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CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE NAS SENTENÇAS

NORMATIVAS: OS LIMITES DA ATUAÇÃO JURISDICIONAL SOB A ÓTICA DO


ART. 8º DA CLT

Ataliba Telles Carpes1


Carolina Zelinski Fay2
Orientadora: Denise Pires Fincato

1 RESUMO

O presente ensaio se filia à Linha de Pesquisa nº 4 do Edital para Submissão de


Trabalhos do XV Seminário Internacional de Direitos Fundamentais, qual seja, “Direitos
Fundamentais, Jurisdição e Processo”. A presente pesquisa se debruça sob o tema do controle
difuso de constitucionalidade e promoção de direitos fundamentais no que tange às Sentenças
Normativas, tendo-se por base a previsão do artigo 8º da Consolidação das Leis do Trabalho,
alterada pela “Reforma Trabalhista” (Lei nº 13.467/17), cuja disposição estabelece um
balizamento no que tange à atuação dos Magistrados, possuindo por fundamento o Princípio
da Intervenção Mínima.

2 PALAVRAS-CHAVE

Processo do Trabalho. Poder Normativo. Intervenção Mínima. Controle Difuso de


Constitucionalidade. Ativismo Judicial.

3 INTRODUÇÃO

O limite de atuação jurisdicional no âmbito da Justiça do Trabalho sempre foi alvo de


intensos debates. Pelo fato dos conflitos de competência da Justiça Laboral estabelecerem
uma polarização dicotômica de interesses e posições sociais, por vezes, as decisões proferidas
no seu seio acabam por desvirtuar da própria análise do caso concreto, representando possível
ativismo judicial inadequado.

1
Mestrando em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul – PUCRS (Teoria Geral da Jurisdição e Processo). Especialista em Direito do Trabalho pela
PUCRS. Bolsista integral CAPES/PROEX, com dedicação exclusiva. Lattes:
<http://lattes.cnpq.br/6887391119097450>. E-mail: <ataliba_kh@hotmail.com>. O presente trabalho foi
realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior – Brasil – (CAPES) –
Código de Financiamento 001.
2
Bolsista de Iniciação Científica na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, sob
orientação da Professora Denise Pires Fincato. Graduanda em Direito pela PUCRS com obtenção de Bolsa
Mérito. Lattes: <http://lattes.cnpq.br/5887875083509971>. E-mail: <carolzfay@gmail.com>.
2

Nesse sentido, o art. 8º da Consolidação das Leis do Trabalho visa estabelecer


parâmetros de atuação para tanto, os quais foram recentemente alterados com o advento da
Lei nº 13.467/17, chamada popularmente de “Reforma Trabalhista”. O §3º do referido
dispositivo dá nova roupagem à apreciação dos instrumentos coletivos de trabalho, que
sofrem intervenção tão somente quando são levados ao Judiciário, ou seja, em caso do
“processo” de Dissídio Coletivo, cujo instrumento enseja a criação das Sentenças Normativas.
Desse modo, uma vez que, quando do proferimento de uma Sentença Normativa, a
Justiça do Trabalho acaba por exercer seu dito “Poder Normativo”, de caráter excepcional,
visto que configura, reconhecidamente, exemplo de flexibilização do Princípio da Tripartição
dos Poderes estabelecido constitucionalmente (HINZ, 2005, p. 124-126), o presente estudo se
justifica pela atualidade e parca pesquisa doutrinária referente ao tema, tão importante no
âmbito juslaboral e, principalmente, no que se refere à Jurisdição.

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Analisar os limites da atuação jurisdicional quando do exercício do controle difuso de


constitucionalidade atribuído ao Magistrado em sede de Dissídio Coletivo (Sentenças
Normativas), sob a ótica das balizas impostas pelo art. 8º da CLT.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Analisar a potencialidade da eficácia dos direitos fundamentais mediante o


exercício do controle difuso de constitucionalidade, no que tange à supressão da
omissão legal através do exercício jurisdicional concretizado nas Sentenças
Normativas;

b) Analisar os limites legais estabelecidos ao exercício do controle difuso de


constitucionalidade realizado pelos Magistrados quando do proferimento das
Sentenças Normativas;

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c) Verificar se há uma dissonância principiológica entre a intervenção mínima


promovida pelo princípio da Autonomia Privada Coletiva insculpido no §3º do art. 8º
da CLT e o exercício do Poder Normativo da Justiça do Trabalho;

d) Delimitar, mediante análise conclusiva, os possíveis benefícios a serem


alcançados mediante o estabelecimento de um equilíbrio entre o Poder Normativo da
Justiça do Trabalho e o Princípio da Intervenção Mínima; e verificar se o Magistrado
é a figura que representa este balizamento.

5 METODOLOGIA

O método de abordagem escolhido para a realização da presente pesquisa é o


hipotético-dedutivo. Através desse método, será possível identificar as dissonâncias no que
tange ao Princípio da Autonomia Privada Coletiva e o da intervenção estatal mediante o
exercício de Jurisdição Constitucional (controle difuso de constitucionalidade), de modo que
se objetiva concluir qual deve preponderar sob a ótica do art. 8º da CLT.
Serão aplicados métodos de procedimento de forma singular e conjunta, em especial o
tipológico e o estruturalista. O método tipológico possibilitará comparar os fenômenos
sociais, nesse caso, o exercício do Magistrado e a Negociação Coletiva; enquanto o
estruturalista permitirá, a partir da investigação dos efeitos da Sentença Normativa, identificar
maior ou menor necessidade de intervenção estatal no intuito de promoção dos direitos
fundamentais.
O tipo de pesquisa, quanto à natureza, será teórica e prática – pois calcada em análise
legislativa e sua repercussão no “plano dos fatos”. Quanto aos objetivos, será exploratória e
descritiva, pois assim se permitirá, além de explicitar o que se pretende abordar com o
presente estudo – pois tema de considerável complexidade -, descrever possíveis resultados
obtidos. Por mim, quanto ao objeto, a pesquisa será bibliográfica-documental, pois se buscará
na doutrina o embasamento para a construção da solução do problema a ser enfrentado, o qual
se apresenta mediante visualização do confronto da legislação posta (FINCATO; GILLET,
2018, p. 38-50).
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6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na medida em que os modelos constitucionais foram evoluindo nos sistemas jurídicos


em âmbito mundial, também assim ocorreu com a atuação dos Magistrados. Se anteriormente
havia tão somente o chamado juiz “Boca de Lei” - onde a legalidade era o princípio norteador
e indissociável da atividade jurisdicional -, atualmente, com a valorização do que está
concretizado na Carta Magna, tende a legislação infraconstitucional a ceder diante da
magnitude do Diploma Máximo (JOBIM, 2016, p. 128).
Com o fenômeno chamado de “constitucionalização do processo”, o Magistrado se
desvencilha do antigo conceito de mero intérprete, passando a, por vezes, em caráter
excepcional, exercer a função de legislador. (PORTO; USTÁRROZ, 2009, p. 17). Na esteira
do presente tema proposto, acredita-se que esse modelo de atuação judicial é balizado pela
incumbência do Juiz de exercer o controle de omissão constitucional, via modelo difuso
(MARINONI, 2015, p.254), ao passo em que poderá, ainda que momentaneamente,
transpassar a Tripartição dos Poderes no intuito de promover a realização dos direitos
fundamentais previstos na Constituição Federal mediante exercício jurisdicional.
Suposto risco a ser enfrentado, com a possibilidade de abertura da atuação
jurisdicional, é que se perca a excepcionalidade de tal atividade do Magistrado e o mesmo
passe, de fato, a ser legislador positivo (LEAL, 2007, p.81-90). Nesse sentido, o debate
encontra abundante fonte de aplicação nas Sentenças Normativas, instituto exclusivo da
Justiça do Trabalho onde, de fato, o Magistrado deixa de ser mero intérprete e passa a ditar os
rumos da relação laboral em face de ser o construtor da norma coletiva.
Recentemente, com o advento da Lei nº 13.467/17, a qual buscou uma maior
valorização das negociações coletivas, o art. 8º da CLT - que trata especificamente da atuação
jurisdicional no âmbito trabalhista – sofreu alteração justamente no sentido de estabelecer
uma limitação à atividade do Magistrado com fundamento no princípio da intervenção
mínima em face da autonomia privada coletiva – destaca-se a disposição do §3º do referido
artigo-, o que vai de encontro às premissas já explicitadas de ampliação do exercício
jurisdicional no intuito da promoção dos direitos fundamentais.
Da mesma sorte em que se correm riscos com a abertura jurisdicional, assim ocorre
com eventuais abusos cometidos em sede de negociação coletiva com intervenção mínima ou
existente, e é essa dicotomia de possibilidades que o presente trabalho visa enfrentar.

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Havendo omissão legislativa, a negociação coletiva se propõe a regular as relações de


trabalho das categorias de trabalhadores e empregadores nela representadas – tudo isso sob o
Princípio da Intervenção Mínima do Estado. No mesmo sentido, deverá atuar o Magistrado na
promoção dos direitos e princípios fundamentais estabelecidos na Constituição, ainda que
extrapole a condição de mero intérprete da Lei. Levada tal questão ao Judiciário, em sede de
Dissídio Coletivo, sendo o processo instrumento de realização dos propósitos constitucionais
(PORTO, 2016, p. 28), bem como considerando a insuficiência e ineficiência dos Poderes
Legislativo e Executivo (MACEDO, 2005, p. 154), como deverá se dar o exercício do Poder
Normativo da Justiça do Trabalho sob tais premissas?

7 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa proposta, se verifica que há um confrontamento principiológico


no que tange à atuação do Magistrado em sede de Sentença Normativa, tendo em vista, em
síntese, a mesma resultar de uma infrutífera negociação coletiva, onde vige o princípio da
intervenção mínima, e sofrer completa metamorfose dessa premissa pela intervenção do Poder
Judiciário.
Nesse sentido, o ensaio a ser realizado pretende aprofundar o estudo do tema, no
intuito de verificar os limites da atuação jurisdicional em sede de controle difuso, e até onde
pode o Magistrado exercer o papel fictício de “legislador” em busca da promoção dos direitos
fundamentais, ainda que haja determinação expressa de não-intervenção por parte de lei
infraconstitucional.

8 REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto Lei nº 5.452 de 1º de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho).
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452compilado.htm>.
Acesso em 21 jun 2018.

HINZ, Henrique Macedo. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2005.

FINCATO, Denise Pires; GILLET, Sérgio Augusto da Costa. A pesquisa jurídica sem
mistérios: do projeto de pesquisa à banca, 3ª ed. rev. e atual. Porto Alegre: Editora Fi, 2018.

JOBIM, Marco Félix. Teoria, história e processo: com referências ao CPC/2015. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2016.
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LEAL, Mônia Clarissa Hennig. Jurisdição constitucional aberta: Reflexões sobre a


legitimidade e os limites da jurisdição constitucional na ordem democrática: uma abordagem
a partir das teorias constitucionais alemã e norte-americana. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2007.

MACEDO, Elaine Harzheim. Jurisdição e processo: crítica histórica e perspectivas para o


terceiro milênio. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2005.

MARINONI, Luiz Guilherme. Do controle da insuficiência de tutela normativa aos direitos


fundamentais processuais. In: Jurisdição, direito material e processo: os pilares da obra
ovidiana e seus reflexos na aplicação do direito. MACEDO, Elaine (coord.). Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2015.

PORTO, Sérgio Gilberto. Cidadania processual: processo constitucional e o Novo Processo


Civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2016.

PORTO, Sérgio Gilberto; USTÁRROZ, Daniel. Lições de direitos fundamentais no processo


civil: o conteúdo processual da Constituição Federal. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2009.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos
direitos fundamentais na perspectiva constitucional, 11ª ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2012.

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