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Direito Constitucional

Prof. Fabrício Ivo Aita

1. DIREITO CONSTITUCIONAL:

1.1 CONCEITO:

O Direito Constitucional para José Afonso da Silva é o “ramo do direito público que expõe,
interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado”.

1.2 OBJETO:
É complexo estabelecer um objeto para o Direito Constitucional, sendo mais importante
destacar os pontos fundamentais de estudo desta disciplina jurídica.

Levando em conta que o Direito Constitucional se ocupa das normas fundamentais da


organização do Estado, podemos destacar como seu objeto:

a) estrutura do Estado;
b) forma de governo;
c) estruturação do poder;
d) estabelecimento de seus órgãos, limites de sua atuação;
e) direitos fundamentais do homem e respectivas garantias; e,
f) regras básicas da ordem econômica e social.

Em síntese, pode-se dizer que o objeto do Direito Constitucional é o estudo de normas


fundamentais dos Estados, entendendo-se por elas as que tratam de:
 Direitos Fundamentais
 Estrutura do Estado
 Organização dos Poderes

2. CONSTITUIÇÃO:
2.1 CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO:
A Constituição, segundo José Afonso da Silva, “consiste num sistema de normas jurídicas,
escritas ou costumeiras, que regulam a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo
de aquisição e exercício do Poder, o estabelecimento de seus órgãos e os limites de sua
atuação”.
Também encontramos questões de prova referindo conceito e sentido da constituição, ao
que podemos destacar:
a) Sentido sociológico – Fedinand Lassale – A constituição só seria legítima se
representasse o efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder.

Assertiva considerada correta em questão de prova (FUNDATEC – 2010 – PGE –RS) –


Analise as seguintes afirmações sobre Constituição e suas normas:

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I. Conforme o conceito sociológico cunhado por Ferdinand Lassalie no século
XIX, a Constituição — real, não a jurídica — é, em síntese, “o conjunto dos
fatores reais de poder que regem uma nação”.

b) Sentido político – Carl Schmitt aponta para o sentido político da constituição, em que
se diferencia a Constituição da lei constitucional. Constituição só se refere à decisão
política fundamental (estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática,
ETC) – decisão política do titular do poder político. Por sua vez, as leis constitucionais
seriam as normas que integram o texto constitucional sem relação com os elementos
essenciais da constituição.

c) Sentido Jurídico – Para Hans Kelsen a Constituição é o elemento de validade de todo


ordenamento jurídico, despido de qualquer fundamentação sociológica, política ou
filosófica.

Questão de prova:

1. Assinale a opção correta com referência ao conceito e à classificação das


constituições.
a) Para a teoria da força normativa da constituição - desenvolvida, principalmente,
pelo jurista alemão Konrad Hesse -, a constituição tem força ativa para alterar a
realidade, sendo relevante a reflexão dos valores essenciais da comunidade política
submetida.
b) De acordo com a classificação quanto à extensão, no Brasil, a Constituição de 1988 é
sintética, pois constitucionaliza aspectos além do núcleo duro das constituições,
estabelecendo matérias que poderiam ser tratadas mediante legislação
infraconstitucional.
c) As constituições denominadas rígidas são aquelas que não admitem alteração e que,
por isso mesmo, são consideradas permanentes.
d) Para o jurista alemão Peter Härbele, a constituição de um país consiste na soma dos
fatores reais de poder que regulamentam a vida nessa sociedade.
e) O legado de Carl Schmitt, considerado expoente da acepção jurídica da constituição,
consistiu na afirmação de que há, nesse conceito, um plano lógico-jurídico, em que estaria
situada a norma hipotética fundamental, e um plano jurídicopositivo, ou seja, a norma
positivada.

2. A respeito do conceito e da classificação da Constituição, é correto afirmar que:


a) A Constituição, na clássica definição de Lassalle, é a decisão política fundamental de
um povo, insculpida em um texto normativo que goza de superioridade jurídica frente às
demais normas constitucionais.
b) Para Carl Schimit, a Constituição é a norma jurídica fundamental do ordenamento
jurídico, servindo de fundamento de validade para as demais normas jurídicas.

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c) No entendimento de Hans Kelsen, a Constituição é resultado das forças reais de poder,
buscando o seu fundamento de validade em uma norma jurídica epistemológica
d) Para Carl Schmit, não há razão para se fazer distinção entre normas constitucionais em
sentido formal e em sentido material, pois tudo o que está na Constituição tem o mesmo
status constitucional.
e) é correto afirmar que a constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado,
que contém normas referentes à estruturação, à formação dos poderes públicos,
direitos, garantias e deveres dos cidadãos.

2.2. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES:


2.2.1 QUANTO À ORIGEM:
a) Promulgada (popular ou democrática ou votada - Constituição): É a Constituição
que se origina de um órgão constituinte composto de representantes do povo, eleitos com
o objetivo de elaborar uma Constituição. São exemplos as Constituições brasileiras de
1891, 1934, 1946 e 1988, todas promulgadas.
b) Outorgada (carta constitucional) - É a Constituição elaborada sem a participação
popular. Trata-se do texto que o governante da época impõe ao povo de forma arbitrária.
São exemplos as Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e 1969.
c) Constituição Cesarista (bonapartista ou plebiscitária) - Forma híbrida de
elaboração da constituição em que a constituição é elaborada sem a participação popular,
mas é posteriormente submetida a consulta popular para referendá-la. A Constituição
brasileira de 1937 seria cesarista, mas o plebiscito nacional para aprová-la nunca ocorreu.
d) Constituição pactuada (convencionada, mista ou dualista) - Quando o poder
constituinte está nas mãos de dois ou mais titulares que formam um pacto. A Constituição
francesa de 1830 é um exemplo desta forma de Constituição.

2.2.2 QUANTO AO PROCESSO DE REFORMA (ESTABILIDADE OU CONSISTÊNCIA)


a) Imutáveis – Aquelas que não poderiam sofrer qualquer tipo de reforma.
b) Rígida – aquela que somente pode ser modificada mediante processo legislativo,
solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis do que aqueles
exigidos para a formação e modificação de leis comuns (ordinárias e complementares).
c) Flexível (ou plástica) – É aquela Constituição que pode ser modificada livremente pelo
legislador segundo o mesmo processo de elaboração e modificação das leis ordinárias. A
flexibilidade constitucional se faz possível tanto nas Constituições costumeiras quanto nas
Constituições escritas.
d) Semirrígida ou semiflexível – É a Constituição que contém uma parte rígida e outra
flexível. A Constituição Imperial Brasileira de 1824 foi semi-rígida, quando o artigo 178
estabeleceu que não poderiam ser alteradas, conforme as formalidades das leis
ordinárias, as normas que diziam respeito aos limites e atribuições respectivas dos
poderes políticos, aos direitos políticos e individuais dos cidadãos.
e) Super-rígida – Aquele que nas palavras de Alexandre de Moraes apresenta elementos
que não podem ser alterados, como no caso das cláusulas pétreas da Constituição
brasileira de 1988.

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Questões:

1. Considere as seguintes afirmações sobre Teoria da Constituição:


I. Somente pode ser classificada como promulgada a Constituição elaborada por
representantes eleitos pelo povo exclusivamente para este fim.
II. As normas constitucionais anteriores não repetidas, mas compatíveis com a
Constituição nova, são recepcionadas como normas infraconstitucionais.
III. Ainda que não exista uma "hermenêutica constitucional" específica, é certo que
a interpretação constitucional tem peculiaridades, que derivam do fato de que a
Constituição é uma norma auto-referente.
Segundo o entendimento doutrinário predominante, estão corretas:
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e II
e) Apenas I e III

2. Alexandre de Moraes, em sua obra Direito Constitucional, Ed. Atlas (2011),


acompanhando a doutrina predominante, classifica as constituições em diversas
espécies, considerando a sua estabilidade. Dentre elas, apresenta a forma
designada de “constituição rígida”, cuja definição apresentada pelo referido autor
é a expressa na alternativa
a) É aquela que não admite qualquer forma de alteração.
b) Exige procedimentos e formas mais complexos para a sua modificação, em
relação àqueles utilizados para a modificação de outras espécies normativas.
c) É aquela que somente pode ser modificada após o transcurso de certo período de
tempo.
d) Somente pode ser modificada por iniciativa do Poder Executivo.
e) Exige, para a sua modificação, a aprovação da totalidade dos membros do legislativo.

3. OBJETO DA CONSTITUIÇÃO:
Resumidamente pode-se dizer que as constituições apresentam os seguintes objetivos:
 Estrutura e organização do estado e da sociedade;

 Modo de aquisição do poder e de seu exercício;

 Limitação do poder do Estado – Direitos e Garantias Fundamentais;

 Regime político e os fins socioeconômicos do Estado;

 Fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais.

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4. CONTEÚDO DAS CONSTITUIÇÕES
Neste ponto cabe destacar que as constituições possuem normas formal e materialmente
constitucionais.
As MATERIALMENTE CONSTITUCIONAIS são aquelas que tratam dos elementos
essenciais da constituição do estado – Organização e Estrutura do Estado e os Direitos e
Garantias Fundamentais.
As FORMALMENTE CONSTITUCIONAIS são todas disposições que integram a
constituição e não possuem relação dom os elementos essências da constituição do
Estado. (Educação, Ciência e Tecnologia, etc.)

5. ELEMENTOS DAS CONSTITUIÇÕES:


a) Orgânicos – estrutura (organização do estado) e organização do Estado (organização
dos poderes);
b) Limitativos – Direitos e garantias fundamentais;
c) Sócio-ideológicos – finalidades a serem alcançadas na ordem econômico e social
(ordem econômico e financeira e da ordem social)
d) Estabilização constitucional – ADIN, ADC, ADIN PO, ADPF, Estado de Sítio, Estado
de Defesa, Intervenção Federal e Estadual, Emendas à constituição.
e) Formais de aplicabilidade – aplicação das próprias normas constitucionais – ADCT,
Art. 5º § 1º.

6. VIGÊNCIA
São referências gerais sobre a vigência das normas afirmar que:
 Começo da vigência – coresponde ao momento que a norma passa a ser exigível.

 Fim da vigência – corresponde a Revogação da norma, quando é retirada do


ordenamento jurídico.

 Os efeitos das normas revogadas que ocorrem no período em que ela era vigente
continuam valendo (vigentes).

 Vacatio Legis – tempo entre a aprovação do texto e o início da vigência.


Quanto a vigência das normas constitucionais também é comum encontrarmos questões
de prova referentes aos seguintes pontos:

TEORIA DA RECEPÇÃO
Relacionada ao princípio da continuidade do direito. Sendo a Constituição à base de
validade jurídica das normas infraconstitucionais, com uma nova Constituição as normas
infraconstitucionais anteriores e vigentes sob a antiga Constituição, se forem
materialmente (o seu conteúdo) incompatíveis com a nova Constituição, serão revogadas.
Por outro lado, as normas infraconstitucionais anteriores materialmente compatíveis com
a nova Constituição irão aderir ao novo ordenamento jurídico (SERÃO
RECEPCIONADAS).

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TEORIA DA DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO
Consiste em aproveitar como lei infraconstitucional preceitos da Constituição revogada
não repetidos na nova Constituição, mas com ela materialmente compatíveis.
Tradicionalmente no direito brasileiro, a superveniência da Constituição revoga
imediatamente a anterior e as normas não contempladas na nova Constituição perdem
sua força normativa, salvo na hipótese de a própria Constituição superveniente prever a
desconstitucionalização expressamente.

7. EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS (JOSÉ AFONSO DA SILVA)


7. 1 EFICÁCIA PLENA (aplicabilidade direta, imediata e integral)
É a norma constitucional de efeito imediato e ilimitado, independentemente de qualquer
norma infraconstitucional regulamentadora posterior ou de qualquer outro ato do poder
público. Trata-se de uma norma constitucional auto-aplicável.
São exemplos aquelas normas constitucionais que criam órgãos ou atribuem aos entes
federativos competências, da mesma forma que pode-se apontar os Art. 1º e parágrafo
único; Art. 2º; e, Art. 5º, inciso I, todos da CRFB/88.

Questão

1. Ao julgar arguição de descumprimento de preceito fundamental tendo por objeto


lei editada anteriormente à entrada em vigor da Constituição Federal (CF) de 1988,
considerada não recepcionada em face do regime constitucional da liberdade de
imprensa, o Supremo Tribunal Federal consignou que “o direito de resposta, que se
manifesta como ação de replicar ou de retificar matéria publicada, é exercitável por
parte daquele que se vê ofendido em sua honra objetiva, ou então subjetiva,
conforme estampado no inciso V do art. 5° da CF”, segundo o qual é assegurado o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem. Nesse sentido, o direito de resposta está consubstanciado em
norma constitucional de
a) aplicabilidade imediata e eficácia contida.
b) aplicabilidade imediata e eficácia plena.
c) aplicabilidade mediata e eficácia limitada.
d) princípio programático.
e) princípio institutivo.

7. 2 EFICÁCIA CONTIDA, RESTRINGÍVEL OU REDUTÍVEL (aplicabilidade direta e


imediata, mas possívelmente não integral)
É auto-aplicável imediata e diretamente da forma como está no texto constitucional, pois
contém todos os elementos necessários a sua formação. Permite, entretanto, restrição
por lei infraconstitucional, emenda constitucional ou outro ato do poder público.
É exemplo o art. 5º, incisos VIII, XI, XII, XIII, XIV, XVI, XXIV, LX, LXI, LXVII.

Questão

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1.“Determinado professor de direito constitucional explicou aos seus alunos que
certas normas constitucionais, embora sejam capazes de produzir efeitos imediatos
na realidade, dando ensejo ao surgimento de direitos subjetivos, fazem referência à
lei, que pode reduzir o seu alcance, com o estabelecimento, por exemplo, de certos
requisitos a serem observados.” Considerando a classificação das normas
constitucionais quanto à aplicabilidade, é correto afirmar que o exemplo oferecido
pelo professor é o de uma norma:
a) Programática.
b) De eficácia contida.
c) De eficácia limitada.
d) De eficácia plena e aplicabilidade imediata.

7. 3 EFICÁCIA LIMITADA (aplicabilidade mediata e reduzida, ou diferida)


É aquela não regulada de modo completo na Constituição, por isso depende de norma
regulamentadora elaborada pelo Poder Legislativo, Poder Executivo ou Poder Judiciário,
ou de qualquer outro ato do poder público.
Não é correto dizer que tais normas não têm eficácia, apenas a eficácia é mínima, já que
seu alcance total depende de ato legislativo ou administrativo posterior. São eficazes, pelo
menos, em criar para o legislador o dever de legislar ou ao administrador o dever de agir.
São exemplos o 7º, incisos IV e V.
Cabe lembrar que deverá ser assegurado, desde logo, o mínimo existencial (o mínimo
necessário para que se tenha uma vida digna).
As normas constitucionais de eficácia limitada podem ser divididas em:

7.3.1 Normas de princípio institutivo (ou organizativo)


São normas constitucionais de princípio institutivo aquelas através das quais o legislador
constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou
institutos, para que o legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante lei.
Para ilustrar temos os artigos 18, § 2º; 22, parágrafo único; 25, § 3º; 33; 37, inciso XI etc.

7.3.2 Normas de princípio programático


São as normas constitucionais que implementam política de governo a ser seguido pelo
legislador ordinário, ou seja, traçam diretrizes e fins colimados pelo Estado na consecução
dos fins sociais, como o previsto nos artigos 196; 205; 215; 218, caput etc.

Questão

1. É considerada de eficácia limitada, na medida em que dependente de


regulamentação para a produção de efeitos, a norma constitucional segundo a qual
a) a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
b) a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
c) é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer.

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d) são brasileiros naturalizados os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a
residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida
a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
e) são direitos dos trabalhadores a participação nos lucros, ou resultados, desvinculada
da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme
definido em lei.

8. SUPREMACIA CONSTITUCIONAL - Princípio da Supremacia Constitucional – A


Constituição está no ápice do ordenamento jurídico constitucional e nenhuma norma
jurídica pode contrariá-la material ou formalmente, sob pena de inconstitucionalidade.
8.1 Supremacia Material – o ordenamento jurídico deve estar alinhado com o
conteúdo do texto constitucional;
8.2 Supremacia Formal – as leis e os atos normativos devem observar o
procedimento de elaboração previsto na Constituição.

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