desta forma, aplica-se o CC/02 quantos aos seus efeitos.

Enunciado 260 CJF – Art.1.639, §2º e 2.039: A alteração do regime de bens prevista no §2º do art.1.639 do CC também é
permitida nos casamentos realizados na vigência da legislação anterior.

DE OLHO NA JURIS! Alteração no regime de bens


No CC-1916 não havia previsão legal que autorizasse os cônjuges a alterarem o regime de bens. O CC-2002 inovou no
tratamento do tema e adotou o princípio da mutabilidade justificada do regime de bens, afirmando que “é admissível alteração

@dicasexconcurseira 173
do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões
invocadas e ressalvados os direitos de terceiros” (§ 2º do art. 1.639). A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que é
possível a alteração do regime de bens, mesmo nos matrimônios contraídos ainda sob a égide do CC-1916. Segundo o STJ, o § 2º
do art. 1.639 do CC-2002 não exige dos cônjuges justificativas exageradas ou provas concretas do prejuízo na manutenção do
regime de bens originário, sob pena de se ter que analisar indevidamente a própria intimidade e a vida privada dos consortes. A
divergência conjugal quanto à condução da vida financeira da família é justificativa, em tese, plausível à alteração do regime de
bens. Vale ressaltar que, para haver a autorização judicial quanto à mudança do regime de bens, é necessária a aferição da
situação financeira atual dos cônjuges, com a investigação acerca de eventuais dívidas e de interesses de terceiros
potencialmente atingidos. STJ. 4ª Turma. REsp 1119.462-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/2/2013 (Info 518).

É possível que a mudança do regime de bens seja feita de forma extrajudicial? Não, deve haver processo judicial, que
correrá na Vara de Família.

CPC/15, Art. 734. A alteração do regime de bens do casamento, observados os requisitos legais, poderá ser requerida,
motivadamente, em petição assinada por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as razões que justificam a alteração,
ressalvados os direitos de terceiros.
§1º Ao receber a petição inicial, o juiz determinará a intimação do Ministério Público (AINDA QUE NÃO HAJA INCAPAZ) e a
publicação de edital que divulgue a pretendida alteração de bens, somente podendo decidir depois de decorrido o prazo de 30
(trinta) dias da publicação do edital.
§2º Os cônjuges, na petição inicial ou em petição avulsa, podem propor ao juiz meio alternativo de divulgação da alteração do
regime de bens, a fim de resguardar direitos de terceiros.
§3º Após o trânsito em julgado da sentença, serão expedidos mandados de averbação aos cartórios de registro civil e de imóveis
e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.

3. Os Diferentes Regimes de Bens previstos no CC/02 à Preciso dizer que é essencial a leitura dos artigos de lei? J
a) Comunhão universal;
b) Comunhão parcial;
c) Separação convencional;
d) Separaçõa legal ou obrigatória;
e) Participação final nos aquestos.

3.1. Regime da Comunhão Parcial de Bens/ Comunhão Limitada de Bens/ ou Regime Supletivo

SEPARAÇÃO PARA O PASSADO + COMUNHÃO PARA O FUTURO

Caio Mário afirma que há 3 diferentes massas patrimoniais:


i. Os bens particulares de um cônjuge;
ii. Os bens particulares de outro cônjuge;
iii. Os bens comuns do casal.

É uma fusão da separação convencional e da comunhão universal = separação para o passado e comunhão para o futuro
(arts.1.658 e 1.661 do CC).

CC, Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento,
com as exceções dos artigos seguintes.

CC, Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento.

CC, Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:


I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e
os sub-rogados em seu lugar; à DE OLHO NA JURIS! Imóvel doado por um companheiro para o outro deve ser excluído do
montante partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC - O bem imóvel adquirido a título oneroso na constância da união estável
regida pelo estatuto da comunhão parcial, mas recebido individualmente por um dos companheiros, através de doação pura e
simples realizada pelo outro, deve ser excluído do monte partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC/2002: Art. 1.659. Excluem-
se da comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação
ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; Ex: João e Maria vivem em união estável. Durante este relacionamento, João comprou
um apartamento. Embora adquirido pelo esforço comum do casal, na constância da união estável, o imóvel foi doado por João,
de forma graciosa, à Maria. Isso significa que, no momento que for feita a dissolução da união estável, este bem não irá integrar
@dicasexconcurseira 174
o montante partilhável. João, quando doou o imóvel, o fez quanto à sua metade sobre o bem, que antes pertencia a ambos. STJ.
4ª Turma. REsp 1171488-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/4/2017 (Info 603).

Regime da comunhão parcial e doação feita a um dos cônjuges


João e Maria eram casados sob o regime da comunhão parcial e decidiram se divorciar. Surgiu um impasse quanto à partilha de
um apartamento. O referido apartamento foi pago, durante o casamento, com dinheiro doado pelo pai de Maria para ela. João
alegava que o pai de Maria não afirmou expressamente que a doação era exclusivamente para ela e que, diante desse silêncio,
deveria ser interpretada como sendo para o casal. A interpretação conferida por João está correta? Em caso de silêncio na doação,
deve-se interpretar que essa liberalidade aconteceu em favor do casal? NÃO. As conclusões são as seguintes: • Se o bem for doado
para um dos cônjuges, em um casamento regido pela comunhão parcial dos bens, a regra é que esse bem pertence apenas ao
cônjuge que recebeu a doação. Em outras palavras, esse bem doado não se comunica, não passa a integrar os bens do casal. • Em
um regime de comunhão parcial, o bem doado somente se comunica se, no ato de doação, ficar expressa a afirmação de que a
doação é para o casal. • Logo, em caso de silêncio no ato de doação, deve-se interpretar que esse ato de liberalidade ocorreu em
favor apenas do donatário (um dos cônjuges). STJ. 3ª Turma. REsp 1318599-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/4/2013
(Info 523).

II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares;

III - as obrigações anteriores ao casamento;

IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;

V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;

VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; à QUE SEJAM PERCEBIDOS ANTES OU APÓS O CASAMENTO.

VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. à DE OLHO NA JURIS! Benefício de previdência privada
fechada não entra na partilha em caso de fim de relação - O benefício de previdência privada fechada é excluído da partilha em
dissolução de união estável regida pela comunhão parcial de bens. STJ. 3ª Turma. REsp 1477937-MG, Rel. Min. Ricardo Villas
BôasCueva, julgado em 27/4/2017 (Info 606).

CC, Art. 1.660. Entram na comunhão:


I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges;
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; à EX: LOTERIA.
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao
tempo de cessar a comunhão.

Como fica a administração dos bens? Vide arts.1.663 a 1.666 do CC.

CC, Art. 1.663. A administração do patrimônio comum compete a qualquer dos cônjuges.
§1o As dívidas contraídas no exercício da administração obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e
os do outro na razão do proveito que houver auferido.
§2o A anuência de ambos os cônjuges é necessária para os atos, a título gratuito, que impliquem cessão do uso ou gozo dos bens
comuns.
§3o Em caso de malversação dos bens, o juiz poderá atribuir a administração a apenas um dos cônjuges.

CC, Art. 1.664. Os bens da comunhão respondem pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher para atender aos
encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal.

CC, Art. 1.665. A administração e a disposição dos bens constitutivos do patrimônio particular competem ao cônjuge
proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial.

CC, Art. 1.666. As dívidas, contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e em benefício
destes, não obrigam os bens comuns.

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3.2. Regime da Comunhão Universal de bens

Para Arnaldo Rizzardo, o patrimônio se torna uma MASSA ÚNICA, havendo COMUNHÃO DE DIREITOS E DE OBRIGAÇÕES
PARA O PASSADO E PARA O FUTURO.

CC, Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e
suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.

CC, Art. 1.668. São excluídos da comunhão:


I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva;
III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum;
IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;
V - os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.

E os frutos se comunicam? Sim!

CC, Art. 1.669. A incomunicabilidade dos bens enumerados no artigo antecedente não se estende aos frutos, quando se
percebam ou vençam durante o casamento.

E a administração dos bens? Igual ao do regime da comunhão parcial de bens.

CC, Art. 1.670. Aplica-se ao regime da comunhão universal o disposto no Capítulo antecedente, quanto à administração dos bens.

Dúvida: crédito trabalhista comunica nos regimes de comunhão (parcial ou universal)?

DE OLHO NA JURIS! Comunhão parcial e inexistência de meação de valores do FGTS depositados antes do casamento
Diante do divórcio de cônjuges que viviam sob o regime da comunhão parcial de bens, não deve ser reconhecido o direito à
meação dos valores que foram depositados em conta vinculada ao FGTS em datas anteriores à constância do casamento e que
tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante a vigência da relação conjugal. Ao contrário, deve ser
reconhecido o direito à meação dos valores do FGTS auferidos DURANTE a constância do casamento, ainda que o saque daqueles
valores não seja realizado imediatamente à separação do casal. Os proventos do trabalho recebidos, por um ou outro cônjuge, na
vigência do casamento, compõem o patrimônio comum do casal, a ser partilhado na separação, tendo em vista a formação de
sociedade de fato, configurada pelo esforço comum dos cônjuges, independentemente de ser financeira a contribuição de um dos
consortes e do outro não. A incomunicabilidade prevista no inciso VI do art. 1.659 do CC somente ocorre quando os valores são
percebidos em momento anterior ou posterior ao casamento. STJ. 2ª Seção. REsp 1399199-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel.
para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/3/2016 (Info 581).

3.3. Separação Obrigatória/ Cogente/ Legal de bens (art.1.641, CC)

CC, Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 anos*; à O STJ APLICA ESTE INCISO TAMBÉM À UNIÃO ESTÁVEL.
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

* DE OLHO NA JURIS! Regime da separação obrigatória de bens para idosos não se aplica se o casamento foi precedido de união
estável iniciada ANTES da idade-limite
A proteção matrimonial conferida ao noivo, nos termos do art. 258, parágrafo único, II, do Código Civil de 1916, não se revela
necessária quando o enlace for precedido de longo relacionamento em união estável, que se iniciou quando os cônjuges não
tinham restrição legal à escolha do regime de bens. STJ. 4ª Turma. REsp 1318281-PE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
1/12/2016 (Info 595).

É este também o entendimento da doutrina: Enunciado 261, CJF – Art.1.641: A obrigatoriedade do regime da separação de bens
não se aplica a pessoa maior de 60 anos, quando o casamento for precedido de união estável iniciada antes dessa idade.

@dicasexconcurseira 176
Partilha de prêmio da loteria mesmo que se trate de relacionamento regulado pelo regime da separação obrigatória (art. 1.641,
II, do CC)
Se a pessoa inicia uma união estável possuindo mais de 70 anos, o regime patrimonial que irá regular essa relação é o da
separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, do CC). Apesar disso, se, durante essa relação, um dos companheiros ganhar na
loteria, o valor do prêmio integra a massa de bens comuns do casal (art. 1.660, II, do CC), de forma que pertence a ambos.
Assim, havendo dissolução da união estável, o valor desse prêmio deverá ser partilhado igualmente entre os consortes. Em
suma, o prêmio de loteria, recebido por ex-companheiro septuagenário durante a relação de união estável, deve ser objeto de
meação entre o casal em caso de dissolução do relacionamento. STJ. 4ª Turma.REsp 1689152-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 24/10/2017 (Info 616).

O rol do art.1.641 do CC é taxativo? Sim, pois norma restritiva deve ser interpretada restritivamente.

Segundo a Súmula 377 do STF, a separação obrigatória de bens incide nos bens presentes à época do casamento, e não
nos aquestos futuros (bens adquiridos onerosamente na constância do casamento).

Súmula 377 do STF: No regime da separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.

DE OLHO NA JURIS! No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos NA CONSTÂNCIA do casamento, desde
que COMPROVADO o esforço comum para sua aquisição
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que comprovado o
esforço comum para sua aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser comprovado. O regime de separação
legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil. STJ. 2ª Seção.
EREsp 1623858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado em 23/05/2018
(recurso repetitivo) (Info 628).

3.4. Regime da Separação Convencional/ Voluntária/ Total/ Absoluta de bens

Estabelecimento de 2 diferentes massas patrimoniais:


i. Os bens particulares de um cônjuge;
ii. Os bens particulares de outro cônjuge.

Portanto, inexiste qualquer ponto de interseção patrimoniais entre os consortes.

CC, Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que
os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.

E os frutos e benfeitorias se comunicam? Também não.


No entanto, as despesas com a manutenção do lar devem ser custeadas pelo casal, na proporção do rendimento de
cada um, salvo estipulação em contrário em pacto antenupcial.

CC, Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu
trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial.

A súmula 377 do STF também é aplicável ao regime da separação total de bens? NÃO! Esta súmula somente é aplicável
à hipótese de separação obrigatória/legal de bens.

Incoerência legislativa. Este regime da separação convencional de bens apresenta um inconveniente ao reconhecer
direito concorrencial ao viúvo(a) em face dos descendentes do falecido (arts.1.829, I e 1.837).
CC, Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor
da herança não houver deixado bens particulares;

Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta
se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau.

@dicasexconcurseira 177
Tentativa de adequação do STJ:
DIREITO CIVIL. FAMÍLIA E SUCESSÕES. RECURSO ESPECIAL. INVENTÁRIO E PARTILHA. CÔNJUGE SOBREVIVENTE CASADO PELO
REGIME DA SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS, CELEBRADO POR MEIO DE PACTO ANTENUPCIAL POR ESCRITURA PÚBLICA.
INTERPRETAÇÃO DO ART.1.829, I, DO CC/02. DIREITO DE CONCORRÊNCIA HEREDITÁRIA COM DESCENDENTES DO FALECIDO.
NÃ OCORRÊNCIA.
[...] Não remanesce, para o cônjuge casado mediante separação de bens, direito à meação, tampouco à concorrência
sucessória, respeitando-se o regime de bens estipulado, que obriga as partes na vida e na morte.
[...] Haveria, induvidosamente, em tais situações, a alteração do regime matrimonial de bens post mortem, ou seja, com o fim do
casamento pela morte de um dos cônjuges, seria alterado o regime de separação convencional de bens pactuado em vida,
permitindo ao cônjuge sobrevivente o recebimento de bens de exclusiva propriedade do autor da herança, patrimônio ao qual
recusou, quando do pacto antenupcial, por vontade própria.
(REsp 992749/MS. Relator Ministra NANCY ANDRIGHI. 3ª Turma. Data do julgamento: 01/12/2009).

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DAS SUCESSÕES. INVENTÁRIO E PARTILHA. REGIME DE BENS. SEPARAÇÃO CONVENCIONAL. PACTO
ANTENUPCIAL POR ESCRITURA PÚBLICA. CÔNJUGE SOBREVIVENTE. CONCORRÊNCIA NA SUCESSÃO HEREDITÁRIA COM
DESCENDENTES. CONDIÇÃO DE HERDEIRO. RECONHECIMENTO. EXEGESE DO ART.1.829, I, DO CC/02. AVANÇO NO CAMPO
SUCESSÓRIO DO CC/02. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL.
[...] 3. O pacto antenupcial celebrado no regime de separação convencional somente dispõe acerca da incomunicabilidade de
bens e o seu modo de administração no curso do casamento, não produzindo efeitos após a morte por inexistir, no
ordenamento pátrio, previsão de ultratividade do regime patrimonial apta a emprestar eficácia póstuma ao regime
matrimonial.
(REsp 1472945/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cuevas. 3ª Turma. DJe 19/11/2014).

Cônjuge supérstite casado em regime de separação convencional e sucessão "causa mortis"


O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC). No regime de
separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes do falecido. A lei afasta a concorrência
apenas quanto ao regime da separação legal de bens previsto no art. 1.641 do CC. STJ. 2ª Seção. REsp 1382170-SP, Rel. Min.
Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 22/4/2015 (Info 562).

3.5. Regime da Participação Final nos Aquestos

É um regime novo? Sim. O CC/16 não previa.

Como funciona? É um regime híbrido, pois traduz a fusão do regime da separação convencional de bens e da comunhão
parcial de bens.

ANTES do casamento

BENS ADQUIRIDOS Exclusivamente por um dos cônjuges


DURANTE do casamento
Por ambos os cônjuges

Apenas estes de amarelo se comunicam (o que se chama de “aquesto”). A comunicação é, em regra, de 50% para cada um.
Mas nada impede que na aquisição do bem seja estipulado percentual diverso. Em relação aos bens móveis, presumem-se
adquiridos durante o casamento pelo casal.

No momento do desfazimento da sociedade conjugal, cada cônjuge poderá requerer a prestação de contas dos bens
adquiridos na constância do casamento, realizando-se um encontro de contas.

CC, Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no
artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título
oneroso, na constância do casamento.

CC, Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer
título, na constância do casamento.
@dicasexconcurseira 178
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente alienar, se forem móveis.

CC, Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos
patrimônios próprios:
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;
III - as dívidas relativas a esses bens.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o casamento os bens móveis.

4. A Gestão dos Bens no Casamento

Por conta do regime de bens, há atos em relação aos quais, durante o casamento, o cônjuge, mesmo sendo dotado de
capacidade jurídica geral/plena, precisará da autorização do outro cônjuge para praticá-los. Todavia, há outros atos que, mesmo
durante o casamento, o cônjuge praticará sozinho.
Esposa Outorga uxória
AUTORIZAÇÃO à VÊNIA/OUTORGA CONJUGAL
Marido Outorga marital

4.1. Vênia ou Outorga Conjugal

O que é?

CC, Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da
separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

III - prestar fiança ou aval; à DE OLHO NA JURIS! Não é necessária prévia autorização do cônjuge para que
a pessoa preste aval em títulosde créditos típicoso
O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada somente pode prestar aval se houver autorização do seu
cônjuge (exceção: se o regime de bens for da separação absoluta). Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob
pena de descaracterizar o aval como instituto cambiário. Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é
aplicado para os títulos de créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código Civil. Por outro lado,
os títulos de créditos nominados(típicos), que são regidos por leis especiais, não precisam obedecer essa regra do art. 1.647, III,
do CC Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados(típicos) prescinde de outorga uxória ou marital.
Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas decrédito. STJ.
3ª Turma. REsp 1526560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 16/3/2017 (Info 604). STJ. 4ª Turma. REsp
1633399-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/11/2016.

IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada.

Há outra hipótese? Sim, o rol não é taxativo. Exemplo de outro caso = art.3º, Lei 8.245/91 – Lei de Locações.

Lei 8.245/91, Art. 3º O contrato de locação pode ser ajustado por qualquer prazo, dependendo de vênia conjugal, se igual ou
superior a 10 anos.
Parágrafo único. Ausente a vênia conjugal, o cônjuge não estará obrigado a observar o prazo excedente.

A única exceção a respeito da desnecessidade da vênia conjugal é a hipótese de casamento sob o regime da separação
absoluta? Não. Outras huas hipóteses:
i. CC, Art.1656. No pacto antenupcial, que adotar o regime da participação final nos aquestos, poder-se-á
convencionar livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares.
ii. No regime da comunhão parcial de bens, se um dos cônjuges quiser vender um bem imóvel particular, deverá ter a
outorga do outro, pois os frutos e benfeitorias se comunicam.
@dicasexconcurseira 179
No regime da separação obrigatória, há necessidade de outorga? Sim, pois, em razão da Súmula 377 do STF (que diz que se
comunicam os bens adquiridos na constância do casamento), surge o interesse do outro cônjuge em resguardar a sua possível
meação.
STJ (RESp 1199790/MG. Rel. Min. Vasco Della Giustina. 3ª Turma. Data do Julgamento: 14/12/2010) à Nas hipóteses
de casamento sob o regime da separaçõa legal, os consortes, por força da Súmula 377 do STF, possuem interesse pelos bens
adquiridos onerosamente ao longo do casamento, razõa por que é de rigor garantir-lhes o mecanismo de controle de outorga
uxória/marital para os negócios jurídicos previstos no art.1.647 da lei civil.

Aplica-se a necessidade de outorga também nos casos de união estável? Em regra, não. Mas, se a união estável for
reconhecida publicamente e tiver registro no cartório, será necessária a outorga.
STJ, REsp 1.424.275-MT. Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 16.12.14. 3ª Turma (Info 554) à Alienação, sem
consentimento do companheiro, de bem imóvel adquirido na constância da união estável. A invalidação da alienação de imóvel
comum, fundada na falta de consentimento do companheiro, depende da publicidade do contrato de convivência ou da decisão
declaratória da existência de união estável no Ofício de Registro de Imóveis em que cadastrados os bens comuns, ou da
demonstração de má-fé do adquirente.

Como se confere a vênia?


CC, Art. 220. A anuência ou a autorização de outrem, necessária à validade de um ato, provar-se-á do mesmo modo que este, e
constará, sempre que se possa, do próprio instrumento.

CC, Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo
justo, ou lhe seja impossível concedê-la.

Consequência da ausência de outorga à ANULABILIDADE.

CC, Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado,
podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até 2 anos depois de terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou particular, autenticado.

Legitimação para requerer a medida:

CC, Art. 1.650. A decretação de invalidade dos atos praticados sem outorga, sem consentimento, ou sem suprimento do juiz, só
poderá ser demandada pelo cônjuge a quem cabia concedê-la, ou por seus herdeiros.

Qual é o mecanismo processual de combate para o cônjuge que sofreu uma penhora indevida?

Súmula 134 do STJ: Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge executado pode opor embargos de terceiro para
defesa de sua meação.

CPC/15, Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou
sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de
embargos de terceiro.

4.2. Atos de prática independente

CC, Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente:
I - praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações
estabelecida no inciso I do art. 1.647;
II - administrar os bens próprios;
III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento
judicial;
IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração
do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647;
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado
que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos;
VI - praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.

@dicasexconcurseira 180
CC, Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.

CC, Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam solidariamente ambos os cônjuges.

Aula 12

ALIMENTOS

Noções gerais sobre os alimentos

A concepção jurídica de alimentos não significa “alimentação”. Alimento, no sentido jurídico, abrange tudo aquilo que é
necessário para a sobrevivência, para ter uma vida digna. Engloba moradia, saúde, educação, laser, esportes. STJ, REsp
997.515/RJ: subsistência da pessoa humana como expressão da solidariedade social e familiar.
O cumprimento da pensão alimentícia pode se dar através do pagamento em dinheiro, daí se chama “pensão
alimentícia”; ou in natura (pagamento da escola ou do plano de saúde diretamente); e, ainda, uma parte em dinheiro e outra
parte in natura.

DE OLHO NA JURIS! Dedução das despesas pagas in natura


É possível, em sede de execução de alimentos, a dedução na pensão alimentícia fixada exclusivamente em pecúnia das despesas
pagas "in natura", com o consentimento do credor, referentes a aluguel, condomínio e IPTU do imóvel onde residia o
exequente. Vale ressaltar que a regra geral é a incompensabilidade da dívida alimentar (art. 1.707 do CC) e eventual
compensação deve ser analisada caso a caso, devendo-se examinar se houve o consentimento, ainda que tácito, do credor, e se
o pagamento in natura foi destinado, efetivamente, ao atendimento de necessidade essencial do alimentado e não se
configurou como mera liberalidade do alimentante. STJ. 3ª Turma. REsp 1501992-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 20/03/2018 (Info 624).

Fixados os alimentos em pensão alimentícia, pode ser estipulada em salário mínimo, mitigando a SV nº 04 (Salvo nos
casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de
servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial).

Os alimentos reparatórios/ressarcitórios (como a indenização por responsabilidade civil fixada em pagamentos


periódicos) também podem ser fixados em salários mínimos.

NCPC, Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do
exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.
§1º O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais sobre imóveis suscetíveis de alienação,
títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação
do executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação.
§2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de
notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado
de imediato pelo juiz.
§3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou
aumento da prestação.
§4º A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo.
§5º Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias
prestadas.

@dicasexconcurseira 181
Espécies de alimentos

Quanto à natureza dos alimentos:


a. Alimentos civis: os alimentos servem para a subsistência e para atender necessidades sociais.

b. Alimentos necessários/indispensáveis: alimentos meramente para a sobrevivência (não abrangem as necessidades sociais). É
a cesta básica. Em que casos os alimentos se destinam tão só à sobrevivência? Quando os alimentos decorrem de culpa de quem
os pleitear.

CC, art.1694, §2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de
culpa de quem os pleiteia.

CC, art.1704, Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições
de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à
sobrevivência.

Esta culpa não pode ser discutida na ação de divórcio, pois este não depende de culpa.

Quanto à causa (origem) dos alimentos:


a) Alimentos legais/legítimos: decorrentes do parentesco, do casamento ou da união estável. Somente quanto a estes cabe
PRISÃO CIVIL.

b) Alimentos convencionais: decorrentes da vontade da parte (inter vivos ou causa mortis). Ex: legado de alimentos (causa
mortis) e doação por subvenção periódica (inter vivos).

CC, Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra
coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário.

c) Alimentos ressarcitórios/reparatórios: decorrentes de responsabilidade civil, fixados em sentença de ação indenizatória. O


cálculo é feito com base no salário mínimo vigente à época da sentença, com variações posteriores, podendo, assim, ser
revistos.

CC, Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros
cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Súmula 490, STF: A pensão correspondente a indenização oriunda de responsabilidade civil deve ser calculada com base no
salário-mínimo vigente ao tempo da sentença e ajustar-se-á às variações ulteriores.

OBS: STJ, REsp 93.948/SP - somente é admissível prisão civil em razão do inadimplemento dos alimentos
legais/legítimos. Porém, o NCPC colocou a execução dos alimentos indenizatórios dentro do procedimento de execução dos
alimentos legítimos (art.533, NCPC).

Quanto ao momento de concessão:


a) Alimentos presentes/atuais: dizem respeito à dívida dos últimos 3 meses antecedentes à propositura da execução. SÓ ESTES
ADMITEM PRISÃO CIVIL.

b) Alimentos pretéritos: aqueles vencidos há mais de 3 meses. ATENÇÃO! Não é admissível o uso da prisão civil para a sua
cobrança!

DE OLHO NA JURIS! Prisão civil não serve para cobrança de débitos pretéritos
A prisão por dívida de natureza alimentícia está ligada ao inadimplemento inescusável de prestação, não alcançando situação
jurídica a revelar cobrança de saldo devedor. STF. 1ª Turma. HC 121426/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/3/2017 (Info
857).

@dicasexconcurseira 182
c) Alimentos futuros: correspondem às prestações vincendas (que ainda vão vencer).

Súmula 309, STJ: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as 3 prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

NCPC, Art.528, §7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações
anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.
§3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar protestar o
pronunciamento judicial na forma do § 1o, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.

Quanto à finalidade:
a) Alimentos provisórios (art.4º, Lei 5.478/68) – TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA à tem natureza
antecipatória; fixados liminarmente; dependem de prova pré-constituída do vínculo de parentesco, do casamento ou união
estável; podem ser fixados, inclusive, de ofício; o juiz só deixará de fixá-los se a parte expressamente disser que deles não
necessita.

b) Alimentos provisionais (art.852, CPC/73) – TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA CAUTELAR à não há menção expressa no
NCPC. Tem natureza cautelar; por isso, o juiz pode continuar deferindo estes alimentos como medida cautelar (fumus boni iuris
+ periculum in mora). Só quem pede alimentos provisionais é quem ainda não possui prova pré-constituída do vínculo de
parentesco, casamento ou união estável. Ex: companheira que ainda não tem prova da união estável.

c) Alimentos definitivos: fixados em sentença para perdurar, enquanto se mantiver a situação fática existente quando da
prolação da decisão (obedecem à cláusula rebus sic stantibus). A jurisprudência vem admitindo ação de revisão não só dos
alimentos definitivos, mas também dos provisórios e provisionais.

d) Alimentos transitórios: criação do STJ. Fixados para atender situações peculiares durante um tempo determinado. É a regra
geral quando da dissolução de casamento ou união estável. Advindo o termo ou condição fixada pelo juiz, os alimentos
transitórios se extinguem automaticamente.

DE OLHO NA JURIS! - Pensão alimentícia devida a ex-cônjuge e fixação de termo final


Alimentos transitórios são aqueles fixados por um prazo determinado, após o qual cessa a obrigação de alimentar mesmo que
ainda exista necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante. Os alimentos fixados para o ex-cônjuge devem ser
transitórios?
• Regra geral: SIM. Em regra, a pensão alimentícia devida a ex-cônjuge deve ser fixada por tempo determinado.
• Exceção: será cabível a pensão por prazo indeterminado somente quando o alimentado (ex-cônjuge credor) se encontrar em
circunstâncias excepcionais, como de incapacidade laboral permanente, saúde fragilizada ou impossibilidade prática de inserção
no mercado de trabalho. STJ. 3ª Turma. REsp 1496948-SP, Rel. Ministro Moura Ribeiro, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

Alimentos provisórios, provisionais, definitivos e transitórios:


Todos esses alimentos admitem a prisão civil, pelo prazo de 1 a 3 meses.
Todos esses alimentos são irrepetíveis.
Todos esses alimentos são devidos desde a citação, exceto os provisionais, que são devidos desde o despacho que os
fixou.

NCPC, Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios.
§1º A execução dos alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em sentença ainda não transitada em julgado, se
processa em autos apartados.
§2º O cumprimento definitivo da obrigação de prestar alimentos será processado nos mesmos autos em que tenha sido
proferida a sentença.

Alimentos provisórios Alimentos provisionais Alimentos definitivos Alimentos transitórios


(art.4º, Lei 5478/68) (art.852, CPC/73) (sentença em qualquer (jurisprudência do STJ)
ação)

Prova pré-constituída do Fumus boni juris e Trinômio: necessidade - Necessidade por tempo
vínculo de parentesco periculum in mora capacidade - determinado
(TUTELA ANTECIPADA) (TUTELA CAUTELAR) proporcionalidade

@dicasexconcurseira 183
Devidos desde a citação Devidos desde o despacho Devidos desde a citação Devidos desde a citação
da petição inicial (submetidos à cláusula (sem necessidade de
rebus sic stantibus) revisão ou exoneração)

Características dos alimentos

i. Personalíssimo (intuito personae);

ii. Intransmissíveis (art.1700, CC)

Se os alimentos são personalíssimos, deveriam também ser intransmissíveis (pela lógica). No entanto, o art.1700, CC
afirma que a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor.
CC, Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694.

A doutrina brasileira nunca digeriu essa previsão legal. E aí a doutrina estabeleceu limites à obrigação:
a. O credor não pode ser beneficiário do espólio;
b. Deve respeitar as forças da herança;
c. Não deve ultrapassar a sentença de partilha;
d. Deve incidir sobre os frutos da herança.

ATENÇÃO! Só que agora, recentemente, a segunda seção do STJ dissipou a polêmica (STJ, REsp 1.354.693/SP): somente se
transmite a dívida alimentícia vencida e não paga pelo falecido; a dívida vincenda não se transmite.

DE OLHO NA JURIS!
João viveu em união estável com Maria. No acordo de dissolução da união estável, João se comprometeu a pagar, todos os
meses, R$ 2 mil a Maria sem previsão de término. Após a morte de João, essa obrigação persiste? O espólio deverá continuar
pagando a pensão fixada? NÃO. Extingue-se, com o óbito do alimentante, a obrigação de prestar alimentos a sua
excompanheira decorrente de acordo celebrado em razão do encerramento da união estável, transmitindo-se ao espólio
apenas a responsabilidade pelo pagamento dos débitos alimentares que porventura não tenham sido quitados pelo devedor
em vida (art. 1.700 do CC). Observado que os alimentos pagos pelo de cujus à sua ex-companheira decorrem de acordo
celebrado no momento do encerramento da união estável, a referida obrigação, de natureza personalíssima, extingue-se com
o óbito do alimentante, cabendo ao espólio pagar tão somente eventuais débitos não quitados pelo devedor quando em vida.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.693-SP, Rel. originário Min. Maria Isabel Gallotti, voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para
acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 26/11/2014 (Info 555).

SITUAÇÃO 1: credor de alimentos é herdeiro do falecido (exemplo mais comum: filho/filha).


João, pai de Igor, faleceu. Em vida, João havia feito um acordo com Igor segundo o qual o pai pagaria todos os meses R$ 2 mil a
seu filho até que ele completasse 18 anos. Após a morte de João, essa obrigação persiste? O espólio deverá continuar pagando a
pensão fixada? SIM. O espólio terá obrigação de pagar os alimentos desde que preenchidas as seguintes condições:
• A obrigação alimentar já deve estar fixada antes da morte (por acordo ou decisão judicial);
• O credor deve ser herdeiro do falecido (deve figurar no rol dos herdeiros necessários);
• O valor dos alimentos será pago até os limites das forças da herança (se os recursos deixados pelo falecido como herança
acabarem, extingue-se a obrigação);
• A pensão somente será paga enquanto perdurar o inventário (depois do inventário, fica extinto o direito de perceber
alimentos).

SITUAÇÃO 2: credor de alimentos não é herdeiro do falecido (exemplo: ex-companheira).


João viveu em união estável com Maria. No acordo de dissolução da união estável, João se comprometeu a pagar, todos os
meses, R$ 2 mil a Maria sem previsão de término. Após a morte de João, essa obrigação persiste? O espólio deverá continuar
pagando a pensão fixada? NÃO. Extingue-se, com o óbito do alimentante, a obrigação de prestar alimentos a sua ex-esposa ou
excompanheira decorrente de acordo celebrado em razão do encerramento do casamento ou união estável.
O art. 1.700 do CC prevê que “A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694”.
Ocorre que, segundo o STJ, esse artigo não pode ser interpretado literalmente. Assim, para a Corte, a obrigação alimentar é
fruto da solidariedade familiar e, por isso, não pode ser transmitida aos herdeiros, salvo se o credor também for herdeiro do
falecido.

@dicasexconcurseira 184
iii. Irrenunciáveis

O art.1707, CC diz que é vedada a renúncia aos alimentos.

CC, Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito
insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

Embora seja vedada a renúncia aos alimentos, como tratar as situações de acordo de divórcio, nos quais os cônjuges
renunciam aos alimentos? O STJ, no REsp 701.902/SP, fixou entendimento de que essa renúncia nos acordos é válida e eficaz. O
STJ quis dizer que os alimentos só são irrenunciáveis em relação aos incapazes.

Súmula 336, STJ: A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do
ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente.

DE OLHO NA JURIS! Renúncia aos alimentos feita durante a vigência da união estável
Um homem e uma mulher, na época em que conviviam juntos em união estável, fizeram uma declaração, por escritura pública,
afirmando que, em caso de dissolução da união, nenhum dos dois iria pleitear pensão alimentícia. Em outras palavras, ambos
renunciaram ao direito aos alimentos. O STJ decidiu que, mesmo com essa renúncia, seria possível que a ex-convivente pedisse e
tivesse direito aos alimentos na hipótese em que, após essa renúncia, ela tenha sido acometida de uma moléstia grave, que
reduziu sua capacidade laboral, comprometendo sua situação financeira. São irrenunciáveis os alimentos devidos na constância
do vínculo familiar (art. 1.707 do CC). É válida e eficaz a renúncia manifestada no momento do acordo de separação judicial ou
de divórcio. No entanto, por outro lado, não pode ser admitida a renúncia feita durante a vigência da união estável. STJ. 4ª
Turma. REsp 1178233-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

iv. Imprescritíveis

Os alimentos são imprescritíveis, ou seja, os alimentos podem ser cobrados a qualquer tempo; porém, a pretensão de
executar os alimentos que ja foram fixados por decisão judicial prescrevem em 2 anos.

OBS: Não corre prescrição contra o absolutamente incapaz, e entre ascendente e descendente na constância do poder familiar.

v. Impenhoráveis

Excepcionalmente, é possível a penhora de alimentos para cumprir obrigação de mesma natureza.

Curiosamente, é possível penhorar bem de família para pagamento de pensão alimentícia (art.3º, III, Lei 8.009/90).

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, salvo se movido:
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre
união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida.

CUIDADO! Se o devedor for casado ou viver em união estável, o limite da penhora desse bem de família é o limite de sua
meação. Se a execução ultrapassar a meação, o cônjuge poderá se valer de embargos de terceiros (Súmula 134, STJ: Embora
intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação).

vi. Irrepetíveis (irrestituíveis)

Irrepetibilidade mesmo que se prove que o filho-alimentando era de outra pessoa (STJ, REsp 412.684/SP).
Tese do professor Rolf Madaleno: relativização quando os alimentos são recebidos em razão de ato ilícito do credor,
com base na proibição de enriquecimento sem causa.

vii. Irretroativos (futuros)

Os alimentos são devidos para o futuro. Os alimentos são devidos a partir da citação (art.13, Lei 5478/68); a retroação
dos alimentos, portanto, é até a citação. As dívidas de pensão alimentícia referente a tempo passado podem ser exigidas por
ação de cobrança comum, na vara cível (e não em ação de alimentos).

@dicasexconcurseira 185
DE OLHO NA JURIS! Súmula 621-STJ
Súmula 621-STJ: Os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do pagamento retroagem à data da
citação, vedadas a compensação e a repetibilidade. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

viii. Incompensáveis

Os alimentos não admitem compensação, transação, pois os alimentos tendem à subsistência, SALVO se se tratar de
divida de mesma natureza.

ix. A questão da NÃO SOLIDARIEDADE na obrigação de alimentos

CC, Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

Como não há previsão de lei, os alimentos não constituem obrigação solidária. Exceção: quando os alimentos forem
devidos em relação à pessoa idosa (art.12, Estatuto do Idoso).

Estatuto do Idoso, Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.

A obrigação de alimentos é subsidiaria, pois só se pode chamar o devedor seguinte, depois de terem sido chamados os
devedores anteriores; e cada um contribuirá na proporção de seus recursos. É obrigação SUBSIDIÁRIA e PROPORCIONAL.
Exemplo: obrigação avoenga.

DE OLHO NA JURIS! A obrigação alimentar avoenga é complementar e subsidiária


Súmula 596-STJ: A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de
impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/10/2017.

Inexistência de transferência automática do dever de alimentar


A obrigação dos avós de prestar alimentos tem natureza complementar e subsidiária e somente exsurge se ficar demonstrada a
impossibilidade de os dois genitores proverem os alimentos dos filhos, ou de os proverem de forma suficiente. Assim, morrendo
o pai que pagava os alimentos, só se poderá cobrar alimentos dos avós se ficar demonstrado que nem a mãe nem o espólio do
falecido têm condições de sustentar o filho. Não tendo ficado demonstrada a impossibilidade ou a insuficiência do cumprimento
da obrigação alimentar pela mãe, como também pelo espólio do pai falecido, não há como reconhecer a obrigação do avô de
prestar alimentos. O falecimento do pai do alimentante não implica a automática transmissão do dever alimentar aos avós. STJ.
4ª Turma. REsp 1249133-SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 16/6/2016 (Info
587).

Se a ação for ajuizada apenas contra um dos devedores, poderá chamar os outros devedores.

CC, Art.1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo,
serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem
concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a
integrar a lide.

DE OLHO NA JURIS! Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena capacidade processual, cabe exclusivamente
a ele provocar a integração posterior no polo passivo
O Código Civil prevê o seguinte: Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de
suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar
alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as
demais ser chamadas a integrar a lide. Neste julgado, o STJ entendeu que este artigo possui natureza jurídica de “litisconsórcio
facultativo ulterior simples”. Trata-se, contudo, de litisconsórcio com uma particularidade: em regra, a sua formação pode
ocorrer não apenas por iniciativa do autor, mas também por provocação do réu ou do Ministério Público. Vale ressaltar,
contudo, uma exceção: se o credor dos alimentos (autor da ação) for menor emancipado, possuir capacidade processual plena
e optar livremente por ajuizar a demanda somente em face do genitor, não pode o réu provocar o chamamento ao processo
da genitora do autor (codevedora). Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena capacidade processual, cabe
exclusivamente a ele provocar a integração posterior no polo passivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.715.438-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

@dicasexconcurseira 186
Sujeitos de alimentos

CC, Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos (OS ALIMENTOS SÃO
RECÍPROCOS) de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.

Os alimentos são regidos por regras diferentes quando exigidos entre cônjuges e companheiros, ou entre parentes.

a. Cônjuges e companheiros

Na constância do casamento/união estável, não há obrigação alimentícia, pois o que existe é o dever de assistência
recíproca (art.1566 - casamento; art.1724 - união estável), onde cada um deve contribuir proporcionalmente com seus ganhos
às despesas domesticas, independentemente do regime de bens.
Os alimentos só são devidos após a ruptura da convivência.
A pensão alimentícia independe do regime de bens.
O STJ diz que a regra é que, finda a relação de casamento ou união estável, haverá efeitos danosos para ambos os
cônjuges. Nessa perspectiva, o STJ fixou que a regra geral são os alimentos transitórios (REsp, 1.188.399/PB).
A constituição de uma nova família pelo credor de alimentos extingue a obrigação alimentícia; e, a constituição de uma
nova família pelo devedor de alimentos permite a revisão de alimentos (pois, neste caso, ele assumiu novas despesas).

CC, Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de prestar alimentos.
Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao
devedor.

CC, Art. 1.709. O novo casamento do cônjuge devedor NÃO extingue a obrigação constante da sentença de divórcio (MAS PODE
DAR ENSEJO À AÇÕA REVISIONAL).

Nos alimentos devidos entre cônjuges e companheiros, é possível a discussão da culpa. E, se provada a culpa, os
alimentos devidos serão apenas para a sobrevivência.
Todas essas regras de alimentos entre cônjuges e companheiros também se aplicam às uniões homoafetivas.

DE OLHO NA JURIS! Somente incidirá correção monetária para atualização do valor da pensão alimentícia combinada no acordo
se isso estiver expressamente previsto no pacto
O acordo que estabelece a obrigação alimentar entre ex-cônjuges possui natureza consensual e, portanto, a incidência de
correção monetária para atualização da obrigação ao longo do tempo deve estar expressamente prevista no contrato. Os
alimentos acordados voluntariamente entre ex-cônjuges, por se encontrarem na esfera de sua estrita disponibilidade, devem ser
considerados como verdadeiro contrato, cuja validade e eficácia dependem exclusivamente da higidez da manifestação de
vontade das partes apostas no acordo. Não confundir: • acordo de alimentos entre ex-cônjuges não prevê atualização
monetária da pensão alimentícia ao longo do tempo: o valor da obrigação se mantém pelo valor histórico (valor original). •
decisão judicial não prevê atualização monetária da pensão alimentícia: mesmo assim a prestação deverá ser corrigida,
atualizando-se o valor historicamente fixado. Observação: a correção monetária explicada acima diz respeito à atualização da
obrigação original fixada no contrato e paga na data do vencimento. Não se estava tratando sobre correção monetária de
parcelas pagas em atraso. Mesmo que o contrato não preveja, haverá incidência de correção monetária caso o alimentante
pague a pensão alimentícia após a data do vencimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1705669-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 12/02/2019 (Info 642).

b. Parentes

Lista dos parentes que podem pleitear alimentos:


CC, Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes,
aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

1º - devido pelos ascendentes, sem limites;


2º - devido pelos descendentes, sem limites;
3º - devido pelos irmãos, bilaterais ou unilateriais.

Esta obrigação é subsidiaria e proporcional.


Estão fora da obrigação alimentícia os colaterais de 3º e 4º grau e os parentes por afinidade.
@dicasexconcurseira 187
Maria Berenice Dias: há um equívoco conceitual. É que, em relação aos colaterais de 3º e 4º grau, o art.1829, CC
estabelece que, se uma pessoa falecer sem deixar parentes mais próximos, os colaterais de 3º e 4º grau recolhem a herança.
Desta forma, essa regra viola a reciprocidade: para este parente é até melhor não prestar alimentos ao primo, porque aí ele
morre de fome e você recolhe a herança. Assim, os colaterais de 3º e 4º grau deveriam ser excluídos do rol de herança ou
incluídos entre os obrigados de prestar alimentos.
Se os alimentos forem devidos por pais em relação aos filhos que estejam sob o exercício do poder familiar, há uma
presunção relativa de necessidade. Alcançada a maioridade, não cessa obrigatoriamente a obrigação alimentar, cessa apenas a
presunção de necessidade dos alimentos.

Súmula 358, STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial,
mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

STJ: não faz jus aos alimentos o filho que está em pós-graduação. Somente a graduação permite os alimentos.
Possibilidade de alimentos na filiação socioafetiva.
Eventual inadimplemento de alimentos pelo genitor não gera a cessação do direito de visitas.
O ECA, em seu art.33, prevê que, na guarda (também se aplica à tutela), o guardião assume obrigação material,
portanto, podem ser obrigados a prestar alimentos.

Alimentos para o nascituro (alimentos gravídicos - Lei 11.804/08)

São devidos em favor da gestante ou em favor do nascituro? Quem é o credor desses alimentos gravídicos? Pelo art.1º,
é a mulher gestante.

Art.1º Esta Lei disciplina o direito de alimentos da mulher gestante e a forma como será exercido.

Entretanto, o parágrafo único do art.6º diz que os alimentos gravídicos se convertem automaticamente em pensão
alimentícia para o menor. Isso significa que não é necessário requerimento, nem decisão judicial. E isso significa que os
alimentos foram concedidos para o menor, e não para a gestantes. A jurisprudência tem aceitado a ação em nome da gestante
ou em nome do nascituro.

Art. 6º Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento
da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré.
Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do
menor até que uma das partes solicite a sua revisão.

- Fixados com base em mero indícios de paternidade;


- Devidos desde a concepção (a regra geral é que os alimentos são devidos desde a citação);
- Irrepetíveis;
- Conversão automática em pensão alimentícia, se não houver impugnação quando do nascimento.
- Petição inicial; despacho de liminar; audiência de conciliação; não havendo acordo, o juiz abre o prazo de 5 dias para
contestação.

DE OLHO NA JURIS! - Ação de alimentos gravídicos não se extingue ou perde seu objeto com o nascimento da criança
A ação de alimentos gravídicos não se extingue ou perde seu objeto com o nascimento da criança, pois os referidos alimentos
ficam convertidos em pensão alimentícia até eventual ação revisional em que se solicite a exoneração, redução ou majoração de
seu valor ou até mesmo eventual resultado em ação de investigação ou negatória de paternidade. STJ. 3ª Turma. REsp 1629423-
SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/6/2017 (Info 606).

Fixação e regra de equidade (art.1694, CC)

CC, Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver
de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Trinômio: capacidade contributiva do devedor x necessidade de credor x proporcionalidade.


Há a possibilidade de fixação de percentuais distintos de pensão para os filhos, no caso, por exemplo, de necessidades
diferentes dos filhos.

@dicasexconcurseira 188
DE OLHO NA JURIS! É possível a fixação de alimentos em valores ou em percentuais diferentes entre os filhos?
Em regra, não deverá haver diferença no valor ou no percentual dos alimentos destinados a prole, pois se presume que, em
tese, os filhos - indistintamente - possuem as mesmas demandas vitais, tenham as mesmas condições dignas de sobrevivência e
igual acesso às necessidades mais elementares da pessoa humana. A igualdade entre os filhos, todavia, não tem natureza
absoluta e inflexível, de modo que é admissível a fixação de alimentos em valor ou percentual distinto entre os filhos se
demonstrada a existência de necessidades diferenciadas entre eles ou, ainda, de capacidades contributivas diferenciadas dos
genitores. Exemplo: João possui dois filhos, com mulheres diferentes. Para o filho 1, paga 20% de seu salário e para o filho 2,
15%. O STJ admitiu que essas pensões sejam em valores diferentes porque a capacidade financeira da mãe do filho 2 é muito
maior do que a genitora do filho 1. STJ. 3ª Turma. REsp 1624050/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/06/2018 (Info
628).

STJ: o cálculo da pensão alimentícia deve incidir sobre o 13º salário, sobre as férias e sobre as horas-extras. O
entendimento atual é o de que os alimentos não incidem sobre o saldo FGTS.
Se o devedor de alimentos é assalariado, a pensão alimentícia será facilmente descontada. Difícil é descontar a pensão
alimentícia quando o devedor é profissional liberal ou empresário, por exemplo. Por isso, vem se admitindo o uso da teoria da
aparência, de ofício ou a requerimento.
Em razão dessa dificuldade em fixar o valor dos alimentos e acertar a capacidade contributiva de certos devedores,
permite ao juiz levar em conta os sinais externos de riqueza, com base na teoria da aparência.
Além dos sinais externos de riqueza, também é possível ao juiz, nas ações de alimentos, para a fixação da pensão,
utilizar a desconsideração inversa da personalidade jurídica (art.133, §2º, NCPC), submetida aos requisitos do art.50, CC - abuso
da personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial. Arts.133 - 138, NCPC: incidente processual
de desconsideração da personalidade jurídica. O juiz não pode decretar a desconsideração de ofício. Requerimento do
interessado + formação do contraditório + produção de provas + decisão + recurso de agravo.

CC, Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial,
pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa
jurídica.

Ação de alimentos (procedimento extra CPC - exceção ao parágrafo único do art.693, NCPC)

É um procedimento especial previsto na Lei 5478/68. É um procedimento mais célere, concentrado. Este procedimento
também se aplica às ações de oferta e de revisão de alimentos (arts.13 e 24, da Lei 5478/68). À ação de exoneração não se
aplica este procedimento, mas sim o procedimento comum da vara de família.

Procedimento especial (abreviado) da ação de alimentos (Lei 5478/68)

Petição inicial (possibilidade de ajuizamento sem advogado). A parte comparece ao cartório judiciário, relatar ao
escrivão o seu caso e este reduz a termo a petição, para que o juiz despache logo os alimentos provisórios.

Despacho inicial, com fixação de alimentos provisórios (independente de pedido expresso) e determinação de
citação para audiência - art.5º, Lei de Alimentos. O juiz só não fixará os alimentos provisórios se a parte disser
expressamente que não necessita destes alimentos.

Audiência única (conciliação, instrução e julgamento). A ausência do réu gera revelia; ausência do autor gera
arquivamento) - art.7º, Lei de Alimentos. Jurisprudência: possibilidade da cisão em situações especiais.

Parecer do MP (não vinculado aos interesses do incapaz), se houver incapaz. Art.698, NCPC. STJ, REsp 135.744/SP.

Sentença (retroação dos efeitos até a data da citação - art.13, Lei de Alimentos)

Recurso no efeito meramente devolutivo (permitindo execução imediata - execução definitiva, por força da
natureza irrepetível). Exceto na ação de exoneração (nesta ação, o recurso é recebido no duplo efeito, para impedir
a interrupção dos alimentos) - STJ, AgRgREsp 332.897/SP

@dicasexconcurseira 189
Formação de coisa julgada material com cláusula rebus sic stantibus (possibilidade de ajuizamento de nova
demanda)

Aplicação do procedimento às ações de oferta e de revisão de alimentos

Legitimidade do MP (art.201, ECA) em favor de criança ou adolescente, independente de existência de Defensoria


Pública na comarca - STJ, REsp 1.113.590/MG
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar,
nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da
competência da Justiça da Infância e da Juventude;

DE OLHO NA JURIS! Legitimidade do Ministério Público para a ação de alimentos


Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou
adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações de
risco descritas no artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da
existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017.

A execução de alimentos

Submete-se a um duplo procedimento. Se o título é extrajudicial (escritura pública de divórcio ou de dissolução de


união estável; acordo de alimentos referendados pelo MP, pela DP ou advogados das partes) ou se o titulo é judicial (decisão
interlocutória de alimentos provisórios, de transitórios, de provisionais ou de sentença)… Se o titulo for extrajudicial, o
procedimento é o dos arts.911-913, NCPC; se o título é judicial, o procedimento é o dos arts.528-533, NCPC.
Em ambas as hipóteses o autor requerer a citação do réu e escolhe o procedimento que deseja, no seguinte sentido:
escolhe entre prisão civil, penhora de bens e desconto em folha.
Se for com base em título extrajudicial, a execução de alimento é tecnicamente uma execução; se com base em título
judicial, a execução é tecnicamente um cumprimento de sentença.
Em relação ao desconto de folha, este pode se dar tanto em relação à divida vencida, quanto vincenda (art.529, NCPC).
Em relação à divida vencida e vincenda, no limite de 50% dos ganhos líquidos.
Se optar pela prisão, mesmo que se trata de título extrajudicial, se dará pelo prazo de 1 a 3 anos, em relação aos 3
meses anteriores à propositura da ação e as dividas que se vencerem ao longo do processo. Se o devedor paga a divida, o
devedor será imediatamente posto em liberdade. Se o devedor cumprir a prisão e não pagou, a divida continuara sendo
executada por penhora ou desconto em folha. Não se permite dois mandados de prisão pelo mesmo período de divida.
Por ter natureza coercitiva, esta prisão será cumprida em regime fechado, mas separados dos presos comuns. O juiz
não pode fixar a prisão de ofício, pois o procedimento é feito à escolha do credor. Contra a decisão que defere a prisão, cabe
agravo e pode, ainda, caber HC.
O credor pode requerer a inserção do nome do devedor nos cadastros de inadimplentes e o protesto em cartório.

DE OLHO NA JURIS! É admissível o uso da técnica executiva de desconto em folha de dívida de natureza alimentar ainda que
haja anterior penhora de bens do devedor
É admissível o uso da técnica executiva de desconto em folha de dívida de natureza alimentar ainda que haja anterior penhora de
bens do devedor. STJ. 3ª Turma. REsp 1733697-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018 (Info 640).

IMPORTANTE A LEITURA DOS ARTIGOS DO CPC/15 SOBRE A EXECUÇÃO DOS ALIMENTOS COLACIONADOS AO FINAL DESTE
CAPÍTULO!

DEMAIS JURISPRUDÊNCIAS SOBRE ALIMENTOS


Penhora de valores em conta de FGTS para pagamento de alimentos
É possível a penhora de valores de conta vinculada do FGTS para garantir o pagamento da obrigação de alimentos. STJ. 3ª
Turma. RMS 35826-SP, Relª Minª Nancy Andrighi, julgado em 10/4/2012. STJ. 3ª Turma. AREsp 1.296.846-SP, Relª Minª Nancy
Andrighi, julgado em 13/08/2018.

Não cabe embargos de terceiro para rediscutir sentença de exoneração de alimentos que não garante à ex-esposa o direito de
acrescer
Os embargos de terceiro não são cabíveis para o fim de declarar, em sede de ação de exoneração de alimentos, a natureza
familiar da prestação alimentícia, de forma a alterar a relação jurídica posta e discutida na demanda principal. Ex: João e Maria,

@dicasexconcurseira 190
ao se divorciarem, firmaram um acordo por meio do qual João iria pagar 30% de seu salário, a título de alimentos, para Maria e
o filho do casal (Vitor). Quando Vitor completou a maioridade, João propôs ação de exoneração de alimentos contra ele. O juiz
deferiu o pedido e determinou que os descontos fossem reduzidos pela metade (15%),já que Vitor não seria mais credor de
alimentos. Maria opôs embargos de terceiro contra essa decisão, tendo o STJ considerado um instrumento jurídico inadequado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1560093-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 18/09/2018 (Info 634).

O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos lucros e resultados deve ser incorporado à prestação
alimentar devida?
Os valores recebidos a título de “participação nos lucros e resultados” são incluídos no percentual que é devido a título de
pensão alimentícia? Em suma, toda vez que o devedor receber participação nos lucros e resultados, o valor da pensão deverá
ser, automaticamente, pago a mais?
1ª corrente: NÃO. Os valores recebidos a título de participação nos lucros e resultados não se incorporam à verba alimentar
devida ao menor. É a posição da 3ª Turma do STJ. REsp 1.465.679-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/11/2017 (Info
615).
2ª corrente: SIM.As parcelas percebidas a título de participação nos lucros configuram rendimento, devendo integrar a base de
cálculo da pensão fixada em percentual, uma vez que o conceito de rendimentos é amplo, especialmente para fins de cálculo de
alimentos. É a corrente adotada pela 4ª Turma do STJ. AgInt no AREsp 1070204/SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
19/09/2017. STJ. 4ª Turma. REsp 1561097-RJ, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região), Rel.
Acd. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/02/2018 (Info 620).

Verbas eventuais recebidas pelo devedor e reflexo no valor da pensão alimentícia


As verbas de caráter eventual (ex: horas extras) influenciam no valor da obrigação, aumentando o quantum da pensão
alimentícia nos meses em que o devedor receber parcelas extras? Em suma, toda vez que o devedor receber mais (por qualquer
motivo), o valor da pensão deverá ser, automaticamente, pago a mais? 1ª corrente: NÃO. STJ. 3ª Turma. REsp 1261247-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2013 (Info 519). 2ª corrente: SIM. STJ. 4ª Turma. REsp 1332808-SC, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info 553).

Auxílio-acidente, cesta-alimentação e vale-alimentação


Os alimentos incidem sobre verbas pagas em caráter habitual, aquelas incluídas permanentemente no salário do empregado. A
verba alimentar incide, portanto, sobre vencimentos, salários ou proventos, valores auferidos pelo devedor no desempenho de
sua função ou de suas atividades empregatícias, decorrentes dos rendimentos ordinários do devedor. As parcelas denominadas
auxílio-acidente, cesta-alimentação e vale-alimentação, que tem natureza indenizatória, estão excluídas do desconto para fins
de pensão alimentícia porquanto são verbas transitórias. STJ. 3ª Turma. REsp 1159408-PB, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 7/11/2013 (Info 533).

Alimentos arbitrados em valor fixo não variam se houver recebimento de verbas eventuais pelo devedor
O 13º salário, a participação nos lucros e outras gratificações extras (eventuais) não compõem a base de cálculo da pensão
alimentícia quando esta é estabelecida em valor fixo, salvo se houver disposição transacional ou judicial em sentido contrário.
No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo (ex: 10 mil reais, 5 salários-mínimos etc.), o
alimentando não tem direito a receber, com base naquele título judicial, quaisquer acréscimos decorrentes de verbas
trabalhistas percebidas pelo alimentante e ali não previstos. Assim, o credor não terá direito a qualquer acréscimo no valor da
pensão quando o devedor receber no mês um abono, comissão por produtividade, 13º salário, participação nos lucros etc. STJ.
4ª Turma. REsp 1091095-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/4/2013 (Info 519). STJ. 4 ª Turma. REsp 1.332.808-SC,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/02/2015.

Possibilidade de converter a execução sob o rito da prisão civil promovida em desfavor dos avós em execução para penhora e
expropriação de bens
Havendo meios executivos mais adequados e igualmente eficazes para a satisfação da dívida alimentar dos avós, é admissível a
conversão da execução para o rito da penhora e da expropriação, a fim de afastar o decreto prisional em desfavor dos
executados. STJ. 3ª Turma.HC 416886-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/12/2017 (Info 617).

O simples fato de o executado ter proposto ação de exoneração de alimentos, não impede que ele seja preso
A superveniente propositura de ação de exoneração de alimentos não torna ilegal o decreto de prisão fundado em anterior
inadimplemento da obrigação alimentar e não obsta o prosseguimento da execução. STJ. 3ª Turma. RHC 79.070/DF, Rel. Min.
Moura Ribeiro, julgado em 21/02/2017.

@dicasexconcurseira 191
As decisões e sentenças nas ações de alimentos devem ser líquidas
Não é possível, em tutela antecipada deferida na ação revisional de alimentos, a alteração de valor fixo de pensão alimentícia
para um valor ilíquido, correspondente a percentual de rendimentos que virão a ser apurados no curso do processo. STJ. 3ª
Turma. REsp 1442975-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 27/6/2017 (Info 608)

Termo inicial do prazo prescricional para cumprimento de sentença de alimentos


O prazo prescricional para o cumprimento de sentença que condenou ao pagamento de verba alimentícia retroativa se inicia tão
somente com o trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade. STJ. 3ª Turma.REsp 1634063-AC, Rel. Min. Moura
Ribeiro, julgado em 20/6/2017 (Info 607).

Se o filho é maior de 18 anos, mas apresenta doença mental incapacitante, seus pais têm dever de prestar alimentos, sendo a
necessidade presumida
É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de doença mental incapacitante, devendo ser suprida nos
mesmos moldes dos alimentos prestados em razão do poder familiar, independentemente da maioridade civil do alimentado.
STJ. 3ª Turma.REsp 1642323-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Fundamento:
Pais têm obrigação de prestar alimentos.
Filho até 18 anos Poder familiar
A necessidade do filho é presumida.
(art. 1.566, IV)
Como regra, os pais não têm obrigação de prestar alimentos. Fundamento:
Filho maior de 18 anos O filho poderá provar que necessita dos alimentos (ex: motivo Parentesco
de doença). (art. 1.694)
Filho maior de 18 e menor Pais continuam tendo a obrigação de prestar alimentos.
Fundamento:
de 24 anos, se estiver A necessidade do filho é presumida.
Parentesco
fazendo curso superior ou Como o filho está estudando, a jurisprudência considera que
(art. 1.694)
técnico. existe uma presunção de que ele necessita dos alimentos.
Filho maior de 18 e menor
Como regra, os pais não têm obrigação de prestar alimentos. Fundamento:
de 24 anos, se estiver
O filho poderá provar que necessita dos alimentos (ex: motivo Parentesco
cursando especialização,
de doença). (art. 1.694)
mestrado ou doutorado.
Pais continuam tendo a obrigação de prestar alimentos.
Filho maior de 18 anos que Fundamento:
A necessidade do alimentado se presume, e deve ser suprida nos
apresenta doença mental Parentesco
mesmos moldes dos alimentos prestados em razão do poder
incapacitante. (art. 1.694)
familiar.

Não é indispensável a presença do advogado no acordo de alimentos


É válido o acordo de alimentos celebrado pelos interessados na presença do magistrado e do Ministério Público, mas sem a
participação do advogado do alimentante capaz. A Lei de Alimentos (Lei nº 5.478/68) não exige a presença de advogado na
audiência de conciliação. STJ. 3ª Turma. REsp 1584503-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/4/2016 (Info 582).

Foro competente para ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos


Súmula 1-STJ: O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade,
quando cumulada com a de alimentos.

CAPÍTULO IV
DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS
(título executivo JUDICIAL)

Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que
fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o
débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.
§1º Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento, não prove que o efetuou ou não apresente
justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o
disposto no art. 517.
§2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o inadimplemento.

@dicasexconcurseira 192
§3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar protestar o
pronunciamento judicial na forma do § 1o, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.
§4º A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado dos presos comuns.
§5º O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e vincendas.
§6º Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão.
§7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.
§8º O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde logo, nos termos do disposto neste
Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a penhora em dinheiro, a
concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante mensalmente a importância da prestação.
§9º Além das opções previstas no art. 516, parágrafo único, o exequente pode promover o cumprimento da sentença ou decisão
que condena ao pagamento de prestação alimentícia no juízo de seu domicílio.

DE OLHO NA JURIS! O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e
que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial
A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver
controvérsias relacionadas a obrigações de natureza alimentar. STJ. 4ª Turma. HC 439973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

O devedor de alimentos, executado sob a ameaça de prisão, pode comprovar a impossibilidade de pagamento por meio de
testemunhas?
Na execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC/1973 (art. 528 do CPC/2015), o executado é intimado pessoalmente para,
em 3 dias: a) pagar o débito; b) provar que o fez (provar que já pagou a dívida); ou c) justificar a impossibilidade de efetuá-lo
(provar que não tem condições de pagar). É possível que o devedor justifique a impossibilidade de pagar por meio de
testemunhas? SIM. Em tese, é possível que isso seja feito por meio de prova testemunhal. Neste caso, as testemunhas terão que
ser ouvidas obrigatoriamente no prazo de 3 dias. Na execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC/1973 (art. 528 do
CPC/2015), o executado pode comprovar a impossibilidade de pagamento por meio de prova testemunhal, desde que a oitiva
ocorra no tríduo previsto para a justificação. STJ. 3ª Turma. REsp 1601338-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/12/2016 (Info 599).

Art. 529. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação
do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento da importância da prestação alimentícia.
§1º Ao proferir a decisão, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena de crime de
desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do ofício.
§2º O ofício conterá o nome e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do exequente e do executado, a importância
a ser descontada mensalmente, o tempo de sua duração e a conta na qual deve ser feito o depósito.
§3º Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de execução pode ser descontado dos rendimentos ou
rendas do executado, de forma parcelada, nos termos do caput deste artigo, contanto que, somado à parcela devida, não
ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos líquidos.

Art. 530. Não cumprida a obrigação, observar-se-á o disposto nos arts. 831 e seguintes.

Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios.
§1º A execução dos alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em sentença ainda não transitada em julgado, se
processa em autos apartados.
§2º O cumprimento definitivo da obrigação de prestar alimentos será processado nos mesmos autos em que tenha sido proferida
a sentença.

Art. 532. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso, dar ciência ao Ministério Público dos
indícios da prática do crime de abandono material.

Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do
exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.
§1 O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais sobre imóveis suscetíveis de alienação, títulos
da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do
executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação.

@dicasexconcurseira 193
§2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de
notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado
de imediato pelo juiz.
§3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou
aumento da prestação.
§4º A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo.
§5º Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias
prestadas.

CAPÍTULO VI
DA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS – título executivo EXTRAJUDICIAL

Art. 911. Na execução fundada em título executivo extrajudicial que contenha obrigação alimentar, o juiz mandará citar o
executado para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da execução e das que se vencerem no
seu curso, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.
Parágrafo único. Aplicam-se, no que couber, os §§ 2o a 7o do art. 528.

Art. 912. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como empregado sujeito à
legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento de pessoal da importância da prestação
alimentícia.
§1º Ao despachar a inicial, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena de crime de
desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do ofício.
§2º O ofício conterá os nomes e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do exequente e do executado, a
importância a ser descontada mensalmente, a conta na qual deve ser feito o depósito e, se for o caso, o tempo de sua duração.

Art. 913. Não requerida a execução nos termos deste Capítulo, observar-se-á o disposto no art. 824 e seguintes, com a ressalva
de que, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo aos embargos à execução não obsta a que o
exequente levante mensalmente a importância da prestação.

@dicasexconcurseira 194
Aula 13

DIREITO DAS SUCESSÕES (Parte I)

A sucessão enquanto fenômeno jurídico (sub + cedere)

“Sucessão" é uma expressão de origem latina, é a soma de outras duas palavras: sub + cedere = uns depois dos outros,
ou seja, substituir, ora o sujeito, ora o objeto de uma relação jurídica. O conceito de relação jurídica é composto por 3
elementos: sujeito, objeto e o vínculo jurídico. Destes 3 elementos, o vínculo jurídico não pode ser substituído, pois
corresponderia, em ultima análise, a uma mudança de categoria; seria mudar a essência, a natureza da relação. Se o vínculo de
uma relação de propriedade for alterado, a relação deixa de ser de propriedade e passa a ser de outro categoria. O vínculo não
pode ser modificado. Mas, é absolutamente possível alterar o sujeito e o objeto. A alteração do objeto é chamada de “sub-
rogação real”, ex: art.1719, CC.

Art. 1.719. Comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de família nas condições em que foi instituído, poderá o juiz, a
requerimento dos interessados, extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvidos o
instituidor e o Ministério Público.

É possível a inserção de clausulas restritivas em testamentos e doações (art.1911, CC). E o juiz pode substituir uma
clausula restritiva (art.1848, CC).

Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e
incomunicabilidade. à INALIENABILIDADE = IMPENHORALIDADE + INCOMUNICABILIDADE
Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de sua alienação, por conveniência econômica do donatário
ou do herdeiro, mediante autorização judicial, o produto da venda converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão as
restrições apostas aos primeiros.

DE OLHO NA JURIS! Possibilidade de cancelamento de cláusula de inalienabilidade instituída pelos pais em relação ao imóvel
doado aos filhos
É possível o cancelamento da cláusula de inalienabilidade de imóvel após a morte dos doadores se não houver justa causa para a
manutenção da restrição ao direito de propriedade. A doação do genitor para os filhos e a instituição de cláusula de
inalienabilidade, por representar adiantamento de legítima, deve ser interpretada na linha do que prescreve o art. 1. 848 do CC,
exigindo-se justa causa notadamente para a instituição da restrição ao direito de propriedade. Caso concreto: decidiu ser
possível o cancelamento da cláusula de inalienabilidade após a morte dos doadores, considerando que já se passou quase duas
décadas do ato de liberalidade e tendo em vista a ausência de justa causa para a manutenção da restrição. Não havendo justo
motivo para que se mantenha congelado o bem sob a propriedade dos donatários, todos maiores, que manifestam não possuir
interesse em manter sob o seu domínio o imóvel, há de se cancelar as cláusulas que o restrigem. STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.278-
PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/03/2019 (Info 646).

A aposição da cláusula de impenhorabilidade e/ou incomunicabilidade em ato de liberalidade não importa, automaticamente,
na cláusula de inalienabilidade
O art. 1.911 do Código Civil estabelece: Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade,
implica impenhorabilidade e incomunicabilidade. A interpretação deste art. 1.911 nos permite chegar a quatro conclusões:
a) há possibilidade de imposição autônoma das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, a critério
do doador/instituidor. Em outras palavras, o doador/instituidor pode impor só uma, só duas ou as três cláusulas.
b) uma vez aposto o gravame da inalienabilidade, pressupõe-se, ex vi lege (por força de lei), automaticamente, a
impenhorabilidade e a incomunicabilidade. Assim, se tiver sido imposta cláusula de inalienabilidade ao imóvel, isso significa que
ele, obrigatoriamente, será também impenhorável e incomunicável.
c) a inserção exclusiva da proibição de não penhorar e/ou não comunicar não gera a presunção da inalienabilidade. A aposição
da cláusula de impenhorabilidade e/ou incomunicabilidade em ato de liberalidade não importa, automaticamente, na cláusula
de inalienabilidade.
d) a instituição autônoma da impenhorabilidade, por si só, não pressupõe aincomunicabilidade e vice-versa. STJ. 4ª Turma. REsp
1155547-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/11/2018 (Info 637).

Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade,
impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.

@dicasexconcurseira 195
É possível substituir o sujeito da relação jurídica, por ato inter vivos ou causa mortis. Se por ato inter vivos, a
substituição é chamada de “sub-rogação pessoal”; ex: cessão de crédito (art.286, CC) - Art. 286. O credor pode ceder o seu
crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão
não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.

Se por ato causa mortis, a substituição é chamada de “sucessão hereditária”.

Substituição do objeto da relação jurídica Sub-rogação real

Substituição do sujeito da relação jurídica por ato inter Sub-rogação pessoal


vivos

Substituição do sujeito da relação jurídica por ato causa Direito das Sucessões
mortis

Objeto da sucessão hereditária (causa mortis): transmissão patrimonial

Só interessa ao direito das sucessões a morte do titular que deixou patrimônio. O estudo do direito das sucessões é a
transmissão das relações patrimoniais ativas e passivas de alguém que faleceu.
As relações passivas também se transmitem, no limite das forças da herança - o que se convencionou chamar de
"benefício de inventário”.

Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso,
salvo se houver inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados.

A herança é uma garantia constitucional - art.5º, XXX, CF/88.


Art.5º, XXX - é garantido o direito de herança;

É direito fundamental do herdeiro o recebimento da herança de seu parente morto.

Exceções à regra geral da transmissão das relações jurídicas patrimoniais

Direito autoral - Lei nº 9.610/98, art.41: o direito autoral é transmitido aos herdeiros do autor a partir de 1º de
janeiro do ano seguinte à morte do autor, pelo prazo de 70 anos. Findo o prazo de 70 anos, a obra cai no domínio
público. Na hipótese de coautoria, os 70 anos contam-se da morte do último coautor.

Usufruto, uso e habitação - art.1412, CC. São direitos reais na coisa alheia com conotação patrimonial, e intuito
personae. Portanto, a morte do titular extingue a relação jurídica.

Enfiteuse - art.692, III, CC/16. Não se transmite a enfiteuse quando o enfiteuta não deixar sucessor (seguirá ao
Poder Público). Se deixar sucessor, se transmitirá.

Alvará judicial - Lei 6.858/80 + art.666, NCPC.

NCPC, Art. 666. Independerá de inventário ou de arrolamento o pagamento dos valores previstos na Lei nº 6.858, de 24 de
novembro de 1980. à ALVARÁ JUDICIAL

A lei 6858/80 permite a entrega de pequenos valores por meio de alvará judicial. Alvará judicial é procedimento de
jurisdição voluntária de competência da vara sucessória. Como todo procedimento de jurisdição voluntária, admite julgamento
por equidade. Para a concessão do alvará, a lei exige que o falecido não tenha deixado bens a partilhar e que o falecido só tenha
deixado resíduos pecuniários, no limite de 500 OTN’s (unidade fiscal que não existe mais; cálculos do TJ/SP dizem que 500 OTN’s
valem entre 25 e 30 mil reais). Resíduo pecuniário: FGTS, restituição de IR, saldos bancários, etc. Na maioria dos estados, o
alvará judicial é isento de tributação. O alvará é um procedimento simplificado de recebimento de valores, independentemente
de inventário.

@dicasexconcurseira 196
O Direito das Sucessões

Conjunto de regras e princípios que disciplinam a transmissão das relações jurídicas patrimoniais, ativas e passivas, de
alguém que faleceu para os sucessores.

Terminologia essenciais

- Autor da herança ou de cujus


Expressão completa é “de cujos sucessionis agitue” (aquele de que se trata a herança).

- Sucessor: herdeiro ou legatário


Sucessor é aquele que vai ser convocado pelo sistema e que dará continuidade às relações patrimoniais do de cujus.
Herdeiros são aqueles que sucedem a título universal. O herdeiro tem sempre percentual da herança.
Legatário é aquele que sucede a título singular.

- Herdeiro legítimo (necessário ou facultativo) e herdeiro testamentário

Herdeiro legítimo é aquele que está previsto em lei, convocado por força de lei.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor
da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

DECLARADO INCONSTITUCIONAL PELO STF!


Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

Herdeiro testamentário é aquele que decorre da vontade do autor da herança.

OBS: Qual é a diferença entre legatário e herdeiro testamentário? Legatário é nomeado por testamento, mas recebe um bem
singularmente compreendido (ex: para receber a casa, o carro, o terreno). O herdeiro testamentário é beneficiado por
declaração de ultima vontade também, mas sucede a título universal; ex: será beneficiado por 10%, 20% da herança. Ambos são
beneficiados pelo mesmo instrumento, mas exercem direitos distintos: o legatário recebe um bem singularmente compreendido
e o herdeiro testamentário recebendo uma cota parte/uma fração ideal.

O herdeiro legitimo pode ser:


i. Herdeiro legitimo necessário: sua participação na sucessão é obrigatória, por força de lei. Não pode ser excluído da
sucessão. Ao herdeiro necessário o ordenamento estabelece uma parte mínima da herança, chamada de “legítima" (metade dos
bens da herança) - art.1846, CC.

Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.

O titular só pode dispor, por testamento ou doação, de metade do seu patrimônio, pois a outra metade compõe a
legítima.

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

Estes herdeiros necessários fazem jus à legítima. Portanto, esses herdeiros limitam o direito de disposição patrimonial
do titular. Detalhe: o companheiro não é herdeiro necessário, pois a lei não o inclui no art.1845. Cristiano Chaves: promovendo
interpretação conforme a CF, se o cônjuge é herdeiro necessário, o companheiro também deve ser.
@dicasexconcurseira 197
ii. Herdeiro legítimo facultativo: podem ser afastados da sucessão pela vontade do autor da herança. São dois: o
companheiro e os colaterais. Havendo apenas herdeiros legítimos facultativos, o autor da herança pode dispor de toda a sua
herança como bem quiser.

- Herdeiro universal

É o herdeiro único. Ex: filho único de pessoa viúva, que irá herdar tudo sozinho.
Pegadinha: no caso do herdeiro universal, não haverá partilha, mas sim adjudicação.

necessário
Legítimo Testamentário
(lei) (vontade) Sucede a título universal. Ex: será beneficiado com 20% da herança.
facultativo

HERDEIRO Sucede a título universal. Tem percentual.

SUCESSOR
LEGATÁRIO Sucede a título singular. Recebe um bem específico. É nomeado em testamento.

- Herança e espólio. O espólio e a transmissão automática de posse. O inventariante e o administrador provisório (STJ, REsp
777.566/RS)

A herança é o conjunto de relações jurídicas patrimoniais deixadas pelo falecido. Este conjunto de relações jurídicas
patrimoniais é universal, imóvel e indivisível, ainda que composta exclusivamente por bens singulares, móveis e divisíveis. Entre
os herdeiros, forma-se um condomínio e uma composse, que serão mantidos até que se dê a partilha. Todos serão possuidores
e proprietários do todo. Se o herdeiro qiser alienar o seu quinhão durante a sucessão, precisará de consentimento de sua
esposa, pois a herança é bem imóvel (salvo se casado no regime da separação absoluta de bens) e precisará ofertar o direito de
preferência aos co-herdeiros (pois a herança é condomínio).
Se uma pessoa falece, automaticamente se forma a herança.
Se eu quero demandar um crédito de alguém que já faleceu, terei que entrar com uma ação contra o espólio. O espólio
é um ente despersonalizado que representa a herança, em juízo e fora dele, e é representado pelo inventariante. Enquanto não
houver nomeação de inventariante, quem representa o espólio é o administrador provisório (que é aquele que estiver na
posse).
A herança é um bem jurídico representado pelo espólio; o espólio, por sua vez, é representado pelo inventariante (ou
administrador provisório).
Se o inventariante for dativo (alguém de confiança do juiz) ou judicial (servidor da justiça), será que vai ter interesse
prático em manter o espólio? Não, pois ele não tem interesse na herança. Por isso, o NCPC diz que se o inventariante for dativo
ou judicial, exige-se a citação de todos os herdeiros e legatários interessados, para que cada um possa exercer a defesa de seus
interesses. Trata-se de litisconsórcio passivo necessário.

NCPC, art.75, §1º Quando o inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o espólio
seja parte.

E se a ação que se pretende propor contra alguém que ja faleceu se tratar de direito existencial…? Contra quem se
dirige essa ação? Exs: investigação de paternidade post mortem (quero que se reconheça o falecido como meu pai), adoção
póstuma/adoção post mortem. O espólio é parte ilegítima para as demandas de conteúdo existencial, porque o espolio
representa apenas a herança, que se refere a direitos patrimoniais. Neste caso, a ação que discuta interesses existenciais deve
ser dirigida contra os herdeiros do falecido.

DEMANDAR DIREITO EXISTENCIAL QUE POSSUÍA FRENTE AO AUTOR DA HERANÇA à AÇÃO CONTRA OS HERDEIROS.

Inventário é procedimento de jurisdição contenciosa, por meio do qual será apurada a extensão da herança, para que
esta seja dividida entre os herdeiros. O inventario é procedimento bifásico/escalonado: na primeira fase, serão levantados os
bens deixados; e, na segunda fase (partilha), o patrimônio será dividido entre os herdeiros. O inventario é um procedimento

@dicasexconcurseira 198
obrigatório, que pode ser feito em cartório (art.610, NCPC), desde que não haja interesses de incapazes e testamento, e que as
partes estejam assistidas por advogado.

Procedimento
obrigatório

1ª Fase Levantamento dos bens deixados


PROCEDIMENTO
INVENTÁRIO
BIFÁSICO/ESCALONADO
2ª Fase Patrimônio dividido entre os herdeiros (partilha)

Não houver interesse de incapaz


Pode ocorrer
em cartório se Não houver testamento

As partes estiverem assistidas por advogados

NCPC, Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.
§1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá
documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições
financeiras.

Os estados-membros podem estipular multas tributárias se os herdeiros não abrirem o inventário no prazo estipulado
em lei.

DE OLHO NA JURIS! Pedido de abertura de inventário com a regularização processual por meio de nomeação de advogado
implica aceitação tácita da herança
O pedido de abertura de inventário e o arrolamento de bens, com a regularização processual por meio de nomeação de advogado,
implicam a aceitação tácita da herança. Assim, se depois de constituir advogado e pedir a abertura de inventário, a pessoa morre,
os herdeiros desta não poderão renunciar à herança porque já houve aceitação tácita. A aceitação da herança (expressa ou tácita)
torna definitiva a qualidade de herdeiro, constituindo ato irrevogável e irretratável. STJ. 3ª Turma. REsp 1622331-SP, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/11/2016 (Info 593).

Aula 14

A SUCESSÃO EM GERAL - PARTE I

O droit de saisine (art.1784, CC) e a transmissão automática. Aplicação do CC somente às sucessões abertas depois de
11.01.2003.

CC, Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. à não inclui os
legatários; estes só participam da herança no momento da partilha. Caso o bem que será seu não estiver sendo bem cuidado, o
legatário pode requerer ao juiz medidas de urgência (tutela antecipada ou cautelar). O juiz só antecipará o legado se o legatário
prestar garantia idônea, real ou fidejussória, chamada de caução muciana. Também não é beneficiado pela transmissão
automática da regra da saisine a Fazenda Pública. Isso porque a Fazenda Pública não é herdeira; ela só recebe na ausência de
herdeiros, através de um procedimento de jurisdição voluntária chama de “herança jacente e vacante”, que é procedimento
bifásico. A primeira fase é a de jacência, onde se constata a inexistência de herdeiros; na segunda fase, temos a fase de vacância,
onde se transfere o patrimônio à Fazenda Pública. Enquanto não for proferida a sentença de vacância, é possível a usucapião
dos bens, uma vez que tais bens ainda não podem ser considerados públicos.

Súmula 112, STF: O imposto de transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão.

Droit de saisine é a transmissão automática da herança do de cujus.

@dicasexconcurseira 199
Efeitos jurídicos decorrentes da saisine (art.1784, CC)

Efeito principal: transmissão automática das relações patrimoniais ativas e passivas

Efeitos acessórios (anexos):


- Fixação da norma jurídica sucessória*
- Averiguação da capacidade sucessória: tecnicamente, não se trata de “capacidade”, mas, sim, de “legitimidade" -
art.1798, CC. **
- Fixação do lugar da sucessão

* Ex: o CC entrou em vigor em 11.01.2003. Mas, certamente, alguém falece em dezembro de 2002. Esta pessoa que faleceu em
2002 terá sua sucessão disciplinada pelo CC/16, ainda que o inventário tenha sido aberto na égide do CC/02. Ex da aplicação
dessa regra: Súmula 112, STF.

** CC, Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
** Pessoa concebida. Doutrina majoritária: inclui os embriões laboratoriais. Evidentemente, ele precisa ser implantado, nascer
com vida e reclamar sua herança, em até 10 anos.

Se um co-herdeiro estabelecer a posse de um bem, poderá usucapi-lo? Não, porque a composse impede a usucapião.
Cada um dos herdeiros exerce a posse sobre o todo. Todavia, o STJ vem reconhecendo uma exceção (REsp 10.978/RJ): se um
compossuidor/co-herdeiro estabelecer posse com exclusividade, afastando os demais, será possível a usucapião.

Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.

NCPC, Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação,
o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em
que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.

Competência exclusiva da justiça brasileira:

NCPC, Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, COM EXCLUSÃO DE QUALQUER OUTRA:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados NO Brasil;
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens
situados NO Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território
nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados NO Brasil, ainda que o
titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

OBS: o juiz brasileiro, julgando esse inventário (competência exclusiva da autoridade brasileira), pode aplicar a lei estrangeira, se
for mais favorável aos herdeiros (lei sucessória mais favorável - art.10, LINDB: em favor do herdeiro brasileiro, aplica-se sempre
a lei sucessória mais favorável).

NCPC, Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência,
se assim o juiz determinar. à cabe ao interessado provar qual é a lei sucessória mais favorável.

Estas regras são de competência RELATIVA e, portanto, o juiz não pode conhece-la de ofício (Súmula 33, STJ). Porém, o
MP, atuando como fiscal da ordem jurídica, pode arguir incompetência relativa (art.65, p.u., NCPC).

@dicasexconcurseira 200
Capacidade sucessória (art.1799, CC)

Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:


I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoaS indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; à prole
eventual/concepturo. à há o prazo de 2 anos para conceber, a contar da morte.

Art.1800, §4º Se, decorridos 2 anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os
bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos.

II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação.

Capacidade sucessória (art.1798-9, CC)

As pessoas nascidas ou concebidas à qualquer tipo de sucessão (legítima ou testamentária)

A prole eventual/concepturo à sucessão testamentária

As pessoas jurídicas à sucessão testamentária

As pessoas jurídicas a serem constituídas com a herança transmitida (fundações) à sucessão testamentária

CC, Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: à INCAPACIDADE SUCESSÓRIA
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de 5 anos; — o
art.1723, §1º permite a caracterização da união estável se o testador estiver separado independentemente de prazo, e aí o
companheiro terá legitimidade sucessória.
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o
testamento.

Art. 1.802. São NULAS as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas
sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do
não legitimado a suceder.

Incapacidade sucessória (art.1801-2, CC)

A pessoa que escreveu a rogo o testamento

As testemunhas testamenteiras

O tabelião (ou quem fizer as suas vezes) quando lavrou o testamento

A (o) concubina (o) da pessoa casada

Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.

Súmula 447, STF: É válida a disposição testamentária em favor de filho adulterino do testador com sua concubina.

@dicasexconcurseira 201
Aula 15

Direito das Sucessões: Sucessão em Geral - Parte II

Legitimidade Sucessória (art.1799, CC)

Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.

Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:


I - os filhos, ainda não concebidos (PROLE EVENTUAL), de pessoaS indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a
sucessão; à esta prole deve ter nascido no prazo de até 2 anos da data da morte.

Art.1800, §4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for
concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do
testador, caberão aos herdeiros legítimos.

II - as pessoas jurídicas; — não abrange a sociedade de fato e a sociedade irregular, que são entes despersonalizado.
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação.

O momento de abertura da sucessão é a morte, conforme art.1784, CC (regra de saisine), quando se dá a transmissão
automática. Neste momento também se verifica quem tem legitimidade sucessória (aptidão/atributo para ser herdeiro ou
legatário). Toda e qualquer modificação ulterior é irrelevante. Se a pessoa tem capacidade no momento da abertura da
sucessão, mas perde depois, isto é irrelevante. O que interessa é ter ou não legitimidade no momento da abertura da sucessão.
Não confunda legitimidade sucessória com capacidade jurídica geral. Esta é aptidão para praticar atos genéricos da vida
civil; aquela é independente e autônoma em relação à capacidade jurídica geral. Por isso, um absolutamente incapaz pode ter
legitimidade sucessória.

O que é a legitimidade sucessória? Art.1798, CC = pessoa nascida + pessoa concebida.


"Pessoa já concebida":
1ª corrente (minoritária; Tartuce; art.2º, CC): somente abrange a concepção uterina;
2ª corrente (majoritária, Maria Berenice Dias; lei de biossegurança): abrange concepção laboratorial (concepturo) e uterina
(nascituro).
Jornada 267, JDC: A regra do art.1798 CC deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de fertilização
assistida.

Quanto tempo esse embrião ficará no laboratório esperando ser implantado no útero? Art.5º, Lei 11.105/05 -
declarado constitucional pelo STF: pelo prazo de 3 anos, este embrião ficará congelado. Findo o prazo, o casal opta se implanta
ou descarta (para fins de pesquisa com células-tronco).

Não há prescrição quanto ao embrião laboratorial? O prazo para reclamar herança (ação de petição de herança) é
decadencial de 10 anos (art.205, CC). Implantado por até 3 anos + 9 meses de gestação + lembrando que não corre prescrição
contra absolutamente incapaz. O embrião laboratorial não sofrerá prejuízo em sua herança. O réu da ação de petição de
herança são todos aqueles que participaram da partilha.

A mãe do embrião congelado pode requerer uma medida cautelar. Somente poderá constar na partilha quando nascer
com vida.

Capacidade (legitimidade) sucessória (art.1798-9, CC)

As pessoas nascidas ou concebidas à sucessão legítima ou testamentária

A prole eventual à sucessão testamentária apenas

As pessoas jurídicas à sucessão testamentária apenas

As pessoas jurídicas a serem constituídas com a herança transmitida (fundações) à sucessão testamentária apenas

@dicasexconcurseira 202
OBS: A prole eventual pode ser concebida com material genético do testador? O testador poderia dizer assim “deixo este
testamento para o filho QUE Joana vai ter com o meu sêmen congelado”? O art.1799, I, CC à não, pois consta deste inciso
“desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão”.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; à

Jornada 269, JDC: A vedação do art.1801, III, CC não se aplica à união estável, independentemente do período de separação de
fato (art.1723, §1º, CC). Pois a simples separação de fato, independentemente de prazo, permite que se configure união estável.

IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o
testamento.

Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias (e não o testamento como um todo à redução parcial da invalidade/
aproveitamento da vontade, art.184, CC) em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma
de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do
não legitimado a suceder.

Incapacidade sucessória (art.1801-2)

A pessoa que escreveu a rogo o testamento (quando o testador é cego ou analfabeto)

As testemunhas testamentárias

O tabelião (ou quem fizer as suas vezes) que lavrou o testamento

A (o) concubina (o) da pessoa casada

A indignidade e a deserção à SANÇÕES CIVIS

Há um ponto de interseção entre o direito de família e direito das sucessões, pois, ao tratar da indignidade e da
deserdação, insere-se no elemento sucessório o elemento “afeto", que é a mola propulsora do direito de família. A indignidade
e deserdação são sanções civis aplicadas a pessoas que não se comportam com o mínimo de afeto que se espera (falta de
solidariedade familiar).
A regra da transmissão automática de saisine diz que, aberta a sucessão (morte), há transmissão automática de todas
as relações patrimoniais do falecido. Os herdeiros são automaticamente beneficiados. A regra de saisine é cega, pois não se
preocupa com quem beneficia.
Justificativas da indignidade e da deserção: jurídica à impedir a transmissão automática; filosófica à de certas pessoas
espera-se uma conduta de ordem ética; faltando esta solidariedade, justifica-se a punição.

A indignidade e a deserdação têm pontos em comum e de distinção.

Pontos em comuns:
i. São mecanismos de exclusão da sucessão de herdeiro ou legatário.

ii. São sanções civis aplicáveis àquele que se comportou de mal contra o autor da herança;

iii. Sendo punição, só podem ser consideradas indignidade e deserdação os casos previstos em lei. O juiz não poderia
ampliar as hipóteses? Em linha de princípio, não por conta do princípio da legalidade.

iv. Considerando que indignidade e deserdação são sanções civis, a consequência que disso decorre é o princípio da
intranscedência da pena; ou seja, os excluídos são deserdados, mas seus descendentes sucedem como se mortos os
indignos/deserdados fossem à é o caso de sucessão por representação/por estirpe, que se dará em 3 casos: indignidade,

@dicasexconcurseira 203
deserdação e pré-morte. Uma pessoa recebe no lugar de outro; recebe o que caberia a outra, por esta outra ter sido
considerado indigna/deserdada ou tiver morrido antes.

v. Em se tratando de sanções civis, a indignidade e a deserdação dependem de decisão judicial civil, em ação ordinária,
vedada a discussão da matéria em outras demandas (STJ). Não é suficiente a prática do ato previsto em lei.

CUIDADO! Não seria suficiente a sentença penal condenatória, caso o ato também se caracterize como crime? NÃO, não é efeito
civil da sentença penal condenatória a indignidade ou deserdação. É preciso uma decisão judicial civil, até mesmo em razão da
independência das instâncias civil e penal.

Efeitos da indignidade e deserdação:

i. A sucessão por representação/por estirpe: tratar o indigno/deserdado como se fosse morto, fazendo com que o seu
descendente receba em seu lugar. Este é o efeito mais contundente.

ii. O indigno/deserdado deve restituir os frutos colhidos, pois, enquanto não foi proferida a decisão judicial civil de
deserdação/indignidade, a pessoa foi beneficiada pela transmissão automática (saisine), devendo, portanto, restituir os frutos,
enquanto esteve na posse dos bens. Enquanto não se reconhecer a indignidade ou deserdação, a pessoa é tratada como
herdeira e terceiros de boa-fé confiam em sua qualidade hereditária. Enquanto não reconhecida sua indignidade/deserdação, a
pessoa é considerada herdeira aparente. E como fica o terceiro de boa-fé que celebrou negócios com o herdeiro aparente?
Art.1817, CC:

CC, Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas* de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração
legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o
direito de demandar-lhe perdas e danos.
Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver
percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles.

* Se o negócio foi gratuito (ex: doação), presume-se a má-fé e o negócio é anulável por fraude.

ATENÇÃO! Se o indigno/deserdado era cônjuge/companheiro do autor da herança, ele não perderá o direito à meação, nem o
direito real de habitação. O direito à meação é direito próprio e não poderá perder, porque já lhe pertence. O direito real de
habitação é autônomo e independente e, sendo direito real, ele gera oponibilidade erga omnes. Isso, também, porque a
indignidade ou deserdação é a exclusão do direito hereditário.

De todo modo, o autor da herança pode perdoar o indigno ou deserdado. A este perdão o CC dá o nome de
reabilitação. Este perdão tem natureza de purgação. Deve se dá por escrito (instrumento público ou privado) e é irrevogável.

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver
expressamente reabilitado (PERDOADO) em testamento, ou em outro ato autêntico.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao
testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária. à NESTE CASO, O INDIGNO SÓ
TERÁ DIREITO À SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA.

Não se exige homologação judicial para a eficácia do perdão.


O perdão do ofendido produz o seguinte efeito: improcedência da ação de reconhecimento da indignidade/deserdação,
pois o perdão afasta a indignidade/deserdação.

A seguir, veremos os pontos de distinção entre indignidade e deserdação.

Indignidade

Refere-se a todo e qualquer sucessor: herdeiros (legítimo ou testamentário) ou legatários.


Deve-se a ato praticado antes ou depois da abertura da sucessão/morte. Mas este ato precisa ser reconhecido pelo
juiz, em ação de procedimento comum, chamada de “ação ordinária de indignidade”, que tem prazo decadencial de 4 anos,
contados a partir da abertura da sucessão/morte. Se quem propôs a ação de indignidade faleceu no curso da ação, seus
herdeiros podem dar continuidade.

@dicasexconcurseira 204
Quem tem legitimidade para propor ação de indignidade? Qualquer interessado:
i. Os descendentes do indigno/deserdado, que recebem em seu lugar, como se morto fosse;
ii. Os demais herdeiros;
iii. Os credores dos descendentes do indigno/deserdado.
+ Art.1.815, §2º, CC à MINISTÉRIO PÚBLICO.

O MP é tem legitimidade para propor ação de indignidade? Cristiano Chaves: acredito que não, pois o art.127, CF, diz
que o MP atuará se se tratar de interesse social ou individual indisponível. O interesse presente na ação de indignidade é
patrimonial, portanto individual disponível. Mesmo havendo interesse de incapaz, o interesse continua sendo patrimonial e é,
portanto, disponível. A posição de Cristiano Chaves é minoritária. Prevalece o Enunciado 116, JDC: O MP, por força do art.1815
do CC, desde que presente o interesse público, tem legitimidade para promover ação visando à declaração da indignidade de
herdeiro ou legatário. Cristiano Chaves: eu só não sei quando haverá esse interesse público.

CC, Art.1.1815. §2o Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para demandar a exclusão do
herdeiro ou legatário. (Incluído pela Lei nº 13.532, de 2017)

Indignidade

Qualquer sucessor (herdeiro - legítimo ou testamentário - ou legatário)

Motivo correspondente a um ato praticado antes ou depois da abertura da sucessão

Provocação por qualquer interessado (herdeiro, legatário, interessado indireto). Posição majoritária + alteração
legislativa do ano de 2017: inclusive o MP.

Ação de indignidade (procedimento comum ordinário), cujo prazo decadencial é de 4 anos.

Procedência da ação

Hipóteses: at.1814, CC

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de
cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente (denunciação caluniosa) em juízo o autor da herança ou incorrerem em
CRIME contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de
seus bens por ato de última vontade.

OBS: não é necessária prévia condenação penal para que se reconheça a indignidade ou deserdação.
Exceção: inc.II, que fala em incorrer em “crime" contra a honra. Só quem pode reconhecer crime é o juízo penal.

Deserdação

A deserdação é ato praticado exclusivamente pelo autor da herança para excluir de sua sucessão herdeiro necessário,
via testamento, que será homologado pelo juiz. São herdeiros necessários (art.1845): descendente, ascendente e cônjuge. Se
for herdeiro facultativo, este pode ser excluído pelo autor da herança por meio de testamento.

Deserdação

Herdeiros necessários (art.1845, CC)

Motivo correspondente a um ato praticado necessariamente ANTES da abertura da sucessão (STJ)

Provocação exclusivamente pelo autor da herança

@dicasexconcurseira 205
Ato praticado em um testamento pelo próprio titular do patrimônio

Necessidade de homologação do testamento pelo juiz

Hipóteses: art.1814 + 1961-3

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de
cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em CRIME contra a sua
honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de
seus bens por ato de última vontade.

Art.1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os casos em que
podem ser excluídos da sucessão.

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus
ascendentes: —> pai que quer deserdar o filho
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade. - abandono material

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos
descendentes: —> filho que quer deserdar o pai
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha
ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade. - abandono material

OBS: Deserdação bona mente (pro bono): não se confunde com a deserdação testamentária. Esta tem a intenção de
excluir o herdeiro necessário da sucessão. Enquanto que, na deserdação pro bono, o autor não quer excluir a pessoa, porém
impõe uma medida restritiva em relação ao uso e disposição dos bens hereditários. Assim, são impostas cláusulas restritivas,
que são 3: inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade. O art.1911 diz que a cláusula de inalienabilidade faz
presumir as demais. Se o autor da herança quiser gravar a legítima com clausulas restritivas, o autor precisa indicar uma justa
causa.

STJ: indigno ou deserdado pode receber pensão previdenciária.

Rol de deserdação ou indignidade —> é taxativo ou exemplificativo? Em princípio, taxativo. O STJ -REsp 334.773/TJ -
construiu a tese da tipicidade finalística: o rol é taxativo, mas pode sofrer interpretações finalísticas pelo juiz. O juiz não pode
criar outros tipos, mas pode interpretar os tipos previstos em lei de acordo com a sua finalidade. O juiz pode considerar outras
causas desde que tenham a mesma finalidade; ex: o juiz pode considerar que a instigação ou auxílio ao suicídio tem a mesma
finalidade do homicídio.

@dicasexconcurseira 206
Aula 16

INVENTÁRIO E PARTILHA

1. Introdução: a morte e seus efeitos. A herança, o espólio e o inventário.

Com a transmissão automática de saisine - que se dá com a morte encefálica (Lei 9.434/97), a titularidade de todas as
relações patrimoniais do falecido (ativas e passivas) é transmitida em forma de condomínio e composse.
Herança é o conjunto de relações patrimoniais do falecido. A herança é imóvel, indivisível e universal (CAI EM
PROVA!), mesmo que formado por bens móveis, divisíveis e singulares.
A herança é representada pelo espólio. Espólio é um ente despersonalizado que representa a herança, em juízo e fora
dele.
O NCPC diz que quem representa a herança é o inventariante; mas, até que se nomeie o inventariante, quem
representará a herança é o administrador provisório, que é aquele que tem a posse da coisa.
Ação patrimonial contra o falecido se dará contra o espólio, com citação no nome do inventariante ou administrador
provisório. Se o inventariante for dativo/judicial, ele não terá interesse nenhum no deslinde no inventário. Neste caso, a citação
será na pessoa de todos os herdeiros.
Se a ação objetiva interesse existencial, a legitimidade passiva é dos próprios herdeiros (e não do espólio), conforme
entendimento do STJ. Ex: investigação de paternidade post mortem ou adoção póstuma/nuncupativa.

AÇÃO VERSANDO SOBRE DIREITO PATRIMONIAL QUE POSSUÍA EM FACE DO FALECIDO à AÇÃO CONTRA O ESPÓLIO
AÇÃO VERSANDO SOBRE DIREITO EXISTENCIAL QUE POSSUÍA FRENTE AO FALECIDO à AÇÃO CONTRA OS HERDEIROS

O inventário e a partilha é procedimento, judicial ou extrajudicial, com o objetivo de enumerar todos as relações
patrimoniais do falecido, excluir a meação do cônjuge/companheiro, pagar as dividas, recolher os tributos e dividir eventual
sobra.
“Inventário" vem de “venire”; e “venire" significa achar/descobrir.
É procedimento bifásico: primeiro o inventário e, depois, a partilha. É procedimento especial contencioso, com
natureza meramente declaratório (pois a transmissão automática já ocorreu, devido à saisine).

enumerar todas as relações patrimoniais do de cujus,


INVENTÁRIO
Procedimento excluir a meação; pagar as dívidas; recolher tributos
INVENTÁRIO
bifásico
PARTILHA dividir eventual sobra

2. A regra da sucessão processual

Dá-se quando, no curso do procedimento, uma das partes falece, ou até mesmo do representante/assistente da parte
ou de seu advogado. A suspensão é automática, independentemente de decisão judicial. O processo e os prazos processuais
ficam suspensos.

NCPC, Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores,
observado o disposto no art. 313, §§1º e 2º.

Art. 313. Suspende-se o processo:


I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador;
§1º Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o processo, nos termos do art. 689.
§2º Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhecimento da morte, o juiz determinará a suspensão do processo e observará
o seguinte:
I - falecido o réu, ordenará a intimação do autor para que promova a citação do respectivo espólio, de quem for o sucessor ou, se
for o caso, dos herdeiros, no prazo que designar, de no mínimo 2 (dois) e no máximo 6 (seis) meses;
II - falecido o autor e sendo transmissível o direito em litígio, determinará a intimação de seu espólio, de quem for o sucessor ou,
se for o caso, dos herdeiros, pelos meios de divulgação que reputar mais adequados, para que manifestem interesse na sucessão
processual e promovam a respectiva habilitação no prazo designado, sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito.

@dicasexconcurseira 207
A habilitação pelo espólio ou sucessores se dará por meio de mera petição nos autos do processo principal.

NCPC, Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe
no processo.

Art. 688. A habilitação pode ser requerida:


I - pela parte, em relação aos sucessores do falecido;
II - pelos sucessores do falecido, em relação à parte.

Art. 689. Proceder-se-á à habilitação nos autos do processo principal, na instância em que estiver, suspendendo-se, a partir de
então, o processo.

Art. 690. Recebida a petição, o juiz ordenará a citação dos requeridos para se pronunciarem no prazo de 5 (cinco) dias.
Parágrafo único. A citação será pessoal, se a parte não tiver procurador constituído nos autos.
Art. 691. O juiz decidirá o pedido de habilitação imediatamente, SALVO se este for impugnado e houver necessidade de dilação
probatória diversa da documental, caso em que determinará que o pedido seja autuado em apartado e disporá sobre a
instrução.

Art. 692. Transitada em julgado a sentença de habilitação, o processo principal retomará o seu curso, e cópia da sentença será
juntada aos autos respectivos.

3. Procedimento de inventário

O inventário tradicional é um procedimento de duas fases: a primeira fase de inventariança/inventário propriamente


dito e a segunda fase é a da partilha.
Na inventariança, os bens serão localizados, avaliados, separados da meação, pagas as dívidas, pagos os tributos.
Concluída a inventariança, dá-se a divisão do saldo remanescente, chamada de partilha.

Facilitação do procedimento de inventário à existem 4 hipóteses em que o procedimento será facilitado:

1ª hipótese: alvará judicial (Lei 6.858/80, regulamentada pelo Decreto 85.845/81). É a transmissão de patrimônio por
jurisdição voluntária. Exigência de 2 requisitos: inexistência de bens a partilhar + resíduos pecuniários não superiores a 500 OTNs
(aproximadamente 20/30mil reais).
NCPC, Art. 666. Independerá de inventário ou de arrolamento o pagamento dos valores previstos na Lei no 6.858, de 24 de
novembro de 1980.

procedimento de jurisdição voluntária

ALVARÁ JUDICIAL inexistência de bens a partilhar

Resíduos pecuniários não superiores a 500 OTN’s

2ª hipótese: arrolamento comum à quando o total do patrimônio transmitido não exceder MIL salários mínimos. Admite a
presença de incapazes e conflito entre os herdeiros. Independe de termo de compromisso. Ou seja, o inventariante não precisa
apresentar compromisso; já pode apresentar o plano de partilha.

NCPC, Art. 664. Quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos, o inventário processar-se-
á na forma de arrolamento, cabendo ao inventariante nomeado, independentemente de assinatura de termo de compromisso,
apresentar, com suas declarações, a atribuição de valor aos bens do espólio e o plano da partilha.
§1º Se qualquer das partes ou o Ministério Público impugnar a estimativa, o juiz nomeará avaliador, que oferecerá laudo em 10
(dez) dias.
§2º Apresentado o laudo, o juiz, em audiência que designar, deliberará sobre a partilha, decidindo de plano todas as reclamações
e mandando pagar as dívidas não impugnadas.
§3º Lavrar-se-á de tudo um só termo, assinado pelo juiz, pelo inventariante e pelas partes presentes ou por seus advogados.
§4º Aplicam-se a essa espécie de arrolamento, no que couber, as disposições do art. 672, relativamente ao lançamento, ao
pagamento e à quitação da taxa judiciária e do imposto sobre a transmissão da propriedade dos bens do espólio.
@dicasexconcurseira 208
§5º Provada a quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas, o juiz julgará a partilha.

Art. 665. O inventário processar-se-á também na forma do art. 664, ainda que haja interessado incapaz, desde que concordem
todas as partes e o Ministério Público.

bens do espólio de valor igual ou inferior a 1 mil salários-mínimos

ARROLAMENTO COMUM admite presenção de incapazes

admite conflito entre os herdeiros

3ª hipótese: arrolamento sumário à quando, independentemente do valor do patrimônio transmitido, todos os


herdeiros são maiores, capazes e estão em consenso. O MP não intervirá no arrolamento sumário. Este arrolamento poderia ter
ocorrido em cartório, mas os herdeiros optam pela via judicial. Não haverá citação da Fazenda Pública, não precisará lavrar
termos. É possível mesmo quando se tratar de herdeiro único, a chamada “adjudicação”.

independe do valor dos bens do espólio

requisitos: herdeiros maiores, capazes e em consenso (partilha amigável)

ARROLAMENTO SUMÁRIO poderia ter se dado por via cartorária, mas optou-se pela via judicial

quando se tratar de herdeiro único, é chamada de “adjudicação"

a partilha amigável será homologada pelo juiz

Art. 659. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos da lei, será homologada de plano pelo juiz, com
observância dos arts. 660 a 663.

§1º O disposto neste artigo aplica-se, também, ao pedido de adjudicação, quando houver herdeiro único.
§2º Transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou de adjudicação, será lavrado o formal de partilha ou
elaborada a carta de adjudicação e, em seguida, serão expedidos os alvarás referentes aos bens e às rendas por ele abrangidos,
intimando-se o fisco para lançamento administrativo do imposto de transmissão e de outros tributos porventura incidentes,
conforme dispuser a legislação tributária, nos termos do §2º do art. 662.

Conforme vinha entendendo o STJ, no caso de interesse fazendário, a impugnação deve ser autônoma. Se a Fazenda
impugna o valor dos bens, ela deverá se valer da execução fiscal; ela não poderá discutir isso no arrolamento.

Art. 661. Ressalvada a hipótese prevista no parágrafo único do art. 663 (AVALIAÇÃO DOS BENS DO ESPÓLIO PARA SE FAZER A
RESERVA DE BENS PARA PAGAMENTO DOS CREDORES DO ESPÓLIO), não se procederá à avaliação dos bens do espólio para
nenhuma finalidade.

Art. 662. No arrolamento, não serão conhecidas ou apreciadas questões relativas ao lançamento, ao pagamento ou à quitação
de taxas judiciárias e de tributos incidentes sobre a transmissão da propriedade dos bens do espólio.

Art. 660. Na petição de inventário, que se processará na forma de arrolamento sumário, independentemente da lavratura de
termos de qualquer espécie, os herdeiros:
I - requererão ao juiz a nomeação do inventariante que designarem;
II - declararão os títulos dos herdeiros e os bens do espólio, observado o disposto no art. 630;
III - atribuirão valor aos bens do espólio, para fins de partilha.

@dicasexconcurseira 209
Art. 663. A existência de credores do espólio não impedirá a homologação da partilha ou da adjudicação, se forem reservados
bens suficientes para o pagamento da dívida.
Parágrafo único. A reserva de bens será realizada pelo valor estimado pelas partes, salvo se o credor, regularmente notificado,
impugnar a estimativa, caso em que se promoverá a avaliação dos bens a serem reservados.

4ª hipótese: inventário administrativo à dá-se em cartório. Quando todas as partes forem maiores, capazes, desde
que não haja conflito entre elas e desde que estejam assistidas por advogado/defensor público. Não pode haver testamento
também. Prof: este ponto me parece um formalismo exacerbado, não devendo o testamento ser empecilho para a ocorrência
do inventário administrativo.
Deve haver comprovação do recolhimento fiscal, na unidade federativa que tem competência tributária. O inventário
administrativo pode ser lavrado em qualquer cartório do país.
As partes não precisam comparecer pessoalmente no cartório; elas podem constituir representante,

Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.


§1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá
documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições
financeiras.
§2º O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado ou por
defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

dá-se em cartório (qualquer cartório do país!)

as partes não precisam comparecer pessoalmente, podendo se fazer representar

INVENTÁRIO as partes devem estar assistidas por advogado/defensor público


ADMINISTRATIVO
partes maiores, capazes e sem conflito

o de cujus não pode ter deixado testamento

comprovação de recolhimento fiscal, na unidade federativa competente

4. Competência

Quem é o juízo competente para processar e julgar o inventário tradicional?


A primeira advertência é uma regra de competência exclusiva da justiça brasileira, aplicável ao inventário: se os bens
estiverem situados no Brasil, a competência para processar e julgar a partilha é exclusiva da autoridade brasileira.

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens
situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;

CF, art.5º, XXXI + LINDB, art.10 à o juiz brasileiro poderá usar a lei estrangeira mais favorável. Competirá ao
interessado provar qual é a norma sucessória mais favorável (art.376, NCPC).

CC, Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.

NCPC, Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o
cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em
que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
@dicasexconcurseira 210
E se o falecido tinha mais de um domicílio? Qualquer deles, por prevenção.
E se o falecido não tinha domicílio? Art.48, p.u.
Todas essas regras são de competência relativa e o juiz não pode conhecê-las de ofício. Mas, se houver interesse de
incapaz, o MP pode arguir a incompetência relativa.
As regras de competência do inventário formam o chamado “juízo universal”, de modo que todas as questões
sucessórias devem ser dirimidas pelo mesmo juízo.

5. Prazo de abertura

NCPC, Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da
sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento
de parte.

Este prazo não é de prescricao, não é de decadência, não gera preclusão. Não há sanção em virtude do
descumprimento deste prazo, nem de ordem civil, nem de ordem processual. Pode haver, contudo, uma consequência tributária
à S.542, STF: Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-Membro, como sanção pelo retardamento do início ou da
ultimação do inventário.

6. Legitimidade

De quem é a legitimidade para requerer a abertura do inventário? O pedido de abertura do inventário é simplificado:
basta comunicar ao juiz o óbito e requerer a abertura do procedimento. Se mais de um estiver na posse dos bens, a legitimidade
é concorrente.

NCPC, Art. 615. O requerimento de inventário e de partilha incumbe a quem estiver na posse e na administração do espólio, no
prazo estabelecido no art. 611.
Parágrafo único. O requerimento será instruído com a certidão de óbito do autor da herança.

Art. 616. Têm, contudo, legitimidade concorrente:


I - o cônjuge ou companheiro supérstite;
II - o herdeiro;
III - o legatário;
IV - o testamenteiro; à pessoa nomeada pelo testador para fazer cumprir o testamento.
V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;
VII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;
VIII - a Fazenda Pública, quando tiver interesse;
IX - o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite.

7. Valor da causa e custas

Qual é o valor da causa? Devem ser excluídos o valor da meação e das dívidas do de cujus.

8. Questões de alta indagação = questões que dependem de prova e contraprova (questões controvertidas faticamente, e não
juridicamente)

Fixado o juiz competente para processar e julgar o inventário, o juízo será universal e decidirá todas as questões de
direito.

NCPC, Art. 612. O juiz decidirá todas as questões de direito desde que os fatos relevantes estejam provados por documento, só
remetendo para as vias ordinárias as questões que dependerem de outras provas.

Este juízo universal tem competência para processar e julgar todas as questões de direito que sejam da competência
daquele juízo. Ex: uma questão reivindicatória, usucapião é de competência do juízo cível; questão tributária é de competência
da vara da fazenda pública. Estas questões não serão resolvidas pelo juízo universal. Obs: em alguns estados, há vara única de
família e sucessões. Nestes casos, a questão sobre paternidade pode ser resolvida pelo juízo do inventario. Tudo vai depender
da organização judiciária do Estado.
@dicasexconcurseira 211
DE OLHO NA JURIS! Possibilidade de a parte já ingressar direto na via ordinária por entender que o juízo do inventário não é
competente para a demanda
O art. 612 do CPC/2015 prevê o seguinte: Art. 612. O juiz decidirá todas as questões de direito desde que os fatos relevantes
estejam provados por documento, só remetendo para as vias ordinárias as questões que dependerem de outras provas. A parte,
antevendo que o pedido que será formulado não se enquadra na competência do juízo do inventário, já pode ajuizar a ação
autônoma no juízo competente, aplicando-se o art. 612. Assim, é cabível o ajuizamento de ação autônoma perante o juízo cível
quando se constatar, desde logo, a necessidade de dilação probatória incompatível com o rito especial do inventário. STJ. 3ª
Turma. REsp 1480810-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/03/2018 (Info 622).

9. O inventariante

É o administrador e representante do espólio em juízo e fora dele.


A representação será do administrador provisório até que seja nomeado o inventariante.

NCPC, Art. 613. Até que o inventariante preste o compromisso, continuará o espólio na posse do administrador provisório.

Art. 614. O administrador provisório representa ativa e passivamente o espólio, é obrigado a trazer ao acervo os frutos que desde
a abertura da sucessão percebeu, tem direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que fez e responde pelo dano a que,
por dolo ou culpa, der causa.

O inventariante é um herdeiro como outro qualquer, mas que tem responsabilidades materiais e processuais. É
obrigatório em todo e qualquer inventário ou arrolamento, até mesmo em inventário em cartório/administrativo sua figura é
obrigatória.

Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem: à ORDEM PREFERENCIAL, MAS NÃO OBRIGATÓRIA.
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se
estes não puderem ser nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio;
IV - o HERDEIRO MENOR, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver; à inventariante judicial é servidor da justiça.
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, prestará, dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente
desempenhar a função.

Inventário conjunto: quando, no curso do inventário, um dos herdeiros falece. Neste caso, o inventariante deverá ser
herdeiro comum.
Em se tratando de pedido de adjudicação (herdeiro único), não precisará de inventariante.
Este rol é preferencial, mas pode ser alterado por decisão judicial.
A decisão judicial que nomeia inventariante é impugnável por agravo de instrumento.
Uma vez nomeado o inventariante, a ele tocam algumas atribuições:

Art. 618. Incumbe ao inventariante: — ATRIBUIÇÕES COMUNS


I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art.75, §1º;
II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem;
III - prestar as primeiras e as últimas declarações pessoalmente ou por procurador com poderes especiais;
IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os documentos relativos ao espólio;
V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver;
VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído;
VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar;
VIII - requerer a declaração de insolvência.

Art. 619. Incumbe ainda ao inventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz: — ATRIBUIÇÕES ESPECIAIS
I - alienar bens de qualquer espécie;
II - transigir em juízo ou fora dele;
III - pagar dívidas do espólio;
@dicasexconcurseira 212
IV - fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhoramento dos bens do espólio.

Procedimento de destituição e procedimento de remoção de inventariante. Será destituído quando se tornar


incompatível com o múnus (ex: o inventariante foi preso, curatelado); o interessado comunicará ao juiz por simples petição nos
próprios autos. A remoção se dá por falta do inventariante (ex: retarda o andamento DO procedimento, que deixa de dar
declarações, que fraude). A remoção é sanção civil.
O inventariante removido ou destituído fica obrigado a restituir todos os bens e documentos do espólio que esteja
consigo, sob pena de busca e apreensão (no caso de móveis) e de imissão na posse (no caso de imóveis).

DESTITUÍDO quando se tornar incompatível com o múnus (ex: foi preso)


INVENTARIANTE
REMOVIDO em decorrência de falta praticada pelo inventariante; é sanção civil

10. O procedimento de inventário

Petição inicial de um dos legitimados concorrentes, comunicando o óbito, com a certidão de óbito. Nomeação do
inventariante, que deverá dar as primeiras declarações, que são uma espécie de quadro-geral sucessório: quem são os
herdeiros, quem são os legatários, quais são os bens, os valores dos bens, quais são as dívidas, qual é a meação. Destas
primeiras declarações, serão citados todos os herdeiros.

NCPC, Art. 626. Feitas as primeiras declarações, o juiz mandará citar, para os termos do inventário e da partilha, o cônjuge, o
companheiro, os herdeiros e os legatários e intimar a Fazenda Pública, o Ministério Público, se houver herdeiro incapaz ou
ausente, e o testamenteiro, se houver testamento.
§1º O cônjuge ou o companheiro, os herdeiros e os legatários serão citados pelo correio, observado o disposto no art. 247,
sendo, ainda, publicado edital, nos termos do inciso III do art. 259.
§2º Das primeiras declarações extrair-se-ão tantas cópias quantas forem as partes.

Art. 627. Concluídas as citações, abrir-se-á vista às partes, em cartório e pelo prazo comum de 15 (quinze) dias, para que se
manifestem sobre as primeiras declarações, incumbindo às partes:
I - arguir erros, omissões e sonegação de bens;
II - reclamar contra a nomeação de inventariante
III - contestar a qualidade de quem foi incluído no título de herdeiro.
§1º Julgando procedente a impugnação referida no inciso I, o juiz mandará retificar as primeiras declarações.
§2º Se acolher o pedido de que trata o inciso II, o juiz nomeará outro inventariante, observada a preferência legal.
§3º Verificando que a disputa sobre a qualidade de herdeiro a que alude o inciso III demanda produção de provas que não a
documental, o juiz remeterá a parte às vias ordinárias e sobrestará, até o julgamento da ação, a entrega do quinhão que na
partilha couber ao herdeiro admitido.

Decidindo o juíz sobre as impugnações, passa-se à avaliação dos bens.

NCPC, Art. 633. Sendo capazes todas as partes, não se procederá à avaliação se a Fazenda Pública, intimada pessoalmente,
concordar de forma expressa com o valor atribuído, nas primeiras declarações, aos bens do espólio. à se há herdeiro incapaz, a
avaliação deverá ser judicial. Mas se as partes decidirem a partilha em percentual e todos estão concordes (não havendo
impugnação da Fazenda, MP ou de quem quer que seja), aí, na opinião de Cristiano Chaves, não haverá necessidade de
avaliação judicial. Mas se a partilha for feita em valores, aí será necessária a avaliação judicial.

Art. 634. Se os herdeiros concordarem com o valor dos bens declarados pela Fazenda Pública, a avaliação cingir-se-á aos
demais.

Art. 637. Ouvidas as partes sobre as últimas declarações no prazo comum de 15 (quinze) dias, proceder-se-á ao cálculo do
tributo.

Nas ultimas declarações, o inventariante apresenta o desfecho do inventário, serve também para ratificações,
retificações. As últimas declarações servem como marco fatal para a ultima colação à herdeiro que está na posse de algum
bem… ele terá até o limite das ultimas declarações para apresentar o bem… se assim não agir, caracterizam-se os “sonegados”.

@dicasexconcurseira 213
Qualquer interessado tem o prazo prescricional de 10 anos para ajuizar a ação de sonegados. A ação de sonegados é ação
condenatória, condenando o sonegador a perder o direito sobre o bem sonegado.
Em caso de doação de herança, se houve doação com liberação de colação expressamente, o herdeiro não precisará
colacionar. Essa liberação deve ser expressa e deve constar do instrumento de doação (não pode ser superveniente).

DE OLHO NA JURIS! Herdeiro necessário não precisa trazer à colação os valores que ele economizou ao morar gratuitamente
no imóvel do autor da herança enquanto este era vivo
É prescindível (dispensável) que o herdeiro necessário traga à colação o valor correspondente à ocupação e ao uso a título
gratuito de imóvel que pertencia ao autor da herança. Ex: Pedro possuía três filhos (Alberto, Rodrigo e Vanessa). Enquanto
estava vivo, Pedro permitiu que sua filha ficasse morando, gratuitamente, em um apartamento que estava em seu nome. Pedro
faleceu. Vanessa (herdeira necessária) não precisa trazer à colação o valor dos “alugueis” que ela deixou de pagar pelo fato de
ter morado gratuitamente no imóvel. O art. 2.002 do CC, ao tratar sobre a colação, fala em “doação”, o que não se confunde
com comodato. Da mesma forma, o empréstimo gratuito não pode ser considerado gasto, para os fins do art. 2.010 do CC, na
medida em que o autor da herança nada despendeu em favor da herdeira a fim de justificar a necessidade de colação. STJ. 3ª
Turma. REsp 1722691-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/03/2019 (Info 644).

Direito de o herdeiro exigir a colação mesmo que ainda não concebido no momento da doação
O filho do morto tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que estes receberam via doação a título de
adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha sido concebido ao tempo da liberalidade. Para efeito de cumprimento do
dever de colação, é irrelevante se o herdeiro nasceu antes ou após a doação, não havendo também diferença entre os
descendentes, se são eles irmãos germanos ou unilaterais ou se supervenientes à eventual separação ou divórcio do doador. Ex:
em 2007, João doou todo o seu patrimônio (casas, apartamentos, carros etc.) para seus três filhos (Hugo, Tiago e Luis). Em 2010,
João teve um novo filho (João Jr.), fruto de um relacionamento com sua secretária. Em 2012, João faleceu. Foi aberto inventário
de João e, João Jr., o caçula temporão, representado por sua mãe, habilitou-se nos autos e ingressou com incidente de colação,
distribuído por dependência nos autos do inventário, requerendo que todos os bens recebidos em doação por Hugo, Tiago e Luis
fossem colacionados (devolvidos) para serem partilhados. Os donatários (Hugo, Tiago e Luis) contestaram o pedido afirmando
que João Jr. ainda não havia nascido e sequer tinha sido concebido ao tempo das doações, o que afastaria o seu interesse em
formular pedido de colação. STJ. 3ª Turma. REsp 1298864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/5/2015 (Info 563).

NCPC, Art. 638. Feito o cálculo, sobre ele serão ouvidas todas as partes no prazo comum de 5 (cinco) dias, que correrá em
cartório, e, em seguida, a Fazenda Pública.
§1º Se acolher eventual impugnação, o juiz ordenará nova remessa dos autos ao contabilista, determinando as alterações que
devam ser feitas no cálculo.
§2º Cumprido o despacho, o juiz julgará o cálculo do tributo.

S.331, STF: É legítima a incidência do ITCMD no inventário por morte presumida.


S.590, STF: Calcula-se o ITCMD sobre o saldo credor da promessa de compra e venda de imóvel, no momento da
abertura da sucessão do promitente vendedor. à o saldo devedor ainda será pago pelos próprios herdeiros, não podendo ser
tributado porque ainda não houve transmissao.
S. 115, STF: Sobre os honorários do advogado contratado pelo inventariante, com a homologação do juiz, não incide
ITCMD.
S.114, STF: O ITCMD não é exigível antes da homologação do cálculo.
S.112, STF: A alíquota do ITCMD é aquela vigente no momento da abertura da sucessão.

Pagamento das dívidas do falecido. O credor pode se valer, facultativamente, das vias ordinárias ou habilitar o seu
crédito diretamente no inventário. Apenas a Fazenda Pública não pode se habilitar no inventário; a Fazenda deve se valer do
executivo fiscal.

NCPC, Art. 642. Antes da partilha, poderão os credores do espólio requerer ao juízo do inventário o pagamento das dívidas
vencidas e exigíveis.
§1º A petição, acompanhada de prova literal da dívida, será distribuída por dependência e autuada em apenso aos autos do
processo de inventário.
§2º Concordando as partes com o pedido, o juiz, ao declarar habilitado o credor, mandará que se faça a separação de dinheiro
ou, em sua falta, de bens suficientes para o pagamento.
§3º Separados os bens, tantos quantos forem necessários para o pagamento dos credores habilitados, o juiz mandará aliená-los,
observando-se as disposições deste Código relativas à expropriação.

@dicasexconcurseira 214
§4º Se o credor requerer que, em vez de dinheiro, lhe sejam adjudicados, para o seu pagamento, os bens já reservados, o juiz
deferir-lhe-á o pedido, concordando todas as partes.
§5º Os donatários serão chamados a pronunciar-se sobre a aprovação das dívidas, sempre que haja possibilidade de resultar
delas a redução das liberalidades.

Art. 643. Não havendo concordância de todas as partes sobre o pedido de pagamento feito pelo credor, será o pedido remetido
às vias ordinárias.
Parágrafo único. O juiz mandará, porém, reservar, em poder do inventariante, bens suficientes para pagar o credor quando a
dívida constar de documento que comprove suficientemente a obrigação e a impugnação não se fundar em quitação.

Art. 644. O credor de dívida líquida e certa, ainda não vencida, pode requerer habilitação no inventário.
Parágrafo único. Concordando as partes com o pedido referido no caput, o juiz, ao julgar habilitado o crédito, mandará que se
faça separação de bens para o futuro pagamento.

Sobre a partilha, esta pode ser: amigável ou judicial. A amigável pode ser: anterior (partilha em vida - art.2018, respeita
a legítima) ou posterior (incidental ao processo de inventário). Se a partilha é amigável, ela pode ser impugnada por ação
anulatória, no prazo de 1 ano; se judicial, é impugnada por ação rescisória, no prazo de 2 anos.

OBS: se for partilha amigável, a decisão que a confere é homologatória; e contra decisão homologatória não cabe ação
rescisória, dai ser cabível apenas a ação anulatória.

ANTERIOR Partilha em vida à deve ser respeitada a legítima


AMIGÁVEL
POSTERIOR Causa mortis; incidental ao processo de inventário

PARTILHA
Impugnável via AÇÃO ANULATÓRIA (prazo decadencial de 1 ano)

JUDICIAL

Impugnável via AÇÃO RESCISÓRIA (prazo de 2 anos)

Art. 657. A partilha amigável, lavrada em instrumento público, reduzida a termo nos autos do inventário ou constante de escrito
particular homologado pelo juiz, pode ser anulada por dolo, coação, erro essencial ou intervenção de incapaz, observado o
disposto no § 4o do art. 966.
Parágrafo único. O direito à anulação de partilha amigável extingue-se em 1 (um) ano, contado esse prazo:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessou;
II - no caso de erro ou dolo, do dia em que se realizou o ato;
III - quanto ao incapaz, do dia em que cessar a incapacidade.

Art. 658. É rescindível a partilha julgada por sentença:


I - nos casos mencionados no art. 657;
II - se feita com preterição de formalidades legais;
III - se preteriu herdeiro ou incluiu quem não o seja.

@dicasexconcurseira 215
Aula 16

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

1. Pouca importância prática da sucessão testamentária (Zeno Veloso)

Noções conceituais sobre o testamento

A sucessão testamentária é aquela baseada em um testamento, baseada na vontade do autor da herança.


O testamento é um negócio jurídico pelo qual o titular manifesta sua vontade de transmitir patrimônio para depois da
morte e formula outras declarações de vontade, que podem ou não ter conteúdo patrimonial. Que outras declarações de
vontade são essas? Reconhecimento de filho, deserdação, nomeação de um tutor, instituição de bens de família, criação de
servidão, instituição de condomínio (CAIU NO MP/PR – 2017), disposição de partes do corpo humano para depois da morte.

CC, Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de
sua morte.
§1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
§2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.
à é válido o testamento que tenha apenas disposições não patrimoniais.

É um negócio jurídico personalíssimo (só quem pode dispor do testamento é o titular); por isso, é nulo o chamado
testamento conjuntivo (art.1863, CC). Daí serem nulos os testamentos simultâneos (aquele que marido e mulher fazem juntos,
por ex), recíprocos (uma pessoa faz o testamento para outra) e correspectivos (uma pessoa vincula suas disposições a outra
pessoa; ex: eu deixo para Fulano, se Fulano deixar para mim).

CC, Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo.

O testamento é também negócio jurídico unilateral, porque depende da manifestação de vontade de uma só pessoa, e
solene (é o segundo negócio jurídico mais solene do ordenamento, perdendo apenas para o casamento). Todo testamento
precisa ser por escrito, salvo o testamento militar nuncupativo.
O testamento é revogável a qualquer tempo. Assim, é nula qualquer cláusula derrogatória, que é aquela que retira do
testador o direito de revogar o testamento.
O testamento é negocio jurídico causa mortis, pois seus efeitos só se projetam após a morte.
As outras declarações devem ser analisadas autonomamente, ou seja, independentemente da parte patrimonial. Se um
testamento vier a ser nulo ou anulado, se o testamento caducou ou se o testamento é revogado pelo titular, as declarações de
vontade existenciais permanecem.

DE OLHO NA JURIS! Flexibilização das formalidades do testamento particular


Na elaboração de testamento particular, é possível sejam flexibilizadas as formalidades prescritas em lei na hipótese em que o
documento foi assinado por testador e por testemunhas idôneas. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1521371/MG, Rel. Min. Marco
Buzzi, julgado em 28/03/2017.

Testamento particular redigido de próprio punho não é válido se não for assinado pelo testador
É inválido o testamento particular redigido de próprio punho quando não for assinado pelo testador. A assinatura do testador
no testamento particular, além de requisito legal, é mais que mera formalidade, consistindo verdadeiro pressuposto de validade
do ato, que não pode ser relativizado. Assim, a sua ausência é um vício muito grave e insuperável. Isso porque, não havendo
assinatura, o próprio testamento é apócrifo, não sendo, portanto, possível concluir, de modo seguro, que o testamento redigido
de próprio punho exprime a real vontade do testador. STJ. 3ª Turma. REsp 1444867-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 23/9/2014 (Info 551).

2. Proibição do pacto sucessório/proibição de pacta corvina

CC, Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

O contrato que tenha por objeto herança de pessoa viva é nulo. Exceção: art.2.018.

@dicasexconcurseira 216
CC, Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a
legítima dos herdeiros necessários.

Assim, é possível a partilha em vida, respeitada a legítima dos herdeiros necessários. A natureza dessa partilha em vida
é de doação entre ascendente e descendente; seria o caso, pois, de antecipação de herança.

3. Pressupostos do testamento

i) Pessoa capaz de dispor (capacidade testamentária ativa): maior de 16 anos de idade e que esteja em pleno discernimento.
Este maior de 16 anos também pode servir de testemunha de testamento (óbvio, quem pode o mais pode o menos). Se pessoa
com deficiência tiver pleno discernimento, poderá fazer testamento. A verificação da capacidade testamentária ativa é feita no
momento da elaboração do testamento, assim, qualquer modificação superveniente é irrelevante (art.1861).

CC, Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de 16 anos.

CC, Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do incapaz se valida com
a superveniência da capacidade.

ii) Pessoa capaz de receber por testamento (capacidade/legitimidade testamentária passiva):

Legitimidade sucessória testamentária (arts.1798-1799)

As pessoas nascidas ou já concebidas


(posição majoritária + Enunciado da Jornada 267: inclui os embriões laboratoriais)

A prole eventual.
OBS: art.1800, §4º Se, decorridos 2 anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os
bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos.

As pessoas jurídicas

As pessoas jurídicas a serem constituídas com a herança transmitida (fundações)

CC, Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.

CC, Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; à prole
eventual
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação.

Falta de legitimidade sucessória para a sucessão testamentária (arts.1801 e 1802, CC)

A pessoa que escreveu o testamento a rogo

As testemunhas testamentárias

O tabelião (ou quem fizer as suas vezes) que lavrou o testamento

A (o) concubina (o) da pessoa casada

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;

@dicasexconcurseira 217
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; à
o art.1723, §1º diz que a simples separação de fato, independente de qualquer prazo, por si só, já permite a caracterização de
união estável; e, desta forma, não se exige o prazo de 5 anos. Enunciado 269, JDC: A vedação do art.1801, III, CC não se aplica à
união estável, independentemente do período de separação de fato.
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o
testamento.

Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob
a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do
não legitimado a suceder.

Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.

iii) Cumprimento das formalidades: e os testamentos elaborados antes do CC/02? A existência e validade dos negócios
celebrados antes do CC/02 ficam submetidos à norma do tempo da celebração. Somente a eficácia é que fica submetida à
norma atualmente em vigor. Assim, as formalidades do testamento estão no plano da validade e, por isso, ficam submetidas
às normas do código anterior.

CC, Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao
disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos
dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.

iv) Observância do limite da legítima: a legítima é sempre 50% do patrimônio líquido do autor da herança. Desde que haja
herdeiro necessário, apenas 50% do patrimônio líquido poderá ser disposto por testamento. Herdeiros necessários:
descendentes, ascendentes e o cônjuge.

A legítima acaba limitando a autonomia privada no que tange ao testamento, na doação e na antecipação de herança.
Como se calcula a legítima? Em que momento se calcula a legítima? O código utiliza 3 critérios para o cálculo da
legítima. Para fins de doação, a legítima é calculada no ato de liberalidade. Para fins de testamento, é calculada no momento da
abertura da sucessão (no momento do óbito). Para fins de colação (bens antecipados do pai para o filho que não saíram da parte
disponível), à para o art.2004, §2º: o cálculo das colações deve ser feito utilizando o critério da data da liberalidade; para o
art.639, p.u, NCPC: os bens devem ser calculados na data da sucessão. Conclusão para fins de colação: a legítima será calculada
da seguinte forma: se o bem não mais pertence ao donatário, o momento será o do momento da liberalidade; se o bem ainda
existe com o beneficiário, o momento do calculo da legitima será o do momento da abertura da sucessão.

Enunciado 119, JDC: Para evitar o enriquecimento sem causa, a colação será efetuada com base no valor da época da doação,
nos termos do caput do art.2.004, exclusivamente na hipótese em que o bem doado não mais pertença ao patrimônio do
donatário. Se, ao contrario, o bem ainda integrar o patrimônio, a colação se fará com base no valor do bem na época da
abertura da sucessão, nos termos do art.639, NCPC, de modo a preservar a quantia que efetivamente integrará a legitima
quando esta se constituiu, ou seja, na data do óbito.

Finalidade de doação Cálculo da legítima no ato de liberalidade (art.544, CC)

Finalidade de testamento Cálculo da legítima no momento da abertura da sucessão (art.1784, CC)

Finalidade de colação (para os Cálculo da legítima no momento da liberalidade se o bem não mais pertencer ao
bens antecipados) donatário. Cálculo com base no valor na abertura da sucessão se o bem ainda
existe.

Assim, exemplo: o patrimônio do de cujus era de 10 milhões e ele tinha 2 filhos. Doa 3 milhões para um filho,
dispensando a colação. Respeitou a legitima? Sim, porque, para fins de doação, a legitima é calculada no momento da
liberalidade. Os 3 milhões saíram da colação e o patrimônio do pai passou a ser de 7 milhões. E aí o pai testa mais 3 milhões a
este mesmo filho. Como calcula a legítima neste caso? No momento da morte e, na morte, o patrimônio era de 7 milhões; e os 3
milhões dados via testamento são inferiores à legitima (que seria a metade de 7 milhões). Então, esse filho recebe 3 milhões a
título de doação mais 3 milhões a título de testamento. Sobre os 4 milhões restantes ao tempo da morte é que será calculada a

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legítima. Um dos filhos irá receber: 3 milhões a titulo de doação + 3 milhões a titulo de testamento + 2 a titulo de sucessão
legitima. O patrimônio final será: 8 milhões para um filho e 2 milhões para outro filho.

DE OLHO NA JURIS! O cálculo do valor de colação dos bens doados deverá ser feito tendo como critério o tempo da liberalidade
ou da abertura da sucessão?
Em um caso envolvendo situação antes do CPC/2015, o STJ decidiu que o valor de colação dos bens doados deverá ser aquele
atribuído ao tempo da liberalidade, corrigido monetariamente até a data da abertura da sucessão. Aplicou-se aqui a regra do
art. 2.004 do Código Civil de 2002. STJ. 4ª Turma.REsp 1166568-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do
TRF da 5ª Região), julgado em 12/12/2017 (Info 617). O CPC/2015, em seu art. 639, parágrafo único, traz regra diferente do art.
2.004 do CC/2002 e diz que o valor de colação dos bens deverá ser calculado ao tempo da morte do autor da herança. Confira:
Art. 639. No prazo estabelecido no art. 627, o herdeiro obrigado à colação conferirá por termo nos autos ou por petição à qual o
termo se reportará os bens que recebeu ou, se já não os possuir, trar-lhes-á o valor. Parágrafo único. Os bens a serem
conferidos na partilha, assim como as acessões e as benfeitorias que o donatário fez, calcular-se-ão pelo valor que tiverem ao
tempo da abertura da sucessão. Diante disso, não se pode afirmar que a conclusão do STJ no REsp 1.166.568-SP seria a mesma
caso a morte tivesse ocorrido agora, ou seja, sob a vigência do CPC/2015. Isso porque este diploma é posterior ao CC/2002 e,
pelo menos sob o critério cronológico, teria prevalência em relação ao Código Civil.

4. Formas Testamentárias

As formas de testamento são dividas em dois grandes grupos, em rol taxativo:

i) Comuns/ordinários (realizados em circunstancias normais). São de 3 tipos: público, cerrado e particular.

ii) Especiais/extraordinários. São de 2 tipos: marítimo/aeronáutico e militar.

A violação da forma do testamento conduz, a princípio, à nulidade. Porém, não se deve esquecer do instituto da
conversão substancial do negocio jurídico (art.170, CC), sendo possível aproveitar uma vontade valida manifestada em um
negocio nulo por preterição da forma. O testamento nulo poderá ter sua vontade respeitada via codicilo ou doação, por
exemplo. O STJ vem flexibilizando as formalidades exigidas pelo CC (mais vale a substância).
Todo testamento precisa de 2 testemunhas, exceto o testamento particular, que precisa de 3 testemunhas.

a) Testamento público

É feito em viva voz (VERBALMENTE), na presença de uma autoridade de função notarial. O testamento é verbalizado e,
portanto, o surdo-mudo não pode fazê-lo. Precisa de 2 testemunhas. Será redigido em língua portuguesa, por óbvio. O cego e o
analfabeto podem fazer testamento público, sendo exigido alguma pessoa que assine no lugar deles (conferirá se aquilo que o
tabelião redigiu corresponde àquilo que foi dito verbalmente).

Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:


I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador, podendo
este servir-se de minuta, notas ou apontamentos;
II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador,
se o quiser, na presença destas e do oficial;
III - ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião.
Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela inserção da
declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de
uma.

Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu substituto legal assim o declarará, assinando, neste
caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas instrumentárias.

Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu
substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no
testamento.

@dicasexconcurseira 219
DE OLHO NA JURIS! Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que
não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento
O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito por pessoa cega. Exige-se: a) que
o testamento seja público; a) que sejam realizadas duas leituras do testamento (se não for cego, basta uma); b) que o tabelião
declare expressamente no testamento que o testador é cego. Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de
notas para fazer um testamento público. O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve apenas uma
leitura em voz alta pelo tabelião na presença do testador e de duas testemunhas. Além disso, não houve expressa menção no
corpo do documento da condição de cego do testador. Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade. O
descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do
documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do testador. STJ. 3ª
Turma.REsp 1677931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610).

b) Testamento cerrado/secreto/místico

Mantém oculto o seu conteúdo, que é apenas de conhecimento do testador. Apenas o juiz das sucessões pode
determinar a abertura do testamento, após a morte do testador. O testador entrega o testamento ao tabelião, na presença de
duas testemunhas. Pode ser elaborado em língua estrangeira, mas precisará, depois, na sua abertura, de tradução juramentada.

CC, Art. 1.870. Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do testador, poderá, não obstante, aprová-lo.
O tabelião pode escrever o testamento cerrado, a rogo do testador, em caráter excepcional (quando o testador pode
ler, malgrado não saiba ou não possa escrever).
Se alguém dilacerar/abrir/violar o testamento cerrado antes da morte, haverá caducidade, ensejando ao testador a
oportunidade de redigir outro testamento. Mas, se abrir o testamento cerrado depois da morte, não há motivo em declarar a
sua caducidade; haverá apenas uma irregularidade.

c) Testamento particular/hológrafo

Inteiramente redigido pelo testador, na língua que quiser. O testador também irá guardá-lo onde quiser. O testador só
tem que ler o testamento na presença de 3 testemunhas.
Seu grau de insegurança é elevado e, assim, exige-se a homologação de seu conteúdo, além da homologação de que se
deu conforme as formalidades.
Exige-se 3 testemunhas.

CC, Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular de próprio punho e assinado pelo
testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do juiz.

Pode ser realizado sem testemunhas (quando o próprio testador declarar no testamento de que não tinha como haver
testemunhas no momento), mas deverá, depois, ser homologado pelo juiz.

d) Testamento marítimo/aeronáutico

Somente tem validade se o testador falecer durante a excepcionalidade (guerra, viagem, etc) ou, vindo a sobreviver,
vier a ratificá-lo no prazo de 90 dias. Se não falecer ou não ratificar no prazo de 90 dias, o testamento irá caducar.
Exige homologação judicial de seu conteúdo.
É feito a bordo, perante o comandante.
Pode ser feito de forma pública ou de forma cerrada.

O testamento militar é feito perante o comandante da tropa, e pode ser feito de forma pública ou cerrada. O
testamento militar é possível para militares e para civis que estejam a serviço das forças armadas. Durante o tempo de guerra e
enquanto a praça estiver sitiada. Para os militares (apenas eles) que estejam em combate, admite-se o testamento
nuncupativo: verbal; o militar está em combate e ferido de morte; chama duas testemunhas e verbaliza o seu testamento.
Precisa de homologação judicial posterior.

5. Codicilo

É um pequeno testamento. O codicilo serve para dispor sobre seu funeral ou deixar pequenos legados. O que seria um
pequeno legado? Doutrina: é igual a 10% do patrimônio líquido.
@dicasexconcurseira 220
Não exige formalidades, não exige testemunha, não precisa de homologação judicial; apenas exige a capacidade
testamentária.
O testamento pode revogar um codicilo, e vice-versa? Sim, em ambos os casos, pois possuem objetos distintos.

CC, Art. 1.881. Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e assinado, fazer disposições
especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos
pobres de certo lugar, assim como legar móveis, roupas ou jóias, de pouco valor, de seu uso pessoal.

6. Cláusulas testamentárias

Precisam de interpretação apenas no que tange às disposições de conteúdo patrimonial.

Redução parcial da invalidade: Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico
não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias,
mas a destas não induz a da obrigação principal. à se num testamento uma ou outra cláusula for nula ou anulável, as demais
clausulas devem ser aproveitadas.
O prazo para arguir a anulabilidade de cláusula testamentária é de 4 anos, contados do conhecimento do defeito
(art.1909, CC).

Regras interpretativas:
- Interpretação conforme a vontade, intenção do testador (art.1.899, art.112, CC);
- No caso de indicação imprecisa dos beneficiários, presume-se que o testamento beneficia os pobres ou entidades de
caridade do lugar de domicilio do testador (Art.1902, CC); com preferência das entidades particulares sobre as entidades
públicas;
- O beneficio é em igualdade de quinhões, quando há plúrimos beneficiários, salvo disposição em contrário.
- O testamento pode beneficiar grupo de pessoas e uma única pessoa determinada… Neste caso, a divisão será feita em
dois. O testador quis beneficiar um grupo e uma pessoa.
- Se as disposições não abrangem os 50% possíveis de serem testados, presume-se que o restante é dos herdeiros
legítimos.

DE OLHO NA JURIS! Princípio da soberania da vontade do testador (art. 1.899 do Código Civil)
Na existência de cláusula testamentária duvidosa, que remete a interpretações distintas, deve-se compreendê-la de modo que
melhor se harmonize com a vontade manifestada pelo testador, em atenção ao princípio da soberania da vontade desse,
insculpido nos arts. 112 e 1.899 do Código Civil. Para a aplicação do princípio da soberania da vontade do testador na
interpretação dos testamentos deverão ser adotadas as seguintes premissas: a) naquelas hipóteses em que o texto escrito
ensejar várias interpretações, deverá prevalecer a que melhor assegure a observância da vontade do testador; b) na busca pela
real vontade do testador, deve ser adotada a solução que confira maior eficácia e utilidade à cláusula escrita; c) para poder
aferir a real vontade do testador, torna-se necessário apreciar o conjunto das disposições testamentárias, e não determinada
cláusula que, isoladamente, ofereça dúvida; e d) a interpretação buscada deve ser pesquisada no próprio testamento, isto é, a
solução deve emergir do próprio texto do instrumento. STJ. 4ª Turma. REsp 1532544/RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
08/11/2016.

Regras permissivas:
- É possível a um testador inserir uma clausula indicando uma pessoa indeterminada, porem determinável (ex: o aluno
que ficar em primeiro lugar no concurso).
- É possível indicar um beneficiário sob motivo determinado (ex: deixo tal coisa a essa pessoa por tal motivo). Se esse
motivo for falso, pode caracterizar erro e o negocio poder ser anulado.
- É possível que o testamento esteja submetido à condição ou encargo. Havendo cláusula condicional suspensiva,
enquanto ela não for implementada, não há exercício de direitos pelo beneficiário. O encargo é uma contraprestação imposta
ao beneficiário de um negócio gratuito. Seria, por exemplo, dizer: deixo um benefício testamentária a alguém com o ônus de
prestar serviço no hospital. Se o encargo não for cumprido, não se compromete a aquisição do direito (o direito já foi adquirido).
Se o beneficiário não cumprir, caberá execução do encargo, que pode ser requerida pelos herdeiros, pelo MP (se o encargo for
em proveito da coletividade) e pelo próprio beneficiário do encargo. Se mesmo assim não houver o cumprimento do encargo, aí
pode projetar uma ação de anulação da clausula testamentária.

@dicasexconcurseira 221
Caução muciana: garantia prestada pelo beneficiário de uma cláusula condicional, que pode requerer medidas
assecuratórias ao juiz mediante esta caução.

Regras proibitivas:
- O testamento não pode estar submetido a termo, salvo no que diz respeito a legados. Por que? Se o termo estivesse
inserido, estaríamos criando uma propriedade resolúvel não prevista em lei. Só se admite propriedade resolúvel (com data certa
para terminar) nos casos previstos em lei.
- É proibido inserir cláusula derrogatória, que retira o direito do testador de revogar o testamento.
- É proibida cláusula captatória: "deixo beneficio a Fulano, se Fulano deixar um beneficio pra mim". Isso é proibido.
- É proibida uma indeterminação absoluta quanto ao beneficiário.
- É proibida uma cláusula que venha a conferir a terceiro o direito de escolha do beneficiário ou do valor do benefício,
pois violaria o caráter personalíssimo do testamento.
- É proibida as disposições em favor de pessoas ilegítimas ao testamento.

Cláusulas restritivas:
São 3 as cláusulas restritivas: inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade. A cláusula de inalienabilidade
faz presumir as demais, mas a reciproca não é verdadeira.
Podem se dar por tempo determinado ou não. E se a parte não dispuser o tempo? Aí o prazo máximo de validade da
clausula restritiva é a vida do beneficiário. Aquele que recebe o bem com cláusula restritiva transmite o bem SEM cláusula
restritiva.
A cláusula de impenhorabilidade não alcança a possibilidade de penhora dos frutos da coisa (art.834, NCPC).
Cláusula de incomunicabilidade: STJ = a não comunhão é na dissolução em vida (divórcio), e não em caso de morte (que
aí comunica).

DE OLHO NA JURIS! Herança de bem gravado com cláusula de incomunicabilidade


A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem transferido por doação ou testamento só produz efeitos enquanto viver o
beneficiário, sendo que, após a morte deste, o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar como herdeiro do referido bem,
observada a ordem de vocação hereditária. A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem não interfere na vocação
hereditária. Assim, se o indivíduo recebeu por doação ou testamento bem imóvel com a referida cláusula, sua morte não
impede que seu herdeiro receba o mesmo bem. STJ. 4ª Turma. REsp 1552553-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
24/11/2015 (Info 576).

CC, Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e
incomunicabilidade.
Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de sua alienação, por conveniência econômica do donatário
ou do herdeiro, mediante autorização judicial, o produto da venda converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão as
restrições apostas aos primeiros.

Art.1848, §2º Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens gravados, convertendo-se o
produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.

O juiz pode autorizar o levantamento ou sub-rogação da clausula restritiva, de modo a assegurar a função social da
propriedade.

Clausula restritiva sobre a legítima à é possível? Gravar a parte disponível com clausula restritiva pode ser gravada
sim, óbvio. Se o pai gravar com clausula restritiva a legitima do filho, este filho não poderá dispor (vender, doar, dispor) da sua
herança. O que seria estranho. Quem disporia seria o filho dele (o neto do testador). O pai estaria transmudando o filho de
proprietário para usufrutuario. O art.1848 diz que só é possível gravar a legitima se houver justa causa.

7. Redução de cláusulas testamentária

O testador pode, sem querer ou não, exceder o limite da legitima. O que acontecerá, neste caso? Haverá redução das
clausulas testamentárias. A redução se dará de oficio ou a requerimento, por se tratar de matéria de ordem pública.

O CC apresenta duas regras para reduzir estas cláusulas:


i. Havendo só herança ou só legado no testamento, a redução será proporcional. O testamento só deixou herança,
haverá: 20% pra uma pessoa, 20% para outra e 20% para outra. Somando, totaliza 60%, e ultrapassa o limite de 50%. Reduzirá
@dicasexconcurseira 222
proporcionalmente para respeitar os 50%. O testamento deixa uma casa, que vale 30% para um ou um terreno que vale 30% da
herança para o outro, reduzirá 5% de cada um.

ii. Havendo herança e legado, a redução se dará primeiro na herança e depois no legado; isso para respeitar a vontade
do testador. Ex: pessoa que, em testamento, deixa uma casa para João e esta casa vale 40% do seu patrimônio. Mas deixou
também 20% do total da herança a título de herança para Maria. Neste caso, primeiro reduz 10% de Maria. Se a casa valesse
50%? Maria ficaria sem nada.

8. Direito de acrescer

Uma cláusula testamentária pode beneficiar duas ou mais pessoas. Caso uma delas não queira ou não possa receber o
benefício, e não tiver substituto nomeado, haverá ou não acréscimo pelo outro beneficiário? Depende. Somente pode ser
acrescida pelo outro beneficiário se: não houver indicação de substituto + se a cláusula for conjuntiva (cláusula conjuntiva é
aquela que diz: deixo o terreno para josé e joão; se disser: 50% da casa para josé e 50% da casa para joão, é cláusula disjuntiva).

9. O testamenteiro

O testador pode nomear uma pessoa para fazer cumprir sua declaração de vontade à o testamenteiro.
O testamenteiro pode ou não ser beneficiário do testamento.
Se ele não for beneficiario, terá direito a uma remuneração que, se não for arbitrada pelo próprio testador, será
arbitrada pelo juiz no valor de 1 a 5% da herança. É chamado de prêmio ou vintena (remuneração do testamenteiro).
É possível, inclusive, no testamento, conferir ao testamenteiro a qualidade de inventariante.
O testamenteiro tem legitimidade para requerer a abertura do inventário.
O testamenteiro assume responsabilidade penal, civil e processual.
O testamenteiro pode ou não aceitar o seu ofício.

Aula 17

DIREITO DAS SUCESSÕES (SUCESSÃO LEGÍTIMA)

1. A Ordem de vocação hereditária no CC/16 e no CC/02, art.1.829. O rol dos sucessíveis

A ordem de vocação hereditária/sucessória é rol dos sucessíveis, ou seja, o rol das pessoas que são convocadas para
suceder a título legítimo. São os herdeiros legítimos.
No rol dos herdeiros legítimos, encontramos o cônjuge e o companheiro. Porém, estes possuíam diferentes direitos
patrimoniais. Ambos têm direito à herança e à meação. A meação variará de acordo com o regime de bens (exceto o regime da
separação absoluta à NO REGIME DA SEPARAÇÕA ABSOLUTA, NÃO HÁ MEAÇÃO).

A MEAÇÃO SE DÁ SOBRE OS BENS COMUNS.


A PARTICIPAÇÃO NA HERANÇA SE DÁ SOBRE OS BENS PARTICULARES DO DE CUJUS.

DE OLHO NA JURIS! Renúncia à meação deve ser feita por escritura pública
A lavratura de escritura pública é essencial à validade do ato praticado por viúva consistente na cessão gratuita, em favor dos
herdeiros do falecido, de sua meação sobre imóvel inventariado cujo valor supere trinta salários mínimos, sendo insuficiente,
para tanto, a redução a termo do ato nos autos do inventário. STJ. 3ª Turma. REsp 1196992-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 6/8/2013 (Info 529).

No CC/16, a ordem de vocação sucessória era: descendentes à ascendentes à cônjuge ou companheiro à colaterais
até o 4º grau à fazenda pública. O CC/16 compensava o cônjuge/companheiro com o direito de usufruto vidual: o patrimônio
era transmitido aos descendentes ou ascendentes, porem o cônjuge/companheiro teria o direito ao usufruto e à administração
desse patrimônio, em 25% a 50% do patrimônio. Isso ficou conflituoso a partir da possibilidade de divórcio e famílias
recompostas.

@dicasexconcurseira 223
O CC/02 eliminou o usufruto vidual e desigualou cônjuge e companheiro (MAS O STF, EM 2017, IGUALOU O REGIME
SUCESSÓRIO DO COMPANHEIRO AO DO CÔNJUGE!). E a fazenda pública deixa de ser herdeira; ela sucede na ausência de
herdeiros, mas não é herdeira.
Em matéria
CC, Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
sucessória, onde se lê
“cônjuge”, entende-
se “cônjuge +
companheiro"
Herdeiros legítimos no CC/02 - art.1829 e 1845

Descentes (+ cônjuge* ou companheiro sobrevivente) à *a depender do regime de bens

Ascendentes (+ cônjuge* ou companheiro sobrevivente) à *independentemente do regime de bens

Cônjuge sobrevivente sozinho

Colaterais até o 4º grau (+ companheiro sobrevivente)

Companheiro sobrevivente sozinho

COLATERAIS
2º grau Irmão
3º grau Tios + sobrinhos
4º grau Sobrinho-neto + primos

DE OLHO NA JURIS! - Sucessão do cônjuge em concorrência com os descendentes e regime da comunhão parcial
O cônjuge irá herdar se o falecido deixou descendentes? Depende. Para responder a isso deveremos analisar o regime de bens
(art. 1.829, I, do CC). Se o cônjuge era casado sob o regime da comunhão parcial de bens e o falecido deixou descendentes, o
cônjuge terá direito à herança?
• Se o falecido NÃO deixou bens particulares: o cônjuge sobrevivente não terá direito à herança. Vale ressaltar, no entanto, que
ele, como cônjuge, já tem direito à metade desses bens por ser meeiro. Ex: João morreu e deixou quatro casas de igual valor;
João não deixou bens particulares; Maria (esposa de João) terá direito a duas casas por ser meeira; os filhos de João herdarão as
outras duas casas; Maria não terá direito à herança.
• Se o falecido deixou bens particulares: tais bens particulares serão herdados tanto pelo cônjuge como pelos descendentes
(eles dividirão/concorrerão). Ex: João morreu e deixou quatro casas de igual valor; duas dessas casas eram bens comuns do casal
(casas “A” e “B”); as duas outras eram bens particulares de João (casas “C” e “D”, que ele possuía em seu nome mesmo antes de
se casar); Maria (esposa de João) terá direito a uma casa (ex: “A”) por ser meeira (a meeira tem direito a metade dos bens
comuns); os filhos de João herdarão sozinhos (sem a participação de Maria) a casa ”B”; os filhos de João, em concorrência com
Maria, herdarão também as casas “C” e “D” (bens particulares de João).
O entendimento do STJ está em harmonia com o enunciado da Jornada de Direito Civil: Enunciado 270-CJF: O art. 1.829, inciso I,
só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no
regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos,
o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência restringe-se a tais bens, devendo os bens comuns
(meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes. Resumindo: o cônjuge sobrevivente, casado sob o regime de
comunhão parcial de bens, somente concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido com relação aos bens particulares
eventualmente constantes do acervo hereditário. STJ. 2ª Seção. REsp 1368123-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão
Min. Raul Araújo, julgado em 22/4/2015 (Info 563).

Procedimento de herança jacente e vacante (bifásico e escalonado), de jurisdição voluntária: é o procedimento pelo
qual a fazenda pública herda. Duas fases: 1ª - jacência: o juiz vai, por sentença, declarar que aquela pessoa faleceu sem deixar
sucessores; nomeação de curador; 2ª - vacância: em nova sentença, o juiz transfere os bens para a fazenda pública. A regra de
saisine não se aplica à fazenda pública, porque esta não é beneficiada pela transmissão automática. A fazenda pública só recebe
o patrimônio através da sentença de vacância. É com esta sentença que os bens se tornam da fazenda pública e,
consequentemente, tornam-se bens públicos. Antes da sentença de vacância, os bens podem ser usucapidos, portanto.

@dicasexconcurseira 224
1ª FASE: nomeação de curador + sentença declara que a pessoa morreu sem deixar sucessores
PROCEDIMENTO
DA HERANÇA
JACENTE/VACANTE
2ª FASE: sentença transfere os bens para a Fazenda Pública

CC, Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo declarada vacante. à se
todos os herdeiros conhecidos renunciam à herança, abre-se desde logo a fase de vacância, ou seja, não precisará da fase da
jacência.

2. Os herdeiros legítimos (art.1790 e 1845, CC)

Não podem realizar pacto sucessório (não podem negociar a herança antes da abertura da sucessão).

CC, Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: à TEM DIREITO À HERANÇA
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, SALVO se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

DE OLHO NA JURIS! Parente colateral não possui legitimidade ativa para ação pedindo anulação de adoção realizada pelo seu
parente falecido, caso este tenha deixado companheira viva
Parentes colaterais (exs: irmão, tios, sobrinhos) não possuem legitimidade ativa para ajuizar ação pedindo que se anule a adoção
realizada pelo seu parente já falecido, no caso em que o de cujus deixou cônjuge ou companheira viva. Isso porque tais parentes
colaterais não terão direito à herança mesmo que se exclua o filho adotivo. Não terão direito à herança porque o art. 1.790 do
Código Civil, que autoriza os colaterais a herdarem em conjunto com a companheira sobrevivente, foi declarado inconstitucional
pelo STF. Logo, em caso de sucessão causa mortis do companheiro, deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa
mortis do cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC. Em outras palavras, se o indivíduo faleceu deixando
uma companheira (união estável), esta herdará exatamente como se fosse esposa (casamento). Pelas regras do art. 1.829, se o
falecido morreu sem deixar descendentes (filhos, netos etc.) ou ascendentes (pais, avós etc.), a sua companheira terá direito à
totalidade da herança, sem ter que repartir nada com os demais parentes colaterais (como irmãos, tios, sobrinhos etc.). Ex: João
e Maria viviam em união estável. Decidiram adotar uma criança (Lucas). Logo em seguida, João faleceu. Seus únicos herdeiros
eram Maria e Lucas. Pedro, irmão de João, de olho nos bens deixados pelo falecido, ingressou com ação pedindo a anulação da
adoção de Lucas. Como o art. 1.790 do CC não vale mais, para Pedro, nada muda juridicamente se conseguir anular a adoção
feita por seu irmão. Ele não terá nenhum ganho jurídico com essa decisão. Dessa forma, se ele não possui interesse jurídico no
resultado do processo, ele não tem legitimidade para propor esta ação de anulação. STJ. 4ª Turma.REsp 1337420-RS, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 22/8/2017 (Info 611).

Herdeiros legítimos: necessários (art.1845: àqueles a quem incumbe a legítima = descendentes, ascendentes e cônjuge)
ou facultativos (companheiro e colaterais até o 4º grau).
Os herdeiros facultativos podem ser privados da herança por meio de testamento.

descendente

NECESSÁRIOS ascendente

HERDEIROS cônjuge (+companheiro)


LEGÍTIMOS

FACULTATIVOS colaterais até 4º grau

@dicasexconcurseira 225
3. A sucessão dos descendentes

Se dá a partir de duas regras fundamentais:


1ª - Regra da igualdade sucessória: pouco interessa origem (filho biológico, afetivo, adotivo), todo e qualquer filho tem
o mesmo direito sucessório.
O STF reconheceu a tese da pluriparentalidade (STF, RE 898.060/CD) = possibilidade de alguém ter, a um só tempo, um
pai/mãe afetivo e biológico. Pode ter dois pais (um afetivo e um biológico) e uma mãe. Essa pluriparentalidade advirá com todos
os efeitos jurídicos, ou seja, da pluriparentalidade nasce a plurihereditariedade. Se a pessoa tem dois pais e uma mãe, ela terá
direito a participar de 3 heranças.

2ª - Regra da preferência: a presença de um descendente mais próximo afasta o mais remoto. Ex: são convocados os
filhos; existindo filhos, não são convocados os netos. Os netos só são convocados na ausência de netos.

Todavia, existem hipóteses excepcionais nas quais se admite a concorrência de descendentes de diferentes graus
(concorrência entre filho e neto). A esses casos dá-se o nome de sucessão por representação/sucessão por estirpe - 3 casos:
i. Indignidade;
ii. Deserdação;
iii. Pré-morte.

CC, Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a suceder em todos os
direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.

CC, Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente, mas nunca na ascendente.

Na indignidade, deserdação ou pré-morto, o herdeiro é tratado como se morto fosse e seus descentes são chamados
para herdar em seu lugar.
Ex: um pai tinha 4 filhos. O filho 1 tinha 4 filhos; o filho 2 não tinha filho; o filho 3 tinha 3 filhos; e o filho 4 tinha 1 filho.
Supondo que a herança é de 400 milhões e que o pai é viúvo (não tem meação nem herança do companheiro). Se o filho 1 é
indigno, se o filho 3 é deserdado e se o filho 2 é pré-morto… O que acontece? O filho 1 não recebe, mas os seus filhos recebem;
o filho 3, idem. Como o filho 2 não tem descendente, a herança de 400 milhões seria divida em 3 partes: 1/3 para os filhos do
filho 1; 1/3 para os filhos do filho 3; e 1/3 para o filho 4.
E se, nesse exemplo, o filho 1 renunciasse? Seus filhos não poderiam receber em seu lugar. A sucessão por
representação é exclusivamente nas hipóteses de indignidade, deserdação e pré-morte.

indigno

Filho 1 4 filhos Se o “Filho 1” renunciasse, seus 4 filhos NÃO poderiam receber


em seu lugar, pois a sucessão por representação/estirpe só se
pré-morto dá nos caoss de indignidade, deserdação ou pré-morte.
Filho 2 não tinha filho
PAI
deserdado

Filho 3 3 filhos

Filho 4 1 filho

1/3 para os 4 filhos do “Filho 1"

HERANÇA DE 400
Será dividida em 3 partes 1/3 para os 3 filhos do “Filho 3"
MILHÕES

1/3 para o “Filho 4"

@dicasexconcurseira 226
O direito de representação, como visto, dá-se apenas para os descentes e nunca para os ascendentes. Mas há UMA
EXCEÇÃO:
CC, Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando
com irmãos deste concorrerem. à é o caso: se uma pessoa faleceu e não deixou descendentes, não deixou ascendentes e não
deixo cônjuge ou companheiro, mas deixou 3 irmãos. A herança será deferida aos irmãos. Suponha que essa pessoa tem 3
irmãos. Um dos irmãos é pré-morto. Se este irmão morto deixou filhos, os filhos do irmão falecido concorrem com os tios.

Aquele convocado para suceder por representação só irá receber aquilo que caberia ao representado se vivo estivesse.
Assim, no exemplo acima dado, a herança será divida em 3 partes, e os filhos do irmão pré-morto dividirão este 1/3 entre si, em
partes iguais.

CC, Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o que herdaria o representado, se vivo fosse.

CC, Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes.

CC, Art. 1.856. O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão de outra.

4. A sucessão dos ascendentes

Possui 3 regras:
1ª - Regra da igualdade sucessória: não pode haver discriminação entre os ascendentes. O pai adotivo, biológico e
afetivo… todos eles tem direito à herança.

2ª - Regra da preferência: a presença do ascendente mais próximo afasta o mais remoto. Ex: se tem pai ou mãe, não
precisa chamar os avós.
OBS: não há sucessão por representação na linha ascendente.

3ª - Regra da divisão em linhas: corresponde às linhas maternas e paternas. Uma pessoa faleceu e não deixou
descendentes. Mas deixou pai e mãe vivos. Deixou também herança de 100 mil. Como esses 100 mil serão divididos? Metade
para o pai e outra metade para a mãe. Mas a pessoa só deixou o pai, sendo que havia os avós maternos vivos? Tudo ficará para
o pai, porque não há sucessão por representação na linha ascendente. Mas… E se não tiver pai nem mãe e houver os avós?
Como divide a herança de 100 mil? Se deixou avô e avó paternos + avô e avó maternos, ficará 25% da herança para cada. E se
ficou um avô materno + avô paterno e avó paterna, ficará 50% para o avô materno e os outros 50% para os avós paternos.

5. A sucessão do cônjuge (arts.1830 a 1832 e 1837 CC)

Direitos patrimoniais do cônjuge sobrevivente, em razão da morte do consorte

Direito à MEAÇÃO - a depender do regime de bens (BENS COMUNS)

Direito à HERANÇA, em concorrência com os descendentes*, a depender do regime de bens (BENS PARTICULARES).
Nos demais casos, sobre todo o acervo patrimonial.

DIREITO REAL DE HABITAÇÃO – independentemente do regime de bens à moradia do imóvel que servia de lar para
o casal, vitaliciamente, mesmo que constitua nova família.

* O cônjuge pode concorrer com os descendentes; na ausência de descendentes, com os ascendentes; e, na ausência de
ascendentes, o cônjuge herda sozinho.
OBS: o cônjuge só tem direito à herança se no momento do óbito não estava divorciado, nem separado judicialmente, nem
separado de fato há mais de 2 anos (art.1830, CC: Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente
se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo
prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. = culpa mortuária ou culpa
funerária. Provada a culpa de quem faleceu, o cônjuge sobrevivente recolhe a herança, ainda que estivesse separado de fato há
mais de 2 anos).
STJ à a simples a separação de fato, independente do tempo, cessa o regime de bens. Ora, assim sendo, por absoluta lógica e
coerência, cessa também o direito à herança, independentemente desse prazo de 2 anos. O art.1723, CC permite a
caracterização de união estável pela simples separação de fato, independentemente de prazo da separação.

@dicasexconcurseira 227
Cônjuge concorrendo com os descendentes: o direito à herança do cônjuge irá depender do regime de bens. O CC
exclui o direito à herança do cônjuge concorrendo com os descendentes em 3 casos:
- No regime da comunhão universal, pois, neste caso, o CC entende que todos os bens já são comuns e já foram
divididos na meação.
- No regime da comunhão parcial de bens sem que haja bens particulares do cônjuge falecido. Neste caso, na prática, o
que haverá é uma comunhão universal.
- No regime da separação obrigatória de bens. OBS: neste caso, eventualmente, pode haver meação, em razão da
súmula 377 do STF.

E na separação absoluta/total, haverá direito à herança? Não tem meação (não há bens comuns), mas tem herança
(pois incide sobre os bens particulares)! STJ, REsp 1.382.170 SP. Onde há meação, não incide herança; e onde não há meação,
haverá herança. Cristiano Chaves, seguindo opinião de Maria Berenice Dias, defende que este posicionamento é incorreto, pois
afronta a autonomia privada (o casal opta pelo regime da separação absoluta de bens e aí vem a lei e diz que ela deve herdar?).
O STJ prestigiou o a literalidade do CC.

STJ, REsp 1.552.553 RJ = a cláusula de incomunicabilidade impede a comunhão em vida, mas não impede a comunhão
por morte. O cônjuge terá direito à herança junto com os descendentes sobre os bens particulares. Cristiano Chaves acredita
que isso é uma violência contra a autonomia privada.
O cônjuge terá direito à herança no mesmo percentual dos demais descendentes. O art.1832 do CC garante ao cônjuge
o direito de, no mínimo, 1/4 (25%) sobre os bens particulares se tiver concorrendo com filhos que também são seus. Se for com
filhos que não são seus, ele terá direito a mesma cota. E se tiver filho comum e filho não comum? O CC não responde. Isso
seguramente não cairá em prova objetiva. Se cair em prova subjetiva, a doutrina controverte. Para parte da doutrina, bastaria
ter um filho comum para ter a garantia dos 25%; outros autores dizem que só tem a garantia se todos os filhos forem comuns,
pois toda norma que estabelece privilégio deve ser interpretada restritivamente (Cristiano Chaves defende esta posição); outra
corrente diz que nesse caso, deve ser feita uma aritmética/proporcionalidade.

DE OLHO NA JURIS! A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de
concorrência sucessória híbrida
A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de concorrência sucessória
híbrida. Concorrência sucessória híbrida ocorre quando o cônjuge/companheiro estiver concorrendo com descendentes comuns
e com descendentes exclusivos do falecido. Ex: José faleceu e deixou como herdeiros Paula (cônjuge) e 5 filhos, sendo 3 filhos
também de Paula e 2 de um outro casamento anterior de José. Paula e cada um dos demais herdeiros receberá 1/6 da herança.
Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem
por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que
concorrer. Assim, essa reserva de um quarto da herança, prevista no art. 1.832 do CC, não se aplica em caso de concorrência
sucessória híbrida. A reserva de, no mínimo, 1/4 da herança em favor do consorte do falecido ocorrerá apenas quando concorra
com seus próprios descendentes (e eles superem o número de 3). STJ. 3ª Turma. REsp 1617650-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 11/06/2019 (Info 651).

Cônjuge concorrendo com os ascendentes: independerá do regime de bens e incidirá sobre todo o patrimônio. Qual é
o percentual do cônjuge? 50%. Só não terá os 50% se tiver concorrendo com o pai e a mãe do falecido, terá direito a 1/3.
Cônjuge concorrendo à herança sozinho: independente do regime de bens e incidirá sobre todo o patrimônio (bens
comuns e bens particulares).

DE OLHO NA JURIS! Se o falecido deixou apenas companheira (sem ascendentes ou descendentes), ela herdará a totalidade da
herança
Na falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge ou companheiro sobrevivente, não
concorrendo com parentes colaterais do de cujus. STJ. 3ª Turma. REsp 1357117-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 13/03/2018 (Info 622).

O cônjuge é herdeiro necessário e, mais do que necessário, é herdeiro permanente, pois participa de todas as
combinações sucessórias.

Direito real de habitação: é o direito de continuar morando no imóvel residencial único que servia de lar para o casal.
Pode ser reclamado mesmo que o cônjuge não tenha direito à herança e independentemente do regime de bens. É vitalício (tem
esse direito até morrer) e incondicionado (mesmo que o viúvo case novamente). E quanto o viúvo/viúva morrer? Seu cônjuge
@dicasexconcurseira 228
pode reclamar o direito real de habitação? Não, pois este direito é vitalício, não sendo possível ao novo cônjuge ou companheiro
dar continuidade a este direito.
O viúvo só poderá morar no imóvel; ele não poderá alugar, emprestar o imóvel. Se houver desvio de finalidade, cessará
o direito real de habitação. As despesas ordinárias do imóvel ficarão a cargo do titular do direito de habitação; se ele deixar de
pagar as despesas, o juiz poderá declarar a extinção.

ATENÇÃO! Não haverá direito real de habitação se o imóvel não era da titularidade exclusiva do falecido. Se o imóvel era do
falecido junto aos irmãos, a viúva não poderá reclamar o direito real de habitação.

Para Cristiano Chaves, o direito real de habitação deveria ser ope judicis, e não ope legis.

CC, Art.1.831, Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que
lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o
único daquela natureza a inventariar.

DE OLHO NA JURIS! O cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja proprietário de
outros bens
O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não pressupõe a inexistência de outros
bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. Em outras palavras, mesmo que o cônjuge ou companheiro
sobrevivente possua outros bens, ele terá direito real de habitação. Isso se justifica porque o objetivo da lei é permitir que o
cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não
apenas de concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já que não se
pode negar a existência de vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no
transcurso de sua convivência, constituíram não somente residência, mas um lar. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-RJ, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

6. A sucessão do companheiro (Art.1790, CC) à PARTE DA AULA ULTRAPASSADA, EM RAZÃO DA EQUIPARAÇÃO DO REGIME DE
BENS DE COMPANHEIROS E CÔNJUGES

Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros,
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS,
Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017
(repercussão geral) (Info 864).
O art. 1.790 do CC é inconstitucional porque viola:
• o princípio da igualdade;
• a dignidade da pessoa humana;
• o princípio da proporcionalidade (na modalidade de proibição à proteção deficiente) e
• o princípio da vedação ao retrocesso.

O STF está julgando se este sistema é ou não constitucional - RExt 878.694 MG.
A sucessão do companheiro não está equiparada ao do cônjuge.
Premissa normativa para a sucessão do companheiro: incidirá apenas quanto aos bens adquiridos onerosamente na
constância da união estável. Ou seja, terá direito à herança sobre os mesmos bens sobre os quais já incide a meação. Conclusão:
o companheiro terá meação e herança sobre os bens comuns. O companheiro não tem nenhum direito sobre os bens
particulares. A vantagem entre casamento e união estável sempre dependerá do caso concreto. Se você quer se unir a um
homem que já tem patrimônio, o melhor caminho é o casamento, porque, de tudo o que ele já tem, você terá direito à herança,
e de tudo o que ele vier a adquirir na constância do casamento, você terá direito à meação. Agora se você for se unir a alguém
que não tem patrimônio, mas tudo indica que terá, o melhor caminho é a união estável, pois tudo o que ele vier a adquirir na
constância da união estável, você terá direito à meação e à herança.

Direitos patrimoniais do companheiro sobrevivente, em razão da morte do outro convivente

Direito à MEAÇÃO - a depender do regime de bens (BENS COMUNS)

@dicasexconcurseira 229
Direito à HERANÇA - sempre sobre os BENS COMUNS

DIREITO REAL DE HABITAÇÃO - moradia do imóvel que servia de lar para o casal, vitaliciamente, exceto se constituir
nova família.

O companheiro pode concorrer (sempre sobre os bens comuns):


i. com os descendentes: no mesmo percentual dos descendentes, se ele for ascendente do descendente com quem
estiver concorrendo. Se ele não for o pai ou mãe do descendente com o qual está concorrendo, ele terá direito à metade da cota
destinado ao descendente.
ii. com os ascendentes: o seu percentual será de 1/3.
iii. com os colaterais até o 4º grau: que absurdo! O companheiro concorre com primo, tio-avó, sobrinho-neto, tios…! O
percentual do companheiro é de 1/3.
iv. suceder sozinho, se não tiver descendente, ascendente, nem colaterais até o 4º grau, o companheiro herda sozinho
todo patrimônio, inclusive os bens particulares.

CC, art.1790. A companheira ou companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a um quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a 1/3 da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

STJ = aplica-se o art.1831 (direito real de habitação do cônjuge) ao companheiro, e não o art.7º da Le 9278).

@dicasexconcurseira 230
Aula 18

Filiação e Reconhecimento de Filhos

Noções históricas sobre a filiação

Historicamente, o estudo da filiação foi marcado pelo preconceito. Os filhos só eram tutelados a partir do casamento.
Filhos de pessoas não casadas não tinham o mesmo direito do das pessoas casadas. Frase de Napoleão Bonaparte: “A sociedade
não tem interesse no reconhecimento dos filhos bastardos”. Isso porque a ideia de proteção de filiação estava atrelada à
proteção hereditária.
“Filho legítimo” era o filho do casamento. Em relação aos filhos adotivos, com a morte dos pais adotivos, extinguia-se o
vínculo de filiação e retomava o vínculo biológico.
Hoje, com a CF estabeleceu-se a igualdade entre os filhos, seja ele de decorrente da biotecnologia, de adoção ou da
paternidade socioafetiva.

Princípio constitucional da igualdade entre os filhos (art.227, §6º, CF)

Art.227, §6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Proibição de designação discriminatória. Filho é substantivo que não comporta adjetivo. Não há mais hierarquia entre
os filhos.
STJ: quanto à filiação, a interpretação deve ser liberal e ampliativa.

Critérios determinantes da maternidade/Prova da maternidade

Como se prova a maternidade? O critério é histórico, desde o direito romano. Mater is semper certus à a mãe é
sempre certa. A gestação presume a maternidade. Essa presunção, hoje, é relativa. Como esta presunção é relativa, importante
lembrar a possibilidade de ação negatória de maternidade. A simples confissão de adultério da mulher não afasta a presunção
de maternidade gerada pela gestação (art.1602, CC). A jurisprudência hoje é absolutamente pacifica no sentido de se afirmar a
responsabilidade civil (objetiva) do hospital/maternidade pela troca de bebês (caso típico de ação negatória de maternidade).
A questão da “barriga de aluguel”/gestação por substituição/gestação em útero alheio. Este procedimento é permitido
no Brasil, desde que: as pessoas envolvidas precisam ser capazes + gratuidade + pessoas da mesma família (se não for da mesma
família, precisa de autorização do Conselho de Medicina Regional) + finalidade médica-terapêutica. OBS: É possível alimentos
gravídicos à barriga de aluguel. Se o médico que fizer o parto (diferente do que fez o procedimento de barriga de aluguel)
declarar que a maternidade é da mãe hospedeira, e aí teríamos a necessidade de autorização judicial para fazer o registro no
nome da mãe biológica.

Critérios determinantes da paternidade/Prova da paternidade

A paternidade é determinada, pelo CC, a partir de 3 critérios:


i. Critério da presunção legal (art.1597, CC);
ii. Critério biológico (art.1593);
iii. Critério socioafetiva (art.1593, última parte, CC).

ATENÇÃO! O STF - RE 898.060/SC, Rel. Luiz Fux - deliberou que esses critérios não são excludentes entre si. O fato de um filho
ter um vinculo biológico não o impede de ter, concomitantemente, um vínculo afetivo (e vice-versa) à é a teoria da
pluripaternidade, multipaternidade (admissibilidade de concomitância de vínculos filiatórios). É possível em casos específicos.

Critério presuntivo (presunção pater is est quem justa núpcias demonstrant - o pai é, presumivelmente, o marido da mãe)

O filho de uma mulher casada é, por presunção, do marido dela.


A presunção de paternidade pode decorrer da fertilização sexual e da fertilização medicamente assistida (fertilização in
vitro ou inseminação artificial).

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: à esta presunção é exclusiva do casamento? De
acordo com o CC, sim. Mas o STJ aplicou também à união estável.
I - nascidos 180 dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
@dicasexconcurseira 231
II - nascidos nos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação
do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; à este filho nascido após a morte do pai, mas
que já estava concebido (só faltava implantar no útero da mãe), também será herdeiro.
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; à
“a qualquer tempo” = lei de biossegurança = até 3 anos. Crítica de Cristiano Chaves: deveria haver uma nova autorização do pai
para implantar o embrião.
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. à único caso de presunção
absoluta de paternidade.

Incisos I e II à presunção relativa.


Incisos III e IV à presunção relativa.
Os casais homoafetivos podem se submeter a estes procedimentos de reprodução assistida.
O que não se admite é que os casais possam interferir na seleção genética.

Critério biológico à exame de DNA

É a possibilidade da determinação da paternidade através do exame do DNA. No Brasil, a pessoa não pode ser obrigada
a ser submetida ao exame de DNA. Entretanto, a Lei 8.560/92, art.2º-A, com a redação determinada pela Lei 12.004 (inspirada
na Súmula 301, STJ), diz que o réu, na ação de investigação de paternidade, caso se recuse a fazer o exame, será presumido pai
(presunção relativa por força de lei).

DE OLHO NA JURIS! Recusa ao DNA


Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum
de paternidade.

O NCPC - arts.98 e 99 - assegura a gratuidade do exame de DNA para os beneficiários da gratuidade judiciária.
STJ: se o Estado não arcar com o exame de DNA, o juiz julgará com base em prova testemunhal.
O exame de DNA pode ser determinado de ofício pelo juiz.
Se o exame não foi realizado e o processo chegar a grau de recurso, o relator do recurso pode converter o processo em
diligência para que se faça o exame de DNA.

Critério socioafetivo

Pai é quem cria. Ex: adoção à brasileira.

Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem.

Posse do estado de filho à STJ: pode servir como causa determinante da filiação.
Quebra dos conceitos de pai x genitor.
Estabelecido o vínculo socioafetivo, todos os efeitos dali decorrerão, afastando os efeitos biológico, salvo a
pluripaternidade.
O fato de alguém ter um pai socioafetivo não lhe impede de investigar a sua origem genética (art.48, ECA).

Ação de investigação de paternidade Ação investigatória de origem genética (origem


ancestral)

Fundamento: Direito de Família Fundamento: Direito da Personalidade

Vara da Família, com legitimidade do MP, quando se Vara da Família e ilegitimidade do MP, mesmo que se
tratar de incapaz trate de incapaz

Imprescritível Imprescritível

Pretensão de alcançar o estabelecimento de um vínculo Pretensão de obter a afirmação da origem genética, sem
paterno-filiar, com todos os seus direitos qualquer efeito sucessório ou familiar

@dicasexconcurseira 232
ATENÇÃO! ECA, Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o
nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude.
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei.

ECA, Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a
medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu
pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.

DE OLHO NA JURIS! Direito de o filho buscar o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do registro
É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do registro de nascimento na hipótese em que isso for
pleiteado pelo filho que foi registrado conforme prática conhecida como “adoção à brasileira”. Caracteriza violação ao princípio
da dignidade da pessoa humana cercear o direito de conhecimento da origem genética, respeitando-se, por conseguinte, a
necessidade psicológica de se conhecer a verdade biológica. Assim, o filho tem direito de desconstituir a denominada "adoção à
brasileira" para fazer constar o nome de seu pai biológico em seu registro de nascimento, ainda que preexista vínculo
socioafetivo de filiação com o pai registral. STJ. 4ª Turma. REsp 1167993-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
18/12/2012. STJ. 3ª Turma. REsp 1417598-CE, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/12/2015 (Info 577).

A tese da paternidade alimentar (Rolf Madaleno) e da paternidade sucessória, incidindo excepcionalmente.


Tese da paternidade alimentar: sempre que a pessoa tem um pai socioafetivo, mas seu pai e sua família não têm
condições de lhe garantir alimentos… Nestes casos, a pessoa poderia ir atrás do pai genético para pleitear alimentos. Cristiano
Chaves acrescenta a condição de que os demais parentes do pai socioafetivo não tenham condição de lhe garantir alimentos.
Rolf Madaleno diz que isso só se aplica aos alimentos, pois alimentos são para fins de subsistência/dignidade, não se aplicando à
sucessão, que tem o fim patrimonial.

JURISPRUDÊNCIAS SOBRE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as técnicas de reprodução
assistida heteróloga e com gestação por substituição, não configurando violação ao instituto da adoção unilateral
Situação hipotética: Daniel e João, que convivem em união estável homoafetiva, almejaram ter um filho. Procuraram uma clínica
de fertilização na companhia de Martha, irmã de João, para um programa de inseminação artificial. Daniel e Martha se
submeteram ao ciclo de reprodução assistida, culminando na concepção de um embrião. Martha foi a “barriga de aluguel”. Este
embrião deu origem, então, à Letícia. Martha, mãe de substituição, por meio de escritura pública, renunciou ao seu poder
familiar em relação ao nascituro. Daí, Daniel e João ajuizaram a ação pedindo que ambos fossem declarados pais da criança
recém-nascida. Postulam o reconhecimento do pai biológico e do pai socioafetivo, mantendo em branco os campos relativos aos
dados da genitora, pois a concepção ocorreu mediante inseminação artificial heteróloga e a gestação por substituição. O pedido
foi acolhido pelo STJ. É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as
técnicas de reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição. A reprodução assistida e a paternidade
socioafetiva constituem nova base fática para incidência do preceito “ou outra origem” do art. 1.593 do Código Civil. Os
conceitos legais de parentesco e filiação exigem uma nova interpretação, atualizada à nova dinâmica social, para atendimento
do princípio fundamental de preservação do melhor interesse da criança. Vale ressaltar que não se trata de adoção, pois não se
pretende o desligamento do vínculo com o pai biológico, que reconheceu a paternidade no registro civil de nascimento da
criança. STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.005-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/05/2019 (Info 649). No mesmo
sentido é o Enunciado 111 da I Jornada de Direito Civil: A adoção e a reprodução assistida heteróloga atribuem a condição de
filho ao adotado e à criança resultante de técnica conceptiva heteróloga; porém, enquanto na adoção haverá o desligamento
dos vínculos entre o adotado e seus parentes consanguíneos, na reprodução assistida heteróloga sequer será estabelecido o
vínculo de parentesco entre a criança e o doador do material fecundante.

Paternidade socioafetiva não exime de responsabilidade o pai biológico


A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação
concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. Ex: Lucas foi registrado e criado como filho por
João; vários anos depois, Lucas descobre que seu pai biológico é Pedro; Lucas poderá buscar o reconhecimento da paternidade
biológica de Pedro sem que tenha que perder a filiação socioafetiva que construiu com João; ele terá dois pais; será um caso de
pluriparentalidade; o filho terá direitos decorrentes de ambos os vínculos, inclusive no campo sucessório. STF. Plenário. RE
898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e 22/09/2016 (Info 840).

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(I)legitimidade do filho para pedir que sua falecida mãe seja reconhecida como filha dos pretensos avós
O filho, em nome próprio, não tem legitimidade para deduzir em juízo pretensão declaratória de filiação socioafetiva entre sua
mãe - que era maior, capaz e, ao tempo do ajuizamento da ação, pré-morta (já falecida) - e os supostos pais socioafetivos dela.
Obs: o filho teria legitimidade para propor ação pedindo o reconhecimento de sua relação de parentesco socioafetivo com os
pretensos avós. Aí, contudo, seria outra ação, na qual se buscaria um direito próprio (e não de sua mãe). STJ. 3ª Turma. REsp
1492861-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 2/8/2016 (Info 588).

Reconhecimento de paternidade socioafetiva post mortem


É possível o reconhecimento da paternidade socioafetiva post mortem, ou seja, mesmo após a morte do suposto pai
socioafetivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1500999-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/4/2016 (Info 581).

Necessidade de instrução probatória para comprovar a filiação socioafetiva


Maria e Francisca eram um casal homoafetivo. Maria registrou Carla como sua filha, sendo a criança criada por Maria e Francisca
durante vários anos, como uma família. Na época em que Carla nasceu, a união homoafetiva não era protegida pelo Direito
brasileiro, razão pela qual em seu registro de nascimento constava apenas o nome de Maria como sendo sua mãe, não havendo
qualquer referência a Francisca. Apesar disso, para Carla, ela sempre teve duas mães, Maria e Francisca, que exerciam na prática
esse papel. Passados mais alguns anos, Maria e Francisca romperam a união que mantinham e Francisca casou-se com Ricardo.
Quando Francisca faleceu, Carla ingressou com ação judicial pedindo que fosse reconhecido que a falecida foi sua mãe
socioafetiva, de forma que constasse em seu registro civil duas mães: Maria e Francisca. O juiz afirmou que não havia
necessidade de produzir prova em audiência e, portanto, fez o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330, I, do CPC.
Na sentença, o magistrado julgou improcedente o pedido da autora alegando que não ficou demonstrado nos autos que a
suposta mãe socioafetiva teve, efetivamente, a pretensão de “adotar” a requerente em conjunto com a mãe registral. Para o
STJ, o magistrado cometeu um erro processual, pois não era possível, no caso concreto, julgar improcedente o pedido de
reconhecimento post mortem da maternidade socioafetiva sem que houvesse sido permitida a realização de instrução
probatória. Em outras palavras, não era hipótese de julgamento antecipado da lide (art. 330, I, do CPC). O magistrado, ao não
permitir que a autora demonstrasse os fatos alegados, promoveu cerceamento de defesa. Vale ressaltar que o pleito da autora
para ter “dupla maternidade” é um pedido juridicamente possível. STJ. 3ª Turma. REsp 1328380-MS, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 21/10/2014 (Info 552).

Reconhecimento voluntário de filhos

Uma pessoa pode reconhecer voluntariamente seu filho. O reconhecimento de filho é ato-jurídico em sentido estrito,
que é irrevogável e irretratável; é aquilo que vem da vontade do homem e produz efeitos previstos em lei.
O reconhecimento de filhos tem natureza jurídica de confissão.
Pode se dar em conjunto ou em separado, pelos pais.
O relativamente incapaz pode reconhecer um filho, independentemente da presença de seu assistente. Quanto ao
absolutamente incapaz, é necessário de autorização judicial.
Os arts.84 e 85 do Estatuto da Pessoa com Deficiência dizem que os limites da curatela são exclusivamente para atos
negociais e patrimoniais. O reconhecimento de filho é ato existencial. Então, seria necessário a assistência e autorização judicial?
Fica a dúvida.
O art.1.609, CC diz que o filho pode ser reconhecido por: i. instrumento público, ii. por instrumento particular, iii. em
ata de audiência, iv. por testamento, v. por registro no cartório, e vi. por todos os outros modos.
O art.3º da Lei 8.560 estabelecia que só não se podia reconhecer filho em ata de casamento. Para Cristiano Chaves,
houve uma revogação tácita desse dispositivo pelo CC/02.

Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do
ato que o contém.

É possível reconhecer a filiação desde o nascituro até o filho morto. É o ECA que permite o reconhecimento de
paternidade do nascituro. O reconhecimento póstumo/funerário à reconhecimento da paternidade do filho que morreu: se
este pai reconhecer o filho depois de sua morte, o pai se torna herdeiro desse filho… O ordenamento condiciona esse
reconhecimento póstumo a que não decorra efeitos patrimoniais.

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O filho maior só pode ter sua paternidade reconhecida se ele consentir (o ato é bilateral). Se o filho é menor, o ato é
unilateral. O filho reconhecido unilateralmente terá o prazo decadencial de 4 anos (contados da maioridade ou emancipação)
para impugnar o reconhecimento de paternidade (ação de impugnação de reconhecimento voluntário). Na ação de impugnação
de reconhecimento de filho, o filho vai dizer: quando você me reconheceu, eu era incapaz; mas se eu pudesse, eu teria negado
este reconhecimento.
Art. 1.614. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o reconhecimento, nos 4
anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.

DE OLHO NA JURIS! Necessidade de consentimento do indivíduo maior de 18 anos para que possa ser reconhecido como filho
É imprescindível o consentimento de pessoa maior para o reconhecimento de filiação post mortem. STJ. 3ª Turma. REsp
1688470-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/04/2018 (Info 623).

JURIS CORRELACIONADA à A adoção de pessoa maior de idade não precisa do consentimento de seu pai biológico
Imagine que André foi abandonado, ainda criança, pelo seu pai biológico (João), tendo sido criado por Bento, quem considera
seu verdadeiro pai. Quando André atinge a maioridade, Bento ajuíza ação para adotar o rapaz. João (pai biológico) apresenta
contestação, não concordando com a adoção, e invocando o caput do art. 45 do ECA: “A adoção depende do consentimento dos
pais ou do representante legal do adotando.” O simples fato de o pai biológico não concordar com a adoção de seu filho maior
de 18 anos é motivo suficiente para impedir que ela aconteça? Aplica-se ao caso o caput do art. 45 do ECA? NÃO. Estabelecida
uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo) entre o adotante e o adotando, a adoção de pessoa maior não pode ser
refutada pelo pai biológico que abandonou o filho, a menos que ele apresente uma justa causa. A adoção de pessoas maiores de
18 anos é regida pelo ECA. No entanto, no caso, não se aplica a exigência do caput do art. 45 do ECA porque o § 1º do mesmo
artigo afirma que esse consentimento do pai é dispensado caso ele tenha sido destituído do poder familiar. O poder familiar
termina quando o filho atinge a maioridade. Logo, sendo André maior de 18 anos, João não mais tem poder familiar sobre ele,
não sendo necessário seu consentimento para a adoção. STJ. 3ª Turma. REsp 1444747-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 17/3/2015 (Info 558).

Ação negatória de paternidade/maternidade (art.27, Ação de impugnação de reconhecimento de filho


ECA) (art.1614, CC)

Exige indicação do motivo Dispensa a indicação do motivo (não anuência ao


reconhecimento espontâneo)

Vara de Família, com legitimidade do MP, quando se Vara de Família - ilegitimidade do MP, mesmo que se
tratar de incapaz trate de incapaz

Imprescritível Prazo decadencial de 4 anos, contados da aquisição da


plena capacidade

Pretensão de atacar a relação paterno-filiar Pretensão de atacar o registro de nascimento

DE OLHO NA JURIS! Desconstituição da paternidade registral


Se o marido ou companheiro descobre que foi induzido em erro no momento de registrar a criança e que não é pai biológico do
seu filho registral, ele poderá contestar a paternidade, pedindo a retificação do registro (arts. 1.601 e 1.604 do CC). Não se pode
obrigar o pai registral, induzido a erro substancial, a manter uma relação de afeto, igualmente calcada no vício de
consentimento originário, impondo-lhe os deveres daí advindos, sem que, voluntária e conscientemente, o queira. Vale
ressaltar, no entanto, que, para que o pai registral enganado consiga desconstituir a paternidade, é indispensável que tão logo
ele tenha sabido da verdade (da traição), ele tenha se afastado do suposto filho, rompendo imediatamente o vínculo afetivo. Se
o pai registral enganado, mesmo quando descobriu a verdade, ainda manteve vínculos afetivos com o filho registral, neste caso
ele não mais poderá desconstituir a paternidade. “Adoção à brasileira” A situação acima descrita é diferente da chamada
“adoção à brasileira”, que ocorre quando o homem e/ou a mulher declara, para fins de registro civil, o menor como sendo seu
filho biológico sem que isso seja verdade. No caso de adoção à brasileira, o pai sabe que não é genitor biológico (ele não foi
enganado). Caso o pai registral se arrependa da “adoção à brasileira” realizada, ele poderá pleitear a sua anulação? NÃO. O pai
que questiona a paternidade de seu filho registral (não biológico), que ele próprio registrou conscientemente, está violando a
boa-fé objetiva, mais especificamente a regra da "venire contra factum proprium" (proibição de comportamento contraditório).
Para que seja possível a anulação do registro, é indispensável que fique provado que o pai registrou o filho enganado (induzido

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em erro), ou seja, é imprescindível que tenha havido vício de consentimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1330404-RS, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555).

Pai registral que ingressa com ação negatória de paternidade contra o filho com base em exame de DNA que comprova a
inexistência de filiação biológica
Para que seja possível a anulação do registro, é indispensável que fique provado que o pai registrou o filho enganado (induzido
em erro), ou seja, é imprescindível que tenha havido vício de consentimento. Assim, o reconhecimento espontâneo da
paternidade somente pode ser desfeito quando demonstrado vício de consentimento; não há como desfazer um ato levado a
efeito com perfeita demonstração da vontade, em que o próprio pai manifestou que sabia perfeitamente não haver vínculo
biológico entre ele e o menor e, mesmo assim, reconheceu-o como seu filho. STJ. 3ª Turma. REsp 1229044/SC, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 04/06/2013.

Ação negatória de paternidade


O direito de contestar a paternidade é personalíssimo. No entanto, mesmo assim, os avós registrais podem continuar com a
ação em caso de falecimento do pai/autor. Isso porque o pai registral, quando vivo, manifestou sua vontade ao ajuizar a ação.
Em outras palavras, ele exerceu seu direito personalíssimo. Portanto, ainda que se trate de direito personalíssimo, tendo o pai
registral concretizado sua intenção de contestar a paternidade ainda em vida, admite-se a sucessão processual de seus
ascendentes, a fim de dar prosseguimento à ação proposta. Em ação negatória de paternidade, não é possível ao juiz declarar a
nulidade do registro de nascimento com base, exclusivamente, na alegação de dúvida acerca do vínculo biológico do pai com o
registrado, sem provas robustas da ocorrência de erro escusável quando do reconhecimento voluntário da paternidade. O não
comparecimento do filho menor de idade para submeter-se ao exame de DNA não significa que, por si só, deve-se reconhecer a
inexistência de paternidade. A Súmula 301-STJ induz presunção relativa, de modo que a mera recusa à submissão ao exame não
implica automaticamente reconhecimento da paternidade ou seu afastamento, pois deve ser apreciada em conjunto com os
demais elementos probatórios. STJ. 3ª Turma. REsp 1272691-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/11/2013 (Info 533).

Ação negatória de parentesco ajuizada pelo irmão e recusa do réu ao DNA


Em uma ação declaratória de inexistência de parentesco cumulada com nulidade de registro de nascimento na qual o autor
pretenda comprovar que o réu não é seu irmão, apesar de ter sido registrado como filho pelo seu falecido pai, a recusa do
demandado a se submeter a exame de DNA não gera presunção de inexistência do parentesco, sobretudo na hipótese em que
reconhecido o estado de filiação socioafetivo do réu. STJ. 4ª Turma. REsp 1115428-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
27/8/2013 (Info 530).

O procedimento de averiguação oficiosa de paternidade (art.2º, Lei 8.560/92)

É um procedimento administrativo, com a participação do juiz e do MP. Este procedimento é iniciado ex officio, pelo
próprio oficial do cartório. Toda vez que a mulher registrar o filho somente em seu nome, sem indicação do pai, o próprio oficial
do cartório, de ofício ou a requerimento, pode iniciar o procedimento. Ele tira a segunda via do registro e colhe da mãe os dados
do suposto pai. Aí remete ao juiz estes documentos (cópia da certidão de nascimento e os dados colhidos do suposto pai). O juiz
recebe os documentos e designa uma audiência, onde tentará convencer o suposto pai sobre o reconhecimento espontâneo da
paternidade. Se o pai não reconhecer, o juiz remete ao MP para que analise o cabimento de ação de investigação de
paternidade. Se o homem não comparecer à audiência, não há revelia, pois o procedimento é administrativo.
Uma mudança na Lei 8.560/92, estabelecida pela nova redação do ECA, diz que: se por acaso a criança ou adolescente
já estiver no cadastro de adoção, o MP não promoverá a investigação de paternidade, pois investigar a paternidade deste menor
é atrapalhar a adoção (um dos requisitos da adoção é o consentimento dos pais).
Se o MP arquivar o procedimento sem promover a ação de investigação de paternidade, por analogia do art.9º da
LACP, deverá remeter ao Conselho Superior do MP.

Reconhecimento judicial de filhos (a ação de investigação de paternidade/parentalidade)

Não é só a paternidade que pode ser investigada. É possível investigar o pai (ação de investigação paternidade), a mãe
(ação de investigação de maternidade), os irmãos (ação de investigação de fraternidade), os avós (ação de investigação
avoenga) e outros parentes.
O STJ sempre permitiu a investigação avoenga, mas, de 2012 para cá, ele estabeleceu uma condição (Cristiano Chaves
não concorda com essa condição): só é possível a investigação dos avós depois da morte do pai.

@dicasexconcurseira 236
Procedimento especial do NCPC para a ação de investigação de parentalidade (paternidade)

Petição inicial (legitimidade do MP; do filho do morto, em caso de investigação post mortem à a legitimidade
passiva é do herdeiro, e não do espólio; do filho registrado em nome de outra pessoa - neste caso, haverá um
litisconsórcio passivo necessário entre o pai registral e o pai que se pretende ver reconhecido; do avô)

Cumulabilidade com outros pedidos (petição de herança, indenização por danos morais, alimentos, etc). Ao julgar
procedente a investigação de paternidade proposta por criança/adolescente, o juiz fixará alimentos, mesmo que
não tenham sido requeridos na inicial. Caso excepcional em que o juiz age de ofício (exceção ao princípio
dispositivo). A ação de investigação de paternidade é sempre imprescritível, mas o pedido cumulado pode
prescrever. Súmula 149, STJ: É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de
herança. A prescrição da pretensão de herança é de 10 anos. O STJ vem entendendo que esse prazo de 10 anos só
começa a correr do trânsito em julgado da sentença em investigação de paternidade post mortem.

Termo inicial do prazo prescricional da petição de herança em caso de reconhecimento póstumo da paternidade
Na hipótese em que ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido ajuizada após o trânsito em
julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo de cujus, o termo inicial do prazo prescricional para o
ajuizamento de ação de petição de herança é a data do trânsito em julgado da decisão que reconheceu a
paternidade, e não o trânsito em julgado da sentença que julgou a ação de inventário. Em suma, o termo inicial para
o ajuizamento da ação de petição de herança é a data do trânsito em julgado da ação de investigação de
paternidade, quando, em síntese, confirma-se a condição de herdeiro. STJ. 3ª Turma. REsp 1475759-DF, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 17/5/2016 (Info 583).

Competência (STJ) - a questão da cumulabilidade implícita (Lei 8.560/92, art.7º). Súmula 1, STJ: O foro do domicílio
ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulado
com a de alimentos”. Investigação de paternidade pura e simples à domicilio do réu; se cumulada com alimentos,
domicílio do autor. Para Cristiano Chaves, quando se tratar de criança ou adolescente, a competência é sempre do
domicílio do autor.

O réu é citado (inclusive, SEM a cópia da petição inicial) para mediação obrigatória - NCPC, art.694 a 696, em
seguida, ordinarização. E aí o réu é intimado para contestar em 15 dias. Na audiência de mediação obrigatória, autor
e réu devem estar assistidos por advogados.

Resposta do réu e revelia, e não produção de efeitos da revelia, como regra, pois estamos lidando com direitos
indisponíveis. O único efeito é a desnecessidade de intimação do revel para os atos processuais subsequentes.

Produção de prova (importância do exame de DNA)

Sentença e recurso (os seus diferentes efeitos). Na sentença, o juiz fixará os alimentos mesmo que não tenham sido
requeridos. Estes alimentos retroagem até a data da citação. O juiz determinará o acréscimo do sobrenome do pai.
Contra esta decisão cabe apelação, que será recebida no duplo efeito em relação à investigação de paternidade;
mas meramente no efeito devolutivo no que tange aos alimentos.

Coisa julgada e relativização. STJ e STF: flexibilização da coisa julgada na investigação de paternidade. A coisa julgada
é secundum eventum probationis (segundo a prova produzida): é possível repropor ação de paternidade, desde que
baseado em prova nova.

Ação vindicatória de paternidade à ajuizada pelo pai que quer reconhecer o filho que já tem um pai registral.
Se o filho já tiver um pai em seu registro. Neste caso, não cabe um novo registro no cartório. Será necessário, portanto,
uma ação judicial para tanto. É a chamada “ação vindicatória do estado de filho”. Haverá litisconsórcio passivo necessário entre
o pai registral e o filho.

DE OLHO NA JURIS! Não se pode mais rediscutir a coisa julgada em situação na qual a ação de investigação foi julgada
procedente pelo fato de o investigado ter se recusado a fazer o DNA
A coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade deve ser relativizada nos casos em que, no processo, não
houve a realização de exame de DNA e, portanto, não foi possível ter-se certeza sobre o vínculo genético (STF. Plenário. RE

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363889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 02/06/2011. Repercussão geral). O STJ entendeu, contudo, que essa relativização da
coisa julgada não se aplica às hipóteses em que o magistrado reconheceu o vínculo pelo fato de o investigado (ou seus
herdeiros) terem se recusado a comparecer ao laboratório para a coleta do material biológico. Ex: Lucas ajuizou ação de
investigação de paternidade contra João; este se recusou a fazer o DNA, razão pela qual o juiz julgou a demanda procedente e
reconheceu que Lucas é filho de João (Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame
de DNA induz presunção juris tantum de paternidade). Depois que esta sentença transitou em julgado, João ingressou com ação
negatória de paternidade pedindo a relativização da coisa julgada e a realização de exame de DNA. Esta ação deverá ser extinta
sem resolução do mérito pela coisa julgada (art. 485, V, do CPC). Em suma, a relativização da coisa julgada estabelecida em ação
de investigação de paternidade – em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes
– não se aplica às hipóteses em que o reconhecimento do vínculo se deu, exclusivamente, pela recusa do investigado ou seus
herdeiros em comparecer ao laboratório para a coleta do material biológico. STJ. 3ª Turma. REsp 1562239/MS, Rel. Min. Paulo
de Tarso Sanseverino, julgado em 09/05/2017 (Info 604).

Em regra, é possível a relativização da coisa julgada formada em ação de investigação de paternidade julgada sem DNA
Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade em que não foi possível determinar-
se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes, em decorrência da não realização do exame de DNA, meio de prova
que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à existência de tal vínculo. STF. Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 02/06/2011 (repercussão geral) Nas ações de investigação de paternidade, o STJ e STF admitem a relativização da
coisa julgada quando na demanda anterior não foi possível a realização do exame de DNA, em observância ao princípio da verdade
real. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1417628/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 28/03/2017.

Direito de ter reconhecida a filiação biológica prevalece sobre a presunção legal de paternidade
O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação. Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a constância do
casamento de sua mãe e de seu pai registrais, ele poderá ingressar com ação de investigação de paternidade contra o suposto
pai biológico. A presunção legal de que os filhos nascidos durante o casamento são filhos do marido não pode servir como
obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira paternidade. STF. Plenário. AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 22/09/2016 (Info 840).

Extensão dos efeitos de sentença transitada em julgada que reconhece relação de parentesco
Os efeitos da sentença transitada em julgado que reconhece o vínculo de parentesco entre filho e pai em ação de investigação
de paternidade alcançam o avô, ainda que este não tenha participado da relação jurídica processual. STJ. 4ª Turma. REsp
1331815-SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/6/2016 (Info 587).

Legitimidade da viúva para impugnar ação de investigação de paternidade post mortem


Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá impugnar ação de investigação de
paternidade post mortem, devendo receber o processo no estado em que este se encontra. STJ. 4ª Turma. REsp 1466423-GO,
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Ação de investigação de paternidade e despesas com a citação por edital


O art. 232, § 2º do CPC 1973 prevê que a publicação do edital será feita apenas no órgão oficial quando a parte for beneficiária
da Assistência Judiciária. Em uma ação de investigação de paternidade proposta pelo MP como substituto processual em favor
de uma criança pobre, caso o réu não seja localizado, é possível aplicar esse dispositivo? NÃO. Se o Ministério Público Estadual
propuser ação de investigação de paternidade como substituto processual de criança, a citação editalícia do réu não poderá ser
realizada apenas em órgão oficial. Isso porque a parte desta ação não é a criança, mas sim o Ministério Público (ele está
litigando em nome próprio, defendendo o direito do menor). Perceba, portanto, essa sutileza que muda tudo: a parte não é a
pobre criança, mas sim o MP. Logo, não se aplica o art. 232, § 2º, do CPC 1973. Obs: o novo CPC desburocratizou o tema e exigiu
que o edital seja publicado, em regra, apenas na internet (art. 257, II, do CPC 2015). Assim, se já fosse sob a égide do novo CPC
não seria necessária, em regra, a publicação pelo jornal local. O Ministério Público terá que adiantar o custo da publicação do
edital no jornal? NÃO. O Ministério Público Estadual, ao propor ação de investigação de paternidade como substituto processual
de criança, não é obrigado a adiantar as despesas decorrentes da citação editalícia do réu em jornal local, devendo o
adiantamento dos gastos da referida diligência ser realizado pela Fazenda Pública Estadual. STJ. 3ª Turma. REsp 1377675-SC, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/3/2015 (Info 557).

Investigação de paternidade e novo DNA caso o primeiro tenha sido inconclusivo


Em uma ação de investigação de paternidade post mortem, o juiz autorizou que fosse feito o exame de DNA com os restos
mortais do suposto pai. O laudo foi inconclusivo em razão da degradação do material genético. As partes pediram, então, que
fosse feito um novo exame, desta vez utilizando-se como parâmetro para o teste o material genético da filha do morto (suposta
irmã do autor). O juiz indeferiu a nova perícia dizendo que seria desnecessária e, com base na prova testemunhal, julgou
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procedente o pedido. Segundo o STJ, a decisão do magistrado não foi correta. A primeira perícia somente não foi exitosa por
causa da insuficiência dos restos mortais, sendo, no entanto, perfeitamente possível chegar a um resultado conclusivo se um
novo exame for feito com materiais genéticos coletados de descendentes ou colaterais do falecido. Isso cria expectativa e
confiança no jurisdicionado de que outro exame de DNA será realizado, em razão da segurança jurídica e da devida prestação
jurisdicional. O magistrado, ao negar a nova perícia, não foi coerente com a sua conduta processual anterior, já que, ao deferir a
produção do primeiro exame, ele reconheceu que a prova técnica era pertinente e necessária para a solução da lide. É possível
falarmos até mesmo que houve a preclusão para o juiz, isto é, ele já se manifestou sobre a pertinência da prova técnica. STJ. 4ª
Turma. REsp 1229905-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/8/2014 (Info 545).

Efeitos da sentença quanto aos alimentos


Súmula 277-STJ: Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação.

Imprescritibilidade da ação de investigação de paternidade


Súmula 149-STF: É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança.

Análise do prazo decadencial do art. 1.614 do CC


A ação de investigação de paternidade é imprescritível. O prazo decadencial de 4 anos estabelecido no art. 1.614 do CC/2002
aplica-se apenas aos casos em que se pretende, exclusivamente, desconstituir o reconhecimento de filiação, não tendo
incidência nas investigações de paternidade, nas quais a anulação do registro civil constitui mera consequência lógica da
procedência do pedido.
• Ação pedindo apenas a desconstituição do reconhecimento de filiação: prazo de 4 anos.
• Ação pedindo a investigação de paternidade e a consequente desconstituição do reconhecimento de filiação: imprescritível.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1259703-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

Competência na ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos


Súmula 1-STJ: O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade,
quando cumulada com a de alimentos.

@dicasexconcurseira 239
Aula 19

BEM DE FAMÍLIA, DIREITO DA LAJE e COBRANÇA EM COMPRA E VENDA

Bem de Família

No Brasil, podemos dizer que temos a ideia fundamental do sistema jurídico a partir do art.1º da CF, inc.III, que fala da
dignidade da pessoa humana. A ideia de dignidade de pessoa humana é uma ideia aberta, não há um conceito
específico/pronto/acabado de dignidade. Por isso é que o conceito de dignidade cabe à doutrina. A partir da dignidade humana,
podemos perceber 3 referenciais (núcleo duro da dignidade/conteúdo mínimo da dignidade): liberdade/igualdade + integridade
física e psíquica + mínimo existencial. A ideia de “mínimo existencial” chega ao direito civil com o nome de “patrimônio
mínimo”.
O Estado não é obrigado a dar patrimônio; a ideia é de proteção ao patrimônio mínimo adquirido por cada pessoa. Um
bom exemplo de afirmação do mínimo existencial no sistema brasileiro vem do art.548, CC, que trata da nulidade da doação
universal (ninguém pode doar de um volume tal de patrimônio que comprometa sua subsistência). Outro exemplo: art.733 e
segs NCPC = lista de bens impenhoráveis (ex: impossibilidade de penhorar o instrumento de profissão). Mas, o mais eloquente
exemplo é o bem de família.
Dois entendimentos do STJ a respeito do tema:
1. Bem de família da pessoa sozinha (não há família unipessoal, pois ninguém é família de si mesmo, mas, mesmo
assim, a impenhorabilidade do bem de família alcança o imóvel do single à Súmula 364, STJ: O conceito de impenhorabilidade
de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas);

2. Impenhorabilidade do bem de família alugado. A família tem um imóvel, mas o aluga com a intenção de manter uma
renda familiar, enquanto mora em outro imóvel em comodato ou locação.

DE OLHO NA JURIS! Impenhorabilidade de bem de família alugado


Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida
com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.

O bem de família está submetido a que regime no direito brasileiro? Há uma dualidade de regimes para o bem de
família: temos o bem de família convencional (CC, arts.1711 a 1722) e o bem de família legal (Lei 8.009/90).
O regime do bem de família convencional afastaria o regime do bem de família legal? Não, conforme parte final do
art.1.711, CC. Até porque o bem de família legal abrange não apenas o imóvel, mas também os móveis que guarnecem o lar.

CC, Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu
patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da
instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.

O bem de família convencional

Como funciona? Como se institui? É uma escolha, uma eleição do núcleo familiar. Dá-se por ato voluntário praticado
em cartório de registro de imóveis, para garantir a publicidade.
Quem pode instituir o bem de família convencional? Não é só no casamento que pode instituir bem de família
convencional, mas também em outras entidades familiares, como a união estável, a família monoparental, etc… ou, ainda, um
TERCEIRO!

CC, Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu
patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse 1/3 do patrimônio líquido existente ao tempo da
instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.
Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do
ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

O bem de família convencional pode ser instituído por meio de escritura pública ou testamento (quando instituído por
terceiro), como reza o art.1.711.
O bem de família incidirá sobre o quê? Qual é o objeto do bem de família? Será necessariamente um imóvel? Não
apenas sobre o imóvel, mas também VALORES MOBILIÁRIOS (rendas, alugueis, rendimentos) que se destinem à manutenção
do núcleo familiar. É certo que, com isso, abre-se uma janela para fraudes, claro. Atento a isso, o CC estabeleceu um limite para
a instituição do bem de família, que é de 1/3 DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO EXISTENTE. Este limite serve para os valores
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mobiliários e para os imóveis! Na prática, vai ultrapassar 1/3, pois a proteção ao bem de família convencional não impede a
proteção do bem de família legal.

Quais efeitos decorem do bem de família convencional? A impenhorabilidade (o imóvel ou os valores mobiliários não
podem sofrer penhora) e a inalienabilidade. O bem de família convencional tem proteção maior que o bem de família legal (o
bem de família legal só põe o bem a salvo de penhoras). Contudo, não se pode esquecer que o fato de um imóvel ser instituído
como bem de família (legal ou usucapião) não impede a usucapião. É possível usucapião de bem de família, pois haveria
omissão do titular quanto ao exercício da posse.

OBS: o art.1715 abre duas exceções, em que se justificaria a penhora do bem de família convencional! Nestes casos, o interesse
do credor sobrepuja o interesse do titular do bem de família.
1. Tributos relativos ao imóvel;
2. Despesas condominiais.

POSSIBILIDADE DE PENHORA DO Tributos relacionados ao imóvel


BEM DE FAMÍLIA CONVENCIONAL
(exceções)
Despesas condominiais

CC, Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de
tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio,
como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra
solução, a critério do juiz.

Quanto dura a proteção do bem de família convencional?


CC, Art. 1.716. A isenção de que trata o artigo antecedente durará enquanto viver um dos cônjuges, OU, na falta destes, até que
os filhos completem a maioridade.
CUIDADO! Extinguindo-se o bem de família, a existência de filhos incapazes mantém a proteção.
CC, Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde
que não sujeitos a curatela.

Extinto o bem de família convencional, nada impede que o bem continue protegido, mas agora pelo regime do bem de
família legal.

Uma eventual dissolução do núcleo familiar ou a morte de um dos cônjuges não extingue a proteção do bem de família.

CC, Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família.
Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem
de família, se for o único bem do casal.

A instituição do bem de família torna o imóvel impenhorável e inalienável dali para a frente; o efeito é ex nunc. Não
retroage para alcançar as dívidas pretéritas. Os créditos ja existentes podem penhorar o patrimônio livremente.

CC, Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no
art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério
Público.

CC, Art. 1.719. Comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de família nas condições em que foi instituído, poderá o
juiz, a requerimento dos interessados, extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvidos o
instituidor e o Ministério Público.

Conclusão: se o núcleo familiar quiser, pode pedir ao juiz uma autorização para sub-rogação ou alienação do bem de
família, ouvidos, em ambos os casos, todos os interessados e o MP. Sobre a intervenção do MP, estes dois artigos (1717 e 1719)
precisam ser interpretados em combinação com o art.698 do NCPC e o art.178 NCPC, que estabelecem que o MP só intervirá

@dicasexconcurseira 241
nas ações de família quando houver interesse de incapaz. Esses requerimentos por meio dos quais se visa a sub-rogar ou alienar
bem de família convencional são procedimento de jurisdição voluntária, que admite julgamento por equidade.

CC, Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos os
cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência.
Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do
contrário, a seu tutor.

O bem de família legal (Lei 8.009/90)

Esta lei chegou a ter sua constitucionalidade questionada, e o STF reconheceu sua constitucionalidade.
A lei 8009 tornou bem de família o imóvel que serve de lar para um núcleo familiar, que se tornará impenhorável,
desde que seja um único imóvel. Se houver mais de um imóvel, será considerado bem de família legal e, portanto,
impenhorável, aquele de menor valor (Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo).
Desde logo, surge uma divergência a resolver: se uma família dispõe de mais de um imóvel, o natural é que a família
venha a residir no de maior valor, e não no de menor valor. Mas a proteção ficaria no de menor valor? É preciso fazer
interpretação da lei 8.009 com o decreto-lei 3.200/41, que afirma que se ali a família ja reside há mais de 2 anos, a proteção
ficará no imóvel de efetiva residência. Inclusive, o STJ vem eliminando o requisito da residência por 2 anos.

Decreto 3.200/41, Art.19. Não há limite de valor para o bem de família desde que o imóvel seja residência dos interessados por
mais de 2 anos.

Agora, se a família possui vários imóveis, mas não reside em nenhum deles, a proteção recairá sobre o de menor valor,
em razão da teoria da proteção ao patrimônio mínimo.
O bem de família legal é apenas impenhorável. O casal pode vender, doar, dar em comodato, dispor dele como quiser.
O bem de família legal abrange móveis que guarnecem o imóvel. E as garagens estão protegidas? E se o imóvel estiver
em construção, também estará protegido pela lei?

Súmula 449, STJ: A vaga de garagem que possui matricula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito
de penhora.

As construções inacabadas não servem para residência e, por isso, não são protegidas pelo bem de família.
O que seriam “móveis que guarnacem” o lar? O STJ entende que é o móvel que tem funcionalidade, função própria
dentro do imóvel (ex: geladeira, computador, instrumento musical, televisão). No caso dos móveis, a proteção incide sobre um
único bem móvel de cada tipo e desde que esteja devidamente quitado. Ex: se a família tiver 5 televisões na casa, apenas uma
única televisão. Diálogo entre o CC e o NCPC: o NCPC permite a penhora de bens móveis de elevado valor. O valor arrecadado
com a venda do bem móvel de elevador valor é devolvido ao devedor para que ele possa ter um bem da mesma espécie sendo
que de padrão médio; o que exceder o conceito de padrão médio será devolvido ao credor. Surge uma curiosidade: por que o
NCPC autoriza essa penhora de bens moveis de elevado valor? O NCPC percebe que o fundamento da proteção do bem de
família é a teoria da proteção do patrimônio mínimo (e não patrimônio “máximo”). Deve-se equalizar os interesses do credor e
devedor.
Mas, toda essa formulação não serve para os bens imóveis de elevado valor? Não seria lógico? Seria, mas o STJ
responde que não. Os imóveis de elevado valor são sempre impenhoráveis, em face do direito de moradia.

DE OLHO NA JURIS! Os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão do seu valor econômico,
da proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 aos bens de família
O simples fato de o imóvel ser de luxo ou de elevado valor, por si só, não afasta a proteção prevista na Lei nº 8.009/90. Assim,
prevalece a proteção legal ao bem de família, independentemente de seu padrão. O intérprete não pode fazer uma releitura da
lei a fim de excluir o imóvel da proteção do bem de família pelo simples fato de ela ser de elevado valor. STJ. 3ª Turma. AgInt no
AREsp 1199556/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018. STJ. 3ª Turma. REsp 1.482.724/SP, Rel. Min. Moura
Ribeiro, julgado em 14/11/2017. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1669123/RS, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador
convocado do TRF 5ª Região), julgado em 15/03/2018. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.505.028/SP, Rel. Min. Raul Aráujo, julgado
em 19/09/2017.

A proteção contida na Lei nº 8.009/90 alcança não apenas o imóvel da família, mas também os bens móveis indispensáveis à
habitabilidade de uma residência e os usualmente mantidos em um lar comum
Os bens que guarnecem a residência (bem de família) são impenhoráveis excetuando-se aqueles encontrados em duplicidade,
por não se tratarem de utensílios necessários à manutenção básica da unidade familiar. O aparelho de televisão e outros
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utilitários da vida moderna atual, em regra, são impenhoráveis quando guarnecem a residência do devedor, exegese que se faz
do art. 1º, § 1º, da Lei nº 8.009/90. STJ. 4ª Turma. REsp 875.687/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 09/08/2011.

O art.2º da lei 8.009 diz que os bens móveis também constituem bem de família e são impenhoráveis (um de cada e
desde que estejam quitados), com as seguintes exceções:

Art. 2º EXCLUEM-SE da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. à O que seriam
adornos suntuosos? O que se especula na doutrina é que significa aquilo que é supérfluo (ex: adega de vinhos climatizada).
Parágrafo único. No caso de imóvel locado (ou seja, o proprietário do imóvel não é proprietário dos móveis que o guarnecem),
a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário,
observado o disposto neste artigo. — o inquilino/locatário estará protegido em relação aos seus móveis, se quitados e a
proteção alcança um móvel de cada tipo.

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, SALVO se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias; (Revogado pela
Lei Complementar nº 150, de 2015) à esta lei fez os empregados domésticos a proteção pelos seus direito trabalhistas igual a
dos demais trabalhadores. Essa proteção do inciso I se justificava quando os empregados domésticos não tinham todos os seus
direitos assegurados.

II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos
e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; à se não pudesse ser penhorado, caracterizaria o venire contra
factum proprium, e ninguém emprestaria dinheiro a pessoa. CUIDADO! O inciso não fala em “reforma”. Se emprestar dinheiro
para reformar o imóvel, é possível penhorar.

DE OLHO NA JURIS! A exceção à impenhorabilidade prevista no art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90 abrange o imóvel objeto do
contrato de promessa de compra e venda inadimplido
O art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90 prevê que o bem de família poderá ser penhorado para a cobrança de “crédito decorrente do
financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato”. A exceção prevista neste inciso II do art. 3º deve ser estendida também aos casos em que o proprietário
firma contrato de promessa de compra e venda do imóvel e, após receber parte do preço ajustado, se recusa a adimplir com as
obrigações avençadas ou a restituir o numerário recebido, e não possui outro bem passível de assegurar o juízo da execução.
STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 806.099/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 08/03/2016.

III – pelo credor da pensão alimentícia (respeitada a meação do outro cônjuge, se este não for pai/mãe da criança),
resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas
as hipóteses em que ambos responderão pela dívida; à antes deste inciso, o STJ (Súmula 134) já permitia o
cônjuge/companheiro do devedor que sofre a penhora se defender via embargos de terceiros.
Como penhora a meação se o imóvel é indivisível? O STJ diz que, sob o ponto de vista prático, não pode penhorar o
bem imóvel.

DE OLHO NA JURIS! Cabe a penhora do bem de família para pagamento de dívidas de pensão decorrente de vínculo familiar
ou de indenização por ato ilícito
O bem de família pode ser penhorado para pagar débitos relativos à pensão alimentícia. Esses débitos de pensão alimentícia
podem ser decorrentes de relações familiares, como também os alimentos devidos em razão de obrigação de reparar danos
(obrigação oriunda de ato ilícito). Assim, a impenhorabilidade do bem de família não pode ser oposta pelo devedor ao credor de
pensão alimentícia decorrente de indenização por ato ilícito. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 25/10/2016.

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; à E taxa de
condomínio? STJ: sim, também é possível a penhora, embora o inciso não mencione expressamente.

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DE OLHO NA JURIS! É possível a penhora do bem de família para assegurar o pagamento de dívidas oriundas de despesas
condominiais do próprio bem
É possível a penhora de bem de família quando a dívida é oriunda de cobrança de taxas e despesas condominiais com base no
art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90. STJ. 2ª Seção. AR 5.931/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 09/05/2018. Por
outro lado, não cabe a penhora de bem de família para a cobrança de contribuições criadas por associações de moradores
(condomínio de fato). Isso porque tais débitos ostentam natureza de dívida fundada em direito pessoal, oriunda do ato
associativo ou de concordância com a despesa, não possuindo vinculação com o bem, mas sim com o serviço contratado, posto
à disposição do associado. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1688721/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
20/02/2018.

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; à STJ: a
dívida garantida pela hipoteca deve ter sido revertida em prol do núcleo familiar.

DE OLHO NA JURIS! Bem de família dado em garantia hipotecária


O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for dado em garantia real de dívida por um dos sócios da pessoa jurídica, cabendo
ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à entidade familiar. O bem de família é PENHORÁVEL quando os únicos
sócios da empresa devedora são os titulares do imóvel hipotecado, sendo ônus dos proprietários a demonstração de que não se
beneficiaram dos valores auferidos. Assim, é possível a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal
quando os cônjuges forem os únicos sócios da pessoa jurídica devedora. STJ. 2ª Seção. EAREsp 848498-PR, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627).

A impenhorabilidade do bem de família hipotecado não pode ser oposta nos casos em que a dívida garantida se reverteu em
proveito da entidade familiar
Em regra, o bem de família não pode ser penhorado (art. 1º da Lei nº 8.009/90). O inciso V do art. 3º diz, contudo, que o bem de
família pode ser penhorado se o imóvel foi oferecido em hipoteca como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar. A
hipoteca é uma espécie de direito real de garantia, disciplinada nos arts. 1.473 a 1.505 do Código Civil. Se a parte que deu o bem
em hipoteca não cumprir a sua obrigação, o credor poderá executar a hipoteca, hipótese na qual o imóvel dado em garantia
será alienado e o valor obtido utilizado para pagar o débito. Assim, em regra, é possível a penhora do imóvel que tiver sido
oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar. O STJ, contudo, ao interpretar esse inciso, faz a seguinte
observação: a penhora do bem de família somente será admitida se o imóvel foi dado em garantia de uma dívida que beneficiou
o casal ou entidade familiar. Desse modo, a exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 não se aplica aos casos em que a
hipoteca é dada como garantia de empréstimo contraído em favor de terceiro, somente quando garante empréstimo tomado
diretamente em favor do próprio devedor. STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 665.233/SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 06/02/2018.

Penhorabilidade de bem de família dado em hipoteca não registrada


O art. 3º da Lei nº 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser penhorado. O inciso V afirma que o imóvel
poderá ser penhorado, mesmo sendo bem de família, se ele foi dado como hipoteca (garantia real) de uma dívida em favor da
entidade familiar e esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso, o bem de família poderá ser alienado e seu produto utilizado
para satisfazer o credor. Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de Registro de Imóveis.
Assim, a ausência de registro da hipoteca em cartório de registro de imóveis não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade
prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90. Em outras palavras, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser utilizado
como argumento pelo devedor para evitar a penhora do bem de família. STJ. 3ª Turma. REsp 1455554-RN, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, julgado em 14/6/2016 (Info 585).

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento,
indenização ou perdimento de bens.

DE OLHO NA JURIS! A impenhorabilidade do bem de família é oponível às execuções de sentenças cíveis decorrentes de atos
ilícitos, salvo se decorrente de ilícito previamente reconhecido na esfera penal
Cabe a penhora do bem de família para pagamento de dívidas de pensão decorrente de vínculo familiar ou de ato ilícito (art. 3º,
III, da Lei nº 8.009/90). Por outro lado, não é cabível a penhora de bem de família para o pagamento de indenização por ato ilícito,
salvo se decorrente de ilícito previamente reconhecido como crime na esfera penal. Isso porque aí se enquadrará no inciso VI do
art. 3º. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/10/2016.

@dicasexconcurseira 244
Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção da punibilidade pelo cumprimento do
sursis processual
Na execução civil movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem de família adquirido com o produto do crime,
ainda que a punibilidade do acusado tenha sido extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão
condicional do processo. STJ. 4ª Turma. REsp 1091236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. à STF: esse inciso é constitucional.

DE OLHO NA JURIS! Impenhorabilidade do bem de família e contratos de locação comercial


Não é penhorável o bem de família do fiador no caso de contratos de locação comercial. Em outras palavras, não é possível a
penhora de bem de família do fiador em contexto de locação comercial. STF. 1ª Turma. RE 605709/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, red.
p/ ac. Min. Rosa Weber, julgado em 12/6/2018 (Info 906).

Possibilidade de penhora do bem de família do fiador


Súmula 549-STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação. STJ. 2ª Seção. Aprovada em
14/10/2015, DJe 19/10/2015.
É possível penhorar a casa do fiador por dívidas decorrentes do contrato de locação? SIM. É legítima a penhora de bem de
família pertencente a fiador de contrato de locação. Isso porque o art. 3º, VII, da Lei 8.009/90 afirma que a impenhorabilidade
do bem de família não se aplica no caso de dívidas do fiador decorrentes do contrato de locação. O STF decidiu que esse
dispositivo é constitucional e não viola o direito à moradia. STJ. 2ª Seção. REsp 1363368-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552). Situação diferente: Não é penhorável o bem de família do fiador no caso
de contratos de locação comercial. Em outras palavras, não é possível a penhora de bem de família do fiador em contexto de
locação comercial. STF. 1ª Turma. RE 605709/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Rosa Weber, julgado em 12/6/2018 (Info
906).

É possível a penhora do bem de família de fiador de contrato de locação, mesmo quando pactuado antes da vigência da Lei nº
8.245/91, que acrescentou o inciso VII ao art. 3º da Lei nº 8.009/90
É possível a penhora do bem de família de fiador de contrato de locação, mesmo quando pactuado antes da vigência da Lei nº
8.245/91, que alterou o art. 3º, VII, da Lei nº 8.009/90. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl nos EDcl no AgRg nos EDcl no REsp
771.700/RJ, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Des. Conv. do TJ/RS), julgado em 28/02/2012.

Aplicação da Lei do Bem de família para penhoras anteriores


Súmula 205-STJ: A Lei 8.009/90 aplica-se à penhora realizada antes de sua vigência.

MAIS JURISPRUDÊNCIAS SOBRE BEM DE FAMÍLIA!

A impenhorabilidade do bem de família pode ser alegada em qualquer momento processual até a sua arrematação, ainda que
por meio de simples petição nos autos
A impenhorabilidade do bem-de-família não pode ser arguida, em ação anulatória da arrematação, após o encerramento da
execução. STJ. 2ª Seção. AR 4.525/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 13/12/2017. Não é possível alegar a
impenhorabilidade do bem de família após concluída a arrematação. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 196.236/SP, Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, julgado em 03/04/2018. A impenhorabilidade do bem de família pode ser alegada a qualquer tempo,
até mesmo por petição nos autos da execução. STJ. 3ª Turma. REsp 1114719/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em
23/06/2009.

Afasta-se a proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 ao bem de família, quando caracterizado abuso do direito de propriedade,
violação da boa-fé objetiva e fraude à execução
A regra de impenhorabilidade do bem de família trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé
objetiva, que, além de incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico
pátrio. Assim, se ficou caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados, em evidente abuso de
direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não pode conviver, tolerar e premiar a atuação dos
devedores em desconformidade com a boa-fé objetiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
22/03/2018.

@dicasexconcurseira 245
A preclusão consumativa atinge a alegação de impenhorabilidade do bem de família quando houver decisão anterior acerca do
tema
A impenhorabilidade de bem de família pode ser arguida em qualquer tempo ou fase do processo, desde que não tenha havido
pronunciamento judicial anterior. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1373654/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
06/03/2018. Opera-se a preclusão consumativa quanto à discussão acerca da penhorabilidade ou impenhorabilidade do bem de
família quando houver decisão definitiva anterior acerca do tema, mesmo em se tratando de matéria de ordem pública. STJ. 3ª
Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 1039028/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/11/2017. A impenhorabilidade de
bem de família pode ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição. No entanto, uma vez decidido o tema, não pode ser
reeditado, pois acobertado pela preclusão. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1518503/PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 21/09/2017.

Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado


Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que esteja locado a
terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família." A 2ª Turma do
STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o único imóvel COMERCIAL do devedor que esteja
alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar. STJ.
2ª Turma. REsp 1616475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Impenhorabilidade do imóvel em nome da sociedade empresária, mas no qual reside o sócio


A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é afastada pelo fato de o imóvel pertencer à
sociedade empresária. STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp 511486-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/3/2016 (Info 579).

Desconsideração da personalidade jurídica e impenhorabilidade do bem de família dos sócios


A desconsideração da personalidade jurídica de sociedade empresária falida que tenha sido decretada em decorrência de fraude
contra a massa falida não implica, por si só, o afastamento da impenhorabilidade dos bens de família dos sócios. Em outras
palavras, o simples fato de ter sido decretada a desconsideração da personalidade jurídica, por si só, não permite que seja
penhorado o bem de família pertencente aos sócios, salvo se os atos que ensejaram a desconsideração também se ajustarem às
exceções legais previstas no art. 3º da Lei 8.009/90. Tais exceções devem ser interpretadas restritivamente, não se podendo, por
analogia ou esforço hermenêutico, apanhar situações não previstas em lei, de modo a superar a proteção conferida à entidade
familiar. STJ. 4ª Turma. REsp 1433636-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/10/2014 (Info 549).

A impenhorabilidade do bem de família é questão de ordem pública, razão pela qual NÃO admite renúncia pelo titular
O benefício conferido pela Lei nº 8.009/90 se trata de norma cogente, que contém princípio de ordem pública, e sua incidência
somente é afastada se caracterizada alguma hipótese descrita no art. 3º da Lei 8.009/90. STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp
511.486/SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 03/03/2016. O benefício conferido pela Lei nº 8.009/90 ao instituto do bem de
família constitui princípio de ordem pública que não admite a renúncia pelo titular, podendo ser elidido somente se
caracterizada qualquer das hipóteses previstas nos incisos do art. 3º e no caput do art. 4º da referida lei. STJ. 3ª Turma. AgRg nos
EDcl no REsp 1463694/MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 06/08/2015.

Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor


A renúncia ao bem de família é válida? O devedor pode oferecer seu bem de família para ser penhorado? Em regra, NÃO. O STJ
possui diversos julgados afirmando que a proteção conferida ao instituto de bem de família pela Lei 8.009/90 é uma norma
cogente, uma questão de ordem pública. Logo, não se admite que o titular desse benefício renuncie à sua proteção. Exceção:
não se deve desconstituir a penhora de imóvel sob o argumento de se tratar de bem de família na hipótese em que, mediante
acordo homologado judicialmente, o executado tenha pactuado com o exequente a prorrogação do prazo para pagamento e a
redução do valor de dívida que contraíra em benefício da família, oferecendo o imóvel em garantia e renunciando
expressamente ao oferecimento de qualquer defesa, de modo que, descumprido o acordo, a execução prosseguiria com a
avaliação e praça do imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1461301-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/3/2015 (Info
558).

Bem de família e imóvel rural


O bem de família em razão da sua função social, impossibilita sua alienação para satisfação de dívida. No entanto, em
determinadas hipóteses, tal impenhorabilidade pode ser mitigada, como no caso em tela, em que a propriedade rural tem
extensão suficiente para ser dividida e não ficou comprovado o uso de toda a sua área para subsistência da unidade familiar. STJ.
3ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 559836/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 12/02/2015.

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Bem de família ocupado por familiar
Se o executado possui um único imóvel residencial, mas quem mora nele é um parente (ex.: filho), mesmo assim esse imóvel
será considerado como bem de família, sendo impenhorável. Em outras palavras, constitui bem de família, insuscetível de
penhora, o único imóvel residencial do devedor em que resida seu familiar, ainda que o proprietário nele não habite. STJ. 2ª
Seção. EREsp 1216187-SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 14/5/2014 (Info 543).

Direito Real da Laje

Novidade no Brasil. Tecnicamente, não seria tanta novidade assim, afinal de contas o art.21 do Estatuto da Cidade já
tratava desse direito implicitamente com um nome diferente (“sobrelevação”). Restringia-se aos imóveis urbanos. Agora,
ampliou-se, com a edição da medida provisória 759/2016.
A laje é o puxadinho. Duas residências próprias, uma sobre a outra. Cada um com sua funcionalidade própria.
Discussão: a quem pertence a laje? Quem paga os tributos, as despesas decorrentes? Quem pode ofertar a laje em garantia?
Direito da laje é direito real sobre coisa alheia.
O direito real de laje pode ser adquirido via usucapião.
O titular da laje tem direitos próprios.

DA LAJE
(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

Art. 1.510-A. O proprietário de uma construção-base poderá ceder a superfície superior ou inferior de sua construção a fim de que
o titular da laje mantenha unidade DISTINTA daquela originalmente construída sobre o solo.
§1o O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em projeção vertical,
como unidade imobiliária AUTÔNOMA, não contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da
construção-base.
§2o O titular do direito real de laje responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade.
§3o Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma constituída em matrícula própria, poderão dela usar, gozar e
dispor.
§4o A instituição do direito real de laje NÃO implica a atribuição de fração ideal de terreno ao titular da laje ou a participação
proporcional em áreas já edificadas.
§5o Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito real de
laje.
§6o O titular da laje poderá ceder a superfície de sua construção para a instituição de um sucessivo direito real de laje, desde que
haja autorização expressa dos titulares da construção-base e das demais lajes, respeitadas as posturas edilícias e urbanísticas
vigentes.

Art. 1.510-B. É expressamente VEDADO ao titular da laje prejudicar com obras novas ou com falta de reparação a segurança, a
linha arquitetônica ou o arranjo estético do edifício, observadas as posturas previstas em legislação local.

Art. 1.510-C. Sem prejuízo, no que couber, das normas aplicáveis aos condomínios edilícios, para fins do direito real de laje, as
despesas necessárias à conservação e fruição das partes que sirvam a todo o edifício e ao pagamento de serviços de interesse
comum serão PARTILHADAS entre o proprietário da construção-base e o titular da laje, na proporção que venha a ser estipulada
em contrato.
§1o São partes que servem a todo o edifício:
I - os alicerces, colunas, pilares, paredes-mestras e todas as partes restantes que constituam a estrutura do prédio;
II - o telhado ou os terraços de cobertura, ainda que destinados ao uso exclusivo do titular da laje;
III - as instalações gerais de água, esgoto, eletricidade, aquecimento, ar condicionado, gás, comunicações e semelhantes que
sirvam a todo o edifício; e
IV - em geral, as coisas que sejam afetadas ao uso de todo o edifício.
§2o É assegurado, em qualquer caso, o direito de qualquer interessado em promover reparações urgentes na construção na forma
do parágrafo único do art. 249 deste Código.

Art. 1.510-D. Em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão direito de preferência, em igualdade de condições
com terceiros, os titulares da construção-base e da laje, nessa ordem, que serão cientificados por escrito para que se manifestem
no prazo de 30 dias, salvo se o contrato dispuser de modo diverso.

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§1o O titular da construção-base ou da laje a quem não se der conhecimento da alienação poderá, mediante depósito do respectivo
preço, haver para si a parte alienada a terceiros, se o requerer no prazo decadencial de 180 dias, contado da data de
alienação.
§2o Se houver mais de uma laje, terá preferência, sucessivamente, o titular das lajes ascendentes e o titular das lajes descendentes,
assegurada a prioridade para a laje mais próxima à unidade sobreposta a ser alienada.

Art. 1.510-E. A RUÍNA da construção-base implica EXTINÇÃO do direito real de laje, salvo:
I - se este tiver sido instituído sobre o subsolo;
II - se a construção-base não for reconstruída no prazo de 5 anos.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não afasta o direito a eventual reparação civil contra o culpado pela ruína.

Medida Provisória 764

Dispõe sobre a diferenciação de preços de bens e serviços oferecidos ao público, em função do PRAZO ou do INSTRUMENTO de
pagamento utilizado.

Art. 1º Fica autorizada a diferenciação de preços de bens e serviços oferecidos ao público, em função do prazo ou do instrumento
de pagamento utilizado.
Parágrafo único. É nula a cláusula contratual, estabelecida no âmbito de arranjos de pagamento ou de outros acordos para
prestação de serviço de pagamento, que proíba ou restrinja a diferenciação de preços facultada no caput.

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